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Caso 4 - Módulo 3 1 - Caracterizar as piodermites correlacionando com estratigrafia/quadro clínico/epidemiologia/ tratamento/fisiopatologia/evolução Anatomia e Histologia da pele A pele, o maior órgão do corpo, é formada pela epiderme, uma camada celular superficial de origem ectodérmica, e pela derme, uma camada profunda de tecido conjuntivo de origem mesodérmica. A hipoderme é uma camada encontrada abaixo da derme, que não faz parte da pele. Ela nada mais é que uma camada de tecido celular subcutâneo, composto por tecido conjuntivo frouxo com células adiposas, sendo responsável pela união da pele com os órgãos subjacentes. A pele tem como função: - Proteção contra invasão de micro- organismos - Proteção contra lesões, atrito e dessecação - Termorregulação - Percepção sensorial - Excreção de substâncias - Proteção contra a radiação UV - Síntese de Vitamina D3 Victoria Rueda Inácio Epiderme Constituída por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado. As células mais abundantes são queratinócitos (responsável pela produção de queratina). Existem outros 3 tipos de célula: melanócito (produz melanina, a qual protege o DNA contra a ação nociva dos raios UV), células de Langerhans e de Merkel (ambas tem função sensorial) A Epiderme é dividida em 5 camadas: Victoria Rueda Inácio Camada Córnea: constituída por células achatadas, mortas e sem núcleo, cujo citoplasma se apresenta repleto de queratina. Esta camada sofre uma descamação contínua, sendo reposta através da proliferação e desenvolvimento das células basais ao longo do estrato epidérmico. Camada Lúcida: Delgada camada de células achatadas, eosinófilas e translúcidas devido ausência de núcleo celular e organelas. Camada Granulosa: Células poligonais achatadas com citoplasma carregado de grânulos basófilos, contendo uma proteína rica em histidina e grânulos lamelares que impermeabilizam as células, impedindo a desidratação. Camada Espinhosa: células cuboides de núcleo central e citoplasma com feixes de filamentos de queratina. As células dessa camada se ligam umas às outras através de desmossomos, gerando uma coesão celular, denotando a resistência ao atrito intrínseca à nossa pele. Camada Basal: células prismáticas a cuboides, basófilas que repousam sobre a membrana basal que separa a epiderme da derme. Rica em células tronco da epiderme, com intensa atividade mitótica, sendo responsável junto da camada espinhosa pela renovação da epiderme. Derme É o tecido conjuntivo em que se apoia a epiderme e que une a pele ao tecido subcutâneo, ou hipoderme. A derme oferece suporte à epiderme e é essencial para a sua nutrição, já que a epiderme não é vascularizada. Além disso, os vasos sanguíneos da derme são importantes para a função de termorregulação da pele. A derme é também importante para a percepção sensorial (tato, temperatura, dor) e para a defesa imunológica da pele. A derme é constituída por duas camadas de limites pouco distintos: a papilar, superficial, e a reticular, mais profunda. Papilar: delgada, constituída por tecido conjuntivo frouxo. Forma as papilas dérmicas O local em que a derme e a epiderme se encontram é irregular pois elas se interpenetram formando ondulações denominadas papilas dérmicas. Reticular: tecido conjuntivo denso. Victoria Rueda Inácio Victoria Rueda Inácio Hipoderme Não é considerada parte da pele. É formada por tecido conjuntivo frouxo, que une de maneira pouco firme a derme aos órgãos subjacentes. É a camada responsável pelo deslizamento da pele sobre as estruturas nas quais se apoia. A hipoderme pode ter uma camada variável de tecido adiposo, que, quando desenvolvida, constitui o panículo adiposo. Este modela o corpo, é uma reserva de energia e proporciona proteção contra o frio (a gordura é um bom isolante térmico). Victoria Rueda Inácio Impetigo Definição: é uma doença infecciosa superficial da pele, contagiosa e bastante comum. Agente: determinada por estafilococo plasmocoagulase-positivos e, ocasionalmente, por estreptococos hemolíticos. Staphylococci aureus são a causa da maioria dos casos de impetigo não bolhoso e de todos os casos de impetigo bolhoso. Faixa etária mais acometida: crianças na fase pré-escolar e escolar, por meio de contato interpessoal ou fômites. Fatores predisponentes: falta de higiene, alta umidade, altas temperaturas e traumas cutâneos. Fatores predisponentes para o desenvolvimento: colonização bacteriana perinasal, axilar, inguinal e perianal. Causas: toxina estafilocócica epidemolítica elaborada pelo S. Aureus. Ocorre em sítios de pele que sofreram traumas mínimos como picadas de insetos, abrasões, lacerações, queimaduras e etc. Transmissão: contato direto da pele sã com a pele doente e as lesões tendem a se espalhar com rapidez. O contato íntimo com crianças costuma ser a causa mais importante de contágio. Diagnóstico: clínico, porém testes bacteriológicos podem ser úteis. O material pode ser colhido sob as crostas ou mesmo de bolhas purulentas íntegras e enviado para cultura e antibiograma. A identificação do S. aureus se faz pelo exame bacterioscópico e pela cultura em ágar-sangue, onde se observa halo de hemólise. Tratamento: é recomendável a limpeza e a remoção das crostas com água morna e uso de sabões antissépticos, 2 a 3 vezes/dia. Antibióticos tópicos à base de mupirocina a 2% pomada, gentamicina a 1% creme e ácido fusídico a 1% creme são recomendados tanto nas formas localizadas quanto nas disseminadas. Nas formas disseminadas deve-se utilizar, por via oral (VO), antibióticos betalactamase resistentes como a cefalexina ou a amoxicilina/clavulanato. A eritromicina tem sua indicação no tratamento de comunidades com risco de infecção e baixa resistência. Por outro lado, a azitromicina e a claritromicina constituem-se em excelente opção, porém com custo superior. No impetigo recorrente o objetivo é tratar os focos de colonização estafilocócica tais como as narinas, períneo, axilas, interdígitos dos pés e região perianal com um dos antibióticos tópicos citados antes 2 vezes/dia, por 7 dias de cada mês durante 6 meses. Victoria Rueda Inácio Fisiopatologia/estratigrafia: As lesões bolhosas são determinadas pela ação da toxina estafilocócico sobre a camada granulosa epidérmica (acantólise) sendo considerada forma localizada da síndrome estafilocócica da pele escaldada. Ao contrário do impetigo não bolhoso, costuma ocorrer sobre pele sã. Geralmente é causado por S. aureus e, em menor número, por S. pyogenes. Impetigo bolhoso Faixa etária acometida: neonatos Sintomas: fraqueza, febre e diarréia Localização: face, tronco, nádegas, períneo e extremidades Característica da lesão: A lesão inicial é mácula eritematosa que, após algumas horas, se transforma em vesicopústula ou mesmo bolha de conteúdo purulento bastante superficial, sendo por isso de duração efêmera. Únicas ou múltiplas. O conteúdo ressecasse resultando em crosta melicérica, característica do impetigo. As crostas são com clareamento central e extensão periférica, formando lesões circinadas. Característica da lesão em casos não tratados: as lesões coalescem e se expandem radialmente, alcançando vários centímetros, podendo durar meses. Complicações: osteomielite, artrite séptica e pneumonia. Diagnóstico Diferencial: lesões vesico-bolhosas devido a picadas de insetos e queimaduras Impetigo não bolhoso Origem: pequena vesícula ou pústula que se rompe para deixar base úmida e eritematoso recoberta por fina crosta amarelada e aderente Característica da lesão: assintomáticas e curam sem deixar cicatriz em cerca de 2 semanas. Podem ocorrer lesões satélites com extensão radial que duram semanas. A pele ao redor do nariz, boca e extremidades dos membros são os locais mais afetados. O conteúdo da vesícula sofre ressecamento, levando a crosta melicérica, amarelada. Fatores desencadeantes: picadas de inseto e queimaduras permitem a sua invasão. Complicações: glomerulonefriteaguda pós estreptocócica causada pelo S. Pyogenes, ocorrendo de 18 a 21 dias após a infecção cutânea. Diagnóstico Diferencial: reações a picadas de inseto, eczemas agudos e subagudos, herpes simples, candidíase e varicela Victoria Rueda Inácio Victoria Rueda Inácio Escarlatina Definição/etiologia: resultado da infecção pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A que elabora exotoxina. Origem: amígdalas e na faringe, porém em alguns casos infecções cutâneas, feridas cirúrgicas, infecções pélvicas e puerperais podem ser as causas. Epidemiologia: a doença é mais comum nos meses de outono e inverno. A maioria dos casos ocorre em crianças entre 1 e 10 anos de idade. Fisiopatologia: Por volta dos 10 anos de idade a maioria das crianças apresenta anticorpos circulantes. Os indivíduos portadores de anticorpos antitoxina eritrogênica são poupados do rash, porém podem apresentar sintomas mínimos como dor de garganta. A escarlatina é causada pelas toxinas eritrogênicas tipos A, B e C produzidas por estreptococos betahemolíticos do grupo A e, raramente, por cepas de S. aureus. Sinais: Nas áreas flexurais como dobras antecubitais, regiões inguinais e axilares podem ser notadas lesões petequiais lineares (sinal de Pastia). A orofaringe pode apresentar eritema, edema e exsudato, que pode estar presente ou não. Petéquias no palato e adenopatia cervical leve podem estar presentes. O dorso da língua no início da afecção mostra-se esbranquiçado com pequenos pontos vermelhos (língua em morango branco) para depois se tornar avermelhada (língua em morango vermelho). Sintomas: calafrios, febre, mal-estar, cefaleia, náuseas ou vômitos, dor de garganta e tosse seca. São relatados casos com vômitos intensos, diarreia, dor abdominal e até convulsões. Característica da lesão: O início das lesões se dá em média 12 a 24 h após o início dos sintomas. As lesões são constituídas por eritema que se inicia pela pele do pescoço, tórax e região axilar e daí ocorre a disseminação. Em poucas horas o eritema generaliza-se. As lesões eritematosas apresentam-se pálidas à digito pressão. As lesões cutâneas desencadeadas pela toxina eritrogênica constituem mecanismo do tipo hipersensibilidade retardada. Complicações: glomerulonefrite aguda, febre reumática, sinusite, otite, meningite, pneumonia e hepatite Diagnóstico: Característica da lesão: O início das lesões se dá em média 12 a 24 h após o início dos sintomas. As lesões são constituídas por eritema que se inicia pela pele do pescoço, tórax e região axilar e daí ocorre a disseminação. Em poucas horas o eritema generaliza-se. Victoria Rueda Inácio As lesões eritematosas apresentam-se pálidas à digito pressão. As lesões cutâneas desencadeadas pela toxina eritrogênica constituem mecanismo do tipo hipersensibilidade retardada. Diagnóstico Diferencial: é feito com reações adversas a medicamentos, sarampo, rubéola, doença de Kawasaki, síndrome estafilocócica da pele escaldada e síndrome do choque tóxico. (1) ectima gangrenoso que é uma lesão originária de bacteriemia por pseudômonas, principalmente, em imunocomprometidos e (2) grandes queimados. Tratamento: limpeza do material necrótico por meio de água morna e sabões antissépticos para a retirada das crostas aderentes. penicilinas ou com as cefalosporinas de primeira geração por um período de 7 a 10 dias. A eritromicina é utilizada nos casos de hipersensibilidade às penicilinas. O tratamento da escarlatina estafilocócica é realizado com antibióticos como a eritromicina, a cloxacilina ou a dicloxacilina. Síndrome estafilocócica da pele escaldada Definição e epidemiologia: É uma doença exantemática generalizada, que evolui com formação de vesículas e bolhas disseminadas, com erosões superficiais e descamação. Origem: infecção cutânea estafilocócica comum da região periumbilical, conjuntiva ocular e narinas. Acomete crianças abaixo de 5 anos. Fisiopatologia e estratigrafia: São conhecidas duas formas da toxina estafilocócica, a saber, “A” e “B”, e se caracterizam por agir sobre a camada granulosa causando clivagem epidérmica. O tipo “A” atinge a desmogleína 1, uma caderina desmossômica envolvida com a adesão celular. A eliminação da toxina se faz por via renal e esta é a razão pela qual a doença ocorre mais em crianças, pela dificuldade na depuração renal das toxinas bacterianas ou até mesmo, pela falta de imunidade no combate às mesmas. A mesma explicação se dá com adultos portadores de insuficiência renal. Victoria Rueda Inácio Sintomas: febre, malestar, calafrios e dores no corpo. Evolução do quadro: Em poucas horas nota-se a presença de áreas de eritema na face, no tronco para depois ocorrer a disseminação. Em cerca de 24 a 48 h a pele torna-se pregueada graças à formação de vesicobolhas flácidas. Em 1 a 2 dias as bolhas se rompem para deixar áreas úmidas de pele e finas crostas. De uma maneira geral, as primeiras áreas a sofrerem descolamento são as dobras flexurais. Os pacientes passam a apresentar fácies de sofrimento denominado “fácies de homem triste”, além de edema facial, crostas periorais e áreas de fissuração da pele. Em 2 a 4 dias iniciam-se áreas de descamação. A cura ocorre em 7 a 10 dias com rápida reepitelização, sem deixar cicatrizes. Diagnóstico: As culturas são feitas a partir dos focos de infecção como conjuntivas, nasofaringe e pele. Culturas de bolhas intactas são sempre negativas. As hemoculturas costumam ser negativas nas crianças, mas podem ser positivas nos adultos. O leucograma pode apresentar leucocitose com ou sem desvio à esquerda. Durante a fase bolhosa, a epidermólise bolhosa, os pênfigos e o impetigo bolhoso são os principais diferenciais. O exame histopatológico de lesão cutânea da mostra clivagem intra-epitelial abaixo ou ao redor da camada granulosa, por vezes com a presença de células acantolíticas. Diagnóstico diferencial: é com a necrólise epidérmica tóxica (TEN). Tratamento: semelhante ao das queimaduras de segundo grau. Aporte de líquidos, balanço hidreletrolítico e prevenção de infecções. A pele deve ser limpa diariamente com solução fisiológica e sabões antissépticos. Nos casos localizados não é necessária a internação, estando indicada a antibioticoterapia oral com antibióticos resistentes à betalactamase como a dicloxacilina, cloxacilina e cefalexina por período de 7 a 10 dias. Nos casos extensos está indicada a internação hospitalar. Victoria Rueda Inácio Síndrome do Choque Tóxico Definição: doença febril, aguda e multissistemica causada por uma exotoxina pelo S. Aureus cuja característica principal é a presença de erupção eritematosa Fisiopatologia: A doença é causada por dois tipos de exotoxinas produzidas por cepas de S. aureus fago grupo I. Tem-se atribuído à falta de anticorpos protetores o fator essencial para a deflagração da doença. A maioria dessas cepas era isolada da mucosa cervical de mulheres que menstruavam. Provavelmente estas exotoxinas provoquem a liberação e ativação do complemento, sistema de coagulação, calicreína e prostaglandinas, produzindo as manifestações clínicas. A ação da exotoxina se faz através de ação direta sobre múltiplos órgãos, como um superantígeno, e por fim diminuindo a depuração de endotoxinas endógenas da flora intestinal. Epidemiologia: No início a maioria dos casos da síndrome eram relacionados com mulheres brancas durante ciclo menstrual. Depois, com o passar do tempo, observouse que havia um número maior de casos relacionados com procedimentos cirúrgicos, piodermites, abscessos, infecções pós-parto e sítios de infusão com bomba de insulina e que afetavam ambos os sexos. Sinais: hipotensão, febre baixa e poucas alterações laboratoriais até um quadro de hipertermia, hipotensão importante ou choque e disfunção de vários sistemas orgânicos. Sintomas: início dos sintomas costuma ocorrer 1 a 2 dias após o término do período menstrual ou durante as outras causas citadas. Eritema do tipo escarlatiniforme no tronco que se disseminacentripetamente. Edema e eritema de mãos e pés, além de hiperemia de orofaringe, conjuntiva e língua em morango podem ser observados. Evolução: após um período de 5 a 10 dias seguese a descamação palmoplantar e das áreas corporais envolvidas. Nos casos graves devese proceder à internação hospitalar. Complicações: incluem graus variáveis de insuficiência renal, amenorreia, artralgias, fadiga e fraqueza, mialgias, parestesias e gangrenas. Tratamento: cuidar de todos os possíveis focos de infecção, inclusive proceder à retirada de tampões nasais, sondas, drenos e absorventes internos. Antibioticoterapia deve ser feita de preferência com oxacilina ou vancomicina. Victoria Rueda Inácio Celulite Definição e etiologia: é uma infecção da derme e do tecido celular subcutâneo causada por S. Pyogenes e S. Aureus nos adultos e H. Influenza tipo B em crianças com menos de 3 anos de idade. Fatores predisponente: incluem doença vascular periférica, alcoolismo, malignidade e diabetes. Fatores de desencadeante: infecções recidivantes podem ser causadas por danos a cadeias ganglionares, ressecções de grandes veias das pernas como a safena e danos ao sistema linfático como resultado de infecções prévias. Fisiopatologia e estratigrafia: As bactérias podem atingir a derme e o subcutâneo por via hematogênica ou externa. Normalmente há uma quebra da barreira cutânea responsável pela infecção. Sinais: febre, calafrios e malestar geralmente estão presentes, porém com intensidades variáveis. Sintomas: presença de lesão eritematosa com rubor, calor, edema e dor já faz suspeitar de celulite. Evolução: Vesículas, bolhas, pústulas e necrose chamam a atenção para a gravidade do quadro. Nas crianças costuma ocorrer na face e pescoço enquanto nos adultos as extremidades são os locais preferenciais. Complicações: glomerulonefrite aguda (cepa nefritogênica), endocardite bacteriana e dano às cadeias linfáticas por infecção de repetição. Victoria Rueda Inácio Diagnóstico: é clínico. O hemograma pode mostrar leucocitose. No caso de infecções por gramnegativos costuma ocorrer desvio à esquerda. O isolamento do agente é difícil. A velocidade de hemossedimentação de primeira hora costuma estar aumentada. Nos casos graves a punção aspirativa mais a cultura devem ser instituídas. Diagnóstico Diferencial: deve ser feito com trombose venosa profunda, dermatite de estase, tromboflebite superficial, paniculites, vasculites e síndrome de Sweet. Tratamento: a hospitalização deve ser reservada aos casos graves. O paciente deve permanecer em repouso e receber analgésicos e antibióticos. Na possibilidade da ocorrência de vesículas, bolhas e exsudação da pele, costumase utilizar compressas de permanganato de potássio 1:30.000 ou 1:40.000 3 a 4 vezes/dia. Nos membros inferiores, é útil a posição em Trendelemburg. Nos adultos o objetivo é utilizar antibióticos contra estafilococos e estreptococos, sendo o principal exemplo a penicilina procaína 400.00 UI IM 12/12 h por 10 a 14 dias. Ainda são utilizadas a cefalexina 0,5 a 1,0 g VO ou IV de 6/6 h, a eritromicina 250 a 500 mg VO 6/6 h ou uma penicilina resistente à penicilinase, a dicloxacilina 0,5 a 1 g intravenosa (IV) 6/6 h. Nas crianças, a terapia para o H. influenzae deve ser instituída. Os principais antibióticos são: (1) ampicilina, cuja resistência varia de 5 a 30%; (2) cefalosporinas de segunda geração como a cefuroximida; ou (3) cefalosporinas de terceira geração como a ceftriaxona, com boa penetração no liquor e atividade contra o H. influenzae tipo B produtor de betalactamase. Nos casos recorrentes, a eritromicina 250 a 500 mg VO 12/12 h e a fenoximetilpenicilina 250 a 500 mg VO 12/12 h podem ser utilizados por 3 a 4 semanas. Victoria Rueda Inácio Erisipela Definição: é um tipo de celulite superficial caracterizada por infecção da derme superficial e um importante envolvimento linfático. Origem: feridas, traumas, pústulas e todas as condições que possibilitem a disseminação do estreptococo com aquelas ligadas a queda de resistência como diabetes melito, desnutrição, insuficiência venosa e arterial, sanfenectomia etc. Agente etiológico: S. Pyogenes - especialmente do tipo A. Epidemiologia: acomete jovens, idosos, debilitados e aqueles portadores de linfedema e úlceras crônicas. A doença predomina nas mulheres, exceto no grupo jovem. É frequente nos meses quentes. Local de acometimento: membros inferiores e a face. Período de incubação: varia de 2 a 5 dias. Sinais: cerca de algumas horas a 1 dia após o aparecimento dos sintomas, uma área de pele eritematosa bem demarcada começa a surgir mostrando rápido crescimento centrífugo. Esta área mostra-se quente, dolorosa, edematosa e indurada. Pode evoluir com o aparecimento de vesículas, bolhas de conteúdo seroso ou serossanguinolento e necrose hemorrágica. Sintomas: febre baixa ou não, calafrios, mal-estar e dores no corpo, todos de intensidade variável Evolução: descamação e pigmentação acastanhada pós-inflamatória. Diagnóstico: baseado nos achados clínicos. O hemograma pode apresentarse com leucocitose e desvio à esquerda. A velocidade de hemossedimentação está aumentada. A hospitalização deve ser reservada às crianças, aos debilitados e aos casos em que a extensão da lesão e acometimento do estado geral ponham em risco a vida do paciente. Tratamento: O paciente deve permanecer em repouso e receber analgésicos. No caso de haver bolhas e exsudação da pele, costumase utilizar compressas de permanganato de potássio 1:30.000 ou 1:40.000 3 a 4 vezes/dia. Nos membros inferiores, é útil a posição em Trendelenburg. A penicilina é o tratamento de escolha para as erisipelas causadas por estreptococos. Podese utilizar a penicilina procaína 400.00 UI por via intramuscular (IM) 12/12 h por 10 a 14 dias e a cefalexina 0,5 a 1,0 g VO ou IV de 6/6 h por 10 a 14 dias. Os macrolídios como a eritromicina 250 a 500 mg VO 6/6 h podem ser úteis nos casos com suspeita de alergia às penicilinas. Nas crianças a terapia para o H. influenzae deve ser instituída. Nos casos recorrentes com problemas circulatórios locais como o linfedema, a eritromicina 250 a 500 mg VO 12/12 h ou a fenoximetilpenicilina 250 a 500 mg VO 12/12 h podem ser utilizados por 3 a 4 semanas. Victoria Rueda Inácio FISIOPATOLOGIA DA CELULITE E DA ERISIPELA A erisipela e a celulite podem ser decorrentes de traumas e soluções de continuidade da pele, causadas por infecções fúngicas superficiais, como a tinha do pé, as úlceras de perna ou outros processos inflamatórios ou infecciosos locais. A erisipela e a celulite são causadas por estreptococos, em geral do grupo A de Lancefield, raramente dos grupos G, C e B. Na celulite, raramente pode haver associação de Streptococcus com Staphylococcus aureus, ou haver infecção causada de forma exclusiva por estafilococos. Haemophylus influenzae pode causar celulite facial nas crianças abaixo de 2 anos de idade, após infecção por otite média ipsilateral. A ocorrência de celulite por Haemophylus influenzae parece estar diminuindo com a imunização contra este agente. Infecções estreptocócicas do grupo B podem ser causa de erisipela e celulite nas crianças abaixo de 3 meses de idade e nas erisipelas pélvicas pós-cirúrgicas. Victoria Rueda Inácio Fascite Necrotizante Definição: É caracterizada por necrose rapidamente progressiva do tecido celular subcutâneo e da fáscia muscular subjacente, podendo ser ameaçadora à vida caso não sejam realizados um diagnóstico rápido, uma pronta intervenção cirúrgica e um tratamento antibiótico imediato. Fator desencadeante: bactérias aeróbias e anaeróbias representadas por Streptococcus, S. aureus, E. coli, Bacteroides e Clostridium spp. Os 10% restantes são representados por estreptococos do grupo A. Epidemiologia: acomete indivíduos idosos, portadores de diabetes melito, doença vascular periférica, doença cardíaca crônica e, também, os dependentes de álcool. Tipo II da doença costuma ocorrer em jovenssadios sem doença prévia. Causas: infecção pode ser resultado de um ferimento cortante ou penetrante ou mesmo não haver história precedente. Outras causas incluem a varicela, úlcera de decúbito ou isquêmica e cirurgia recente. Característica da lesão: aspecto de celulite com sinais de edema, calor, edema e que, não responde aos antibióticos. Porém, com a evolução surge lesão eritêmatopurpúrica de superfície lisa e brilhante que logo é substituída por áreas cinzaazuladas bem definidas, após cerca de 36 h de seu início Evolução: necrose da fáscia e do tecido celular subcutâneo com o aparecimento de líquido fétido. Anestesia pode surgir à medida que ocorre a destruição de filetes nervosos. Sintomas: febre, malestar, dores musculares, calafrios e evolução para o choque. Quadro caracterizado pelo acometimento extenso do escroto, períneo e região abdominal denominado como doença de Fournier. A presença de dor intensa, a progressão rápida para a formação de edema e bolhas, o choque, a elevação de CPK, a associação com varicela ou o uso de AINH constituem fortes indícios da doença. Diagnóstico: A terapêutica antimicrobiana é imprescindível. A priori estará baseada na cultura e antibiograma feitos. Tratamento: De forma geral, devem ser utilizados os antibióticos betalactâmicos e os inibidores de betalactamase suficientes para cobrir a maioria dos bacilos gramnegativos, estafilococos, estreptococos e anaeróbios e, nesses casos, são utilizados a piperacilina/tazobactam. Nos casos de septicemia devese incluir ciprofloxacino. Victoria Rueda Inácio Nos casos de alergia às penicilinas devese utilizar ciprofloxacino e metronidazol. Na presença de bactérias anaeróbias gramnegativas podese utilizar a câmara hiperbárica como alternativa extrema. Discutese a indicação de imunoglobulina intravenosa nos casos do tipo II. Aporte nutricional é fundamental para estimular a cicatrização pósoperatória. Do ponto de vista cirúrgico, o desbridamento é o principal caminho para a cura Furúnculo e Antraz Definição: é uma infecção bacteriana do folículo piloso e da glândula sebácea anexa, de evolução aguda que ocorre com necrose e supuração local. O antraz re- presenta um conjunto de furúnculos coalescentes Etiologia/fisiopatologia: O furúnculo é causado por Staphylococcus aureus, que acomete o folículo piloso e a glândula sebácea anexa. É relativamente raro na infância, predominando na adolescência e nos adultos jovens. Podem ocorrer surtos epidêmicos de furúnculos. Staphylococcus aureus pode estar presente nas narinas e na região perineal de indivíduos que se comportam como carreadores da infecção, ou persistir nas áreas previamente acometidas pelo furúnculo. A disseminação da infecção ocorre pelas mãos e roupas. Trauma local e fricção podem desencadear o aparecimento da lesão cutânea. Victoria Rueda Inácio Exame Clínico: O furúnculo e o antraz ocorrem nas áreas onde ocorrem os folículos pilossebáceos. A lesão inicial do furúnculo é uma pápula eritematosa, folicular, que aumenta de tamanho, formando nódulo profundo, eritematoso, com calor e flutuação e saída de secreção purulenta. A evolução é variável, de poucos dias a 2 ou 3 semanas. A lesão é muito dolorosa, pode ser única ou múltipla, com aparecimento em surtos. Os locais mais acometidos são áreas pilosas da face, pescoço, braços, punhos, nádegas e região anogenital, podendo ocorrer também nos membros inferiores. Após a saída do material necrótico, há cicatrização da lesão, com mancha violácea residual e formação de cicatriz. Diagnóstico/exames complementares: Coleta de material por meio de aspirado da lesão, com cultura para bactérias de secreção resulta positiva para Staphylococcus aureus. O antibiograma pode ser útil para o tratamento. Tratamento: Calor úmido local alivia o desconforto e facilita a drenagem espontânea da lesão. Mupirocina tópica 2%, pomada na lesão e área perilesional são indicadas para lesões pequenas e localizadas. Quando a lesão é localizada, dolorosa e há flutuação, indica-se drenagem, com coleta de material para diagnóstico laboratorial. Antibióticos sistêmicos são indicados nas formas extensas da doença, como cefalexina 500 a 1.000 mg a cada 6 horas, cefadroxil VO 500 a 1.000 mg a cada 12 horas, clindamicina VO 300 a 450 mg a cada 6 horas ou eritromicina 500 mg a cada 6 horas por 10 a 14 dias nos adultos. Nos quadros graves, indica-se o uso de oxacilina EV 2g a cada 4horas, podendo variar de 1 a 2 g a cada 4 ou 6 horas ou vancomicina EV 15 mg/kg a cada 12horas (doente de 70kg = 1g a cada 12horas) por um período variável de 10 a 21 dias. A lavagem das mãos é importante após a manipulação da lesão, para evitar disseminação da infecção cutânea. A conduta nas infecções de repetição é a coleta de secreção por meio de aspirado da lesão para cultura para bactérias com antibiograma, que pode orientar a terapêutica26. Orienta-se o uso de sabonetes anti-sépticos. A profilaxia indicada para impedir a colonização pelo S. aureus é a aplicação tópica de mupirocina no doente e nos familiares nas narinas, nas unhas e na região do períneo 2 vezes/dia durante 5 dias, podendo-se, eventualmente, manter esse tratamento de 5 dias todos os meses por 1 ano. Abscesso Definição: é a infecção bacteriana causada por Staphylococcus aureus que ocorre nos locais de trauma, queimadura, pela presença de corpo estranho ou nos locais de inserção de cateteres endovenosos. Deve-se observar que existem surtos epidêmicos de infecção por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina adquiridos na comunidade que se apresentam clinicamente como abscessos, por vezes acompanhados de celulite Victoria Rueda Inácio Foliculite Infecções bacterianas que se iniciam no folículo piloso. Podem ser superficiais (osteofoliculite, sicose e hordéolo) e profundas (furúnculo e antraz). Antraz é um conglomerado de furúnculos coalescentes, e furunculose é a sucessão de múltiplos furúnculos. Sua etiologia: Staphylococcus aureus (mais frequente) e bactérias Gram- negativas (Enterobacter, Klebsiella, Escherichia, Serratia e Proteus). As foliculites superficiais apresentam pápulas eritematosas e pústulas associadas a prurido e leve desconforto. As foliculites profundas apresentam nódulos com intensa reação inflamatória e dor local. O furúnculo apresenta nódulos eritematosos quentes com pus amarelo- esverdeado, material necrótico (carnegão) e abscesso local nas áreas de maior atrito e sudorese (pescoço, axilas e nádegas). Victoria Rueda Inácio 2 - Diferenciar as infecções adquiridas na comunidade/hospitalar nosocomiais Adquiridas na comunidade Uma infecção comunitária é a infecção constatada ou em incubação no ato de admissão do paciente, desde que não relacionada com internação anterior no mesmo hospital. São também comunitárias: As infecções associadas as complicações ou extensão desta, sugere que há sintomas fortemente sugestivos da aquisição de uma nova infecção, a menos que haja troca de microrganismos ou sinais. Os organismos que invadem o corpo e provocam infecções são disseminados de diversas maneiras. Pelo ar, por meio da tosse ou de espirros, ou por contato direto, como um aperto de mão, por exemplo. Alguns agentes infecciosos que se propagam nos seres humanos são provenientes de animais ou de produtos animais (carne ou ovos). Alguns exemplos de infecção em recém-nascido, por via transplacentária quando conhecida ou comprovada, se torna evidente logo após o nascimento como: Herpes simples, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirose, sífilis e AIDS. Adicionalmente, são também consideradas comunitárias todas as infecções de recém-nascidos associadas com bolsa rota superior a 24 horas. Os métodos de saúde pública têm efeito importantíssimo na prevenção da propagação das doenças infecciosas. A eliminação apropriada dos esgotos e disponibilidade de água potável tem suprimido em grande parte as epidemias tais como a febre tifoide e a cólera. As imunizações e vacinas constituemoutro aspecto da medicina moderna que tem eliminado ou reduzido notavelmente à frequência das doenças infecciosas tais como a varíola e a poliomielite. As seguintes medidas preventivas podem ajudar a diminuir a propagação das doenças em casa: Exija que as mãos sejam lavadas constantemente; Impeça que seu filho adquira o hábito de levar a mão à boca ou ao nariz demasiadamente; Não fume perto de seus filhos; Cozinhe bem todas as carnes e aves; Evite comer ovos crus ou que não estejam bem cozidos; Prefira os cuidados domésticos; Limpe os locais contaminados com desinfetantes; Mantenha o programa de vacinação atualizado. Victoria Rueda Inácio Infecções hospitalares/nosocomiais As infecções são geralmente causadas pelas agressões ao organismo humano decorrentes das intervenções terapêuticas. Os atendimentos de média e alta complexidade deixaram de se restringir aos hospitais de doentes agudos. Proliferaram os modelos de assistência não hospitalar, tais como: serviços de cirurgia ambulatorial, clínicas de hemodiálise, hospitaisdia, equipes de atendimento domiciliar, entre outros. Como o risco de complicações infecciosas é significativo em todos esses serviços, documentos governamentais e publicações de especialistas têm substituído “Infecção Hospitalar” por “Infecção Relacionada com a Assistência em Saúde”. Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Essas comissões, formadas por representantes dos serviços médicos e por profissionais de laboratório, tinham o objetivo de deter o aumento de infecções por microrganismos como o Staphylococcus aureus em pacientes hospitalizados. O controle de infecção no Brasil encontra amparo na Lei n° 9.431, de 1997. Segundo essa legislação, cada hospital é obrigado a manter um Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) definido como “o conjunto de ações desenvolvidas, deliberada e sistematicamente, com vistas à máxima redução possível da incidência e gravidade das infecções hospitalares”. Para executar o PCIH, deve ser constituída uma CCIH. A Portaria Ministerial n° 2.616, de 1998, definiu a composição e as atribuições de uma CCIH. Embora esteja atualmente em discussão ampla revisão dessa Portaria, seus princípios são de grande importância para o estabelecimento de políticas públicas de controle de infecções hospitalares e não devem ser alterados. A infecção hospitalar como um problema de saúde pública A Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o controle de Infecção Hospitalar entre as prioridades globais de saúde, e iniciativas multinacionais foram postas em prática. Uma das mais importantes foi a formação da “Aliança Mundial para a Segurança do Paciente” (World Alliance for Patient Safety) em 2004. Esse movimento demonstra a necessidade de encarar a Infecção Hospitalar como um problema de saúde pública, e não – como é prática comum – como apenas um item de qualidade do hospital. Comparados aos hospitais dos EUA e Europa, aqueles localizados em países de baixa/média renda apresentaram três vezes mais infecções em unidades de terapia intensiva (UTI), nove vezes mais infeções em neonatologia e o dobro da incidência de complicações infecciosas de procedimentos cirúrgicos. Victoria Rueda Inácio Os autores apresentam várias justificativas para esse fato, como falta profissionais qualificados, ausência de investimento em prevenção e dificuldades com retaguarda laboratorial em microbiologia. Podemos acrescentar a essa lista a sobrecarga de trabalho em equipes de assistência subdimensionadas. Todos esses fatores colaboram para maior incidência e gravidade das infecções hospitalares. Vigilância epidemiológica das infecções hospitalares Para combater de modo eficaz as infecções hospitalares, é necessário quantificá- las. Cada hospital deve identificar as unidades e os procedimentos que mais apresentam risco de complicações infecciosas para os pacientes. A determinação das taxas endêmicas usuais permite o direcionamento de ações para redução de endemias, bem como o reconhecimento de situações fora de controle, tais como surtos e epidemias. A vigilância epidemiológica da infecção hospitalar é uma das atribuições da CCIH. 3 - Caracterizar os mecanismos do S. Aureus Staphylococcus aureus são gram positivos e anaeróbios facultativos, ou seja, sobrevivem em ambientes aeróbicos e anaeróbios. Eles não são móveis e não formam esporos. Os estafilococos produzem uma enzima chamada catalase que converte o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. Outros cocos comuns, como estreptococos e enterococcus, são catalase negativos, então não têm essa capacidade e podemos usar algumas gotas de peróxido de hidrogênio para diferenciá-los. As bactérias catalase positivas irão espumar, enquanto nas bactérias catalase negativas, nada acontece. Agora, algumas outras espécies de estafilococos, como S. Epidermidis e S. Saprophyticus também são catalase positivas, então para distinguir entre elas podemos procurar outra enzima que é feita por S. Aureus, chamada coagulase. A coagulase converte fibrinogênio em fibrina. Então, digamos que agitamos algumas bactérias Staph aureus em uma "emulsão" líquida e, em seguida, adicionamos algumas gotas de plasma que contém fibrigênio. O S. Aureus coagulase positivo converterá o fibrinogênio solúvel em fibrina, que então se aglomera visivelmente, enquanto as bactérias coagulase negativas não. S. Aureus é extremamente comum e cerca de um quarto da população é colonizada por ele, geralmente nas narinas, virilha, axilas e outras partes da pele. Mas, na maioria das vezes é um problema normal da nossa flora da pele, e não causa problemas. Victoria Rueda Inácio A flora da pele é um ecossistema complexo de diferentes espécies bacterianas e ocasionalmente, S. Aureus pode começar a dominar esse ecossistema. Em indivíduos que têm colonização por S. Aureus, uma série de fatores como o pH, umidade, níveis de suor da pele, bem como a presença de outras bactérias em nossa pele, afetam a quantidade de S. Aureus que está presente. Se mais e mais S. Aureus estiver ao redor da pele, ele começa a penetrar através de pequenas microfissuras na pele, como se obtém o eczema, bem como rupturas maiores na pele, como ao se barbear. Na verdade, é particularmente problemático em termos de causar infecções de feridas onde há uma grande ruptura na pele por trauma ou após uma cirurgia. Assim, baixos níveis de S. Aureus com pele intacta levam à colonização, enquanto altos níveis de S. Aureus com rupturas na pele levam a infecções. Quando o S. Aureus invade a pele, pode levar a infecções cutâneas localizadas, como uma espinha que pode evoluir para um furúnculo. Um monte de aglomerados de furúnculos juntos formam um carbúnculo. Também pode haver infecções difusas da pele, como impetigo superficial, que é uma infecção da epiderme, ou celulite mais profunda, que é uma infecção da derme e pode se espalhar rapidamente por superfícies maiores. Se a infecção for mais profunda, ela pode evoluir para um abscesso subcutâneo - uma coleção de pus que é murada e às vezes desenvolve paredes finas dentro dela - chamadas septações. Lá os abscessos podem ocorrer em todo o corpo, inclusive na boca, onde são chamados de abscessos dentários, e podem se desenvolver em vários órgãos, como fígado, rim, baço e cérebro. Agora na infecção que está sobrejacente a um músculo, ele pode se espalhar para dentro do músculo causando uma piomiosite. Se entrar no osso, pode causar osteomielite e, se entrar no espaço articular, pode causar artrite séptica. Finalmente, se o S. Aureus entrar na corrente sanguínea, pode causar tromboflebites sépticos - um coágulo sanguíneo infectado Além disso, as bactérias no sangue são chamadas de bacteremia e podem levar a vários problemas sérios. Normalmente, há uma reação imunológica generalizada que faz com que os vasos sanguíneos se expandam e a pressão sanguínea caia. O resultado é hipotensão e má perfusão para vários órgãos - um processo chamado sepse. Victoria Rueda InácioUma vez no sangue, o S. Aureus também pode atingir várias partes do corpo. Pode entrar no sistema nervoso central - causando meningite bacteriana ou um abscesso epidural na coluna. Pode entrar no pulmão causando uma pneumonia grave. Ele pode começar a crescer nas válvulas cardíacas em aglomerados chamados vegetações - danificando as válvulas - um processo chamado endocardite infecciosa. Pedaços das vegetações podem, então, descascar e embolizar ainda mais, causando outras infecções locais ao redor do corpo. Agora, além de invadir esse corpo através da pele, o S. Aureus também pode entrar diretamente na corrente sanguínea quando uma pessoa está passando por uma cirurgia ou tratamento odontológico. Esses eventos ocorrem com pouca frequência, mas quando surgem, é importante tomar precauções. Por exemplo, indivíduos com alto risco de contrair uma doença grave com S. Aureus - como indivíduos imunocomprometidos ou aqueles que correm risco de endocardite infecciosa - devem receber profilaxia antibiótica. Outra propriedade do S. Aureus é sua capacidade de criar biofilme em implantes médicos, como cateter intravenoso permanente, válvulas cardíacas protéticas e articulações artificiais. O biofilme é, essencialmente, uma camada de “slime” dentro da qual vive o estafilococo. Ela se forma quando um aglomerado de S. Aureus adere a uma superfície natural, como a superfície de uma válvula, ou artificial, como a superfície de um cateter. As bactérias começam a produzir matriz extracelular feita de exopolissacarídeos, ou EPS, e com o tempo as células ficam completamente cercadas por ela. As células que são cercadas pela camada gelatinosa de exopolissacarídeos podem se comunicar umas com as outras por meio de sinais bioquímicos e podem até trocar informações genéticas de um lado para o outro - incluindo genes de resistência a antibióticos. Além disso, o Staph aureus prospera, mas não se divide rapidamente dentro desses biofilmes, e é relativamente difícil para os antibióticos penetrarem nos biofilmes. Combinar isso torna muito mais difícil se livrar dessas infecções por biofilme e, muitas vezes, requer simplesmente a remoção da superfície em que estão crescendo, se possível. Victoria Rueda Inácio Se tudo isso não bastasse, o S. Aureus também pode liberar superantígenos ou toxinas. De fato, existem cinco principais toxinas relacionadas ao S. Aureus - toxina da síndrome do choque tóxico, toxina da leucocidina panton-valentina, hemolisina, esfoliatina e enterotoxina. A toxina da síndrome do choque tóxico é produzida no local da infecção e pode entrar na corrente sanguínea. Liga-se ao complexo principal de histocompatibilidade tipo II ou MHC II, que é um receptor encontrado nas células imunes chamadas células apresentadoras de antígenos. Quando a toxina da síndrome do choque tóxico - se liga aos receptores MHC II nessas células, ele realmente as estimula, fazendo com que elas liberem cargas de substâncias químicas pró-inflamatórias chamadas citocinas, criando uma tempestade de citocinas. A tempestade de citocinas resulta em uma série de mudanças fisiológicas como febres, queimaduras solares como erupção cutânea, pressão arterial baixa e má perfusão de órgãos-alvo que podem resultar em morte - e juntos isso é chamado de síndrome do choque tóxico. A hemolisina é outra toxina formadora de poros que destrói eritrócitos ou glóbulos vermelhos, liberando sua hemoglobina, que contém ferro, no sangue. S. Aureus usa ferro em seu próprio metabolismo, então esta é uma maneira de ter acesso a esse metal pesado cobiçado. A toxina esfoliatina causa a síndrome da pele escaldada estafilocócica, SSSS. Se cria manchas dolorosas de pele vermelha, com bolhas cheias de líquido, mas geralmente se resolve dentro de algumas semanas. Enterotoxina - S. Aureus pode pousar na comida e começar a gerar enterotoxina. A enterotoxina é estável no ambiente, e pode permanecer ativa mesmo depois que as bactérias são mortas por cozimento. A toxina pode até suportar a fervura a 100 graus Celsius por alguns minutos. Se a toxina for ingerida, pode causar intoxicação alimentar – com sintomas como vômitos e diarreia algumas horas após a ingestão. O principal tratamento para infecções são os antibióticos, mas o staph aureus se adapta rapidamente e desenvolveu resistência a vários antibióticos. As penicilinas, que são antibióticos beta-lactâmicos, foram testadas desde o início. Eles funcionam interrompendo a desativação da enzima DD-transpeptidase, que é uma proteína de ligação à penicilina. A PBP é responsável por fazer a reticulação das longas fitas de aminoácidos polissacarídeos que compõem a parede celular do peptidoglicano, correndo em paralelo. Estes são feitos de segmentos de N-acetilglucosamina, ou NAG, e ácido N-acetilmurâmico, ou NAM, em um padrão alternado - assim, NAG, NAM, NAG, NAM e assim por diante, como um colar de pêra. Saindo das pontas dessas subunidades NAM (N-acetilmurâmica) estão as cadeias tetrapeptídicas e pentapeptídicas. Essas cadeias peptídicas podem se ligar a outras cadeias peptídicas das fitas vizinhas por meio de um processo conhecido como traspeptidação. Se os PBPs não funcionarem, nenhum peptidoglicano é produzido e a parede celular fica com vazamento. Então, quando as bactérias tentam se dividir e fazer mais parede celular - elas simplesmente não conseguem e morrem. Hoje em dia, praticamente todas as cepas de S aureus produzem beta-lactamases que lhes permitem simplesmente desativar os antibióticos beta-lactâmicos, quebrando seu anel beta-lactâmico. Em seguida, antibióticos chamados inibidores da beta lactamase, como o ácido clavulânico, foram usados para ligar e desativar as beta lactamases. Além disso, novos tipos de antibióticos beta-lactâmicos, como a meticilina, eram intimidantes que não podiam ser facilmente destruídos pelas beta-lactamases. Infelizmente, algumas cepas de S. Aureus também encontraram uma maneira de contornar isso, evoluindo e expressando um gene chamado mecA, que codifica PBPs especiais - que não são afetados por antibióticos beta-lactâmicos. A meticilina e as penicilinas mais antigas não podem se encaixar fisicamente neles, tornando-os ineficazes. Essas cepas de staph aureus resistentes à meticilina são chamadas de MRSA para abreviar - e se tornaram mais comuns em todo o mundo. Existem duas categorias principais de MRSA - o MRSA associado aos cuidados de saúde, ou HA-MRSA, e o MRSA associado à comunidade, ou CA-MRSA. O HA-MRSA é encontrado em locais como hospitais e asilos, onde há muitos pacientes com doenças crônicas e um alto uso de antibióticos. O CA-MRSA é encontrado na comunidade e acredita-se que seja devido ao uso desenfreado de antibióticos em fazendas industriais e à prescrição excessiva de antibióticos. Tanto o HA-MRSA quanto o CA-MRSA representam um grande problema porque as infecções com essas cepas não podem ser tratadas com antibióticos beta-lactâmicos. Como resultado, outra classe de antibióticos - antibióticos glicopeptídicos, como a vancomicina, são frequentemente usados. Infelizmente, não é tão eficaz e vem com efeitos colaterais problemáticos. Victoria Rueda Inácio Para piorar as coisas, algumas cepas de staph aureus desenvolveram resistência intermediária à vancomicina, e são chamadas de "intermediário de vancomicina S. Aureus'', ou VISA para abreviar. Não é o tipo de visto que alguém deseja obter. E as cepas com resistência completa são chamadas de "S.aureus resistentes à vancomicina'', ou VRSA. Victoria Rueda Inácio
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