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· Fichamento: texto 6 (FARACO, Carlos Alberto. Estudos pré-saussurianos)
“[…] é inegável que Saussure realizou um grande corte nos estudos linguísticos. Suas concepções deram as condições efetivas para se construir uma ciência sincrônica da linguagem. A partir de seu projeto, não houve mais razões para não se construir uma ciência autônoma a tratar exclusivamente da linguagem, considerada em si mesma e por si mesma, e sob o pressuposto da separação estrita entre a perspectiva histórica e a não histórica.”
“Embora à primeira vista haja no gesto de Saussure uma ruptura no modo de fazer linguística do século XIX, podemos também pensá-lo como um gesto de continuidade. O que ele fez (e não é pouca coisa, evidentemente) foi dar consistência formal à velha intuição de que as línguas humanas são totalidades organizadas.”
p. 28
Foram nos principais três grandes fóruns do século XX que apareceram as ideias saussurianas. Roman Jakobson e Nikolai Troubetzkoy foram os responsáveis por citar Saussure nessas importantes reuniões que tratariam da Linguística. Era a era dos linguistas sincronistas que, aos poucos, foi ocupando espaço acadêmico. A premissa que diz que as línguas são totalidades organizadas foi datada no século XIX e precedia os estudos de Saussure – por isso o termo premissa. Era parte de estudos linguísticos que influenciaram o pai da linguística moderna.
“[…] Willian Jones, o juiz inglês que exercia seu ofício na burocracia colonial em Calcutá, entrou em contato com o sânscrito. Impressionado com as semelhanças entre essa língua, o grego e o latim, levantou a hipótese de que semelhanças de tal magnitude não poderiam ser atribuídas ao acaso; era forçoso reconhecer que essas três línguas tinham uma origem comum.”
p. 29
Nesse período (século XVIII), com análise do sânscrito por Willian Jones, houve na Europa um movimento de estudos comparativos e históricos. Aí a Linguística se constituía uma ciência. Esses estudos, inclusive, tiveram resultados notórios: em poucos anos se estabeleceu de correspondências das línguas. Esses estudos, tidos por métodos histórico-comparativos, foi usado por Franz Bopp que criara a Gramática comparada. Essas análises contribuiriam posteriormente para as bases do “corte” saussuriano.
“Na metade do século XIX, os estudos histórico-comparativos conheceram, na obra do linguista A. Schleicher (1821-1867)), uma orientação fortemente naturalista.”
p. 33
Para Schleicher, a língua poderia ser considerada como organismo vivo A partir dessa concepção, ele propôs uma tipologia das línguas e uma “árvore genealógica” das línguas indo-europeias. Apesar dele ser criticado por ser naturalista, sua obra foi de suma importância para os estudiosos contemporâneos, no tocante aos estudos histórico-comparativos – sendo utilizada até as décadas seguintes. É importante destacar que o estudo do lituano (o primeiro de uma língua indo-europeia) a partir da fala e não da escrita foi um importante avanço para os estudos linguísticos em geral.
“[…] Osthoff e Brugmann criticam a concepção naturalista da língua, que a via como possuindo uma existência independente. Para eles, a língua tinha de ser vista ligada ao indivíduo falante.” 
p. 34
Diferente de Schleicher, Osthoff e Brugman não concordavam com a concepção naturalista em atribuía à língua um organismo vivo e independente (inclusive de quem a usa). Eles defendiam que a língua era inerente ao seu falante e, por tanto, dependente deste para “existir”. A ideia colocada era que a língua existe no indivíduo e as mudanças se originam nele mesmo, não por ela mesma.
“Para sintetizar e concluir essas breves reflexões sobre alguns conceitos preliminares, cumpre reafirmar que considerarei no desenrolar deste texto os conceitos de linguística histórica lato sensu, que inclui descrições e interpretações sincrônicas datadas e localizadas, linguística stricto sensu, que se concentra na mudança linguística no tempo, levando em consideração fatores intralinguísticos ou estruturais e fatores extralinguísticos ou sócio-históricos e linguística diacrônica, que, tratando da mudança no tempo, se concentra no sistema ou na gramática, depreensões teóricas que subjazem às línguas históricas.”
p. 40
A distinção de Rosa Virgínia Mattos e Silva entre as concepções de mudança linguísticas (linguística sincrônica e diacrônica) esclarece, em ponto de vista pessoal, as principais diferenças entre elas. No caso da análise diacrônica, era utilizada para tratar de mudanças concentrada no sistema e na gramática. Já a sincrônica seria estudos datados e localizados de uma língua, que caberia à linguística stricto sensu. 
“O século XIX teve ainda dois importantes pensadores na área dos estudos linguísticos: Willian D. Whitney (1827-1894) e Wilhelm von Humboldt (1767-1835), cujas ideias tiveram influência nos desdobramentos da linguística do século XX.” 
p. 40
Whitney, o famoso linguista de Yale, foi um dos grandes responsáveis à consolidação das ideias de Saussure no século XX. Whitney dizia que entre a linguagem e o aparelho vocal não há nenhuma relação, e os seres humanos adotaram o aparelho vocal como poderiam ter escolhido, por exemplo, o gesto, sem que a linguagem em sim sofresse qualquer alteração. Além disso, ele colocara a língua como uma instituição social e que tinha seu caráter arbitrário. Nesse ponto Saussure discordava “parcialmente”, posto que afirmava que “ele (Whitney) não foi até o fim e não viu que tal caráter arbitrário separa radicalmente a língua de outras instituições”. Mas Saussure não ocultava suas concordâncias com Whitney. A exemplo, Saussure diz que Whitney colocou a Linguística em seu verdadeiro eixo. A língua como um sistema, uma organização, não fora uma ideia somente dos nomes supracitados. Humboldt também tinha esse ponto como de que a língua tinha sua totalidade organizada, em que o elemento só faz sentido no conjunto. Isso foi fundamental para a linguística estrutural do século XX.
“É fácil constatar que, no século XX, embora tenha prevalecido, nos estudos da linguagem, a ótica estrutural ([…] pelo menos em sua segunda metade, foi o império da estrutura […]), o tema da interação, da intersubjetividade, do dialógico, ou – como preferem alguns autores – o tema da relação EU-TU foi copiosamente tratado, mesmo que à margem do grande império e sem afetá-lo.”
p. 46
Vale salientar que houve nos estudos linguísticos (além da ótica estrutural, assim citado por Faraco) o tema da relação EU-TU, ou seja, uma interação do homem com “outro”. Esse tema toma um caráter filosófico emergindo pela primeira vez no pensamento moderno. Friedrich H. Jacobi, um filósofo que declara ser o primeiro a abordar a questão da interação – inclusive o primeiro a proclamar a proposição “O EU é impossível sem o TU”, obra de Spinoza –, define num primeiro momento que o EU era a consciência e o tu era exterior à consciência, o NÃO EU. Mas, num segundo momento, ele dá a entender o TU como uma outra pessoa, embora este ele atribua a Deus. Ele se contrapõe a Spinoza que diz que Deus é identificado com a própria natureza. Isso, para Jacobi era inaceitável porque esse Deus referido por Spinoza era deduzido e produto da razão. Para Jacobi, não pode haver um EU exceto em referência a um TU que o transcenda. E esse TU remete primeiro e antes de mais nada a Deus. Para ele, Deus tem transcendência e simultânea imanência, ou seja, Ele está, ao mesmo tempo, dentro e fora de mim.