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(Coleção Filosofia) Paulo Meneses - Para ler a Fenomenologia do Espírito_ Roteiro-Edições Loyola (1992)

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Paulo Meneses
ROTEIRO
COLE~O[Jl]Fi/osofia
Colec;io FIIDSOFIA
1. Para ler a Fenomenologia do Espirito
PauloMeneses
Paulo Meneses
PARA LER
A FENOMENOLOGIA,
DO ESPIRITO
Rotelro
FILOSOFIA
COleQio dirigida pelo Centro de Estudos Superiores de Fi·
losofia e Teologia da Companhia de Jesus
1I1$tituto Santo In4cio
Av. Cristiano Guimaraes, 2127 (Planalto)
30000 Belo Horizonta, MG
Bevisio
Marco' MarctonUO
Capa
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Ediooes Loyola
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ma ou banco de dados sem permlssilo eBcrlta da Editora.
ISBN 85 ·15·00668·5
© EDICOES LOYOLA, Sio Paulo. Brasil, 1992
APRESENTACAO
Eserevendo a rapeito da Fenomenologia do Eaplrito, diz Rkhard
Kroner, um dos mais conhecidos ",tudiosol do ltUalismo alsmlona
prirMira metade deste skulo: "ApeIQ1' dot NUB de/eitos, de resto
reconhecidos pelo pr6prio Hegel, a FenomenoI.ogia permanece no
. e"umto sua obra mais ,.nUll e, talvez, a obra mais genial de tada a
hist6ria da /Hoso/ia" (Hegel heute, ap. "Hegd-Studim", 1:1961,14J).
Para um conhecedor, mamo .uper/kUIl, da obra d, Hegel· esse. juuo
parecerd di/kUmente contestavel. A genUllidade brUluJ na Fenome-
nologia pela vastidao e originalidade da ·conce1'9lo,pelll mae.tria
incompardvel no uso do. procedimento. dUllltieo. da razio. pela
prodigiosa riqueza do texto, pela /orfa poderosa deum milo. que
forJa para a Filosofia uma nova linguagem de .urpreendente plas-
ticldade. GenUllmente inovadora por um lado. a obra que ilJDlllUrtI,
como p6rtko grtindioso, a lase de maturidade do pensamento de
Hegel abril", por outro lado, na sua complexa constnlfio. tada a
riquna da cullum do Bell tempo, nQo recolhida ao acaBO. rnasorde-
natla num vasto desenho hist6rieo-dUllltieo que ~~NrMmora·'. interio-
ritando-o leO conceito. 0 eaminho, desde as masorigens. da cultura
ocidentrll.
Rictl. complexa. original, a Fenomenologia apresenta-se como·
obra de leitura reconhecidamente dilleil. £. pois. compreensfvel que
se multipliquem. na bibliogra/ia sobre Hegel. os instrumento. de
trabalho .cujo prop6sito I. como 0. do. antigo. coment4rios na lite-·
rtltura /il0s6lica eldslica, conduzir pela mao 0 leitor e leva-Io, alra-
vIs dessa manuductio, ao 8mago do texto. ao .eu sentido autintko,
Qs mas Ionta hist6ricas.··. suas articulafOe. 16gicas, Q vislo de
conjunto da sua e,trutura e do seu desenvolvimento.
5
No campo dos estudos hegelianos, esse genero de literatura flo-
resceu sobretudo no ultimo pas-guerra, a partir da grande obra de
Jean Hyppolite, ainda hole indispensdvel para a compreensiio das
raizes historicas e do desdobramento conceptual da Fenomenologia.
Vieram depois os estudos sobre 0 vocabuldrio, como os de Joseph
Gauvin e C. Boey, sobre a ideia e composifiio da Fenomenologia,
como os de O. Poeggeler, sobre a sua relafiio com 0 Sistema, como
os de L. B. Puntel e H. H. Ottmann, sobre a sua IOgica, como os
de H. F. Fulda e ]. Heinrichs, sobre sua estrutura e movimento
dlaletico, como os deP.-/•. LDb4t'!'fire, aos quais vem acrescentar-se
o recente comentdrio analttico de C. A. Scheier.
o roteiro de Paulo Meneses que aqui apresentamos niio e um
simples resumo do lexto de Hegel tal como 0 util sum4rio que
A. V. Miller acrescentou a sua tradufiio inglesa -da Fenomenologia.
;Sendo 'U1hll ptIl'dfraie vigor08ll IJ penetrante e, igualmetlte, uma indi-
'J:II9io do'nd" estrutUraiJ IJ uma explici~ das transi90e8 diatl-
.tical quediJo ,rito"jmento eunldade aD tnto de Hegel. Estd bem
10ngIJ do inteMlfo u PilUlo:· MlJneseB 0 pmender substituir-se a lei·
.tUl'Q dimallo tlJXto;Ao contrdrio, 'Ull ambi9iio - modesta mas
e~igBntlJ -- e IJXQtalMntlJoferecer ao eVlJntfial leitor de Hegel Uln
'l'Oteiro,no',entido mais literal: otrtlfQdo dos caminhos, que 0 via-
/lInteleva nasmilos,para potIer avanftlr com seguran9a pelo coltt~
nente fenomenolOglco. '
ESSIJ roteiro,eonvem dizl-lo, teve origem emnumerosos semina-
rlos sobrfJ. a FenOmenolQgia que Paulo Menesesdirigiu na UNICAP.
&crito ern estilo limpido, el~nte e vigoroso, qw niio e indigno
',(fes$4' linguagem grave e ",aiestosa que Hegel criou para a Feno-
menpjogia, ele .niiopoupa, por outro lado, aoleltor 0- "e'/o19O 110
ConCeito,".Se niio h6 "caminho real",. liso, direito e sem obsta·
~C)B para 4 Ciincia, multo menos o. hd para Q. C~ncUz ~g~li~a.
,~ ",cotnentador da Fenomenologia, essa P,,'"!"Q e dl/icd lor·
nada da longa viagem que devera estender-se alnda pelas terras
iniensas da'Ciencia da L6gica e da Epciclop6dia. Assim, se 0 pre-
(..,te lOt,ii'o"I" um ilfBt1'ltmlJiJto, ele e, .segundo'a difm~ classica,
'un; moveM'ltlOtUm, 'ousel'a, s6 pOderd8erutilmehte empregaiJopara
"*"aVil1i~ nO ,caminhodaFenomenolO8ia se 'for impelido 'pelo ener·
~ movimtnto de compteen$&) do leitor que se debru9tl~~re 0
1e~to. , ,
Mas esse lIJitor - ,e penso em particular nos estudante, dOl
cursos de Filosofia que'86 dispiiem a um primeiro encontro' com 'tl
6
obra de Hegel - se sentird amplamente recompensado seguindo 0
roteiro de Paulo Meneses. E mesmo os que ;d consumiram longaa
vigilias perseguindo os meandros do texto fascinante e desafiador
poc!eriio, quem sabe, experimentar a surpresa de, c?nsu!tando 0 noss?
roteiro a volta de algum obscuro caminho, ver dumlnar-se 0 hon·
zonte e emergir em nova claridade figuras hd muito conhecidas.
do "saber que se manifesta".
H. C. Lima Vaz
7
NOTA SOBRE A COMPOSICAO DESTE ROTEIRO
Eate roteiro fot elaborado com uma finalidacJe didltica. Ache-
mos que 0 Unico caminho parase entender um filcS80fo como Hegel
6 a leitura meditada de sua obra. Contudo. 0 primeiro c:ontato com
a FeDOIDmlologia se revela cHf[cll; isso. somaclp aomito cia obscuri-
dade impenetr'vel de Hegel. faz· muita gente desistir; 0 que 6 uma
pena, pois vai flear repetindo id6ias correntes e falsas aobre UIIl8
filosofia que merece um estudo s6rio. Tivemos a experi8ncia. por
alguns semin4rios que dirigimos. que um roteiro. apreseDtando as
Iinhas meatras e as articula~ dial6ticas cia Penomenologia, ajucla
aluperar esaas difieuldadel inieiais; depois. ao empreendeHe oma
ieitura pessoai, faz encontrar clarezas insuspeitadas no texto da
Fenomenologia, que serve entio de comentario esclarecedor para um
texto didatico acessivel.
Para~ este roteiro, fez-se antes uma tradu~ co.:tada
com a franceaa (Hyppolite), a italiana (De Negri) e a esp ola
(W. Rocea); 0 texto foi em seguicla condenaado, destacando-se os
pontol aalientel claexposi~o. Estamos consciente cia .imperfei~
deate trabalho, mas achamos que mesmo &Slim sen 11til para os que
iniciam os eatudos hegelianos. Nio pretendemos aubstituir a leltura
do texto par uma interpreta~, mas justameDte levar a om contato
direto e peaoal com a Fenomenologia. do E.pl,ito, que 6 tamb6m
um roteiro: 0' cia "viagem de descoberta" que Hegel fez para chegar
80 aeu Sistema. ' .
. Tivemos de· fizer algumas o~s na tradu~·dos termos hege-
lianos. procurando encontrar para cada terma t6cnico um v0c4bulo
correapondente. que nio fOSle utilizado para outras signifi~ que
talvez eejam llinGaimal no glosUrio comum. mas que na Fenome-
nologia t&n um .ipificado peculiar. Anim. aU/heben nio tem equi-
9
valente no superar espanhol, pois Hegel usa outros termos para
ultrapassagem, e muito menos no suprimir de Hyppolite, ja que esta
expressamente dito na 'Perce~io' que aufheben "conserva 0 que
suprime". Seria distorcer a significa~io verter por um termo que
56 retem um dos lados do movimento. (Alias, etimologicamente,
suprimir e antes 0 oposto de aufheben: um calca para baixo en-
quanto 0 outro levanta para cima ... ) Qualquer sinOnimo vulgar
seria menos deformante: tirar, levar, nio implicam a elimina~io,
m~,. ap.~es a C()n~rv,~io, do que e~tirado. , A40~amo.s assim, su~
,,,"sflmir, Bilpra8&un~o. --..:calcados no fr6nCessrlr8uniler, Bursom-
ptlon,propostos por Yvon Gauthier em 1967 e adotados por La-
barri~re (1968, p. 309).
Causa tambem dificuldade a dupla Entjremdung - Entiiusserung,
sobretudo depois que 0 marxismo vulgar introduziu alie~ na
lingtiagem cotidiana. Hyppolite, em geral melhor' inspirado,' aqui
tl'()6ou ,_& sighifica~oes. Seguindo Gauvin, reservanios os, termOs
'arrlnar, dlientlfDO para Entfremden, Entfremdung. Quantoa EniDu-
s~erung - ja que exterioriza~io corresponde melhor aA'usse,ung
.T buscamos outros termos, enOs fixamos em extrusao~ extrusar,
'~mprestados,da vulcanologia e da metalurgia. Caso a sonoriw.de
J;l8oqrade ao leitor, pelo menos sabera que no alemio esta EntDu-
\B8,,-ungcada va que encontrar essa extrusQo. Nio achamos outro
Je~o que; conotasse 0 esfor~ - como de urna eru~ - que 0
entaussern tem em Hegel. Por exemplo: "Falta-lhe (a Bela Alma)
a fo~ da extrusio, 8 fo~ para fazer-se ooi88 e suportar oser"
(Phaen., Princeps, 608; Hoff., 462). "A fo1'98 do indivfduo est'
em extrusar-se 0 seu Si, pondO:'se assim como substincia efetiva"
(Prine., 438; Hoft, 3S3), "0 'ser-af; delte mundo, bem como a
efetivida4e da consci8ncia-de-si, repousam nO movlmento em que
e!!ta .se extrusa de sua perSO,I1ali~, pr.OOuzindo assim seu mundo".
(~rinc., 435; Hoff., 350). Qutros termo!! que adotamos nio ole-
r~ problema e, em geral, *~m nio s.o originais: essente 6
cia tl'ldu~o de De Negri;im4diatez, implementor, do da espanhola;
rtmtBmorllfiio, efetivo, ,deslocmnento, e outros saO da, venio de
H;yppolite, j", mcorporados pelaS "tradu~, de ,Hegel. Procuramos
sobretudo estabilizar a correspond8ncia dos vocabulos;se AusfiJh-
'ling se, traduz por atualiza~io" d~ve-se encontrar outro termo para
V8TWirklichung.No ~, efetiv"fDo,que pertence a flU)1f1ia de
ejetivb (Wltk,lich),' ejetividade (Wirklichkl1it).
"Os capftulos da Fenomenologia quase nio, t!m divis6es inter-
nas,o que levouLasson a introduzir as sues. De Negri as considera
10
"superfluas arbitrariedades", mas as transcreve, como outros tradu-
tores. Esperamos nio incorrer na mesma censura, pois as divis6es
de nosso roteiro nio sio superfluas, mas um recurso didatico indis-
pensavel. Para nio serem arbitrarias, tratamos que correspondessem
as articula~s do movimento dialetico do texto. Cabe ao leitor
julgar se 0 conseguimos.
NOTA A SEGUNDA EDIC;AO
Como este Roteiro foi bem recebido pelos que estudarn filoso-
fia, apresentamos nova edi~ao que contem pequenas rnodifica~oes;
em geral corre~oes de pormenor. Agora os leitores deste Roteiro
ja podem dispor da nossa tradu~ao da Fenomenologia ern dois vo-
lumes (Vozes, 1992). Por sua vez 0 texto denso e as vezes obscuro
da Fenomenologia tern sua compreensao facilitada pelo esfor~o de
clareza que este Roteiro representa, e que a nova tradu~ao da Fe-
nomenologia nao vai tomar inutil, mas ao contrario, dar-Ihe plena
utilidade e razao de ser.
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PREFACIO / Vorrede /
SunWio:
1. 0 pref4clo, embora DIo aendo diIcurIo filOl6fico, , uW para
o Autor expor auaa conclU86e8 e l1~lu trente a ootras
pos196es. Nouo Rac1onali1mo , 0 opoeto do Misttc1smo ro-
mAntico: apresentlHe como uma nova filoaofia em que 18
destacam as segufDtes
2. cancterfstlcas: importAncja dada ao SUje1to, como sendo 0
Verdadeiro; pape1 fundamental do Nep.tivo; lupr que 000-
pam 0 De~e a MediaoIo, 0 SJstema esua D1al4tica intema.
3. 0 eJementO (00 ,ter) em que 18 move a Pllosofta , 0 Puro
Saber. Para alcano'-lo 'necesdria Ulna via de acesso, que' 8
Fenomenologia, au Ci~ncia da experi~ncia da Consci~ncia, que
e ja a primeira parte da Filosofia.
4. O· m6todo da Pilosofia d a Dialdtica, que d automovtmento do
Conceito. Embora encontre obatd.culos nos modiamos atuaia,
a Filosofta dialdtica , a Pllosofia de hoJe e do futuro.
1 - EXORDIO: PREFACIO NAo £ DISCURSO FILOSOFICO
Nos pref'cios os autores costumam expor suas conclus6es e
eomparar seu trabalho com 0 dos outras. Fazer fUosofia nio ~ riada
disso. De fato, OS resultados por si 56 nio representam grande coisa
sem 0 caminho que levou at~ I'. A realidade efetiva consiste no
caminho mais 0 termo. AI~m do que, opor sua posi~ l dos outros,
como a verdade ao erro, ~ tao inganuo como pensar que 0 froto
refuta a flor; quando sao ambos etapas necess'rias do mesDio· pro-
cesso vital.
Esse tipo de discurso, caracteristico dos pref'cios, fica 56 no
apreciar. Ora, apreciar ~ f'cit, pois se limita a dar voltas ao redor
da coisa. Nao seria serio toma-Io por conhecimento verdadeiro. Apre-
enderja e mais dificil - e 0 come~o da 'cultura' (Bildung). Vai
. alem do imediato, lObe ate 0 universal, pensa a coisa em geral,
captando a rica plenitude do concreto segundo ~. suas determinj·
13
d.. Mil produzir a coisa em conceitos e que constitui a tarefa
"ria • d.flnltlva. por construir 0 sistema cientifico da verdade; e
oom '110 pI.lando a filosofja, de simples 'amor ao saber', a saber
Ifeelw, Aqui coincidem duas necessidades: uma, intema, que 0
'Iber elm de ser Ciencia; outra, extema, que faz nosso tempo pro-
plelo • eleva~lo da filosofia a Ciencia. Demonstrar esta afirma~io
• I dnici maneira de justificar cientificamente as tentativas de eri-
,Ir I fIlolOfia em Ciencia; e, ao mesmo tempo que evidencia a
nlel••ld.de deste objetivo, cumpri-lo plenamente.
NOIIO Racionallsmo , 0 oposto do Misticismo Romintico
A verdade esta na cientificidade que esta no conceito. Contra
• tOle se levanta a pretensio romintica de captar a verdade na
Intui910 (ou saber imediato) do absoluto, do ser, do belo. Nio
VlmOi refutar, mas opor nossaid6ia l deles. Tal atitude·tem expli-
CI910 hlst6rica: 0 hornem mOdemo perdeu 0 Mundo sacral em que
a £6 0 unia imediatamente a Deus, e foi parar nooutro extremo,
11'm da reflexio. Quer que a filosofia the restitua, pela intui~io,
leU mundo perdido; ainda que seja sob a forma pobre do divino
om .eral. Contudo, nem a Ciencia pode prestar-se l edific~io pie-
dOli, nem 0 extase 6 superior l Ci8ncia, como pretende. Fora do
conceito, s6 existe profundidade vazia, identica l superficialidade;
reina 0 capricho e 0 sonho, em lugar da verdade.
Uma nova filosofia para tempos novas
Estamos no limiar de uma nova epoea. Mudando, 0 mundo
esta sempre; mas de repente mudan~ que se· p1'OCCSS8vam em
saltes quantitativos irrompem em muta~s qualitativas. Surge nova
figura do espirito, emergindo dos fragmentos do Mundo precedente.
A nova totalidade que surge - como um recem.,nascido - niio e
perfeita; mas e um conceito novo que recapitula e da sentido a
todo 0 processo anterior. Porem 6 um conceito simples: as dife-
ren~as nio estio ainda determinadas com· seguran~a, nem ordena-
das em suas 56lidas re~s. Assim parecealgo esot6rica, 56 aces-
sivel a poucos individuos, enquanto a Ciancia plenamente desen-
volvida e acessivel a todos (exoterica).
A consciancia que aborda a ciencia tem direito a exigir que
seja inteligivel,e dessa forma passar do ja-cotihecido (pela consci8n-
cia pr6-fil0s6fica) l Ciancia. Niopertence, pois, l ess8ncia da Cien-
cia ser incompleta. Rejeitamos nesse ponto as posi~s opostas de
Fichte e de Schelling. Fichte requeria um contetido determinado
e riqueza de determinidades; ficavam, porem, como exig8ncias nio
14
satisfeitas, a totalidade, 0 absoluto. Decepciona. Schelling re'6ne
aglomerades de materiais, de diferen~as qualitativas que passa a
identificar ums a uma com oabsoluto, monotonamente, como se
mergulhasse tuoo num mar. Setudo se identifica com 0 Id8ntico,
estamos na noite em que tOdes os gatos sio pardos. Schelling cai
no formalismo, que e condenavel e desprezivel.
2 - CARACTERrSTICAS DESTA FILOSOFIA
Importincia cIoSujeito como Verdacle
o ppnto essencial (que 56 sera justificado com a apresenta~o
do sistema) 6: apresentar e exprimir 0 verdadeiro, nio como subs-
tQncia, mas precisamente tamb6m como sujeito. Quem diz subs-
tAncia diz ser, que 6 0 objeto imediato para um saber, tamb6m
imediato, de um universal. Uma dupla imediatez, wrtanto. Ora,
os predecessores nio foram al6m desse myel. Spinozaescanda-
lizou porque foi de encontro l certeza instintiva:sua substAncia
abolia a consciencia-de-si (a subjetividadeverdadeira). Kant e
Fichte ficam presos no universal: seu 'pensamento como pensamento'
niio passa de uma substancialidade im6vel e indiferenciada. Ate
mesmo Schelling, tentando unificar ser e pensamento atrav6s da
intu~io imediata, reeai na simplicidade inerte e nio d4 conta da
realidade verdadeira.
IIA substAncia viva 6 0 ser que e sujeito, i.e: 'ser que e real
somente no movimento de se par a si mesmo'· ou seja 'que e
media~o entre seu proprio tornar-se outro e si ~smo.'''' Pura e
simples negatividade e 0 sujeito, enquanto cisio do simples em
duas partes, duplica~ao oponente, fissio que dilacera a imediatez
fazendo assim cada termo, desdobrando-se, tomar-se concreto recons-
tituindo 0 tOdo. Devir de si mesmo, circulo que tem 0 fim no
com~, mas 56 e efetivo mediante sua atualiza~io e seu fim.
Papel do Nqativo
A vida de Deus pode ser pensada como um jogo de amor
consigo mesmo; contanto que nio se ignore a seriedade, a dor e
o trabalho do negativo. Em-si, a vida divina e unidade serena e
tranqiiila; nio esta engajada no ser-outro, nem na a1iena~iio, nem no
movimento para ultrapassar a aliena~iio. Para-si, por6m, sua natu-
reza e 0 movimento de sua forma, a atualiza~io de sua ess8ncia.
o verdadeiro e 0 Todo; 0 resultado; a essencia tomada plena-
menteefetiva; sujeito e desenvolvim_ento de si mesmo, 6 56 no fim
o que 6 na verdade.
15
Importiaeia do Devir e cia Me&9io
Parece absurdo conceber 0 absoluto como resultado? Enten-
dame-nos: 0 primeiro enunciado do absoluto' 6 sempre um univer-
sal, e somente i88O. Ora,. termos como divino, absoluto, etemo,
contetn apenas intui~ imediata, nio exprimem 0 que esta contido
neles. A primeira proposi~io, que se fa~a para exprimir algo, ja
vai conter um ser-outro; 0 absoluto tornou-se outro, por uma me-
diafQo. Eis uma palavra que choca; mas porque se ignora a natu-
reza da media~io, tanto quanto a do absoluto. Media~io 6 igual-
dade-consigo-mesmo, em movimento; reflexio sobre si,momentodo
eu que 6 para-si, pura negatividade, simples 'devir'. A reflexio 6
um momento positivo do absoluto, ja que suprasstune a oposi~
entre 0 verdadeiro e seu 'devir'. 0 embriio 6 em-si homem· mas
Dio 0 6 para-si. Para-si, 0 homem s6 6 como razio cultiv~da e
desenvolvida que se fez ou tomou aquilo que cS em-si. 0 .-esul-
taOO 6, ~ novo, simples e imediato, posta que liberdade consciente
de si que repousa em si mesmo: que nio deixou de lado a opo-
si9lo, mas reconciliou-se com eta. Nesse ponto, Arist6teles cS pre-
cursor. 0 resultado, de que falamos acima, lembra 0 lim que este
fU6sofo .conceituou ao diler que a natureza 6 opera~ conformo
a um lim; que 0 fim era motor im6velvque era 0 come9Q. Sabe-
mos que este fim, que cS com~, cS sujeito; 6 atualiza9i0 num resut-
tado - 0 qual 6 tio simples como oseu co~ por ser 0 sujeito
que retomou sobre si mesmo, restabelecendo a igualdade e a ime-
diatez originaria. .
As proposi~oes, que tern a Deus como sujeito e Ibe conferem
atributos, mostram apenas a necessidade de se representar 0 abso-
luto como sujeito. 0 termo 'deus' nio quer dizer nada, s6 0 pre-
dicado, que Ibe confiram, tera sentido; a gente se pergunta por que
nile usam em seu lugar termos que representem conceitos, como
faziam os antigos. £ porque se quer indicar - embora nie se
perceba todo 0 alcance - que nio se trata do absoluto como se
fosse urn simples universal, ess8ncia ou substincia; mas como
sujeito. £ apenas uma antecipa~iio; pois 0 sujeito continua a ser to-
mado como um suporte ou ponto fixo, ao qual se suspendem predi-
cados - vindos de fora e nio de um movimento interno do conteu-
do, como vamos fazer aO produzir 0 conceito do sujeito, cuja efe-
tividade e automovimento.
o Sistema e sua Dia16tica interne
o Saber 56 6 efetivo - e 56deve apresentar-se - como Sis-
tema,ou como Ci'ncia (C! que vem a dar no mesmo); Um principio
fil0s6fico, se 6 verdadeiro, ja 6· falso, enquanto 6 apenas principio
16
fundamental. Refutar e indicar-the a deficiencia pelo fato de ser
apenas universal, come~; refuta~io completa cS a que parte do prin-
cipio e nio de proposi~s exteriores ao mesmo. Assim, refuta~io
e desenvolvimento do primeiro principio, complemen~ioque the
falta (em~ra seu, carater negative iluda sobre sua fun~io positiva
e progresslva).. Inversamente, 0 desenvolvimento positivo se com-
porta negativamente em rela~o ao seu com~ - e refuta, a seu
modo, 0 fundamento do sistema, por nio passar de um com~.
o Cristianismo, ao definir 0 Absoluto como Espirito, exprime
numa representa~io 0 mais alto Conceito:que a Substincia 6 essen-
cialmente Sujeito, ou que 0 Verdadeiro 56 cS efetivamente real como
Sistema. 0 ser espiritual 6, antes de tudo, substincia espiritual (em
~i, e para n68). !das ele deve ser isto tamb6m para si mesmo,
1.6, s!,ber do espinto .e saber de si ';Omo espirito e portanto objeto
de Sl mesmo - obJeto suprassumIdo e refletido em si mesmo.
Assimo espirito cS puro conceito, engendramento de si por simes-
mo. 0 espirito que se sabe desenvolvido como espirito 6 a Ciencia
- sua efetividade e seu reino em si mesmo construido.
o 'Puro Saber' como elemento em que a FDOIOfia Ie move
A base da Ciencia e seu elemento 6 0 'puro saber' de si-mes-
mo no. absoluto ser-outro. Mas este '6ter' 56 atinge a perfeita trans-
parancla atravcSs de seu devir: 6 essencialidade transligurada ime-
diatez de ser que cS reflexio sobre si mesmo. '
A Ciencia conclama accnscial\lcia-de-si a subir at6 este 'cSter'
- 0 da pura espiritualidade .- para viver nela e com ela.
3 - POR QUE UMA FENOMENOLOGiA
Necessidade de uma via de acesso a esse 6ter
Por6m 0 individuo tem 0 direito de pedir ama escada (ou, ao
~nos, d~ que lbe indiquem a escada) para subir at6 la; pois se
Julga legitimo possuidor de suas certezas: sabe das coisas como opos-
tas a si e se sabe oposto a objetos. Tem a impressio de que teria
de andar com a ca~ para baixo, tio inversas sio as perspectivas
da Ciencia e as da consciencia comum. A Ciencia deve pois mostrar
aconsciencia-de-si que 0 principia desta cansciencia - a da efetivi-
dade - lbe pertence.
o que 6 em-si deve exteriorizar-se e tomar-se para-si; quer
dizer, este em-si, ou Ciencia, deve par a consciencia-de-si como
sendo ama 56 coisa com ela.
17
A Fenomenologia como propecleutica
A Fenomenologia do 'Espiritoe uma propedeutica a Filosofia,
enquanto mostra como 0 saber, passando por virias figuras, eleva-se
sofridamente do conhecimento sensivel a Ciencia. Tal procedimento
e original, nao sendo nem uma introdu~ao convencional, nem discur-
so sobre os fundamentos da Ciencia; e, menos ainda, 0 entusiasmo
que come~a de inicio com 0 saber absoluto, descartando todas as
posi~oes diferentes.
Linhas mestras de uma Fenomenologia
o espirito individual percorre etapas em sua forma~ (Bildung).
A mais alta contem as anteriores, como momentos suprassumidos.
Nesse .percurso vai assimilando - como materia-prima ou insumo -
asaqUisi~ culturais da hist6ria humana, que foram,em seu
tempo, etapas necess4rlas ao desenvolvimento do Espfrito Univer-
sal. Nao se podem queimaretapas: sio tOOas necess8rias e ha
que percorre-Jas, demorando-se em cada uma delas. 0 Espirito
do mundo teve a paciencia de encamar-se em cada uma dessas for-
mas na sua prodigiosa tarefaque foi a Hist6ria Universal. Mas
por issa mesmo a tarefa e mais laeH: 0 ji-percorrido encontra-se
disponivel; 'como ser pensado, cristalizado numa simples determi-
na~io de pensamento. Assim, em lugar do 'ser-af' imediatamente
dado, 0 que encontra e oem-si pens~do, depositadon~ interiori-
dade da mem6ria, ao qual pela rememora~io deve dar a forma do
ser-para-si.
No entanto, eata vantagem tem por contrapartidauma dificul-
dade que os antigos nio tiveram: 0 ser imediato emigrou para repre-
senta~s e se tomou 0 'bem conhecido' que por isto mesmo nio se
conhece. Ha uma por~io de colsas assim, entre as quais se tecem
rela~Oes igualmente superficiais, atravancando 0 caminho do conhe-
cimento da verdade. Conhecer exige analisar, i.e, dissolver a repre-
senta~o em determina~s s6lidas e fixas: portanto, separar e des-
troir. 56a partir desse trabalbo do negativo 6 que 0 conceito se
move. 0 Sujeito 6 dotado deate poder m'gico de tirar a vida da
motte, 0 positivo do negativo; parte da imediatez abstrata, e na
convivencia e assimila~io do negativo· toma-se a media~io que pro-
dm um novo imediato,· a substAncia como Espfrito.
De certo modo eram melhores as condi~spara filosofar na
AntigUidade, onde se deu 0 processo de forma~io da consciencia
natural; a partir do existir humane e de tudo que 0 rodeava, a cons-
ciancia acedia a uma universalidade aderente ao concreto. Portanto,
seumundo era mais permeivel ao trabalho do conceito do que as
representa~s cristalizadas, hoje encontradl~s; as quais temos de
18
'f1uidificar' ate conseguir esses circulos que sio automovimentos,
ou seja, os conceitos.
o movimento espontlneo· e· necessario destes conceitos consti-
.tui a Ciencia. A melbor prepara~o para aceder ao Saber - ou
propedeutica l Filosofia - 6 seguir este· caminho do Conceito ate
abarcar a Ci8ncia ern sua totalidade. Tem a vantagem de ser um
processo dotado de necessidade e nio um conjunto arbitrario de
n~s introdut6rias.
A Fenomenologia pode tamb6m considerar-se. como a primeira
parte da Ciencia, que se caracteriza por estudar 0 Espirito no ele-
mento do 'ser.ai' imediato; enquanto as partes subsequentes da
Filosofia estudam 0 Espirito em seu retorno sobre si mesmo.
o 'Nepdvo' e a aeae.e das Fipras cia Fenomenolopa do Espirito
A consciencia, 'ser-ai' (Dasein) imediato do espfrito, tern dois
momentos: 0 do saber e 0 da objetividade - negativo em rela9io
ao saber. .
Quando 0 espfrito percorre as lases da 'consciencia', tal opo-
si9iO reaparece em cada uma delas como ouuas tantas figutas da
consciancia. A Fenomenologia 6 a ciancia dessa caminhada; "cian-
cia da experi8ncia que faz a consci6ncia"; que tempor objeto a
substAncia com 0 seu movimento. A consci8ncia se limita a conhe-
eer 0 que esta em sua experi8ncia; ora, 0 que nela esta 6 apenas
a substAncia espiritual e ainda asslm como'objeto' de seu proprio
51. 0 espirito se torna objeto, porque e este movimento de fazer-se
um outro para si mesmo - um objeto de seu pr6prio Si -e de-
pois suprassumir este ser-outro. Experiencia e, portanto,o movi-
mento em que 0 imediato se aliena, e desse estado de aliena~iio
retarna a si mesmo. 56 assim, reintegrado como propriedade da
consciencia, 0 imediato acede a efetividade e a verdade.
o negativo em geral e isto: a nao-igualdade, ou a diferen~a,
que se manifesta na consciencia entre 0 Eu e a substt2ncia,que e
seu objeto. 0 negativo pode ser encarado como umafalha de
ambos; por&n 6na verdade a alma e 0 motor d06 dois. Houve· anti-
gos que conceberam 0 'vazio' como motor, por6m nio chegaram a
conceituat 0 negativo como um 'Si'. .
o negativo .surge primeiro como 'desigualdade' entre 0 Eu e
a substancia/objeto. Mas e tambem 'desigualdade' da substancia
consigo mesma. Pois 0 que parece ocorrer fora, como atividade
dirigida contra (a substAncia), e de fato sua propria opera¢io: e
nisso a substincia Be revela ser, essencialmente, sujeito. Asslm,
quando a substAncia 'perfaz completamente a· sua manifesta9io, entio
o espfrito te~ leito seu 'ser-ai' coincidir com sua es&ancia; quer
19
dizer, 0 espfrito toma-se, para-si, objeto tal como 6. Superadas
estio a imediatez, a abstra~io, a separa~io entre saber e verdade.
Agora, 0 ser 6 mediato: tem conteudo substancial e 6, ao mesmo
tempo, propriedade do eu. Tem 0 carater do SI: 6 0 CONCEITO.
Nesse ponto, termina a F.enomenologia do Espfrito. Nela 0 Espfrito
se preparou 0 'elememo' do Saber; e agora, se desenvolvem os
momentos do Espfrito, na simplicidade de quem se sabe ser seu
proprio objeto. Ja nio h8 oposi~io entre ser e saber, como mo-
mentos extemos urn ao outro; toda diversidade 6 apenas de con·
teudo, na simplicidade do saber. Seu movimento constitui um todo
organico: 6 a L6gica, ou Filosofia Especulativa.
Como pode 0 Falso ser caminbo para 0 Verdadeiro?
Achando que tal sistema da experiencia conduz a verdade, mas
ainda nio 6 ela e sim seu negativo - 0 falso -, algu6m poderia
querer ser logo apresentado a Verdade, sem perder tempo com 0
'falso', 0 negativo. Eis af 0 maior obstaculo para se penetrar na
verdad~: essa id6ia do negativo como algo de falso; esse mal·
-entendldo sobre a natureza do Verdadeiro e do Falso em Filosofia.
Raciocina·se como se eles fossem essencias particulares des-
titufdas de movimento, postas urna ao lado da outra, como ~oedas
cunhadas. Ora, 0 Falso existe tanto quanto 0 mal. (Nio 6 nenhum
diabo, mal/sujeito.) Nio pode ser representado a nio ser como 0
negativo - 0 Outro - da substancia. Nesse caso, a substancia
seria 0 positivo. Mas que positivo 6 esse, constitwdo essencialmente
por uma nega~io (omnis determinatio negatio est), como algo dis-
tinto e determinado; e ainda por cima, sendo sujeito, vale dizer, ato
simples de distinguirjnegar?
Claro que se pode conhecer de maneira falsa, errar. Significa
isso que 0 saber esta em nio-igualdade com a substancia. Mas em
nio-igualdade esta semprel Ela 6 fundamental, constitutiva do ato
de conhecimento, que 6 distinguir. Sobre essa nio-igualdade 6 que
se estabelece a igualdade entre termos distintos, que vem a ser a
'Verdade. Esta nio pode assim eliminar toda desigualdade, como se
e~pulsam esc6rias de metalpuro. Nem 6 a Verdade produto em
que nio se ve a marca do instrumento que a fez. A desigualdade
esta presente no verdadeiro como tal; esta nele como 0 negativo,
como 0 Si.
Mas nio 6 por isso que se vai poder dizer que "0 falso cons·
titua urn momento ou uma parte da verdade", ou, na locu~io do
senso comum, que "em tod~ falso h8 sempre algo de verdadeiro". ~
tomar os dois termos como agua e azeite que mesmo juntos nio se
misturam. Os termos 'Verdadeiro' e 'Falso' nio podem ser utiliza-
20
dos onde sua alteridade foi suprassumida. Igualmente as express6es
do tipo "unidade do sujeito e do objeto, do finito e do infinito
do ser e ~o pensamento" tern 0 inconveniente de designa-los for~
de sua umdade. Ora, em sua unidade, eles nio tem mais 0 sentido
que tais locu~s implicam. 0 falso, como tal, nio 6 um momenta
da Verdade.
4 - QUESTOES METODOLOGICAS
o Problema cia Verclade em Filosofia
. Essa maneira dogmatica de pensar imagina que a verdade filo-
s6flca.ca~ numa proposi~io nftida, como urn resultado fixo. Como
em HIst6na, porexemplo, 0 ano em que cesar nasceu. Verificou·se
a data atrav6s de laboriosas e met6dicas pesquisas. Mas 6 apenas 0
~sult~d~, ~xp~sso em tais proposi~, que vem se incorporar a
Ciancla hist6nca, que conceme o. smgular, 0 contingente, 0 arbi·
trario, como toda gente admite.
Em matematica, a demonstra~o (por exemplo, de que 0 qua·
drado da.hipot~nusa ~ i~al a soma dos quadrados dos catetos) per·
tence mUlto mms a ClenCla; contudo, a demonstra~io some no resul·
tado: 0 teorema acim~ 6 ja reconhecido como verdadeiro,sem
precIs~r pensar como fOI provado; a prova nada acrescenta ao seu
conteudo. Como se fosse urna oper~io exterior a coisa. Nio e
assim no conhecimento filos6fico, em que 0 processo e 0 resultado
constituem momentos de um devir e se entendem um pelo outrO e
se contem urn ao outro. Corresponde a pobreza do conhecimento
matematico a pobreza do seu objeto (al6m de morto, abstrato). Nao
tem por onde suscitar inveja, mas s6desprezo, a filosofia.
,. ~ois a filosofia nio .considera a determina~io inessencial (a
quantldade) mas a essene'al. Seu objeto nio e 0 abstrato 'e sim
o real efetivo. Ora, 0 efetivo e 0 precesso em sua totalidade, que
gera e per~rre os seu~ .momentos.. ,Algo eminentemente positivo,
mas que n~o 6 urn POSlt1VO morto, Ja que em si inclui 0 negativo
~que ~ena ser chamado de falso, se fosse possivel abstrair dele).
A m~mfesta~io e 0 movimento de nascer e de perecer, movimento
que nao nasce nem perece, mas que e em-si, e constitui a efetivi-
dade e a vida da verdade." "0 Verdadeiro e assim delirio baquico
em que todos os membros estio ebrios; e como esse delirio dissolve
na unidade do todo qualquer membro que ameace separar-se, vem
a ser 0 mesmo que 0 repouso translucidoe simples."
. Nio tem sentido usar em filosofia 0 'metodomatematico' (como
fe~ Spinoza -:- ethiea g~ometrico more demonstrata), quando a pr6·
pna matemat1c~ esta delXando de usa-Io. Ali poderia ter cabimento,
21
devido ao carater proprio do conhecimento matenuitico. Mas em
filosofia 0 m6todo 56 pode ser a estrutura do Todo, apresentada
,no que tem de essencial. A Verdade6 0 movimento delaem si
mesma. Nio 6 m6todo, para a Filosofia, 0 tipo de demonstra~o
usado nas matemiticas: esse modo de expor principi06, buscar argu-
mentos a favor, refutar os argumentos contra -, bem parecido com 0
que se usa na vida Corrente, manipulando um conteudo do exterior e
de forma arbitrma. No entanto, ao fugir ao pedantismo pseudo-
cientifico, nio vamos cair no antim6todo lOmAntico, avesso a toda
ci8ncia.
. A FUOIIOfia tem por m6toclo a dial6tica
Kant antecipou 0 verdadeilOm6todo, intuitivamente, ao recor-
rer a triade (ou triplicidade) na exposi~io de sua filosofia. .
. Schelling porem perverte esse metoda; pior ainda, faz dele um
formalismo vazio; como todo formalismo, insuportivel e m0n6-
tono. Ora, 0 que leva a Ci8ncia a organizar-se 6 0 proprio movi-
mento de seu conteudo, 6 a alma dessa plenitude. Como estamos
longe dos formalism08 Vazi08 e d08 esquemas. aplicados de fora!·
Num primeiro momento, 0 essente (seiende, ~tant) se torna um
OUtro para sl-mesmo, um conteado imanente a sl-mesmo.; No mo-
mento seguinte,. 0 essente retoma em si mesmo este ser-outro, como
um .momento seu, uma forma sua, uma determinidade. No primeiro,
a nega~io operava no sentido de distinguir e de par um 'ser-ai'.
No segundo, a nega~io fez surgir a determinidade que 0 caracte-
riza. E assim, a forma nio e aplicada, de fora, a um conte1ido,
nem the e oposta: ele a assume no momenta em que toma seu lugar
e posi~io no todo. 0 entendimento formal, classificador, reduz a
determinidade desse conteudo a um predicado ..,... por exemplo, 0
magnetismo - semcaptar como ela e a vida ima1'lente desse ser,
como nele se produz e representa de uma maneira peculiar. Nio
penetra no conteudo im~ente, mas o~hando ~r c~, nem. va 0
ser de que fala. Nio assun 0 conhecImento clentiflco: .exprune a
necessidade interior, a 'vida' desse objeto e, para tanto, fica absorto
nele, profundamente. £ dai que retoma 0 conhecimento a si. mesmo,
mas carregado de um rico coilte1ido para aeeder a uma verdade
superior.. .
Posto que a substincia 6 sujeito (CoOlO se disse acima), todo
conteudo e tambem reflexio sobre si meimo. A subsistancia -
ou substAncia - ea igualdade do ser-ai consigo mesmo; pois desi-
gualdade, no caso, seria dissolu~io. Porem essa igualdade. 6 pura
abstra~o e, sendo. abstra~o, 6 pensamento. Dizendo 'qualidade',
significo a determinidade simples, por meio da qual um ser"ai 6
22
distinto deoutro e e exatamenteeste ser-aI. Ele e para si mesmo
- ou subsiste - por meio dessa simplicidade em rela~io a si
mesmo. Mas assim ele e, essencialmente, pensamento. Sucede po-
rem que sendo essa igualdade consigo mesmo abstra~io, 56 pode
ser abstra~o de si mesmo; mas entio 6 desigualdade consigo, dis-
solu~io de si mesmo; ou·seja, 6 seu devir, enquanto movimento
de se retirar em si mesmo e interioriza~io.
Orabem. Sendo essa a natureza do essente, 0 saber nio pode
manipula-lo como conteudo, nemrefletir em si fora dele. A fila-
sofia kantiana 6 um qutro dogmatismo - que afirma categorias
sem deduzir - como' .sio dogmaticas a filosofia da evid8ncia e a
da certeza-de-si-mesm<i A verdadeira filosofia adota .a astlicia do
saber que; esquecenda-se a si mesmo no objeto, v8 este objeto dis-
solver sua determinidade e fazer-se um momento do Todo.
Ja falamos do entendimento do sujeito. Ora, do lado do objeto
ha tamb6m entendimento, pois 0 'ser-ai' 6 qualidade, determinidade
igual a si mesma, pensamento detemiinado. Este entendimento do
ser-ai, Anaxagoras chamara nou" e Platio depois concebeu - com
mais exatidio - como .eidos au id6ia: universalidade determinada,
esp6cie. Assim 0 ser-ai 6 pensamento simples, por ser determinado
como esp6cie; e como essa simplicidade 6 substAncia, devido l igual-
dade consigo mesma, manifesta-se como 56lida e permanente.
A determinidade - que l primeira vista pareceria dizer res-
peito a um outlO, receber seu movimento de. uma pot8ncia estra-
nha -, dada a sua simplicidade, tem necessariamente seu ser em
si mesma e 6 automovimento: pensamento semovendo e se. diferen-
ciando em si mesmo; a pr6pria interioridade ou 0 conceito puro.
Deste modo 0 entendimento (objetivo) e um devir e, enquanto e
esse devir, 6 a racionalidade. 0 ser e conceito e a substincia e
sujeito.
. A necessidade 16gica esta nesta natureza que tem o-que-6: de
ser, no seu ser, seu proprio Conceito. A figura concreta se eleva
por seu movimento a forma 16gica. Assim e inutil aplicar, de fora,
um formalismo ao conte1ido concreto; pois a forma 6 0 devir intrin-
seco do mesmo. A L6gica ('filosofia especulativa') apresenta este
metodo cientifico que nio e separado do conteudo, embora deter-
mine seu proprio ritmo. Vai ai apenas uma afirma~io antecipada:
Dio 6 este 0 lugar de demonstra-la. Nio se pense em refuta-la 56
com afirmar 0 contrmo, ou aduzindo representa~s costumeiras do
sensa comum. £ atitude normal frente a uma novidade cientifica;
prefere-se rejeitar em bloco a dar a impressio de que se tem ainda
o que aprender.. Hi outra rea~io curiosa: entusiasmar-se com a
novidade sem saber de que se trata (como fazem em politica os
ultra-revolucionmos).
23
o M~todo Dial~tic:o ~ 0 automovimento do Conceito
~ensamento cientifico 6 esfo~ concentradona produ~o de
conceltos .. ~xemplificand?: determin~s simples como ser-em-si,
ser-p.ara-sl, l~ald~d~-conslgo-mesmo. exigem redobrada aten~io para
segulr seu ntmo lDtimamente, 0 automovimento que lhes compete
como ~e fossem. ·almas'. Ha outros pensamentos que sio desvio~
contranos, .mas 19ualmente fora da Ciencia. Um 6 opensamento
repre~ntatlv~, que adere a um conte6do contingente e 6 incapaz
de saIr de Sl mesmo para elevar-se ao conceito. 0 outro 6 0 pen-
same~to 'raciocinant~' que, em vez de mergulhar no conte6do, Vaga
por CIma dele, na. hberdade de um pedantismo arbitrano, que nio
tem n~da a ver ~m 0 ritmo proprio e 0 conceito do conte6do que
tern dlante de Sl. Esse pensamento sabe criticar mostrar 0 lado
negativo, reduzir a nada: mas nio ve 0 que 0 cont~6do 6. Ao achar
que 0 conte6do 6 vio, 0 que esta vendo 6 a vaidade (lesse tipo
de conhec.im~nto que 6 0 seu. Al6m disso 6 proprio do pensa-
me~to racloclD~te 0 discu~ em que a um sujeito im6vel sio su-
9€'sslvamenteatribuidos e retlrados predicados .diversos. Nio assim
no pensamento concebente (diaI6tico); onde 0 conte6do 6 um con-
ceito, um Si, que se move a si mesmo em seu devir retomando
em si suas proprias determina~s. 0 objeto aqui nio 6 uma base
o~ sujeito em· repouso, mas 0 movimento. 0 conte6do nio 6 pre-
dlcado, nem um universal, que, livre de um sujeito, paderia convir
a muitos. Assim procede 0 pensamento representativo distribuindo
p~icados e acidentes - e com certa razio quand~ sio apenas
predicados e acident~s-, porem quebra seu impeto e reflui, quando
o que tem forma de 'predicado na proposi~io 6 a propria substancia.
Enti~, 6 como se 0 wjeito tivesse emigrado para 0 predicado e este
se .. avol~masse como uma massa total e independente, prendendo
o propno pensamento - que nio pode mais andar para la e para
ca. 0 conhecimento com~u pondo urn sujeito objetivo, fixe, ao
qual pass~~ a atribuir predicados; e entio entrou em jogo um se-
gundo sUJelto (0 cognoscente), que vai encontrar entre os predica-
dos aquele primeiro sujeito (quando queria acabar com ele para
completar 0 retorno sobre si mesmo).
Podemos expressar isso formalmente. A proposi~io filos6fica
implica um conflito dial6tico entre a forma discursiva da proposi~io
- a dualidade de sujeito e predicado - e a proposi~o identica
que .s~ toma esta .primeira proposi~o;· proposi~o identica em que
o sUJelto e 0 predlcado fazem um s6. 0 conflito entre a forma de
uma proposi~io e a unidade do conceito, que destr6i estaforma
6 analogo ao que existc entre 0 metro e 0 acento: 0 ritmo result~
do balanceio entre os dois e de sua unifica~ao. Da mesma forma,
24
na proposi~io fil0s6ficlil, a identidade do sujeito e do predicado nio
deve aniquilar sua diferen~, mas acentua-Ia. Por exemplo: se digo
•deus 6 ser', 0 predicado 6 a essencia, algo de substaneial em que
o sujeito some, deixando sua posi~o de sujeito fixe que a propo-
si~io Ihe da. £ assim que 0 pensamento, em lugar de ter progre-
dido, sofreu um retrocesso, foi relan~do na di~ao do sujeito per-
dido e mergulha dessa forma no conte6do - donde queria afas-
tar-se, pairando de predicado em predicado, na liberdade do pen-
samento raciocinante.
Dessa decep~o tomam origem as queixas comuns contra a in-
compreensibilidade das obras filos6ficas _. partidas de pessoas com
background cultural para entende-Ias. £ natural, pais a proposi~io
filos6fica tem extemamente a aparencia de uma frase comum, atri-
bui predicado ao sujeito. Essa impressio 6 contudo destruida pelo
conte6do da proposi~io; 0 leitor tem de refazer sua opiniio inicial,
e entender a frase de outra maneira. Deve fazer outra leitura. £
precise encontrar para a filosofia uma linguagem apropriada, cujo
rigor exclua esse tipo de rela~io ordinaria entre as partes da pro-
posi~. Como faze-Io? Isso ja se obteni de certa forma pela 'freada'
que suporta 0 pensamento ao chocar-se com uma proposi~o espe-
culativa (diaIetica); nesse caso, 6 0 conte6do daproposi~io que
produz este efeito, de modo negativo. Precisa por6m que a forma
da exposi~io apresente isso de maneira positiva: a volta sobre si
do conceito, 0 movimento diaIetico da propria proposi~io.
£ 0 proprio movimento dial6tico da proposi~ao que aqui tem
o lugar de demonstra~ao. Certas exposi~s filos6ficas costumam
remeter l intui~io interior para poupar a esperada apresenta~o
desse movimento diaIetico. A proposi~ao deve exprimir 0 Verda·
deiro. o que e ele, senao Sujeito e, enquanto tal, movimento dia-
16tico, marcha que produz a si mesma durante 0 processo e retoma
sobre si? Separar a demonstra~ao da diaIetica (como Kant), 6 deitar
a perder 0 conceito da demonstra~ao filos6fica. Embora 0 movi-
mento dial6tico tenha por elementos proposi~s, nele nao se coloca
a dificuldade das demonstra~oes convencionais: onde cada funda-
mento requer ser fundado, assimao infinito. Pois 0 conceito dia-
16tico tem um conte6do que e perfeitamente sujeito e nao pode fun-
cionar como predicado de um sujeito anterior que 0 fundasse.
Com efeito, nada se pOe para al6m do conte6do concretamente
apreendido, a nio ser 0 nome enquanto nome - pais e tudo que
constitui esse puro sujeito vazio que se julga atingir para al6m dos
conceitos. ~evia ate banir-se da linguagem filos6fica a palavra
"deus" que 6 apenasa sigla do sujeito e naorepresenta nenhum
conceito, como 0 uno, 0 singular, 0 sujeito, 0 ser. AIem do mais,
quando se faz de verdades filos6ficas predicados desse sujeito,
25
como carece seu conteUd'o de conceito imanente, se decai no dis-
curso edificante. A apresentafi:io filos6fica deve ater-se rigorosa-
mente a sua forma dia16tica e assim excluir tudo que Dio e con-
cebido e tudo que nio e 0 conceito. .'
Obstaculos que dificultam a ad~ do Mitodo l>iaUtico
Cria obstaculos ao estudo da filosofia a presunfi:io de verdades
ia prontas, que dispensam raciocinio. Nio basta ter mio e couro
para fazer sapatos; por que 56 a filosofia seria naturalmente dada?
Ora, de fato, tudo 0 que as ciencias tem de verdade 6 da filosofia
que receberam; sem ela nio ha nem vida, nem verdade, nem espi-
rito. Quanto aos irracionalismos do tipo Sturm und Drang, esses
nlo passam de desordens da fantasia.
a bom senso nio produz filosofia, mas 56 uma ret6rica de
verdades triviais. Que atrevimento chamar a filosofia seria de ·sofi8oo
ticaria'(sic). Falta sentido comum ao bom senso; e provo. Quando
algu6m contradiz sua opiniio, responde que nio tem nada a dizer
a quem nio sente em si a mesma verdade. Ora, assim fazendo,
calca aos pis a raiz da humanidade, pois a natureza da humanidade
e tender ao acordo ml1tuo: sua existencia estS somente na comu-
nidade instituida das consciencias. a que 6 anti-humano, e apenas
animal, 6 encerrar-se no sentimento e 56 poder comunicar-se atra-
ves do sentimento. Ha dois tipos de presun~ que pretendem
ocupar 0 lugar da pesquisa filo56fica. Uma 6 prosaica: lendo recen-
s6es, titulos, prefacios de obras importantes, cre estar por dentro de
tudo; a outra e solene, porque se atribui intui~s geniais, em con-
tato direto com 0 sagrado, 0 infinito, muito acima dos laboriosos
conceitos dos fil6sofos. Tudp ilusio. 56 pelo trabalho do conceito
se conseguem pensamentos verdadeiros' e penetrafi:io cientffica; 56
o conceito pode produzir a universalidade do saber, verdade ama-
durecida e suscetivel de ser possuida por toda razio consciente
de si.
Epfiogo: Futuro da Dialitica
Minha posi~o filo56fica e esta: e no automovimento. do con-
ceito que a Ciencia consiste. Em nossa epooa, isso contradiz
muita ideia em moda. As modas mudam: se umas epocas admiram
o Platio dos' mitos literarios, outras 0 valorizam pela maior obra
de arte da dial6tica antiga, 0 Pat1'ninides. Minha tentativa de ligar
a Ciencia ao conceito vai abrir caminho nos tempos por fo~ da
verdade que cont6m. Vai vir um tempo em que a verdade sera
reconhecida; resta ,esperar que a moda passe e que a hist6ria caminhe
com seus passos lentos.
26
"De resto, vivemos hoje numa epoca em que a universalidade
doespirito estS fortemente consolidada; e em que a singularidade,
como convem, tomou-se mais insignificante. Uma' epoca em que a
universalidade se aferra a toda a sua extensio e a toda riqueza
adquirida; e a reivindica. Por isso mesmo, a participafi:io que toca
ao individuo na obra total doespirito s6 pode ser minima. Deve
pois 0 individuo esquecer-se - Como alias a natureza da Ciencia 0
exige - e fazer 0 que the e possivel. Porem nio se pode exigir
muito dele, ja que tio pouco pode esperar de si e reclamar para si
mesmo." .
27
INTRODUtA0 / Einleitunl /
SumUio:
1. Como uma Crftica do Conhecimento nio tem cabimento,
2. a Ci6ncia 86 pode nascer do Saber Fenomenal e do seu mo-
vtmento,
3. pols a consci6ncia , solicitada sam descanso a ultrapassar-se
4. e, mesmo antes de alCaDQal' a Ci6ncia, tam em si um criWrio
de verdade (Masstab). .
5. A Mrie de Figuras que a consci6ncia assume obedece a uma
dial'tica necessaria, - e portanto pode ser objeto de uma
ci6ncia: a Fenomeno1ogla do Espfrito.
1. UMA CR(TICA DO CONHECIMENTO NAO TEM
CABIMENTO
1. 1'. Ha quem julgue que a Filosofia, antes de indagar a ver-
dade das coisas, deva primeiro examinar 0 conhecimento, por ser
o instrumento OU 0 meio de que disp6e para atingir a verdade.
Esta opiniio parece sensata, mas nio passa de um contra-senso.
Com efeito, 0 instrumento altera a coisa sobre que se aplica, e 0
meio refrata a luz que oatravessa. Nem adiantaria encontrar urna
maneira de eliminar 0 que e altera~io do instrumento ou distor~io
do meio, pois 0 que resta~se seria por sua vez objeto de conheci-
mento e portanto de nova altera~io ou distor~io.
A verdade e que se 0 Absoluto nio estivesse presente desde 0
com~ no conhecimento, nunca seria conhecido.
1.2. :£ preciso desconfiar do temor do erro e da desconfian~a
em rel~io a Ciencia, porque este medo do erro 6, no fundo, medo
da verdade; pior ainda: e ja 0 proprio erro. Alias, tais duvidas
pressup6em demasiadas 'certezas': a representa~io do conhecimento
como urn instrumento ou urn meio; a suposi~io de que 0 Absoluto
esta de urn lado. 0 conhecimento de outro; a cren~ de que este
29
conhecimento, separado do Absoluto e, aindaassim, algo real; e
que mesmo estando fora da verdade, e algo veridico ...
1. 3 . Como s6 0 Absoluto e verdadeilO, e s6 0 Verdadeiro e
absoluto, nao hi lugar para um tipo de conhecimento que seja ver-
dadeilO, embora nao atinja 0 absoluto; ou para um conhecimento
em geral, incapaz de captar 0 absoluto, mas capaz de outra verdade.
Essas opiniOes supOem tambem que a significa~o de termos
como 'Absoluto','conhecimento' etc., e de dominio publico; e jul-
gando-se na posse destes conceit08; furtam-se a tarefa fundamental
da Filosofia, que e justamente produzi-Ios.
2. A CIgNCIA SO PODE NASCER DO SABER FENOMENAL
E DO SEU MOVIMENTO
2. 1. Quando a Ciencia entra em cena, estas falsas represen-
t896es se dissipam. Contudo, a Ci8ncia, ao surgir, 6 ainda apenas
urnaapatencia: urn 'saber fenomenal', urn 'conceito' de saber e nao
o saber atualizado e· desenvolvido em sua verdade. Mas tem que
ser assim: a Cicncias6 pode nascer do saber natural e ir se liber-
tando aos poucos da apatencia, voltando-se contra ela. 0 que nao
pode 6 estabelecer-se atrav6s da rejei9ao pura e simples do saber
vulgar, ou entao apelando para um saber melhor, ou para 0 pressen-
timento deste saber no seio do conhecimento vulgar, prenunciando
a Ciencia.
2.2. Apresentamos nesta obra 0 saber fenomenal; nio a "li-
.vre Cicncia se movendo em sua figura original", mas 0 caminho da
consci8ncia natural que sofre 0 impulso em dire~ao do verdadeiro
saber; 0 caminho da alma percorrendo a s6rie de suasforma96es
como outras tantas esta~Oes que Ihe sao prescritas por sua propria
natureza: assim a alma se purifica e se eleva ao espirito. Atrav6S da
completa experiencia de si mesma, chega ao conhecimento do que
ela 6 em si mesma.
2.3 . A consciencia. naturalvai provar para si que 6 apenas 0
'conceito' do saber, .ou 0 saber nio-real. Uma dece~ para
. quem se tinha como 0 real saber: realizar este conceito 6 perder
sua verdade. Este 6 0 caminho da duvida e mesmo do desespero.
Tal duvida porem nao 6 .uma tentativa de abalar urna suposta
vetdade, que termina voltando a mesma verdade do come~o: a d6-
vida aqui e a penetra~ao consciente na nao-verdade do saber feno-
menal, 0 quai toma como supr<,ma verdade urn conceito nao-rea-
lizado. Trata-se de urn ceticismo amadurecido, que difere da 'reso-
lU910' de rejeitar afirma~s dos outros e seguir a propria conviC9io,
30
s6 tendo como verdade 0 que estabelece por si mesmo. Claro que
seguir sua opiniao e preferivel a basear-se· em autoridades; pelo
menos para a vaidade da pessoa. .. Mas isso nao muda 0 conteudo
da opiniio nem Ihe confere for~samente um estatuto de verdade.
2.4. Nosso caminho percorre, em seus detalhes, a forma~ao da
consciencia, seu desenvolvimento efetivo ate chegar it Ci~ncia. £
um ceticismo diferente, que atinge toda a amplitude do saber feno-
menal, fazendo-o desesperar das representa~s, opiniOes, pensamen-
tos tidos por naturais; nao importa se proprios ou alheios.
3. A CONSCIgNCIA £ SOLICITADA SEM DESCANSO A
ULTRAPASSAR-SE
3 . 1. A consciencia que empreende examinar a verdade des-
sas representa~s est' cheia delas e por isso mesmo 6 incapaz de
fazer 0 que se Plop6e. Tem de percorrer todo urn processo em
que se sucedem figuras articuladas, numa ordem necessUia que
forma um sistema.
3.2. £ de notar que a apresenta~lo desta consciencia como
nio-verdadeira nio e algo puramente negativo, como representa
unilateralmente uma das figuras ou etapas dessa consciencia imper-
feita: 0 ceticismo comum. Essa ve no resultado apenas 0 puro
nada e dele nio sai; e' tudo que encontra joga ileste abismovazio.
Quando a consci8ncia se d' conta de que 0 nada 6 sempre nega~io
de algoma coisa, quee determinado e tem urn conteudo, efetua a
transi9ao para uma nova forma; e atravesda nega9io vai realizan-
do 0 processo comp~to das sucessivas figuras da conscicncia.
3 .3 . 0 termo ouresultado do processo est' necessariamente
fixado como a serie da progressao: e alcan98do quando 0 saber se
encontra a si mesmo, ao encontrar 0 conceito que corresponde ao
objeto e 0 objeto que corresponde ao conceito.
3.4. Esta progressio em busca do termo final nio pode parar
em nenhuma etapa intermedi'ria. Ai est' a diferen9a entre a cons-
cicncia e os seres naturais, que nio podem ir para a16m de si mes-
mos, anao ser pela morte. A consciencia 6 0 ate de ultrapassar 0
limitado; e quando este limitado the pertence, e 0 ate de ultrapas-
sar-se a si meSma. Isso provoca uma angUstia incessante, uma vio-
lencia exercida contra si mesma, que estraga qualquer satisfa~io
limitada. Tenta recuar diante da verdade, fixar-se na inercia sem
pensamento: mas vemo pensamento perturbar esta paz, ou a senti-
mentalidade onde procurou um ilibi para a angUstia da razao.
31
4. A CONSC!£NCIA PR£-CIENTtFICA JA TEM EM SI UM
CRIT£RIO DE VERDADE
4. 1. Como vamos eXPQr 0 desenvolvimento do saber feno-
menal e examinar at6 que ponto a consci8ncia 6 real ou verdadeira,
e de supor que se esteja de posse de uma 'unidade de medida'
senio nada se poderia aferir. Porem, como a Ci8ncia esta apenas
surgindo, nio pode ainda estar de posse da verdade (da ess8ncia,
do em-si) e nio pode pronunciar-se sobre isto. Como escapar a
este dilema? Analisando 0 que se passa na consci8ncia: quando
ela opera, distingue dentro, de um lado, alguma coisa a que se refere,
que e-para-a-consci8ncia: 0 saber; e de outro lado, um ser que e-
-em-si: a verdade. Ouer dizer, 0 que e referido ao saber e tamb6m
distinguido dele e posto como algo que e-em-si. Procurando a ver-
dade do saber, vamos encontrar 0 que ele e em-si mas, neste caso,
ele e nosso objeto: portanto, para-nos. .
4.2. Assim, a consci8ncia da sua medida nela mesma; pois
6 ali que existe a dicotomia do que e-para-outiem (0 momento do
saber) e do que e-em-si (0 momenta da verdade). Temos pois a
medida que a consci8ncia estabelece para medir 0 seu saber: e
aquilo que designa dentro dela como 0 em-si, ou 0 verdadeiro. Cha-
memos 0 saber, conceito; chamemos a essencia, ou 0 verdadeiro,
obieto: 0 exame entio consiste em ver se 0 conceito corresponde
ao objeto. (Se chamarmos porem 0 em-si do objeto de conceito,
e 0 que e para-outro, de objcto; 0 exame vai consistir e~ ver se 0
objcto corrcsponde a seu conceito.) Tanto faz; 0 que unporta e
saber que os dois momentos, conceito e objeto (ser-para-outro e
ser-em-si), estio ambos no interior da consciencia, ou do saber que
analisamos.
4.3 . Nio precisamos, pois, trazer nossas medidas, nem utili-
zar nossas id6ias pessoais durante a pesquisa: ao contrario, 6 afas-
tando-as que podemos ver a coisa como 6 em-si e para-si-mesma.
Mais ainda: nem. sequer precisamos efetuar a compara~io ou
examc, pois a pr6pria consciencia se encarrega disso; porque sendo
coDSci8ncm de urn objeto e tambem consci8ncia de si-mesma, 6 ao
mesmo tempo consciencia do que 6 para ela verdadeiro e consci8n-
cia de seu saber desta verdade. Ja que ambos sio para ela, a cons-
ci&ncia 6 tambem sua compara~io: 6 para ela que seu saber corres-
ponde __ ounio corresponde - ao seu objeto. Haportanto dois
momentos: num, 0 objeto 6 em-si (momento da verdade); noutro,
6 para-a-consciencia (momento do saber). Nesta distin~io, a cons-
ci8ncia funda seu exame.
32
4.4. Porem, quando a conSClenCla nio encontra correspon-
d8ncia entre os dois momentos, nio basta mudar seu saber para
p6-lo de acordo com 0 objeto. Porque, sendo saber de um obieto,
nio pode mudar sem que mude tamb6m 0 objeto. Mudam, assim,
os dois termos; mas como a consci8ncia era a rela~io entre eles,
muda tamb6m ela, e muda sua 'unidade de medida': surge entio
uma nova 'figura da consci8ncia', outra etapa na progressio do
saber.
5. A S£RIE DE FIGURAS DA CONSCI£NCIA OBEDECE A
UMA DIAL£TICA NECESSARIA: ESTUDADA POR UMA
C!£NCIA OUE £ A FENOMENOLOGIA DO ESPtRITO
5 . 1. A experi8ncia e precisamente este movimento dialetico
que a consci8ncia efetua em si mesma, a um tempo no seu saber
e no seu objeto, fazendo surgir diante dela urn novo objeto verda-
deiro. Vejamos 0 lado cientifico deste processo: 0 movimento se
toma necessario devido a ambigiiidade do verdadeiro nesta expe-
ri8ncia. A consci8ncia sabe alguma coisa: este objeto 6 a ess8ncia
ou 0 em-si. Por6m a consci8ncia reflete sobre si mesma, e entio
o saber se toma um objeto para ela. Temos agora dois objetos:
o em-si, eo ser-para-ela deste em-si. 0 primeiro obieto muda entio:
deixa de ser em-si e passa a ser algo que 6para-a-consci8ncia.
Assim, 0 objeto da consci8ncia fica sendo 0 seu saber, ou seja,a
experi8ncia que a consci8ncia faz do objeto.
5.2. A consciencia fenomenal nio se da conta do processo;
parece-lhe ter passado de urn objeto para outro porque achou, de
maneira contingente, outro ohjeto que a fez mudar. Entretanto, 0
fi16safo sabe que esta diaIetica. se desenrola por uma necessidade
intema, e que, por isso, a serie das experiencias da consci8ncia pode
ser estudada cientificamente. Ilustrando com 0 exemplo dado acima:
o nada, em que vem dar urn conhecimento nio-verdadeiro, deveria
ser; entendido como umnada do saber de que ele resulta; por6m
o ceticismo (que e a figura da consci8ncia fenomenal correspondente
aessa etapa) nio percebe isto. E acontece sempre assim: cada
vez que um obieto (algo em-si) e reduzido a um simples saber
(algo para-a-consci8ncia), surge uma nova figura da consciencia.
Ela nio sabe como, nem de onde surgiu 0 novo conteudo, mas 0
fi16sofo conhece a diaIetica necessaria que preside a esta serie de
experiencias. 0 caminho para a Ciencia - e a Ciencia da expe-
riencia da consci8ncia -6 a Fenomenologia do Espirito.
33
5.3. 0 conjunto destas experiencias abarea 0 ambito total
da verdade do Espirito, 0 sistema total da consciencia; porern sob
um Angulo particular: os momentos da verdade nao se encontram
ai abstratos e puros, mas sim tais como surgem para a consciencia.
Sio, pois, momentos da consciencia. Somente no termo e que a
consciencia se despoja da aparencia, ao atingir um ponto em que
o fenOmeno e igual a essencia, onde a apresenta~ao da experiencia
coincide com a Ciencia autentica do Espirito: no Saber Absoluto.
34
(A)
CONSCI£NCIA / BeWUSltsein /
~ol
A CERTEZA SENSfVEL / Die tinnliche Gewissheit /
SumUio:
A certeza 8ensivel - que • primeira vista pareoe captar 0
ser cia forma mais verdade1ra - quando tenta expressar-se, 1110
encontra nem no seu obJeto, nem no *Ujelto, netn na totalldade
(que' a relaQio de ambos na sensaoio atual) essa verdade Ime-
dlata que pretende.
Sua verdade esta num universal, que , atinlldo pela per-
cepQio, nas condlc;OEls da experiAncla sens1vel.
INTRODUCAO
1. Temos de come~ar pelo come~o. Se existe em materia de
conhecimento algum dado imediato, e a certeza sensivel: saber ime-
diato de um objeto tambem imediato. Examinemos tal como se
apresenta, sem aItera-la com nossas conce~s. Veremos que esta
certeza, que parece 0 conhecimento mais rico ...... em amplidio e
conteudo -, vai se revelar a mais abstrata e a mais. pobre verdade.
Com efeito, do seu objeto, s6 sabe mesmo que ele 6; e do sujeito,
s6 consta que 6 um reste aqui', certo de um risso ai'; e do saber,
que ha uma rela~ imediata entre os dois termos.
2. Aprofundando 0 exame, nota-se que bana '~rteZa sensivel
mais que esta imediatez que ela sente. Pritneiro, porque uma de-
terminada certeza sensivel,que rpOe em jogo' um reste aqui' e urn
risso ai', e apenas um exemplo, um caso singular de um sujeito e de
urn objeto de conhecimento sensiveis. Depois, porque existem nela
muitas media~, nao percebidas pela consciencia nesta· etapa;
a mais importante e que tanto 0 sujeito quanto 0 objeto sao de
fato mediatizados: pois tenho a certeza por media~ao de urn outro,
35
precisamente da coisa, da qual se esta na certeza por media~ao de
outro, precisamente de mim.
3. Estas diferen-ras brotam do seio da experiencia sensivel:
nao' e nossa analise filos6fiea que introduz. De fato, ela percorre
t1'8s momentos: primeiro, retem 0 objeto; em seguida, 0 sujeito; e
enfim, 0 saber como a verdade ou a 'essencia', por exclusio dos
demais.
1. Momento: 0 objeto (0 'issa-li')
. . 1.1. 0 objeto e; ele e verdadeiro, e a 'essencia' (e 0 que e),
md1ferente ao fato de ser conhecido ou nio: 0 conhecimento e
'aeidental' - se nio existe objeto, nio ha saber, porem a reeiproca
nio e verdadeira.
__ - Mas, 0 que e 'isso-ai'? Quando se trata de expressar pela
linguagem, a certeza se perturba. Digamos que e noite. Vamos ano-
tar tal verdade: 'agora e noite'. Quando e meio-dia, vamos ler 0
que anotamos:a verdade sumiu. 0 'agora que e noite' se revelou
nada, nio-ser. 0 agora flcou, mas nOO como noite. Nio vamos cair
no mesmo en~ano: mesmo de dia, 0 agora Dio e dia, ja que pode
serdia au noite, por nic ser nenhum dos dois. ~ universal, urna
abstra~io. Um universal e algo mediato, urn momento simples me-
diatizado pela nega~OO: vemos pois que 0 universal e 0 verdadeiro
da certeza sensivel. Exprimimos 0 sensivel por meio de universais:
isso e um universal; e (= e uni ser) tambem e urn universal. A
linguagem s6 exprime 0 universal, e mais verdadeira que a certeza
sensivel e nela refutamos nossa eerteza imediata de um inefavel.
1.~ . 0 mesmo oeorre com 0 ai. Ai e urna more. Me viro,
e ja e uma easa. 0 ai permanece ,no desapareeimento da more e
da easa; pois, como 0 agora, e uma simplieidade mediatizada, urn
universal: 0 espa~.
1.3. 0 que resta assim dacerteza sensivel e 0 ser. NOO 0
ser imediato que ela imaginava atingir, mas 0 ser mediato, univer-
sal, abstrato. Diante dele, 0 ai e 0 agora, que pareciam a esseneia
da certeza sensivel, sio ·vazios e indiferentes. Um objeto ti~ aba-
trato. se revela .impr6prio para s~porte da certeza sensivel; mas nem
por 1SS0 ela se desvanece: reflui do objeto para 0 outro polo da re-
la9iio, para 0 Eu, 0 Oeste aqui', que possui a eerteza sensivel.
2.° momento: 0 sujeito (0 'este' aqui')
2. 1. A for9a da verdade se encontra agora no Eu, na ime-
diatez do meu ver ou ouvir. Tenho eerteza dos objetos porque
sao objetos mew, porque eu possuo um saber sobre eles. Ai e urna
36
arvore que eu vejo: agora vejo que e dia: eu retenho a verdade
quando desaparecem os ais e os agoras singulares.
2.2. Porem, volta 0 mesmo problema de antes: eu vejo uma
arvore, este-aqui afirma isso-ai; mas um outro ve uma casa, aque-
Ie-ali eonstata aquilo-ali. Ambas as verdades tem a mesma auten-
tieidade, mas uma desaparece na outra.
2.3 . 0 que nio desaparece e 0 eu enquanto universal. Como
sucedera antes, ao dizer urn agora, um ai, ou urn ser singular, di-
ziam-se for~samente universais; tambem dizendo um eu singular,
estou dizendo todos os eus. Na certeza sensivel posso visar um
singular: 0 que nio posso e dize-lo - quem desafia aCiencia a
de?uzir ou construir a priori um singular, deveria antes dizer a
C01sa ou 0 Eu singular que deseja: mas dize-lo e impossive!. ..
3.° momento: A unidade eonereta da eerteza sensivel
3 . 1. Como a experiencia sensivel constatou que tanto seu
objeto quanta seu sujeito sio universais e portanto nOO podem sub-
sistir neles 0 ai e agora que ela experimenta, procura outra saida
para salvar a imediatez do seu saber. Reeorre entio a certeza sen.
sivel como um todo: assim tomada em sua totalidade, exelui de
si toda a oposi~io encontrada nos momentos precedentes, porsua
imediatez a toda prova.
Nio se trata mais de um ai que pode ser uma arvore ou qual-
quer outra eoisa; nem de um agora que tanto pode ser noite como
dia; nem de outro Eu que pode estar sentindo outra coisa. Eu,
este aqui, estou constatando: agora e dia, ou entao: a{ tem uma
arvore. Nio comparo com outros meu objeto, nem quero saber se
outros sujeitos v8em de outra maneira, ou se eu mesmo noutra oea-
siic vejo diferente. Daqui nio saio: agora e dia.
3.2. Ja que a certeza sensivel nio quer sair de si mesma e
fica nessa de 'agora que e dia', ou de 'um Eu para 0 qual e dia',
vamos a seu eneontro pedir que nos indique este agora que afirma,
para ver que imediatez e essa.
Pois bem, quando nos mostra O' agora, 0 agora ja era; e
outro agora. Mostrou-nos um agora passado, que foi, mas nilo e
mais. Ora, tratava-se justamente de surpreender 0 ser, dado nessa
experieneia inefavel; enos indieam um nio-ser.
De fate, 0 indiear impliea toda \una dialetica, percorrendo
estes momentos: 1.0) indico urn agora que afirmo verdadeiro, mas
indico como urn passado, suprassumindo sua primeira verdade; 2.°)
afirmo, como segunda verdade, que ele e passado, que foi suprassu-
mido; 3.°) mas como 0 passado nio e, suprassumo sua segunda
37
verdade, a de ser-passado, ou de ser-suprassumido: negando a
nega~io, volto aprimeira afirma~io, a de que '0 agora e.
3.3. Dessa forma, 0 agora e 0 ato de indicar sio constitui-
dos de tal forma que nem urn nem 0 outro sio 0 simples imediato,
inas sim urn movimento que tern diversos momentos. Neste movi-
mento nio se volta ao ponto de partida tal como era antes: 0 que
e refletido sobre si mesmo e algo simples, que permanece 0 que
e, no ser-outro. Este agora e urn dia, que tern em si muitas horas:
uma hora que contem muitos minutos. Este agora tern muitos ago-
ras. 0 ato de indicar e urn movimento que exprime 0 que 0
agora e em verdade: uma pluralidade de agoras reunidos e unifi-
cados (0 tempo). Indicar e fazer a experiencia de que 0 agora e urn
universal.
3.4. 0 mesmo sucede com 0 ai, quando e indicado: nio e
urn ponto, mas tern acima e abaixo, diante e atras, esquerda e
direita, e uma multiplicidade simples de muitos ais, que 0 ato de
indicar descobre em seu movimento. 0 indicar nio e pois um ime-
diato e seu at e urn universal.
Conclusio: A verdade da certeza sensivel est4 para al6m dela
4. 1. Esta dialetica 6 a hist6ria da certeza sens£vel e a certeza
sens£vel se identifica com sua hist6ria. Porem ela esta sempre esque-
cendo 0 que experimentou e recome~ndo 0 mesmo caminho.
e de admirar que a existancia imediata, suprassumida pela pro-
pria consciencia quando reflete sobre sua certeza sens£vel, seja· eri-
gida em tese fUos6fica pelo ceticismo.
4.2. Que filosofia 6 essa, que afirma como verdade algo
que esta sendo negado no proprio ato da afirma~io? Com efeito,
ao dizer que 's6 a coisa singular 6 verdadeira', esta dizendo um
universal, pois toda coisa 6 singular. Entio esta afirmando como
verdade urn universal, na mesma senten~ que atribui a verdade
exclusivamente ao singular.
4.3 . Se porem prefere evitar a linguagem, que tern 0 dom
divino .de me fazer dizer 0 contr8rio do que pretendia e se limita
a indicar urn ai, como Vim06, nid pode deixar de indicar um con·
junto de muitos Dis, ou seja, urn universal.
Entio, em vez de saber &tgo imediat9, toma a coisa como ela
6 em verdade: percebe-a (Nehmen wahr = wahmeluDen).
38
~II
A PERCEPCAO / Die Wahmehmung /
OU: A COISA E A ILUSAO
Summo:
Fruto da certeza sensivel, a PercePQio js parte do Univer~al, tan-
to do lado do objeto como do conhecer. 1.0 Toma 0 ObJeto co-
mo 0 Verdadeiro, mas vacila entre a unidade que ele pastula, e a
multiplicidade de propriedades em que se manifesta. 2.° Atribui
1& ilusio do conhecimento eases paradoxos que encontra na per-
cepeio da Coisa. 3.° Confrontando os dais, v6 que ambas as
estruturas - do objeto e do sujeito - solrem da mesma con-
tradi~, por serem para-si e para.Qutro, irremediavelmente. Pro-
cura escapar da contradi~ recorrendo &OS 'enquanto que' pu-
ramente verbais, onde val e vern como joguete de apstraoOes va-
zias. No entanto, 0 pr6prio jOlo dessas abstraoOes impele a
consci6ncia a confronbi·las,· e assim suprassumi-Ias, todas juntas,
passando ao Reino do Entendfinento, onde impera 0 Universal
Incondicionado.
INTROPUCAO
A Certeza Sensivel nio alcan~ava 0 Verdadeiro, quando bus·
cava no 'isso ai' 0 que residia no Universal. A Percep~io, fruto
dessJ experiencia, ja tern 0 Universal como seu principio e ponto
de partida - tanto do lado do objeto quanto do sujeito. Perceber,
alias, 6 urn movimento; e seu objeto 6 a confluencia de todos os
momentos do movimento num ponto s6: no fundo, sio 0 mesmo
Universal.
1 . 0 mOIDento do objeto
1.1. Constituifao do Objeto
o Verdadeiro deve·se situar no Objeto - uno, simples, essen·
cial -, ao qual 6 indiferente ser ou niD percebido: isso 6 que 6
inessencial.
o Objeto 6 um Universal: algo ja mec:liildo, suprassumido -
a coisa com multiplas propriedades, onde se expande .a riqueza da
experiencia sensfvel, agora constituida etn sua verdade, ia que a
Perce~ tern a nega~o, a diferen~a ou a multiplicidade varie-
gada em sua es&encia.
A Propriedade, com que lida a Perce~o, 6 urn sensfvel suo
prassumido em Universal. Suprassumir 6 ao mesmo tempo negar e
conservar; uma nega~io determinada, onde 0 sensfvel 6 mantido
39
no que tange a suadeterminidade, embora negado como singular
indicando 'aqui e agora'. A propriedade e uma propriedade sen-
sivel, mas um sensivel universal. .
Vendo mais de perto, a universalidade do Objeto tem duas
faces: uma, e a multiplicidade das propriedades distintas e indife-
rentes entre si; a outra, e auniversalidade simples, distinta e inde-
pendente dessas propriedades,. mas que the serve de meio: a coisi-
dade. Nesse meio, as propriedades diversas se compenetram sem
se tocar: e 0 'aqui e agora' sensivel suprassumido no Universal.
Podemos chama-Io de tambem, ja que por meio dele as mUltiplas
propriedades universais coexistem num aqui. Este sal que e branCo,
e tambem salgado e tambem cubico etc.
, No entanto, esse meio nao pode ser apenas um tamb6m, pois
as propriedades, por serem determinadas, sio mutuamente exclusi-
vas, distinguem-se e se relacionam entre si como opostas: ora, pro-
priedades opostas nio podem coexistir no mesmo objeto. Este
meio, portanto, tem de ser uma unidade exclusiva, um Uno. n a
essa coisidade, afetada pela nega~io simples que exclui 0 Outro,
que chamamos coisa. Esta plenamente constituido, assim, 0 objeto
da perce~io - 0 seu 'Verdadeiro' - atraves desses tres mOo
mentos: a) a universalidade indiferente e passiva: 0 tamb6m de
multiplas propriedades; b) a nega~io simples: 0 Uno, que exclui
as propriedades opostas; c) sintese dos dois momentos: a coisa,
ponto focal da Singularidade, irradiando numa multi'plicidade (de
propriedades) no ineio da subsist~ncia. Assim, a universalidade sen-
sivel - unidade imediata do ser e do negativo - e propriedade
quando e somente quando, a partir dela, 0 Uno e a Universalidade
pura se desenvolvem e se distinguem entre si, permanecendo ao
mesmo tempo enla~ados pela universalidade sensivel, constituindo
assim a Coisa, objeto da Perce~o; e a consci8ncia se encontra -
ipso facto - determinada como percebente.
1.2. Os paradoxos da Coisa
Sendo esta Coisa 0 Verdadeiro, 0 Igual a si mesmo - e a
consciencia, mutavel e inessencial -, qualquer problema que venha
a ocorrer na perce~io e atribuido a consciencia. Ora, 0 objeto
que apreende como um P'P'O Uno tem nele a propriedade quee
universal e vai alem do singular. Entia, a primeira apreensio nio
era correta: 0 Uno nio pode ser a essencia. A Universalidade da
propriedade faz agora tomar a essencia objetiva como uma Comu-
nidade. Mas vacUo de novo: essas propriedades sio determinadas,
mutuamente exclusivas; 0 real nio pode ser uma Comunidade. Volto
a fazer do objeto um Uno exclusivo. Surge porem um problema:
40
vejo na Coisa muitas propriedades que nio se afetam umas as
outras, que nio se excluem. Tenho, pois, um meio comunitario
universal, onde as multiplas propriedades, como Universalidades
sensiveis, cada uma e para si; mas enquanto determinadas, cada
uma exclui as outras.
Contudo, procedendo assim, esvaziei 0 proprio objeto da per-
ce~io: essa propriedade, posto que nio esta no Uno, nem em
rela~io com 0 Outro, nio e mais propriedade e nem e determinada.
Que vem a ser entio? Nada mais que 0 ser sensivel em geral. 0
que fiz, foi voltar a certeza imediata da primeira figura. Porem,
como 0 ser sensivel e 0 seu designar (meinen, viser) remetem a
Perce~o - como vimos -, a consci8ncia fica girando num circulo,
que, em seus momentos particulares e em sua totalidade, se supra-
sume a si mesmo.
2. 0 momenta do suJeito
2. 1. Quando 0 Novo surge da repetifQO
Claro que 0 percurso refeito nunca e 0 mesmo, pois a cons-
ci8ncia que 0 empreende ja vem enriquecida com a experi8nda
anterior. No caso, ja constatou que, ao retomar a si mesma, ela
parria (portanto, saia) do Verdadeiro. Descobriu tamb6m a estru-
tura da perce~io: que nio era umaapreensio purae--simples, mas
uma apreensio sua, ja que a consciencia, ao captar um objeto, ope-
rou uma reflexio sobre si mesma, que alterou seu Verdadeiro.Trata
entio de separar 0 que e apreensio simples do que e reflexio, para
deixar em estado puro a perce~io primeira. Porem estaretifica~o
e igua1mente obra (e experi8ncia) da consciencia.
2.2. Paradoxos da PercePfQo
A apreensio mostrava 0 Objeto como Uno. Entio. as mul-
tiplas propriedades devem ser postas por conta do Sujeito: 0 sal.e
branco para meus olhos, salgado para a minha lingua, cubico para
meu tato etc. A diversidade e obra niinha.
Reparando melhor, vejo que essas propriedades sio determ~­
nadasi constituidas em oposi~io com as outras. As propriedades
sao proprias da coisa, pois atraves delas e que se distingue das
outras. Entio, a Coisa e um tambem: branca e tamb~m salgada e
tamb~m cubica e tamb~m etc. n· 56 um tamb6m. Portanto, a uni-
dade e que e obra da consciencia, que unifica em sua reflexio a
multiplicidade das propriedades num foco virtual, num suposto Uno
da coisa.
41
3 . 0 confronto dos dois momentos
3.1. Homologia estrutural
Agora, confrontando os dois momentos, a consci~ncia ve que
faz, ora na Coisa, ora em si mesma, tanto a experi~ncia do UNO
sem multiplicidade, como a do TAMB£M dissolvido em 'mate-
rias' independentes. Constata assim que nao e somente ela, mas
tambem a Coisa, que tem em si a diversidade e 0 retorno sobre si
mesma; possuindo, pois, duas verdades opostas.
Como nada resolve 0 atribuir a Coisa a igualdade e a si ,. desi-
gualdade ou (vice-versa) - j4 que ambos t= ambos os lados -,
tem de admitir que a coisa que ~ para-si, ref1etida em si, ~ tamb=
para Outro; possui urn ser duplo e diverso: nio ~ para si 0 que
e para Outro. .
3.2. 0 recurso aos 'ENQUANTO QUE'
Tenta agora a consci8ncia distribuir a contradi9io da ess8ncia
objetiva entre dois objetos: ~ a presen~a das outras coisas que per-
turba a unidade da Coisa, a qual, de si, ~ em-si e para-si. 0 ser
putro, nio lhe pertence, mas a outro objeto que a defronta.
Mas, em cada Coisa, por sua vez, surge 0 mesmo problema:
cada uma se determina em si mesma como algo diferente das outras,
tem em si a diferen~a essencial que a distingue de todas.
A consci8ncia recorre ao "enquanto que": vendo que a Coisa
tem uma constitui~io complexa (mUltiplas caracteristicas), distingue
essas determina¢es multiplas - como inessenciais - da determi-
na~io essencial que constitui a Coisa enquanto tal; sua diferen~
absoluta. Ela constituiria a Coisa em si; separando-a das outras
e mantendo-a em si mesma. Salvou-se por urn 'enquanto que': a
Coisa s6 ~ para si, essente e Uno, fora da rela~o com 0 Outro.
A rela~io - ouconexio - com a Outro equivale a cessar de ser-
-para-st
3.3. A Jnoperancia dos 'ENQUANTO QUE'
Venda melbor, a consci8ncia verifica que 6 justamente pelo
seu car4ter absoluto e de sua oposi~ao que a coisa se liga aoutras;
porque 6 somente e essencialmente este relacionar-se. Ouer dizer
que a Coisa desmorona preeisamente em virtude de sua proprieda-
dade essencial. Formalizando essa exprl8ncia, temos: a Coisa se
pOe como ser-para-si - portanto, como nega~io absoluta - refe-
rlndo-se apenas a si. Ora, a nega~io referlndo-se a si, equivale a
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suprassumir a si mesmo, ou seja, a ter sua essencia em Outro. Postu-
lar um 'inessencial, mas necessario', como fazem os 'enquanto que',
e puro jogo de palavras.
4. A consciancia em trinsito para 0 Reino do Entendimento
4. 1 . Exig2ncia de um novo Suprassumir
Caiu assim 0 ultimo 'enquanto que' de que se valia a Per-
ce~o, porquanto 0 objeto - de urn 56 e do mesmo ponto de vista
- e para si enquanto ~ para Outro, e vice-versa. Por ser refle-
tido em si, ~ Uno; mas por estar em unidade com seu contr'rio,
56 ~ posto como suprassumido.
Isto significa que a consci~ncia tem deoperar urna dupla
suprassun~o. 0 ser sensivel j4 foi suprassumido para dar lugar
ao Universal - objeto da Perce~: ,urn universal oriundo do sen-
sivel, por ele condicionado, e por isso distendido entre seus extre-
mos de Singularidade e Universalidade, do Uno e do Tamb~m.
Agora, este objeto tem de ser suprassumido justamente nas pur~s
determinidades que fazem sua ess&1cia - mas tamb~m seu condl-
cionamento aO ser sensivel, a coexistencia de elementos contra-
dit6rios.
4.2. No meio do caminho tem uma pedra ...
Contudo, nesse caminho para a Reina do Entendimento sur-
gem os obsticulos da 'sofisticaria' da PerceP9io, e de seu rebento,
a 'si razio' au 'bom senso' - que nao passa de uma consciencia
retardada na etapa da Percep~io; que se reeusa a prosseguir a
dial6tica iJnplac4vei romo ao Universal Incondicionado e menos-
preza a Filosofia que a convida para tanto.
A Perce~ao persiste em querer salvar, mediante as 'enquanto
que' e os 'tamb~ns', as contradi¢es constitutivas de seu objeto;
e Dio se d4 conta de que, emvez de eviti-Ias, est4 ~ sendo joguete.
daquelas abstr~s (como Singularidade, Universalidade etc.), que
sio determina¢es au pot~ncias do entendimento, que deveria do-
minar e nao ser arrastada em seu turbilhio, como sucede com a
tal 'si razao" au 'bom sensa', que toma essas abstra¢es vazias
como se fossem 56lido conteudo.
4. 3 . . .. mas a caravana passa
o entendimento, so contr4rio, determina e domina essas abs-
~s, e se serve delas como de meio para atravessar toda a ma-
t6ria e conte6do. Sio elas, de fato, que constituem 0 ser sensivel
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em objeto para a Perce~o e que tra~am seu percurso rumo ao
Verdadeiro.
Este percurso e acidentado: um "determinar sempre eambiante
do Verdadeiro e um suprassumir desse determinar". Mas e 0 unico
atraves do qual pode avan~ar; essas essencialidades, que jogam com
a eonseieneia, impelem-na para a frente, ate a suprassun~io de todas
elas. Enquanto esta em transito. a conseieneia s6 toma. em eada
momenta singular. uma das determinidades como 0 Verdadeiro. No
momento seguinte faz 0 mesmo com 0 seu oposto. Contudo. e a
propria pressiio dessas determinidades que leva 0 entendimento a
juntar, de uma vez, a todas elas (singularidade, universalidade; Uno
e Tambem; essencial, inessencial mas necessario) e atraves desse
confronto suprassumir a todas.
56 entiio cessam os sofismas, os expedientes dos 'enquanto
que'. que nio conseguem salvar a verdade da coisa, mas deixam.
sim, a eonseiatlcia na inverdade; e retardam sua marcha rumo ao
Reino do Entendimento, onde impera 0 Universal Inoondieionado.
Se9io III
FORCA E ENTENDIMENTO / Kraft und Verstand /
FENOMENO E MUNDO SUPRA-SENStVEL
Sumario:
A conscianc1a agora ~ entendimento e tem por objeto 0 uni·
~ersal incondicionado. para alD daB abstraoOes onde a per-
cePQio ficara presa.
cap. 1: - A Fo. - Considera primeiro seu objeto como For-
oaf sfntese dinAmica da unidade e multipUcidade;
- examinando melhor. va que se trata de urn jogo de foroas. de
polaridades opostas.
- que aU4s constata nio passar de urn fenOmeno. atravtSs do
quaI descortina 0 supra-sens1vel ou 0 Interior daB colsas.
cap. 2: - 0 Interior - Este interior supra.sensfvel tS 0 reino cal-
mo das leis - tAo calmo que chega a ser tautol6gico -. po~
perturbado pela pr6pria expij,caoio tautol6gica. que postula urn
Mundo invertido. oposto ao mundo contemplado. Noentanto
esses dois mundos sio urn s6 e 0 mesmo. .
Cap. 3.° - 0 Inftntto - A identificaoio dos opostos impUca 0
conceito de Infinito, e este. por sua ves. revela, com 0 Interior
dos objetos. a pr6pria consciancia-de-sJ,. E assim se atinp outro
patamar do movimento dialtStico: a consciancta-de-si.
INTRODUCAO
Nesta etapa, a consci!neia ja deixou para tras a certeza sen-
sivel e reuniu os pensamentos da perce~o no 'universal incon-
dicionado' qye toma agora como seu objeto verdadeiro, formado
por uma reflexao sobre si mesma a partir da rela~ao com um outro;
so que ainda nao reconhece a si mesma neste objeto refletido. Nos,
fil6sofos, sabemos que este objeto e a reflexao da conseiencia sao
uma coisa s6: mas ela niio sabe. Deixemos pois que ela examine
a seu modo 0 seu novo objeto.
Tal universal se apresenta como um objeto plenamente consti-
tuido. e a conscieneia se porta como consciencia coneebente: nele
nega e abandona suas abstra~s unilaterais e pOe como a mesma
es&encia 0 ser-para-si e 0 ser-para-outro, nao 56 na forma de que se
revestem seus movimentos, mas no seu conteudo. Com efeito, qual-
quer objeto possivel tem

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