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Os tecidos do sistema imunológico consistem nos órgãos linfoides geradores (também chamados primários ou centrais), nos quais os linfócitos T e B amadurecem e tornam-se competentes para responder aos antígenos, e os periféricos (ou secundários), nos quais são iniciadas as respostas imunológicas adaptativas contra os microrganismos. Os principais órgãos linfoides geradores são o timo, onde as células T se desenvolvem, e a medula óssea, o local de produção de todas as células do sangue e onde os linfócitos B amadurecem. Os órgãos linfoides periféricos – linfonodos, baço e os tecidos linfoides da mucosa e cutâneos – são organizados para concentrar antígenos, células apresentadoras de antígenos e linfócitos, de forma que sejam otimizadas as interações entre essas células e o desenvolvimento das respostas imunológicas adaptativas. Dentro dos órgãos linfoides periféricos, os linfócitos T e os linfócitos B são segregados em diferentes regiões. São agregados nodulares de tecido linfoide localizados ao longo dos canais linfáticos por todo o corpo. À medida que a linfa se espalha lentamente pelos linfonodos, as células apresentadoras de antígenos nos linfonodos são capazes de apresentar os antígenos dos microrganismos que entram nos tecidos através dos epitélios e são carregados na linfa. Além disso, as células dendríticas pegam e transportam os antígenos dos microrganismos dos epitélios e tecidos, por meio dos vasos linfáticos, para os linfonodos. Desse modo, os antígenos dos microrganismos que entram através dos epitélios ou colonizam tecidos se concentram nos linfonodos de drenagem. É um órgão abdominal que cumpre, nas respostas imunológicas contra antígenos provenientes do sangue, o mesmo papel dos linfonodos nas respostas a antígenos provenientes da linfa. O sangue que entra no baço circula através de uma rede de sinusoides. Os antígenos provenientes do sangue são capturados pelas células dendríticas e macrófagos no baço. Estão localizados sob os epitélios da pele e dos tratos gastrointestinal e respiratório, respectivamente. Eles respondem aos antígenos que entram através de fendas no epitélio. As tonsilas faríngeas e as placas de Peyer do intestino são dois tecidos linfoides de mucosas anatomicamente definidos. Em qualquer momento, mais da metade dos linfócitos do corpo estão nas mucosas (refletindo a grande dimensão destes tecidos) e muitos deles são células de memória. Os linfócitos T concentram-se no paracórtex, adjacente aos folículos. Os folículos contêm as células dendríticas foliculares, envolvidas na ativação das células B, e o paracórtex contém as células dendríticas que apresentam os antígenos aos linfócitos T. No baço, os linfócitos T concentram-se nas bainhas linfoides periarteriolares, em torno de pequenas arteríolas, e as células B residem nos folículos. Existem três grandes populações de células T que apresentam funções distintas. Linfócitos T auxiliares estimulam a produção de anticorpos pelos linfócitos B e ativam outros leucócitos (p. ex., fagócitos) para destruírem microrganismos; linfócitos T citotóxicos (CTLs) matam células infectadas; e linfócitos T reguladores limitam as respostas imunológicas e evitam reações contra autoantígenos. Os linfócitos T desenvolvem-se no timo a partir de precursores que se originam de células-tronco hematopoiéticas. Células T maduras são encontradas no sangue, onde constituem 60% a 70% dos linfócitos, e nas zonas de células T dos órgãos linfoides periféricos (descritos posteriormente). Cada célula T reconhece um antígeno ligado a célula específico por meio de um TCR antígeno-específico. O TCR αβ reconhece antígenos peptídicos que são apresentados pelas moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) nas superfícies das células apresentadoras de antígenos. Limitando a especificidade das células T para os peptídios apresentados pelas moléculas do MHC da superfície celular, a chamada restrição do MHC, o sistema imunológico assegura que as células T vejam apenas antígenos associados a células (p. ex., aqueles derivados de microrganismos nas células ou de proteínas ingeridas pelas células). Outro pequeno subconjunto de células T expressa marcadores que também são encontrados em células NK; essas células são chamadas de células T NK. As células T NK expressam uma diversidade muito limitada de TCRs e reconhecem glicolipídios exibidos pela molécula MHC-símile CD1. As funções das células T NK também não estão bem definidas. As proteínas CD4 e CD8 são expressas em dois subconjuntos mutuamente excludentes de células T αβ. A maioria das células T CD4+ funciona como células auxiliares secretoras de citocina, as quais auxiliam os macrófagos e linfócitos B a combater infecções. A maioria das células CD8+ funciona como linfócitos T (CTLs) citotóxicos (killer) destruindo as células hospedeiras que abrigam os microrganismos. As proteínas CD4 e CD8 atuam como correceptores na ativação das células T e são chamadas assim porque reconhecem uma parte do mesmo ligante que o receptor do antígeno visualiza. Durante o reconhecimento antigênico, as moléculas CD4 ligam-se a moléculas do MHC classe II que estão apresentando os antígenos (Fig. 6-5), as moléculas CD8 ligam-se a moléculas do MHC classe I, e os correceptores CD4 ou CD8 iniciam a sinalização necessária para a ativação das células T. Em razão dessa necessidade de correceptores, as células T auxiliares CD4+ podem reconhecer e responder ao antígeno apresentado somente por moléculas do MHC classe II, enquanto as células T citotóxicas CD8+ reconhecem antígenos ligados a células somente em associação a moléculas do MHC classe I; essa segregação será descrita posteriormente. As integrinas são moléculas de adesão que promovem a adesão das células T aos APCs. Para responder, as células T têm de reconhecer não somente os complexos antígeno-MHC, mas sinais adicionais fornecidos pelas células apresentadoras de antígenos. Esse processo, no qual o CD28 possui um importante papel. Nos linfonodos, os linfócitos B concentram-se em estruturas distintas, chamadas folículos, localizadas em torno da periferia ou córtex de cada linfonodo. Se as células B em um folículo tiverem respondido recentemente a um antígeno, esse folículo encerrará uma região central chamada centro germinativo. Os linfócitos B são as únicas células do corpo capazes de produzir moléculas de anticorpos, os mediadores da imunidade humoral. Os linfócitos B desenvolvem-se a partir de precursores na medula óssea. As células B maduras constituem 10% a 20% da população de linfócitos periféricos circulantes e também estão presentes nos tecidos linfoides periféricos, como os linfonodos, o baço e os tecidos linfoides associados à mucosa. As células B reconhecem o antígeno através do complexo receptor de antígenos das células B. Anticorpos ligados à membrana dos isotipos IgM e IgD, presentes na superfície de todas as células B maduras, naive, são o componente ligado ao antígeno do complexo receptor das células B. Após a estimulação pelo antígeno e outros sinais (ver adiante), as células B transformam-se em plasmócitos, verdadeiras fábricas de proteína para anticorpos. Estima- se que um único plasmócito possa secretar entre centenas e milhares de moléculas de anticorpos por segundo, uma medida impressionante do poder da resposta imunológica para combater os patógenos. As células secretoras de anticorpos também são detectadas no sangue periférico humano; essas são chamadas de plasmablastos. Além da Ig de membrana, o complexo receptor de antígeno das células B contém um heterodímero de duas proteínas invariáveis, Igα e Igβ. Da mesma forma que as proteínas CD3 e ζ do complexo TCR, Igα (CD79a) e Igβ (CD79b) são essenciais para a transdução de sinal através do receptor antigênico. As células B também expressam muitas outrasmoléculas essenciais para suas respostas. Essas incluem o receptor do complemento tipo 2 (CR2 ou CD21), que reconhece os produtos do complemento gerados durante as respostas imunológicas inatas aos microrganismos, e o CD40, que recebe sinais de células T auxiliares. O CR2 também é utilizado para o vírus Epstein-Barr (EBV) como um receptor para entrar e infectar as células B. O tecido linfoide é o tecido presente no Sistema Imune, responsável pela defesa do nosso organismo. Ele está presente nos linfonodos, no baço, no timo e em alguns outros locais também. Já o tecido mieloide está presente na medula óssea, aonde são produzidas as células do sangue, como as hemácias e os linfócitos e leucócitos. Importante ressaltar que muitas células do tecido linfoide são na verdade produzidas pelo tecido mieloide. Tradicionalmente, os componentes do sistema hematopoiético têm sido divididos em tecidos mieloides, que incluem a medula óssea e as respectivas células derivadas (p. ex., hemácias, plaquetas, granulócitos e monócitos), bem como os tecidos linfoides, consistentes em timo, linfonodos e baço. É importante reconhecer, contudo, que essa subdivisão não leva em consideração a fisiologia normal das células hematopoiéticas e as doenças que as afetam. Por exemplo, embora a medula óssea contenha relativamente poucos linfócitos, é a fonte de todas as células progenitoras linfoides e o abrigo de plasmócitos de vida longa e linfócitos de memória. De forma similar, os distúrbios neoplásicos das células progenitoras mieloides (leucemias mieloides) têm origem na medula óssea, mas, secundariamente, acometem o baço e (em menor grau) os linfonodos. Alguns distúrbios de hemácias resultam da formação de autoanticorpos, o que significa alteração primária de linfócitos. Portanto, não é possível estabelecer limites nítidos entre as doenças que envolvem os tecidos mieloides e linfoides. Progenitores das células sanguíneas aparecem pela primeira vez durante a terceira semana de desenvolvimento embrionário no saco vitelino. Células derivadas do saco vitelino são a fonte dos macrófagos teciduais de vida longa, mas a contribuição do saco vitelino para a formação do sangue, principalmente sob a forma de glóbulos vermelhos embrionários, é apenas transitória. Células-tronco hematopoiéticas definitivas (CTHs) surgem algumas semanas depois, no mesoderma da região intraembrionária da aorta/gônada/mesonéfron. Durante o terceiro mês da embriogênese, as CTHs migram para o fígado, que se torna o principal local da formação de células sanguíneas, até pouco antes do nascimento. As CTHs também fixam residência na placenta fetal; esse conjunto de CTHs é de relevância fisiológica incerta, mas assumiu importância clínica substancial, já que as CTHs colhidas ao nascimento do sangue do cordão umbilical estão sendo cada vez mais utilizadas no transplante terapêutico de células-tronco hematopoiéticas. No quarto mês do desenvolvimento, as CTHs começam a mudar de localização novamente, dessa vez para a medula óssea. No nascimento, a medula ao longo do esqueleto é hematopoieticamente ativa, enquanto a hematopoiese hepática se reduz ao mínimo, persistindo apenas em focos amplamente espalhados que se tornam inativos logo após o nascimento. Até a puberdade, a medula hematopoieticamente ativa é encontrada por todo o esqueleto, mas, logo em seguida, torna-se restrita ao esqueleto axial. Portanto, em adultos normais, apenas aproximadamente metade do espaço da medula é hematopoieticamente ativa. Os elementos figurados do sangue — hemácias, granulócitos, monócitos, plaquetas e linfócitos — têm origem nas CTHs, células pluripotentes que se situam no topo da hierarquia dos progenitores da medula óssea. As CTHs dão origem a vários tipos de células progenitoras precoces com potencial de diferenciação restrita, de tal modo que, em última análise, produzam principalmente células mieloides ou linfoides. Esses progenitores precoces, por sua vez, dão origem a progenitores que são mais restritos à diferenciação ao longo de linhagens particulares. Essas células são chamadas de unidades formadoras de colônias (UFCs), pois dão origem às colônias compostas de tipos específicos de células maduras quando crescidas em cultura. Dos vários progenitores comprometidos com a diferenciação celular, derivam- se os precursores morfologicamente reconhecíveis, tais como mieloblastos, pró- eritroblastos e megacarioblastos, que, por sua vez, darão origem, respectivamente, a granulócitos maduros, hemácias e plaquetas. As CTHs apresentam duas propriedades essenciais que são necessárias à manutenção da hematopoiese: pluripotência e capacidade de autorrenovação. A pluripotência refere-se à capacidade de uma única CTH gerar todas as células hematopoiéticas maduras. Quando uma CTH se divide, ao menos uma célula-filha deve autorrenovar-se para evitar a depleção de células-tronco. Divisões de autorrenovação ocorrem no interior de um nicho especializado da medula, na qual as células do estroma e os fatores secretados nutrem e mantêm as CTHs. A resposta medular de curta duração diante das necessidades fisiológicas é regulada por fatores de crescimento hematopoiéticos através de efeitos nos progenitores comprometidos. Tendo em vista que os elementos sanguíneos maduros são células diferenciadas terminais com tempo de vida finito, seus números devem ser constantemente repostos. De acordo com os modelos atuais de hematopoiese, algumas divisões de CTHs dão origem a células referidas como progenitoras multipotentes, que têm maior capacidade de proliferação do que as CTHs, porém apresentam menor capacidade de autorrenovação. A divisão de progenitores multipotentes dá origem a pelo menos uma célula-filha, que deixa o nicho de células-tronco e começa a se diferenciar. No entanto, uma vez que essas células progenitoras se diferenciam, também começam a se proliferar mais rapidamente em resposta aos fatores de crescimento, expandindo-se em número. Alguns fatores de crescimento, como, por exemplo, o fator de células-tronco (também chamado de ligante do c-KIT) e o ligante-FLT3 atuam sobre os progenitores precocemente comprometidos. Outros, como a eritropoietina, o fator estimulante das colônias de macrófagos e granulócitos (GM-CSF), G-CSF e a trombopoietina, atuam por meio de receptores que só se expressam em progenitores comprometidos com potenciais de diferenciação mais restritos. Os mecanismos de retroalimentação mediados pelos fatores de crescimento harmonizam a produção na medula, permitindo que os números de elementos figurados do sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas) sejam mantidos dentro dos limites apropriados. Muitas doenças alteram a produção das células sanguíneas. A medula é a principal fonte de todas as células do sistema imune inato e adaptativo, e responde aos desafios infecciosos ou inflamatórios aumentando a produção de granulócitos induzida pelos fatores de crescimento e citocinas. Por outro lado, outros distúrbios estão associados a defeitos na hematopoiese que levam às deficiências de um ou mais tipos de células sanguíneas. Os tumores primários das células hematopoiéticas estão entre as doenças mais importantes que interferem na função da medula, mas doenças genéticas específicas, infecções, tóxicos e deficiências nutricionais, assim como inflamações crônicas de qualquer origem, também podem diminuir a produção de células sanguíneas pela medula. Com frequência, tumores de origem hematopoiética são associados às mutações que bloqueiam a maturação de células progenitoras ou anulam sua dependência do fator de crescimento. O efeito final dessas alterações é uma expansão clonal desregulada dos elementos hematopoiéticos, que substituem os progenitores normais da medula e costumam disseminar-se para outros tecidos hematopoiéticos. Emalguns casos, esses tumores têm origem nas CTHs transformadas, que retêm a capacidade de diferenciação em múltiplas linhagens, enquanto, em outros casos, a origem é em um progenitor mais diferenciado que adquiriu capacidade anormal para a autorrenovação. Clinicamente, as neoplasias malignas constituem os distúrbios mais importantes dos leucócitos. Essas doenças podem ser divididas em várias categorias amplas: Incluem um grupo diversificado de tumores originados de células B, células T e células NK. Em muitos casos, o fenótipo da célula neoplásica é bastante semelhante àquele observado em uma etapa particular da diferenciação normal do linfócito, aspecto utilizado no diagnóstico e na classificação dessas doenças. Originam-se a partir de progenitores hematopoiéticos. Três categorias de neoplasias mieloides são reconhecidas: leucemias mieloides agudas, em que as células progenitoras imaturas se acumulam na medula óssea; síndromes mielodisplásicas, que são associadas à hematopoiese ineficaz e resultam em citopenias no sangue periférico; e os distúrbios mieloproliferativos crônicos, em que a produção aumentada de um ou mais elementos mieloides em etapa terminal de diferenciação (p. ex., granulócitos) geralmente resulta em contagens elevadas no sangue periférico. São lesões proliferativas incomuns de macrófagos e células dendríticas. Embora o termo “histiócito” (literalmente, “célula tecidual”) seja morfologicamente arcaico, ainda é empregado com frequência. Um tipo especial de célula dendrítica imatura, a célula de Langerhans, dá origem a um grupo de distúrbios neoplásicos, referido como histiocitose de células de Langerhans. Leucemias e linfomas são neoplasias da linhagem linfohematopoiética, que são todas as células progenitoras que dão origem às células maduras do sangue e às células do sistema imunológico, que incluem os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas. A proliferação destes precursores ocorre na medula óssea, linfonodos, baço e outros órgãos do sistema imune. Os linfomas são doenças semelhantes, exceto que a célula que sofre as mutações é mais madura do que os precursores acometidos no caso das leucemias agudas. Com isso, a proliferação não será de células indiferenciadas, mas sim de linfócitos maduros. No entanto, por derivarem de um único clone, e por apresentarem alterações funcionais, elas deixam de exercer sua função normal na defesa, além de crescerem de forma descontrolada. Por este motivo, o quadro clínico dos linfomas costuma ser o de crescimento anormal de linfonodos (gânglios), ou de outros locais onde existem células linfoides (baço, fígado ou outros órgãos). Em relação aos linfomas, a principal subdivisão é entre os Linfomas de Hodgkin e não Hodgkin, que é feita pela presença ou ausência de um tipo de célula nas biópsias dos pacientes. Embora a manifestação clínica destes dois subtipos de linfoma seja relativamente parecida, o tratamento é feito com esquemas diferentes de quimioterapia, o que ilustra a importância desta elucidação diagnóstica. Uma classificação igualmente importante do ponto de vista clínico é entre os linfomas indolentes e agressivos. Conforme o subtipo de linfoma não Hodgkin, a proliferação clonal ocorre de forma mais ou menos rápida (agressivos ou indolentes respectivamente), o que modifica drasticamente o tratamento. No caso dos linfomas agressivos, o tratamento baseia-se em quimioterapia e imunoterapia com o objetivo de erradicação completa da doença. Em alguns casos, o transplante de medula óssea pode ser utilizado. Já nos linfomas indolentes, o tratamento tem como objetivo o controle dos sintomas, na medida em que o crescimento mais lento em geral não ameaça a vida do paciente. Por estes motivos, muitos pacientes com estes subtipos de linfoma não apresentam sequer necessidade de tratamento. O tecido linfohematopoiético é um dos tecidos com maior taxa de proliferação de nosso corpo, com produção de bilhões de novas células por dia. Um processo desta escala precisa ser controlado de forma muito fina para que erros de produção sejam identificados e eliminados. Infelizmente, este “controle de qualidade” não é completamente isento de falhas, e muito raramente, defeitos nestes precursores passam desapercebidos e são incorporados ao tecido linfohematopoiético. Quando estes defeitos levam a redução na capacidade de produção, a consequência pode ser imperceptível ou ainda ser apenas de uma redução nas contagens normais das células do sangue. No entanto, quando estes defeitos impedem o amadurecimento destes precursores (“diferenciação”) pode-se ter uma consequência mais dramática, que é a substituição gradual do tecido normal pelo tecido indiferenciado. Tal substituição decorre do fato de que o clone (nome dado a todas as células que se originam de um mesmo precursor) indiferenciado costuma proliferar mais facilmente que o clone normal. Com o tempo, este paciente evoluirá para um quadro clínico caracterizado pelo acúmulo de células indiferenciadas (que chamamos de blastos), e ausência de células maduras – leucócitos, hemácias e plaquetas – que resultará em maior risco de infecções, anemia e sangramentos respectivamente. A este quadro clínico damos o nome de leucemia aguda. As leucemias se dividem em agudas e crônicas, e em mieloides ou linfoides. As agudas são aquelas em que há um bloqueio completo da maturação das células do sangue, de modo que as células indiferenciadas (blastos) predominas no sangue do paciente. A diferença entre leucemia aguda mieloide ou linfoide exige a avaliação laboratorial mais detalhada destes blastos, para que se saiba se a origem do clone com as mutações é de um precursor que daria origem a linfócitos ou a células da linhagem mieloide (hemácias, plaquetas, neutrófilos, entre outros). As leucemias crônicas podem ser definidas como aquelas em que não há a perda da capacidade de maturação das células, mas sim a perda do controle de proliferação das mesmas. Desta forma, teremos um quadro clínico caracterizado pelo acúmulo de células maduras, com função relativamente preservada. No caso da leucemia mieloide crônica, observamos um acúmulo de praticamente todas as células de linhagem mieloide, em quantidade muito superior ao usual. No caso da leucemia linfoide crônica, temos na verdade a proliferação de linfócitos maduros na medula óssea, que circulam em número acima do normal Ocasionalmente, muitas entidades denominadas “linfomas” têm manifestações leucêmicas, e a evolução para “leucemia” não é incomum durante a progressão de “linfomas” incuráveis. Por outro lado, tumores idênticos às “leucemias” algumas vezes têm origem como massas em partes moles não acompanhadas por doença na medula óssea. Portanto, quando aplicados às neoplasias particulares, os termos leucemia e linfoma refletem meramente a habitual distribuição tecidual de cada doença à apresentação. No grande grupo de linfomas, o linfoma de Hodgkin é segregado de todas as outras formas, que constituem os linfomas não Hodgkin (LNHs). O linfoma de Hodgkin apresenta aspectos patológicos característicos e é tratado de modo único. Outro grupo especial de tumores de células B, que difere da maioria dos linfomas, são as neoplasias de plasmócitos. Essas neoplasias surgem com maior frequência na medula óssea e raramente comprometem os linfonodos ou o sangue periférico. Em conjunto, as várias neoplasias linfoides constituem um grupo complexo e clinicamente importante de cânceres. Muitas vezes, a manifestação clínica das várias neoplasias linfoides é determinada pela distribuição anatômica da doença. Dois terços dos LNHs e, virtualmente, todos os linfomas de Hodgkin se apresentam como linfonodos aumentados não sensíveis (com frequência, > 2 cm). O terço restante dos LNHs se manifesta por meio de sintomas relacionados aoacometimento de sítios extranodais (p. ex., pele, estômago ou cérebro). Com frequência, as leucemias linfocíticas recebem maior atenção por causa dos sinais e sintomas relacionados à supressão da hematopoiese normal causada pelas células tumorais na medula óssea. Finalmente, a neoplasia de plasmócitos mais comum, o mieloma múltiplo, causa destruição óssea do esqueleto e, com frequência, manifesta-se com dor devido às fraturas patológicas. Outros sintomas relacionados a tumores linfoides são frequentemente causados por proteínas secretadas a partir das células tumorais ou das células imunológicas em resposta ao tumor. Os exemplos específicos incluem neoplasias de plasmócitos, em que a maior parte da patofisiologia está relacionada com a secreção de anticorpos completos ou fragmentos de Ig; o linfoma de Hodgkin, que, frequentemente, está associado com febre relacionada à liberação de citocinas por células inflamatórias em resposta às células tumorais; e os linfomas de células-T periféricas, tumores de células T funcionais, que, em geral, libertam uma quantidade de citocinas e quimiocinas inflamatórias. O atual esquema de classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS) (Tabela 13-4) utiliza aspectos morfológicos, imunofenotípicos, genotípicos e clínicos para classificar as neoplasias linfoides em cinco categorias gerais, separadas de acordo com a célula de origem: 1. Neoplasias de células B precursoras (neoplasias de células B imaturas). 2. Neoplasias de células B periféricas (neoplasias de células B maduras). 3. Neoplasias de células T precursoras (neoplasias de células T imaturas). 4. Neoplasias de células T e de células NK periféricas (neoplasias de células T e células NK maduras). 5. Linfoma de Hodgkin (neoplasias de células de Reed-Sternberg e suas variantes). A neoplasia linfoide pode ser suspeitada a partir dos aspectos clínicos, mas o exame histológico dos linfonodos ou de outros tecidos envolvidos é necessário ao diagnóstico. Na maioria das neoplasias linfoides, o rearranjo do gene receptor de antígeno precede a transformação; portanto, todas as células-filhas derivadas do progenitor maligno compartilham a mesma configuração e sequência gênica do receptor de antígeno e sintetizam proteínas do receptor de antígeno idênticas (tanto Igs quanto receptores de células T). Em contraste, as respostas imunes normais compreendem populações policlonais de linfócitos que expressam muitos receptores antigênicos diferentes. Portanto, é possível usar a análise dos genes do receptor de antígeno e de seus produtos proteicos para distinguir as proliferações linfoides reativas (policlonais) das malignas (monoclonais). Além disso, cada rearranjo gênico do receptor de antígeno produz uma sequência de DNA única que constitui um marcador clonal altamente específico, o qual pode ser utilizado para detectar pequenos números de células linfoides malignas residuais após a terapia. A maior parte das neoplasias linfoides se assemelha a alguma etapa reconhecível de diferenciação de células B ou T, um aspecto utilizado em sua classificação. A maioria (85% a 90%) das neoplasias linfoides deriva de células B, com as demais sendo tumores de células T; raramente são encontrados tumores de células NK. Com frequência, as neoplasias linfoides estão associadas a alterações imunológicas. Tanto a perda de imunidade protetora (suscetibilidade à infecção) quanto a quebra da tolerância imunológica (autoimunidade) podem ser observadas, algumas vezes no mesmo paciente. Em uma condição mais irônica, indivíduos com imunodeficiência hereditária ou adquirida apresentam alto risco de desenvolver certas neoplasias linfoides, especialmente aquelas causadas por vírus oncogênicos (p. ex., EBV). Células neoplásicas T e B tendem a recapitular o comportamento das células normais. Como os linfócitos normais, as células neoplásicas B e T se alojam em certos sítios teciduais, conduzindo a padrões característicos de comprometimento. Por exemplo, os linfomas foliculares residem em centros germinativos nos linfonodos, enquanto os linfomas cutâneos de células T se alojam na pele. Como ocorre nas células normais, moléculas de adesão e receptores de quimiocinas específicos governam o homing das células linfoides neoplásicas. Números variáveis de células linfoides neoplásicas B e T também recirculam através dos vasos linfáticos e do sangue periférico para sítios distantes; como resultado, grande parte dos tumores linfoides é amplamente disseminada ao diagnóstico. Exceções notáveis a essa regra incluem os linfomas de Hodgkin, que, algumas vezes, são restritos a um grupo de linfonodos, e os linfomas de células B da zona marginal, frequentemente restritos aos sítios de inflamação crônica. O linfoma de Hodgkin se dissemina de forma ordenada, enquanto a maioria das formas de LNH se dissemina amplamente no curso inicial da doença, em padrão menos predizível. Portanto, embora, em geral, o estadiamento do linfoma forneça informação prognóstica útil, é de extrema utilidade na condução da terapia empregada no tratamento do linfoma de Hodgkin. Leucemias linfoblásticas agudas/linfomas linfoblásticos são neoplasias compostas de células B (pré-B) ou T (pré-T) imaturas, as quais são chamadas de linfoblastos. Cerca de 85% são LLAs-B, que, tipicamente, se manifestam como “leucemias” agudas da infância. As LLAs-T, menos comuns, tendem a se apresentar em adolescentes do sexo masculino como “linfomas” tímicos. Há, contudo, considerável sobreposição no comportamento clínico da LLA-B e da LLA-T; por exemplo, em geral, a LLA-B não se apresenta como uma massa na pele ou no osso, e muitas LLAs-T se apresentam com – ou evoluem para – um quadro de leucemia. Por causa das similaridades morfológicas e clínicas, as várias formas de LLA serão consideradas em conjunto. LLA é o câncer mais comum em crianças. Nos Estados Unidos, aproximadamente 2.500 novos casos são diagnosticados a cada ano, a maioria ocorrendo em indivíduos com idade inferior a 15 anos. A LLA é quase três vezes tão comum em brancos quanto em negros e um pouco mais frequente em meninos do que em meninas. Os hispânicos apresentam a maior incidência de qualquer grupo étnico. A incidência máxima da LLA-B ocorre aproximadamente aos 3 anos, talvez porque o número normal de células pré-B na medula óssea (a célula de origem) seja muito maior no início da vida. De modo similar, a incidência máxima da LLA-T é na adolescência, quando o timo alcança tamanho máximo. As LLA-B e -T também ocorrem com menor frequência nos adultos de todas as idades. Deve-se enfatizar que, embora a LLA e a LMA sejam genética e imunofenotipicamente distintas, são clinicamente muito similares. Em ambas, o acúmulo de blastos neoplásicos na medula óssea suprime a hematopoiese normal pela aglomeração física, a competição pelos fatores de crescimento e outros mecanismos pouco compreendidos. Os aspectos comuns e aqueles mais característicos da LLA são os seguintes: • Início repentino e tempestuoso dentro de dias a poucas semanas dos primeiros sintomas. • Sintomas relacionados à depressão funcional da medula, incluindo fadiga decorrente de anemia; febre, refletindo infecções secundárias à neutropenia; e hemorragia decorrente de trombocitopenia. • Efeitos de massa causados pela infiltração neoplásica (que são comuns na LLA), incluindo dor óssea resultante de expansão da medula e infiltração do subperiósteo; linfadenopatia generalizada, esplenomegalia e hepatomegalia; aumento do volume testicular; e, na LLA-T, complicações relacionadas à compressão de grandes vasos e das vias respiratórias no mediastino. • Manifestações do sistema nervoso central, como cefaleia, vômito e paralisia dos nervos, resultantes da disseminação neoplásica meníngea, são mais comuns na LLA.A LLApediátrica é uma das condições de maior sucesso na oncologia. Com a quimioterapia agressiva, cerca de 95% das crianças com LLAobtêm remissão completa e 75% a 85% delas são curadas. Entretanto, apesar desses feitos, a LLA permanece como a principal causa das mortes por câncer em crianças, e apenas 35% a 40% dos adultos são curados. Vários fatores são consistentemente associados a pior prognóstico: (1) idade inferior a 2 anos, principalmente por causa da forte associação entre LLA infantil com translocações envolvendo o gene MLL; (2) apresentação na adolescência ou na idade adulta; e (3) contagem de blastos no sangue periférico superior a 100.000, o que provavelmente reflete carga tumoral elevada. Marcadores prognósticos favoráveis incluem (1) idade entre 2 e 10 anos, (2) baixa contagem de leucócitos, (3) hiperdiploidia, (4) trissomia dos cromossomos 4, 7 e 10, e (5) a presença da t(12; 21). Notavelmente, a detecção molecular de doença residual após a terapia é preditiva de pior resultado tanto em LLA-B quanto em -T e está sendo usada para orientar novos ensaios clínicos. Embora a maior parte das aberrações cromossômicas na LLAaltere a função dos fatores de transcrição, por outro lado, a t(9;22) cria um gene de fusão que codifica uma tirosina-quinase BCR-ABL constitutivamente ativa (descrita, em maior detalhes, na leucemia mieloide crônica). Na LLA-B, a proteína BCR-ABL costuma apresentar tamanho de 190 kDa e tem maior atividade de tirosina- quinase do que a forma de BCR-ABL encontrada na leucemia mieloide crônica, em que a proteína BCR-ABL de 210 kDa é habitualmente observada. O tratamento da LLAt(9; 22)-positiva com inibidores da quinase BCR-ABL, em combinação com a quimioterapia convencional, é altamente eficaz e tem melhorado, de forma significativa, o resultado para esse subtipo molecular de LLA- B em crianças. As perspectivas no caso de adultos com LLA permanecem mais cautelosas, em parte por causa das diferenças na patogênese molecular da LLA em adultos e crianças, mas também porque adultos mais idosos não conseguem tolerar os protocolos de quimioterapia muito intensos que se mostram curativos em crianças. O Linfoma é um tipo de câncer que acomete os linfonodos (gânglios) e o sistema linfático. Pode ser classificado em linfoma de Hodgkin ou não Não-Hodgkin. Os linfomas podem ser indolentes (com evolução lenta) ou agressivos (que, apesar de avançarem rapidamente, respondem melhor à quimioterapia). Os linfomas são neoplasias do sistema imunitário que têm origem, geralmente, em linfócitos, afetando os tecidos linfoides através do desenvolvimento de massas tumorais. Estes tumores aparecem particularmente nos nódulos linfáticos. Os seus sintomas são vários. Inicialmente, pelo aumento de volume de um ou mais nódulos linfáticos sem, todavia, causar dor. Frequentemente, são os gânglios do pescoço, das axilas e das virilhas os primeiros a serem notados. Mais tarde, aparece febre, suores noturnos, prurido, fadiga, perca de apetite, emagrecimento e vómitos. Em situações normais, o aumento dos gânglios linfáticos resulta do aumento e proliferação de células reticulo-endoteliais, assim como da multiplicação de linfócitos. Mas, nos linfomas, é a própria estrutura ganglionar que é destruída por células malignas. Os linfomas dividem-se em linfomas de Hodgkin e de não-Hodgkin. O linfoma de Hodgkin caracteriza-se pela presença das células de Reed-Sternberg, ao passo que os linfomas não-Hodgkin (LNH) são resultado da expansão monoclonal de linfócitos B ou T malignos. No Linfoma de Hodgkin normalmente são afetados os gânglios cervicais ou os mediastínicos. O tumor prolifera de forma ordenada, isto é, de gânglio em gânglio, segundo a disposição da circulação linfática. Nos LNH, podem ser afetados os gânglios cervicais ou os mediastínicos, como ainda os periféricos. Nestes linfomas, nem sempre é previsível a ordem de proliferação do tumor. • Linfoma de Hodgkin: É uma neoplasia derivada de células B do centro germinativo, que possui idade média de diagnóstico 32 anos. Apresenta células gigantes de Reed-Stenberg em grande número, essas células induzem a acumulação de linfócitos, macrófagos e granulócitos reativos, sendo que a ausência dessas células não descarta a doença. Além disso, surgem em um único local e se espalha de maneira previsível, para os grupos de linfonodos contíguos. São diferenciados dos LNHs através da identificação de características patológicas e clínicas incomuns. No início do tratamento, a terapia local pode ser utilizada. É curável na maioria dos casos. • Linfoma Não-Hodgkin: Encontra-se em sítio tecidual específico, mas mostra ampla disseminação do tumor no diagnóstico com poucas exceções, somente terapias sistêmicas são curativas. São encontrados mais na periferia do corpo, com comprometimento extranodal comum. Podem estar associados ao EBV, H. Pylori, Herpes vírus tipo 8 e HIV Nos LNH indolentes, a linfadenopatia costuma ser insidiosa, com períodos alternados de regressão espontânea e crescimento dos gânglios. O paciente pode não se dar conta do aumento linfonodal e acaba demorando para procurar auxílio médico. Nos LNH agressivos, o paciente via de regra se apresenta com massas linfonodais de crescimento rápido, logo percebido por ele. Algumas vezes, um linfoma agressivo surge em um paciente portador prévio de um linfoma indolente, geralmente por uma “transformação neoplásica”. • Linfomas Indolentes: Baixo índice de proliferação celular, células de tamanho pequeno, formação de grandes massas linfonodais, envolvimento frequente de medula óssea e de sítios extranodais. São tumores de baixa agressividade, com sobrevida de anos mesmo sem tratamento específico. Este tipo se deve a alterações na regulação da apoptose, com consequente acúmulo celular. Geralmente é assintomático. Podem ocorrer recidivas, pois não respondem bem a quimioterapia. Requerem acompanhamento a longo prazo. • Linfoma Agressivos: Alto índice de proliferação celular, células grandes, linfonodomegalias localizadas (sintomático). Com alta agressividade, cursando com sobrevida de semanas a meses se não tratados. Predominam as alterações na regulação do ciclo celular, como BCL6 e c-MYC, frequentemente em combinação com as alterações na apoptose. São considerados linfomas de alto grau: o linfoma não- Hodgkin difuso de grandes células B, o linfoma folicular pouco diferenciado (grau 3), o linfoma de células do manto, o linfoma de células T periférico, o linfoma de grandes células anaplásico e o linfoma de Burkitt. Reagem bem a quimioterapia e possuem alta chance de cura. O linfoma folicular é a forma mais comum de LNH indolente, acometendo cerca de 15 mil a 20 mil indivíduos ao ano. Em geral, apresenta-se na meia-idade e atinge igualmente homens e mulheres. • Patogênese: O tumor, de modo previsível, tem origem nas células B do centro germinativo e é fortemente associado às translocações cromossômicas que envolvem o BCL2. O BCL2 antagoniza a apoptose e promove a sobrevivência de células do linfoma folicular. Nitidamente, enquanto os centros germinativos normais contêm numerosas células B que sofrem apoptose, o linfoma folicular é caracteristicamente desprovido de células apoptóticas. O minucioso sequenciamento de genomas do linfoma folicular também identificou mutações no gene MLL2 em cerca de 90% dos casos. O MLL2 codifica uma histona metiltransferase que regula a expressão gênica, o que sugere que alterações epigenéticas desempenhem importante papel nessa neoplasia; no entanto, o significado funcional de mutações MLL2 ainda não foi definido. Particularmente no início da doença, as células do linfoma folicular em crescimento nos linfonodos são encontradas dentro de uma rede de células dendríticas foliculares reativas em meio a macrófagos e células T. Estudos doperfil de expressão apontaram que as diferenças nos genes expressos por essas células reativas são preditivas da evolução, o que significa que, de alguma forma, a resposta das células do linfoma folicular à terapia é influenciada pelo microambiente circundante. • Imunofenotipo: As células neoplásicas se assemelham muito às células B normais do centro germinativo, expressando CD19, CD20, CD10, Ig de superfície e BCL6. Ao contrário da LLC/LLP e do linfoma das células do manto, o CD5 não é expresso. O BCL2 é expresso em mais de 90% dos casos, diferentemente das células B normais do centro folicular, que são BCL2- negativas. • Quadro Clínico: O linfoma folicular tende a se manifestar com linfadenopatia generalizada e indolor. Embora incurável, em geral segue um curso indolente de crescimento e regressão. A sobrevida (média de 7 a 9 anos) não melhora com a terapia agressiva; portanto, a abordagem habitual consiste em aliviar os pacientes com baixas doses de quimioterapia ou imunoterapia (tais como anticorpo anti-CD20) quando se tornam sintomáticos. A transformação histológica ocorre em 30% a 50% dos linfomas foliculares, com maior frequência para o linfoma difuso de grandes células B. Com menos frequência, tumores semelhantes ao linfoma de Burkitt surgem quando associados a translocações cromossômicas envolvendo o MYC. Assim como as células B normais do centro germinativo, os linfomas foliculares também apresentam hipermutação somática, a qual pode promover transformação por meio de mutações pontuais ou aberrações cromossômicas. A sobrevida média é inferior a 1 ano após a transformação. O linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) é a forma mais comum de LNH. A idade média do paciente é de 60 anos, mas o LDGCB também ocorre em adultos jovens e crianças. • Patogênese: Estudos citogenéticos, do perfil de expressão gênica e imunoistoquímicos indicam que o LDGCB é heterogêneo. Um evento patogênico frequente é a desregulação de BCL6, um repressor transcricional zinc-finger de ligação ao DNA requerido para a formação de centros germinativos normais. Aproximadamente 30% dos LDGCBs contêm várias translocações que têm em comum um ponto de quebra no BCL6 no cromossomo 3q27. Mutações adquiridas nas sequências promotoras do BCL6 que anulam a autorregulação do BCL6 (um importante mecanismo regulador negativo) são detectadas com mais frequência ainda. Sugere-se que ambos os tipos de lesão são subprodutos inadequados da hipermutação somática que resultam em superexpressão de BCL6, promovendo várias consequências importantes. O BCL6 reprime a expressão de fatores que, em geral, promovem a diferenciação de células-B do centro germinativo, a interrupção do crescimento e a apoptose, e acredita-se que cada um desses efeitos pode contribuir para o desenvolvimento de LDGCB. Mutações similares àquelas observadas no BCL6 também são encontradas em vários outros oncogenes, inclusive MYC, o que sugere que a hipermutação somática nas células do LDGCB “erra o alvo”, envolvendo uma ampla variedade de loci. Outros 10% a 20% dos tumores estão associados à t(14;18), que resulta na expressão excessiva da proteína antiapoptótica BCL2. Com frequência, os tumores com rearranjos do BCL2 perdem os rearranjos no BCL6, sugerindo que esses rearranjos definem duas classes moleculares distintas de LDGCB. Alguns tumores com rearranjos no BCL2 podem surgir a partir de linfomas foliculares subjacentes desconhecidos, que, com frequência, se transformam em LDGCB. Cerca de 5% dos LDGCB estão associados a translocações que envolvem MYC. Finalmente, o sequenciamento minucioso de genomas de LDGCB identificou mutações frequentes em genes que codificam histonas acetiltransferases como p300 e CREBP, proteínas que regulam a expressão gênica, modificando histonas e alterando a estrutura da cromatina. • Imunofenotipo: Esses tumores de células B maduras expressam CD19 e CD20 e mostram expressão variável de marcadores de células B do centro germinativo, como, por exemplo, CD10 e BCL6. A maioria tem Ig de superfície. • Subtipos Especiais: Vários subtipos de LDGCB são tão distintos que merecem uma discussão breve. a) Linfoma de grandes células B: associado à imunodeficiência ocorre na condição de imunodeficiência grave de células T (p. ex., infecção avançada com HIV e transplante alogênico de medula óssea). As células B neoplásicas costumam ser infectadas com o EBV, cujo papel patogênico é fundamental. A restauração da imunidade mediada por células T pode levar à regressão dessas proliferações. b) Linfoma primário de efusões: apresenta-se como uma efusão ascítica ou pleural maligna, principalmente em pacientes com infecção avançada por HIV ou idosos. Muitas vezes, as células tumorais têm um aspecto anaplásico e, tipicamente, não mostram expressão de marcadores de superfície de células B ou T, embora apresentem rearranjos clonais do gene da IGH. Em todos os casos, as células tumorais são infectadas com KSHV/HHV-8, aparentando ter função causal. • Quadro Clínico: O LDGCB costuma manifestar-se como uma massa que cresce rapidamente em um sítio nodal ou extranodal. Virtualmente, pode surgir em qualquer parte do corpo. O anel de Waldeyer, o tecido linfoide orofaríngeo que inclui as tonsilas e adenoides, é acometido com frequência. O acometimento primário ou secundário do fígado e do baço pode levar à formação de grandes massas destrutivas. Os locais extranodais incluem trato gastrointestinal, pele, osso, cérebro e outros tecidos. O acometimento da medula óssea é relativamente incomum e, em geral, ocorre tardiamente no curso da neoplasia. Raras vezes, observa-se um quadro leucêmico. Os LDGCBs são tumores agressivos que se mostram rapidamente fatais na ausência de tratamento. Com quimioterapia intensiva combinada, 60% a 80% dos pacientes atingem remissão completa e 40% a 50% são curados. A terapia adjuvante com o anticorpo anti- CD20 melhora tanto a resposta inicial quanto o resultado geral. Indivíduos com a doença limitada apresentam melhor evolução do que aqueles com doença disseminada ou com massas tumorais volumosas. A análise do perfil de expressão gênica identificou subtipos moleculares distintos com evoluções clínicas variadas, conduzindo a novas terapias direcionadas a componentes envolvidos nas vias de sinalização do receptor de célula B e do NF-κB. Cerca de 5% dos LDGCBs apresentam translocações do MYC e, em circunstâncias tais, pode ser difícil distinguir o LDGCB do linfoma de Burkitt por meio dos testes diagnósticos convencionais. De fato, dados recentes sugerem que os LDGCBs com translocações MYC apresentam um prognóstico pior do que aqueles que não as têm, podendo receber melhor tratamento com quimioterapias que, agora, são o padrão para o linfoma de Burkitt. Na categoria do linfoma de Burkitt, estão (1) o linfoma de Burkitt africano (endêmico), (2) o linfoma de Burkitt esporádico (não endêmico) e (3) um subgrupo de linfomas agressivos que acometem os indivíduos infectados pelo HIV. Os linfomas de Burkitt presentes em cada uma dessas condições são histologicamente idênticos, distinguindo-se, contudo, em relação às características clínicas, genotípicas e virológicas. • Patogênese: Todas as formas de linfoma de Burkitt são altamente associadas às translocações do gene MYC no cromossoma 8, conduzindo ao aumento dos níveis de proteína MYC. O MYC é um regulador transcricional mestre que acentua a expressão dos genes necessários à glicólise aeróbica, o chamado efeito de Warburg. Quando nutrientes como glicose e glutamina estão disponíveis, o metabolismo de Warburg permite que as células façam a biossíntese de todos os blocos de construtores – nucleotídeos, lipídios, proteínas – que são necessários ao crescimento e à divisão celular. Em consequência, acredita-se que o linfoma de Burkitt sejao tumor humano de crescimento mais rápido. Em geral, os pontos de quebra no locus IgH no linfoma de Burkitt esporádico são encontrados nas regiões em que ocorre mudança de classe, enquanto os pontos de quebra no linfoma de Burkitt endêmico tendem a ocorrer dentro das sequências 5’V(D)J. A base para essa distinção molecular discreta não é conhecida, mas ambos os tipos de translocação podem ser induzidos nas células B do centro germinativo pela AID, uma enzima especializada na modificação do DNA requerida tanto na mudança de classe da Ig quanto na hipermutação somática. Essencialmente, todos os tumores endêmicos são infectados de forma latente com o EBV, o qual também está presente em aproximadamente 25% dos tumores associados ao HIV e em 15% a 20% dos casos esporádicos. A configuração do DNA do EBV é idêntica em todas as células tumorais de casos individuais, indicando que a infecção precede a transformação. Embora isso situe o EBV na “cena do crime”, seu exato papel na gênese do linfoma de Burkitt permanece pouco compreendido. • Imunofenotipo: São tumores de células B maduras que expressam IgM de superfície, CD19, CD20, CD10 e BCL6, um fenótipo consistente com origem em célula B do centro germinativo. Ao contrário de outros tumores que têm sua origem no centro germinativo, o linfoma de Burkitt raramente expressa a proteína antiapoptótica BCL2. • Quadro Clínico: Tanto o linfoma de Burkitt endêmico quanto o esporádico são encontrados principalmente em crianças ou adultos jovens. A maioria dos tumores se manifesta em locais extranodais. Com frequência, o linfoma de Burkitt endêmico se apresenta como uma massa envolvendo a mandíbula, com predileção incomum pelas vísceras abdominais, particularmente rins, ovários e glândulas adrenais. Em contraste, o linfoma de Burkitt esporádico é representado com maior frequência como uma massa que envolve a porção ileocecal e o peritônio. O acometimento da medula óssea e do sangue periférico é incomum, principalmente nos casos endêmicos. O linfoma de Burkitt é muito agressivo, embora responda bem à quimioterapia intensa. A maioria dos adultos jovens e das crianças pode ser curada. A evolução é mais reservada em adultos mais velhos. O linfoma de Hodgkin (LH) compreende um grupo de neoplasias linfoides que diferem do LNH em vários aspectos. Enquanto os LNHs ocorrem com frequência em sítios extranodais e se disseminam de modo imprevisível, o LH tem origem em um linfonodo único ou em cadeias de linfonodos, disseminando, em primeiro lugar, para os tecidos linfoides anatomicamente contíguos. O LH também apresenta aspectos morfológicos distintos. Caracteriza-se pela presença de células gigantes neoplásicas denominadas células de Reed-Sternberg. Essas células liberam fatores que levam à acumulação de linfócitos, macrófagos e granulócitos reativos, os quais, tipicamente, representam mais de 90% da celularidade presente no tumor. Na maioria dos LHs, as células de Reed-Sternberg neoplásicas derivam de células B do centro germinativo ou pós-centro germinativo. A idade média ao diagnóstico é de 32 anos. É um dos cânceres mais comuns em adultos jovens e adolescentes, embora também acometa pessoas idosas. Foi o primeiro câncer humano a ser tratado com sucesso através da radioterapia e da quimioterapia, mostrando-se curável na maioria dos casos. • Classificação: A classificação da OMS reconhece cinco subtipos de LH: 1. Esclerose nodular; 2. Celularidade mista; 3. Rico em linfócitos; 4. Depleção linfocitária; 5. Predominância linfocitária. Nos primeiros quatro subtipos — esclerose nodular, celularidade mista, rico em linfócitos e depleção linfocitária —, as células de Reed- Sternberg apresentam um imunofenótipo similar. Esses subtipos são frequentemente agrupados como formas clássicas de LH. No subtipo restante, de predominância linfocitária, as células de Reed-Sternberg têm um imunofenótipo característico de células B, que difere daquele observado nos tipos “clássicos”. • Patogênese: Na maioria dos casos, os genes da Ig nas células de Reed-Sternberg foram submetidos tanto à recombinação quanto à mutação somática de V(D)J, o que estabelece uma origem a partir das células B do centro germinativo ou pós-centro germinativo. Embora tenham a assinatura genética de uma célula B, as células de Reed-Sternberg do LH clássico não conseguem expressar a maioria dos genes específicos das células- B, nem mesmo os genes da Ig. A causa dessa reprogramação indiscriminada da expressão gênica ainda não foi elucidada por completo, mas presumivelmente resulta de amplas mudanças epigenéticas de etiologia incerta. A ativação do fator de transcrição NF-[kappa]B é um evento comum no LH clássico. Isso pode ocorrer por meio de vários mecanismos: a) O NFkB pode ser ativado tanto pela infecção pelo EBV quanto por algum outro mecanismo, ativando os genes que promovem a sobrevida e a proliferação dos linfócitos. b) As células EBV+ tumorais expressam a proteína latente de membrana 1 (LMP-1), uma proteína codificada pelo genoma do EBV, a qual transmite os sinais que regulam positivamente o gene NF-kB. c) A ativação do NF-kB pode ocorrer em tumores relacionados ao EBV como resultado das mutações adquiridas com perda de função, ou em IkB ou em A20 (também conhecida como proteína 3 TNF-alfa induzida, ou TNFAIP3), ambos reguladores negativos do NFkB. d) Também se suspeita que a ativação do NF-kB pelo EBV ou por outros mecanismos resgata da apoptose células B defeituosas do centro germinativo que não podem expressar Igs, preparando o cenário para a aquisição de outras mutações desconhecidas que colaboram para produzir as células de Reed-Sternberg. Pouco se conhece acerca do substrato morfológico das células de Reed-Sternberg e de suas variantes, mas é intrigante constatar que células B não tumorais infectadas com EBV semelhantes às células de Reed-Sternberg sejam encontradas nos linfonodos de indivíduos com mononucleose infecciosa, o que sugere, de forma significativa, que as proteínas codificadas pelo EBV sejam, em parte, responsáveis pela metamorfose notável das células B em células de Reed-Sternberg. O acúmulo exuberante das células reativas nos tecidos comprometidos pelo LH clássico ocorre em resposta a uma grande variedade de citocinas (p. ex., IL-5, IL-10 e M-CSF), quimiocinas (p. ex., eotaxina) e outros fatores (p. ex., fator imunomodulador galectina-1) que são secretados pelas células de Reed-Sternberg. Uma vez atraídas, as células reativas produzem fatores que mantêm o crescimento e a sobrevida das células tumorais, modificando ainda mais a resposta das células reativas. Alguns dos fatores produzidos pelas células RS dão origem a um estado de imunodeficiência por deficiência de células T auxiliares e citotóxicas e pelo aumento da produção de células T reguladoras. As células de Reed-Sternberg são aneuploides e apresentam várias aberrações cromossômicas clonais. Ganhos numéricos de cópias no proto-oncogene c-REL no cromossomo 2p são particularmente comuns e também podem contribuir para o aumento da atividade do NF-[kappa]B. • Subtipos: 1. Esclerose Nodular: a) Morfologia e Imunofenótipo: células lacunares frequentes e eventuais células RS diagnósticas; fundo constituído por infiltrado de linfócitos T, eosinófilos, macrófagos e plasmócitos; faixas fibróticas que dividem as áreas celulares em nódulos. Células RS CD15+, CD30+; geralmente EBV. b) Aspectos Clínicos Típicos: corresponde ao subtipo mais comum; geralmente com doença em estádio I ou II; ocorre de forma equivalente em homens e mulheres, em sua maioria pacientes adultos jovens. 2. Celularidade Mista: a) Morfologia e Imunofenótipo: células RS diagnósticas e variantes mononucleares frequentes; infiltração de fundo rica em linfócitos T, eosinófilos, macrófagos, plasmócitos; células RS CD15+,CD30+; 70% EBV+. b) Aspectos Clínicos Típicos: mais de 50% apresentam-se como estádio III ou IV da doença; maior incidência em homens; incidência bifásica, com pico em adultos jovens e novamente em adultos com mais de 55 anos. 3. Rico em Linfócitos: a) Morfologia e Imunofenótipo: células RS diagnósticas e variantes mononucleares frequentes; infiltração de fundo rica em linfócitos T; células RS CD15+, CD30+; 40% EBV-. b) Aspectos Clínicos Típicos: incomum; mais frequente em homens; tende a ser visto em adultos mais velhos. 4. Depleção Linfocitária: a) Morfologia e Imunofenótipo: variante reticular: células RS diagnósticas e variantes frequentes; escassez de células reativas de fundo; células de RS CD15+, CD30+; a maioria EBV+ b) Aspectos Clínicos Típicos: incomum; mais comum em homens mais velhos, indivíduos infectados pelo HIV e nos países em desenvolvimento; muitas vezes, apresenta- se com doença avançada. 5. Predominância Linfocitária: a) Morfologia e Imunofenótipo: variantes L&H (células pipoca) frequentes, em um fundo de células dendríticas foliculares e células B reativas; células RS CD20+, CD15-, C30-; EBV-. b) Aspectos Clínicos Típicos: incomum; jovens do sexo masculino com linfadenopatia cervical ou axilar; mediastinal. Neutropenia é a redução do número de neutrófilos no sangue, ocorre em uma grande variedade de circunstâncias. A agranulocitose, uma redução clinicamente significativa dos neutrófilos, tem sérias consequências ao tornar os indivíduos suscetíveis às infecções bacterianas e fúngicas. A neutropenia pode ser causada por (1) granulopoiese inadequada ou ineficaz ou (2) aumento da destruição ou do sequestro de neutrófilos na periferia. Observa-se granulopoiese inadequada ou ineficaz nas seguintes condições: • Supressão de células-tronco hematopoiéticas, nessas condições, a granulocitopenia é acompanhada por anemia e trombocitopenia. • Supressão de precursores comprometidos com a linhagem granulocítica por exposição a certos medicamentos. • Doenças associadas à hematopoiese ineficaz, como, em que os precursores defeituosos morrem na medula. • Condições congênitas raras, em que os defeitos hereditários em genes específicos prejudicam a diferenciação granulocítica. A destruição acelerada ou o sequestro de neutrófilos ocorrem nas seguintes situações: • Lesão imunomediada dos neutrófilos, que pode ser idiopática, associada a um distúrbio imunológico bem definido ou causada pela exposição a medicamentos. • Esplenomegalia, em que o aumento do baço leva a sequestro de neutrófilos e neutropenia discreta, por vezes associada a anemia e, frequentemente, trombocitopenia. • Utilização periférica aumentada, que pode ocorrer nas infecções causadas por bactérias, fungos ou riquétsias. A causa mais comum de agranulocitose é a toxicidade por medicamentos. Certos medicamentos empregados no tratamento de câncer produzem agranulocitose de modo previsível e relacionado com a dose. Devido à supressão generalizada da medula óssea causada por esses medicamentos, a produção de hemácias e plaquetas também é afetada. A agranulocitose também pode ocorrer como uma reação idiossincrásica a uma grande variedade de agentes. Em alguns pacientes com neutropenia idiopática adquirida, detectam-se autoanticorpos dirigidos contra antígenos específicos de neutrófilos. A neutropenia grave também pode ocorrer em associação com proliferações monoclonais de linfócitos granulares grandes (o que é chamado de leucemia LGL). O mecanismo dessa neutropenia não é claro; a supressão de progenitores granulocíticos por produtos da célula neoplásica (em geral, uma célula T citotóxica CD8+) é considerado o mais provável. Os sintomas e sinais de neutropenia estão relacionados à infecção e incluem mal-estar, calafrios e febre, com frequência seguidos por notável fraqueza e fatigabilidade. Com a agranulocitose, as infecções são frequentemente dominantes e podem causar morte dentro de horas a dias. As infecções graves são mais prevalentes quando a contagem de neutrófilos está abaixo de 500 por mm3. Como as infecções são muitas vezes fulminantes, os antibióticos de amplo espectro devem ser rapidamente administrados sempre que os sinais ou sintomas surgirem. A neutropenia é uma manifestação comum de defeitos da medula óssea associados com a redução de eritrócitos e plaquetas, tendo como possíveis causas a anemia aplásica, leucemia, mielodisplasia, anemia megaloblástica e tratamentos quimioterápicos, dentre outras. Estima-se que 10-50% dos pacientes com tumores sólidos, e >80 % dos portadores de neoplasias hematológicas, desenvolverão febre em pelo menos um episódio de neutropenia ao longo do tratamento quimioterápico. Nos últimos 40 anos, grandes esforços foram feitos no sentido de sistematizar a prevenção e tratamento das infecções nos pacientes neutropênicos com câncer. A base de tais condutas consiste no uso empírico de antimicrobianos de amplo espectro, levando em conta os germes mais provavelmente envolvidos. • Diagnóstico e Patogenia: Segundo os guidelines atuais, neutropenia é uma contagem de neutrófilos <500cél/microL ou <1.000cél/microL com previsão de queda para menos de 500cél/microL nas próximas 48h. Uma contagem <100cél/microL é considerada “neutropenia profunda” para alguns autores. O paciente neutropênico recebe o diagnóstico de neutropenia febril quando sua temperatura oral for > 38.3°C (medida única) ou ≥38°C por mais de 1h. Como a temperatura oral é 3 a 4 décimos maior do que axilar, podemos aceitar como limiar de febre uma temperatura axilar >37,8ºC para o diagnóstico. Contudo, mesmo na ausência de febre, alguns pacientes netropênicos devem ser abordados como se estivessem com neutropenia febril, desde que existem indícios clínicos de infecção (ex.: dispnéia, hipotensão arterial, hipotermia etc.), demandando o imediato início de antibioticoterapia empírica. Pelo rastreio microbiológico, apenas 10-25% têm hemocultura positiva (bacteremia). Atualmente, as bactérias mais encontradas são os Staphylococcus coagulase-negativos. Na neutropenia prolongada (>7 dias), o risco de infecções fúngicas aumenta, inicialmente por “leveduras” da microbiota intestinal e posteriormente “bolores” inalados. • Avaliação Inicial: Na história clínica e o exame físico é particularmente importante o exame da pele, orofaringe, região perianal, pulmão, abdome, sítios cirúrgicos e de venóclise. • Avaliação Laboratorial: 1. Pelo menos 2 sets de hemocultura de sítios diferentes (cada set de 20ml divididos em 1 frasco para aeróbio e outro para anaeróbico). 2. Hemograma, Uréia, Creatinina, eletrólitos, Aminotrasferases e Bilirrubinas. Exames adicionais, como raios X de tórax e culturas específicas deverão ser solicitados se houver sinais e sintomas sugestivos de infecções nesses locais. • Estratificação de Risco: Atualmente, se recomenda que o primeiro passo na abordagem do neutropênico febril seja a estratificação de risco. Esta pode ser feita por um método puramente clínico ou por um escore de risco MASCC, especificamente projetado e validado para tal. 1) Alto Risco: QUALQUER UM dos critérios abaixo. Tais indivíduos devem ser internados no hospital para tratamento IV. a) Expectativa de neutropenia por mais de 7 dias; b) Disfunções orgânicas crônicas, DPOC, IRC, cirrose hepática, etc; c) Alterações agudas da homeostase; d) Sintomas gastrointestinais compatíveis com mucosite intensa; e) Sinais de infecção em cateter venoso profundo; 2) Baixo Risco: deve preencher TODOS os requisitos listados abaixo. Tais indivíduos podem ser manejados com tratamento VO ou IV. a) Expectativa de neutropenia inferior a 7 dias; b) Ausência de todos os critérios listados no Alto Risco. A SLT é uma emergência oncológica metabólica provocada por uma lise celular aguda com liberaçãode produtos intracelulares (ácido úrico, fosfato, cálcio, potássio) prejudicando a homeostase, está muito associada ao efeito do tratamento quimioterápico e radioterápico, mas também pode ser espontânea. Esse termo refere-se à síndrome sem relação com terapia citotóxica. Anteriormente era muito relacionada às malignidades hematológicas e as leucemias linfoblásticas agudas, nos últimos anos vêm sendo observada em tumores sólidos. O tratamento de melanomas metastáticos também pode provocar a incidência da síndrome. Acredita-se que sua ocorrência deve-se ao aumento da disponibilidade da terapia citotóxica e ausência da utilização da profilaxia para a síndrome. Não há até esse momento uma classificação universalmente aceita para a SLT. Além dos fatores de risco relacionados aos tumores, tamanho, grande dispersão metastática e orgânica, envolvimento da medula óssea, sensibilidade a terapia metastática, fases da terapia com alta intensidade do efeito citotóxico o estado de saúde prévio do paciente também é um fator de risco para o desenvolvimento da DLT13. Pacientes em vigência de desidratação, hipotensos, com nefropatias prévias, oligúria, urina ácida, relacionam-se com risco aumentado para o desenvolvimento da SLT. As manifestações da SLT18 são mais frequentes, 48 a 72h depois do início do tratamento do câncer. A hipercalemia costuma ser a manifestação mais precoce da síndrome. Um perfil bioquímico e ácido básico é essencial: sódio, cloro, fosfato, potássio, bicarbonato, gasometrias, ácido úrico, creatinina, desidrogenase lática. Exames de imagem serão solicitados conforme particularidades da anamnese radiografias de tórax, tomografias de abdômen e peritônio (caso haja lesão renal aguda). Seguimento com destaques para monitorização cardíaca e de débito urinário. • Hiperurecemia: Normalmente inicia-se 48 a 72h e é causada pelo aumento do catabolismo de ácidos nucléicos e liberação de metabólitos da purina pela lise celular provocada pela quimioterapia. A via final é a metabolização da xantina pela xantina oxidase em ácido úrico. A excreção normal diária de ácido úrico é renal em torno de 500 mg, no pH tubular (5,0), é muito pouco solúvel e pode formar cristais provocando obstruções com razão ácido úrico creatinina maior que 1. • Hipercalemia: Acredita-se que devido ao estresse sobre o metabolismo celular além da quimioterapia e ou radioterapia e diminuições dos níveis de ATP haja extravasamento precoce de potássio celular antes de a lise celular ser completada. Por esse motivo a elevação precoce dos níveis de potássio sérico muito antes (12 a 24h depois da quimioterapia) das elevações de fosfato. Suas elevações são consideradas as consequências mais ameaçadoras da síndrome podendo levar a arritmias cardíacas e morte súbita. • Hiperfosfatemia: As células tumorais contêm uma quantidade de fosfato muito superior às células normais. Por isso com sua degradação aguda provocada pela quimioterapia elevam-se muito os níveis desse eletrólito na SLT (24 a 48h depois da quimioterapia). Está relacionada com a lesão renal aguda pela precipitação com cálcio no túbulo renal. • Hipocalcemia: É um distúrbio metabólico que tem relação direta com a hiperfosfatemia assumindo valores muito baixos quando se precipita com o fosfato. Sintomas neurológicos (convulsões, tetania) e cardíacos (arritmias) são comuns. É o tempo desde o diagnóstico do paciente até sua morte por qualquer etiologia. É o tempo desde o diagnóstico até a recorrência do tumor (local ou a distância) ou morte por qualquer etiologia. • KUMAR, V. Robbins: bases patológicas. 9ªed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Capítulo 6: páginas 195 e 196 Capítulo 13: páginas 599 a 603(Proliferações reativas de leucócitos) Capítulo 13: páginas 606, 608 a 618, 627 a 630. • Capítulo – Cânceres tratamento Câncer– Harrison – versão PDF PDF – páginas 2347 a 2349 • http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/03/881620/neutropenia- febril.pdf (até antes de tratamento) • http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2013/v11n2/a3569.pdf • Resumos da Med. http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/03/881620/neutropenia-febril.pdf http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/03/881620/neutropenia-febril.pdf http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2013/v11n2/a3569.pdf
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