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Transformada de Laplace e função de transferência 2 1. TRANSFORMADA DE LAPLACE E FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA INTRODUÇÃO Olá! Vamos dar continuidade ao estudo do controle de sistemas dinâmicos. Os modelos matemáticos que foram desenvolvidos na aula 1 nem sempre são de fácil solução. Uma ferramenta matemática que pode ser utilizada para facilitar a solução das equações diferenciais obtidas na modelagem de sistemas elétricos e de sistemas mecânicos do tipo massa-mola-amortecedor é a transformada de Laplace. Além de transformar as equações originais do modelo em equações algébricas, o domínio das equações após a transformada de Laplace é bastante adequado para análises de estabilidade dos sistemas. Além disso, dessa maneira é possível prever o desempenho de sistemas dinâmicos sem ao menos resolver de fatos as equações (MAYA e LEONARDI, 2014). A transformada de Laplace, que recebe esse nome em homenagem ao seu descobridor, Pierre-Simon Laplace, é uma integral que gera uma função de variável s (frequência) a partir de uma função variável com o tempo t. Dada uma descrição matemática de entrada de um sistema, a transformada de Laplace fornece uma descrição alternativa que diminui a complexidade do processo de análise do comportamento do sistema, ou seja, da solução do modelo matemático proposto. Basicamente, essa simplificação ocorre pela transformação de uma equação diferencial em uma equação algébrica. TRANSFORMADA DE LAPLACE Dada uma função 𝑓(𝑡), define-se sua transformada de Laplace, 𝐹 (𝑠) como: ℒ[𝑓(𝑡)] = 𝐹(𝑠) = ∫ 𝑒−𝑠𝑡𝑓(𝑡)𝑑𝑡 +∞ 0 (1) em que ℒ[𝑓(𝑡)] representa a transformada de Laplace de 𝑓(𝑡) e 𝐹(𝑠) , a função de Laplace obtida. Vamos resolver um exemplo para entendermos como ocorre a transformação de uma função de acordo com a integral da transformada de Laplace. Transformada de Laplace e função de transferência 3 Consideremos a função 𝑓(𝑡) = 𝑒−𝑎𝑡 para t ≥ 0. De acordo com a definição matemática, sua transformada de Laplace seria: 𝐹(𝑠) = ∫ 𝑒−𝑠𝑡 ∙ 𝑓(𝑡)𝑑𝑡 = +∞ 0 ∫ 𝑒−𝑠𝑡 ∙ 𝑒−𝑎𝑡𝑑𝑡 = +∞ 0 ∫ 𝑒−(𝑠+𝑎)𝑡𝑑𝑡 = +∞ 0 𝑒−(𝑠+𝑎)𝑡 𝑠+𝑎 | variando de 0 a +∞ o que resulta em 𝐹(𝑠) = 1 𝑠+𝑎 . (2) A transformada de Laplace para as principais funções pode ser resumida na tabela 1. Tabela 1 – Transformadas de Laplace Fonte: Maya e Leonardi, 2014 sendo as funções 𝛿(𝑡), ℎ(𝑡), 𝜔(𝑡), 𝛼(𝑡) , as funções impulso, degrau unitário, rampa unitária e parábola unitária respectivamente. As propriedades das transformadas de Laplace podem ser vistas na tabela 2. Transformada de Laplace e função de transferência 4 Tabela 2 – Propriedades da transformada de Laplace Fonte: Maya e Leonardi, 2014 Da mesma maneira que é possível a transformada de uma função no domínio do tempo para o domínio da frequência, também é possível a transformada de uma função no domínio da frequência (s) para o domínio do tempo (t). Chamamos essa transformada de transformada inversa de Laplace. A transformada inversa de Laplace é dada por: Transformada de Laplace e função de transferência 5 𝑓(𝑡) = 1 2𝜋𝑗 ∫ 𝐹(𝑠)𝑒𝑠𝑡𝑑𝑠 +∞ −∞ (3) A maneira mais simples e prática para a obtenção de f(t) a partir de uma função F(s) é fazendo a decomposição da função original em frações parciais. Para entender como funciona essa metodologia matemática, vamos analisar o exemplo a seguir. O nosso objetivo é determinar a transformada inversa de Laplace de 𝐹(𝑠) = 2𝑠+1 𝑠2+3𝑠+2 (4) Podemos reescrever a função F(s) utilizando suas frações parciais. Vamos decompor a função original da seguinte maneira: 𝐹(𝑠) = 2𝑠+1 𝑠2+3𝑠+2 = 2𝑠+1 (𝑠+1)(𝑠+2) = 𝑟1 𝑠+1 + 𝑟2 𝑠+2 (5) Nos resta determinar os valores de r1 e r2. Para isso, vamos multiplicar a equação original pelos denominadores em cada um dos casos e zerar este fator: 𝑟1 = (𝑠 + 1) [ 2𝑠+1 (𝑠+1)(𝑠+2) ] = 2(−1)+1 (−1)+2 = −1 (6) 𝑟2 = (𝑠 + 2) [ 2𝑠+1 (𝑠+1)(𝑠+2) ] = 2(−2)+1 (−2)+1 = 3 (7) Desta maneira, a equação original F(s) pode ser reescrita como: 𝐹(𝑠) = −1 𝑠+1 + 3 𝑠+2 (8) E a sua transformada inversa de Laplace é simplesmente encontrada e dada por: 𝑓(𝑡) = −𝑒−𝑡 + 3𝑒−2𝑡 (9) Vamos agora aplicar a transformada de Laplace em um modelo matemático, visto no primeiro tópico da disciplina, que descreve o comportamento de um circuito RC no qual Transformada de Laplace e função de transferência 6 x(t) é a tensão de entrada aplicada sobre a associação e y(t) representa a tensão sobre o capacitor. A função que descreve o comportamento deste sistema é dada por 𝑅𝐶�̇�(𝑡) + 𝑦(𝑡) = 𝑥(𝑡) (10) Nosso objetivo é determinar a resposta do sistema y(t) em função da sua condição inicial y (0) para uma entrada do tipo degrau unitário h(t). Para resolver este tipo de problema devemos aplicar a transformada de Laplace à função que descreve o modelo matemático. ℒ[𝑅𝐶�̇�(𝑡) + 𝑦(𝑡)] = ℒ[𝑥(𝑡)] (11) 𝑅𝐶(𝑠𝑌(𝑠) − 𝑦(0)) + 𝑌(𝑠) = 𝑋(𝑠) (12) 𝑋(𝑠) = 1 𝑠 (13) 𝑌(𝑠) = 𝑅𝐶 𝑅𝐶𝑠+1 𝑦(0) + 1 𝑠(𝑅𝐶𝑠+1) = 1 𝑠+ 1 𝑅𝐶 𝑦(0) + [ 1 𝑠 − 1 𝑠+ 1 𝑅𝐶 ] (14) 𝑦(𝑡) = 𝑦(0)𝑒− 𝑡 𝑅𝐶 + 1 − 𝑒− 𝑡 𝑅𝐶 (15) FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA Agora que já definimos o conceito matemático da transformada de Laplace, podemos definir o conceito de função de transferência. Este tipo de função é muito utilizado para caracterizar as relações de entrada e de saída de componentes ou de sistemas que podem ser descritos através de equações diferenciais lineares invariantes com o tempo, caso dos sistemas LIT. A função de transferência de um sistema representado por uma equação diferencial linear invariante com o tempo é definida como a relação entre a transformada de Laplace da saída (função reposta) e a transformada de Laplace da entrada (função de excitação), admitindo-se todas as condições iniciais nulas (OGATA, 2010). Transformada de Laplace e função de transferência 7 Vamos considerar o sistema LIT representado na figura 1 e admitir que as condições iniciais do sistema são nulas. Assim, seu modelo matemático pode ser descrito por: 𝑎0 𝑦⏞ 𝑛 + 𝑎1 𝑦⏞ 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎𝑛−1�̇� + 𝑎𝑛𝑦 = 𝑏0𝑢 𝑛 + 𝑏1 𝑢⏞ 𝑛−1 + ⋯ + 𝑏𝑛−1�̇� + 𝑏𝑛𝑢 (16) Figura 1: sistema LIT (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). sendo a e b constantes que dependem dos parâmetros do sistema. A função de transferência deste sistema, G(s), é dada por: 𝐺(𝑠) = ℒ[𝑠𝑎í𝑑𝑎] ℒ[𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎] = 𝑌(𝑠) 𝑈(𝑠)= 𝑏0𝑠 𝑚+𝑏1𝑠 𝑚−1+⋯+𝑏𝑚−1𝑠+𝑏𝑚 𝑎0𝑠𝑛+𝑎1𝑠𝑛−1+⋯+𝑎𝑛−1𝑠+𝑎𝑛 (17) Utilizando o conceito matemático de função de transferência, foi possível representar a dinâmica de um sistema por meio de uma equação algébrica no domínio de s. De acordo com Ogata (2010), a função de transferência: ➢ é um modelo matemático que constitui um método operacional para expressar a equação diferencial que relaciona a variável de saída com a variável de entrada; ➢ é uma propriedade inerente ao sistema, independentemente da magnitude e da natureza da função de entrada ou de excitação; ➢ inclui as unidades necessárias para relacionar a entrada com a saída, porém não fornece nenhuma informação relativa à estrutura física do sistema (sistemas análogos apresentam a mesma função de transferência); ➢ pode ser determinada experimentalmente com o auxílio de entradas conhecidas e as respectivas repostas do sistema. Transformada de Laplace e função de transferência 8 Vamos aplicar os conceitos de função de transferência para determinar a relação entre o sinal de saída e o sinal de entrada de um sistema mecânico do tipo massa-mola- amortecedor (figura 2). Considerando que a massa do carro seja igual a zero, presumindo que tanto o carro como o sistema massa-mola-amortecedor estejam parados no instante t < 0, u representa o deslocamento do carro e é a entrada do sistema que se move com velocidade constante a partir de t = 0, e o sinal de saída é o deslocamento da massa, y, vamos determinar a função de transferência deste sistema. Figura 2: sistema massa-mola-amortecedor (Fonte: Ogata, 2010). Aplicando a segunda lei de Newton temos que: ∑ 𝐹 = 𝑚 ∙ 𝑎 (18) 𝑚 𝑑2𝑦 𝑑𝑡2 = −𝑏 ( 𝑑𝑦 𝑑𝑡 − 𝑑𝑢 𝑑𝑡 ) − 𝑘(𝑦 − 𝑢) (19) Rearranjando os termos: 𝑚 𝑑²𝑦 𝑑𝑡 + 𝑏 𝑑𝑦 𝑑𝑡 + 𝑘𝑦 = 𝑏 𝑑𝑢 𝑑𝑡 + 𝑘𝑢 (20) Fazendo as transformadas de Laplace dos sinais de entrada e de saída: (𝑚𝑠2 + 𝑏𝑠 + 𝑘)𝑌(𝑠) = (𝑏𝑠 + 𝑘)𝑈(𝑠) (21) Transformada de Laplace e função de transferência 9 Cuja função de transferência é: 𝐺(𝑠) = 𝑌(𝑠) 𝑈(𝑠) = 𝑏𝑠+𝑘 𝑚𝑠2+𝑏𝑠+𝑘 (22) A função de transferência é uma relação entre polinômios da variável s (denominada frequência complexa). Supondo que o polinômio do numerador de uma função de transferência seja dado por B(s) e do denominador por A(s), e ambos sejam irredutíveis: ➢ A(s) denomina-se o polinômio característico do sistema e o seu grau, n, é a ordem do sistema; ➢ A equação A(s) = 0 é a equação característica do sistema. As raízes da equação característica são denominadas polos do sistema; ➢ As raízes da equação B(s) = 0 são os zeros do sistema. Vamos resolver mais um exercício! Nosso objetivo agora é determinar a função de transferência do sistema massa-mola- amortecedor da figura 3 e determinar os zeros e os polos do sistema. Os dados do sistema são: M = 2,0 kg, B = 1,6 Ns/m, K = 0,24 N/m. É aplicada uma força no bloco representada por f(t), variável de entrada, e a posição y(t) é a variável de saída. Figura 2: sistema massa-mola-amortecedor (Fonte: Maya e Leonardi, 2014). Aplicando a segunda lei de Newton temos que: ∑ 𝐹 = 𝑚 ∙ 𝑎 (23) 𝑀 𝑑2𝑦 𝑑𝑡2 = 𝑓(𝑡) − 𝐵 ( 𝑑𝑦 𝑑𝑡 ) − 𝐾(𝑦) (24) Transformada de Laplace e função de transferência 10 Rearranjando os termos, substituindo os valores das constantes do sistema e dividindo tudo por 2, temos que: 𝑀 𝑑²𝑦 𝑑𝑡 + 𝐵 𝑑𝑦 𝑑𝑡 + 𝐾𝑦 = 𝑓(𝑡) (25) 2,0 𝑑²𝑦 𝑑𝑡 + 1,6 𝑑𝑦 𝑑𝑡 + 0,24𝑦 = 𝑓(𝑡) (26) 1,0 𝑑²𝑦 𝑑𝑡 + 0,8 𝑑𝑦 𝑑𝑡 + 0,12𝑦 = 0,5𝑓(𝑡) (27) Aplicando a transformada de Laplace no sinal de saída e no sinal de entrada do sistema: (𝑠2 + 0,8𝑠 + 0,12)𝑌(𝑠) = (0,5)𝑈(𝑠) (28) A função de transferência é dada pela razão dos polinômios que multiplicam o sinal de entrada e de saída do sistema. Desta maneira, a função de transferência resultante do problema proposto é: 𝐺(𝑠) = 𝑌(𝑠) 𝑈(𝑠) = 0,5 (𝑠2+0,8𝑠+0,12) (29) Falta determinarmos os polos e os zeros do sistema. Definimos como zeros do sistema as raízes do polinômio do numerador da função de transferência. Como o numerador da função se trata de um valor constante e igual a 0,5, este sistema não apresenta zeros. Já os polos são definidos como as raízes do polinômio característico (denominador da função de transferência). Determinando as raízes, temos que: 𝑠2 + 0,8𝑠 + 0,12 = 0 (30) Cujas raízes, aplicando a fórmula de Bhaskara, são -0,2 e -0,6 e representam os polos do sistema. A função de transferência, também conhecida como modelo entrada-saída, uma vez que relaciona apenas estes dois sinais no seu equacionamento, é um dos modelos matemáticos Transformada de Laplace e função de transferência 11 mais utilizados para o estudo dos sistemas LIT (lineares invariantes com o tempo). Pelo fato dessa modelo utilizar em sua metodologia a transformada de Laplace, diz-se que é um modelo definido no domínio da frequência. Nos sistemas LIT as funções de transferência são sempre funções racionais, uma vez que representam a relação entre dois polinômios em s. Transformada de Laplace e função de transferência 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MAYA, Paulo Álvaro; LEONARDI, Fabrizio. Controle essencial. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. OGATA, Katsuhiko. Engenharia de controle moderno. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. PHILLIPS, Charles L.; HARBOR, Royce D. Sistemas de controle e realimentação. 1. ed. São Paulo: Makron Books, 1996.
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