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Eficácia Jurídica Pensando a rigor, fato jurídico só se realiza quando chegamos ao plano da eficácia; Eficácia diz respeito aos efeitos produzidos pelo negócio jurídico; Podemos ter situações que a modificação acontece somente no que se refere à produção de efeitos (não é que o ato seja inválido e por isso não produza efeitos, é que o efeito é postergado ou condicionado); Essa produção de efeitos do fato (eficácia) pode ter limitações: → Limitação de ordem pessoal (subjetiva): Em regra, o negócio jurídico só produz efeitos para os envolvidos (exceção: fraude contra credores); A produção de efeitos na esfera jurídica alheia só pode acontecer por ato de vontade do sujeito que permite a intromissão ou por determinação legal; Caso não exista permissão de intromissão ou determinação legal, geralmente, essa invasão de esfera jurídica sem autorização é caracterizada como ato ilícito; A eficácia não é necessariamente eterna, pode ser que o efeito aconteça e se perca (ex.: prescrição), pode ser que ele não aconteça no início e depois passe a acontecer (ex.: ato anulável produz efeitos até o requerimento de sua nulidade - “Eficácia enterimística” - algo que acontece e pode ser desconstituído); A eficácia, ao contrário da validade, não é analisada de forma radical ou absoluta, pode ser que um fato jurídico seja eficaz para mim e não para você; A eficácia, de certa forma, é fluida, não se vincula somente a um tudo ou nada (extremos), possui algumas mutabilidades não encontradas no plano da validade; ◦ Compra e venda non domino: Eficaz apenas para o comprador e devedor, mas não para o dono da coisa, porque o devedor não é legitimado. Negócio jurídico válido e eficaz para os contratantes, produzindo efeitos de obrigação de indenizar o dono. Categorias Eficaciais Partem da ideia de verificação das esferas jurídicas afetadas; Todos possuem sua esfera jurídica, que é a totalidade de situações e relações jurídicas de uma pessoa; • Situação Jurídica Básica: Menor eficácia possível; eficácia inicial; a simples existência de um fato jurídico no mundo jurídico em si é um efeito; Simplesmente a norma passa a existir no mundo jurídico; Normalmente, fica encoberta por efeitos jurídicos que vão acontecer depois; Todas as outras situações jurídicas se desenvolvem com base nessa; É útil basicamente para situações de nulidade. • Situação Jurídica Simples ou Unissubjetiva: Há apenas um sujeito; uma só esfera jurídica envolvida; Efeitos que dizem respeito, via de regra, a status e qualificações do sujeito (ex.: nascimento infere posse de personalidade); Algumas não são nem suscetíveis de violação; Outras, que são violáveis, são oponíveis erga omnes, ou seja, pode ser defendido contra a violação de qualquer outra pessoa (não são muito relacionais); É sobre o sujeito em si, não de um sujeito em relação a outro. • Situação Jurídica Complexa ou Multissubjetiva: Nesse gênero, temos o fato de que, para surgir essa situação, precisamos de pelos menos dois sujeitos (duas partes contratantes); Essa situação se divide em duas: → Situação Jurídica Complexa Unilateral: Traz como característica que, embora eu precise dois sujeitos, o efeito gerado traz vinculação a somente um desses sujeitos envolvidos; Ex.: promessa de recompensa – para criação de promessa de recompensa é preciso direcioná-la a alguém, nem que seja o público, mas só quem está vinculado àquela promessa é quem promete. → Relação Jurídica: Categoria de maior destaque dentre as categorias eficaciais; Ocorre quando há efeitos que afetam ambas as esferas jurídicas, ampliando enormemente a complexidade da relação (duas esferas vinculadas); Aqui, a realização do que eu quero depende da conduta do outro; Ser relação jurídica traz essencialmente a intersubjetividade, só tem relação jurídica se há pelo menos dois sujeitos envolvidos; Traz uma correspectividade de direitos e deveres sobre certo bem jurídico; O contrato é um negócio jurídico cujo tipo é a relação jurídica; ◦ Doutrina de Orlando Gomes: Ao contrário do que ele pensa, ser dono de algo não é relação jurídica, pois a coisa possuída não tem direito ou dever em face do possuidor, sendo situação jurídica unissubjetiva. Condição, Termo e Encargo São cláusulas criadas pela vontade dos sujeitos que vão modificar a eficácia do negócio jurídico; • Condição: O sujeito, de alguma forma, vincula a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto; A característica principal da condição é a aleatoriedade; Ou seja, a condição trata de um evento que pode acontecer e pode não acontecer; Ex.: Maurício diz a Geovana que, se ela tirar 10 na prova, irá dar pra ela um livro; A condição pode funcionar barrando os dois extremos eficaciais: → Condição Suspensiva: Enquanto a condição não acontece o efeito está suspenso, que só se dá se a condição acontecer; Ex.: Nesse momento, Maurício não deve o livro a Geovana, ele só vai dever a partir do momento que ela tirar 10 na prova; As condições física e juridicamente impossíveis quando suspensivas anulam completamente o negócio jurídico (Art. 123/CC); Na condição suspensiva, o sujeito ainda não tem o direito e sim uma expectativa de direito; Embora o sujeito não tenha o direito e não possa exigi-lo (porque a condição ainda não se implementou), ele pode realizar medidas protetivas desse direito; Ex.: Com a promessa de ganhar o livro (direito eventual), Geovana pode entrar com uma ação palmirana contra Maurício para anular doação caso ele resolva doar o bem a ela prometido, para que ele não se torne futuramente insolvente. → Condição Resolutiva: Os efeitos acontecem até a concretização da condição, a partir do momento que ela acontece os efeitos cessam; Ex.: Maurício empresta um livro a Geovana até que ela passe matéria IED Privado II; As condições física e juridicamente impossíveis quando resolutivas não anulam o negócio jurídico com um todo, mas são desprezadas (Art. 124/CC); O implemento de uma condição resolutiva não anula os efeitos até então acontecidos até a realização da condição. Limitações legais às condições: → Não podem acontecer condições que vá contra a lei, os bons costumes ou a ordem pública; Bons costumes e ordem pública são conceitos indeterminados; Ao contrário do que muitos podem pensar, o termo “bons costumes” não está ligado à vida sexual, e sim a práticas adequadas em sociedade e à vida comum; → As condições não podem privar o negócio jurídico de todo seu efeito; Ex.: Contrato de compra e venda que tem como condição o acontecimento de um evento externo (além da entrega do imóvel) para que ocorra o pagamento. → Não podem acontecer condições que dependam do arbítrio exclusivo de uma das partes; Isso porque não existia a característica da aleatoriedade. O próprio descumprimento dessas limitações gera consequências diferentes nas condições suspensivas e resolutivas! → As condições ilícitas anulam o negócio jurídico como um todo; Ex.: Maurício promete um livro a Geovana se ela matar Ricardo. → As condições incompreensíveis ou contraditórias também invalidam o negócio jurídico; Ex.: Se Geovana passar e ao mesmo tempo perder em IED Privado II, Maurício dará a ela um livro. A aleatoriedade da condição pode estar nos modos mais diversos possíveis, pode ser algo que independa de qualquer pessoa, pode ser algo que dependa parcialmente de uma das partes; Por isso, o legislador quis preservar a aleatoriedade da condição criando uma regra de que, se alguém agir maliciosamente para interferir no implemento da condição, a lei considera que se deu o oposto; Ex.: Maurício promete a Geovana que, se ela fizer a travessia Salvador – Mar-Grande em até 6h, ele doará pra ela 10 mil reais. Para conseguir cumprir a condição, Geovana se dopa de drogas para garantir que a condiçãoaconteça. Nesse caso, mesmo que ela nade e complete o percurso dentro do tempo estipulado, a lei considerará que a condição não se implementou, pelo fato de ter existido interferência externa maliciosa. Por outro lado, se Maurício dopar Geovana com outras drogas, para garantir que ela não consiga completar o percurso dentro o tempo, mesmo que ela de fato não consiga, a lei considerará que a condição foi atendida, pelo fato dela não ter se implementado por uma interferência maliciosa. • Termo: O sujeito, de alguma forma, vincula a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e certo; Aqui, a certeza é só quanto a ocorrência do evento, não quanto a quando ele ocorrerá; Por isso, na maior parte do tempo, o que geralmente encontramos como termos são datas e horários; → Termo Inicial: Significa que os efeitos só vão acontecer dali em diante; Nesse caso, ao contrário da condição suspensiva, o direito já existe. Só que o suje ito só não pode reivindicá-lo ainda. → Termo Final: Significa que os efeitos só vão acontecer até aquele momento; É possível a combinação de termo inicial e termo final ao mesmo tempo! Ex.: Pegar um livro na biblioteca. Há uma data de início e uma data final para o empréstimo. No dia a dia, o termo acontece muito mais do que a condição. Dessa forma, a importância dos termos é também que com eles se faz a contagem de prazo. Regras para contagem de prazo (Art. 132/CC): Contam-se os prazos excluídos os dias do começo e incluídos os dias do vencimento; Prazo de 1 dia ≠ Prazo de 24h. Os prazos dados em hora se contam minuto a minuto; Se o dia do vencimento não for um dia útil (feriados, domingos e, às vezes, sábados), o prazo vai para o dia útil seguinte; Meado de mês é sempre dia 15, independe do número de dias que o mês tenha; Prazos que sejam em meses ou anos sempre vão vencer no dia correspondente. Se o dia correspondente faltar, será no dia seguinte (Ex.: Prazo para 29 de Fevereiro em um ano não bissexto vai para o dia 1º de Março). No caso de contratos, em regra, o termo é contado em favor do devedor. Isso porque dá a ele um intervalo de tempo dentro do qual o pagamento pode ser efetivado em qualquer momento até o dia termo. • Encargo: O encargo ou modo funciona de maneira um pouco diferente da condição e do termo, aparecendo em contratos em que há uma liberalidade e gera um ônus para o sujeito que está sendo beneficiado pelo contrato; Ex.: Sérgio doa um terreno para Valdir, mas só se ele construir uma creche para servir a comunidade nesse terreno. Normalmente, o encargo não suspende a eficácia; Porém, é possível estipular um encargo como uma condição suspensiva; Ex.: Sérgio doará o terreno para Valdir apenas se ele primeiro construir a creche; No caso da doação especificamente, o não cumprimento do encargo termina sendo um ilícito autorizante, porque vai autorizar a revogação da doação; O encargo ilícito pode ter duas consequências: Em regra, o normal é que o encargo ilícito seja considerado inexistente e seja desprezado (encargo ilícito por impossibilidade); Anula-se o negócio jurídico caso o encargo ilícito seja a razão determinante.
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