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Aula 7 - Estruturalismo e Pós-Estruturalismo

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Filoso�a da Linguagem
Aula 7: Estruturalismo e pós-estruturalismo
Apresentação
Nesta aula, ainda estruturaremos o ideário pragmático de linguagem abordado em nosso encontro anterior,
proporcionando um novo ponto de vista para as funcionalidades da língua. No entanto, também articularemos hoje alguns
conceitos preponderantes para o estudo dela, retomando ideias fundadoras da ciência linguística. Para isso, revisitaremos
a obra Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, a �m de avaliar os desdobramentos que suas ideias tiveram
no decorrer dos anos, o que culminou nas pesquisas dos estruturalistas europeus e norte-americanos.
Inventariaremos a articulação da �loso�a dos pensadores denominados pós-estruturalistas com os estudos da
linguagem, tomando por base a crítica contra os modelos de representação e da língua como estrutura. Wittgenstein,
Derrida e Barthes comporão nossa base teórica para podermos resumir os conceitos do pensamento pós-estruturalista e
a forma como ele lidava com a questão dos signi�cados.
Objetivos
Identi�car no Curso de Linguística Geral o ponto de partida de uma visão sistêmica e cientí�ca de língua;
Relacionar os estudos estruturalistas e pós-estruturalistas com a temática saussureana;
Reconhecer nos estudos pós-estruturalistas uma ruptura radical com o pensamento linguístico de todas as eras.
 Primeiras palavras
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Vimos nas aulas anteriores que, desde o século XIX, há uma
preocupação bem maior com a análise de um estudo
linguístico atrelado à sua evolução dentro da sociedade,
explorando a relação entre ela e a linguagem. Ao contrário
dos estudos universais, que procuravam um modelo geral e
único para as línguas, as abordagens mais contemporâneas
�ncarão suas pesquisas nas variedades e nas
multiplicidades. Após o advento do Curso de Linguística
Geral, houve, segundo muitos críticos da língua, uma
aproximação com os discursos metafísico e logocêntrico.
Além dessas questões, porém, veremos que o trabalho de
Saussure também foi um marco na história desta ciência
que se construía: a Linguística. Desde então, ela elegeu um
objeto de estudo: a língua.
 Ferdinand de Saussure à época dos cursos de Linguística. Fonte: Wikipedia.
 Curso de Linguística Geral
 Capa do original da obra de Saussure publicada e compilada por seus alunos em
Genebra.
Pode-se dizer que a Linguística, nos moldes que a
conhecemos, é uma herança deste singular trabalho de
Ferdinand de Saussure. Saussure é um autor fundamental,
não somente para os estudiosos das Letras, mas para todos
que querem compreender melhor as condições para o
estudo da linguagem. Poderíamos escrever linhas e mais
linhas sobre esta obra que, de uma forma ou de outra,
funcionou como um disparador psíquico para estudos
posteriores, alguns deles ainda atuais. Faremos, então, um
pequeno resumo dos conteúdos mais importantes, como a
de�nição de seu objeto e as famosas dicotomias
saussureanas.
Em detrimento da fala – individual e, portanto, variável –
Saussure elegeu a língua o centro de seus estudos, por
conta de seu caráter abstrato, social, geral e virtual. Assim,
ela estaria predisposta ao campo de estudo da ciência
linguística.
Ao analisar a língua, Saussure descreveu-a como um sistema de signos
organizados, formando um todo.
Atenção
O signo linguístico – associação entre signi�cante e signi�cado – de forma alguma se relaciona com a racionalidade ou a lógica
do mundo das representações humanas: esse laço uni�cador entre ambos é arbitrário e imotivado, não havendo, assim, razão
para que as coisas existentes à nossa volta possuam nome próprio .1
No entanto, é importante destacar que, embora possamos de�nir algo com um nome, ele só passa a adquirir um valor na
língua quando a sua imagem acústica for atrelada intrinsecamente a seu conceito.
Sobre o valor do signo, Saussure nos diz que ele é relativo e
negativo, pois ele constitui o sistema linguístico por
intermédio das diferenças existentes entre eles. Dessa
forma, entendemos que o azul só é azul não por uma
essência natural da história dessa cor, e sim por
simplesmente não ser verde, nem possuir qualquer outra
coloração.
A ideia positiva de que cada palavra possui um signi�cado é relativizada no Curso de Linguística Geral, pois um signo não é
mais do que isso. Trata-se da imagem acústica somada ao conceito – e isso é feito em contraste com outro signo em vez de
ser tomado isoladamente.
 As dicotomias de Saussure
No livro Curso de Linguística Geral, Ferdinand de Saussure elaborou um método para a pesquisa da língua como um sistema
que pode e deve ser estudado independentemente do mundo externo. Por isso, o linguista desenvolveu seu pensamento em
quatro dicotomias principais a �m de explicar o motivo de ela ser um objeto da ciência linguística e de que modo essa
metodologia de pesquisa se daria.
Apresentaremos agora tais dicotomias:
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Clique nos botões para ver as informações.
Saussure vai preferir uma visão sincrônica do estudo linguístico a uma abordagem diacrônica. Por quê? Sua ideia principal
era fazer uma análise diferenciada daquelas realizadas ao longo de vários séculos. Ele buscava estabelecer um estudo
linguístico que fosse apartado das pesquisas históricas, sociais, antropológicas e �lológicas – en�m, uma pesquisa que
retratasse a língua em funcionamento durante um dado tempo (recorte sincrônico) em vez de um estudo comparando as
suas diversas fases com o passar das eras.
A abordagem sincrônica garantia a Saussure e aos pesquisadores da Linguística um objeto de estudo próprio, com
características e funcionamento pormenorizado, para que fosse realizada uma análise �el e atualizada.
Sincronia x diacronia 
Para Saussure, ambos signi�cam coisas muito diferentes. A fala não pode ser objeto de estudo da Linguística, pois está
sujeita a muitos fatores externos, já que, para o linguista, ela é um ato individual. A fala sofre muitas modi�cações que
escapam à análise, haja vista ser mais difícil isolá-la, ao contrário do que se poderia fazer com a língua. Saussure não estava
interessado no estudo dela – e isso se dava também pela vontade do pesquisador suíço de transformá-la em uma ciência
com métodos próprios. Como muitos dos fatores a in�uenciarem a fala não são linguísticos, para ele não era possível
colocá-la em uma discussão cientí�ca naquele momento.
Por essas e outras, a língua será o seu objeto de estudo, pois ela se trata de uma construção coletiva depositada no
imaginário do grupo como um sistema de valores com função social. Dessa forma, ao contrário da fala, ela possui, segundo
Saussure, homogeneidade e mais resistência à mudança por in�uências individuais. A�nal, ela não irá variar entre os sujeitos
da mesma forma que a fala o faz.
Esses motivos dão à língua um status de objeto de estudo cientí�co da Linguística.
Língua x fala 
Pense em dois lados de uma moeda… era assim que Saussure caracterizava o signo linguístico. Ele é um elemento dentro da
estrutura linguística composto por um:
Signi�cante: Plano da forma. Possui uma imagem acústica – ou seja, uma cadeia de sons e de combinação de letras
– que irá constituir aquele novo elemento da língua;
Signi�cado: Plano do conteúdo. É a outra face do signo linguístico: seu conceito está relacionado àquela imagem
acústica.
Signi�cante x signi�cado 
Exemplo: Se eu digo cadeira, cada falante da língua portuguesa pode pensar em um tipo de objeto distinto, com cores
diferentes e formatos diversos, mas garanto que todos pensaram em um objeto sobre o qual se pode sentar.
Para Saussure, o eixo sintagmático é composto por uma combinação de formas mínimas em uma unidade linguística.
Exemplo: A frase Este menino é muito inteligente signi�ca não ser possível dizer, ao mesmo tempo, que ele é mimado e
inteligente, pois uma palavra já foi escolhida dentro do sintagma  . No lugar desta frase, você poderiadizer Este homem é
bastante malandro, mas acabou fazendo algumas escolhas linguísticas dentro do sistema que resultaram na sentença
anterior.
Conceituemos os eixos:
Paradigmático: Diversas possibilidades de se construir uma frase;
Sintagmático: Feito a partir da construção do eixo anterior.
Exemplo: Ao ver uma pessoa muito bonita que mexa com você, diversas palavras e frases passam pela sua cabeça (eixo
paradigmático), mas, quando você for conversar com ela, apenas algumas serão escolhidas para compor tal diálogo (eixo
sintagmático).
Poderíamos pensar nessa dicotomia segundo ditames vetoriais, como o eixo das letras matemáticas x e y:
Sintagma x paradigma 
2
No eixo paradigmático, ocorrem as associações; no sintagmático, as combinações. Isso irá gerar as frases de nossa
língua.
 O Estruturalismo
Três vertentes da pesquisa de Saussure (a linguagem determina o pensamento; a língua enquanto forma, e não substância; e a
ideia negativa) chamaram a atenção de renomados críticos de seu ponto de vista logocêntrico, como Nietzsche e Derrida .3
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Esses pensadores, aliás, almejavam extrapolar os próprios conceitos
saussureanos, radicalizando o movimento linguístico conhecido como
Estruturalismo.
 Estruturalismo
 Clique no botão acima.
Estruturalismo
1. O Estruturalismo Europeu
Ao discorrermos sobre o valor do signo linguístico na aula anterior, postulamos que ele só adquire seu valor dentro do
sistema da língua em oposição a outro. O sistema nomeado por Saussure se chamará estrutura nesse novo
movimento, em que cada elemento dela só adquire valor na sua relação com o todo do qual faz parte.
Esses linguistas descobriram nas ideias inovadoras de Saussure o ponto de partida para desenvolver novos métodos e
teorias, embora o desenvolvimento da Linguística se deva, em grande parte, aos círculos linguísticos desenvolvidos
inicialmente na Rússia.
a) Rússia 
Roman Jakobson reunia os formalistas russos no chamado Círculo Linguístico de Moscou. O Estruturalismo deve
muito de sua teoria à produção deste círculo, apesar da contradição de suas contribuições por conta da ligação entre
Linguística e Poética.
b) Praga
Com a extinção do Círculo Linguístico de Moscou devido a questões políticas no país, criou-se o Círculo Linguístico de
Praga. Formado por Jakobson, Karcevsky e Troubetzkoy (o último foi um dos mais importantes do movimento), este
novo círculo é considerado o verdadeiro e efetivo criador da Fonologia com a publicação de Grundzüge der Phonologie.
Os integrantes da Escola de Praga assinalaram a importância da Fonologia no sistema linguístico, embora a tratassem
juntamente com a poética em seus estudos, assim como ocorria no Círculo Linguístico de Moscou. A Escola de Praga
também de�niu o fonema como uma unidade mínima pertencente ao plano da língua, cujo conceito de traços
distintivos dos fonemas inovou os estudos na área.
c) Copenhague
O Círculo de Copenhague vai marcar o �m da ligação intrínseca entre Linguística e Literatura, dando início a teorias
estritamente voltadas ao sistema de funcionamento da língua, como a Glossemática. Um de seus principais
representantes foi Louis Hjelmslev. Ao lado do linguista Viggo Brøndal, fundou este círculo no ano de 1931. Ambos
foram inspirados pelas ideias de Ferdinand de Saussure.
Essa ligação entre Literatura e Linguística vai se perder no Círculo de Copenhague.
Para categorizar a separação entre os estudos literários e de linguagem, Hjelmslev estabeleceu a oposição entre os
conceitos de denotação e conotação, abrindo caminho para o desenvolvimento do Círculo Linguístico de Viena.
d) Viena
Vemos agora um retorno ao ideário universal da língua, desvinculando-a de qualquer irracionalidade proposta pelos
estudos literários. Dessa forma, uma outra dicotomia passou a �gurar nos estudos linguísticos: a que separa os
enunciados dotados de sentido daqueles desprovidos de um.
No entanto, isso gera a inobservância de vários aspectos importantes na Linguística, como a ambiguidade, o equívoco
etc. Cria-se, então, um ambiente teórico em que a linguagem volta a ser convocada a partir da racionalidade, já
distante dos efeitos românticos da conotação.
2. O Estruturalismo Norte-americano
Franz Boas e Edward Sapir foram os pioneiros nos estudos de descrição das línguas ameríndias nos Estados Unidos.
Elas necessitavam de um método adequado para sua análise, já que não possuíam uma relação próxima com outras
de troncos mais conhecidos, como o latino e o anglo-saxônico. Assim surgiu a teoria estruturalista dentro da
Linguística aplicada em solo norte-americano: seu intuito era oferecer uma metodologia estrutural para análise dos
ameríndios, remontando às primeiras civilizações, cujo arcabouço, totalmente desprovido de escrita, precisava,
portanto, de uma abordagem antropológica e etnológica.
Segundo Boas, toda língua possui uma gramática própria com categorias de descrição apropriadas. In�uenciado por
Franz Boas, seu mestre, Sapir acentuou os estudos dos aspectos sincrônico e formal dos fatos linguísticos, o que o
induziu a constituir a noção de fonema.
No entanto, outro pensador foi considerado o fundador do Estruturalismo Norte-americano. Ao publicar Language, em
1933, Leonard Bloom�eld mostrou que, além de Boas e Sapir, também tinha sido in�uenciado pelas ideias de
Saussure, criando, assim, uma metodologia e uma terminologia na Linguística Descritiva Norte-americana.
Objetivando um maior rigor nos estudos linguísticos, Bloom�eld adotou um enfoque behaviorista em sua análise
linguística, de�nindo a linguagem em termos de respostas a estímulos. Seu estudo estruturalista tinha como objetivo
primordial o estudo da morfologia e da sintaxe sob um ponto de vista estritamente descritivo. Ele deu à frase um lugar
de destaque nas análises linguísticas: agora ela era considerada como uma unidade máxima analisável.
Em suas abordagens, Bloom�eld lançou mão do método de redução, que, da mesma forma que uma análise de
elementos químicos, reduzia a frase em unidades menores até chegar ao morfema. Dessa forma, seu estudo serviu de
parâmetro para os linguistas americanos: eles dispensavam esforços além do comum para realizar uma análise
formal dos fatos linguísticos a �m de ampliar suas ideias e sugestões ou criticar alguns dos procedimentos utilizados
por Bloom�eld.
 O Pós-Estruturalismo
A visão de linguagem dos �lósofos pós-estruturalistas pode,
em algum momento, assustar alguém. Eles são
extremamente radicais quanto a seu propósito: acabar com
qualquer radicalismo na questão da signi�cação dela. A
partir dos estudos de Ludwig Wittgenstein, outros
pensadores (especialmente Jacques Derrida) partiram de
uma premissa radical acerca das palavras, da linguagem
humana e do que ela pode signi�car: não há um ponto de
parada para os signi�cados.
 Ludwig Wittgenstein. Fonte: Wikipedia
O que isso quer dizer?
Atenção
É impossível fazer um inventário, uma lista com palavras e seus signi�cados. De�nitivamente, a abordagem de Wittgenstein sobre
esse tema - vista na aula passada – terá um viés exagerado por parte de Derrida.
Os �lósofos pós-estruturalistas a�rmam que o pensamento representacionista é o retrato de uma sociedade castradora, que
quer evitar a desordem e as revoluções. Se a língua é um acontecimento novo, que se reinventa e inventa mundos (vimos isso
em Vico, você há de se lembrar), como podemos limitá-la? Até o Estruturalismo sofrerá críticas desses pensadores, pois,
mesmo que haja uma evolução em relação aos clássicos, sua visão tanto sobre ela quanto sobre seu funcionamento, segundo
eles, ainda é muito restrita.
 Conceitos wittgensteinianos
 Clique no botão acima.
Conceitos wittgensteinianos
1. Estudos pragmático-discursivos
É neste ponto dos estudos linguísticos dos pós-estruturalistas que visualizamos o corte epistemológico com a ideia
representacionista de linguagem. Suas abordagens apresentarão, a partir de então, um movimentoclaro da
representação para a práxis. Também podemos veri�car na obra Investigações �losó�cas, de Wittgenstein, a recusa a
uma linguagem concebida por estruturas. Tomando como fundamento os estudos pragmático-discursivos de
Wittgenstein, podemos observar uma ruptura muito forte com as ideias vistas nas linhas teóricas anteriores. Técnicas
e vieses novos são incorporados a seu escopo analítico.
Exemplo: Derivas interpretativas, ambiguidades, divergências na interpretação de um mesmo texto e fatos corriqueiros
nos vários casos do cotidiano.
Enquanto uns pensadores a�rmavam que o signi�cado habita a própria palavra, outros defendiam a tese de que nossa
mente já traz uma linguagem própria para desvendar os eventos do mundo. Segundo Wittgenstein, contudo, ele estava
no uso. Já a linguagem, pontuava o �lósofo, não era, ao contrário do que se pensava, portadora de:
Essência;
Estruturas;
Regras prontas;
Regularidade.
Em Investigações �losó�cas, ele a�rma: “Mas então o emprego da palavra não está regulamentado; o jogo que
jogamos com ela não está regulamentado. Ele não está inteiramente limitado por regras; mas também não há
nenhuma regra que prescreva até que altura é permitido lançar a bola nem com quanta força; mas o tênis é um jogo e
tem regras.” (WITTGENSTEIN, 1999, p.53)
Se fôssemos pensar em um episódio no qual duas pessoas, ao lerem um mesmo texto, encontrassem respostas
diferentes para perguntas de interpretação, havendo clara distorção entre as visões de uma mesma obra, a concepção
pragmático-discursiva nos ajudaria a entender que a linguagem, em qualquer forma que se apresente, oral ou escrita,
não possui uma semântica universal, unívoca e verdadeira. Wittgenstein combatia, assim, o reducionismo semântico
apregoado com tanta ênfase por estudiosos de linhas representacionistas, apresentando o ideário de uma linguagem
sem essência, construída por um conjunto não inventariado de práticas.
Desse modo, observa-se não haver uma previsão do que é aceitável na comunicação; portanto, o entendimento não se
dá pela decodi�cação dos símbolos linguísticos presentes em um texto, e sim, postulava o �lósofo, em saber dar o
próximo lance. Lembre-se de que, na aula anterior, estudamos tais jogos.
Como resolver, então, o problema do signi�cado?
Para Wittgenstein, uma frase compreendida não existe em algum lugar, pronta e infalível, pois não há uma forma ideal
de decodi�cação. O ato de compreensão não é tido como algo somente mental: é o próximo lance que de�nirá se o
jogo da linguagem acontece. Em uma comunicação na qual o que está em jogo é um valor de verdade – como no
caso das provas de vestibular –, há a seguinte premissa: a linguagem tem uma �nalidade (acertar a questão). No
entanto, para os pensadores pós-estruturalistas, o resultado (uma resposta de�nitiva ou um gabarito) é
veementemente negado!
Não há uma uniformidade nas letras e nos sons: o que existe é uma bagunça generalizada, pois a linguagem, sob o
ponto de vista da práxis, é tida como forma de vida para Wittgenstein. Não há uma bula com todas as instruções
possíveis para se viver: “Um ideal de exatidão não está previsto; não sabemos o que devemos nos representar por isso
– a menos que você mesmo estabeleça o que deve ser assim chamado. Mas ser-lhe-á difícil encontrar tal
determinação; uma que o satisfaça”. (WITTGENSTEIN, 1999, p. 61)
Ainda contra a sua rei�cação (ou seja, diminuição), no que concerne à busca por um signi�cado ideal, o �lósofo frisava
que “é preciso não esquecer que o jogo da linguagem é dizer o imprevisível, isto é: não se baseia em fundamentos. Não
é razoável (ou irrazoável). Está aí como a nossa vida”. (WITTGENSTEIN, 1990, p. 599)
2. Uma visão derridiana
Obviamente alguém poderia pensar ou dizer: “Mas é claro que a interpretação correta de um texto é aquela presente na
mente do autor”. Voltaríamos, dessa forma, à ideia de uma verdade preexistente e uma semântica universal,
paci�cando todo e qualquer acidente de percurso no campo do signi�cado. São objetos de crítica de Jaques Derrida
tanto esse sujeito consciente de si quanto a trivialização de uma linguagem ordinária.
Derrida promove a radicalização da crítica ao que ele chama de Logocentrismo: a tendência de localizar a
linguagem no logos, fazendo prevalecer o signi�cado sobre o signi�cante.
Ao opor ao logocentrismo o jogo livre dos signi�cantes, o �lósofo argelino subtrai a ideia de que o ponto de parada da
linguagem seja o signi�cado, ilustrando a potência demiúrgica dela. A cada uso, é testada a sua capacidade de criar e
recriar regras, mundos e signi�cados.
A linguagem tem o poder de criar a si mesma e outros mundos, mas não o de representar um mundo exterior a ela.
O conceito derridiano de diferença (do francês differance) nos remete a sempre protelar ou adiar esse ponto de parada,
como um signi�cante que, em vez de levar até um signi�cado natural, fruto de uma essência, envia-nos a outro
signi�cante – e este a outro, em uma cadeia sucessiva. Derrida, bem como os pós-estruturalistas em geral, voltam-se
contra o modelo de estabilidade da linguagem, pois isso indicaria que, dentro do sistema, haveria uma verdade. O
�lósofo não acreditava na existência de uma interpretação mais correta ou incorreta do autor de um texto exatamente
por não haver uma essência única por trás dele. Ela, defendia Derrida, deve ser decodi�cada para que se possa
compreender o seu sentido unívoco. Sob a ótica derridiana, ela não diz o que é: ela faz ser o que diz.
Nos estudos estruturalistas sobre a linguagem, observamos uma importância dada ao contexto e ao querer dizer do
emissor. O �lósofo também criticava esses ideários, pois, para ele, o contexto não paci�ca o problema do signi�cado,
não sendo, assim, o seu ponto de parada:
“[...] esta ausência essencial da intenção na atualidade do enunciado, esta inconsciência estrutural, se preferir, interdiz
qualquer saturação do contexto. Para que um contexto seja exaustivamente determinável no sentido requerido por
Austin, seria necessário que pelo menos a intenção consciente fosse totalmente presente e atualmente transparente a
si própria e aos outros, na medida em que constitui um foco determinante do contexto. O conceito ou a petição do
“contexto” parece, portanto, sofrer aqui a mesma incerteza teórica e interessada que o conceito de “vulgar” das
mesmas origens metafísicas: discurso ético e teleológico da consciência.”
(DERRIDA, 1991, p. 369)
 Atividade
1. Assinale a opção que não apresenta uma dicotomia saussureana:
a) Sincronia x diacronia
b) Língua x fala
c) Sintagma x paradigma
d) Sentido x referência
e) Significante x significado
2. O que proporcionou à língua ser um objeto de estudo cientí�co foi a criação da Linguística por Saussure, além de:
a) A definição de língua como um sistema, com estruturas próprias.
b) A definição de língua como um elemento individual, mutável.
c) A escolha por estudar a fala como objeto da Linguística.
d) As possibilidades de se ver a língua como um elemento de interpretação e representação do mundo.
e) Nenhuma das respostas anteriores.
3. Sobre o Estruturalismo, podemos a�rmar que:
I. O desenvolvimento da Linguística na Europa se deve bastante aos círculos linguísticos inicialmente na Rússia, por
iniciativa de Roman Jakobson, o qual reunia os formalistas russos no chamado Círculo Linguístico de Moscou.
II. Os integrantes da Escola de Praga assinalaram a importância da Fonologia no sistema da língua, embora a tratassem em
conjunto com a poética em seus estudos.
III. Leonard Bloom�eld, com a publicação do livro Language, de 1933, foi considerado o fundador do Estruturalismo Norte-
americano, que, além de Boas e Sapir, teve presentes as ideias de Saussure, criando, assim, uma metodologia e uma
terminologia na Linguística Descritiva Norte-americana.
Estão corretas as alternativas:
a) I e II
b) II e III
c) I, II e III
d) III
e) Nenhuma das opções
4. Entre os �lósofos mais destacados do Pós-estruturalismo, no que concerneaos estudos da linguagem, podemos citar,
exceto:
a) Jacques Derrida
b) Roland Barthes
c) Gilles Deleuze
d) Guattarri
e) Ferdinand de Saussure
5. Derrida é um pensador pós-estruturalista, possuindo diversas obras que discorrem sobre a linguagem. Ele criou conceitos
brilhantes, como o da differance, que sugere:
a) Protelar e adiar o ponto de parada do significado, pois não existe apenas um sentido pronto para uma palavra, já que ela se recria a
cada momento.
b) Encontrar sempre o significado perfeito para cada palavra de nossa língua.
c) Assumir que não existe nenhum significado que sirva para uma palavra, pois a linguagem humana é incompreensível e vivemos em um
abismo.
d) Renunciar à linguagem, adotando o silêncio como única forma capaz de expressar o mundo.
e) Lutar pela igualdade entre os significados da língua.
Notas
Coisas existentes à nossa volta possuam nome próprio 1
Na primeira aula deste curso, abordamos essa ideia no estudo da obra Crátilo, de Platão.
Sintagma 2
Sintagma nada mais é do que a materialização das milhões de palavras que você pensa.
Derrida 3
Jacques Derrida, no entanto, discordava da suposição de Saussure de que a língua existiria em algum lugar da mente.
Referências
DERRIDA, J. A solidariedade dos seres vivos: entrevista com Jacques Derrida. In: Scribd. Disponível em: https://pt.scribd.com
/document/199678183/A-Solidariedade-Dos-Seres-Vivos. Acesso em: 20 mai. 2019.
DERRIDA, J. Assinatura, acontecimento, contexto. In: Margens da �loso�a. Campinas: Papirus, 1991.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1971.
WITTGENSTEIN, L. Da certeza. Lisboa: Edições 70, 1990.
WITTGENSTEIN, L. Investigações �losó�cas. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
Próxima aula
A análise linguística com foco nos processos subjetivos;
O primado da psicanálise como manifestação linguística;
Os estudos de Lacan.
Explore mais
Assista ao vídeo:
Assista a este vídeo sobre o ideário pós-estruturalista.

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