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Gestão por Competências O que é? A Gestão por Competência é uma metodologia utilizada em Recursos Humanos para gerenciar e desenvolver ao máximo as habilidades técnicas e comportamentais dos profissionais. O objetivo do método é identificar as expectativas das empresas para os colaboradores. Você já deve ter ouvido falar em dois termos que parecem ser a mesma coisa, mas não são: gestão por competência e gestão de competência. Qual a diferença entre gestão por competência e gestão de competência? Enquanto a gestão de competência é focada apenas nos resultados para cumprir determinadas tarefas, a gestão por competência é mais ampla e profunda pois identifica no que o profissional se destaca e como isso pode afetar determinada tarefa ou os resultados coletivos da empresa. A gestão por competência tem impacto na performance individual e coletiva e trabalha para diminuir a diferença entre o que a empresa espera e o que o colaborador pode oferecer. Existem diversos modelos de auto avaliação, tanto objetivos quanto subjetivos, e, particularmente, é interessante provocar reflexões acerca do tema: a auto avaliação promove no colaborador “minuto de espelho”? Faz surgir o momento de reflexão e oportuniza a introspecção? No sentido de pensar enquanto pessoa e profissional, despertar a percepção é uma válida tentativa de estimular a busca de melhoria e desenvolvimento profissional? Vejamos modelos para os cargos de executores e líderes. Quadro 1 – Modelo de autoavaliação para cargos de executores. Autoavaliação 1. Quais são meus pontos fortes? 2. Consigo justificar os meus pontos fortes? 3. Quais são os meus pontos a melhorar? 4. Utilizo meus pontos fortes no desenvolvimento do meu Trabalho? 5. Contribuo com a equipe de trabalho? Para realizar a auto avaliação para os gestores (líderes), podemos utilizar o modelo: Quadro 2 – Modelo de auto avaliação para cargos de líderes Autoavaliação 1. Quais são os seus pontos fortes? 2. Como realiza a manutenção dos pontos fortes? 3. Tem realizado a manutenção dos pontos fortes? 4. Quais os pontos a melhorar em relação a competências,habilidades e atitudes? 5. Você tem planos para reduzir ou eliminar os pontos a melhorar? Esses modelos de auto avaliação são utilizados no intuito de instrumentalizar a gestão imediata para uma conversa aberta, no sentido de orientar o colaborador a buscar as competências essenciais e complementares ao desenvolvimento de sua atividade, bem como posturas adequadas que atendam à missão da organização. Nesse sentido, investir tempo em cada processo com pessoas e por pessoas faz clara diferença. Indubitavelmente, é essencial reconhecer a necessidade de investir no capital humano, porque as “pessoas” fazem a diferença e promovem os resultados esperados, desde que tenham competência, habilidades e atitudes ou que a organização promova o desenvolvimento para o alcance dos atributos exigíveis do cargo. O CONCEITO DE COMPETÊNCIA HUMANA E ORGANIZACIONAL Quando pesquisamos a origem da interpretação da palavra “competência”, encontramos duas correntes: a americana e a francesa, essa última com forte influência na década de 1970. A corrente norte-americana compreendia que competência era associação de qualificação, habilidades e atitudes que estabelecem condições ao indivíduo de executar atividades profissionais. A corrente francesa associou a palavra a realização pessoal em determinado contexto, ou seja, àquilo que ela produz ou realiza no trabalho. Na literatura brasileira, muitos autores trazem o conceito de competência engendrado como um agrupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes, denominado CHA. Logo, ter competência é “saber ser”, “saber fazer” e “querer ser”. A partir da lógica, temos: • Conhecimento é o saber, o processo de aprendizagem construído de forma autônoma (na vida), nas universidades e nos livros. • Habilidade é de fato saber fazer, colocar em prática o que aprendemos cotidianamente. • Atitude é o querer fazer, o que conduz o exercício do saber fazer. Leme (2009) aborda a divisão do CHA em dois grupos: Quadro 3 – Divisão do CHA. Conhecimento Saber |Competência Habilidade Saber fazer |Competência técnica Atitude Querer fazer | Competência comportamental A divisão realizada é meramente didática e denota de forma nítida que “conhecimento” e “habilidade” são aprendidos e desenvolvidos, e “atitude” entra em uma esfera mais comportamental, que gera valor para a empresa e também para o indivíduo. Confirma Rabaglio ao conceituar competência (2015, p. 3): Podemos definir competência como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes específicas que permitem ao indivíduo desempenhar, com eficácia, determinadas tarefas, em qualquer situação de forma peculiar. Sabemos que as organizações são o resultado das pessoas que estão reunidas e alicerçadas em uma base dinâmica dependente do mercado externo e da competência de corresponder à expectativa dos clientes externos, e isso somente será possível quando as pessoas reunirem suas competências em prol de gerar resultados. Dessa forma, a empresa, assim como os colaboradores, compreende o comportamento esperado, incorporando os valores que estão relacionados aos indicadores e possibilidades de projeção na carreira. ABSORÇÃO DO CONCEITO DE COMPETÊNCIA EM GESTÃO DE PESSOAS Segundo Leme (2009), gerir por competência nada mais é que conduzir os colaboradores para que possam alcançar os objetivos explícitos da empresa. Para isso, devem ser aplicadas ferramentas desde a seleção de pessoas, amparadas por funções mapeadas previamente no sentido de reconhecer pessoas para os cargos de forma assertiva e instrumentalizada. Rabaglio (2015) conceitua a gestão por competência: É um conjunto de ferramentas práticas, consistentes, objetivas e mensuráveis que torna possível, para as empresas, instrumentalizar o RH e Gestores para fazer Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, como foco, critério e clareza. (RABAGLIO, 2015, p. 11) A gestão por competência surge na perspectiva de retroalimentar, alicerçar os modelos de gestão, adequando seus colaboradores às suas estratégias de negócios. Torna-se essencial alinhar as competências individuais às metas organizacionais, conforme a missão e a visão da empresa. O modelo de gestão de competência molda desde o processo de captação de talentos até o planejamento de seus sucessores, bem como estimula os gestores diretos a terem maior envolvimento e responsabilidade no processo de desenvolvimento de pessoas. MAPEAMENTO DE COMPETÊNCIAS: AVALIAÇÃO E CERTIFICAÇÃO Ser competente é trabalhoso, porém trabalhar com competência não tem preço. Hélio Delamare. Quando o tema é mapeamento de competências, os verbos ser e ter são pensados para unir. Reconhecemos que as organizações não desejam apenas a formação do profissional; estão mais interessadas em saber a soma da formação + habilidades + comportamento. Por essa razão é que os gestores devem aplicar as pessoas certas nos lugares adequados, o que só é possível quando obtemos informações suficientes sobre as competências essenciais para os cargos. Pensando na relevância do tema, neste capítulo, dialogaremos sobre competência e os objetivos de mapear, criar inventários e certificar as competências essenciais para o alcance do propósito organizacional. Segundo Gardner (2001), o indivíduo possui múltiplas inteligências e formas de aprender peculiares. As formas mais frequentes de inteligência encontradas são: lógica, linguística, interpessoal, intrapessoal, espacial, musical e motora. DA ESTRATÉGIA AO DESEMPENHO DIFERENCIADO As corporações buscam incansavelmente por modelos de negócio que sejam rentáveis, com baixo custo, e tenham velocidade e qualidade. Acreditamos que são esses indicadores de desempenho que são desejados pelas empresas. Não depende apenas da estrutura e infraestrutura. Esse processo é denominado mapeamento das competências profissionais e organizacionais e tem o objetivo de identificar os gaps e em que aspectos a empresa precisa investir, seja por meio de novas contratações ou via desenvolvimentodas pessoas. MÉTODOS, TÉCNICAS E INSTRUMENTOS QUE MAPEIAM COMPETÊNCIAS Como a competência é um conceito abstrato e que depende das observações por meio das ações dos colaboradores, é possível identificar o que existe de potencial (competência corporativa ou organizacional). Utilizando as ferramentas do modelo de gestão por competência, também é possível verificar como manter, desenvolver e/ou captar externamente, de acordo com a missão, visão, valores, filosofia e estratégias da empresa. Segundo Rabaglio (2015), os métodos estão mais modernos e menos subjetivos e o mapeamento de competências segue as seguintes etapas: 1- Identificação das competências necessárias. 2- Identificação das competências disponíveis. 3- Avaliação dos gaps (lacunas) entre as competências necessárias e as disponíveis. 4- Identificação sobre a prestação das competências. 5- Manutenção e atualização das competências. Quadro 5 - Definição de competência. Competência Definição Criatividade Capacidade de desenvolver soluções a partir da análise situacional, de forma personalizada e satisfatória aos clientes. Planejamento Capacidade de organização, gerenciamento com foco na inovação e alcance do objetivo-alvo. Visão sistêmica Capacidade de identificar, analisar e reconhecer tendências e elaborar estratégias e produtos inovadores para os clientes. Proatividade Capacidade de atender às demandas dos clientes de modo a encantá-los. As definições sobre as competências permitem clareza ao gestor e, consequentemente, a possibilidade da escolha mais assertiva, evitando a subjetividade ou interpretação distinta. Nesse processo, é fundamental que seja amplamente divulgado e compreendido o objetivo-alvo. Sabemos, dessa forma, que o ato de definir contribui para a identificação das competências existentes, identificando as reais necessidades de buscar as competências não encontradas por intermédio do treinamento e do desenvolvimento ou por seleção externa. MAPEAMENTO E INVENTÁRIO DO PERFIL DE COMPETÊNCIA DE CARGOS E FUNÇÕES Compreendemos, então, que a organização precisa definir competências e depois analisar as competências existentes por meio das informações prestadas pelo gestor. Exemplificaremos com a planilha para o inventário de competências comportamentais e técnicas. Para garantir a eficácia da ferramenta, é fundamental que a descrição de cargo esteja correta e atualizada. Posteriormente, o gestor deverá selecionar os verbos das atribuições transformá-los em indicadores de competência (CHA) e definir a quantidade de indicadores com os quais pretende trabalhar. A competência técnica é o pré-requisito para a investidura do cargo e necessária para a condução na seleção de pessoas, podendo ser aferida em testes específicos. Como mencionado anteriormente, esse processo tem o objetivo de identificar e avaliar as competências organizacionais (pontos fortes que os colaboradores possuem) e serve para conduzir novas contratações. Seja no processo de seleção interna ou na avaliação de desempenho humano, é indispensável a busca de mensuração e acompanhamento de indicadores. É recomendável a criação de escalas para sistematizar o Dessa forma, padroniza o processo e permite maior assertividade na avaliação, uma vez que a ferramenta é fundamentada em uma lógica matemática. Assim, é possível saber se a definição se aplica ao cargo e à pessoa, podendo ser utilizado em processo decisório, processos de admissão ou em análise de projeção de carreira. Leme (2009) conduz os gestores a realizar o inventário de competências de outra forma, relacionando o comportamento necessário a partir de brainstorming, utilizando a seguinte metodologia: • Inicialmente, analisa cada atividade que a pessoa executa na função. • Separa os resultados em grupo. • Realiza o agrupamento de competências similares. • Categoriza como “competências-mãe”. Para facilitar o entendimento, abordaremos o assunto na prática, e o cargo escolhido será “gerente de processos”. 2º passo – Então, temos a lista de competências. • Clareza. • Objetividade. • Capacidade analítica. • Fluência verbal. • Proatividade. • Domínio da escrita. • Atenção concentrada. • Foco em pessoas. • Foco em resultados. • Organização. • Planejamento. • Controle. • Relacionamento interpessoal. • Imparcialidade. • Estratégia. • Ética. • Percepção. • Poder de escuta. A lista de competências está pronta. Qual será o próximo passo? Vamos formar os grupos de competências similares. 3º passo – Formação de grupos de competências similares. Quadro 10 - Grupos de competências similares. Tarefas Competências Necessárias Grupo I Clareza. Objetividade. Capacidade analítica. Fluência verbal. Domínio da escrita. Comunicação. Grupo II Foco em pessoas. Foco em resultados. Grupo III Empatia. Relacionamento interpessoal. Grupo IV Organização. Planejamento. Controle. Grupo V Capacidade analítica. Atenção concentrada. Percepção. Grupo VI Poder de escuta Grupo VIII Imparcialidade. Ética. 4º passo – Definição da competência-mãe. Ao realizar a associação aos grupos, temos sete grupos para definir a competência-mãe por meio da associação. Dessa forma, teremos, para cada grupo, uma competência que contemplará todas as outras competências: Quadro 11 – Definição da competência-mãe. Grupo I Clareza. Objetividade. Capacidade analítica. Fluência verbal. Domínio da escrita. Comunicação. Comunicação. Grupo II Foco em pessoas. Foco em resultados. Foco em resultado. Grupo III Comunicação. Relacionamento interpessoal. Empatia. Relacionamento Interpessoal. Grupo IV Organização. Planejamento. Controle. Organização. Grupo V Capacidade analítica. Atenção concentrada. Percepção. Percepção. Grupo VI Poder de escuta. Empatia. Empatia. Grupo VII Imparcialidade. Ética. Ética. Resume-se, então, que as competências para o cargo de gerente de processos requerido são: comunicação, foco em resultados, relacionamento interpessoal, organização, percepção, empatia e ética. A mensuração de competências utiliza também a descrição de cargos. Como avaliamos em grupos, conforme o Quadro 10, há grupos com competências reunidas; basta realizar a seguinte ação (RABAGLIO, 2015): 1- Estabeleça o número mínimo e o máximo (estabelecemos de um a sete). 2- Confira a quantidade de atividades do cargo — cada cargo tem quantidade distinta de atividades. 3- Identifique a quantidade de indicações dos grupos de competência, ou seja, o número de vezes que cada indicador (atividade do cargo) recomendou cada um dos grupos de competências. 4- Identificar o grau máximo (nesse caso, sete). Fórmula: Grau máximo × número de indicações Nº de atividades O número de atividades representa a quantidade de atividades que fazem parte da descrição do cargo. A SELEÇÃO POR COMPETÊNCIA: IMPLANTAÇÃO DE ATRAÇÃO E SELEÇÃO COM FOCO EM COMPETÊNCIAS Reside na utilização de técnicas com o objetivo de identificar competências técnicas e comportamentais no perfil dos cargos e dos candidatos. As competências técnicas são requeridas porque são indispensáveis para o desempenho da função, enquanto as competências comportamentais são os fatores diferenciais do indivíduo. O objetivo da seleção por competência é buscar no candidato evidências de que ele possui as competências necessárias para ocupar a função. Em uma seleção de vários cargos, podemos contemplar um checklist no intuito de facilitar o processo de recrutamento e seleção. Vejamos o exemplo utilizando a escala ou nível proposto no exemplo anterior. O departamento de recursos humanos ou qualquer outra área que realize o processo de seleção de pessoas contará, de forma sistemática, a escala que conduz a necessidade de conhecimento e habilidade para assumir a função. Na prestação de serviço de consultoria ou como analistas de RH, também utilizamos a planilha. E, para facilitaro processo seletivo e o acompanhamento mais rígido, acrescentamos colunas extras com os nomes dos candidatos. Depois de avaliados, intitulamos “apto” ou ”não apto” e colocamos o número da escala correspondente em cada candidato. EXEMPLOS: Para a vaga de gerente de RH: O candidato Diego demonstrou ter conhecimento e habilidade avançada, e não houve habilitação de outros candidatos. A competência exigida para a função é nível 5, logo o perfil deve ser “multiplicador”. O preenchimento da vaga ainda dependerá dos recursos tempo, orçamento e localidade para a qual o profissional está sendo requisitado. Cabe contratá-lo ou aguardar novas candidaturas. Para a vaga de auxiliar de RH: São duas candidatas, Mariana e Nohama. A vaga solicita o nível de exigência “Tem conhecimento e habilidade básica”, e a candidata que atendeu a esse requisito foi Nohama, que obteve um nível acima do esperado. Temos uma situação a ser analisada cautelosamente, uma vez que a candidata apresenta nível acima do esperado. Precisamos identificar que ela é uma profissional com potencial para buscar novos desafios, mas não significa que a empresa irá desperdiçar o seu talento. A possibilidade de contratação existe e, com o tempo de avaliação, a organização pode analisar a possibilidade de alocá-la em funções mais complexas. Para a vaga de supervisor de RH: Os candidatos Wilson e Najara obtiveram desempenhos diferentes para uma vaga que exigia “Tem conhecimento e habilidade avançada”. O candidato Wilson se sobrepôs à concorrente. Dessa forma, o processo seletivo foi finalizado, e o candidato mais indicado é o Wilson. Todas essas indicações são possíveis quando dispomos de ferramentas e instrumentos que nos auxiliem a realizar uma seleção mais assertiva. Como no exemplo dado, tínhamos o nível de conhecimento e habilidade para suporte. Além das ferramentas tradicionais, podemos utilizar a entrevista comportamental, que se destaca no modelo de competência. AVALIAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA: OS INSTRUMENTOS BALANCED SCORECARD E AVALIAÇÃO 360º Sabemos da necessidade de avaliar o desempenho, uma vez que o processo de identificar, mapear, contratar e desenvolver competências foi realizado anteriormente. Partimos do pressuposto de que a única maneira de conhecer a eficiência na aplicação do desenvolvimento de competência é a avaliação de desempenho humano. Para reforçar o entendimento, torna-se interessante abordarmos a avaliação de desempenho, pois, tanto na lógica tradicional quanto no modelo de gestão por competência, essa metodologia ganha ótica distinta, assim como a remuneração. Chiavenato (2012) elenca etapas essenciais ao processo de avaliação, independentemente do modelo, as quais ele conceitua como objetivo primário: • Definição dos objetivos específicos. • Conhecimento das expectativas do colaborador para a sua tarefa. • Análise do desempenho do trabalho. • Avaliação ou mensuração do desempenho na prática. • Feedback (retorno) ao trabalhador. Enquanto a avaliação baseada em cargos é “engessada” e se limita ao trabalho prescrito, para a avaliação baseada em competência, o foco está voltado para o desempenho da equipe e o desempenho individual, para o trabalho real e para a entrega de fato dos resultados. Existem diversos métodos tradicionais de avaliar que não trataremos aqui, por não ser a nossa proposta. Estamos voltados para métodos modernos que atendam ao modelo de gestão por competência. A avaliação 360º é também conhecida como feedback 360º, por ser o método que avalia de forma integrada todos da organização, sem reservas hierárquicas. Ou seja, posteriormente, todos os colaboradores são informados como os seus pares, clientes externos e gestores diretos avaliam o seu desempenho. Um dos pontos positivos da avaliação 360º é a preservação da identidade dos avaliadores. Além disso, o modelo é completamente estruturado para avaliar competências específicas. Destacamos que o sucesso do método depende da forma como será executado e que ele não poderá fornecer subsídios para punição dos colaboradores. Ao contrário, servirá para desenvolver o comprometimento do colaborador e orientá-lo quanto ao alcance das competências. Salientamos que o ponto mais forte desse tipo de avaliação é a ausência de influências, favoritismo e manipulação do resultado; assim, o processo é compreendido como instrumento de confiança. Assim como a avaliação 360º faz parte da gestão estratégica de pessoas, temos também a metodologia de Kaplan e Norton (1997), denominada balanced scorecard – BSC, que está pautada no equilíbrio de quatro premissas: cliente; processo interno; aprendizado e crescimento; financeiro. Antes de entrarmos no BSC, é essencial conhecermos o sentido da palavra “estratégia”. Para Mintzberg e Quinn (2001), estratégia é um modelo que integra objetivos, políticas e ações a fim de alcançar o objetivo proposto previamente. Logo, uma empresa estratégica é aquela que consegue alinhar o ambiente interno ao seu ambiente externo, de modo a atender às expectativas e reagir antecipadamente, superando a expectativa dos seus stakeholders (partes interessadas). Para a permanência do comportamento visionário, é preciso que os gestores estejam disciplinados a analisar com frequência o ambiente externo e fazer uso das informações em benefício da organização. Assim, é possível estabelecer os pontos fortes e fracos e sistematizar as melhorias a partir do BSC, que pode ser entendido como ferramenta de implementação e manutenção das estratégias. Kaplan e Norton (1997) afirmam que o BSC permeia quatros premissas básicas, pautado em indicadores e avaliações constantes de resultados para ações de ajustes e alcance dos objetivos corporativos. No que tange ao nosso enfoque, a afirmação de Angeloni e Mussi (2008) aponta que a perspectiva da premissa “aprendizado e crescimento” conduz a gestão estratégica de pessoas e que podemos obter os indicadores como sinalizadores: • Rotatividade. • Satisfação dos colaboradores. • Retenções de pessoas-chave. • Absenteísmo médio. • Gastos com desenvolvimento de competência. A partir dessa explanação sobre os indicadores que fazem parte do instrumento do BSC, é notório que as atividades que se relacionam à gestão de pessoas estão completa- mente dentro do contexto do instrumento, ou seja, gerenciar estrategicamente e acompanhar competência também é uma missão da ferramenta. O BSC possibilita mensurar o desempenho organizacional e permite que a estratégia seja revista e corrigida, com o auxílio de indicadores e mapas estratégicos. Atualmente o BSC está sendo considerado como sistema de gestão integrada, respeitando cinco princípios (MARTINS et al., 2012): • Sinergia As unidades de negócio devem se posicionar de forma integrada, recorrendo ao uso dos recursos, ações compartilhadas de melhorias e diálogos frequentes sobre os objetivos. • Liderança Os líderes precisam incorporar a missão e visão da organização. • Estratégia em operações As metas e indicadores precisam fazer parte do cotidiano, estando presentes no mapa estratégico, indicadores, projetos e metas para todos os colaboradores. • Estratégia pertencente a todos As pessoas que trabalham na organização precisam conhecer todos os projetos e compartilhar do compromisso no que tange à busca dos resultados. • Estratégia contínua No tocante à estratégia contínua, os colaboradores não podem pensar apenas a curto prazo. O desempenho demanda disposição, comprometimento e esforço de aprendizagem, qualidade nos processos e acompanhamento. O BSC é um instrumento que mensura o desempenho nas quatro perspectivas, pois possibilita a operacionalização da estratégia, traduz os objetivos para os integrantes, facilita a implementação das estratégias e avalia o desempenho. A gestão estratégica de pessoas tem a missão de preparar a empresa para o futuro e formar equipes de alta performance, gerando o diferencial para o mercado a partir do capital humano valorizado. O capital humano é um conceito muito utilizado no mundo corporativo. Trata-se de uma expressão oriunda da contabilidadeentendida como um ativo que se soma aos recursos das empresas, uma vez que a soma das competências é que de fato faz a diferença no mercado Nessa mesma perspectiva, surge outra expressão, o “capital organizacional”, que pode ser conceituado como reunião dos ativos intangíveis e integra os ativos físicos e financeiros, atuando para o alcance do sucesso. No modelo de gestão estratégica de pessoas, o capital organizacional depende do perfil de liderança e do fomento de uma cultura colaborativa para que as práticas sejam efetivadas. No que concerne ao desenvolvimento interpessoal, o que se destaca é a integração do BSC, pois é crucial começar a aprender a aprender, aprender com as pessoas. Sabemos que o ser humano é complexo, e, em alguns momentos, é preciso desconstruir para construir, isto é, o indivíduo precisa sair da visão restrita. No BSC, temos os indicadores no que tange ao aprendizado e ao crescimento: • Rotatividade dos trabalhadores (turnover). • Capacitação. • Retenção de pessoas-chave. • Índice de satisfação dos colaboradores. Esses indicadores servem como verdadeiros termômetros da gestão, e os acompanhamentos não são facultativos para uma empresa que tem gestão orientada por resultados. Considerações finais: Compreendemos que os capítulos deste livro cumpriram o objetivo. Eles foram planejados e elaborados para contribuir com o entendimento sobre o modelo de competência, mas reconhecemos que, por mais profunda que seja a obra, não oportunizará “receitas de bolo”. A primeira lição de um gestor é a nítida certeza de que nada é absoluto e, por mais que inventários, planilhas e índices nos permitam ter a compreensão dos dados, é necessário mergulhar nos fatos. O que queremos afirmar (se é que podemos) é que não existem receitas de bolo quando envolvemos pessoas, mas devemos nos remeter a estudos e reflexões sobre as melhores práticas, para tentar adaptá-las às empresas, afinal cada empresa é única! Nos capítulos iniciais, conseguimos tangibilizar e fazer uso da lógica matemática para mapear e inventariar as competências, permitindo escalas para avaliar os ocupantes e os candidatos em seleção, aplicando o uso da entrevista comportamental para auxiliar na identificação das competências necessárias. Nos capítulos que contemplaram qualidade de vida e relações de trabalho, vislumbramos perspectivas sociais que estão longe da lógica cartesiana, dialogando com o marxismo, a psicodinâmica do trabalho e as áreas que estão voltadas para relações do homem com o trabalho e o poder que sobrepõe ao contrato entre as partes. A qualidade de vida no trabalho ocorre como consequência do modelo de gestão, uma vez que a formação dos profissionais e o gerenciamento dos processos são pensados a partir de métricas possíveis de competência para realização das atividades. O modelo de competência não perderá a essência do resultado, mas será pautado segundo o desenvolvimento do ser, traduzindo para os colaboradores a oportunidade de escrever a sua história, uma história de criação que depende de seus esforços. Mesmo com tantos desafios e a certeza de que chegarão mais em breve, é possível elucubrar diversas possibilidades na área de gestão de pessoas e contar com técnicas e instrumentos disponíveis no mercado. Para a organização que adota o modelo por competência, os cargos táticos e estratégicos estão orientados pela postura do coach em relação à sua equipe, bem como na participação ou mesmo realização de recrutamento e seleção para ampliar ou substituir pessoas do setor em que gerencia. Assim, as relações com os colaboradores são harmoniosas, os conflitos são ministrados de forma adequada, e as relações interpessoais são valorizadas. No que tange à avaliação de desempenho, no modelo moderno, não se aplica aquele questionário cobrado pelo setor de RH que chegava aos setores como “mais uma demanda”, um fardo adicional. Agora, faz parte da estratégia de negócio identificar, avaliar e reconhecer a necessidade de ajustar ou seguir em frente. A partir desses e de outros entendimentos, teremos a certeza de que a organização está pronta para efetivar uma gestão moldada para as pessoas e para o resultado. Claro que o assunto não se esgota aqui, pois há muitas reflexões sobre o tema, mas fechamos a proposta do conteúdo.