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A EDUCAÇÃO (DE ALGUNS) DOS POVOS DA ANTIGUIDADE ORIENTAL: A EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA Atira-te ao trabalho e torna-te escriba, porque então serás guias dos homens (de um papiro egípcio) Em nossa segunda aula veremos algumas contribuições de alguns dos povos que influenciaram o ocidente com seus legados educacionais, apesar de nossa cultura de raiz ocidental (greco- romana). Fonte: https://www.vestmapamental.com.br/historia/idade-antiga/ Contextualização Como vimos anteriormente, os homens primitivos viviam em clãs nas quais todos os membros eram iguais, motivo pelo qual havia uma educação universal. Não havia qualquer tipo de propriedade. Tudo era coletivo e este período também é conhecido como comunismo primitivo. Contudo, a criação de novos instrumentos de trabalho e o desenvolvimento da técnica, possibilitaram tanto a fixação dos clãs (ou tribos) e, aos poucos, trouxeram outra forma de divisão social do trabalho. Sob tais circunstâncias, surgiu também a divisão de classes. As relações sociais se tornaram cada vez mais complexas e um dos resultados foi a criação das primeiras civilizações e, posteriormente, do que chamamos de Estado: Há cerca de 5 mil anos teve início o que podemos chamar de civilização nas regiões banhadas por rios. Por isso, os historiadores a conheceram como civilizações fluviais (ou sociedades hidráulicas), uma vez que, nessas planícies incrustadas nos desertos, a terra se tornava fértil e o curso d’água favorecia o intercâmbio de mercadores. Assim surgiram a Mesopotâmia (às margens dos rios Tigre e Eufrates), o Egito (“uma dádiva do Nilo”), a Índia (rios Indo e Ganges) e a China (rios Yangtsé e Hoang-Ho). Apesar das diferenças entre essas civilizações, todas impuseram governos despóticos de caráter teocrático, em que o poder absoluto do rei ou do imperador se sustentava na crença em sua origem divina. No Egito o faraó era o supremo sacerdote e considerado filho do deus Sol, enquanto na China o imperador era o Filho do Céu. Esse tipo de organização política mantinha as sociedades tradicionalistas, apegadas ao passado. A China, uma das mais conservadoras, ficou à margem da influência ocidental até o século XIX. (ARANHA, 2012, p. 46). Cronologia das primeiras civilizações (ARANHA, 2012, p. 47) (datas aproximadas) Egito: desde o final do 4º milênio a.C. (segundo alguns, começo do 3º milênio); até o século IV d.C. Mesopotâmia: desde o final do 4º milênio a.C. (sumérios e sucessão de vários povos) até o século VI d.C.47/685 – atual IRAQUE China: 2750 a.C. (2500?) (metade do 3º milênio a.C.?) Índia: primeira metade do 3º milênio a.C. Israel: os hebreus ocuparam Canaã em 1250 a.C. (2º milênio, século XIII a.C.) até a dispersão no século I a.C. Estes avanços sociais propiciam o início da transmissão dos conhecimentos acumulados de forma mais organizada, ou seja, surge a necessidade de alguém capaz de transmitir os conhecimentos acumulados, embora apenas para as elites e algumas camadas de instâncias administrativas para o registro de aspectos relevantes do Estado/reino. À medida que o Estado se tornava cada vez mais centralizado e poderoso, crescia a importância dos dirigentes, como altos funcionários do governo, sacerdotes e escribas. Surgiu então uma minoria privilegiada pertencente à administração dos negócios, enquanto a grande massa da população se ocupava com a produção propriamente dita. Entre estas últimas estavam os escravos, além de mercadores, artesãos, soldados e camponeses obrigados à servidão. Resumos das principais características do referido contexto histórico: O surgimento da escrita; Transição da sociedade primitiva para a civilização; Surgimento da cidade e do estado, este proprietário das terras. Mantinha a cultura dominante através da educação. Governos despóticos de caráter teocrático, em que o poder absoluto do rei ou do imperador se sustentava na crença divina. Início do dualismo estrutural do ensino: diferenciação da aprendizagem de acordo com a inserção de classe. Vejamos, então, algumas destas civilizações e seus legados educacionais: EGITO Final de 4 milênios a.C. (provavelmente a primeira das civilizações) As terras pertenciam inicialmente ao Estado – Faraós Segundo Gadotti, “Os egípcios foram os primeiros a tomar consciência da importância da arte de ensinar” (GADOTTI, 1994, p.22) Ensino da escrita, bem como de outros conhecimentos, é restrita e de acordo com a classe social e o serviço prestado. A maioria aprende seus ofícios nas atividades práticas do dia a dia (trabalho). As primeiras “escolas” funcionavam em templos e em algumas casas, com uso de memorização e castigos físicos. Apesar do forte teor religioso da cultura egípcia, as escolas dão informações muito práticas, como cálculo do número de tijolos necessários para a construção, a ração das tropas em campanha, complicados problemas de geometria destinados à agrimensura e listas de plantas e animais que indicam extenso conhecimento de botânica, zoologia, mineralogia e geografia. [...] Mênfis, Heliópolis ou Tebas formam os escribas de categoria mais elevada. Além da formação para funções administrativas e legais, preparavam médicos, engenheiros e arquitetos. É interessante notar que tal volume de informações geralmente não vem acompanhado de preocupações teóricas de demonstração ou de procura de princípios ou leis científicas, o que, diga-se de passagem, será a grande contribuição do pensamento grego. Assim, por exemplo, os egípcios já conheciam as relações entre a hipotenusa e os catetos de um triângulo retângulo, mas foi o grego Pitágoras que se preocupou com a demonstração do teorema em questão. (ARANHA, 1993, p.25) Os egípcios também iniciaram o uso das bibliotecas (GADOTTI, 1994). Principais contribuições do antigo Egito 1) Escrita 2) Papel e Tinta 3) Calendário 4) Matemática e Geometria 5) Pirâmides e Mumificação 6) Analgésicos e Anestesias 7) Antibióticos 8) Filosofia 9) Literatura https://maestrovirtuale.com/as-9-contribuicoes-mais-importantes-do-egito-para-a-humanidade/ Educação no Antigo Egito As lições eram aprendidas com a realização de leitura em voz alta a fim de facilitar a memorização. O ensino era autoritário e tinha por objetivo ensinar a obediência. [...] além da obediência, a oratória era considerada um instrumento de grande relevância, pois falar bem implicava em saber convencer com palavras nos conselhos e nos discursos às multidões. Além da escrita e da oratória, também havia a preocupação com a educação física, destinada aos nobres e aos guerreiros, inicialmente centrada na natação e com o tempo, ampliada para atividades de tiro com arco, corrida, caça, pesca. Dentre as atividades “profissionais” da época, a de escriba era extremamente valorizada, [...] “escriba é aquele que lê as escrituras antigas, que escreve os rolos de papiro na casa do rei, que, seguindo os ensinamentos do rei, instrui seus colegas e guia seus superiores, ou que é mestre das crianças e mestre dos filhos do rei, que conhece o cerimonial do palácio e é introduzido na doutrina da majestade do faraó”. [...] Conforme atesta um antigo papiro, o reconhecimento do valor do escriba era tão grande que um pai estimulava o filho a levar a escola a sério: “Eu conheci fadigas, mas tu deves dedicar-te à arte de escrever, porque vi quem é livre do seu trabalho: eis que não existe nada mais útil do que os livros”. E acrescenta em outra passagem: “Eis que não existe uma profissão sem que alguém dê ordens, exceto a de escriba, porque é ele que dá ordens. Se souberes escrever, estarás melhor do que nos ofícios que te mostrei”. (ARANHA, 2012, p. 55) MESOPOTÂMIA - IRAQUE Criadores da escrita CUNEIFORME – inscrição em forma de cunhas e pictográfica (desenhos). Possuíam bibliotecas, estudavam a astronomia, a medicina, remédios e construíram o calendário lunar, porém: “É bem verdade que esses saberesse achavam impregnados de misticismo: as doenças seriam causadas pelos demônios, e a posição dos astros revelava os desígnios dos deuses”. (ARANHA, 2012, p.54) Os mesopotâmios acreditavam que os governantes eram escolhidos pela vontade divina e a https://maestrovirtuale.com/as-9-contribuicoes-mais-importantes-do-egito-para-a-humanidade/ preocupação com o conhecimento dos fatos sempre estava atrelado com a magia e advinhação (ARANHA, 1993). Educação na Mesopotâmia São poucos os registros sobre a educação na região da mesopotâmia, mas destaca-se a importância atribuída à classe sacerdotal em função do elevado grau de misticismo. De acordo com Aranha (2012), inicialmente a educação era realizada em casa, nas próprias famílias e os conhecimentos, a cultura e crenças eram transmitidos de pai para filhos. Mais tarde, (1240 a.C.) com a conquista da Babilônia pelos assírios, estes criaram escolas públicas, a fim de instituir sua cultura. E, posteriormente, “[...] surgiram instâncias de educação superior — os centros de estudos de história natural, astronomia, matemática criados nos palácios reais — a que os historiadores chamaram de Universidade Palatina da Babilônia. Também proliferaram ricas bibliotecas no interior dos templos, em que os “livros” eram tabuletas ou cilindros gravados com caracteres cuneiformes e versavam sobre os mais diversos assuntos” (ARANHA, 2012, p.56)”. . ÍNDIA “Longe de pertencer inteiramente a um passado encerrado, como as glórias defuntas do Egito e da Babilônia, a aventura hindu prossegue sob nossos olhos” Esta civilização surgiu por volta do ano 2000 a.C. às margens dos rios Indo e Ganges. As tradições antigas dessa civilização permanecem vivas até os dias de hoje por meio da herança de duas importantes religiões: o hinduísmo e o budismo Hinduísmo (bramanismo): composta por diversas crenças, com predominância do BRAMANISMO, a essência de todas as coisas. Dividia a população em quatro castas fechadas, sem possibilidade de mudanças: - brâmanes (sacerdotes); xátrias (guerreiros e nobres), vaixás (comerciantes, agricultores, artesãos); sudras (servos da cidade e do campo). Havia também os párias, sem castas, indignos e intocáveis. Educação no hinduísmo De acordo com a inserção de casta; os brâmanes recebiam a mais refinada educação com ensinamentos literários e filosóficos (livros sagrados). As demais castas recebiam educação prática, para o seu ofício. Os párias, indignos, não recebiam qualquer tipo de educação. Segundo Aranha, As aulas, geralmente ao ar livre, sob árvores, dependiam da iniciativa privada. O mestre era venerado, e a disciplina não abusava de castigos. Os estudos tinham fundo religioso e moral, e o aprendizado era mnemômico. Devido ao predomínio do ideal místico-contemplativo, não havia grande interesse pela educação física. Inicialmente só os brâmanes estendiam os estudos aos cursos superiores, em que, além da religião, estudavam gramática, literatura, matemática, astronomia, filosofia, direito, medicina. Com o tempo, outros segmentos tiveram acesso a esse tipo superior de educação, enquanto as demais castas apenas recebiam educação elementar, da qual estavam excluídos os sudras e os párias. (ARANHA, 2012,p.58) Budismo. Fundado pelo príncipe Sidarta Gautama, o Buda (ILUMINADO). Tinha como pressuposto quatro Nobres Verdades e a Senda Óctupla (caminho p a libertação plena e a felicidade) Verdades Nobres: 1) Existência do sofrimento - nos grandes momentos da vida: nascer, adoecer, envelhecer, morrer 2) Origem do sofrimento (desejo) 3) Fim do sofrimento – extinção do desejo, apego, ambição, ansiedade. 4) Caminho da libertação – na Senda Óctupla – oito etapas Senda Óctupla 1) Visão correta (para além das aparências imediatas) 2) Pensamento correto (adequado á realidade) 3) Palavra correra (sincera, oportuna, densa) 4) Ação correta (realizada com amor, simplicidade, tranquila) 5) Vida correta (plena de sensibilidade perante a natureza e semelhantes) 6) Esforço correto (mobilização das energias em prol ao objetivo correto) 7) Atenção correta (para a eliminação do desinteresse, da eterna novidade de vida) 8) Meditação correta (integração com o absoluto, paz, NIRVANA) Educação no Budismo Exerceu grande influência em diversos países do oriente (China, Japão, Coreia etc) De acordo com Aranha (2012), o budismo, a partir da década de 1950 exerceu forte influência em parcela da juventude norte-americana, descontente com os valores ocidentais. Para o Budismo, a educação deveria desenvolver a personalidade do indivíduo, incentivando a autoconsciência. Ao mestre cabia despertar o senso crítico, [...] o desenvolvimento do ensino- aprendizagem deve contar com a imprescindível motivação interior do aluno. A sabedoria é uma conquista individual e, de certo modo, intransferível. [...] rejeitava a submissão do indivíduo a qualquer tipo de mestre ou autoridade prepotente. (COTRIM, 1993, p 102) A CHINA Surgiu no segundo milênio a.C.. É considerada uma das culturas mais tradicionais, com uma educação que reflete seu conservadorismo ao longo dos séculos. Passou por 2 períodos históricos marcantes: Feudalismo e Imperialismo. Sobressaíram-se na arte da metalurgia do bronze, a fabricação de rodas para os carros de guerra, a construção de cidades fortificadas, e a escrita ideográfica utilizada pelos sacerdotes. A religião desenvolveu-se em torno da celebração às forças da Natureza (água, ar, terra, fogo etc) e aonculto aos antepassados. Esta civilização teve dois grandes mestres, ambos do século VI a.C, que seguiam os livros sagrados e clássicos, cujos ensinamentos se consagraram ao longo dos séculos Confúcio – Confucionismo – “O homem nasce bom e a educação adequada assim o mantém” primava pela correta conduta social: respeito pelos pais, veneração aos antepassados, humildade e domínio das paixões. Lao Tsé – Taoísmo – “O sábio compreende a alma do universo” primava pela busca da compreensão interior porque a sabedoria vem de dentro de cada um. Educação na China – aspectos gerais Busca pela precisão, o domínio de si mesmo, o refinamento dos hábitos sociais, a valorização das virtudes como a moderação, a sensatez e a tolerância. Reverência à tradição histórica. Um aspecto que diferencia esta civilização das anteriores está no fato de que o conhecimento não era monopólio de sacerdotes (religiosos), mas dos mandarins, funcionários do elevado escalão do império chinês e, portanto, de confiança do Imperador para exercer as tarefas de administração necessárias: [...] na China os letrados eram os mandarins, altos funcionários de estrita confiança do imperador e responsáveis pela máquina burocrática do Estado. O rigoroso sistema de seleção para esse ensino superior baseava-se em exames oficiais que distribuíam os candidatos nas diversas atividades administrativas. Os cursos restringiam-se à classe dirigente, enquanto as oficinas eram reservadas para artesãos e camponeses. A educação elementar visava ao ensino do cálculo e à alfabetização, muito difícil e demorada devido ao caráter complexo da escrita chinesa. A formação moral baseava-se na transmissão dos valores dos ancestrais. Tudo era feito de maneira rigorosa e dogmática, com ênfase nas técnicas de memorização. (ARANHA, 2012, p. 60) HEBREUS Poucos livros destacam o legado dos hebreus à educação. Os hebreus saíram da Caldeia (Mesopotâmia), passaram por Canaã (Palestina) e fixaram-se no Egito no segundo milênio a.C.. Posteriormente, formam reconduzidos por Moisés à Canaã, a Terra Prometida, por volta de 1250 a.C. (data incerta),onde se juntaram a outros grupos, até que as doze tribos hebraicas se unificassem com Saul, primeiro rei de Israel. Veneravam a ação dos profetas, que foram os primeiros educadores do povo hebreu. As lições, sobre as verdades sagradas da Bíblia, eram aprendidas nas Sinagogas. Os fundamentos dos hebreus estãono Velho Testamento e, para eles, o Novo Testamento, com os ensinamentos de Cristo, não têm validade. Diferente de muitas das antigas civilizações, eram monoteístas (mas não a única monoteísta) Os hebreus conservaram em muito os aspectos históricos de suas origens Educação hebraica: Era rígida, minuciosa, desde a infância. Pregava o temor a Deus e a obediência aos pais. O método de ensino era o da repetição e a revisão (GADOTTI, 1994). Para concluir esta aula sobre as civilizações orientais e a educação: Nas civilizações orientais não existiam propostas exclusivamente pedagógicas, mas as preocupações com a educação permeiam os livros sagrados, oferecendo regras ideais de conduta e orientação para o adequado enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos e morais que obedecem também as rígidas divisões sociais. [...] trata-se de sociedades tradicionalistas, conservadoras, que pretendem perpetuar costumes cujas normas não dever ser transgredidas. Daí o caráter religioso dos compromissos impostos e nunca discutidos, (ARANHA, 1993, p.27) Sugestões de vídeos para a melhor compreensão desta época tão distante O Império Babilônico https://www.youtube.com/watch?v=Y5KrTy1dxTA O Egito Antigo: O Surgimento do Império dos Faraós - https://www.youtube.com/watch?v=4COjPyjFzBE Leitura Obrigatória Educação e Filosofia no Antigo Oriente Disponível em: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/educacao-e-filosofia-no-antigo-oriente/
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