Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 @emilly.lorenaa APG 23 – O cuidado vertical 1) DISCUTIR AS INFECÇÕES CONGÊNITAS = TORCHS (TOXOPLASMOSE, RUBÉOLA, CITOMEGALOVÍRUS, HERPES SIMPLES, SÍFILIS) O termo “infecção congênita” refere-se as infecções adquiridas intraútero (pré-natais) ou durante o trabalho de parto (paranatais), devido à uma infecção aguda materna ou reativação/reinfecção materna. Do ponto de vista epidemiológico, as infecções congênitas são chamadas de transmissão vertical (materno-fetal), em oposição às infecções da vida extrauterina, denominadas de transmissão horizontal. INFECÇÃO PRÉ-NATAL: as relações entre o feto e a mãe são necessariamente feitas pelas membranas placentária e amniótica. Dessa forma, as vias de penetração dos germes são divididas em dois grupos: INFECÇÃO TRANSPLACENTÁRIA (A): Os microrganismos procedentes do sangue materno cruzam a placenta, alcançam a circulação fetal e disseminam-se; INFECÇÃO TRANSAMNIÓTICA (B): Os germes da vagina e do colo acometem a cavidade amniótica e o feto, essa via é ascendente, geralmente após a ruptura das membranas. INFECÇÃO PARANATAL: É adquirida por contato direto com as secreções maternas, no momento da passagem do feto pelo canal do parto. O mesmo ocorre com infecção pelo herpes simples genital, hepatite B, estreptococo do grupo B (GBS), que condicionam infecção neonatal. CONSEQUÊNCIAS DAS INFECÇÕES CONGÊNITAS: Embora a infecção possa acometer a mãe, o ovo pode não apresentar lesões e a gravidez prosseguir normalmente até o termo. Sendo assim, se o feto for acometido pela infecção, as consequências dependem do período da gestação: PERÍODO EMBRIONÁRIO: 1º trimestre = é o período mais vulnerável a drogas e infeções, e embora os agentes infecciosos possam ser letais (abortamento), na maioria das vezes resultam anomalias congênitas. Cada órgão tem o seu período crítico que seu desenvolvimento será afetado. PERÍODO FETAL: 2º trimestre em diante = caso a infecção seja muito grave, há morte fetal com a consequente interrupção da gravidez, nessa fase ocorrem as anomalias congênitas menores e os defeitos funcionais, especialmente do SNC. Se infecção materna surgir próximo ao parto, o recém-nascido pode apresentar a infecção em estágio evolutivo, exibindo seu quadro clínico agudo. A infecção primária materna é diagnosticada no pré-natal pela sorologia dos anticorpos IgG e IgM. IgG e IgM negativos sugerem ausência de infecção; IgG positivo e IgM negativo, infecção antiga (há mais de 1 ano); IgG e IgM positivos, infecção recente ou resultado falso- positivo do teste IgM, o que não é incomum. RUBÉOLA Causada pelo vírus da rubéola (RV), RNA do gênero Rubivirus, é transmitida por via respiratória ou hematogênica e tem um período de incubação de 2-3 semanas. Geralmente, apresenta-se como infecção leve ou assintomática em adultos ou crianças. Entretanto, quando a infecção acomete gestantes, especialmente durante o primeiro trimestre, pode resultar em abortamento, óbito fetal ou na síndrome da rubéola congênita. Essa síndrome apresenta uma gama de defeitos congênitos, incluindo surdez grave, catarata, anomalias cardíacas e atraso mental. O RV atravessa a barreira placentária quando infecta a gestante e dissemina-se nos tecidos fetais. O efeito do vírus no feto depende do momento de sua infecção, dessa forma, quando mais próximo da concepção, maior é o dano produzido. O aborto espontâneo pode ocorrer em mais de 20% dos casos quando a infecção materna por rubéola se dá nas primeiras oito semanas de gestação. No 1º mês = 80-90% incidência de acometimento fetal; No 2º mês = 40-60%; No 3º mês = 30-35%; No 4º mês = os riscos não chegam a 10%. Após o período de incubação de 14 a 21 dias, a rubéola exterioriza-se como doença de pequena gravidade, caracterizada por linfadenopatia pós-auricular (precede em 5 dias o exantema), exatema maculopapular, que se iniciar na parte superior do tórax, estendendo-se depois por todo o corpo; e febrícula. A síndrome da rubéola congênita decorre da teratogênese do RV e pode apresentar anomalias congênitas como: APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 @emilly.lorenaa Alterações cardíacas (ducto arterioso persistente, defeitos do septo interatrial ou interventricular, estenose da artéria pulmonar); Restrição de crescimento fetal intrauterino; Microcefalia; Hipoacusia neurossensorial = perda de audição; Catarata congênita (descobre no teste do olhinho); Microftalmia (redução do tamanho do bulbo ocular) e retinopatia; Outras alterações transitórias: hepatoesplenomegalia, meningoencefalite, trombocitopenia e radioluscência óssea. Entretanto, 50% a 70% dos recém-nascidos com a infecção congênita podem ser aparentemente normais ao nascimento. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO MATERNA: A Secretaria de Vigilância em Saúde notificou que a sorologia para rubéola não é mais um exame de rotina no pré-natal para detectar as pacientes suscetíveis, exceto em grávidas com manifestações clínicas e/ou vínculo epidemiológico. A suspeita clínica ou laboratorial da infecção na mãe (por meio da presença de imunoglobulinas séricas específicas – IgM e IgG) leva necessariamente à pesquisa do comprometimento fetal. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO FETAL: Atualmente, pode ser realizado de duas formas: diretamente, pela pesquisa do vírus no feto ou, indiretamente, pela constatação de sinais ultrassonográficos característicos da síndrome da rubéola congênita = cardiopatias congênitas, microcefalia, alterações cerebrais, CIUR (crescimento intrauterino restrito), além de sinais de infecção grave aguda fetal, comum a várias infecções congênitas, que podemos chamar de “sepsis fetal”, podendo ser constatada por hepatoesplenomegalia, calcificações abdominais, ascite e até mesmo sinais de hidropsia fetal. A avaliação do líquido amniótico (coletado por amniocentese) é realizada pelo método RT-PCR. A pesquisa no sangue fetal (coletado por cordocentese) busca a identificação da IgM específica. A vacinação contra sarampo/caxumba/rubéola/varicela (tetraviral) faz parte do calendário vacinal do SUS e é indicada, atualmente, para crianças com 1 ano de idade, com um reforço entre os 4 e os 6 anos. A vacinação é recomendada para mulheres suscetíveis em idade fértil e no pós-parto, e está proibida na gravidez. Mulheres vacinadas devem aguardar 1 mês para engravidar. Síndrome da rubéola congênita é de notificação compulsória! TOXOPLASMOSE O T. gondii é um parasita intracelular obrigatório que se apresenta em três formas: Os esporozoítas, que estão presentes nos oocistos eliminados nas fezes dos gatos infectados; Os taquizoítas (a forma observada na fase aguda da infecção); Os bradizoítas (a forma de multiplicação lenta encontrada nos cistos teciduais). Os hospedeiros intermediários são principalmente o porco, a ovelha e o ser humano; os hospedeiros definitivos são membros da família Felidae, e o exemplo típico é o gato doméstico. As três principais formas de transmissão da toxoplasmose são a ingesta de carne crua ou malcozida, a exposição a fezes de gatos contaminadas com oocistos e a transmissão vertical na gravidez. A infecção primária adquirida antes da gravidez não afeta o concepto, exceto em mulher imunodeprimida, porém, é aconselhável que, após a infecção, espere 6 meses para engravidar. 1º trimestre é caracterizada pela tríade APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 @emilly.lorenaa A infecção materna geralmente é assintomática. Quandoocorrem sintomas da infecção, eles são inespecíficos, como: febre, calafrios, sudorese, linfoadenomegalia, dores de cabeça, mialgia, faringite, hepatoesplenomegalia e exantema maculopapular difuso. Os episódios febris geralmente duram dois a três dias. A adenopatia cervical é frequente e simétrica, sendo generalizada em aproximadamente 20% a 30% dos pacientes. Ao contrário da febre, que tem curta duração, a linfadenopatia pode persistir por semanas A infecção primária ocorrida na gestação pode ser transmitida ao feto pela via transplacentária. A invasão da placenta pelos taquizoítos e a multiplicação dos parasitas nesse local é um cenário provável. É provável que a transmissão ocorra na maioria dos casos durante a fase de parasitemia e antes do desenvolvimento da resposta imune materna. A toxoplasmose congênita pode determinar abortamento e malformação fetal, com graves repercussões no recém-nascido, podendo levar ao óbito, prematuridade, baixo peso ao nascimento e doença fetal disseminada. Alguns fatores influenciam na taxa de transmissão materno-fetal: Idade gestacional no momento da infecção = risco de infecção fetal aumenta com o avançar da idade gestacional, no entanto, o risco de desenvolver sequelas clínicas graves diminui.; A virulência do T. godii; Alta carga de parasitas; Fonte do parasita materno (o risco de infecção fetal é maior quando a fonte é esporozoíto em oocistos do que bradiozoitos em cistos de tecido); Imunodeficiência materna. A infecção no 3º trimestre não está associada ao acometimentos fetal grave com alteração do SNC como ventriculomegalia, mas a retinocoroidite ainda pode ocorrer = parasita tem acesso à retina e à coroideia causando inflamação que pode cicatrizar a retina e reduzir a visão. A maioria dos RN é assintomática ao nascimento, porém pode apresentar sequelas (complicações oculares e neurológicas); As manifestações clínicas no RN incluem: exantema, linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia, hiperbilirrubinemia, anemia e trombocitopenia. A infecção no 1º trimestre normalmente provoca a morte do embrião ou feto. No 2º e 3º trimestre pode provocar retinocoroidite, calcificações cerebrais, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, micro ou macrocefalia e hidrocefalia. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO MATERNA: a sorologia IgG e IgM para toxoplasmose é obrigatória na 1ª consulta pré-natal = triagem pré-natal no 1º e 3º trimestre de gestação. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO FETAL ULTRASSONOGRAFIA: é muito importante para fornecer informações sobre a idade gestacional exata no momento da infecção, o que influencia no prognóstico fetal e também no diagnóstico de possíveis alterações fetais. Os achados não são específicos para a infecção congênita pelo toxoplasma (observado em aproximadamente 28% dos casos, sendo que exame normal não exclui a possível infecção), mas pode ser observado: Calcificações ou densidades intracranianas; Hidrocefalia; Intestino ecogênico; Hepatoesplenomegalia; Calcificações/densidades intra-hepáticas; Restrição de crescimento fetal; Ascites; Derrame pericárdico e pleural; Hidropisia fetal; Óbito fetal; Espessamento placentário. Sendo que os achados mais comuns são os focos hipercogênicos ou calcificações intracranianas difusas e a dilatação dos ventrículos cerebrais. A confirmação da infecção fetal é possível pela detecção do T. gondii no líquido amniótico. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 @emilly.lorenaa A detecção é feita pela técnica da PCR , e a coleta de líquido amniótico está indicada nos casos de infecção aguda confirmada durante a gravidez, como soroconversão durante o pré-natal, quadro clínico com confirmação sorológica, infecção provável com IgG e IgM reagentes e baixa avidez de IgG com outro teste confirmando a suspeita de doença aguda e quando há alterações ultrassonográficas que sugerem toxoplasmose congênita. Toxoplasmose gestacional e congênita são de notificação compulsória! SÍFILIS A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível causada pelo Treponema pallidum, uma bactéria espiroqueta que não se cora pela técnica de Gram e nem cresce em meios de cultivo artificiais. É um patógeno exclusivo do ser humano, sensível ao calor, a ambientes secos, a detergentes e a antissépticos comuns. Apresenta-se com evolução sistêmica desde sua fase inicial, após um período de incubação que varia de 10 a 90 dias, após o contato infectante, dependendo do número e virulência do treponema e da resposta imunológica do hospedeiro. As principais e mais importantes vias de transmissão são a sexual (genital, oral e anal) e a vertical (da gestante para o feto, intraútero, ou neonato, periparto), proporcionando casos de sífilis congênita (SC) com altas taxas de morbimortalidade. A sífilis congênita causa consequências graves para a gravidez em 80% dos casos, e em torno de 25% desses casos resultam em natimortos ou abortos espontâneos, e outros 25% de recém-nascidos têm baixo peso ou infecção grave, estando os dois casos associados a maior risco de morte perinatal. Classifica-se a sífilis em adquirida e congênita e ambas, em recente e tardia. ADQUIRIDA RECENTE: lesões infectantes transitórias ricas em bactérias com menos de um ano de evolução após o contágio; SÍFILIS LATENTE: período sem manifestações clínicas, mantendo-se as sorologias reatoras; precoce se até um ano de evolução e tardia após um ano do contágio; ADQUIRIDA TARDIA: as lesões surgem após um ano da infecção e são praticamente nulas de parasitas. CONGÊNITA RECENTE: quando se manifesta até o 2º ano de vida; CONGÊNITA TARDIA: quando se manifesta após o 2º ano de vida. Enfatiza-se que a sífilis só é infectante na fase recente, compreendendo as fases primárias e secundárias da classificação anteriormente descrita, enquanto a tardia consiste na fase terciária. CLÍNICA: SÍFILIS PRIMÁRIA: uma lesão circunscrita infectante (cancro duro/protossifiloma = local por onde primariamente a bactéria penetrou no organismo) e é mais observada em pacientes do sexo masculino e raramente em mulheres; Inicia-se de 21-30 dias após o contato infectante; Representada por lesão geralmente única, indolor, como erosão ou ulceração com bordas endurecidas em rampa, fundo limpo, eritematoso, com pequena serosidade. O cancro duro, se não tratado, persiste por 30 a 90 dias, regredindo espontaneamente sem deixar cicatriz. Após 10 dias, observa-se adenopatia satélite bilateral, indolor, múltipla, sem sinais inflamatórios e não fistulizante. SÍFILIS SECUNDÁRIA: lesões generalizadas infectantes (lesões exantemáticas e papulosas) = lesões em pele e em mucosas e expressa a disseminação hematogênica das bactérias por todo o organismo; Em 50 dias a 180 dias do contágio, o Treponema entra na circulação e se multiplica, surgindo lesões exantemáticas generalizadas, simétricas e não pruriginosas, consistindo na roséola sifilítica, podendo involuir em 45 dias ou surgir novas lesões maculares, papulosas, papuloescamosas ou raramente pustulosas na pele, denominadas de sifílides. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 5 @emilly.lorenaa Essas lesões, quando em áreas úmidas e de atrito como as pregas labiais e as regiões axilares, inguinais e interglúteas, formam pápulas ou placas erosadas extremamente contagiosas, chamadas de condilomas planos. Além do quadro dermatológico, há numerosas manifestações sistêmicas: astenia, anorexia, febre baixa, micropoliadenopatia generalizada, mialgia, artralgia, cefaleia, meningite, iridociclite, hepatite, esplenomegalia, periostite, glomerulonefritee outras SÍFILIS TERCIÁRIA: lesões circunscritas não infectantes (gomas). Inicia-se no final da fase latente tardia e estende- se por vários anos. Suas manifestações geralmente ocorrem após o terceiro ano de infecção e dividem-se em tegumentares (cutaneomucosas), viscerais (oculares, ósseas e cardiovasculares) e do sistema nervoso. SÍFILIS CONGÊNITA: o Treponema pallidum acomete o concepto em qualquer período da gestação e as manifestações clínicas estão relacionadas ao tempo da infecção materna, se anterior ou durante a gravidez, consequentemente ao grau de imunidade adquirida pela gestante, assim como a quantidade e virulência dos treponemas e ao momento da transmissão da infecção ao feto. Dessa forma, as manifestações clínicas podem estar ausentes ao nascimento ou surgir dias, meses ou anos após o parto. Nas gestações infectadas não tratadas, ocorre óbito fetal (abortamento espontâneo ou natimorto) ou morte neonatal precoce em cerca de 40% dos casos, além de provocarem várias alterações anatômicas no feto. O T. pallidum lesa primariamente a placenta, acarretando placentomegalia. No feto, agride inicialmente o fígado, disseminando-se em seguida, em especial para a pele, mucosas, ossos, pulmões e SNC. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO MATERNA: A sorologia VDRL na primeira consulta pré-natal é a medida mais importante para identificar os fetos de risco para a sífilis congênita = triagem pré-natal no 1º e 3º trimestre de gestação. Em geral, o VDRL torna-se positivo 1 a 3 semanas após o aparecimento do cancro duro. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO FETAL ULTRASSONOGRAFIA: Os achados ultrassonográficos são vistos em 31% das grávidas infectadas no exame pré-tratamento. Hepatomegalia; Aumento da velocidade sistólica máxima na artéria cerebral média, sinal de anemia fetal; Placentomegalia; Polidrâmnio = excesso de líquido amniótico; Ascite e hidropisia A hepatoesplenomegalia e o exantema são as manifestações iniciais mais comuns da sífilis congênita precoce, que tende a manifestar- se ao nascimento ou dentro de 3 a 7 semanas do parto. As manifestações tardias resultam principalmente da infecção crônica dos ossos (nariz em sela, fronte olímpica), dos dentes e do SNC Sífilis gestacional e congênita são de notificação compulsória! CITOMEGALOVÍRUS O citomegalovírus (CMV) é um dos agentes etiológicos mais comuns entre os causadores de infecção congênita e perinatal. É um herpes-vírus com dupla hélice de DNA. Sua transmissão ocorre pelo contato com sangue, saliva urina ou por contato sexual com pessoas infectadas. Os herpes-vírus causam infecções latentes e possuem grande capacidade de reativação em pacientes já imunes. O período de incubação do CMV é de 28-60 dias, com média de 40 dias. As infecções primárias produzem resposta humoral por IgM que desaparece em média em 30-60 dias, podendo eventualmente ser detectada em kits comerciais do teste ELISA. A infecção primária em adultos geralmente é assintomática, mas podem ocorrer febre, mal-estar, mialgia e calafrios, além de leucocitose, linfocitose e teste de função hepática normais. A reativação posterior da doença pode ocorrer em 5% a 15% dos indivíduos acometidos, e a excreção viral do CMV pode durar anos após a primoinfecção. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 6 @emilly.lorenaa Para a grávida, as duas vias mais comuns de exposição ao CMV são o contato sexual (sêmen) e o contato com a saliva e a urina de crianças pequenas infectadas. A infecção congênita pelo CMV é responsável por sequelas definitivas e morte na infância em maior número de casos que a síndrome de Down, síndrome alcoólica fetal e defeitos do tubo neural. Dos fetos com infecção congênita decorrente de infecção primária materna, 10% a 15% apresentam sintomas e sinais ao nascimento, sendo as manifestações clínicas mais comuns hepatoesplenomegalia, calcificações hepáticas, ascite, intestino hiperecogênico, cardiomegalia, derrame pericárdico e/ou pleural, calcificações intracranianas periventriculares, ventriculomegalia, microcefalia, icterícia, restrição de crescimento geralmente simétrica, hidropisia, coriorretinite e perda auditiva. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO MATERNA: não está recomendado o rastreamento universal do CMV no pré-natal. O diagnóstico laboratorial na gravidez está indicado somente quando a gestante apresentar sintomatologia semelhante à da mononucleose, ou sinais ultrassonográficos sugestivos de infecção fetal por CMV. O diagnóstico da infecção materna primária pelo CMV é feito pela soroconversão IgG ou pela elevação dos títulos de no mínimo 4 vezes. O IgM específico costuma ser positivo. Na infecção materna primária recente (< 3 meses), o teste de avidez IgG apresenta resultado < 30%. Na infecção recorrente há elevação dos títulos de IgG, o IgM é positivo em 10% dos casos e há alta avidez IgG (> 60% = infecção > 6 meses). DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO FETAL ULTRASSONOGRAFIA: Os achados ultrassonográficos são importantes, mas não diagnósticos, pois são comuns a outras doenças fetais. Além disso, as alterações ultrassonográficas somente são observadas em menos de 25% dos fetos infectados. As mais frequentes incluem: Crescimento intrauterino restrito; Ventriculomegalia; Calcificação periventricular e hepática; Microcefalia; Intestino hiperecogênico. O teste usual para o diagnóstico da infecção fetal pelo CMV é a PCR-LA. Para conseguir boa sensibilidade, a amniocentese deve ser realizada 7 semanas após o início da infecção materna (soroconversão) e depois de 21 semanas da gravidez. Após o diagnóstico da infecção fetal pela amniocentese, a ultrassonografia está indicada a cada 2 semanas para a detecção de anormalidades, especialmente cerebrais, e também para avaliar o crescimento fetal Se a PCR der negativo, a ultrassonografia deve ser repetida após 4 a 6 semanas. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 7 @emilly.lorenaa HERPES SIMPLES GENITAL O herpes genital (HG) é uma infecção sexualmente transmissível muito prevalente, afetando mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo. O HG é causado pelo herpes-vírus simples (HSV), que provoca lesões na pele e mucosas dos órgãos genitais masculinos e femininos, sendo também o principal responsável por úlceras genitais de causa infecciosa nos países desenvolvidos. Há 2 tipos sorologicamente distintos: tipo 1 (HSV-1) e tipo 2 (HSV-2). Acreditava-se existir distinção bem nítida nos locais de infecções em que o HSV-1 é o responsável pela infecção não genital (lábios, face, córnea, mucosa oral), e o HSV-2 está associado à infecção genital (pênis, uretra, vulva, vagina, cérvice, pele das coxas e das nádegas). Novos estudos, porém, apontam que ambos são patógenos do trato genital e que, de fato, o HSV-1 parece ser mais prevalente entre as infecções do trato genital feminino. O HSV é transmitido pelo contato direto da mucosa, o que resulta na replicação na derme e epiderme. O surto herpético caracteriza-se pela apresentação de vesículas únicas ou agrupadas na região dos genitais, períneo, nádegas, parte superior das coxas ou áreas perianais, que costumam ulcerar antes de desaparecer. Os sintomas da infecção primária podem incluir ainda mal- estar, febre ou adenopatia localizada. Os surtos subsequentes, causados pela reativação do vírus latente, costumam ser mais brandos. A infecção por HSV do recém-nascido pode ser adquirida de três maneiras: intrauterina, intraparto (paranatal) ou pós- natal. A época da transmissão na gravidez na maioria dos casos, cerca de 85%, ocorre durante o parto. , As manifestaçõesda infecção congênita intrauterina são muito graves e incluem microcefalia, hepatoesplenomegalia, crescimento intrauterino restrito e natimortalidade. Fatores de risco para transmissão vertical: Bebês nascidos de mães com infecção primária genital de HSV próxima do termo eliminando o vírus no momento do parto apresentam risco 10 a 30 vezes maior de desenvolverem a doença em comparação com aqueles de mães com infecção recorrente, apesar de também estarem eliminando o vírus no parto. Isso se deve, em parte, à significativa transferência de anticorpos protetores maternos a partir do 7º mês de gravidez. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico é essencialmente clínico (anamnese e exame físico). A cultura e a biópsia raramente são utilizadas, pois sua sensibilidade diminui com a duração da lesão. A pesquisa de HSV por técnicas de biologia molecular, PCR, pode ser útil, mas é desnecessária na prática clínica. A infecção HSV adquirida intraparto ou pós-natal pode assumir três tipos clínicos: DISSEMINADO: envolvimento de múltiplos órgãos (pulmão, fígado, suprarrenal, pele, olhos, cérebro) (presente em 25% dos casos) = mortalidade de 30%; Herpes do SNC (30% dos casos); LOCALIZADO: pele, olhos e boca (45% dos casos). 2) COMPREENDER OS RISCOS SOBRE O USO DE DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS DURANTE A GESTAÇÃO As anomalias congênitas são comuns, sendo que 2 a 3% de todos os recém-nascidos têm alguma malformação congênita significativa detectável ao nascer. Sem dúvida, há medicamentos que impõem o risco para o embrião ou feto em desenvolvimento. Porém, 80% das anomalias congênitas não têm causa evidente e, entre as que têm causa identificada, a malformação tem probabilidade muito maior de ter etiologia genética do que teratogênica. A Food and Drug Administration (FDA) (2005) estima que menos de 1% de todas as anomalias congênitas sejam causadas por fármacos. Considerando-se os milhares de compostos disponíveis, relativamente poucos medicamentos e outras substâncias são considerados teratógenos humanos importantes. Devido às limitações nas evidências disponíveis, as gestantes devem ser aconselhadas a tomar medicamentos apenas quando forem claramente necessários. Em geral, a ultrassonografia direcionada está indicada se tiver havido exposição a qualquer teratógeno importante durante o período embrionário. ÁLCOOL O álcool etílico é um teratógeno potente e prevalente, sendo considerado a principal causa de incapacidades do desenvolvimento preveníveis no mundo todo. O transtorno do espectro alcoólico fetal é um termo abrangente que inclui cinco condições atribuídas ao dano pré- natal causado pelo álcool: APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 8 @emilly.lorenaa 1) síndrome alcoólica fetal; 2) síndrome alcoólica fetal parcial; 3) defeitos congênitos relacionados ao álcool; 4) transtorno do neurodesenvolvimento relacionado com o álcool; 5) transtorno neurocomportamental associado à exposição pré-natal ao álcool. A síndrome alcoólica fetal inclui anormalidades do SNC, comprometimento do crescimento pré ou pós-natal e padrão característico de anormalidades faciais menores. Os defeitos congênitos maiores e menores relacionados com o álcool incluem anomalias cardíacas e renais, problemas ortopédicos e anormalidades dos olhos e das orelhas. Não há critérios ultrassonográficos estabelecidos para o diagnóstico pré-natal da síndrome alcoólica fetal. TABACO O cigarro contém uma mistura complexa de substâncias como nicotina, cotinina, cianeto, tiocianato, monóxido de carbono, cádmio, chumbo e vários hidrocarbonetos. Além de serem fetotóxicas, muitas dessas substâncias têm efeitos vasoativos ou diminuem os níveis de oxigênio. É possível que as propriedades vasoativas da fumaça do tabaco produzam anomalias congênitas relacionadas com distúrbios vasculares. Anomalias congênitas relacionadas: Fendas orais, prematuridade, restrição de crescimento intrauterino e anomalias no neurodesenvolvimento (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade). COCAÍNA Complicações maternas potencialmente graves são hemorragia cerebrovascular, dano miocárdico e descolamento prematuro da placenta. Estudos sobre anomalias congênitas e exposição à cocaína chegaram a resultados conflitantes, mas existem relatos de associações com fenda palatina, distúrbios cardiovasculares e anomalias do trato urinário, restrição do crescimento fetal e ao parto pré-termo, anormalidades comportamentais e déficits cognitivos. TALIDOMIDA Possivelmente o teratógeno humano mais famoso, a talidomida causa malformações em 20% dos fetos expostos entre 34 a 50 dias depois da última menstruação. A malformação característica é a focomelia = ausência de um ou mais ossos longos. Como resultado, as mãos ou pés estão ligados ao tronco, algumas vezes por um pequeno osso rudimentar. Malformações cardíacas, anormalidades gastrintestinais, malformações da orelha externa, anomalias oculares e outras anomalias com redução dos membros também são comuns depois da exposição à talidomida. VARFARINA Esse anticoagulante é um antagonista da vitamina K com meia- vida longa. Como o peso molecular da varfarina é pequeno, ela atravessa facilmente a placenta, podendo causar efeitos embriotóxicos e fetotóxicos. Anomalias oculares, hipoplasia nasal, anomalias do sistema nervoso central. RETINOIDES Esses derivados da vitamina A estão entre os teratógenos humanos mais potentes. As anomalias específicas podem incluir ventriculomegalia, falha do desenvolvimento dos ossos faciais ou cranianos, microtia ou anotia, micrognatismo, fenda palatina, malformações cardíacas conotruncais e hipoplasia ou aplasia do timo. FÁRMACOS ANTIEPILÉPTICOS Tradicionalmente, as mulheres com epilepsia necessitando de tratamento medicamentoso eram informadas de que seu risco para malformações fetais era aumentado. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 9 @emilly.lorenaa Dados mais recentes sugerem que esse risco pode não ser tão alto quanto se pensava, principalmente quando se utilizam fármacos mais novos. As anomalias mais descritas são fendas orofaciais, malformações cardíacas e defeitos do tubo neural. REFERÊNCIAS MONTENEGRO, Carlos Antonio B.; FILHO, Jorge de R. Rezende Obstetrícia Fundamental, 14ª edição. Rio de Janeiro. Grupo GEN, 2017. Fernandes CE, Silva de Sá MF, eds. Tratado de Obstetrícia Febrasgo. 1ªed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2019. Zugaib, M. Obstetrícia. 4ª ed. Barueri, SP: Manole, 2020. Cunningham, FG Obstetrícia de Williams . Disponível em: Minha Biblioteca, (25ª edição). Grupo A, 2021. Saúde Brasil 2020/2021 : anomalias congênitas prioritárias para a vigilância ao nascimento / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. – Brasília : Ministério da Saúde, 2021. 414 p. : il.
Compartilhar