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Filoso�a da Linguagem Aula 7: Estruturalismo e pós-estruturalismo Apresentação Nesta aula, ainda estruturaremos o ideário pragmático de linguagem abordado em nosso encontro anterior, proporcionando um novo ponto de vista para as funcionalidades da língua. No entanto, também articularemos hoje alguns conceitos preponderantes para o estudo dela, retomando ideias fundadoras da ciência linguística. Para isso, revisitaremos a obra Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, a �m de avaliar os desdobramentos que suas ideias tiveram no decorrer dos anos, o que culminou nas pesquisas dos estruturalistas europeus e norte-americanos. Inventariaremos a articulação da �loso�a dos pensadores denominados pós-estruturalistas com os estudos da linguagem, tomando por base a crítica contra os modelos de representação e da língua como estrutura. Wittgenstein, Derrida e Barthes comporão nossa base teórica para podermos resumir os conceitos do pensamento pós-estruturalista e a forma como ele lidava com a questão dos signi�cados. Objetivos Identi�car no Curso de Linguística Geral o ponto de partida de uma visão sistêmica e cientí�ca de língua; Relacionar os estudos estruturalistas e pós-estruturalistas com a temática saussureana; Reconhecer nos estudos pós-estruturalistas uma ruptura radical com o pensamento linguístico de todas as eras. Primeiras palavras Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Vimos nas aulas anteriores que, desde o século XIX, há uma preocupação bem maior com a análise de um estudo linguístico atrelado à sua evolução dentro da sociedade, explorando a relação entre ela e a linguagem. Ao contrário dos estudos universais, que procuravam um modelo geral e único para as línguas, as abordagens mais contemporâneas �ncarão suas pesquisas nas variedades e nas multiplicidades. Após o advento do Curso de Linguística Geral, houve, segundo muitos críticos da língua, uma aproximação com os discursos metafísico e logocêntrico. Além dessas questões, porém, veremos que o trabalho de Saussure também foi um marco na história desta ciência que se construía: a Linguística. Desde então, ela elegeu um objeto de estudo: a língua. Ferdinand de Saussure à época dos cursos de Linguística. Fonte: Wikipedia. Curso de Linguística Geral Capa do original da obra de Saussure publicada e compilada por seus alunos em Genebra. Pode-se dizer que a Linguística, nos moldes que a conhecemos, é uma herança deste singular trabalho de Ferdinand de Saussure. Saussure é um autor fundamental, não somente para os estudiosos das Letras, mas para todos que querem compreender melhor as condições para o estudo da linguagem. Poderíamos escrever linhas e mais linhas sobre esta obra que, de uma forma ou de outra, funcionou como um disparador psíquico para estudos posteriores, alguns deles ainda atuais. Faremos, então, um pequeno resumo dos conteúdos mais importantes, como a de�nição de seu objeto e as famosas dicotomias saussureanas. Em detrimento da fala – individual e, portanto, variável – Saussure elegeu a língua o centro de seus estudos, por conta de seu caráter abstrato, social, geral e virtual. Assim, ela estaria predisposta ao campo de estudo da ciência linguística. Ao analisar a língua, Saussure descreveu-a como um sistema de signos organizados, formando um todo. Atenção O signo linguístico – associação entre signi�cante e signi�cado – de forma alguma se relaciona com a racionalidade ou a lógica do mundo das representações humanas: esse laço uni�cador entre ambos é arbitrário e imotivado, não havendo, assim, razão para que as coisas existentes à nossa volta possuam nome próprio .1 No entanto, é importante destacar que, embora possamos de�nir algo com um nome, ele só passa a adquirir um valor na língua quando a sua imagem acústica for atrelada intrinsecamente a seu conceito. Sobre o valor do signo, Saussure nos diz que ele é relativo e negativo, pois ele constitui o sistema linguístico por intermédio das diferenças existentes entre eles. Dessa forma, entendemos que o azul só é azul não por uma essência natural da história dessa cor, e sim por simplesmente não ser verde, nem possuir qualquer outra coloração. A ideia positiva de que cada palavra possui um signi�cado é relativizada no Curso de Linguística Geral, pois um signo não é mais do que isso. Trata-se da imagem acústica somada ao conceito – e isso é feito em contraste com outro signo em vez de ser tomado isoladamente. As dicotomias de Saussure No livro Curso de Linguística Geral, Ferdinand de Saussure elaborou um método para a pesquisa da língua como um sistema que pode e deve ser estudado independentemente do mundo externo. Por isso, o linguista desenvolveu seu pensamento em quatro dicotomias principais a �m de explicar o motivo de ela ser um objeto da ciência linguística e de que modo essa metodologia de pesquisa se daria. Apresentaremos agora tais dicotomias: Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Clique nos botões para ver as informações. Saussure vai preferir uma visão sincrônica do estudo linguístico a uma abordagem diacrônica. Por quê? Sua ideia principal era fazer uma análise diferenciada daquelas realizadas ao longo de vários séculos. Ele buscava estabelecer um estudo linguístico que fosse apartado das pesquisas históricas, sociais, antropológicas e �lológicas – en�m, uma pesquisa que retratasse a língua em funcionamento durante um dado tempo (recorte sincrônico) em vez de um estudo comparando as suas diversas fases com o passar das eras. A abordagem sincrônica garantia a Saussure e aos pesquisadores da Linguística um objeto de estudo próprio, com características e funcionamento pormenorizado, para que fosse realizada uma análise �el e atualizada. Sincronia x diacronia Para Saussure, ambos signi�cam coisas muito diferentes. A fala não pode ser objeto de estudo da Linguística, pois está sujeita a muitos fatores externos, já que, para o linguista, ela é um ato individual. A fala sofre muitas modi�cações que escapam à análise, haja vista ser mais difícil isolá-la, ao contrário do que se poderia fazer com a língua. Saussure não estava interessado no estudo dela – e isso se dava também pela vontade do pesquisador suíço de transformá-la em uma ciência com métodos próprios. Como muitos dos fatores a in�uenciarem a fala não são linguísticos, para ele não era possível colocá-la em uma discussão cientí�ca naquele momento. Por essas e outras, a língua será o seu objeto de estudo, pois ela se trata de uma construção coletiva depositada no imaginário do grupo como um sistema de valores com função social. Dessa forma, ao contrário da fala, ela possui, segundo Saussure, homogeneidade e mais resistência à mudança por in�uências individuais. A�nal, ela não irá variar entre os sujeitos da mesma forma que a fala o faz. Esses motivos dão à língua um status de objeto de estudo cientí�co da Linguística. Língua x fala Pense em dois lados de uma moeda… era assim que Saussure caracterizava o signo linguístico. Ele é um elemento dentro da estrutura linguística composto por um: Signi�cante: Plano da forma. Possui uma imagem acústica – ou seja, uma cadeia de sons e de combinação de letras – que irá constituir aquele novo elemento da língua; Signi�cado: Plano do conteúdo. É a outra face do signo linguístico: seu conceito está relacionado àquela imagem acústica. Signi�cante x signi�cado Exemplo: Se eu digo cadeira, cada falante da língua portuguesa pode pensar em um tipo de objeto distinto, com cores diferentes e formatos diversos, mas garanto que todos pensaram em um objeto sobre o qual se pode sentar. Para Saussure, o eixo sintagmático é composto por uma combinação de formas mínimas em uma unidade linguística. Exemplo: A frase Este menino é muito inteligente signi�ca não ser possível dizer, ao mesmo tempo, que ele é mimado e inteligente, pois uma palavra já foi escolhida dentro do sintagma . No lugar desta frase, você poderiadizer Este homem é bastante malandro, mas acabou fazendo algumas escolhas linguísticas dentro do sistema que resultaram na sentença anterior. Conceituemos os eixos: Paradigmático: Diversas possibilidades de se construir uma frase; Sintagmático: Feito a partir da construção do eixo anterior. Exemplo: Ao ver uma pessoa muito bonita que mexa com você, diversas palavras e frases passam pela sua cabeça (eixo paradigmático), mas, quando você for conversar com ela, apenas algumas serão escolhidas para compor tal diálogo (eixo sintagmático). Poderíamos pensar nessa dicotomia segundo ditames vetoriais, como o eixo das letras matemáticas x e y: Sintagma x paradigma 2 No eixo paradigmático, ocorrem as associações; no sintagmático, as combinações. Isso irá gerar as frases de nossa língua. O Estruturalismo Três vertentes da pesquisa de Saussure (a linguagem determina o pensamento; a língua enquanto forma, e não substância; e a ideia negativa) chamaram a atenção de renomados críticos de seu ponto de vista logocêntrico, como Nietzsche e Derrida .3 Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Esses pensadores, aliás, almejavam extrapolar os próprios conceitos saussureanos, radicalizando o movimento linguístico conhecido como Estruturalismo. Estruturalismo Clique no botão acima. Estruturalismo 1. O Estruturalismo Europeu Ao discorrermos sobre o valor do signo linguístico na aula anterior, postulamos que ele só adquire seu valor dentro do sistema da língua em oposição a outro. O sistema nomeado por Saussure se chamará estrutura nesse novo movimento, em que cada elemento dela só adquire valor na sua relação com o todo do qual faz parte. Esses linguistas descobriram nas ideias inovadoras de Saussure o ponto de partida para desenvolver novos métodos e teorias, embora o desenvolvimento da Linguística se deva, em grande parte, aos círculos linguísticos desenvolvidos inicialmente na Rússia. a) Rússia Roman Jakobson reunia os formalistas russos no chamado Círculo Linguístico de Moscou. O Estruturalismo deve muito de sua teoria à produção deste círculo, apesar da contradição de suas contribuições por conta da ligação entre Linguística e Poética. b) Praga Com a extinção do Círculo Linguístico de Moscou devido a questões políticas no país, criou-se o Círculo Linguístico de Praga. Formado por Jakobson, Karcevsky e Troubetzkoy (o último foi um dos mais importantes do movimento), este novo círculo é considerado o verdadeiro e efetivo criador da Fonologia com a publicação de Grundzüge der Phonologie. Os integrantes da Escola de Praga assinalaram a importância da Fonologia no sistema linguístico, embora a tratassem juntamente com a poética em seus estudos, assim como ocorria no Círculo Linguístico de Moscou. A Escola de Praga também de�niu o fonema como uma unidade mínima pertencente ao plano da língua, cujo conceito de traços distintivos dos fonemas inovou os estudos na área. c) Copenhague O Círculo de Copenhague vai marcar o �m da ligação intrínseca entre Linguística e Literatura, dando início a teorias estritamente voltadas ao sistema de funcionamento da língua, como a Glossemática. Um de seus principais representantes foi Louis Hjelmslev. Ao lado do linguista Viggo Brøndal, fundou este círculo no ano de 1931. Ambos foram inspirados pelas ideias de Ferdinand de Saussure. Essa ligação entre Literatura e Linguística vai se perder no Círculo de Copenhague. Para categorizar a separação entre os estudos literários e de linguagem, Hjelmslev estabeleceu a oposição entre os conceitos de denotação e conotação, abrindo caminho para o desenvolvimento do Círculo Linguístico de Viena. d) Viena Vemos agora um retorno ao ideário universal da língua, desvinculando-a de qualquer irracionalidade proposta pelos estudos literários. Dessa forma, uma outra dicotomia passou a �gurar nos estudos linguísticos: a que separa os enunciados dotados de sentido daqueles desprovidos de um. No entanto, isso gera a inobservância de vários aspectos importantes na Linguística, como a ambiguidade, o equívoco etc. Cria-se, então, um ambiente teórico em que a linguagem volta a ser convocada a partir da racionalidade, já distante dos efeitos românticos da conotação. 2. O Estruturalismo Norte-americano Franz Boas e Edward Sapir foram os pioneiros nos estudos de descrição das línguas ameríndias nos Estados Unidos. Elas necessitavam de um método adequado para sua análise, já que não possuíam uma relação próxima com outras de troncos mais conhecidos, como o latino e o anglo-saxônico. Assim surgiu a teoria estruturalista dentro da Linguística aplicada em solo norte-americano: seu intuito era oferecer uma metodologia estrutural para análise dos ameríndios, remontando às primeiras civilizações, cujo arcabouço, totalmente desprovido de escrita, precisava, portanto, de uma abordagem antropológica e etnológica. Segundo Boas, toda língua possui uma gramática própria com categorias de descrição apropriadas. In�uenciado por Franz Boas, seu mestre, Sapir acentuou os estudos dos aspectos sincrônico e formal dos fatos linguísticos, o que o induziu a constituir a noção de fonema. No entanto, outro pensador foi considerado o fundador do Estruturalismo Norte-americano. Ao publicar Language, em 1933, Leonard Bloom�eld mostrou que, além de Boas e Sapir, também tinha sido in�uenciado pelas ideias de Saussure, criando, assim, uma metodologia e uma terminologia na Linguística Descritiva Norte-americana. Objetivando um maior rigor nos estudos linguísticos, Bloom�eld adotou um enfoque behaviorista em sua análise linguística, de�nindo a linguagem em termos de respostas a estímulos. Seu estudo estruturalista tinha como objetivo primordial o estudo da morfologia e da sintaxe sob um ponto de vista estritamente descritivo. Ele deu à frase um lugar de destaque nas análises linguísticas: agora ela era considerada como uma unidade máxima analisável. Em suas abordagens, Bloom�eld lançou mão do método de redução, que, da mesma forma que uma análise de elementos químicos, reduzia a frase em unidades menores até chegar ao morfema. Dessa forma, seu estudo serviu de parâmetro para os linguistas americanos: eles dispensavam esforços além do comum para realizar uma análise formal dos fatos linguísticos a �m de ampliar suas ideias e sugestões ou criticar alguns dos procedimentos utilizados por Bloom�eld. O Pós-Estruturalismo A visão de linguagem dos �lósofos pós-estruturalistas pode, em algum momento, assustar alguém. Eles são extremamente radicais quanto a seu propósito: acabar com qualquer radicalismo na questão da signi�cação dela. A partir dos estudos de Ludwig Wittgenstein, outros pensadores (especialmente Jacques Derrida) partiram de uma premissa radical acerca das palavras, da linguagem humana e do que ela pode signi�car: não há um ponto de parada para os signi�cados. Ludwig Wittgenstein. Fonte: Wikipedia O que isso quer dizer? Atenção É impossível fazer um inventário, uma lista com palavras e seus signi�cados. De�nitivamente, a abordagem de Wittgenstein sobre esse tema - vista na aula passada – terá um viés exagerado por parte de Derrida. Os �lósofos pós-estruturalistas a�rmam que o pensamento representacionista é o retrato de uma sociedade castradora, que quer evitar a desordem e as revoluções. Se a língua é um acontecimento novo, que se reinventa e inventa mundos (vimos isso em Vico, você há de se lembrar), como podemos limitá-la? Até o Estruturalismo sofrerá críticas desses pensadores, pois, mesmo que haja uma evolução em relação aos clássicos, sua visão tanto sobre ela quanto sobre seu funcionamento, segundo eles, ainda é muito restrita. Conceitos wittgensteinianos Clique no botão acima. Conceitos wittgensteinianos 1. Estudos pragmático-discursivos É neste ponto dos estudos linguísticos dos pós-estruturalistas que visualizamos o corte epistemológico com a ideia representacionista de linguagem. Suas abordagens apresentarão, a partir de então, um movimentoclaro da representação para a práxis. Também podemos veri�car na obra Investigações �losó�cas, de Wittgenstein, a recusa a uma linguagem concebida por estruturas. Tomando como fundamento os estudos pragmático-discursivos de Wittgenstein, podemos observar uma ruptura muito forte com as ideias vistas nas linhas teóricas anteriores. Técnicas e vieses novos são incorporados a seu escopo analítico. Exemplo: Derivas interpretativas, ambiguidades, divergências na interpretação de um mesmo texto e fatos corriqueiros nos vários casos do cotidiano. Enquanto uns pensadores a�rmavam que o signi�cado habita a própria palavra, outros defendiam a tese de que nossa mente já traz uma linguagem própria para desvendar os eventos do mundo. Segundo Wittgenstein, contudo, ele estava no uso. Já a linguagem, pontuava o �lósofo, não era, ao contrário do que se pensava, portadora de: Essência; Estruturas; Regras prontas; Regularidade. Em Investigações �losó�cas, ele a�rma: “Mas então o emprego da palavra não está regulamentado; o jogo que jogamos com ela não está regulamentado. Ele não está inteiramente limitado por regras; mas também não há nenhuma regra que prescreva até que altura é permitido lançar a bola nem com quanta força; mas o tênis é um jogo e tem regras.” (WITTGENSTEIN, 1999, p.53) Se fôssemos pensar em um episódio no qual duas pessoas, ao lerem um mesmo texto, encontrassem respostas diferentes para perguntas de interpretação, havendo clara distorção entre as visões de uma mesma obra, a concepção pragmático-discursiva nos ajudaria a entender que a linguagem, em qualquer forma que se apresente, oral ou escrita, não possui uma semântica universal, unívoca e verdadeira. Wittgenstein combatia, assim, o reducionismo semântico apregoado com tanta ênfase por estudiosos de linhas representacionistas, apresentando o ideário de uma linguagem sem essência, construída por um conjunto não inventariado de práticas. Desse modo, observa-se não haver uma previsão do que é aceitável na comunicação; portanto, o entendimento não se dá pela decodi�cação dos símbolos linguísticos presentes em um texto, e sim, postulava o �lósofo, em saber dar o próximo lance. Lembre-se de que, na aula anterior, estudamos tais jogos. Como resolver, então, o problema do signi�cado? Para Wittgenstein, uma frase compreendida não existe em algum lugar, pronta e infalível, pois não há uma forma ideal de decodi�cação. O ato de compreensão não é tido como algo somente mental: é o próximo lance que de�nirá se o jogo da linguagem acontece. Em uma comunicação na qual o que está em jogo é um valor de verdade – como no caso das provas de vestibular –, há a seguinte premissa: a linguagem tem uma �nalidade (acertar a questão). No entanto, para os pensadores pós-estruturalistas, o resultado (uma resposta de�nitiva ou um gabarito) é veementemente negado! Não há uma uniformidade nas letras e nos sons: o que existe é uma bagunça generalizada, pois a linguagem, sob o ponto de vista da práxis, é tida como forma de vida para Wittgenstein. Não há uma bula com todas as instruções possíveis para se viver: “Um ideal de exatidão não está previsto; não sabemos o que devemos nos representar por isso – a menos que você mesmo estabeleça o que deve ser assim chamado. Mas ser-lhe-á difícil encontrar tal determinação; uma que o satisfaça”. (WITTGENSTEIN, 1999, p. 61) Ainda contra a sua rei�cação (ou seja, diminuição), no que concerne à busca por um signi�cado ideal, o �lósofo frisava que “é preciso não esquecer que o jogo da linguagem é dizer o imprevisível, isto é: não se baseia em fundamentos. Não é razoável (ou irrazoável). Está aí como a nossa vida”. (WITTGENSTEIN, 1990, p. 599) 2. Uma visão derridiana Obviamente alguém poderia pensar ou dizer: “Mas é claro que a interpretação correta de um texto é aquela presente na mente do autor”. Voltaríamos, dessa forma, à ideia de uma verdade preexistente e uma semântica universal, paci�cando todo e qualquer acidente de percurso no campo do signi�cado. São objetos de crítica de Jaques Derrida tanto esse sujeito consciente de si quanto a trivialização de uma linguagem ordinária. Derrida promove a radicalização da crítica ao que ele chama de Logocentrismo: a tendência de localizar a linguagem no logos, fazendo prevalecer o signi�cado sobre o signi�cante. Ao opor ao logocentrismo o jogo livre dos signi�cantes, o �lósofo argelino subtrai a ideia de que o ponto de parada da linguagem seja o signi�cado, ilustrando a potência demiúrgica dela. A cada uso, é testada a sua capacidade de criar e recriar regras, mundos e signi�cados. A linguagem tem o poder de criar a si mesma e outros mundos, mas não o de representar um mundo exterior a ela. O conceito derridiano de diferença (do francês differance) nos remete a sempre protelar ou adiar esse ponto de parada, como um signi�cante que, em vez de levar até um signi�cado natural, fruto de uma essência, envia-nos a outro signi�cante – e este a outro, em uma cadeia sucessiva. Derrida, bem como os pós-estruturalistas em geral, voltam-se contra o modelo de estabilidade da linguagem, pois isso indicaria que, dentro do sistema, haveria uma verdade. O �lósofo não acreditava na existência de uma interpretação mais correta ou incorreta do autor de um texto exatamente por não haver uma essência única por trás dele. Ela, defendia Derrida, deve ser decodi�cada para que se possa compreender o seu sentido unívoco. Sob a ótica derridiana, ela não diz o que é: ela faz ser o que diz. Nos estudos estruturalistas sobre a linguagem, observamos uma importância dada ao contexto e ao querer dizer do emissor. O �lósofo também criticava esses ideários, pois, para ele, o contexto não paci�ca o problema do signi�cado, não sendo, assim, o seu ponto de parada: “[...] esta ausência essencial da intenção na atualidade do enunciado, esta inconsciência estrutural, se preferir, interdiz qualquer saturação do contexto. Para que um contexto seja exaustivamente determinável no sentido requerido por Austin, seria necessário que pelo menos a intenção consciente fosse totalmente presente e atualmente transparente a si própria e aos outros, na medida em que constitui um foco determinante do contexto. O conceito ou a petição do “contexto” parece, portanto, sofrer aqui a mesma incerteza teórica e interessada que o conceito de “vulgar” das mesmas origens metafísicas: discurso ético e teleológico da consciência.” (DERRIDA, 1991, p. 369) Atividade 1. Assinale a opção que não apresenta uma dicotomia saussureana: a) Sincronia x diacronia b) Língua x fala c) Sintagma x paradigma d) Sentido x referência e) Significante x significado 2. O que proporcionou à língua ser um objeto de estudo cientí�co foi a criação da Linguística por Saussure, além de: a) A definição de língua como um sistema, com estruturas próprias. b) A definição de língua como um elemento individual, mutável. c) A escolha por estudar a fala como objeto da Linguística. d) As possibilidades de se ver a língua como um elemento de interpretação e representação do mundo. e) Nenhuma das respostas anteriores. 3. Sobre o Estruturalismo, podemos a�rmar que: I. O desenvolvimento da Linguística na Europa se deve bastante aos círculos linguísticos inicialmente na Rússia, por iniciativa de Roman Jakobson, o qual reunia os formalistas russos no chamado Círculo Linguístico de Moscou. II. Os integrantes da Escola de Praga assinalaram a importância da Fonologia no sistema da língua, embora a tratassem em conjunto com a poética em seus estudos. III. Leonard Bloom�eld, com a publicação do livro Language, de 1933, foi considerado o fundador do Estruturalismo Norte- americano, que, além de Boas e Sapir, teve presentes as ideias de Saussure, criando, assim, uma metodologia e uma terminologia na Linguística Descritiva Norte-americana. Estão corretas as alternativas: a) I e II b) II e III c) I, II e III d) III e) Nenhuma das opções 4. Entre os �lósofos mais destacados do Pós-estruturalismo, no que concerneaos estudos da linguagem, podemos citar, exceto: a) Jacques Derrida b) Roland Barthes c) Gilles Deleuze d) Guattarri e) Ferdinand de Saussure 5. Derrida é um pensador pós-estruturalista, possuindo diversas obras que discorrem sobre a linguagem. Ele criou conceitos brilhantes, como o da differance, que sugere: a) Protelar e adiar o ponto de parada do significado, pois não existe apenas um sentido pronto para uma palavra, já que ela se recria a cada momento. b) Encontrar sempre o significado perfeito para cada palavra de nossa língua. c) Assumir que não existe nenhum significado que sirva para uma palavra, pois a linguagem humana é incompreensível e vivemos em um abismo. d) Renunciar à linguagem, adotando o silêncio como única forma capaz de expressar o mundo. e) Lutar pela igualdade entre os significados da língua. Notas Coisas existentes à nossa volta possuam nome próprio 1 Na primeira aula deste curso, abordamos essa ideia no estudo da obra Crátilo, de Platão. Sintagma 2 Sintagma nada mais é do que a materialização das milhões de palavras que você pensa. Derrida 3 Jacques Derrida, no entanto, discordava da suposição de Saussure de que a língua existiria em algum lugar da mente. Referências DERRIDA, J. A solidariedade dos seres vivos: entrevista com Jacques Derrida. In: Scribd. Disponível em: https://pt.scribd.com /document/199678183/A-Solidariedade-Dos-Seres-Vivos. Acesso em: 20 mai. 2019. DERRIDA, J. Assinatura, acontecimento, contexto. In: Margens da �loso�a. Campinas: Papirus, 1991. SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1971. WITTGENSTEIN, L. Da certeza. Lisboa: Edições 70, 1990. WITTGENSTEIN, L. Investigações �losó�cas. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Próxima aula A análise linguística com foco nos processos subjetivos; O primado da psicanálise como manifestação linguística; Os estudos de Lacan. Explore mais Assista ao vídeo: Assista a este vídeo sobre o ideário pós-estruturalista.
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