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Linfomas – Neoplasias Linfoides Os linfomas são um grupo de neoplasias causadas por linfócitos malignos que se acumulam nos linfonodos e produzem o quadro clínico característico de linfonodopatias. Às vezes, eles podem invadir o sangue (‘’ fase leucêmica’’) ou infiltrar órgãos fora do tecido linfóide. Os linfomas são subdivididos em linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin, com base na presença histológica de células de Reed-Sternberg (RS) no linfoma de Hodgkin. Linfoma de Hodgkin Bibliografia Indicada ● Fundamentos de Hematologia - Victor A. Hoffbrand ● Bogliolo Patologia - Geraldo B. Filho ● Bases Patológicas das Doenças - Robbins & Cotran Grupo heterogêneo de lesões caracterizadas pela proliferação clonal de linfócitos B, T ou NK em diferentes fases de diferenciação. Se apresentam como massas neoplásicas sólida e/ou doença leucemizada. DOENÇA NODAL Linfomas – Nódulo Neoplásico X Inflamação Introdução – Linfoma de Hodgkin Em 1832, Thomas Hodgkin, curador do Museu de Anatomia do Guy’s Hospital, em Londres, descreveu a doença. Dorothy Reed e Carl Sternberg foram os patologistas que, em 1898 descreveram as células anormais que passaram a definir este subtipo de linfoma. Corresponde a 1% dos cânceres e 30% dos linfomas nos adultos. o Menos frequente que LNH. Incidência maior em adultos jovens Faixa etária: distribuição bimodal o 15 nos 35 anos o >50 anos Predomínio no sexo masculino (exceto Esclerose nodular) As células de RS características e as células mononucleares anormais associadas são neoplásicas, ao passo que as células inflamatórias infiltrantes são neoplásicas. Estudos do rearranjo do gene de imunoglobulina ‘’ aleijado’’, ocasionado pela aquisição de mutações que impedem a síntese de uma imunoglobulina completa. As células do tumor costumam perder a expressão de HLA classe I. O genoma do vírus de Epstein-Barr (EBV) é detectado em mais de 50% dos casos no tecido Hodgkin, porém seu papel é incerto. Linfoma de Hodgkin O linfoma de Hodgkin (LH) compreende um grupo de neoplasias linfoides que diferem do LNH em vários aspectos. O LH tem origem em um linfonodo único ou em cadeias de linfonodos, disseminando, em primeiro lugar, para os tecidos linfoides anatomicamente contíguos. Crescimento: Presente Dor: Ausente ou Leve Consistência: Dura/ Pétrea Mobilidade: Imóveis Crescimento: Presente Dor: Presente Consistência: Mole Mobilidade: Móveis Thomas Hodgkin 1798 - 1866 O LH também apresenta aspectos morfológicos distintos. Caracteriza-se pela presença de células gigantes neoplásicas denominadas células de Reed-Sternberg. Essas células liberam fatores que levam à acumulação de linfócitos, macrófagos e granulócitos reativos, os quais, tipicamente, representam mais de 90% da celularidade presente no tumor. Na maioria dos LHs, as células de Reed-Sternberg neoplásicas derivam de células B do centro germinativo ou pós-centro germinativo. DIFERENÇAS ENTRE LIFOMA DE HODGKIN E NÃO HODGKIN O LH foi o primeiro câncer humano a ser tratado com sucesso através da radioterapia e da quimioterapia, mostrando-se curável na maioria dos casos. CÉLULA DE REED-STERNBERG (R-S) O linfoma de Hodgkin é caracterizado pela presença de células de Reed-Sternberg (R-S). A identificação das células de R-S e de suas variantes é essencial para o diagnóstico. Células grandes, com citoplasma abundante, com múltiplos núcleos ou um único núcleo com vários lobos nucleares, cada qual comum nucléolo grande semelhante a uma inclusão, com tamanho aproximado de um pequeno linfócito. Apresenta diversas variantes. Doença quase exclusivamente nodal Células de RS derivadas de células B do centro germinativo Fator etiológico: infecção Epstein-Barr vírus FISIOPATOGENIA Na maioria dos casos, os genes da Ig nas células de Reed-Sternberg foram submetidos tanto à recombinação quanto à mutação somática de V(D)J, o que estabelece uma origem a partir das células B do centro germinativo ou pós-centro germinativo. Embora tenham a assinatura genética de uma célula B, as células de Reed-Sternberg do LH clássico não conseguem expressar a maioria dos genes específicos das células-B, nem mesmo os genes da Ig. A ativação do fator de transcrição NF-[kappa]B é um evento comum no LH clássico. Isso pode ocorrer por meio de vários mecanismos: O NFkB pode ser ativado tanto pela infecção pelo EBV quanto por algum outro mecanismo, ativando os genes que promovem a sobrevida e a proliferação dos linfócitos. As células EBV+ tumorais expressam a proteína latente de membrana 1 (LMP-1), uma proteína codificada pelo genoma do EBV, a qual transmite os sinais que regulam positivamente o gene NF-kB. A ativação do NF-kB pode ocorrer em tumores relacionados ao EBV como resultado das mutações adquiridas com perda de função, ou em IkB ou em A20 (também conhecida como proteína 3 TNF-alfa induzida, ou TNFAIP3), ambos reguladores negativos do NFkB. Também se suspeita que a ativação do NF-kB pelo EBV ou por outros mecanismos resgata da apoptose células B defeituosas do centro germinativo que não podem expressar Igs, preparando o cenário para a aquisição de outras mutações desconhecidas que colaboram para produzir as células de Reed-Sternberg. Pouco se conhece acerca do substrato morfológico das células de Reed-Sternberg e de suas variantes, mas é intrigante constatar que células B não tumorais infectadas com EBV semelhantes às células de Reed-Sternberg sejam encontradas nos linfonodos de indivíduos com mononucleose infecciosa, o que sugere, de forma significativa, que as proteínas codificadas pelo EBV sejam, em parte, responsáveis pela metamorfose notável das células B em células de Reed-Sternberg. O acúmulo exuberante das células reativas nos tecidos comprometidos pelo LH clássico ocorre em resposta a uma grande variedade de citocinas (p. ex., IL-5, IL-10 e M-CSF), quimiocinas (p. ex., eotaxina) e outros fatores (p. ex., fator imunomodulador galectina-1) que são secretados pelas células de Reed-Sternberg. Uma vez atraídas, as células reativas produzem fatores que mantêm o crescimento e a sobrevida das células tumorais, modificando ainda mais a resposta das células reativas. Por exemplo, eosinófilos e células T expressam ligantes que ativam os receptores de CD30 e CD40 encontrados nas células de Reed-Sternberg, produzindo sinais que regulam o NF-kB. Alguns dos fatores produzidos pelas células RS dão origem a um estado de imunodeficiência por deficiência de células T auxiliares e citotóxicas e pelo aumento da produção de células T reguladoras. As células de Reed-Sternberg são aneuploides e apresentam várias aberrações cromossômicas clonais. Ganhos numéricos de cópias no proto-oncogene c-REL no cromossomo 2p são particularmente comuns e também podem contribuir para o aumento da atividade do NF-[kappa]B. Estado de Imunodeficiência Microambiente criado para as células neoplásicas O LH deve ser distinguido de outras condições em que células semelhantes às células de Reed-Sternberg podem ser observadas, como, por exemplo, mononucleose infecciosa, cânceres de tecidos sólidos e LNHs de grandes células. O diagnóstico do LH depende da identificação de células de Reed-Sternberg em um microambiente de células inflamatórias não neoplásicas. As células de Reed-Sternberg do LH também apresentam um perfil imunoistoquímico característico. CLASSIFICAÇÃO DOS LINFOMAS DE HODGKIN 1. Formas clássicas São CD15+ e CD30+ Esclerose nodular Celularidademista Rico em linfócitos Depleção linfocitária 2. Predominância linfocitária nodular São CD20+ e CD45+ Imunofenótipo característico de células B FORMAS CLÁSSICAS Esclerose Nodular Forma mais comum (65% a 70%) Acomete com maior frequência mulheres Célula R-S do tipo variante lacunar Fundo constituído por infiltrado de linfócitos T, eosinófilos, macrófagos e plasmócitos; faixas fibróticas que dividem as áreas celulares em nódulos. Células RS CD15+, CD30+; geralmente EBV- Deposição de colágeno – Fibrose Raramente associado ao EBV Excelente prognóstico Como em outras formas de LH, o acometimento de baço, fígado, medula óssea e outros órgãos e tecidos pode aparecer em seu devido tempo na forma de nódulos tumorais irregulares similares àqueles observados nos linfonodos Apresenta propensão para acometer os linfonodos cervicais inferiores, supraclaviculares e mediastinais de adolescentes ou adultos jovens. O prognóstico é excelente. Linfoma de Hodgkin tipo esclerose nodular. O pequeno aumento mostra faixas róseas bem definidas de colágeno acelular que subdivide o tumor em nódulos Celularidade Mista 20% a 25% dos casos Infiltrado celular heterogêneo o Células T, eosinófilos, plasmócitos e macrófagos benignos presentes em meio às células de Reed- Sternberg Em geral, as células de Reed-Sternberg diagnósticas e as variantes mononucleares são abundantes. As células de Reed-Sternberg são infectadas pelo EBV em aproximadamente 70% dos casos. O imunofenótipo é idêntico ao observado no tipo esclerose nodular. O LH de celularidade mista é mais comum em homens. Em comparação com os subtipos de predominância linfocitária e esclerose nodular, é provável que acometa indivíduos mais velhos e que esteja associado a sintomas sistêmicos, como, por exemplo, suores noturnos e perda de peso, e também a um estádio avançado do tumor. O prognóstico geral é muito bom Linfoma de Hodgkin tipo celularidade mista. Uma célula diagnóstica binucleada é circundada por células reativas, que incluem eosinófilos (citoplasma vermelho brilhante), linfócitos e histiócitos. Rico em linfócitos Trata-se de uma forma rara de LH clássico, em que os linfócitos reativos são responsáveis pela maioria do infiltrado celular. Na maior parte dos casos, os linfonodos são difusamente comprometidos, porém, em algumas situações, observa- se uma nodularidade indistinta decorrente da presença de folículos residuais de células B. Essa manifestação é diferenciada do tipo com predominância linfocitária, em razão da presença frequente de variantes mononucleares e células de Reed-Sternberg diagnósticas com perfil imunofenotípico “clássico”. Associa-se ao EBV em aproximadamente 40% dos casos. Apresenta um prognóstico que varia de muito bom a excelente. Depleção linfocitária Forma menos comum (5%) Escassez de linfócitos Abundância de células RS e variantes pleomórficas Infecção EBV: 90% LH depleção linfocitária ocorre predominantemente em idosos, em indivíduos HIV+ de qualquer idade e em países não industrializados. O estádio avançado e os sintomas sistêmicos são frequentes, e a evolução geral é menos favorável que nos outros subtipos. Imunofenotipagem é essencial devido a semelhança com LNH de grandes células. Pior prognóstico PREDOMINÂNCIA LINFOCITÁRIA NODULAR 5% dos casos Os gânglios linfáticos comprometidos são substituídos por um infiltrado nodular de linfócitos pequenos misturados a números variáveis de macrófagos. Em geral, é difícil observar as células de Reed-Sternberg “clássicas”. Esse tumor contém as denominadas variantes L&H (linfocíticas e histiocíticas), que possuem núcleo multilobulado semelhante a uma “pipoca” (“célula popcorn”). Em geral, os eosinófilos e plasmócitos são poucos ou até mesmo ausentes. Mais comuns em homens, geralmente com idade inferior a 35 anos que apresentam linfadenopatia cervical ou axilar. O acometimento do mediastino e da medula óssea é raro. Em algumas situações, essa forma de LH tem maior probabilidade de recorrência do que os subtipos clássicos. O prognóstico é excelente. Em contraste às células de Reed-Sternberg encontradas nas formas clássicas do LH, as variantes L&H expressam marcadores de células B típicos de células B do centro germinativo, como, por exemplo, CD20 e BLC6, e são geralmente negativas para CD15 e CD30. O padrão nodular típico de crescimento se deve à presença de folículos expandidos de células B, os quais são povoados com variantes L&H, numerosas células B reativas e células dendríticas foliculares. Os genes IgH das variantes L&H mostram evidência de hipermutação somática em progresso, uma modificação que ocorre apenas em células B do centro germinativo. Em 3% a 5% dos casos, esse tipo se transforma em um tumor semelhante ao linfoma difuso de grandes células B. O EBV não está associado a esse subtipo. DIAGNÓSTICO Sinais e Sintomas Biópsia excisional Exames de imagem Análise imuno-histoquímica Sorologia para EBV ASPECTOS CLÍNICOS Linfadenopatia localizada indolor o A maioria dos pacientes apresenta-se com um aumento assimétrico de linfonodos superficiais; são firmes, indolores e separados. Os linfonodos cervicais estão envolvidos em 60 a 70% dos casos, axilares em cerca de 10 a 15% e inguinais em 6 a 12%. Em alguns casos, o tamanho dos linfonodos diminui e aumenta de modo espontâneo; os gânglios podem fundir-se. No inicio, a doença localiza-se, em geral, em uma única região de linfonodos periféricos e sua progressão posterior faz-se por contiguidade dentro do sistema linfático. Os linfonodos retroperitoneais, com frequência, também estão envolvidos, mas, via de regra, são diagnosticados apenas por tomografia computadorizada (TC). Sintomas B Febre intermitente Sudorese noturna Perda de peso (>10% em 6 meses) Dispnéia – linfadenomegalia mediastinal Prurido Anemia (hemolítica ou hipoproliferativa) Leucocitose, linfopenia, monocitose e eosinofilia Suscetível a infecções pois ocorre estágios de leucopenia com perda de imunidade celular Estágios avançados – infiltração no baço, fígado e MO. Ocorre discreta esplenomegalia durante a evolução da doença em 50% dos casos. Pode haver envolvimento hepático com hepatomegalia. Há envolvimento mediastinal inicial em até 10% dos ca- sos. Essa é uma característica do tipo esclerose nodular, particularmente em mulheres jovens. Fraqueza, fadiga, anorexia e caquexia. ASPECTO MORFOLÓGICO A propagação do LH é notavelmente estereotipada: em primeiro lugar, doença nodal, seguida por doença esplênica, doença hepática e, finalmente, pelo acometimento da medula óssea e de outros tecidos. IMUNOHISTOQUÍMICA IMAGENS RADIOLÓGICAS ESTADIAMENTO O estadiamento engloba exame físico, imagem radiológica do abdome, pelve e tórax, bem como biópsia da medula óssea. Com os atuais protocolos de tratamento, o estadiamento do tumor, mais do que o tipo histológico, é a variável prognóstica mais importante. O índice de cura dos pacientes com estágios I e IIA é próximo de 90%. Mesmo com a doença avançada (estágios IVA e IVB), a sobrevida livre de doença em 5 anos é de 60% a 70%. Estádio Distribuição da doença I Comprometimento de uma única região ganglionar linfática (I) ou de um único órgão ou sítio extralinfático (IE) II Comprometimento de duas ou mais regiões de linfonodos no mesmo lado dodiafragma isoladamente (II) ou comprometimento localizado de um órgão ou sítio extralinfático (IIE) III Comprometimento de regiões de linfonodos em ambos os lados do diafragma, sem (III) ou com (IIIE), comprometimento localizado de um órgão ou sítio extralinfático IV Envolvimento difuso de um ou mais órgãos ou sítios extralinfáticos, com ou sem comprometimento linfático Todas os estádios são ainda divididos com base na ausência (A) ou na presença (B) dos seguintes sintomas: febre inexplicada, sudorese noturna excessiva e/ou perda de peso inexplicada de mais de 10% do peso corporal normal. TRATAMENTO Quimioterapia o ABVD – adriamicina, bleomicina, vimblastina, dacarbazina. Radioterapia o Estágios I e II ( 2 – 3 ciclos ABVD + radioterapia) o Estágios III e IV ( 6 – 8 ciclos ABVD + radioterapia) Imunoterapia o Para linfócitos predominantemente nodulares – Rituximab Transplante PROGNÓSTICO Desfavorável o Idade > 45 anos o Gênero masculino o Estádio IV o Albumina < 4 g/dL o Hb < 10,5 g/dL o Leucócitos: > 15.000/ mm3 o Linfócitos: < 600 /microL O tratamento é feito apenas com quimioterapia ou pela combinação de quimioterapia com radioterapia. A escolha depende primariamente do estágio, da divisão clínica em A e B e dos fatores prognósticos. O armazenamento de sêmen, se apropriado, deve ser feito antes do começo do tratamento. Para mulheres é recomendável que haja aconselhamento por especialista em fertilidade. Se hou- ver necessidade de transfusão de componentes sanguíneos, é preciso irradiá-los para evitar doença enxerto versus hospedeiro devida à transfusão de linfócitos vivos, que podem se enxertar devido à diminuição da imunidade celular do paciente de LH.
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