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1 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Síndrome Isquêmica Aguda INTRODUÇÃO • Conceito: o A oclusão arterial aguda é uma síndrome que acontece por descompensação súbita da perfusão do membro por privação circulatória o Pode ocorrer através de uma embolia ou de uma trombose ▪ A embolia é a saída de um coágulo (normalmente do átrio esquerdo) que se desprende e atinge a circulação periférica, podendo ocluir vasos de diferentes partes do corpo ▪ A trombose é uma situação que normalmente tem uma presença de uma placa aterosclerótica (de evolução lenta), estreitando o vaso, podendo chegar a ocluir o Essas oclusões terão repercussões locais e sistêmicas • Manifestações clínicas: o 5 P’s (em inglês) ▪ Pain (Dor) → Pela falta de oxigênio ▪ Pulseless (Ausência de pulso) → Pela oclusão do vaso ▪ Parestesia/Paralisia ▪ Palidez → Por ausência de sangue na microcirculação ▪ Poiquilotermia (frio) → A ausência de sangue gera frio • Embolia: o Causas → Principalmente cardíacas, mas também não-cardíacas e idiopáticas / de outras origens ▪ Fibrilação atrial → Mais comum causa de embolia, o êmbolo surge de trombos murais atriais ▪ IAM → O êmbolo é formado na parede infartada (surge de trombos murais ventriculares formados dentro de horas ou semanas) ▪ Valvulopatias, cardiomiopatias e próteses valvulares cardíacas ▪ Endocardite bacteriana ou micótica e mixomas • Trombose: o Causas → A causa mais comum é a aterosclerose, mas também há outras causas por lesão do endotélio ▪ Aneurismas e arterites ▪ Trauma, arma branca e fraturas ▪ Dissecções → Ex.: Lesão gaveta na luxação do joelho (Dissecção da A. Poplítea) o Ocorre principalmente em vasos afetados por aterosclerose preexistente o Todo vaso tem circulação colateral preexistente, porém não é desenvolvida, como a trombose vai estreitando o vaso lentamente dá tempo de desenvolver uma circulação colateral PROF. LEONARD ROELKE 2 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Por essa circulação colateral, a isquemia resultante é menos grave e os sintomas da trombose são menos intensos que os da embolia o O vaso periférico mais acometido por trombose é a Artéria Femoral Superficial o Os aneurismas de Artéria Poplítea são mais sujeitos a trombosarem do que a romperem • Embolia x Trombose: o Embolia → Geralmente cursa com artéria lisa (sem sinal de doença), dor intensa (pouca circulação colateral), sem doença arterial prévia, doença cardíaca frequente e pulso contralateral presente o Trombose → Geralmente cursa com sintomas mais brandos (subagudos), doença cardíaca ocasional, pulso contralateral diminuído ou ausente, artérias irregulares/doentes/tortuosas e circulação colateral exuberante CLASSIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO • Classificação de Rutherford: o Essa classificação mostra a viabilidade do membro na doença (desde uma isquemia leve até o momento que o membro se torna inviável) o O sinal patognomônico para saber se o membro está inviável é a cianose fixa (paciente já está com paralisia, membro frio, o tecido já está morto) A - Embolia | B - Trombose 3 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Não adianta revascularizar, pois pode matar o paciente, pois vai pegar todos os catabólicos da perna e espalhar pelo organismo ▪ Pele é um dos tecidos mais resistentes à isquemia, então se a pele está morta tudo lá dentro vai estar • Investigação diagnóstica: o Doppler unidirecional o Ecocolordoppler o Arteriografia o Angiotomografia o Angioressonância • Tratamento: o Embolia → Embolectomia com cateter de Fogarty (cateter com balão na ponta para inflar e puxar o êmbolo até ele sair na entrada do cateter) ▪ Esse método não pode ser utilizado na trombose pois o vaso está cheio de placa, então o trombo e várias placas seriam arrastadas lesando todo o endotélio, predispondo a novas tromboses após o Trombose → Pode ser tratada com trombólise ou aspiração com cateter (não trata com trombólise sistêmica e sim localizada) ou ainda com revascularização aberta com ponte/enxerto o Dissecção e trauma → Revascularização aberta com ponte/enxerto ou cirurgia endovascular (stents) COMPLICAÇÕES • Complicações: o Síndrome do compartimento o Síndrome de reperfusão o Neurite pós isquêmica → Lesão no nervo periférico devido à isquemia o Reoclusão → Toda vez que há oclusão arterial há lesão endotelial pela presença do trombo, então há possibilidade de reoclusão mesmo com a retirada do êmbolo/trombo 4 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Síndrome de compartimento: o Essa síndrome é mais importante na perna → Há 4 compartimentos (tibial anterior, lateral, posterior profundo e posterior superficial) o Quando revasculariza um membro que estava em isquemia, as células estão lesadas e há extravasamento para o interstício e gera um edema muito grande ▪ Esse edema pode ser tão grande que o edema dentro dos compartimentos faz com que o sangue não chegue em todos os locais, gerando a síndrome do compartimento ▪ Maior risco em revascularização após 4-6 horas de isquemia grave o O tratamento para essa síndrome é abrir esses compartimentos descomprimindo ▪ Se quiser abrir todos de uma vez pode ser feita a retirada da fíbula ▪ Normalmente só abrimos os mais importantes, o tibial anterior e o tibial posterior o Na coxa, o compartimento mais importante é o anterior do quadríceps e, nos MMSS, o anterior do antebraço o Sintomas ▪ O sintoma mais característico é dor acentuada à compressão e o compartimento totalmente ingurgitado ▪ O paciente tem pulso periférico e enchimento capilar presentes ▪ O sintoma mais precoce é dor intensa ▪ Desconforto à extensão passiva com dorsiflexão ou flexão plantar do pé ▪ Dormência na região interdigital do hálux o Tratamento ▪ Diagnóstico precoce é imprescindível → Se há suspeita, faz uma fasciotomia ▪ Descompressão rápida para prevenir lesão permanente e incapacitante ▪ Em caso de diagnóstico questionável, também podem ser feitas medições diretas dentro dos compartimentos ou aparelhos portáteis manuais (> 30 mmHg confirma) ▪ É feita a fasciotomia com incisões de pele de todo o local • Síndrome de reperfusão: o Ocorre depois que se reestabelece a circulação do paciente depois de uma isquemia o Existem diferença de sensibilidade à isquemia dependendo do tecido ▪ Altamente sensíveis (lesões irreversíveis após 3 a 5 minutos) → SNC ▪ Mediamente sensíveis (suportam 30 minutos a 2 horas) → Epitélio renal, tecido hepático e miocárdio ▪ Baixamente sensíveis (lesões irreversíveis depois de horas ou dias) → Pele, nervos periféricos e musculatura estriada o Quando reperfunde, pela lesão da musculatura, vai jogar todo conteúdo intracelular na circulação, então pode ter lesão renal (mioglobinúria), hiperpotassemia, presença de radicais livres tóxicos na circulação etc. o A abordagem após reperfusão é enviar o paciente ao CTI para evitar as possíveis complicações (medidas de suporte em terapia intensiva, hidratação vigorosa, medidas para potassemia e acidose etc.) o Algumas terapias podem atuar na proteção de órgãos das lesões de isquemia/reperfusão 5 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Antioxidantes → Superóxido dismutase, manitol, catalase, dimetilsulfóxido, alopurinol, vitamina E, N- acetilcisteína, compostos quelantes de ferro ▪ Antiinflamatórios, Dexametasona ▪ IECA e antagonistas dos canais de cálcio ▪ Hipotermia e pré-condicionamento isquêmico por clampagens intermitentes
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