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CIENCIAS DA RELIGIÃO-AULAS 4

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(
Aula
 
4:
 
Ciências
 
da
 
Religião:
 
escolas
 
fenomenológicas
Disciplina:
 
Ciências
 
da
 
Religião
)
Apresentação:
Provavelmente, você já deve ter se perguntado “Quais as diferenças entre as religiões?” ou “Quando o ser humano teria reverenciado uma dimensão “maior” do que ele, normalmente denominada, pela Fenomenologia da Religião, de sagrado?”: essas perguntas, entre outras, estão na trajetória e na obra dos pesquisadores, em sua maioria, teólogos, filósofos e historiadores que criaram e elaboraram a Fenomenologia da Religião, uma escola teórica que reflete sobre a experiência religiosa e o sagrado, isto é, um conjunto de teorias, autores, conceitos, livros e textos que, unidos por semelhanças, procuraram pensar sobre a experiência religiosa e o sagrado.
Objetivos:
Compreender as principais ideias das escolas fenomenológicas; Identificar os principais autores das escolas fenomenológicas; Desenvolver ampla visão sobre os conceitos fenomenológicos da religião.
Reflexões iniciais
Exerça um pouco sua imaginação. Pense sobre estas descrições imaginárias:
 (
Uma pequena Igreja pentecostal, em um lugar pobre, cheio de barracos
 
atarracados uns nos outros. Um pequeno cômodo, cadeiras de madeira,
 
simples. Uma caixa de som. Um violão, um pandeiro e uma bíblia. Um
 
culto
 
no
 
qual
 
homens
 
e
 
mulheres
 
dançam
 
alegres
 
rodopiam,
 
giram
 
e
 
dão
 
glorias
 
a Deus e invocam o
 
Espírito Santo.
)
 (
Um
 
templo
 
presbiteriano
 
tradicional
 
no
 
centro
 
da
 
cidade.
 
Amplo,
 
bancos
 
largos, janelas com vitrais. Um púlpito (lugar de destaque para
 
sacerdotes, oradores e outros falarem). Uma prédica. Um trecho bíblico
 
lido devagar e com solenidade pelo sacerdote. Homens e mulheres
 
sentados
 
ouvindo. Um
 
coral cantando
 
hinos tradicionais.
)
 (
Um terreiro de umbanda ou candomblé com plantas e flores. Um
 
barracão simples, branco, feito com alvenaria e telhas de amianto.
 
Periferia da cidade. Tambores ressoando. Incenso cheiroso. Homens e
 
mulheres,
 
vestidos
 
de
 
branco,
 
dançando,
 
girando,
 
saudando
 
e
 
celebrando
 
as
 
entidades espirituais, cantando.
)
 (
Uma
 
pequena
 
sala
 
em
 
um
 
prédio
 
no
 
centro
 
citadino.
 
Poucos
 
móveis,
 
tapetes, uma mesa ao centro com uma imagem de Buda. Homens e
 
mulheres sentados, pernas cruzadas, olhos fechados, meditando e
 
cantando
 
mantras.
)
 (
Um
 
pequeno
 
templo
 
católico.
 
Bancos
 
laterais
 
de
 
madeira
 
com
 
homens
 
e
 
mulheres atentos, cantando um hino durante a comunhão, o ritual
 
católico
 
da
 
ceia
 
do
 
Senhor.
 
Um
 
sacerdote
 
ao
 
centro
 
realizando
 
orações.
)
 (
Um
 
pequeno
 
galpão
 
de
 
madeira,
 
afastado
 
da
 
cidade,
 
em
 
meio
 
ao
 
verde.
 
Bancos em semicírculo. Homens de um lado, mulheres de outro,
 
dançando e cantando. Uma música, chocalhos, violão, tambor pequeno.
 
Ao centro, objetos, fitas, imagens. Uma pequena fila formando-se para
 
beberem o chá do daime, uma bebida ritual feita de uma folha e de um
 
cipó.
)
Observe que todas essas situações imaginárias brevemente descritas acima, apesar das muitas diferenças, têm algo em comum para a Fenomenologia da Religião. São experiências de fé, religiosas, vividas por homens e mulheres em busca do sagrado, que, em sua religião, adquire nomes, formas, estilos e jeitos diversos e distintos. Você pode se perguntar:
Como a Fenomenologia entende e compreende a experiência religiosa?
O termo, Fenomenologia da Religião, foi criado pelo holandês, Pierre Daniel Chantepie de la Saussaye (1848-1920), que ocupou, em 1878, a cadeira de História das Religiões da Universidade de Amsterdã.
Saiba mais
Você poderá se deparar hoje, com críticas a esse termo, já que teólogos, historiados ou “cientistas das religiões” adaptaram de formas variadas a doutrina filosófica (Fenomenologia) criada por Edmund Husserl (1859- 1938), inclusive deixando de lado alguns pressupostos e trocando de lugar algumas ideias.
O elemento central, como você perceberá, era este: “o pressuposto da ciência da religião é a unidade da religião na multiplicidade de suas formas” (FIROLAMO e PRANDI, 2016, p. 28). Entenda aqui a palavra unidade no sentido de unidade teórica, ou seja, apesar das religiões e de suas diferenças, há um modelo teórico.
O programa, inicialmente defendido para a História das Religiões, a primeira das Ciências das Religiões a serem sistematizadas e institucionalizadas, baseava-se na Comparative Religion (Religiões Comparadas), que teria dois aspectos:
 (
1
)
Estudar-se-ia a religião em suas manifestações empíricas, históricas, sociais e culturais (análise descritiva), comparando-as.
 (
2
)
Estudar-se-ia a “essência”, ou mais exatamente, os caracteres permanentes do fenômeno religioso (análise sistemática).
O conceito de Fenomenologia da Religião é amplo e remete a pelo menos 4 acepções:
1
Um método analítico que se baseia em uma explicação das formas religiosas mais essenciais.
2
Uma escola teórica que constrói classificações de formas religiosas.
3
Uma escola teórica que busca as estruturas mais universais e profundas dos fenômenos religiosos.
4
Uma orientação de natureza filosófica originada dos influxos do pensamento de Husserl, principalmente, e de outros filósofos alemães.
NESTI, In: FERRAROTI, 1990
 (
Apesar de todas essas acepções, para os fenomenólogos
 
da religião, o homem é 
naturaliter religiosus
 
(naturalmente religioso): a religião seria uma estrutura
 
constante e atemporal dos seres humanos, ideia criticada
 
pelas escolas sociológicas, históricas e antropológicas.
)
Alguns dados paleantropológicos indicam, conforme o historiador e cientista da religião, Stefano Martelli (MARTELLI, 1998):
 (
O
 
Homo
 
sapiens
 
(entre
 
400.000
 
e
 
150.000
 
anos
 
atrás)
 
e
 
provavelmente
 
também o 
Homo erectus 
(entre 1,7 e 0,15 milhões de anos atrás),
 
produziram
 
objetos com
 
marcas/incisões de
 
caráter simbólico
 
que, nas
Primeira
 
evidência
)
 (
hipóteses dos pesquisadores, podiam ter significado cultual e mágico-
 
religioso.
)
 (
A
 
partir
 
do
 
período
 
Neandertal
 
(paleolítico
 
médio,
 
100.000
 
a
 
35.000
 
anos
 
atrás) e
 
do 
Homo
 
sapiens
 
sapiens
 
(
p
aleolítico
 
su
p
erior
1
, 35.000
 
a
9.000 anos atrás), o simbolismo religioso ficou muito explícito: práticas
 
funerárias, culto dos ossos, animais (lobo, urso etc.) e os 
ritos de
 
p
assa
g
em
2
 
e
 
p
ro
p
iciatórios
3
,
 
que
 
podem
 
indicar
 
uma
 
ideia
 
do
 
sobrenatural.
Se
g
unda
 
evidência
)
Observe que o método fenomenológico começa quando se colocam o mundo da vida e os seus fenômenos entre parênteses, como você viu. É essencial porque o fenômeno (aquilo que aparece) está coberto por “grossas camadas” de história e de intepretações, além de juízos normativos (julgamentos do valor) que vão se acumulando e embaçando a potência do aparecer.
O segundo passo é a redução eidética, que levará à visão da essência.
Perceba que, depois da suspensão do mundo (procedimento teórico), o que não significa desconhecer sua objetividade e historicidade, tenta-se penetrar em suas camadas de sentido até atingir o eidos, entendido como a priori.
Observe que esse mostrar-se é o que se teoriza na Fenomenologia da Religião. Há pelo menos três momentos do “aparecer” do fenômeno:
Ele está quase aparecendo (escondido) Ele manifesta-se pouco a pouco
Ele está quase transparente
 (
Veja que o ponto focal desse novo paradigma é a crítica ao
 
positivismo, em especial a crítica à Psicologia Genética,
 
dominante no fim do século XIX e começo do XX, em
 
especial a transposição de métodos das Ciências da
 
Natureza para as Humanas e Sociais.
)
Um dos mais importantes filósofos a criticar essa orientação, embora não seja da linhagem fenomenológica, foi Wilhelm Dilthey, que desferiu uma crítica às concepções positivistas da Psicologia e propôs uma psicologia descritiva e analítica.
 (
Para Dilthey, a vida psíquica, elemento fundamental da experiência
 
religiosa, não seria um amontoado de elementos simples comose fosse
 
uma
 
cópia
 
ou
 
um
 
reflexo
 
do
 
mundo
 
exterior,
 
mas
 
uma
 
totalidade
 
ou
 
uma
 
conexão
 
ou
 
estrutura
 
dinâmica,
 
viva,
 
dotadas
 
de
 
leis
 
e
 
objetivos
 
próprios
 
(autotélicos), conduzidos por relações internas.
Wilhelm
 
Dilthe
y
 
(
1833-1911
)
)
Fenomenologia da Religião Compreensiva: a escola holandesa
Um dos mais importantes historiadores e filósofos foi o holandês Gerardus van der Leeuw (1890-1950), que publicou, em 1933, Phänomenologie der Religion, um esforço para construir um método especial de Fenomenologia da Religião.
1
O primeiro componente de suas ideias é a retomada de Husserl, que você já soube.
2
O segundo é a conjugação com elementos da Psicologia da Gestalt (Gestalpsychologie), psicologia da forma.
3
O terceiro componente é a influência do paradigma hermenêutico, ou seja, a preocupação com o sentido e o significado da experiência religiosa.
4
O quarto é o momento, o caráter testemunhal sobre a “essência” da religião.
A corrente de Psicologia da Gestalt surgiu na Alemanha no período entre as duas grandes guerras mundiais. Saiba que uma das ideias mais interessantes dessa corrente é a de forma total, ou seja, o mais importante não é considerar cada elemento psicológico em separado, mas sim em seu conjunto ou em sua forma.
Um ponto em comum entre aqueles que, nas Ciências da Religião, afiliam-se ao método e à perspectiva fenomenológica, é a importância dada à experiência religiosa. Para van der Leeuw, a compreensão da experiência religiosa, da religião ou do sagrado passa pela sintonia, inclusive em termos de afeto, com o objeto (ou empatia, originado do termo alemão Einfühlung4).
 (
A religião é um dado existencial elementar e possui uma
 
natureza consubstancial à natureza do homem, isto é, a
 
religião e o homem se fizeram simultaneamente desde a
 
origem dos seres humanos sobre a Terra.
)
Diante da massa de informações (da religião e do mundo), sempre grande, desorganizada, essa sensibilidade para com a religião é o primeiro passo de uma caminhada longa para a construção da pesquisa.
A relação entre sujeito (aquele que conhece) e objeto (aquilo que é conhecido) é de troca, o sujeito desloca-se para o objeto e o objeto para o sujeito. Por que isso, você se pergunta:
Qual o objetivo desses deslocamentos?
Visam reviver e reexperimentar o objeto, tal como propôs Dilthey em sua ideia de círculo hermenêutico da compreensão (o sujeito e o objeto interagem o tempo todo, abrem-se um ao outro dialogam-se).
No pensamento de van der Leeuw, duas operações lógicas (ações metodológicas) são necessárias:
 (
1
)
Compreensão estático-fenomenológico: analisar os objetos tais como são, mas não em separado, senão em seu conjunto total.
 (
2
)
Estabelecer as conexões estruturais entre os elementos que constituem o objeto (da pesquisa), “vividos e experimentados como unidades vivas, nas palavras de Firolamo e Prandi (2016, p. 34).
 (
Comentário
)
 (
Pense
 
no
 
seguinte
 
exemplo:
 
você
 
deseja
 
pesquisar
 
um
 
culto
 
religioso
 
de uma religião X. Não basta apenas descrever os itens, as
 
características, os atores ou agentes, os objetos e as linguagens
 
presentes.
 
É preciso saber o que o culto
 
significa como um todo.
)
O estudo da experiência religiosa em van der Leeuw
Segundo os estudiosos Firolamo e Prandi (2016, p. 34), o método proposto por van der Leeuw, tem cinco partes:
 (
1
)
Primeira parte
Prioriza o objeto da religião, analisam-se os dados a partir de modelos teóricos que iriam do “primitivo” às formas, pretensamente, mais evoluídas.
 (
2
)
Segunda parte
Centrada no sujeito da religião, examina-se o homem sagrado (vida sagrada, o morto, o rei, o feiticeiro, o padre, o pregador, o santo), a comunidade sagrada, as concepções de alma.
 (
3
)
Terceira parte
Focada nas relações entre sujeito e objeto das religiões, analisam-se a ação externa (sacrifício, rito, culto) e a ação interna (intenção, motivos etc.).
 (
4
)
Quarta parte
Prioriza o mundo ao redor, examina-se o problema do acesso ao e dos objetos do mundo (fins da revelação, no homem e em Deus).
 (
5
)
Quinta parte
Centrada nas figuras ou comportamentos estruturais e das tendências das diferentes religiões.
Nesse ponto surgiram críticas às posições desse pesquisador holandês. Haveria, em seu pensamento, uma ideia platônica com valor normativo, isto é, esses tipos gerais teriam valor de norma que conduziriam ao testemunho
da “essência” da religião.
Para alguns, isso significaria a rendição das ciências da religião à teologia e aos seus métodos, o que poderia ser verificado, note bem, pelo uso de categorias de análise oriundo do cristianismo. A tese segundo a qual a evolução religiosa da humanidade tenderia para a revelação sobrenatural, tendo como modelo a revelação cristã, está presente nos trabalhos desse pesquisador. Essa ideia não foge de um horizonte evolucionista, e é, por isso, criticada.
A proposta da Fenomenologia da Religião tentou superar a contraposição entre positivismo e espiritualismo e sustenta que o fenômeno é, nas definições Van Der Leeuw, ao mesmo tempo, um objeto que se refere a um sujeito e um sujeito relativo ao objeto, ou seja, a essência do fenômeno “consiste em mostrar-se”, em mostrar-se a “alguém”. O pressuposto, ou seja, o que é o ponto de partida, é que a religião tem autonomia absoluta em face à outras dimensões.
Saiba mais
Angústia, silêncio de deus e crise existencial
Gerard van der Leeuw diz que em todas as religiões há dois significados principais do sagrado:
Aquilo que dá a salvação porque é poderoso; e
Aquilo que é posto/colocado à parte do profano, como expressa os antigos nomes qadesh sanctus, tabu.
Mas, e quando a fé se quebra? Procure assistir ao filme, Luz de inverno, de Ingmar Bergman, lançado em 1963. É o terceiro filme da trilogia do silêncio (O silêncio de Deus e Em busca da verdade, de 1961).
O filme narra a história de um pescador (Jonas Persson) aflito ao ler, nos jornais, que a China pretende usar a bomba atômica e, por isso, busca auxílio e orientação na Igreja. O pastor Tomas Ericsson, porém, não consegue ajudá-lo, pois vive uma crise de fé.
A escola fenomenológica de Marburgo
Depois de van der Leeuw, nasceu uma bifurcação na Fenomenologia, alguns permaneceram de acordo com a proposta inicial e outros fizeram uma crítica e uma revisão radical. Para compreender isso, é importante que você conheça um pouco da escola de Marburgo, universidade alemã onde lecionaram seus maiores expoentes.
Rudolf Otto (1869 – 1937)
Considera-se Rudolf Otto, que você viu na aula 03, um dos fundadores dessa escola. A obra maior deste autor é o livro O sagrado que muitos não consideram uma obra fenomenológico se o termo fenomenologia for tomado ao “pé da letra”.
Esse teólogo luterano e filósofo, dizem, recebeu influências de Martinho Lutero (1483-1546) e Friedrich Schleiermacher (1768-1834). Alguns estudiosos argumentam que, na obra O sagrado (dizem que a melhor tradução do alemão ao português seria O santo), chega a tese da absoluta irracionalidade da religião.
Para Otto, o sagrado está carregado de elementos emocionais, irracionais que, apesar de remeterem para a universalidade (todas as religiões teriam essa estrutura), sua construção se daria pelo existir de cada indivíduo em sua liberdade fundamental. A razão moderna não pode compreender a totalidade do sagrado, mas o indivíduo em sua consciência pode por ele ser tocado.
O sagrado, conforme você viu na aula 03, tem várias características e delas, duas já foram apresentadas: o numinoso e o tremendum. Mas, há mais três:
O mirum — aquilo que paralisa, terrifica, deixa estupefato;
O majestas — a fúria divina que tudo destrói, fogo consumidor; A orgé — aquilo que empurra o ser humano a vida religiosa, ao amor pelo sagrado.
Os místicos, das muitas tradições religiosas, aqueles que fizeram a experiência do próprio divino na sua realidade íntima, descreveram a experiência do sagrado como mistério terrível e, ao mesmo tempo, fascinante, que suscita, no crente,múltiplos sentimentos.
Para o fenomenólogo, tais sentimentos são o efeito subjetivo da presença, no eu, de uma realidade diferente do próprio eu, que Otto chama o “numinoso” (latim numen = divindade), ao invés de “Deus” (ligado à elaboração teológica das religiões monoteístas).
O numinoso, assim como o crente o percebe em seu próprio íntimo, é definido como mysterium tremendum et fascinosum. Para Otto, há um processo de evolução do numinoso dentro da religião: de um estado de fascinação e terror (sagrado numinoso) para um estado moral, ético e dogmatizado (sagrado majestas).
Para Otto, o sagrado é uma categoria composta por dois aspectos, o racional e, em uma tradução mais adequada do alemão, metarracional ou além do racional (numinoso). Essa duplicidade deriva do seguinte fato: a experiência religiosa acontece na história, no decorrer do processo histórico-cultural. Observe que essa categoria adquire distintas institucionalizações de acordo com época, civilização, povo, tribo, religião e acontece em formas que definidas pela cultura e sociedade.
Friedrich Heiler (1892-1967)
Segundo membro da Escola de Marburbo, discípulo de Otto, com posições mais interessantes (FIROLAMO; PRANDI, 2016).
Para esse fenomenólogo da religião, nenhuma ciência está isenta de pressupostos pessoais e científicos. Para Heiler, há os seguintes pressupostos para o bom pesquisador: método indutivo5, para afastar apriorismo6 (pontos de partida absolutos) e teleologia.
Teleologia pode ser definida como qualquer doutrina que propõe a existência de fins últimos guiando a natureza e a humanidade, baseada em um raciocínio circular, por exemplo (hipotético), o sol é vermelho por isso é grande, sol é grande e por isso é vermelho; Rigor filosófico-conceitual, para evitar frouxidão do raciocínio;
Experiência direta a partir do contato com personalidades e comunidades religiosas, pois o estudo da religião não pode limitar- se apenas aos livros e textos;
Considerar a universalidade dos fenômenos religiosos;
Recurso ao método fenomenológico, supostamente aquele atingiria para a compreensão da “essência”.(FIROLAMO; PRANDO, 2016)
Esses cinco pressupostos referem-se à ciências, nas há outros de ordem pessoal que o pesquisador deve considerar, segundo Firolamo e Prandi (2016):
O tremor e o temor, para usar os termos de Otto quando em presença de uma experiência religiosa verdadeira, seja de qual religião for;
A experiência religiosa direta, pois é fundamental a sensibilidade para com a experiência religiosa;
Levar em conta a verdade da religião, que se manifesta para a felicidade do homem.
Segundo Heiler, existem três caminhos para que se compreenda a essência da religião:
O caminho descritivo e o histórico-filológico (descrever, falar da história e identificar as origens e transformações dos termos);
O caminho tipológico, ou seja, organizando os dados obtidos pelo caminho descritivo-histórico-filológico em tipos usando vários critérios, por exemplo, sociológicos e antropológicos (religiões tribais e étnicas, restritas apenas a membros das etnias e tribos e religiões universais, abertas a todos); teístas (religiões mágicas, monoteístas, politeístas) e psicológicos (religiões materialistas, espiritualistas, estéticas, éticas, místicas, emotivas, racionais);
O caminho fenomenológico, imaginado como se fosse círculos (um dentro do outro) até chegar ao conjunto total e pleno.
Os círculos desse caminho vão do “exterior” ao “interior”, nesta direção (FIROLAMO, PRANDI, 2016):
Objeto sagrado (liturgia, espaço, tempo, calendário, número e ação);
Palavra sagrada (nome divino, oráculos, adivinhação, ordem divina, doutrina, oração, prece, silêncio);
Escrita sagrada (escrituras, alfabetos);
 (
Homens
 
e
 
comunidades
 
sagradas
 
(fiéis,
 
adeptos,
 
hierarquias,
 
laços,
 
abertura
 
e fechamento);
Concepções e ideias de Deus/deuses (
teo
g
onia
7
e teologias);
 
Concepções
 
e
 
ideias
 
de
 
mundo
 
e
 
homem
 
(
Cosmo
g
onia
8
 
e
 
antro
p
o
g
onia
9
);
Mundo
 
da experiência vivida,
 
o círculo mais
 
importante, o centro.
Aqui
 
estaria,
 
segundo
 
Heiler,
 
o
 
objeto
 
mais
 
próprio
 
da
 
religião,
 
a
 
própria
 
realidade divina e transcendente, a realidade do deus revelatus ou deus
 
absconditus.
 
Atente para
 
as palavras de
 
Heiler:
“A essência da religião, portanto, é a comunhão do homem com a
 
realidade transcendental que flui da experiência da graça divina, uma
 
comunhão que se realiza na adoração e no sacrifício e que leva à
 
beatitude
 
do
 
homem
 
e
 
da
 
humanidade”.
 
(FIROLAMO
 
e
 
PRANDI,
 
2016,
 
p.
 
41)
)
Gustavo Mensching (1901-1978)
Terceiro membro da escola de Marburgo, escreveu estudos empíricos e teóricos. Em seu pensamento, a pesquisa fenomenológica possui duas dimensões:
Comparar as religiões para tornar mais claro suas afinidades tipológicas e estruturais, (dimensão da análise sistemática); Compreender a essência da religião.
Apesar de toda ciência partir de pressupostos, estes, no caso da Fenomenologia da Religião, devem ser científicos. No método de comparação, dois riscos deveriam ser evitados, superficialidade na diferenciação e pressa na identificação. O fenômeno histórico-religioso é, antes de tudo, vital.
Religião é definida como a experiência do encontro com o sagrado. Mas, nesse encontro, há alguns elementos inarredáveis:
É sempre do sagrado a iniciativa, sendo isso uma verdade para o crente;
O sagrado manifesta-se, no tempo e no espaço, por meio de formas distintas.
Desdobramentos da escola fenomenológica holandesa
William Kristensen (1867-1953)
Outro teórico, continuador da tradição fenomenológica holandesa. Foi professor de História da Fenomenologia Religiosa na Universidade de Leiden. Suas perspectivas fenomenológicas são diferentes da Fenomenologia que sofreu influência evolucionista, conforme aponta a cientista da religião Elisa Rodrigues (2015).
Esse autor apresenta, no livro The meaning of religion. Lectures in the Phenomenology of Religion (publicado em 1960), o ponto mais alto do olhar fenomenológico: entender o sagrado a partir da experiência religiosa vivida pelo crente ou pelo seguidor de qualquer religião. Do contrário, haveria apenas a prevalência de um olhar externo (externalizante).
A religião, como forma de conhecimento do mundo, é imprescindível, com as seguintes ponderações:
Sensibilidade para com as variadas manifestações religiosas; Considerar, na análise, tudo o que os homens e mulheres envolvidos nos fenômenos religiosos viveram ou vivem;
Considerar que as religiões dominantes, e no caso do mundo ocidental, são um molde, modelo ou uma gramática de conduta e valor, em relação ao qual, se reage, se age, se interage.
E como fica o pesquisador?
Nas palavras do antropólogo Pierre Sanchis (1998, p. 40):
“Por um lado, como sustentar [...] a relação de um cientista, por definição relativizador e ‘descrente’, com o regime de verdade dominado pelo absoluto da convicção que está sendo vivido por aqueles com quem
conversa, convivem, troca figurinhas, num discurso que [...] constrói-se necessariamente em termos de: ‘É’ (do ser, e não de ‘representações’). Por outro lado, [...] que fizemos nós, modernos cientistas sociais, da dimensão iniciática que tendeu a acompanhar a ‘experiência’ do antropólogo em momentos fecundos da trajetória de nossa ‘ciência’?
Tradicionalmente, a ‘participação’ integra o nosso método. Em que consistiria hoje, a “participação’ nas experiências religiosas contemporâneas pregnantes de emoção, de efervescência induzida, de experimentação polivalente?”
É um paradoxo que se instala nas Ciências da Religião. De um lado, a ciência e o cientista, por dever de sua vocação secular, devem empreender a crítica e a análise no sentido de relativizar o conhecimento sobre a religião, desnaturalizar as naturezas da religião e das religiões e mostrar as profundas raízes humanas, sociais, culturais do sagrado. Do outro lado, para o fiel e o adepto, seja de qual religião for, a experiência religiosa vivida, são dimensões “absolutas” para ele, dimensõesque se situa além das razões racionais.
Atente para a questão fundamental: como confrontar essas duas orientações de forma a buscar a melhor compreensão do fenômeno?
O cientista e o estudioso da religião não podem abrir mão da ciência e de seus métodos rigorosos e questionadores, mas, ao mesmo tempo, eles devem sempre ser sensíveis às manifestações religiosas e considerá-las em si mesmas, considerar a compreensão dos que a vivem.
 (
Um dos menos conhecidos fenomenólogos. Ao contrário dos outros
 
fenomenólogos, pensou a Fenomenologia da Religião como uma ciência
 
empírico-indutiva,
 
sem
 
pressupostos
 
filosóficos
 
e
 
em
 
funções
 
valorativas
 
(a
 
verdade da religião).
(FILORAMO;
 
PRANDI,
 
2016).
Captar a essência da religião significa realizar três ações:
 
Desenvolver
 
a theoria
 
dos fenômenos;
Procurar
 
o
 
logos;
Carl
 
Jouko
 
Bleeker
 
(
1899-?
)
)
Interrogar-se sobre a entelecheia.
Essas expressões gregas significam, respectivamente:
Estudar objetivamente os fenômenos religioso (a concepção de sagrado, a de homem, a de divindade);
Apreender os elementos estruturais das religiões ou tradições religiosas (as formas permanentes de expressão da consciência religiosa, os fatores específicos, os pontos de cristalização das expressões sacrais, como as preces etc.);
Compreender os sentidos da mudança, um problema para a perspectiva fenomenológica.
As maiores críticas à Fenomenologia da Religião dirigem-se aos seus impasses: como estudar a religião, a partir de métodos descritivos e comparativos e, ao mesmo tempo, propor interrogações de matriz existencial, experiencial e essencial?
Para os críticos, essas duas coisas possuem um alto grau de incompatibilidade.
Saiba mais
Fenomenologia da Religião e Cinema
Os porquês e as transformações vividas em uma família. Uma mudança na sensibilidade e como se percebe os valores religioso e o amor. Assista ao filme, Orações para Bobby. Dirigido por Russell Mulcahy e lançado em 2009, nos EUA. Sinopse:
Mary é uma religiosa rigorosa que segue as palavras da bíblia. Quando seu filho Bobby, por diversas questões, fala que é gay, ela o leva a terapias e cultos religiosos para tratar e “curar”. Baseado em uma história verídica de um jovem homossexual que aos 20 anos suicida-se. Um filme intenso, que espelha ainda hoje a realidade de muitos jovens no mundo.
A fenomenologia histórica da religião
Em geral, você poderia achar que as fronteiras entre as diferentes escolas e autores são absolutas e não haveria nenhuma proximidade. Não é assim que ocorre entre ideias, autores, perspectivas e escolas. Contudo, as passagens, as proximidades e os distanciamentos existem.
Geo Widengren (1907-1996)
É importante que você saiba que este outro pesquisador das escolas fenomenológicas, orientalista (estudioso das culturas do mundo oriental) da civilização persa/iraniana e filósofo sueco, criticou os pressupostos da fenomenologia em três elementos:
Desconfiar do a priori da religião;
Não separar a religião do contexto histórico-social-cultural, pois a história da religião não é a manifestação contínua do sagrado; Não há pressupostos especiais para o estudo da religião (por exemplo, ter tido uma experiência religiosa), pois a empatia para com o fenômeno religioso é a atenção que qualquer pesquisador deve dar ao seu objeto de estudo.
O essencial, para esse pensador, é que o estudioso tenha treino técnico e use bons instrumentos metodológicos para contextualizar o fenômeno religioso (desenvolvimentos, rupturas, mudanças).
 (
Este segundo estudioso, note bem, procurou articular Fenomenologia e
 
Sociologia,
 
criando
 
tipos
 
e
 
propostas
 
de
 
compreensão
 
que
 
superassem
 
os
 
problemas
 
do apriorismo e do empirismo.
Joachim
 
Wach
 
(
1898-1955
)
)
 (
Ele escreveu um livro de Sociologia da Religião onde procurou
 
implementar esse programa de superação dos impasses entre
 
Fenomenologia,
 
História,
 
Sociologia
 
e
 
Religião.
 
Em
 
linhas
 
gerais,
 
você
 
verá
 
algumas de suas ideias:
O mito é a expressão “teórica primordial” da religião, pois é uma
 
narrativa
 
que
 
organiza
 
e
 
encadeia
 
a
 
visão
 
de
 
um
 
grupo,
 
povo,
 
etnia;
 
A doutrina vem após o mito, pois racionaliza as inconsistências
 
presentes nos relatos míticos e envolve dogma, Teologia e teoria
 
religiosa;
A religião está sempre relaciona ao social e a um sistema de
 
relações e funções sociais (e há tipos como igreja, seita, culto,
 
denominação). Os tipos, perceba, são modelos teóricos de
 
compreensão
 
elaborados
 
a
 
partir
 
da
 
observação,
 
sistematização
 
e
 
comparação
 
com dados empíricos.
)
Entre a Fenomenologia e a História
Existem mitos seculares, em especial, as religiões políticas (doutrinas políticas que se comportam como se fossem religiões,como o nazismo, o fascismo italiano e o stalinismo) bastante similares às outras estruturas religiosas, com dogmas, hierarquias verdades e heresias, condenação, excomunhão, tabus etc.
Para Mircea Eliade, filósofo e escritor romeno, o sagrado é um elemento estrutural da consciência e não uma fase ou etapa da história. Em outras palavras, o ser humano terá sempre o sagrado em sua estrutura, mesmo que mudem as épocas e surjam novas religiões, muito diversas e diferentes das anteriores.
 (
Da
 
fenomenologia
 
histórica
 
da
 
religião,
 
é
 
um
 
dos
 
maiores
 
nomes,
 
sem
 
dúvida, citado em aulas anteriores.
Mircea
 
Eliade
 
(
1907-1986
)
)
 (
Eliade propõe que a religião deva ser analisada a partir de parâmetros
 
próprios e não de modelos que desconsiderem a autonomia do fenômeno
 
e da experiência religiosa. Para ele, a principal tese da Fenomenologia, a
 
do
 
homo
 
religiosus
 
(natureza
 
religiosa
 
intrínseca
 
ao
 
ser
 
humano)
 
procura
 
encontrar como, na sociedade secular e moderna, essa ideia está
 
presente.
)
 (
Eliade escreve uma obra muito vasta, e nos livros em que ele trata da
 
história das ideias e crenças religiosas, o simbolismo religioso é
 
essencial: objetos, traços, alfabetos, poemas, canções, orações etc. Ele
 
fez
 
tipologias
 
das
 
muitas
 
hierofanias.
 
Note,
 
por
 
exemplo,
 
as
 
urânicas
 
(do
 
céu), as ctônicas (da terra), etc. Leia: 
Hierofania ou manifesta
ç
ões
 
do sa
g
rado.
 
<
g
aleria/aula4/anexo/hierofania.
p
df>
Leitura
)
Atividades
1. Leia com atenção este trecho do livro O sagrado, de Rudolf Otto: “Por ‘racional’ na ideia do divino entendemos aquilo que nela pode ser formulado com clareza, compreendido com conceitos familiares e definíveis. Afirmamos então que ao redor desse âmbito de clareza conceitual existe uma esfera misteriosa e obscura que foge não ao nosso sentir, mas ao nosso pensar conceitual, e que por isso chamamos de ‘o irracional’.”
(OTTO, p. 97-98).
Sobre as características do sagrado, tendo este texto em mente e o que você sabe sobre o pensamento de Otto, nesta aula, assinale a reposta correta:
a) O sagrado é uma potência viva que está restrita ao Cristianismo por este ser a forma de religião mais evoluída.
b) O sagrado é uma categoria completamente racional, abstrata, objetiva que pode ser apreendida pela razão.
c) O sagrado é uma categoria universal ligada à dimensão da experiência religiosa, mas que está além da razão.
d) O sagrado é uma categoria ligada à dimensão da experiência religiosa que está além da razão, mas que se restringe às religiões monoteístas.
e) O sagrado é uma categoria ligada à emoção, ao sentimento do temor, do terror, à fascinação, mas limita-se ao Cristianismo.
2. Leia com atenção este texto de Mircea Eliade, que fala sobre o sagrado e a hierofania: “O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o ato da manifestação do sagrado, propusemos o termo hierofania. [...]. Poder-se-ia dizer que a história das religiões — desde as mais primitivas às mais elaboradas — é constituída por um número considerável de hierofanias, pelas manifestações das realidades sagradas. A partir da mais elementar hierofania — porexemplo, a manifestação do sagrado num objeto qualquer, urna pedra ou uma árvore — e até a hierofania suprema, que é, para um cristão, a encarnação de Deus em Jesus Cristo, não existe solução de continuidade. Encontramo-nos diante do mesmo ato misterioso: a manifestação de algo ‘de ordem diferente’ — de uma realidade que não pertence ao nosso mundo — em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo ‘natural’, ‘profano’. (ELIADE, 2016, p. 13).
Tendo este texto em mente e o que você viu sobre a Fenomenologia histórica da religião, de Eliade, é possível afirmar que:
a) O sagrado manifesta-se à consciência do homem a partir do contexto histórico-social, mas limitado ao Cristianismo.
b) A hierofania é uma categoria teórica que expressa o ato de manifestação do sagrado que ocorrer em qualquer religião.
c) As manifestações da hierofania ocorrem em determinados contextos e objetos de algumas religiões.
d) O sagrado é a manifestação da hierofania no contexto histórico- social da consciência humana no Cristianismo.
e) Entre a hierofania primitiva das religiões primitivas e a hierofania do Cristianismo existe uma continuidade.
3. Leia a avaliação da Fenomenologia de van der Leeuw feita por Nicola Gasbarro, historiador e filósofo italiano: “É inútil procurar em toda a obra de van der Leeuw as motivações deste salto epistemológico que faz com que todo o horizonte de sentido e, portanto, toda a cultura dependam, de fato e de direito, da perspectiva religiosa: para um teólogo toda a natureza depende do sobrenatural, e toda a cultura nasce da tensão entre natureza e o sentido-valor do sobrenatural. Van der Leeuw nada tem de ingênuo e sabe [...] dissolver a estrutura teológica no contexto experiencial da vida, escondê-la na Filosofia da consciência, até traduzi- la em termos de epistemologia husserliana, mas, quando o sistema ganha corpo, inevitavelmente reemergem na experiência de vida do a priori seja o sublime do mysterium, seja a complexidade da experiência criatural de Otto” (GASBARRO, 2013, p. 87).
Tendo em vista este texto e a Fenomenologia da Religião da escola holandesa, assinale a alternativa correta:
a) A Fenomenologia da Religião busca, na cultura e na história, os motivos da redenção universal do ser humano.
b) A Fenomenologia da Religião procura, apenas, a apreensão dos elementos estruturais das religiões ou tradições religiosas.
c) A Fenomenologia da Religião evita interrogar as culturas e histórias humanas sobre o sentido do sagrado.
d) A Fenomenologia da Religião busca relativizar a essência do fenômeno religioso a partir da experiência religiosa vivida pelo crente ou seguidor de qualquer religião.
e) A Fenomenologia da Religião busca compreender o sagrado também a partir da experiência religiosa vivida pelo crente ou seguidor de qualquer religião.
4. Na Fenomenologia da Religião, existem três escolas teóricas básicas, a holandesa, a alemã e a histórica. Por outro lado, a Fenomenologia da Religião bebeu de várias fontes filosóficas e desenvolveu algumas ideias básicas. Sobre as ideias, assinale a afirmativa que INCORRETA:
a) A Fenomenologia da Religião desenvolveu várias escolas teóricas para pensar a experiência religiosa.
b) A Fenomenologia da Religião procura compreender a experiência religiosa a partir de conceitos como o profano.
c) Para a Fenomenologia da Religião é no contexto histórico e social das religiões que se encontra a essência da religião.
d) A Fenomenologia da Religião concebe o ser humano como naturaliter religiosus, isto é, estruturalmente aberto ao sagrado, isto é, intrinsecamente religioso.
e) Para a Fenomenologia da Religião, a descrição e a história da experiência religiosa é o último e mais importante passo do processo de compreensão do sagrado.
5. Leia atentamente este pequeno texto de um teólogo peruano: “Parece-me que a visão indígena nos ajuda a reapreciar o sagrado e a salvação no interior da criação e da corporeidade humana. [grifos do professor]. Um estudioso valoriza o existencial nas ‘cosmogonias míticas em momentos decisivos da vida individual, como é o nascimento a doença, a iniciação, a celebração do matrimônio e a
morte...” e acrescenta: ‘Teologicamente têm interesse pelo contraste que representam com os relatos bíblicos da criação.’ Por minha parte, sublinho como o indígena motiva a reprojetar a situação atual e a corrigir a Teologia dominante. Em vez de coisificar e consumir a realidade — uma feição da (des)ordem moderna — nos convém mais interagir entre seres viventes, confrontar a maldade no mundo (muito presente nos mitos indo-americanos) e superar os absolutos científicos e técnicos que manipulam tudo. (FONTE: IRARRAZAVAL, 2007, p. 106).
Tendo em mente a Fenomenologia histórica e o texto acima, assinale a alternativa correta:
a) Na Fenomenologia histórica da religião de Geo Widengren não é possível separar a religião do contexto histórico-cultural, pois a cultura e o sagrado são inseparáveis.
b) Na Fenomenologia histórica da religião de Geo Widengren, ter tido uma experiência religiosa é uma condição sem a qual não se faz Ciências da Religião.
c) Na Fenomenologia histórica da religião de Geo Widengren o a priori do sagrado é absoluto, ou seja, é ponto indiscutível, acima de qualquer desconfiança.
d) Na Fenomenologia histórica da religião de Mircea Eliade, sagrado não é um elemento estrutural da consciência e não uma fase ou etapa da história.
e) Na Fenomenologia histórica da religião de Mircea Eliade, apenas algumas hierofanias trazem em si o desejo de volta às origens e a ‘pureza’.
 (
6.
 
Retorne
 
à
 
introdução
 
e
 
releia
 
as
 
situações
 
imaginárias
 
descritas
 
e
 
reveja o que foi aprendido nesta aula, em seguida, responda as
 
questões:
a) Quais são os elementos em comum em todas essas situações?
)
 (
b)
 
Identifique
 
os elementos
 
das hierofanias
 
(manifestações do
 
sagrado);
)
 (
c)
 
Como
 
o
 
sagrado poderia
 
ser
 
definido?
)
Notas
Paleolítico Superior e Inferior1
Na ciência da Arqueologia e Geomorfologia, significa um período da história das espécies e do planeta em que surgem os hominídeos, os antecessores dos seres humanos modernos. Paleolítico antigo: 2,6 a 4 milhões de anos atrás. Paleolítico médio: 400 mil a 40 mil anos. Paleolítico tardio ou inferior: 40 mil anos.
Ritos de passagem2
Celebrações ou gestos simbólicos envolvendo palavras, sons, cores ou outros signos que marcam a passagem de status de uma pessoa/grupo de pessoas (nascimento, casamento, morte etc.), no seio de uma comunidade e de sua história.
Ritos propiciatórios3
Ritos para atrair ou readquirir a boa vontade do sagrado ou de seres divinos; agradar à divindade, aplacar sua ira ou justiça, obter o perdão das faltas etc.
Einfühlung4
Palavra alemã oriunda da teoria da estética do século XIX, refere-se ao projetar da predisposição interna de alguém em resposta à percepção de um objeto estético.
Traduzido como empatia, abertura a algo ou alguém.
Método indutivo5
Método baseado na indução, uma operação do raciocínio que consiste em chegar ao conhecimento ou demonstração de uma verdade a partir da observação e análise de fatos particulares comprovados, que procura estabelecer uma verdade universal ou uma referência geral com base no conhecimento de certo número de dados singulares.
Apriorismo6
Doutrina ou convicção intelectual a respeito da existência de conhecimentos, princípios, ideias etc. de natureza a priori.
Teogonia7
(Theo + gonos ou deus + nascimento). Estudo ou compreensão das diferentes origens e desenvolvimentos das divindades. A mais famosa foi escrita por Hesíodo, escritor grego, no século VII a. C.
Cosmogonia8
Campo filosófico que reflete sobre a origem do Universo, a visão de mundo, o mesmo que cosmogênese.
Antropogonia9
Palavra grega (antropos + gonos, homem + nascimento). Campo filosófico que reflete sobre a criação dos homens, o mesmo que antropogênese.
Referências
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. A essência das religiões. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI,Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016.
GASBARRO, Nicola. Fenomenologia da Religião. In: PASSOS, João Décio; USARSKI, Frank (orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas/Paulus, 2013, p. 87.
IRARRAZAVAL, Diego. De baixo e de dentro: crenças latino-americanas. São Bernardo do Campo: Nhanduti, 2007, p. 106.
MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna. São Paulo: Paulinas, 1998
NESTI, Arnaldo. A perspectiva fenomenológica. In: FERRAROTI, F. (org.) Sociologia da religião. São Paulo: Paulinas, 1990.
RODRIGUES, Elisa. O que é siso a que chamamos de Fenomenologia da Religião? In: SILVEIRA, Emerson José Sena da; COSTA, Waldney de Souza. A polissemia do Sagrado. Os desafios da pesquisa sobre religião no Brasil. São Paulo: Fonte Editorial, 2015, p. 105-120.
SANCHIS, Pierre. Estudos de religião, academia e instituições religiosas, um diálogo em construção. In: SOUZA, Beatriz Muniz de; GOUVEIA, Eliane Hejaij; JARDILINO, José Rubens Lima (Orgs.) Sociologia da religião no Brasil. São Paulo: PUC/UMESP, 1998.
OTTO, Rudolf. O sagrado. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 97-98.
USARSKI, Frank (org.). O espectro disciplinar da Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2007.
Próximos Passos
As escolas históricas das Ciências da Religião e suas principais características. Estruturas históricas da religião;
Ideias e conceitos dos principais autores das escolas históricas.
Explore mais
Leia este breve livro do filósofo português Américo Pereira. Em 30 páginas, ele apresenta as principais ideias da Fenomenologia da Religião:
PEREIRA, Américo. Fenomenologia da experiência religiosa. Disponível em:
https://goo.gl/c5rRrp <https://goo.gl/c5rRrp> . Acesso em 07 fev. 2018.

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