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Método da resposta em frequência 2 1. MÉTODO DA RESPOSTA EM FREQUÊNCIA INTRODUÇÃO Olá! O método da resposta em frequência é um método utilizado para o estudo do comportamento de sistemas dinâmicos, principalmente quando são submetidos à sinais de excitação (entrada) harmônicos. A análise do comportamento de um sistema submetido a esse tipo de força externa é de grande importância na engenharia, por abranger sistemas com sinais periódicos (harmônicos ou não). Os sinais periódicos, mas não harmônicos, como as forças geradas em um motor de combustão interna, por exemplo, podem ser representados como uma combinação de forças harmônicas, através da expansão em série de Fourier. Desta maneira, o método da resposta em frequência é uma ferramenta que permite o estudo de diversos sistemas dinâmicos na engenharia. Os sistemas dinâmicos, lineares e invariantes com o tempo, apresentam um sinal de resposta (saída) composto por duas parcelas: resposta transitória (ou resposta natural) e resposta estacionária (ou resposta forçada). Em sistemas estáveis, a parcela transitória do sinal de saída tende a desaparecer com o decorrer do tempo, enquanto a parcela referente ao comportamento forçado permanece enquanto houver um sinal de entrada atuante no sistema. Na grande maioria das vezes o sinal forçado de saída assume uma natureza semelhante ao sinal de entrada. Quando a análise de um sistema é feita com base em um sinal de entrada harmônico (senoidal), o sinal de saída irá apresentar o mesmo comportamento oscilatório. Vamos determinar a resposta forçada de um sistema linear invariante com o tempo (LIT) submetido a uma excitação harmônica. Seja um sinal de entrada do tipo harmônico, dado por: 𝑢(𝑡) = 𝑈𝑚cos(𝜔𝑡 + 𝜃0) (1) Como o sinal de saída do sistema irá apresentar comportamento semelhando ao sinal de entrada, podemos escrever a parcela forçada do sinal de saída como: Método da resposta em frequência 3 𝑦𝐹(𝑡) = 𝑌𝑚cos(𝜔𝑡 + 𝜃 ′ 0) (2) É possível notar que, embora a frequência dos dois sinais seja a mesma, a amplitude e o ângulo de fase, normalmente, são diferentes entre o sinal de entrada e o sinal de saída. Esse tipo de resposta do sistema é chamado de resposta harmônica do sistema. O método de resposta em frequência permite determinar os parâmetros dessa resposta harmônica do sistema, no domínio do tempo, diretamente a partir da função de transferência do sistema (dispensando a etapa de aplicação da transformada inversa de Laplace). Assim como o método do lugar das raízes desenvolvia o estudo do comportamento de um sistema a partir da variação de algum parâmetro dele, o método da resposta em frequência estuda o comportamento do sistema a partir da variação das frequências dos sinais de excitação e de reposta. Para representar a variação dos parâmetros do sinal de saída, a partir da modificação da frequência do sinal, são desenvolvidos uma série de gráficos (diagrama de Bode, diagrama de Nyquist ou carta de Nichols). Uma das maiores vantagens da utilização do método de resposta em frequência para o estudo e projeto de um sistema, consiste no fato de que os diagramas podem ser obtidos diretamente através dos dados experimentais, a partir de simulação de modelo ou medição de sinal no sistema real, sem a necessidade de desenvolver a função de transferência. Todos esses diagramas têm grande aplicação na engenharia, pois permitem analisar a estabilidade e o desempenho do sistema. FUNÇÃO HARMÔNICA Vamos começar a análise de sistemas sujeitos a sinais de excitação harmônicos sem ângulo de fase e com amplitude unitária. Dessa maneira, o sinal de entrada do sistema (eq. 1) se resume a: 𝑢(𝑡) = cos(𝜔𝑡) (3) Método da resposta em frequência 4 Aplicando a transformada de Laplace nesse sinal, temos o sinal correspondente no domínio da frequência, dado por: 𝑈(𝑠) = 𝑠 𝑠2+𝜔² (4) As raízes dessa função (polos do sistema) são complexos conjugados e iguais a ±𝑗𝜔. Da definição de função de transferência, e chamando essa função de G(s), o sinal de saída do sistema (com uma entrada e uma saída), é dado (no domínio da frequência) por: 𝑌(𝑠) = 𝐺(𝑠) 𝑠 𝑠2+𝜔² (5) que pode ser reescrito como: 𝑌(𝑠) = 𝐺(𝑠) 𝑠 (𝑠−𝑗𝜔)(𝑠+𝑗𝜔) (6) A função de transferência pode ser expandida em frações parciais (resposta natural), assim como a função de excitação harmônica (resposta forçada). No domínio da frequência, a expansão em frações parciais de Y(s), resulta, para a parcela de resposta forçada do sistema: 𝑌𝐹(𝑠) = 𝐶1 (𝑠−𝑗𝜔) + 𝐶2 (𝑠+𝑗𝜔) (7) para a qual os valores das constantes C1 e C2 são dados por 1 2 𝐺(𝑗𝜔) e − 1 2 𝐺(𝑗𝜔), respectivamente. Podemos reparar que as constantes formam um par complexo conjugado, com mesmo módulo e ângulos de fase opostos. O ângulo de fase formado pelas constantes e o módulo são dados, respectivamente por: 𝜙 = arctan( 𝐼𝑚(𝐺(𝑗𝜔)) 𝑅𝑒(𝐺(𝑗𝜔)) ) (8) Método da resposta em frequência 5 |𝐺(𝑗𝜔)| (9) Como tanto a amplitude como o ângulo de fase são fatores dependentes da função 𝐺(𝑗𝜔) essa função é chamada de função harmônica de transferência. Reescrevendo a parcela forçada do sinal de saída do sistema, no domínio da frequência e do tempo, temos que: 𝑌𝐹(𝑠) = 1 2 |𝐺(𝑗𝜔)| [ 𝑒𝑗𝜙 𝑠−𝑗𝜔 + 𝑒−𝑗𝜙 𝑠+𝑗𝜔 ] (10) 𝑦𝐹(𝑡) = |𝐺(𝑗𝜔)|cos(𝜔𝑡 + 𝜙) (11) Vamos agora ampliar a análise para sistemas sujeitos a sinais de excitação harmônico do tipo geral (eq. 1). Caso o sinal u(t) não apresente ângulo de fase, mas apresente amplitude diferente da unidade, a única diferença será na amplitude da resposta (y(t)) do sistema, que deverá ser multiplicada por Um. Como a amplitude da resposta será o produto entre a amplitude do sinal de excitação e o módulo da função de transferência harmônica, este módulo também é chamado de ganho de amplitude do sistema. Introduzindo agora um ângulo de fase inicial na função harmônica do sinal de excitação do sistema, e levando em consideração que as análises estão sendo feitas em sistemas lineares, o ângulo de fase resultante da parcela forçada deve ser igual à soma dos ângulos de fase da função de excitação e o ângulo de fase obtido pela (equação 8). Para o caso mais geral, a resposta forçada de um sistema, quando sob ação de uma força harmônica, é dada por: 𝑦𝐹(𝑡) = 𝑈𝑚|𝐺(𝑗𝜔)|cos(𝜔𝑡 + 𝜙 + 𝜃0) (12) Para entendermos como determinar o sinal forçado de saída de um sistema a partir de sua função de transferência e um sinal de entrada harmônico, vamos resolver um exercício proposto por Maya e Leonardi (2014). Considereum sistema cuja função de transferência é dada por Método da resposta em frequência 6 𝐺(𝑠) = 𝑌(𝑠) 𝑈(𝑠) = 100 𝑠+100 (13) e com sinal de entrada senoidal igual a: 𝑢(𝑡) = 5𝑠𝑒𝑛(2𝜋𝑓 ∙ 𝑡) (14) Vamos fazer a análise para uma frequência do sinal de excitação igual a 15,916 Hz. Sabemos que a velocidade angular, 𝜔, do sinal, é igual a 2 x 𝜋 x f. Nesse caso, o resultado da operação nos fornece o valor de 100 rad/s para 𝜔. O próximo passo da análise é fazer a substituição de s por j𝜔 na função de transferência, resultando em: 𝐺(𝑗𝜔) = 100 𝑗𝜔+100 = 100 𝑗100+100 (15) O resultado dessa operação nos fornece o valor de 0,707 para o módulo de 𝐺(𝑗𝜔) e ângulo de fase igual a -45º. A amplitude da resposta harmônica é obtida multiplicando o módulo de 𝐺(𝑗𝜔) pela amplitude do sinal de excitação, que nesse caso é igual 5. Logo a amplitude da resposta do sistema é igual a 3,536. Finalmente, podemos escrever o sinal harmônico de saída do sistema, no domínio do tempo, como: 𝑦(𝑡) = 3,536𝑠𝑒𝑛(100𝑡 − 45𝑜) (16) GRÁFICOS DA RESPOSTA EM FREQUÊNCIA No método do lugar das raízes era importante plotar a variação das raízes do polinômio característico em função da variação do parâmetro K (ganho do sistema). No método da resposta em frequência vamos fazer algo parecido. Vamos representar graficamente a variação da função de transferência G(j𝜔) em função da variação da frequência, no intervalo de zero a infinito. Essa representação é normalmente feita de três maneiras: por meio de diagramas polares, também conhecidos como diagrama de Método da resposta em frequência 7 Nyquist; diagramas logarítmicos, também conhecidos como diagrama de Bode; e por meio das cartas de Nichols (diagrama do logaritmo do módulo versus ângulo de fase). Os diagramas de Nyquist, também conhecidos como diagramas polares, são gráficos que representam a função harmônica de transferência nos eixos reais e imaginários. Na verdade, trata-se de um gráfico do módulo de G(j𝜔) versus o ângulo de fase de G(j𝜔), com 𝜔 variando de zero a infinito. No diagrama polar, um ângulo de fase positivo é medido no sentido anti-horário (e um ângulo de fase negativo, no sentido horário) a partir do eixo real positivo. Cada ponto no diagrama de Nyquist representa o ponto final de um vetor para determinado valor de 𝜔. Na figura 1 podemos ver um exemplo de representação de uma função G(j𝜔) através desse tipo de diagrama. É importante indicar os valores da frequência ao longo da curva. De acordo com Ogata (2010) uma das vantagens da utilização do diagrama de Nyquist é conseguir representar a função em toda a faixa de frequência em apenas um gráfico. Por outro lado, esse tipo de diagrama não indica claramente as contribuições de cada fator de maneira individual sobre a função de transferência de malha aberta. Figura 1: diagrama polar (Fonte: Ogata, 2010). Os diagramas de Bode (ou diagramas logarítmicos) de uma função de transferência senoidal na verdade é o conjunto de dois gráficos: o primeiro gráfico é o gráfico do logaritmo do módulo da função G(j𝜔) em relação à frequência (também em escala logarítmica); o segundo gráfico é o gráfico do ângulo de fase também em relação à frequência. Nesses dois gráficos a variável 𝜔 é representada em escala logarítmica no Método da resposta em frequência 8 eixo das abscissas e o ganho é dado em decibéis (dB) no eixo das ordenadas. Para fazer a conversão do módulo da função harmônica de transferência para decibéis é realizada a operação: 𝑌𝑑𝐵 = 20𝑙𝑜𝑔|𝐺(𝑗𝜔)| (17) O ângulo de fase é representado em escala linear (geralmente medido em graus). A vantagem de representar a frequência da função em escala logarítmica é justamente permitir que, dentro da limitação das dimensões de um gráfico, um amplo intervalo de variação da frequência seja englobado. A representação do ganho do sistema em decibéis é feita por tradição. Vamos ver o exemplo da representação do ganho e da fase de um sistema em escala linear e em escala logarítmica. Podemos observar claramente que a escala logarítmica permite analisar o comportamento da função para uma faixa muito mais ampla de frequências. Considerando um sistema cuja função de transferência é dada por: 𝐺(𝑗𝜔) = 100 (1+ 𝑗𝜔 20 )² (17) e substituindo na função alguns valores para a frequência, podemos montar a tabela 1. Tabela 1: valores da função de transferência. Fonte: MAYA E LEONARDI, 2014. Plotando esses valores de ganho e de ângulo de fase em função da variação da frequência (em escalas lineares e escalas logarítmicas) temos as figuras 2 a 5. Método da resposta em frequência 9 Figura 2: módulo da função de transferência em escala linear (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). Figura 3: ângulo de fase em escala linear (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). Figura 4: módulo da função de transferência em escala logarítmica (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). Figura 5: ângulo de fase em escala logarítmica (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). É fácil notar que os dois gráficos representados em escala linear descrevem um parâmetro da função de transferência para a frequência entre 0 e 100 rad/s. Já os dois Método da resposta em frequência 10 gráficos elaborados em escalas logarítmicas amplificam essa faixa para frequências de até 1.000 rad/s. Vamos estudar os diagramas de Bode para as funções de transferência simples. De acordo com Maya e Leonardi (2014) uma função de transferência simples é uma função constante ou que possui apenas um polo ou um zero reais. Cinco casos são possíveis: ➢ Função de transferência constante Em sistemas com função de transferência do tipo G(s) = Kg, o módulo (em decibéis) também será constante. É necessário apenas saber o valor de Kg para poder traçar os diagramas de Bode. Para valores do módulo de Kg acima ou igual a unidade seu valor em dB será positivo, caso contrário, será negativo. O ângulo de fase por sua vez será zero para valores positivos de Kg e negativo em caso contrário. Na figura 6 podemos ver um exemplo do diagrama de Bode para o caso em que Kg > 1. Figura 6: diagrama de Bode para Kg > 1 (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). ➢ Função de transferência com polo na origem No caso de funções de transferência com polo na origem, ou seja, funções do tipo G(s) = 1 / s, o ângulo de fase é constante e igual a -90º. A amplitude do sinal é igual a 𝑌𝑑𝐵 = −20log(𝜔). É possível notar, nesse caso, que o diagrama de ganho do sistema é uma reta que intercepta a origem do gráfico, onde 𝑌𝑑𝐵 = 0 e 𝜔 = 1. O diagrama correspondente para esse tipo de função de transferência é mostrado na figura 7. Método da resposta em frequência 11 Figura 7: diagrama de ganho e de fase de um polo na origem (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). ➢ Função de transferência com zero na origem É função de transferência com apenas um zero na origem funções do tipo G(s) = s. Nesse caso, a resolução da função harmônica fornece ângulo de fase constante e igual a 90º e ganho do sistema igual a 𝑌𝑑𝐵 = 20log(𝜔). Podemos ver que é uma reta similar ao caso anterior, apenas com a mudança de sinal.Essa reta também irá interceptar a origem do sistema. Podemos ver o diagrama de Bode desse tipo de sistema na figura 8. Figura 8: diagrama de ganho e de fase de um zero na origem (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). ➢ Função de transferência com polo real fora da origem Método da resposta em frequência 12 Nos casos em que a função de transferência apresenta um polo real fora da origem, ela pode ser expressa por: 𝐺(𝑠) = 𝑎 (𝑠+𝑎) (18) e os cálculos nos levam ao ângulo de fase e ganho (em dB) dados por: 𝜙 = −arctan( 𝜔 𝑎 ) (19) 𝑌(𝑑𝐵) = 𝐺(𝑑𝐵) = −20𝑙𝑜𝑔 |1 + 𝑗𝜔 𝑎 | (20) Se substituirmos o valor 1 em 𝑎, o polo do sistema será -1 e o diagrama de Bode nesse caso específico seria o diagrama representado na figura 9. Figura 9: diagrama de ganho e de fase com um polo em -1 (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). ➢ Função de transferência com zero real fora da origem O último caso que vamos estudar é o caso em que a função de transferência apresenta um zero real fora da origem. Nesse caso a função de transferência é dada por: 𝐺(𝑠) = 𝑠+𝑏 𝑏 (21) Método da resposta em frequência 13 O zero real nesse caso é igual a -b. Os cálculos nos levam ao ângulo de fase e ganho (em dB) dados por: 𝜙 = arctan( 𝜔 𝑏 ) (22) 𝑌(𝑑𝐵) = 𝐺(𝑑𝐵) = 20𝑙𝑜𝑔 |1 + 𝑗𝜔 𝑏 | (23) Tomando como o exemplo o caso que b é igual a 1, ou seja, o zero do sistema é igual a -1, o diagrama de Bode do sistema (figura 10) é dado por: Figura 10: diagrama de ganho e de fase com um zero em -1 (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). Método da resposta em frequência 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAYA, Paulo Álvaro; LEONARDI, Fabrizio. Controle essencial. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. OGATA, Katsuhiko. Engenharia de controle moderno. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. PHILLIPS, Charles L.; HARBOR, Royce D. Sistemas de controle e realimentação. 1. ed. São Paulo: Makron Books, 1996.
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