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XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de Pós- Graduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 1 AS INTERFACES ENTRE O SERVIÇO SOCIAL E A PSICOLOGIA Adriana Freire Pereira Ferriz1, Juliana Prates Santana2 1Universidade Federal da Bahia/Serviço Social, R. Aristides Novis, 297, Estrada de São Lázaro – Federação, Salvador Bahia, adriana_jua@yahoo.com.br 2Universidade Federal da Bahia/Psicologia, R. Aristides Novis, 297, Estrada de São Lázaro – Federação, Salvador Bahia, julianapsantana@gmail.com Resumo - O presente artigo tem por objetivo refletir sobre as interfaces entre o Serviço Social e a Psicologia no âmbito teórico e profissional, a partir da análise de dois contextos de prática em que essas profissões atuam em conjunto, nomeadamente no espaço educativo e nos serviços de atenção aos usuários de substâncias psicoativas. Ao longo do artigo, verificam-se inúmeras possibilidades de atuação conjunta, sendo que a intervenção integrada amplia o cuidado com os usuários nos mais diversos dispositivos de atenção. Consideramos que a adoção do conceito psicossocial em diversos campos de atuação reforça a interdisciplinaridade e o diálogo entre estes dois campos profissionais. Palavras-chave:Serviço Social. Psicologia. Psicossocial. Área do Conhecimento: Ciências Humanas Introdução O presente artigo consiste no relato de experiências das autoras nas áreas de educação e saúde mental, especificamente, na atenção aos usuários de substâncias psicoativas, com ênfase nas possíveis aproximações entre a Psicologia e o Serviço Social nestas áreas. O objetivo principal é refletir sobre as interfaces entre o Serviço Social e a Psicologia no âmbito teórico e profissional. Neste sentido, o texto está organizado da seguinte forma: inicialmente serão apresentados os pontos de aproximação desses dois campos de conhecimento, enfatizando-se a emergência do termo psicossocial como um importante elo entre as duas disciplinas. Em seguida, serão apresentadas algumas práticas profissionais em que o(a) assistente social e o(a) psicólogo(a) atuam em conjunto. A proposta deste trabalho surge a partir da criação do curso de Serviço Social no Instituto de Psicologia na Universidade Federal da Bahia e a busca de uma articulação entre essas duas áreas do conhecimento. Além disso, as autoras percebem a necessidade de uma reflexão crítica e teórica sobre uma realidade prática bastante evidente que é o trabalho conjunto desses profissionais. Observamos que as entidades de classe da profissão – O Conselho Federal de Psicologia e o Conselho Federal de Serviço Social – já há algum tempo atuam em lutas comuns, sejam ela em relação aos direitos dos próprios profissionais (jornada de 30 horas) como na elaboração de Parâmetros comuns de atuação profissional (Parâmetros de atuação dos assistentes sociais e psicólogos na Assistência Social) e nos processos de luta pela aprovação de legislações que regulam a atuação dos profissionais, a exemplo do Projeto de Lei n. 3.688/2000 (conhecido como PL educação) que versa sobre a inserção de assistentes sociais e psicólogos na educação básica). Além das lutas travadas na defesa dos direitos dos usuários, como por exemplo, a luta antimanicomial e a defesa pela não redução da menoridade penal. Ao discutir o conceito psicossocial no âmbito da saúde mental, Cassorla (1996) propõe que o mesmo é um modelo de superação do biológico e do psicológico, enfatizando a dinamicidade na relação estabelecida entre a sociedade, a cultura e o indivíduo. Acrescentamos a isso, a ideia de que a proposição deste conceito, também pressupõe a superação da dicotomia entre o individual e o social, o que se adequa sobremaneira a atuação dos profissionais da Psicologia e do Serviço Social. Metodologia A elaboração do trabalho parte da leitura de textos já sistematizados acerca da interlocução entre o Serviço Social e a Psicologia, apesar da parca produção existente. Bem como, da análise de alguns contextos de prática em que essas profissões atuam em conjunto, nomeadamente no espaço educativo e nos serviços de atenção aos usuários de substâncias psicoativas. XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de Pós- Graduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 2 Resultados A interlocução entre a Psicologia e o Serviço Social se materializa através de alguns aspectos, quais sejam, a proximidade do “objeto” de intervenção/estudo e os espaços sócio- ocupacionais, principalmente, aqueles que se organizam a partir do psicossocial, e estes, passam a ter mais visibilidade a partir da criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs) e dos Centros de Referência da Assistência Social (CRASs). Outro aspecto dessa interlocução se apresenta na legislação que fundamenta a atuação de assistentes sociais e psicólogos, tanto na área da assistência social – os Parâmetros de Atuação dos Assistentes Sociais e psicólogos na Assistência Social, quanto na política de educação - o Projeto de Lei n. 3.688/2000 que está em tramitação no Senado Federal e versa sobre a garantia de inserção de assistentes sociais e psicólogos nas escolas de educação básica. A atuação do assistente social nas escolas municipais de Campina Grande (PB) O trabalho do assistente social na educação no município de Campina Grande (PB) contava com a participação de um grupo de aproximadamente 65 profissionais distribuídas nas creches e escolas de educação básica do município. Vale ressaltar que a prefeitura de Campina Grande (PB) na década de 1980 realizou o primeiro concurso para contratação de 25 assistentes sociais para atuarem nas escolas municipais, para cumprir uma carga horária de 20 horas semanais. As atribuições dos profissionais do Serviço Social na educação em Campina grande foram elaboradas pelos próprios assistentes sociais e foram incorporadas no Plano de Cargos e Carreiras dos Profissionais da Educação apresentado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Agreste e da Borborema ao gestor municipal em e sancionado em 08 de abril de 2008. Assim sendo, o assistente social na educação em Campina Grande (PB) deve orientar a sua prática profissional pelas seguintes atribuições: Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e comunidade escolar, contribuindo para a defesa, ampliação e acesso aos direitos sociais; Participar da elaboração, execução e avaliação do PPP e Plano Municipal da Educação; Elaborar, executar e avaliar projetos, programas e planos, de caráter sócio educativo que atendam as demandas da comunidade escolar e aos objetivos educacionais propostos pelo PPP; Assessorar os grupos sociais organizados no âmbito da comunidade escolar na perspectiva de viabilizar o processo de mobilização, organização e controle social; Realizar estudos investigativos no sentido de conhecer a realidade social, visando a proposição de respostas às demandas identificadas; Conhecer e socializar as informações referentes aos recursos institucionais existentes na comunidade, buscando-se implementar ações intersetoriais que favoreçam o desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua compreensão sobre o mundo do trabalho; Contribuir para o desenvolvimento de ações que favorecem a formação permanente dos Conselheiros Escolares e de outros sujeitos sociais; Emitir parecer social e prestar informações técnicas sobre o assunto de competência do Serviço Social; Acompanhar estágios de Serviço Social, desde que tenha aceitação do supervisor de campo e acompanhamento de um supervisor acadêmico; Participar de eventos que contribuam para permanente atualização profissional; Sistematizar e divulgar experiências profissionais; Planejar, executar e avaliar eventosde cunho sócio educativo, em parceria com os demais profissionais da escola, buscando contribuir para a melhoria do ensino e a democratização da escola pública (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINA GRANDE, 2014) . A equipe pedagógica que atua nas escolas municipais em Campina Grande (PB) é composta por supervisores e orientadores educacionais, psicólogos e assistentes sociais. Os supervisores trabalham diretamente com os docentes, no sentido de acompanhamento do planejamento e do registro das atividades. Os orientadores educacionais desenvolvem um trabalho de apoio pedagógico aos alunos que apresentam algum déficit de aprendizagem. Os psicólogos atuam diretamente com os alunos, mas no que se refere aos aspectos comportamentais. Já aos assistentes sociais é destinado o acompanhamento às famílias dos alunos com o intuito de entender os elementos sociais e econômicos que permeiam as realidades da população atendida, que em sua grande maioria, advém de comunidades “de risco” social e ambiental e de baixa renda. Apesar desta definição de atribuições de cada profissional dentro das equipes, há uma flexibilidade no funcionamento das mesmas que terminam por desenvolver a maioria das atividades XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de Pós- Graduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 3 pelo conjunto da equipe e não por ação isolada dos profissionais. Dentro das equipes há uma tendência de aproximação entre os profissionais da Psicologia e do Serviço Social. O trabalho desenvolvido nas escolas, pela primeira autora deste trabalho, consistiu no acompanhamento aos Conselhos Escolares, assessoria e condução do processo eleitoral para as direções das escolas, elaboração, revisão e avaliação do Projeto Político Pedagógico das escolas, desenvolvimento de Projetos: enfrentamento à violência escolar através de atividades realizadas no recreio e meio ambiente e reciclagem, acompanhamento dos projetos e programas do governo federal e de instituições privadas presentes na escola, atendimento individual às famílias, reuniões com as famílias, reuniões e capacitações oferecidas pela Secretaria de Educação e Cultura do município e coordenação do Programa Mais Educação da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Williams de Souza Arruda. Dentre as atividades, acima descritas, destaca- se o projeto de enfrentamento à violência escolar que foi desenvolvido em parceria entre o profissional do Serviço Social e da Psicologia, com a colaboração dos demais membros da equipe pedagógica. O projeto foi elaborado a partir da identificação de muitos episódios de violência relatados pelos professores e pelas próprias crianças e pelo monitoramento do livro de “ocorrências” da escola que registrava todos os casos de violência na escola. Assim, o projeto consistia na realização de atividades com todos os membros da equipe escolar. Num primeiro momento o projeto foi apresentado, na ocasião do planejamento bimestral, ao conjunto dos professores e foi aprovado por todos. A primeira fase do projeto foi a realização de oficinas de cantigas de roda e brincadeira com os professores e com as famílias para refletir a importância da brincadeira no combate ás múltiplas formas de violência na escola. A segunda etapa foi a preparação dos alunos que se deu através de oficinas com as turmas dos alunos maiores da escola que ficariam responsáveis por orientar as atividades das crianças mais pequenas no horário do recreio. A terceira e última etapa consistiu no recreio orientado, com atividades lúdicas conduzidas pelos membros da equipe pedagógica nas escolas, com a realização de atividades diversificadas, através do uso do material existente na escola, como bolas, cordas, dominós, damas, petecas, bolas de gude, e da condução de cantigas de rodas e brincadeiras tradicionais. O projeto foi desenvolvido durante um semestre e foi avaliado positivamente, ou seja, a partir das ações do projeto foi perceptível a interlocução entre os profissionais da equipe. Ainda, foi possível perceber uma diminuição dos episódios de violência no horário do recreio nas escolas que desenvolveram o projeto. A atuação do psicólogo na área de atenção aos usuários de substâncias psicoativas em Salvador (BA) O relato aqui descrito pretende simultaneamente articular a legislação e políticas existentes no âmbito da atenção a usuários de substâncias psicoativas e a prática da segunda autora com crianças e adolescentes em situação de rua no projeto de intervenção EspaSSos da Rua, na cidade de Salvador. A compreensão sobre o uso de substâncias psicoativas tem sofrido muitas alterações ao longo da história e a forma de atender aos usuários reflete todas as negociações resultantes das diversas compreensões sobre o tema. De acordo com a Portaria n. 3.088, de 23 de dezembro de 2011, que institui a rede de atenção psicossocial para pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde, são diretrizes para o funcionamento da rede: (a) Respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas; (b) Promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; (c) Combate a estigmas e preconceitos; (d) Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; (e) Atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas; (f) Diversificação das estratégias de cuidado; (g) Desenvolvimento de atividades no território, que favoreçam a inclusão social com vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania; (h) Desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos; (i) Ênfase em serviços de base territorial e comunitária; (j) a construção do projeto terapêutico singular como eixo central no cuidado. O atendimento integral a usuários que fazem uso abusivo de substâncias psicoativas se constitui em um grande desafio profissional, político e social, pois se trata de um fenômeno complexo, que implica no acionamento de vários dispositivos das redes social e de saúde. As XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de Pós- Graduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 4 equipes dos vários dispositivos que compõe esta rede de atenção, especificamente, os consultórios na rua e os centros de atenção psicossocial (entre eles o CAPS AD), em geral possui em sua equipe mínima os profissionais da psicologia e do serviço social, pois fica evidente a necessidade de intervenção seja no âmbito social, seja no âmbito individual. Isso poderia significar que o(a) psicólogo(a) atua com o indivíduo e o(a) assistente social atua com as questões sociais. No entanto, os avanços teóricos e metodológicos e a própria prática profissional já demonstraram a artificialidade destas distinções, na medida em que não é suficiente, ou até mesmo possível, compreender as questões psíquicas fora de um contexto social, assim como não é possível intervir nas questões sociais, sem considerar suas expressões nos indivíduos concretos que são alvo das políticas. O projeto EspaSSos da Rua é um dispositivo territorial do Centro de Atenção Psicossocial para usuário de álcool e outras drogas de Pernambués (CAPS Ad- Pernambués), localizado na cidade de Salvador, que foi criado em 2007 com o intuito de atender prioritariamente crianças e adolescentes em situação de rua usuárias de substâncias psicoativas. A equipe que atua no projeto já sofreu inúmeras alterações ao longo da sua história, mas a existência dos profissionais da psicologia e do serviço social sempre foi garantida, por se compreender a indispensabilidade desses dois profissionais. No período de participação da autora no projeto, a intervenção ocorria no Largodos Mares, território de permanência de um grande número de usuários, sendo realizadas intervenções semanais, no período da noite. Nessas intervenções eram realizados os atendimentos individuais, as diversas oficinas, como por exemplo, de música, teatro, construção de bijuterias, a distribuição de preservativos e os encaminhamentos para outros serviços que compunham a rede, havendo uma grande demanda para providências referentes à retirada de documentos de identificação. A lógica que permeava a atuação de todos os profissionais da equipe era a Redução de Danos (RD) e isso já nos colocava em um papel de maior proximidade independente das diferenças nas atuações singulares de cada uma das profissões que compunham a equipe. Cabe ressaltar que a RD é, por um lado, um conjunto de práticas de cuidados alternativos à política de “guerra às drogas” (PASSOS; SOUZA, 2011), por outro lado, se constitui com um método cujo objetivo não é a abstinência simplesmente, mas é a defesa pela vida, em que “tratar significa aumentar o grau de liberdade, de co-responsabilidade daquele que está se tratando” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). Em termos de atuação prática, isso implica que cada profissional está em campo, para através do processo de vinculação com o usuário, oferecer uma escuta qualificada e construir um projeto terapêutico individual que irá incluir todos os outros profissionais que se façam necessários. Obviamente, os saberes de cada profissional, especialmente os psicólogos e assistentes sociais, ora se complementavam ora produziam dissonâncias, que eram trabalhadas nas reuniões da equipe e que produziam um conhecimento mais aprofundado e completo da realidade dos usuários atendidos. Dessa forma, o uso da substância era verdadeiramente compreendido como resultante de questões sociais, econômicas e culturais, mas expresso de forma singular para cada usuário e esse sentido era alvo da intervenção e escuta psicológica. Discussão Os relatos apresentados acima dão visibilidade a uma aproximação entre as áreas da Psicologia e do Serviço Social, que apesar estarem identificadas como áreas de conhecimento diferentes nas agências de fomentos (CAPES, CNPq), o Serviço Social está vinculado às Ciências Sociais Aplicadas e a Psicologia às Ciências Humanas, vem crescendo a articulação entre estas duas áreas, principalmente, pelo fato das duas áreas atuarem conjuntamente em alguns espaços sócio-ocupacionais. Tal aproximação já vem sendo indicada por Eidelwein (2007, p. 300) ao afirmar que parece ser interessante pensar sobre possibilidades de construções teóricas e metodológicas que resultem da capacidade de diálogo das disciplinas em questão (Serviço Social e Psicologia), na direção de práticas interdisciplinares. Um dos elementos característicos da constituição de um paradigma emergente, ou seja, um paradigma científico próprio do campo das ciências sociais e humanas. Entendemos, pois, que a articulação entre a Psicologia e o Serviço Social pode se dar em dois grandes campos: o campo da formação profissional e o campo da prática. No que se refere ao primeiro campo percebe-se que muitas disciplinas ministradas pela Psicologia apontam para temáticas de interesse do Serviço Social e XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de Pós- Graduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 5 vice-versa, como é o caso das disciplinas que abordam as questões relacionadas à infância e à velhice, temas trabalhados pelas duas áreas em vários espaços de atuação. Além disso, o fato da incorporação de cursos de Serviço Social pelos Institutos de Psicologia, a exemplo do que ocorre na Universidade Federal da Bahia e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Assim sendo, se formata a possibilidade de articulação dos docentes através de núcleos acadêmicos que discutem a dinâmica de funcionamento do Instituto e a organização dos currículos dos dois cursos. Com relação ao campo da prática, a articulação se dá através, ora da legislação que fundamenta a atuação desses profissionais, ora das atividades desenvolvidas pelos assistentes sociais e psicólogos, que muitas vezes são planejadas, executas e avaliadas por ambos. Eidelwein (2007), ainda, aponta a Política Nacional de Assistência Social, através do Sistema Único de Assistência Social, como um elemento que reforça a articulação entre as duas áreas em pauta. Essa articulação se dá por meio dos Centros de Referência da Assistência Social e os serviços de proteção básica e especial de média e alta complexidade, que reúnem assistentes sociais e psicólogos que se tornam os agentes responsáveis pela (re)produção da Assistência Social enquanto uma instituição social que, como política pública, vem buscando superar a perspectiva assistencialista, clientelística, de caridade e de ações desarticuladas com as demais políticas sociais (saúde, educação, trabalho e previdência social). (Eidelwein, 2007, p. 311-312) Tomando como referência os relatos, descritos acima, os psicólogos e os assistentes sociais aproximam seu fazer profissional através da realização de projetos que visam amenizar a violência escolar bem como de ações relacionadas aos efeitos sociais das substâncias psicoativas. Vale ressaltar que os assistentes sociais e os psicólogos não conseguem sozinhos “resolver” tais questões, mas precisam da articulação com outros profissionais das áreas de saúde e de educação e mais ainda, precisam do suporte advindo das políticas públicas estatais, que muitas vezes deixam muito a desejar. Ou seja, em muitos espaços de atuação de assistentes sociais e psicólogos, tais profissionais convivem com muitas limitações no que se refere às condições de trabalho, tanto na questão salarial, quanto na falta de equipamentos básicos para o desenvolvimento das atividades. Conclusão A adoção do conceito psicossocial em diversos campos de atuação de assistentes sociais e psicólogos no Brasil vem reforçando a interdisciplinaridade e o diálogo entre estes dois campos profissionais. Desta forma, a interface entre a Psicologia e o Serviço Social pode ser identificada em diversas áreas: na saúde (hospitais, clínicas), na saúde mental (CAPSs), na educação (escolas), no sócio-jurídico, etc. No entanto, neste trabalho, procuramos dar ênfase a duas áreas: a educação e a saúde mental, mais especificamente, ao CAPS AD e dentro deste espaço, ao trabalho junto aos usuários de substâncias psicoativas. Não pretendemos neste texto negar as dificuldades e tensões que emergem da interdisciplinaridade e os pontos de distanciamento entre esses dois campos de conhecimento e na prática profissional. No entanto, acreditamos que este distanciamento em determinados pontos é extremamente salutar, pois permite que na diversidade se compreenda a complexidade do fenômeno que está sendo alvo da intervenção. Defendemos que a interdisciplinaridade não deve ocorrer na ausência dos conflitos e embates, mas apostamos que o diálogo entre as profissões enriquece a ambas e principalmente qualifica os serviços prestados e beneficia os usuários atendidos. Conclui-se, pois, que a atuação dos profissionais da Psicologia e do Serviço Social nas áreas de educação e de saúde mental se entrecruzam e revelam a importância do desenvolvimento de práticas interdisciplinares que possibilitem o fortalecimento desta interlocução, quer através do aprofundamento de fundamentos teórico-metodológicos no âmbito da formação profissional, quer via a inovação de projetos e atividades no campo da prática profissional. Referências - BRASIL. Ministério da Saúde. A Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas / Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Coordenação Nacional de DST e Aids. – Brasília: Ministério da Saúde, 2003.XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de Pós- Graduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 6 - CASSORLA, R. M. S. Psiquiatria no hospital geral: reflexões e questionamentos. Rev ABP- APAL 1996; 18(1):1-8. - EIDELWEIN, Karen. Psicologia Social e Serviço Social: uma relação interdisciplinar na direção da produção de conhecimento. Textos e contextos. Porto Alegre v. 6 n. 2 p. 298-313. jul./dez. 2007. - PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINA GRANDE. Lei Complementar n. 036/2008. Dispõe sobre o Estatuto e o Plano de Cargos, Carreiras e remunerações do Magistério Público Municipal e dá outras providências. Disponível em http://www.sintabpb.com.br/wp- content/uploads/2014/07/PCCR-DO- MAGIST%C3%89RIO-CAMPINA-GR-ANDE.pdf. Acessado em: 24/ago/2014. - PASSOS, E. H. & SOUZA, T. P. Redução de danos e saúde pública: construções alternativas à política global de “guerra às drogas”. Psicologia & Sociedade; 23 (1): 154-162, 2011.