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Responsabilidade civil Prof. Felipe Assis @prof_felipe Apresentação geral u Horário da aula u Plataforma de aulas síncronas u Verificação de presença u Bibliografia básica e complementar u Textos de apoio u Julgados de apoio u Provas e trabalhos u Formulário de perfil acadêmico: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdpGv9OMfXYA2wiPaX8DPJEvSOqgK8KNs bxjD169XiwYVH7kA/viewform Questões iniciais u Qual o objeto de estudo da Responsabilidade Civil? u O que se entende por Responsabilidade Civil? u É necessária relação anterior entre as partes para que haja responsabilidade civil? u Quais os pressupostos da responsabilidade civil? u Quais os efeitos jurídicos e econômicos da responsabilização civil? u Quais os efeitos sociais da responsabilidade civil? u Em quais situações do seu cotidiano você percebe a responsabilidade civil? Curso de Responsabilidade Civil u O curso será dividido em duas partes: parte geral e parte especial. u Na primeira parte, estudaremos questões fundamentais da responsabilidade civil, para que se possa formar uma visão ampla do assunto. Para isso retomaremos alguns assuntos de direito das obrigações e aprenderemos a instrumentalizá-los no campo da responsabilidade civil. Será imprescindível o acompanhamento do Código Civil em sua versão mais atualizada. É possível acessá-la no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm u Na segunda parte, analisaremos especificamente os desdobramentos da responsabilidade civil, de modo a dialogar com outras áreas do direito, como o direito penal, direito do consumidor, direito ambiental, direito administrativo, direito digital, direito de família, direitos da personalidade, direito contratual etc. u Assim, apesar de o assunto estar situado dentro do programa de Direito Civil, ele terá reflexos em várias outras áreas do Direito. É uma matéria interdisciplinar, comportando, ainda, estudos sociológicos e econômicos acerca de suas premissas. u Além disso, trata-se de assunto com importante presença no cotidiano de nossa sociedade, e que está em constante inovação. Por isso, o curso será pautado pelas referências doutrinárias e jurisprudenciais. Curso de Responsabilidade Civil u O Código Civil busca distribuir os riscos de eventos danosos que podem advir de situações decorrentes das relações sociais: uma batida de carro, uma invasão hacker, ligações insistentes de telemarketing, um escorregão em um degrau mau sinalizado, um pneu furado por conta de via esburacada, uma cirurgia plástica mal feita, uma janela quebrada por crianças brincando na rua, uma briga entre torcedores no estádio, o rompimento de uma barragem de mineradora. Os exemplos são inúmeros, por isso o Código Civil estabelece apenas uma regra geral de responsabilidade civil e a jurisprudência acaba dando os contornos específicos diante de casos concretos. A ideia geral do Código Civil é determinar quem deve arcar com o prejuízo, evitando, assim, conflitos sociais. Curso de Responsabilidade Civil u Os efeitos da responsabilização civil são relevantes, pois podem interferir no patrimônio da pessoa natural ou jurídica, causando sérios desequilíbrios financeiros. u Um bom sistema de responsabilidade civil consegue reparar os danos sofridos pela vítima de um ato ilícito e desencorajar o autor desse ato ilícito a repetir o fato. Incentiva uma postura de ”cuidado” com o outro. u Por conta disso, é, talvez, a matéria mais importante a ser estudada no contexto em que vivemos, pois impõe limitações aos riscos a que estamos expostos. Essas limitações podem ocorrer de variadas maneiras e variados graus. Por outro lado, o uso desmedido e enviesado da responsabilidade civil, pode retirar a liberdade negocial e criativa. Ex: a famigerada ”indústria do dano moral”. u A matéria acaba atuando como uma baliza da liberdade (pressuposto inerente ao Direito Privado). E é uma área com grande potencial de aplicação prática e teórica. Quanto vale - Netflix O preço da verdade – Amazon Prime Situações do cotidiano que envolvem a Responsabilidade Civil https://www.migalhas.com.br/quentes/358657/mulher-que-sofreu- violencia-obstetrica-sera-indenizada-em-r-50-mil https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/02/03/cratera-marginal-tiete- responsabilidade.htm https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/01/ativista- britanica-que-namorou-espiao-disfarcado-sera-indenizada- em-r-17-milhao.shtml https://cultura.estadao.com.br/noticias/series,netflix-vai-a-tribunal- por-denuncia-contra-o-gambito-de-rainha,70003965535 https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Criacao/Aves/noticia/2022/0 1/queda-de-energia-causa-morte-de-120-mil-aves-em-granja-em-goias.html https://www.uol.com.br/nossa/notic ias/redacao/2022/02/06/tutor-de- pandora-processa-gol-e-gru-e-pede- indenizacao-de-r-320-mil.htm https://www1.folha.uol.com. br/colunas/rogeriogentile/20 21/08/panini-e-condenada-a- indenizar-jogadores-por- figurinhas-em-album-do- corinthians.shtml https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/not icias/2020/setembro/justica-condena-clube-e- federacao-por-falta-de-seguranca-em-partida-pelo- campeonato-brasileiro https://www.conjur.com.br/20 21-abr-20/banco-condenado- indenizar-cliente-vitima-golpe- whatsapp Valor Econômico, 27/07/2021 Valor Econômico, 05/08/2021 https://www.conjur.com.br/2019- jan-30/rafael-moreira- responsabilidade-envolvidos- brumadinho https://brasil.elpais.com/brasil/20 18/04/16/tecnologia/1523911354_ 957278.html u https://www.theguar dian.com/education/ 2016/dec/04/graduat e-sues-oxford- university-1m-failure- first-faiz-siddiqui u https://www.bbc.co m/news/uk-england- oxfordshire-42974641 https://www.thegu ardian.com/world/ 2016/may/02/frenc hman-takes-former- employer-to- tribunal-over- tedious-job Princípios da Responsabilidade Civil Extracontratual u A responsabilização extracontratual (também chamada de aquiliana ou extranegocial), deriva de uma violação genérica a um direito de outrem. Ela é guiada por princípios basilares: u 1) Princípio da reparação integral: recompor a situação prévia da vítima. Pode ocorrer de forma natural (restituição de bem equivalente ao danificado) ou em pecúnia (pagamento de valor equivalente); u 2) Princípio da prevenção: trata-se de incentivo a evitar a ocorrência de um dano e, consequentemente, da responsabilidade civil. Dever de evitar dano injusto e de evitar agravamento de dano ocorrido (duty to mitigate the loss). u 3) Princípio da solidariedade: o sistema de responsabilidade civil privilegia a tutela do ofendido em vez da sanção ao ofensor. Potencializará, inclusive, situações de causalidade, ampliando-as para prestigiar a reparação da vítima (ex: responsabilidade objetiva). As funções da Responsabilidade Civil u 1 – Quanto maior a riqueza patrimonial do causador do dano, maior deve ser o valor da indenização? u 2 – Quanto maior o sofrimento da vítima, maior deve ser a reparação? u 3 – A Responsabilidade Civil deve punir o causador do dano? u 4 – A Responsabilidade Civil deve desestimular a ocorrência de danos? u 5 - É possível desestimular e punir sem ser através da Responsabilidade Civil? u 6 – A responsabilização civil implica, necessariamente, em um crime? u 7 – E um crime implica, necessariamente, em responsabilidade civil? u 8 – O medo é suficiente para gerar responsabilidade civil? As funções da Responsabilidade Civil: Função reparatória u Essa é a função clássica e ainda dominante da responsabilidade civil, trazendo a ideia de pagamento. A responsabilidade civil se encarrega de distribuir os infortúnios gerados na convivência social, tratando de delimitar os casos em que o dano será suportado por quem o sofreu, daqueles em que será posto a cargo de outras pessoas. Portanto, a responsabilidade, tal e qual a conhecemos hoje, consolida-se ao curso da modernidade como o “reverso da liberdade”, no sentido do ressarcimento dos danos decorrentes da circulação de bens e obrigações. A matéria surgiu residualmente às ideias decontrato e propriedade. Trata de assuntos por eles não discutidos. (ROSENVALD, op.cit., p.68) u Delimita a liberdade de atuação de um agente e, ao mesmo tempo, serve de proteção a bens e interesses relevantes. Liberdade de atuação x proteção de bens jurídicos. Ex: limites à liberdade de expressão. u O nosso modelo jurídico pauta-se pela ideia de mínima interferência nas relações sociais, de modo que atuará com grande força em momento posterior à concretização do dano (ex: risco de censura). u A responsabilidade civil busca reparar, restabelecer uma situação, um direito, um patrimônio que foi lesado, danificado. O ressarcimento tem a função de neutralizar as consequências do dano. Todavia, é importante notar que a reparação não consegue restaurar perfeitamente o dano sofrido. As funções da Responsabilidade Civil: Função punitiva* (Teoria do valor do desestímulo) u A responsabilidade civil evoca a ideia de um dano sofrido por qualquer pessoa e a obrigação de repará-lo a cargo de outra pessoa. A reparação do dano consiste na sanção que segue ao acertamento da responsabilidade. Portanto, em primeiro lugar esse instituto possui uma finalidade reparatória, distinguindo--se da penal, administrativa e disciplinar, no que tange ao perfil das sanções. Ideia central é reparar e não punir. u No entanto, hoje, os conflitos sociais ultrapassam a esfera individual para alcançar grupos e coletividades. Isso implica não apenas alteração dos pressupostos da responsabilidade civil, como a discussão de seu próprio papel. Surge então a ideia da função punitiva, como forma de melhor desestimular a violação de direitos. Fala-se, na jurisprudência, em função pedagógica da responsabilidade civil (julgados STJ e TJ-SP), especialmente através dos danos morais. u Essa função vem sendo mais discutida tanto na doutrina quando na jurisprudência, ganhando adeptos e remodelando a responsabilidade civil atual. Influência do common law. Críticas à função punitiva* u Violação ao princípio da legalidade; u Desvirtuamento do Direito Civil; u Possibilidade de utilização de outras áreas para alcançar o efeito punitivo; u Enriquecimento sem causa da vítima; u Discussões subjetivas (culpa e majoração da indenização) u Distorções ao se transplantar o instituto do common law u Obs: a utilização do dano moral como válvula de escape às pretensões punitivas. O efeito pedagógico. u Conflito entre doutrina e jurisprudência As funções da Responsabilidade Civil: preventiva e precaucional** u A sociedade atual distribui riscos. Essa mesma sociedade clama por segurança contra os riscos inerentes às situações da vida (Ex: seguros, planos de saúde etc – diminuição do risco de insolvência). Nesse contexto, o risco exige uma análise futura e não passada. Quais as consequências (riscos) que podem se concretizar no futuro caso continuemos a consumir desenfreadamente, a não respeitar o meio ambiente, a consumir alimentos hiperindustrializados, por exemplo? u O direito prevê a proteção a esses riscos através da prevenção (quando o risco de dano for conhecido – ex: velocidade nas estradas) e da precaução (quando o risco for hipotético). u A doutrina entende que a prevenção (atuar com cautela diante de riscos já conhecidos) é pressuposto de todas as outras funções. E a jurisprudência ainda é cautelosa em aplicar as funções precaucionais. u Tradicionalmente, como vimos, a responsabilidade civil tem função curativa, restaurativa. No entanto, atualmente, exige-se que se observe uma função com vistas ao futuro. u A precaução conduz a efeitos inibitórios, uma vez que o risco da sanção desestimula o exercício de atividades potencialmente danosas. Pode ocasionar a chamada responsabilização sem dano. Essa vertente sofre críticas doutrinárias, não sendo bem aceita no Brasil. Questão nuclear u Hiroshima e Nagasaki (Japão - 1945) u Tratado de não proliferação de armas nucleares (1970) u Acidente de Chernobil (Ucrânia – 1986) u Acidente de Fukushima (Japão – 2011) u Guerra Rússia - Ucrânia (2022) u Discussão sobre o uso como fonte segura e eficaz na geração de energia u No Brasil: u Lei 6.453/1977 u Usina Nuclear de Angra dos Reis – RJ u Acidente radiológico em Goiânia (1987) Obs: A Função comunicativa*** u O caso da “ação declaratória de responsabilidade civil” movido por familiares de vítimas de tortura no Brasil. Lei da Anistia. u Efeito simbólico? u Intenção de imputar responsabilidade, de acordo com as regras jurídicas, mas sem colher os efeitos da reparação/compensação. u Os danos sofridos não foram, então, obras do acaso, da natureza ou das próprias vítimas. A declaração possui consequências, mesmo que não seguida de uma sanção. Conclusão u A responsabilidade civil absorve quatro funções fundamentais (sendo as duas primeiras pacíficas na doutrina): (a) a função de reagir ao ilícito danoso, com a finalidade de reparar o sujeito atingido pela lesão, devolvendo o lesado ao status quo ante, ou seja, estado ao qual o lesado se encontrava antes de suportar a ofensa; (b) a função de prevenir que o mesmo fato se repita, dissuadindo futuras ofensas; (c) a função de reafirmar o poder sancionatório (ou punitivo) do Estado; (d) a função de desestímulo para qualquer pessoa que pretenda desenvolver atividade capaz de causar efeitos prejudiciais a terceiros. u Reparação, indenização, compensação, punição, precaução e prevenção. Todas essas funções buscam dar segurança à sociedade. Seja segurança individual, seja coletiva. Seja segurança atual, seja futura. Evita-se condutas reprováveis e minimiza-se riscos de atividades potencialmente lesivas. u Ter em mente essas funções da responsabilidade civil, equivale a incentivar situações que já eram previstas pelos antigos romanos: Viver honestamente, não lesar ninguém e dar a cada um o que é seu. Espécies de Responsabilidade Civil u 1) Determinada pela relação jurídica preexistente u Responsabilidade contratual: situação em que há vínculo obrigacional preexistente e voluntário entre as partes. A violação da obrigação livremente assumida resulta em inadimplemento u Responsabilidade extracontratual: situação sem vínculo preexistente, consistente na transgressão de um dever jurídico imposto pela lei. u Em ambas haverá a violação de um dever jurídico – o que as diferenciará será se esse dever se originou da relação voluntária das partes ou de uma imposição da lei. u Em termos práticos, há relevância na distinção para verificar, por exemplo, o prazo prescricional – 3 anos (extracontratual) e 10 anos (contratual), a contagem do juros de mora – data da lesão (extracontratual) e data da citação (contratual). u Observação: O CDC superou essa distinção, equiparando ao consumidor todas as vítimas do acidente de consumo. u Há amplos debates doutrinário e jurisprudenciais acerca do enquadramento de situações limítrofes – ex: situação pré-contratual. u Rosenvald et. al. defendem a aplicação do regime geral de responsabilidade civil (extracontratual, portanto) sempre que o dano extrapole as regras concebidas pelas partes e corresponda verdadeiramente a um descumprimento de um dever de cuidado oponível em caráter erga omnes. u 2) Determinada pela necessidade ou não de se procurar culpa do agente u Responsabilidade subjetiva: leva em conta a conduta do sujeito, analisando se agiu ou não com culpa lato sensu (em sentido amplo). Situação em que o causador do dano será responsabilizado apenas se agir com culpa (dolo, negligência, imprudência ou imperícia). Ideia clássica e dificultosa para a vítima. u Responsabilidade objetiva: não considera o elemento culpa para configurar a responsabilização, sendo irrelevante a motivação da conduta do agente. Ideia surgida após a Revolução Industrial, uma vez que aumentaram-se as situações de risco que as pessoas se expunham. Trata-se de uma tentativa de melhor adequar a reparação à vítima. Espécies de Responsabilidade Civil Obrigação de indenizar • Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. • Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. • Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Responsabilidade subjetiva: • Art. 927 Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Responsabilidade objetiva: u 1) Responsabilidade subjetiva u 1.1) Ato ilícito u 1.1.1) Conduta u 1.1.2) Imputabilidade u 1.1.3) Responsabilidade civil dos incapazes u 1.1.4) Exclusão da ilicitude u *Obs: Abuso de direito u 1.2) Culpa (lato sensu) u 1.2.1) Dolo u 1.2.2) Culpa (stricto sensu): negligência, imprudência e imperícia u 1.3) Nexo de causalidade u 1.3.1 Teorias u 1.3.2 Concausas u 1.3.3 Exclusão da causalidade u 1.4) Dano u 1.4.1 Dano patrimonial u 1.4.2 Dano extrapatrimonial u 1.4.3 Quantificação do dano u 1.4.4 Outros temas relacionados ao dano Responsabilidade subjetiva u Momento em que alguém, mediante conduta culposa, viola direito de outrem e causa-lhe dano. Está-se diante de um ato ilícito, e deste ato deflui o inexorável dever de indenizar, consoante o art. 927 do CC. u O seu traço característico é a verificação da conduta do agente e se baseará, principalmente, no art. 186 do CC. Portanto, serão necessários 4 elementos para a sua configuração: u Ato ilícito (violação de um dever jurídico - elemento objetivo) u Culpa (elemento subjetivo, depende do sujeito) u Dano (elemento material) u Nexo de causalidade Conduta Ato ilícito – 186 CC u Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. u O ato ilícito significa uma conduta ou fato praticado (ação) ou que se deixou de praticar (omissão) em desconformidade com o Direito. Na hipótese do 186 CC é fundamental analisar a conduta do agente, isto é, a maneira como a pessoa agiu ou deixou de agir e qual a sua influência no resultado do dano. Trata-se de uma cláusula geral de responsabilidade. Conduta u É o comportamento humano voluntário exteriorizado por uma ação ou omissão, produzindo consequências jurídicas (CAVALIERI FILHO). u A ação é um movimento corpóreo comissivo, um comportamento positivo, um fazer. É responsabilizado quem age quando não deveria agir. u A omissão se caracteriza pela abstenção de uma conduta devida. u É responsabilizado por omissão aquele que tiver juridicamente o dever de agir, mas não age, ocorrendo, por isso, o dano. Ex: dever de agir imposto pela lei (dever de manutenção dos filhos); daquele que está na posição de garantidor (médico, enfermeiro); quem cria situação de perigo. Imputabilidade Imputabilidade u O agente causador do dano deve ter capacidade de entender o que está fazendo (imputabilidade) e que sua conduta tenha se desviado do comportamento exigível (culpa). u Imputar é atribuir responsabilidade a alguém. u Em regra, é responsável pelo fato quem o praticou (fato próprio). No entanto, a lei prevê situações de responsabilização por fato de terceiro ,por fato da coisa ou por fato de animais.* A responsabilidade civil dos incapazes u Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. u Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. u A incapacidade abrange tanto o relativamente incapaz quanto o absolutamente incapaz. O incapaz é considerado inimputável. A vítima se volta inicialmente aos seus responsáveis. u Trata-se de situação de responsabilidade mitigada e subsidiária. Ou seja, o [absolutamente/relativamente] incapaz será responsabilizado se o seu responsável não tiver obrigação (emancipação legal, p.ex.) ou se não tivere meios para arcar com o dano. Além disso, não haverá dever de indenizar quando isso ocasionar extremo sacrifício ao incapaz. Preservação do mínimo existencial do incapaz (pessoa vulnerável). u Enunciado 39 (Jornadas Direito Civil/ CJF)A impossibilidade de privação do necessário à pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de indenização eqüitativa, informado pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. Como conseqüência, também os pais, tutores e curadores serão beneficiados pelo limite humanitário do dever de indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz se dará não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas se reduzidos estes ao montante necessário à manutenção de sua dignidade. A responsabilidade civil dos incapazes u A emancipação voluntária não gera exoneração de responsabilidade dos pais. Mas a emancipação legal tem esse efeito. Há precedentes do STJ nesse sentido. u Importante lembrar que após a Lei 13.146/2015, as pessoas com deficiência, em regra, passam a ser tratadas pelo ordenamento jurídico como plenamente capazes, não estando abrangidas, inicialmente, por essa regra. No entanto, caso estejam sob curatela, aplica-se a regra do art. 928. u Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: u I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; u II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; u Enunciado 450 (Jornadas Direito Civil/ CJF): Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos genitores. Excludentes de ilicitude Situação problema u Hermione está dirigindo seu veículo pela estrada quando observa que na direção oposta vem o carro de Draco, fazendo uma ultrapassagem ilegal. Buscando desviar dessa invasão de pista, Hermione acaba colidindo com o carro de Rony, que estava adequadamente trafegando na via. u Quem são os causadores mediato e imediato da colisão? u Hermione cometeu ato ilícito? u Hermione deverá indenizar Rony? Exclusão da ilicitude u São hipóteses previstas em lei que constituem verdadeiros atos justificados , ou seja, a ação ou omissão ocorreram em circunstância que seria inexigível outro comportamento. Exclusão de ilicitude – art. 188 CC u Art. 188. Não constituem atos ilícitos: u I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; u II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. u Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. u Nem sempre haverá coincidência entre dano e ilicitude. Tanto os atos lícitos quanto os ilícitos podem dar ensejo à indenização. Há situações em que há ato ilícito sem dano – situação em que não há que se falar em responsabilização civil. E há situações em que há dano sem ato ilícito. Nessas hipóteses há dever de indenizar? Exclusão da ilicitude – indenização por ato lícito Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro,contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).* Indenização por ato lícito u Em suma, o que está em causa é uma questão elementar de justiça comutativa, que se resume em saber quem é mais justo que suporte o dano, se o titular da coisa sacrificada ou do direito lesado, ou se aquele que se encontra em estado de necessidade. A lei optou por este último (Cavalieri Filho, p. 58) (OAB-FGV/2019) Márcia transitava pela via pública, tarde da noite, utilizando uma bicicleta que lhe fora emprestada por sua amiga Lúcia. Em certo momento, Márcia ouviu gritos oriundos de uma rua transversal e, ao se aproximar, verificou que um casal discutia violentamente. Ricardo, em estado de fúria e munido de uma faca, desferia uma série de ofensas à sua esposa Janaína e a ameaçava de agressão física. De modo a impedir a violência iminente, Márcia colidiu com a bicicleta contra Ricardo, o que foi suficiente para derrubá-lo e impedir a agressão, sem que ninguém saísse gravemente ferido. A bicicleta, porém, sofreu uma avaria significativa, de tal modo que o reparo seria mais caro do que adquirir uma nova, de modelo semelhante. De acordo com o caso narrado, assinale a afirmativa correta. A) Lúcia não poderá ser indenizada pelo dano material causado à bicicleta. B) Márcia poderá ser obrigada a indenizar Lúcia pelo dano material causado à bicicleta, mas não terá qualquer direito de regresso. C) Apenas Ricardo poderá ser obrigado a indenizar Lúcia pelo dano material causado à bicicleta. D) Márcia poderá ser obrigada a indenizar Lúcia pelo dano material causado à bicicleta e terá direito de regresso em face de Janaína Teoria do corpo neutro u OBS: No caso de engavetamento de veículos, é interessante notar a chamada teoria do corpo neutro. Ou seja, hipótese em que um carro é involuntariamente (ação neutra) arremessado em direção a outro, causado por uma colisão antecedente. Nessa hipótese, por não haver uma conduta consciente do aparente causador imediato do dano, ele não será responsabilizado pois não há nexo de causalidade. Exclusão da ilicitude u Estado de necessidade: situação em que há ameaça à integridade de um bem jurídico, permitindo-se que outro bem jurídico de igual ou menor valor seja sacrificado. Ex: destruir uma porta para salvar pessoas numa casa; carro na contramão. u Quando o lesado não gerou o perigo: ele deve ser reparado pelo causador imediato. O causador imediato tem direito de regresso contra o causador mediato (aquele que, de fato, gerou o perigo). u Quando o lesado gerou o perigo: situação em que não há dever de indenização. u Legítima defesa: atitude de repelir injusta agressão contra si ou contra outrem. Se feita dentro dos limites, não gera dever de indenização. u Em favor de terceiro, autor do dano pode se voltar contra o beneficiado pelo ato, ou quem se aproveitou do dano, u Obs: legítima defesa putativa: agente incorre em erro ao agir, não estando presentes requisitos da legítima defesa (agressão injusta, agressão inevitável, defesa imediata, força não excessiva). Surge o dever de indenizar. u Também haverá dever de indenizar em situação de legítima defesa que cause danos a terceiro inocente Exclusão da ilicitude u Exercício regular de um direito: atitude abarcada pela regra jurídica. Dificuldade será em verificar se houve regularidade ou irregularidade no exercício. Se irregular ensejará reparação de danos. Se regular, não ensejará a reparação, ainda que cause danos. Análise do abuso de direito. u Exemplo: empregador que, sem motivos concretos, demite funcionário de modo vexatório e humilhante u Estrito cumprimento do dever legal: situação em que realiza-se um fato típico por força de uma obrigação prevista em lei. A lei não pode punir quem cumpre um dever que ela própria impõe. u Ex: policial que, em perseguição, colide a viatura com particular. Estado tem o dever de indenizar o particular mas não terá sucesso em ação regressiva contra o policial condutor. Ato ilícito u Atenção: do ato ilícito podem decorrer outras situações jurídicas além da responsabilidade civil. Ex: responsabilidade penal, ambiental, administrativa, tributária etc. u Atenção 2: apesar de reduzidas, há situações em que é possível haver responsabilização civil (obrigação de reparação) sem a presença de ato ilícito. Há parte da doutrina que critica isso. Por isso, inclusive, hoje é mais adequado se falar em direito dos danos em vez de responsabilidade civil. Ex: dano gerado por estado de necessidade. u Ex: se um motorista, para se livrar de alguém que dirige em contramão de direção, desvia para o acostamento e derruba um muro ou cerca pertencente a terceiro, haverá o dever de reparar o dano, com direito regressivo em relação ao causador do perigo, apesar de a conduta ser reconhecida como lícita. *Abuso de direito – 187 CC* u Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. u Trata-se de situação em que há ilicitude material. Ou seja, a finalidade do exercício de um direito é desvirtuada. Impõe limites ao exercício de direitos subjetivos. u Caso Clement-Bayard v. Coquerel (França, 1913) u Situação em que há o exercício de um direito, mas ele é praticado de modo a gerar dano a outrem (ato emulativo) e sem gerar proveito econômico/social para seu autor. O ato emulativo é uma espécie de abuso de direito. u Trata-se de ato ilícito mas com aparência de lícito. u “ O direito cessa onde o abuso começa” . u Veda-se condutas caprichosas ou arbitrárias da parte que tem o direito. Limita-se o direito individual quando potencialmente nocivo à coletividade. u IMPORTANTE: para a doutrina majoritária, no abuso de direito, não há verificação da culpa do agente (aplica-se a responsabilidade objetiva, portanto). Verifica-se a boa-fé objetiva na conduta do agente.
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