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Maria Seiane - Medicina Gravidez de alto risco INTRODUÇÃO Um pré-natal de alto risco se refere ao acompanhamento realizado com uma gestante cuja gestação é de alto risco, ou seja, aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém- nascido tem maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada. As gestantes em situações de alto risco exigirão, além do suporte no seu território, cuidados de equipe de saúde especializada e multiprofissional, eventualmente até em serviço de referência secundário ou terciário com instalações neonatais que ofereçam cuidados específicos. FATORES DE RISCO GESTACIONAIS Características individuais e condições sociodemográficas: Idade 40 anos. Obesidade com IMC >40. Baixo peso no início da gestação (IMC < 18). Transtornos alimentares (bulimia, anorexia). Dependência ou uso abusivo de tabaco, álcool ou outras drogas. História reprodutiva anterior: Abortamento espontâneo de repetição (três ou mais em sequência). Parto pré-termo em qualquer gestação anterior (especialmente <34 semanas). Restrição de crescimento fetal em gestações anteriores. Óbito fetal de causa não identificada. História característica de insuficiência istmocervical. Isoimunização Rh. Acretismo placentário. Pré-eclâmpsia precoce (<34 semanas), eclâmpsia ou síndrome HELLP. Condições clínicas prévias à gestação: Hipertensão arterial crônica. Diabetes mellitus prévio à gestação. Tireoidopatias (hipertireoidismo ou hipotireoidismo clínico). Cirurgia bariátrica. Transtornos mentais. Antecedentes de tromboembolismo. Cardiopatias maternas. Doenças hematológicas (doença falciforme, púrpura trombocitopênica autoimune (PTI) e trombótica (PTT), talassemias, coagulopatias). Nefropatias. Neuropatias. Hepatopatias. Doenças autoimune. Ginecopatias (malformações uterinas, útero bicorno, miomas grandes). Câncer diagnosticado. Transplantes. Portadoras do vírus HIV. Intercorrências clínicas/obstétricas na gestação atual: Síndromes hipertensivas (hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia). Diabetes mellitus gestacional com necessidade de uso de insulina. Infecção urinária alta. Cálculo renal com obstrução. Restrição de crescimento fetal. Feto acima do percentil 90% ou suspeita de macrossomia. Oligoâmnio/polidrâmnio. Suspeita atual de insuficiência istmo cervical. Suspeita de acretismo placentário. Placenta prévia. Hepatopatias (por exemplo: colestase gestacional ou elevação de transaminases). Anemia grave ou anemia refratária ao tratamento. Suspeita de malformação fetal ou arritmia fetal. Isoimunização Rh. Doenças infecciosas na gestação: sífilis (terciária ou com achados ecográficos sugestivos de sífilis congênita ou resistente ao tratamento com penicilina benzatina), toxoplasmose aguda, rubéola, citomegalovírus, herpes simples, tuberculose, hanseníase, hepatites, condiloma acuminado (no canal vaginal/colo ou lesões extensas localizadas em região genital/perianal). Suspeita ou diagnóstico de câncer. Transtorno mental. EXAMES O MS recomenda o rastreamento de rotina para sífilis, toxoplasmose e HIV desde a primeira consulta, enquanto para rubéola é indicado apenas se a gestante apresentar sinais sugestivos da doença. A hepatite B deve ser rastreada na primeira consulta e no terceiro trimestre; Maria Seiane - Medicina TRANSMISSÃO VERTICAL A transmissão vertical pode ocorrer por via transplacentária, por secreções durante o parto e na amamentação; Fatores de risco para a transmissão materno fetal: o Infecção materna em idade gestacional avançada. A frequência de infecção fetal aumenta com a idade gestacional na soroconversão - já que a permeabilidade da barreira placentária aumenta com a idade gestacional; A frequência geral de manifestações clínicas no lactente diminui com a idade gestacional mais avançada na soroconversão, por que o feto já está mais formado, com uma redução acentuada nas lesões intracranianas com a idade gestacional mais avançada na soroconversão e uma redução menos acentuada nas lesões oculares – caso de toxoplasmose; o Alta carga parasitária. o Fonte parasitária materna (o risco de infecção fetal é maior quando a fonte é esporozoíta em oocistos [fezes de gato] do que bradizoíta em cistos teciduais [carne]). o Estirpe de T. gondii de alta virulência. o Imunocomprometimento materno. Mecanismos de defesa: os mecanismos de defesa da placenta baseiam-se no sinciciotrofoblasto, que possui capacidade fagocítica e protetora a partir da produção de interferons. O estroma das vilosidades placentárias contém vasos fetais e também células de Hofbauer, que são macrófagos com capacidade fagocítica e de apresentação de antígeno; Infecção transplacentária: a infecção hematogênica transplacentária ocorre quando um microorganismo no espaço interviloso da placenta atravessa, de modo ativo ou passivo, o epitélio trofoblástico até o córion das vilosidades, e de lá alcança o feto por meio dos vasos fetais presentes nas vilosidades; ACOMPANHAMENTO DA GESTANTE Ainda que não exista uma equipe multiprofissional, essas mulheres devem ser acompanhadas (em conjunto com a APS) em uma unidade de pré-natal de risco intermediário com a presença de médico obstetra e equipe multidisciplinar; A estratificação de risco é contínua e deve ser realizada em todos os atendimentos. Desde a primeira e a cada consulta de pré-natal, a equipe assistente deve buscar sinais de risco. PRINCIPAIS INFECÇÕES CONGÊNITAS O termo “infecção congênita” refere-se às infecções adquiridas intraútero ou durante o trabalho de parto, devido uma infecção aguda materna ou reativação/ reinfecção materna. Rubéola: Causada pelo vírus RNA do gênero Rubivirus. Pode se apresentar de duas formas: infecção congênita ou síndrome da rubéola congênita (SRC). A infecção engloba os eventos associados à infecção intrauterina pelo vírus, como morte fetal, parto prematuro e defeitos congênitos; enquanto que a SRC refere-se à variedade de defeitos presentes em neonatos filhos de mães que apresentaram infecção pelo vírus da rubéola durante a gestação (deficiência auditiva, catarata, defeitos cardíacos, etc.). As manifestações precoces são: perda auditiva, cardiopatias congênitas, catarata e microcefalia. Já as tardias incluem: perda auditiva, distúrbios endócrinos e panencefalite. Exames: Pesquisa de anticorpos IgM e IgG; PCR para identificação do RNA viral ou isolamento viral através de secreções da orofaringe. Sífilis: A sífilis congênita é adquirida por meio da disseminação do Treponema pallidum da mãe para o feto, principalmente por via transplacentária. O treponema provoca um processo inflamatório, comprometendo todos os órgãos do recém-nascido, com lesões viscerais, ósseas, pele e mucosas, e sistema nervoso central. Além da prematuridade e do baixo peso ao nascimento, as principais manifestações clínicas são hepatomegalia com ou sem esplenomegalia, lesões cutâneas (pênfigo palmoplantar, condiloma plano), periostite, osteíte ou osteocondrite, pseudoparalisia dos membros (pseudoparalisia de Parrot), sofrimento respiratório com ou sem pneumonia, rinite serossanguinolenta, icterícia, anemia e linfadenopatia generalizada. Além disso, pode se manifestar tardiamente após o segundo ano de vida (sífilis congênita tardia) em que as principais manifestações são: fronte olímpica, dentes de hutchinson, molares em “amora”, mandíbula curta, ceratite intersticial, surdez; Exames: O padrão-ouro é a identificação do agente etiológico por microscopia de campo escuro. A Maria Seiane - Medicina amostra utilizada éo exsudato seroso das lesões ativas; os testes sorológicos são mais aplicados: testes treponêmicos e não treponêmicos; Toxoplasmose: O Toxoplasma gondii é um protozoário intracelular obrigatório que afeta cerca de 1/3 da população mundial. Cerca de 40% das gestantes infectadas transmitirão a doença para o feto se não forem tratadas adequadamente. A maioria das crianças (70%) serão assintomáticas ao nascimento, porém têm elevadas frequências de prematuridade, retardo do crescimento intrauterino, anormalidades liquóricas e cicatrizes de coriorretinite; Cerca de 10% terão manifestação grave nos primeiros dias de vida. Podem apresentar doença multissistêmica ou isoladamente, afetando o sistema nervoso e/ou a forma ocular. As sequelas neurológicas mais encontradas são hidrocefalia, microcefalia, retardo psicomotor, convulsões, hipertonia muscular, hiperreflexia tendinosa e paralisias. Quanto às complicações oftalmológicas, podem-se observar microftalmia, sinéquia de globo ocular, estrabismo, nistagmo e catarata. Exames: testes sorológicos mais usados são a imunofluorescência indireta e o ELISA detectando anticorpos da classe IgG, IgM e IgA; Herpes simples: O HSV é vírus DNA membro da família Herpesviridae. Infecta o ser humano através de inoculação oral, genital, mucosa conjuntival ou pele com solução de continuidade. Daí infecta os nervos terminais de onde é transportado, via axônios, até as raízes ganglionares dorsais, onde permanece latente durante toda a vida do hospedeiro. No estado de latência, esses vírus não são suscetíveis às drogas antivirais. Na infecção transmitida por viremia materna predominam sinais de infecção placentária, como infarto, necrose, calcificações e sinais de envolvimento fetal grave como hidropsia. A morte do concepto geralmente ocorre. Os sobreviventes exibem lesões de pele (vesículas, ulcerações ou cicatrizes), lesões oculares e graves anomalias do SNC, como microcefalia e hidranencefalia. Exames: A detecção do HSV DNA pela PCR é o mais utilizado. Citomegalovírus: É um herpesvírus tipo 5 que apresenta grande relevância no período gravídico-puerperal em virtude da sua capacidade de gerar disrupções fetais; A infecção por citomegalovírus na gestação pode gerar abortamento e malformações, havendo tropismo pelo sistema nervoso central. A soroconversão no primeiro trimestre pode gerar sequelas neurológicas em 8% a 13% dos neonatos, enquanto infecções no segundo e no terceiro trimestre não estão associadas a sequelas neurológicas graves. Exames: Detecção realizada através da identificação do DNA viral pela PCR. Testes serológicos de IgM e IgG específicos para CMV. Hepatites virais São a causa mais comum de icterícia na gestação, além de poder se apresentar de forma subclínica. São reconhecidos 7 tipos: A, B, C, D, E, F e G. A transmissão de hepatite A é rara, mas já foi relatada; O vírus de hepatite B é muito resistente, aumenta o risco de parto prematuro; A transmissão intrauterina da hepatite C é maior que na B, com grande parte das crianças desenvolvendo hepatopatia crônica; aumenta as perdas gestacionais e prematuridade; Exames: testes sorológicos; REFERÊNCIAS: MARTINS-COSTA et al. Rotinas em obstetrícia. 7. ed. Porto Alegre : Artmed, 2017. SILVA FILHO, Agnaldo; LARANJEIRA, Claúdia. Manual SOGIMIG de ginecologia e obstetrícia. 6. ed. Rio de Janeiro: Med Book, 2017. PETERSEN, Eskild; MANDELBROT, Laurent. Toxoplasmosis and pregnancy. UpToDate, 2022. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de gestação de alto risco. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.
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