Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Carolina Cidrack – S3 GT 1 Ciclo menstrual e sua Fisiologia menstrual: Todos os mecanismos ocorrem em torno do eixo principal composto por hipotálamo, hipófise e ovários (HHO), que recebe a influência de áreas como o córtex cerebral, adrenais e tireoide, e é modulado por hormônios secretados pelo hipotálamo, pela hipófise e pelo ovário. Eixo hipotálamo-hipófise-ovariano A partir de comandos do córtex cerebral, o hipotálamo libera o hormônio secretor de gonadotrofinas (GnRH) de maneira pulsátil → Essa secreção é regida por efeitos de retroalimentação que envolvem fatores excitatórios (glutamato, neuropeptídio Y e noraepinefrina) e inibitórios (endorfinas e dopamina) → Fatores ambientais como estresse, exercícios físicos e desnutrição também interferem nessa regulação como inibidores → O ambiente hormonal, mais progestagênico ou mais estrogênico, dependendo da secreção ovariana, leva a alteração na frequência e amplitude desses pulsos A hipófise, em resposta à secreção de GnRH, produz 2 gonadotrofinas: hormônio folículo-estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH) → FSH: estimula o recrutamento e o crescimento dos folículos ovarianos e a seleção para dominância até que o óvulo seja fecundado → LH: produz a luteinização das células somáticas foliculares (da teca e granulosa), completa a maturação do óvulo e promove a ovulação Por sua vez, os ovários secretam os esteroides sexuais, estradiol e progesterona, em resposta à hipófise → Os esteroides sexuais são produzidos a partir da molécula de colesterol obtida da dieta ou pela molécula endógena, produzida no fígado → O colesterol circulante é captado e convertido em progesterona, em androgênio e, por fim, em estrogênio Folículos ovarianos A produção máxima de folículos ocorre entre a 16° e 20° semanas de gestação, em que há a produção ovariana de 6 a 8 milhões de folículos. Depois, há perda contínua de óvulos e o feto feminino nasce com cerca de 1 a 2 milhões de óvulos. Os folículos iniciais são chamados de folículos primordiais, que possuem uma camada de células em volta chamadas de células da granulosa, com a divisão celular pausada inativas, até que haja a primeira ovulação da mulher. Nesse período, ocorre uma atresia folicular, fazendo com que na puberdade a mulher tenha apenas 400 mil folículos primordiais para serem maturados ao longo de toda sua vida fértil. Carolina Cidrack – S3 GT 2 Ciclo ovariano O ovário realiza basicamente dois processos: 1. Esteroidogênese: produção de esteroides sexuais 2. Foliculogênese: recrutamento e desenvolvimento dos folículos ovarianos FASE FOLICULAR: É a primeira fase do ciclo menstrual, durando de 10 a 14 dias, onde há recrutamento de folículos para a seleção do folículo dominante. A liberação de GnRH é caracterizada por pulsos frequentes e a hipófise responde liberando FSH, que atua sobre o ovário, produzindo estrogênio e inibina B 1. Folículo primordial 2. Folículo primário 3. Folículo secundário 4. Folículo pré-antral 5. Folículo antral 6. Folículo pré-ovulatório FASE OVULATÓRIA: Folículo dominante produz muito estradiol e inibe a secreção de FSH, por feedback negativo. Na fase ovulatória há pico de estradiol, havendo liberação de LH. A ovulação se dá 32-36h após o aumento do LH, e 10- 12h após o pico máximo de LH. O ovócito sintetiza prostaglandinas para a ruptura folicular e a produção de estradiol e progesterona é aumentada. Depois, ocorre a liberação do ovócito que sobrevive por 24h no útero. FASE LÚTEA: Folículo se reorganiza para formar o corpo lúteo e os pulsos de GnRH tem frequência e amplitude diminuídas LH se mantém alto, estimulando o corpo lúteo a sintetizar progesterona e inibina A (que também inibe a liberação de FSH). Se não for fecundado, o corpo lúteo se degenera de 12 a 16 dias, tornando-se corpo albicans. Assim, os hormônios diminuem, levando a descamação do endométrio, a menstruação, e ao início de um novo ciclo. Ciclo endometrial FASE PROLIFERATIVA: Nessa fase, ocorre uma alta do estrogênio, que faz com que haja proliferação e aumento da espessura endometrial e o aumento de glândulas do seu estroma FASE SECRETORA: Caso não haja gestação, os níveis de estrógeno caem e os de progesterona aumentam, o que prepara o endométrio para uma possível gestação, aumentando a secreção de glicogênio e glicoproteínas Ciclo menstrual Hormônios principais • FSH: estimula a secreção de estrogênio, sendo responsável pela maturação dos folículos • LH: estimula a secreção de progesterona, sendo responsável pela ovulação • Estrogênio: predomina antes da ovulação e sofre uma queda após • Progesterona: predomina após a ovulação e quando não ocorre fecundação, cai, e resulta na menstruação Fase folicular/proliferativa 1° ao 5° dia: menstruação 5° ao 14° dia: varia Alta liberação de GnRH Baixa progesterona Endométrio inicial: 2mm Endométrio final: 10mm Carolina Cidrack – S3 GT 3 Fase ovulatória A partir do 14° dia Concentração máxima de progesterona Fase lútea/secretora Últimos 12-14 dias do ciclo Baixa liberação de GnRH Endométrio: espesso Parâmetros normais • Frequência: 21 a 35 dias, com média de 28 dias • Duração: 2 a 7 dias ou de 3 a 8 dias • Volume: 20 a 80 mL Sangramento Uterino Anormal – SUA: É um distúrbio em que um ou mais parâmetros do sangramento uterino normal está alterado: volume, duração ou frequência. O mais importante é a queixa de mudança de padrão, pois, em geral, uma paciente apresenta os mesmos parâmetros durante toda a sua menacme. Caracterização É uma condição frequente, de etiologia múltipla, que pode ocorrer em qualquer fase do período reprodutivo da mulher. 1. Adolescência: nos dois primeiros anos após a menarca, a irregularidade pode ser consequência da imaturidade do eixo HHG 2. Entre 20 e 40 anos: geralmente há maturidade menstrual e os sangramentos anormais nesse período, excluindo causas obstétricas, podem ocorrer por lesão estrutural ou ausência dessas lesões 3. Acima de 40 anos: mulheres com mais de 40 anos até a menopausa costumam apresentar irregularidades no padrão dos ciclos, decorrentes de flutuações na função do eixo e patologias do endométrio e miométrio. No climatério, na pós-menopausa e na senescência, predominam as causas endometriais. Etiologias Causas estruturais Pólipos • Prevalência de 7,8 a 34% • Mais comum na peri e pós-menopausa • Causam aumento do volume menstrual, menstruações irregulares, sangramento pós-coito ou intermenstrual • Estruturas epiteliais, geralmente benignas, presentes na cavidade endometrial ou no canal cervical • Maioria assintomática • Diagnóstico e tratamento: polipectomia histeroscópica Adenomiose • Sintomatologia variável, dependendo da profundidade do miométrio atingido • Estima-se uma prevalência entre 5 a 70% • Existência de glândulas endometriais e estroma dentro do miométrio • Diagnóstico: após histerectomia com comprovação histopatológica ou por métodos radiológicos (USTV e RM) • Tratamento: histerectomia ou ACO combinados, progestágenos, DIU Leiomioma • Sintomas variam de acordo com a localização do mioma • Os miomas podem ser submucosos, intramurais e subserosos, os submucosos são os mais envolvidos com a SUA • Tumor sólido, benigno, formado por tecido muscular • Maioria assintomática Carolina Cidrack – S3 GT 4 • Tratamento do submucoso: miomectomia histeroscópica Malignidade e hiperplasia • Incidência aumentada em mulheres perimenopáusicas • Fatores de risco: obesidade, diabetes, hipertensão • Aexposição prolongada aos estrogênios sem oposição de progestágenos deve ser considerada de risco para a doença • Diagnóstico: USTV para avaliar a espessura do endométrio, se >5mm sem reposição hormonal ou >10mm com reposição, fazer biópsia aspirativa ou histeroscopia com biópsia Causas não estruturais Coagulopatia • A causa mais comum é doença de von Willebrand, mas também pode ser hemofilia, disfunções plaquetárias, púrpura trombocitopênica e distúrbios da coagulação associados a doenças como hepatopatias e leucemia • Deve ser sinal de alerta jovens com sangramento abundante desde a menarca e com anemia • Menorragia pode ser o único sintoma presente em 93% das mulheres com DVW • Diagnóstico: dosar tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcial ativada (TP e TTPA) Disfunção ovulatória • Nos 2 primeiros anos da menarca e na perimenopausa • Sangramentos anovulatórios e sangramentos decorrentes de outras disfunções ovulatórias • No período reprodutivo, a causa mais comum é a SOP • Diagnóstico: solicitar PRL, TSH, FSH Endométrio • Distúrbios primários do endométrio se manifestam como alterações da hemostasia local, decorrente de resposta inflamatória, como na DIP Iatrogênica • Quando acontece durante o uso de medicações, como o uso de contraceptivos hormonais, reposição hormonal, androgênicos, agonista de GnRH e inibidores de aromatase • Além de anticoagulantes, ácido acetilsalicílico, antiepilépticos, hormônios da tireoide, antidepressivos, tamoxifeno e corticosteroides Causas não classificadas • Incluem lesões locais ou condições sistêmicas raras, como malformações arteriovenosas, da hipertrofia miometrial, das alterações mullerianas e da istmocele Quadro clínico: ✓ Menorragia: sangramento uterino excessivo ✓ Metrorragia: sangramento uterino em intervalos irregulares ✓ Menometrorragia: sangramento prolongado em intervalos irregulares ✓ Oligomenorreia: sangramento uterino em intervalo superior a 35 dias ✓ Polimenorreia: sangramento uterino em intervalo inferior a 24 dias ✓ Sangramento de escape, intermenstrual ou spotting: sangramento uterino de pequeno volume precedente ao ciclo regular ✓ Amenorreia: ausência de sangramento por 3 ciclos ou 6 meses em ciclos irregulares ✓ Sangramento uterino disfuncional: sangramento uterino não relacionado a causas anatômicas ou sistêmicas Diagnóstico clínico, laboratorial e de imagem: 1. História clínica completa e detalhada, através da anamnese 2. Exame físico geral, abdominal e exame ginecológico 3. Quantificação do fluxo por meio do escore • Pictorial Blood Assessment Chart (PBAC), calculado a partir das características dos absorventes usados pela mulher durante o período do sangramento 4. Exames laboratoriais: B-HCG (idade reprodutiva) e hemograma completo • Outros exames só precisam ser solicitados se houver suspeita clínica (PRL, TSH, fatores de coagulação) 5. Exames de imagem: ultrassonografia transvaginal para avaliar causas estruturais • A avaliação secundária, para estudar a cavidade uterina, pode ser feita pela histerossonografia, por histeroscopia e por biópsia de endométrio As dosagens hormonais são, em geral, dispensadas e só se justificam em poucos casos, como na suspeita de tumores virilizantes. Carolina Cidrack – S3 GT 5 Abordagens terapêuticas de urgência e manutenção: O tratamento medicamentoso do SUA baseia-se na ação de hormônios e de outros mediadores inflamatórios sobre o endométrio, além do controle hemostático do sangramento. O tratamento de urgência é feito para interromper o sangramento intenso e reestabelecer o equilíbrio hemodinâmico, com: • Estrogênio endovenoso em altas doses • Contraceptivo oral combinado monofásico em multidoses • Progestagênio oral em multidoses • Ácido tranexâmico Enquanto a manutenção do tratamento para causas hormonais pode ser feita com: • Estrogênio e progesterona combinados • Progestagênio oral cíclico ou contínuo • Progestagênio injetável • Sistema uterino liberador de levonorgestrel E a manutenção do tratamento para causas não hormonais pode ser feita com: • Anti-inflamatórios • Antifibrinolíticos Diagnósticos diferenciais de acordo com a idade 1. Infância: corpo estranho, trauma, infecção, tumor ovariano e sarcoma botrioide 2. Pós-menarca: anovulação, coagulopatia, infecções e complicações da gravidez 3. Menacme: complicações da gravidez, Anovulação, contracepção hormonal, infecções, endocrinopatias, pólipos e miomas 4. Perimenopausa: Anovulação, pólipos, miomas, hiperplasia e câncer endometrial 5. Pós-menopausa: atrofia vaginal, atrofia endometrial, TH, câncer de endométrio Rastreamento do CA de colo de útero pelo MS: O método de rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil é o exame citopatológico (exame de Papanicolaou), que deve ser oferecido às mulheres ou qualquer pessoa com colo do útero, na faixa etária de 25 a 64 anos e que já tiveram atividade sexual. Isso pode incluir homens trans e pessoas não binárias designadas mulheres ao nascer. A priorização desta faixa etária como a população-alvo do Programa justifica-se por ser a de maior ocorrência das lesões de alto grau, passíveis de serem tratadas efetivamente para não evoluírem para o câncer. Antes dos 25 anos prevalecem as infecções por HPV e as lesões de baixo grau, que regredirão espontaneamente na maioria dos casos e, portanto, podem ser apenas acompanhadas conforme recomendações clínicas. Após os 65 anos, por outro lado, se a mulher tiver feito os exames preventivos regularmente, com resultados normais, o risco de desenvolvimento do câncer cervical é reduzido dada a sua lenta evolução. A rotina recomendada para o rastreamento no Brasil é a repetição do exame Papanicolaou a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano. O rastreamento de mulheres portadoras do vírus HIV ou imunodeprimidas constitui uma situação especial e o exame deve ser realizado logo após o início da atividade sexual, com periodicidade anual após dois exames normais consecutivos realizados com intervalo semestral. Por outro lado, não devem ser incluídas no rastreamento mulheres sem história de atividade sexual ou submetidas a histerectomia total por outras razões que não o câncer do colo do útero.
Compartilhar