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Livro - O direito do trabalho e as relações de trabalho (16394)

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Prévia do material em texto

O DIREITO DO TRABALHO 
E AS RELAÇÕES 
DE TRABALHO
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Volnei Rosalen
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Lucilaine Ignacio da Silva
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
R788o
 Rosalen, Volnei
 O direito do trabalho e as relações de trabalho. / Volnei Rosalen – 
Indaial: UNIASSELVI, 2018.
 152 p.; il.
 
 ISBN 978-85-53158-21-8
1.Direito do trabalho – Brasil. 2.Relações trabalhistas – Brasil. II. 
Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 344.8101 
Volnei Rosalen
Doutorando em Direito (UFSC). Mestre 
em Direito Político e Econômico (MACKENZIE). 
Doutorando em Direito (UFSC). Especialista em 
Economia do Trabalho e Sindicalismo (UNICAMP). 
Professor na Faculdade Anhanguera São José (SC). 
Foi professor substituto na UFSC (2016-2017). Autor 
dos livros: Sindicalismo de servidores públicos no Brasil 
- entre o corporativismo e o anti-valor, e Judiciário e 
política: fatos e versões da crise do Judiciário do Brasil 
a partir de sua estrutura e dos litígios. 
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................07
CAPÍTULO 1
Relações de Trabalho no Brasil ..............................................09
CAPÍTULO 2
Relação de Trabalho X Relação de Emprego .........................41
CAPÍTULO 3
Relações de Trabalho Especiais X Vínculo Empregatício ....93
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, seja bem-vindo ao estudo da disciplina Direito do Trabalho 
e as Relações de Trabalho. 
Durante a graduação, nas disciplinas de Direito do Trabalho, você certamente 
teve contato com a temática e estudou condições e critérios para a incidência 
da aplicação das regras do direito e as relações de trabalho estabelecidas 
cotidianamente. 
Neste material de estudo, aprofundaremos alguns desses conhecimentos já 
acumulados, problematizando alguns aspectos e ampliando a visão sobre como 
fenômenos corriqueiros e comuns – o fato de que as pessoas trabalham para 
produzir e fazer circular produtos, ou em termos mais abrangentes, para reproduzir 
a vida em sociedade – são submetidos a determinadas normas jurídicas. 
É fato que, conforme muda o trabalho, muda também a sociedade, e tendem 
a se modificar também as regras de organização do trabalho. Constantes apelos 
existem, por causa das modificações dessas regras, sob o argumento de que a 
evolução da sociedade as exige. No Brasil, é recente esse debate, pautado pela 
ideia de que era necessário modernizar as relações de trabalho, o que levou à 
aprovação da chamada Reforma Trabalhista. 
A Reforma Trabalhista divide opiniões no Brasil muito antes de sua 
aprovação. Há visões distintas sobre a necessidade de uma reforma 
na legislação trabalhista, mas as principais divergências se situam no 
conteúdo das mudanças. Você pode ler sobre isso acessando os links 
a seguir, ou buscando outras informações e fontes: 
Disponível em: <https://goo.gl/y9Njm7>. 
Disponível em: <https://goo.gl/HQPk7D>. 
Disponível em: <https://goo.gl/MMMNNg>.
https://goo.gl/y9Njm7
https://goo.gl/HQPk7D
https://goo.gl/MMMNNg
Do que estamos falando quando falamos relações de trabalho? O trabalho é 
uma necessidade vital, independentemente das normas do direito. Nosso objetivo 
essencial aqui será compreender como esse fenômeno básico se relaciona com o 
Direito, sendo que é conformado pelas normas jurídicas. 
Para tal objetivo, o livro está estruturado em quatro capítulos: no Capítulo 
1, analisaremos as relações de trabalho no Brasil, verificando inicialmente 
os sentidos variados da expressão relações de trabalho e realçando as 
particularidades da formação do chamado mercado de trabalho brasileiro. No 
Capítulo 2, estudaremos a relação de trabalho versus relação de emprego a partir 
da definição de aplicação das normas jurídicas às situações reais de relação 
de trabalho. No Capítulo 3, intitulado relações de trabalho especiais x vínculo 
empregatício, seguiremos estudando como situações de trabalho são submetidas 
a esta ou àquela regra, caracterizando ou não o chamado vínculo de emprego. Por 
fim, o Capítulo 4, evoluções normativas nas relações de trabalho, está reservado 
às transformações recentes nas normas trabalhistas e como elas impactam nas 
relações de trabalho na atualidade. 
 Boa leitura e bons estudos!
CAPÍTULO 1
Relações de Trabalho no Brasil
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Compreender as diversas concepções acerca do termo relações de trabalho 
e especialmente o sentido jurídico com que é apropriada pela legislação e 
aplicada pelos juristas em sua prática.
� Alcançar certo nível básico de entendimento sobre a evolução das relações de 
trabalho no brasil e a formação do chamado mercado de trabalho.
� Verificar a estruturação das relações de trabalho a partir da legislação 
trabalhista e das instituições e institutos voltados à sua aplicação: como a 
justiça do trabalho. 
� Analisar a evolução e as transformações nas relações de trabalho no brasil, e 
sua concretização jurídica.
10
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
11
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
Contextualização
Você já deve ter ouvido falar com frequência, nas diferenças entre leis 
trabalhistas no Brasil e em outros países. São frequentes, também, comparações 
entre direitos trabalhistas deste ou daquele país e os níveis de desenvolvimento 
desses mesmos países. 
Algumas dessas informações vêm de fontes informais e mais suscetíveis a 
afirmações genéricas e generalizantes, cujo fundamento de veracidade é mais 
difícil de verificar, e são distribuídas via redes sociais como Facebook, WhatsApp 
etc. Outras provêm de fontes mais abalizadas como artigos em jornais e 
periódicos, revistas acadêmicas e literatura especializada. 
Quanto às fontes informais de informação, não se trata de recusá-las, mas 
de saber que um estudante de pós-graduação está em um nível aprofundado de 
conhecimento e de responsabilidade quanto ao tipo de informação que utiliza e 
quanto à verificação de sua veracidade. 
Em qualquer caso é bom sempre lembrar que as informações difundidas, via 
fontes formais ou informais, refletem visões e opiniões que, não raras vezes, são 
controvertidas, ou seja, há visões e opiniões diferentes sobre um mesmo tema. É preciso 
ter em mente que, no geral, mesmo como estudiosos e especialistas em determinado 
assunto, fazemos escolhas entre uma ou outra visão acerca desse assunto. 
Há um fundo essencial de verdade nas afirmações comparativas entre os 
sistemas de trabalho no Brasil e nos demais países, não porque o sistema de trabalho 
no Brasil seja necessariamente pior do que os demais países; ou que os demais 
países sejam necessariamente melhor do que o nosso. Diferente não significa pior ou 
melhor, mas realidades diferentes que conduziram aos sistemas e normas.
Este capítulo se destina a compreender e analisar essas diferenças. O 
objetivo não é comparar o sistema de relações de trabalho brasileiro com outros 
países, mas verificar as particularidades e singularidades, ou seja, aquilo que é a 
nossa realidade específica e que pode explicar diferenças. 
Claro que você poderá fazer estudos e comparaçõese serão indicados 
também textos sobre isso. 
Este será, necessariamente um capítulo teórico, de fundamentos sobre 
relações de trabalho, em especial sobre relações de trabalho no Brasil. 
12
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
Retomando o que foi dito na introdução do livro, entenderemos primeiro os vários 
sentidos em que podemos tomar a expressão relações de trabalho, para depois 
estudar como elas foram estruturadas no Brasil, especialmente no sentido jurídico. 
Na primeira seção falaremos sobre as relações de trabalho e seus 
sentidos: econômico, sociológico e jurídico. A segunda seção está reservada 
para o entendimento do mercado de trabalho livre no Brasil. Já na terceira 
seção trataremos da Legislação trabalhista e evolução das relações de 
trabalho e na quarta uma análise sobre a relação entre Direitos trabalhistas e 
sujeito de direitos. 
 Boa leitura e bons estudos!
Relações de Trabalho e seus Sentidos: 
Econômico, Sociológico e Jurídico
Quando olhamos de um ponto de vista estritamente jurídico, concebemos 
o trabalho a partir da ideia de contrato de trabalho. Esta questão será analisada 
detidamente no Capítulo 2. 
No entanto, o contrato de trabalho, ou melhor, as relações de trabalho 
baseadas em um contrato são apenas uma parte e um desdobramento daquilo 
que, na sociedade – e mesmo em estudos científicos – pode ser considerado 
como relações de trabalho. 
Começaremos de um ponto simples. Na origem etimológica da palavra trabalho 
está, para muitos, a palavra tripalium, um instrumento romano de tortura. Essa é uma 
explicação muito comum nas faculdades, e que associa trabalho com sofrimento. 
Uma visão sobre as origens dessa relação pode ser encontrada 
no artigo seguinte: Tripalium: O trabalho como maldição, como crime 
e como punição. Disponível em: <unifia.edu.br/revista_eletronica/
revistas/.../artigos/.../Direito_em_foco_Tripalium.pdf>.
13
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
O estudo de Friedrich Engels aqui mencionado é o texto “Sobre 
o papel do trabalho na transformação do macaco em homem”. Se 
interessar, ele pode ser localizado na internet no link. Disponível em: 
<http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/macaco.pdf>. 
É importante considerar que o trabalho está associado à evolução 
humana ao longo de milênios de nossa existência. Engels (1999, p. 4), por 
exemplo, estabelece uma visão emblemática sobre o sentido do trabalho no 
desenvolvimento da humanidade. Diz ele: 
O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. 
É, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer 
os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, 
porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e 
fundamental de toda a vida humana. Em tal grau que, até certo 
ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.
Segundo Engels (1999), no texto do qual foi extraída essa explicação, o uso 
das mãos para a alimentação foi decisivo para a evolução de certa espécie de 
macaco e o consequente surgimento do homem (homo erectus). Ao passo que 
o uso das mãos na coleta de frutas e vegetais, depois na caça e pesca, e mais 
tarde na agricultura e por fim na indústria, estão associadas ao processo evolutivo 
constante da espécie humana. 
Note que esta explicação sobre o trabalho também serve para esclarecer 
um modo de ver as relações de trabalho, relacionando-se com a natureza o 
homem evoluiu; esta interação do homem com a natureza e com outros homens, 
deu existência às relações de trabalho, ou seja, relações estabelecidas em razão 
das atividades realizadas para assegurar a sobrevivência. Um exemplo comum 
é a divisão de tarefas, existente em tribos primitivas, entre coletores, caçadores, 
agricultores etc. 
Ficou complicado? Para explicar melhor vamos pensar em um 
exemplo: é muito comum quando se conhece uma pessoa querer 
também saber o que ela faz como trabalho. Essa informação parece 
para nós importante. Por que? Porque o trabalho que realizamos diz 
também algo sobre nós, não é mesmo? 
14
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
Há algo ainda mais complexo nessa forma de ver as relações de trabalho. 
Pensado como um elo de ligação entre os seres humanos na produção de 
sua existência comum, o trabalho define a sociabilidade. O que fazemos 
como trabalho pode então definir elementos muito variados de nossa vida: o 
que comemos, como e quanto dormimos, o que fazemos em nosso tempo de 
descanso, se temos carro ou temos que nos deslocar de ônibus etc. 
 
Significa haver relações sociais que são sempre construídas 
pelo trabalho, mesmo para os que não o têm; ou seja, o tempo 
e espaço, seja o do emprego, da rua ou doméstico, é sempre 
do trabalho por serem instituídos a partir dele e por envolver o 
uso coletivo do tempo e energia humanos (RIBEIRO, 2009, p. 
46, grifo nosso).
Outra consequência pode ser notada na importância que se dá a 
determinados tipos de trabalho, geralmente os intelectuais, e a depreciação ou 
pouca importância dada aos trabalhos manuais, especialmente os considerados 
mais penosos. Alguém que trabalha na indústria da carne, por exemplo, 
desossando um frango, geralmente é socialmente menos reconhecido 
do que um advogado ou um administrador, embora não se possa dizer 
que uma atividade seja menos relevante do que a outra. 
Em resumo, uma das faces do trabalho e de como podem ser 
entendidas as relações de trabalho é que ao estabelecer contatos uns 
com os outros através do trabalho, os homens também estabelecem 
relações de convivência e sociabilidade (ou socialidade), estendendo-
se até mesmo sobre a esfera do comportamento dos indivíduos.
Ao estabelecer 
contatos uns com 
os outros através 
do trabalho, os 
homens também 
estabelecem 
relações de 
convivência e 
sociabilidade (ou 
socialidade)
Segundo Dicionário Unesp do Português Contemporâneo: 
Sociabilidade: 1(...); 2 – tendência para a vida em sociedade; 3 – 
maneira de quem vive em sociedade. Socialidade: conjunto de 
condições relativas à vida social. 
Sobre o modo como a organização do trabalho impacta a vida e o 
comportamento dos trabalhadores o sociólogo do trabalho Giovanni Alves (2011) 
lembra a emblemática e ontológica cena do filme Tempos Modernos, em que o 
Carlitos (personagem de Charles Chaplin) permanece condicionado a determinados 
movimentos feitos na máquina, mesmo quando o dia de trabalho já se encerrou. 
15
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
Fique alerta! Essa é uma classificação de sentido didático. 
Filme “Metropolis” de Fritz Lang, 1972. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=QkHOwwPKZ78>. 
Filme “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin, 1936. Disponível 
em: <https://www.youtube.com/watch?v=3tL3E5fIZis>. 
Você pode ler mais sobre o assunto no link. Disponível em: 
<www.giovannialves.org/artigo_giovanni%20alves_2010.pdf>.
Você pode ler mais sobre isso neste artigo da professora 
Romilda Ramos de Araújo, acessível no link a seguir: 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
nlinks&ref=000147&pid=S14132311201300020000200002&lng=pt>.
Não apenas sociólogos do trabalho, mas também administradores (além de 
psicólogos e outros profissionais e pesquisadores) dedicam-se a analisar estas 
questões, reconhecendo as implicações do trabalho sobre o homem em seu 
modo de viver e subjetivar (ARAÚJO, 2007).
Quanto a esta percepção de que o trabalho constitui um elo decisivo na 
definição de nossos padrões de convívio em sociedade que se pode falar em 
sentido sociológico do trabalho.
16
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
O objetivo é chamar a atenção para o fato de que falar em relações de 
trabalho implica uma visão mais ampla e mais profunda do que apenas falar na 
legislação (ou regime jurídico) que rege as relações entre quem compra e quem 
vende a força de trabalho. É importante perceber que não falamos de sentidos 
contrapostos, mas de observações do mesmo fenômeno depontos de partida 
diversos. Todos estão sempre interligados. 
Vamos em frente!
Além do que já foi dito até agora, há um outro sentido, este essencialmente 
econômico, atribuído ao trabalho e às relações de trabalho. Antes de passar a ele 
é conveniente que estabeleçamos um entendimento sobre economia: 
Segundo o Dicionário Unesp do Português Contemporâneo 
(2004, p. 460): Economia: 1 – (...); 2 – sistema que engloba o 
conjunto de fontes produtoras da riqueza: nossa economia já 
se estabilizou; 3 – ciência que trata dos fenômenos relativos à 
produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais. 
 Em sentido geral, quando falamos de economia, estamos nos referindo à 
organização da produção da riqueza, e produzir riqueza, como já sabemos, requer 
trabalho humano. Mesmo quando se quer apenas extrair algo da natureza, como 
uma árvore, é necessário que alguém a corte, mas se o objetivo for construir com 
ela uma mesa, então será necessário ainda mais trabalho, e também ferramentas 
e máquinas, que terão também que ser produzidas a partir de trabalho. 
 Para os chamados “economistas clássicos”, o trabalho é a fonte da 
produção da riqueza, visto que sem ele não seria possível transformar a natureza 
em objetos necessários (ou mesmo supérfluos) para humanidade. Adam Smith 
(1996, p. 59), em seu livro A riqueza das nações, dá a exata dimensão dessa 
visão econômica do trabalho já na abertura de seus escritos:
O trabalho anual de cada nação constitui o fundo que 
originalmente lhe fornece todos os bens necessários e os 
confortos materiais que consome anualmente. O mencionado 
fundo consiste sempre na produção imediata do referido 
trabalho ou naquilo que com essa produção é comprado de 
outras nações.
17
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
Para Smith (1996), o trabalho era a medida fundamental para referenciar o 
valor de troca de uma mercadoria produzida, ou seja, o preço de um objeto estava 
diretamente ligado ao trabalho necessário para sua aquisição. 
O teórico do socialismo Karl Marx (1996), por sua vez, formulou uma crítica 
da visão liberal de Adam Smith. O ponto de partida de Marx é semelhante ao 
de Smith, tendo o trabalho como produtor de riqueza. Marx discutiu também o 
valor das mercadorias a partir do trabalho nelas implicado. Como menciona nessa 
passagem de seu livro clássico O capital: 
 
Portanto, um valor de uso ou bem possui valor, apenas, 
porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano 
abstrato. Como medir então a grandeza de seu valor? Por meio 
do quantum nele contido da “substância constituidora do valor”, 
o trabalho. A própria quantidade de trabalho é medida pelo seu 
tempo de duração, e o tempo de trabalho possui, por sua vez, 
sua unidade de medida nas determinadas frações do tempo, 
como hora, dia etc. (MARX, 1996, p. 168, grifo nosso).
Dessa visão sobre o valor, Marx desenvolveu sua teoria da mais valia, uma 
visão segundo a qual decorre da exploração da força de trabalho pelo capital (ou 
pelo capitalista), do trabalho adicional que produz e acrescenta valor a novas 
mercadorias e que representa o lucro do capitalista. 
É bom recordar que estamos num espaço acadêmico, de 
aprimoramento profissional e de estudo. Podemos concordar com a 
teoria de Smith e discordar da teoria de Marx, ou vice-versa, mas não 
podemos ignorar a existência de qualquer uma delas, como visões 
sobre o assunto de nossos estudos. Você pode procurar na internet 
artigos ou até mesmo livros digitais que abordam esse assunto para 
ter uma visão ou leitura mais completa.
Por que mencionamos, em linhas gerais, essas visões sobre o trabalho? 
Exatamente porque elas representam esse que denominamos de sentido 
econômico do trabalho e das relações de trabalho. 
Podemos dizer que em sentido econômico as relações de 
trabalho estruturam a produção da riqueza social. Para produzir para 
necessidades cada vez mais amplas, é preciso organizar a produção 
de forma coletiva. Esse é o grande sentido da Revolução Industrial. Ela 
Em sentido econômico 
as relações de 
trabalho estruturam a 
produção da riqueza 
social. 
18
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
revolucionou o modo de produzir, e o fez criando novas formas de organização 
do trabalho, ou seja, reorganizando as relações de trabalho, e não só em sentido 
econômico!
Agora, chamamos a atenção para alguns aspectos: consideramos 
que o trabalho define a própria forma de vida dos homens em 
sociedade; e consideramos também que o trabalho é o elemento-chave 
de produção das riquezas em uma sociedade, mas é preciso perceber 
que essas relações de trabalho, ou seja, a organização de trabalho 
coletivo para produzir objetos socialmente necessários e que também 
socialmente nos definem, são estruturadas a partir de regras sociais, 
construídas ao longo do tempo e que se modificam historicamente, ou 
seja, as relações de trabalho são também definidas pelo Direito. Em síntese: eis 
o sentido jurídico das relações de trabalho. 
Como chegamos a este ponto? Chegamos ao momento da história em que 
as relações de trabalho para além de fenômenos econômicos e sociais, tornaram-
se também fenômeno jurídico?
 
Süssekind, Maranhão e Vianna (1991) fazem uma importante recordação 
sobre os antecedentes históricos do trabalho até a Idade Moderna, identificando 
três formas de trabalho anteriores à Revolução Industrial e às modernas relações 
de trabalho:
• A escravidão na Idade Antiga: foi com trabalho escravo que se 
construíram as pirâmides no Egito. Também na Grécia havia fábricas 
de facas, ferramentas agrícolas e móveis compostas com trabalhadores 
escravos (SÜSSEKIND; MARANHÃO; VIANNA, 1991).
• A servidão durante a Idade Média: foi um tipo generalizado de trabalho 
utilizado nas sociedades feudais. O servo não era, como o escravo, tido 
como objeto, mas como aquele, também não dispunha de liberdade 
(SÜSSEKIND; MARANHÃO; VIANNA, 1991).
• As corporações: surgidas na transição do sistema feudal para o 
capitalismo industrial. Com o declínio da economia doméstica e do 
regime feudal, e a concentração de massas de população nas cidades, 
as corporações eram formadas pela aproximação de homens da 
mesma profissão, tendo sob suas ordens os aprendizes (SÜSSEKIND; 
MARANHÃO; VIANNA, 1991).
As relações de 
trabalho são 
também definidas 
pelo Direito. Em 
síntese: eis o 
sentido jurídico 
das relações de 
trabalho.
19
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
As corporações foram superadas com a Revolução Industrial. O surgimento 
da máquina, o trabalho assalariado e a produção em larga escala redefiniram 
econômica e socialmente as relações de trabalho e deram existência ao seu 
sentido jurídico. Referindo-se à escravidão, à servidão e às corporações, 
Süssekind, Maranhão e Vianna (1991, p. 34) fazem uma relevante observação: 
 
Nada disso era, entretanto, realmente Direito do Trabalho 
porque a fermentação que daria razão de ser para seu 
aparecimento só se começaria a sentir no final do século XVIII, 
com a revolução política e a revolução industrial ou técnico-
econômica. Com aquela, o homem tornava-se livre, criava 
“o cidadão como categoria racional na ordenação política da 
sociedade”; na outra, transformava-se a liberdade em mera 
abstração, com a concentração das massas operárias sob 
o jugo do capital empregado nas grandes explorações com 
unidade de comando. 
 
Especialmente a partir da Revolução Industrial, sob a ideia de liberdade, 
motriz das revoluções burguesas e do Estado Liberal por elas construído, a força 
de trabalho foi tomada como uma mercadoria a ser comprada e vendida. As 
revoluções liberais consagraram o indivíduo e sua liberdade de agir. O trabalhador, 
tido como livre, poderia então oferecer e vender sua força de trabalho a quem 
quisesse comprá-la.
 
A ideia de trabalho como mercadoria foi associada à ideia de contrato, pelo 
qual se compra e vende qualquer mercadoria, e a ideia do trabalhador comosujeito de direito, ou seja, como uma pessoa capaz de firmar um contrato. 
Como lembra Süssekind, Maranhão e Vianna (1991), a revolução econômica 
(industrial) e a revolução política (burguesa) trouxeram também a revolução jurídica. 
Com isso, as relações de trabalho ganharam seu sentido jurídico, e 
relações de trabalho passaram a ser, grande parte das vezes, sinônimo de 
contrato ou dos vínculos jurídicos entre trabalhadores e empregadores. 
Já vazadas integralmente pelo Direito, as relações de trabalho passariam 
por novas transformações com a decadência do Estado Liberal, e passando 
pelas revoluções socialistas (especialmente a Revolução Russa de 1917), com 
o surgimento do chamado Estado Social e o constitucionalismo social do século 
XX, nas constituições garantidoras de direitos sociais, a partir das experiências do 
México (1917) e Weimar – Alemanha (1919). 
20
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
O Estado Social representou uma maior intervenção do Estado na economia 
e também na esfera dos direitos sociais e do trabalho, sob a constatação de que 
o liberalismo, ao deixar as relações de trabalho ao sabor da força de sujeitos em 
condições bastante desiguais, havia produzido sofrimento e miséria ao longo do 
século XIX. 
O século XX representa, enfim, um nível mais elevado de regulação 
jurídica do trabalho e dos limites e possibilidades do contrato, tendo 
como pano de fundo a ideia de igualdade. O sentido jurídico de relações 
de trabalho se firmou então definitivamente com o surgimento e/ou 
ampliação de normas jurídicas legisladas e instituições nacionais ou 
internacionais voltadas para a regulação legal das relações de trabalho, 
como a OIT – Organização Internacional do Trabalho em 1919. 
Você perceberá que, não só nos países que se industrializaram 
mais cedo, como a Inglaterra, e a Europa como um todo, mas também 
no Brasil, a partir do início do século XX – e com mais intensidade 
em nosso caso a partir dos anos 1930 – surgirão constituições e normas 
infraconstitucionais e ordinárias voltadas a organizar por balizas do Direito a 
relação entre quem compra e quem vende força de trabalho. 
A diferença é que isso se deu em momentos históricos e condições de 
desenvolvimento muito distintas. Vamos então pensar um pouco como essas 
relações evoluíram no Brasil nas seções seguintes. 
O século XX 
representa, 
enfim, um nível 
mais elevado de 
regulação jurídica 
do trabalho e 
dos limites e 
possibilidades do 
contrato, tendo 
como pano de fundo 
a ideia de igualdade.
Mercado de Trabalho Livre no Brasil 
Como visto anteriormente, a existência de normas jurídicas para organizar o 
modo como se adquire e se vende mão de obra para a produção e circulação de 
bens e serviços constitui o cerne do sentido jurídico das relações de trabalho. 
Note que, à medida que a mão de obra (ou força de trabalho) é comprada 
e vendida, ela também passa a ser encarada como uma mercadoria. A ideia de 
mercado de trabalho segue bases idênticas à visão geral sobre mercado: o 
lugar ou espaço onde vendem e compram determinados produtos. 
21
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
Segundo o Dicionário Unesp do Português Contemporâneo 
(2004, p. 909): MERCADO DE TRABALHO: mer-ca-do de tra-ba-
lho Sm (Econ) relação entre a oferta de trabalho e a procura de 
trabalhadores, em época e lugar determinados: Uma das propostas 
do governo é a melhoria do mercado de trabalho.
Então, se encaramos a força de trabalho como uma mercadoria 
(uma mercadoria bem especial, diga-se de passagem), o espaço de 
oferta dessa força de trabalho é denominado de mercado de trabalho. 
Por isso, é possível falar em mercado de trabalho de São Paulo, ou 
mercado de trabalho brasileiro etc. 
Fique atento! Embora seja óbvio dizer, o trabalhador não vende seus braços 
ou demais membros, ou sua cabeça ao empregador, nem o empregador compra 
o corpo do trabalhador. Isso era real no regime de escravidão, mas não hoje. Em 
troca da remuneração oferecida pelo empregador, o trabalhador entrega sua força 
física, sua energia, seus conhecimentos, experiências, capacidades etc., durante 
um determinado período do dia e do mês. 
O espaço de 
oferta dessa 
força de trabalho 
é denominado 
de mercado de 
trabalho.
Como veremos adiante, no Capítulo 2, há muitas formas 
jurídicas de se estabelecer relações de trabalho, contratuais ou não, 
mas é assunto para daqui a pouco.
A regulação jurídica das relações de trabalho em um dado país são uma 
referência importante para aferir os níveis de progresso e desenvolvimento 
desse país. Quando, por exemplo, identificamos, em alguns países o chamado 
trabalho análogo à escravidão, naturalmente consideramos que este país não é 
desenvolvido. 
22
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
Um exemplo desse debate você pode encontrar no relatório 
“Emprego Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente – A 
experiência brasileira recente” você pode acessar no link. Disponível 
em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/decent_work/
pub/emprego_desenvolvimento_299.pdf>.
Então, voltemos ao ponto sobre mercado de trabalho. Por que ele é 
importante? Lembre-se que dissemos lá atrás que é muito comum comparar as 
relações de trabalho – especialmente no sentido jurídico, ou seja, das normas legais 
referentes à organização da compra e venda de trabalho – entre o Brasil e outros 
países. Assim, é importante verificar como se formaram essas relações de trabalho 
no Brasil e suas particularidades e diferenças em relação a outros países. 
Ora, no caso brasileiro, pensar o surgimento das normas jurídicas destinadas 
a dar às relações de trabalho o sentido de liberdade e a possiblidade de que a 
força de trabalho fosse comprada e vendida, implica reconhecer que, formalmente, 
ao menos até 1888 essa possibilidade era inexistente. Por que 1888? Porque este 
é o ano da abolição da escravidão, com a conhecida e comentada Lei Áurea. 
A Lei Área não resolveu a formação do mercado de trabalho brasileiro, mas ao 
acabar com a escravidão, ou seja, com a possibilidade do trabalho forçado – em 
que o próprio trabalhador escravo era um objeto comprado e vendido – essa lei 
abriu uma questão chave: era preciso estabelecer novas relações de trabalho. 
Nos lembra Alexandre de Freitas Barbosa (2003), que a expansão das 
lavouras do café, sobretudo em São Paulo, demandava muita mão de obra, 
que até a metade de século XIX fora mantida pelo tráfico de escravos, mas que 
começara a escassear com a proibição do tráfico pela Lei Eusébio de Queiroz, 
de 1850 e pela pressão da Inglaterra que, através do Aberdeen Act (ou lei Bill 
Aberdeen) de 1845, autorizava os ingleses a aprenderem navios que traficassem 
escravos entre a África e a América. 
BARBOSA, Alexandre de Freitas. A formação do mercado de 
trabalho no Brasil: da escravidão ao assalariamento. São Paulo: 
Alameda, 2008. 
23
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
Na sequência da lei Eusébio de Queiroz, outras como a Lei do Ventre Livre, 
1871 e a Lei do Sexagenário, 1885 formariam o caminho para a abolição e para o 
trabalho livre. 
Um marco legal importante dessa transição foi a Lei de Locação de 
Serviços, (1879). Ela sucedia a Lei de Locação de Serviços de 1837, que servira 
como tentativa de organizar a venda de força de trabalho livre, sobretudo a de 
estrangeiros que ao longo do século XIX vinham (ou eram trazidos) ao Brasil como 
alternativa à mão de obra escrava. A primeira lei (1837) disciplinara o regime de 
parceria/locação e previa punições até de prisão para o locador (trabalhador livre) 
que não cumprisse o contrato de trabalho. Segundo Barbosa (2003, p. 133):
Mantinha-se a pena de prisão, limitada a um prazo de 5 a 20 
dias, em caso ausência da fazenda sem justa causa, recusa 
ao trabalho e sublocação do prédio da parceria. Em caso de 
recusa coletiva ao trabalho, os infratores seriam detidos até o 
julgamento e enquadrados no mesmoprocesso. 
 A Lei da Locação assinalou uma etapa de transição, e coincidiu com o 
crescente subsídio aos imigrantes de países europeus para o Brasil, intensificado 
no final do século XIX. Esse período indicou alterações nas relações de trabalho, 
mas nas condições de desenvolvimento econômico próprias do Brasil, com baixa 
industrialização e economia fundamentalmente agrícola. 
A criação de um mercado de trabalho era uma necessidade para 
que se desenvolvesse o capitalismo em terras brasileiras. Pelo simples 
fato de que sem a disposição de mão de obra livre seria improvável 
projetarem-se investimentos para o capital acumulado na agricultura 
do café. A organização desse mercado, em parte alimentado por ex-
escravos libertos, e em grande parte por imigrantes estrangeiros, era 
condição fundamental tanto para a expansão da lavoura cafeeira como 
para o processo de industrialização. 
Barbosa (2003) descreve este basicamente como um fenômeno econômico 
(e também social), pelo modo como o interesse de fazendeiros na expansão 
dos negócios do café geraram o influxo de trabalhadores para centros como 
São Paulo. A regulação, ou normatização das relações de trabalho não estava 
claramente definida, transitando da parceria para o colonato. As normas básicas 
de relações de trabalho estavam centradas em aspectos econômicos, como o 
subsídio aos colonos europeus para viajarem ao Brasil. 
Sumarizando, o processo de construção do mercado de 
trabalho não se deu de forma espontânea ou linear, carregando 
antes a indelével herança da escravidão, sendo moldado pelos 
interesses das elites econômicas dominantes, apresentando 
características destoantes nas várias regiões do país e 
A criação de 
um mercado de 
trabalho era uma 
necessidade 
para que se 
desenvolvesse o 
capitalismo em 
terras brasileiras.
24
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
contando, durante toda a transição, com a mão pesada do 
Estado e o autoritarismo onipresente dos quase-empregadores 
(BARBOSA, 2003, p. 162).
Nesse processo de transição do trabalho escravo para o trabalho 
livre, as normas jurídicas relativas às relações de trabalho eram 
essencialmente duas: 
a) Na parte relativa às atividades comerciais, as relações eram 
reguladas pelo Código Comercial, de 1850. 
b) Na agricultura e outras atividades, pela Lei da Locação de Serviços, 
numa primeira versão de 1837, e numa segunda com o 2.827 de 15 
de março de 1879. 
Você pode ler o conteúdo integral da Lei da Locação de Serviços 
de 1879 acessando: Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/
legin/fed/decret/1824-1899/decreto-2827-15-marco-1879-547285-
publicacaooriginal-62001-pl.html>.
Para que você possa compreender melhor do que estamos falando veja 
a seguir, alguns dispositivos da Lei de Locação de Serviços que permitem 
compreender melhor como as relações de trabalho eram tratadas.
DA PARCERIA AGRICOLA
Art. 43. Considera-se parceria agrícola o contrato pelo qual uma 
pessoa entrega á outra algum prédio rústico, para ser cultivado, com 
a condição de partirem os estipulantes entre si os frutos pelo modo 
que acordarem.
Parágrafo único. A regra da partilha é a meiação, salvo 
convenção diversa.
Art. 44. Prédios rústicos, no sentido desta Lei, são todos os 
destinados à agricultura. Sendo, porém, terrenos de sesmaria, 
fazenda ou sitio, é preciso que sejam divididos entre si, e tenham 
Nesse processo 
de transição do 
trabalho escravo 
para o trabalho livre, 
as normas jurídicas 
relativas às relações 
de trabalho eram 
essencialmente duas:
25
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
morada para o cultivador, salvo se o contrato estipular a morada em 
edifício central, com repartições convenientes.
Art. 45. O senhor do prédio rustico chamar-se-á parceiro 
locatário, e aquele que o cultivar parceiro locador.
Art. 46. O parceiro locador não pode sublocar ou ceder a 
parceria sem expresso acordo do parceiro locatário.
[...]
Art. 49. Salvo convenção em contrário:
§ 1º As sementes correm por conta da parceria.
§ 2º As plantas, para substituir as que perecem ou caem 
fortuitamente, serão prestadas pelo parceiro locatário.
§ 3º Os utensílios necessários para exploração do prédio rústico 
deverão ser prestados pelo parceiro locado.
§ 4º Também ao parceiro locador incumbe as despesas para a 
cultura ordinária dos campos e colheita dos frutos.
Art. 50. O parceiro locador não pode colher os frutos, sem 
ciência do parceiro locatário.
§ 3º, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26 e 39 § 5º desta Lei, assim como o 
art. 292 do Código Criminal.
[...]
DA PARCERIA PECUARIA
Art. 58. Parceria pecuária é o contrato pelo qual uma pessoa 
entrega a outra os seus animais para os guardar, nutrir e pensar, sob 
a condição de partilharem elas entre si os lucros futuros pelo modo 
que acordarem.
Parágrafo único. Salvo convenção e, em falta dela, o costume 
do logar, se o houver, a parceria pecuária será regulada pelas 
disposições dos artigos que se seguem, de 59 a 68.
26
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
Art. 59. O proprietário dos animais é o parceiro proprietário e 
aquele que guarda, nutre e pensa o parceiro pensador.
Art. 60. Constituem objeto de partilha:
§ 1º As lãs, pelos e crinas.
§ 2º As crias.
Art. 61. Pertencem ao parceiro pensador:
O trabalho do gado.
O esterco.
O leite e suas transformações.
Art. 62. Se os animais perecem por caso fortuito, a perda é do 
parceiro proprietário.
Art. 63. Nem o parceiro pensador, sem consentimento do 
proprietário, nem este, sem anuência daquele, poderão dispor de 
cabeça alguma do gado principal ou acrescido.
Art. 64. O parceiro pensador não tosquiará o gado lanigero sem 
que previna o parceiro proprietário, sob pena de pagar-lhe em dobro 
o valor da parte que lhe pertenceria na partilha.
Art. 65. O parceiro proprietário é obrigado a garantir a posse e uso 
dos animais da parceria, substituindo os que faltarem no caso de evicção.
Art. 66. Pertence ao parceiro proprietário todo o proveito que se 
posse tirar dos animais que perecerem.
Art. 67. É nulo o contrato no qual se estipular que o parceiro 
pensador suportará na perda parte maior que nos lucros.
Art. 68. São aplicáveis a parceria pecuária as disposições dos 
artigos 11, 12, 13, 14, 17, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 36, 46, 47, 52, 55 e 
57 desta Lei, e art. 292 do Código Criminal.
Fonte: CÂMERA DOS DEPUTADOS. DECRETO Nº 2.827, DE 15 
DE MARÇO DE 1879 – PUBLICAÇÃO ORIGINAL. (1879).
27
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
Veja que o texto legal apresentado revela uma das poucas regulamentações 
de relações de trabalho existentes durante o Império. As demais citadas, como a 
Lei Eusébio de Queiroz e a Lei do Ventre Livre, tratavam do tema pela ótica da 
escravidão, ou da tentativa gradativa de aboli-la. 
A Abolição deflagrou uma situação nova. O trabalho não podia 
mais ser obtido à força, pela escravização do homem. Ao mesmo 
tempo era necessário estabelecer padrões legais para a contratação 
da mão de obra livre. Foi a partir da abolição que surgiu mais 
claramente a necessidade de leis para regrar a compra e venda de 
força de trabalho. Isso vai acontecer com mais intensidade a partir da 
Proclamação da República em 1889, e de forma decisiva a partir de 
1930, com a estruturação do capitalismo brasileiro.
Fica evidente que o mercado de trabalho, geralmente apresentado pela ótica 
estritamente econômica, depende também da existência de leis e regulamentos, 
ou seja, requer também uma determinada ordem jurídica.
Passou a ser essencial que existissem leis regulando as relações entre 
empregadores e empregados, que estivessem de acordo com a nova realidade 
em que os homens se encontravam, ao menos formalmente, livres para vender 
sua força de trabalho. 
 Veremos nas seções seguintes como foi o surgimento da legislação das 
relações de trabalho no Brasil. 
Era necessário 
estabelecer padrões 
legais para a 
contratação da mão 
de obra livre.
LegislaçãoTrabalhista e Evolução 
das Relações de Trabalho
Como se viu até agora, aquilo que para nós na atualidade parece corriqueiro 
e até banal – como as normas que regulamentam as relações decorrentes da 
compra e venda de força de trabalho – não foi sempre assim. Houve momentos 
em que a regra foi apenas a força. 
A existência de leis e regulamentos é tida como um processo positivo de 
avanço social, que estabelece o convívio entre indivíduos que se encontram 
em posições diversas na sociedade. De um lado estão aqueles que compram a 
força de trabalho, como mercadoria, e por outro lado aqueles que têm a força de 
trabalho como sua mercadoria. 
Em dimensão mundial, houve uma significativa transformação nas relações 
sociais e do trabalho com o declínio do chamado Estado Liberal e o surgimento do 
Estado Social. 
28
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
Se você quiser aprofundar esta análise leia o livro: Do Estado 
Liberal ao Estado Social, do professor Paulo Bonavides. 
Referência: BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado 
social. São Paulo: Saraiva, 2004. 
Essa transformação é sempre mais estudada nos cursos de Direito pela ótica 
do Direito Constitucional, ou do constitucionalismo, mas o plano de fundo dessa 
transformação pode ser observado no trabalho e nas relações de trabalho. 
Ao afirmar o predomínio da liberdade dos indivíduos, o Estado Liberal, surgido 
das revoluções burguesas, aplicou ao máximo sua emblemática expressão laissez 
faire, laissez aller, laissez passer. Sob o liberalismo, a regra de ouro foi o laissez faire 
(deixai fazer), concepção a qual os indivíduos, deixados ao exercício de sua própria 
liberdade, produziriam o progresso e o desenvolvimento econômico e humano. 
A expressão laissez faire, laissez aller, laissez passer, le 
monde va de lui même significa deixai fazer, deixai ir, deixai 
passar, o mundo caminha por si mesmo. É atribuída a 
liberais franceses dos séculos XVII-XVIII e se tornou símbolo do 
pensamento econômico liberal. Você pode ler sobre isso acessando 
o link: Disponível em: <https://fernandonogueiracosta.wordpress.
com/2013/11/13/fundamentos-e-limites-do-principio-dolaisserfaire-
ou-da-nao-interferencia-governamental/>.
No entanto, no bojo do Estado Liberal surgiram também conflitos, tanto entre 
países como entre classes sociais. O Estado Liberal viveu seu declínio, sobretudo 
pela contestação dos trabalhadores, que procuravam também garantir seu espaço 
e seus interesses na sociedade. Dois fatos marcam decididamente a superação do 
Estado Liberal, no início do século XX: a primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914 
e a Revolução Russa, de 1917. Esta última, sob a bandeira do socialismo, colocava-
se como síntese das reivindicações dos trabalhadores por igualdade social. 
29
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
Os desdobramentos normativos mais visíveis decorrentes dessas 
reivindicações e desses acontecimentos históricos se dariam nas constituições 
do México (1917) e de Weimar/Alemanha (1919), que inauguram a fase das 
chamadas constituições sociais. Sociais porque vão trazer em seus textos 
menções claras aos direitos sociais e trabalhistas. 
No mesmo sentido, a criação da Organização Internacional do Trabalho – 
OIT, a partir do Tratado de Versailles, de 1919. 
Em resumo: as reivindicações dos trabalhadores e sua contestação ao 
regime do laissez faire estão no nascedouro das constituições sociais, mas 
especialmente no surgimento dos direitos trabalhistas e de formas novas de 
regular as relações do trabalho. Se no liberalismo a regra era apenas a plena 
liberdade de contratar (comprar e vender força de trabalho pela forma ajustada 
entre compradores e vendedores), a demanda por melhores condições 
de trabalho vai desaguar em mais amplas regras para as relações 
de trabalho, visando garantias mais abrangentes aos trabalhadores, 
fazendo surgir os “direitos trabalhistas”. 
No Brasil, como se viu, o caminho foi mais demorado e mais 
tortuoso. A abolição da escravidão se deu apenas em 1888, e nem por 
isso, determinou por si, novas relações de trabalho. Apenas com os 
princípios da industrialização, lembra Vienna (2003, p. 51) “[...] começava 
a se fazer sentir o desajustamento entra as condições normais de vida 
do trabalhador e aquelas a que ele deveria ter direito”. 
É preciso que se diga que a evolução normativa do Direito 
do Trabalho e das relações de trabalho não é apenas um produto 
da vontade do legislador e dos juristas, mas, sim, o resultado do 
desenvolvimento econômico e do entrelaçamento deste com o 
desenvolvimento social e político do país, ou seja, a legislação segue 
o desenrolar econômico e social e lhe dá forma.
Seguindo o processo de desenvolvimento brasileiro anterior a 
1930, a legislação do trabalho teve como principais acontecimentos normativos as 
seguintes leis e decretos:
É preciso que se 
diga que a evolução 
normativa do Direito 
do Trabalho e das 
relações de trabalho 
não é apenas um 
produto da vontade 
do legislador e 
dos juristas, mas, 
sim, o resultado do 
desenvolvimento 
econômico e do 
entrelaçamento 
deste com o 
desenvolvimento 
social e político 
do país, ou seja, a 
legislação segue 
o desenrolar 
econômico e social 
e lhe dá forma.
30
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
• Decreto 028 de 13 de setembro de 1830 – disciplinava contratos sobre 
prestação de serviços.
• Lei 108 de 11 de outubro de 1837 – tratava dos contratos de locação de 
serviços dos colonos imigrantes.
• Decreto 2.827 de 15 de março de 1879 – chamada Lei de Locação de 
Serviços – regulava contratos no âmbito da agricultura, de locação de 
serviços e parcerias agrícolas e pecuárias.
• Lei Áurea de 13 de maio de 1888 – aboliu a escravidão.
• Com a proclamação da República:
• Decreto 1.162 de 12 de dezembro de 1890 – garantia liberdade ao 
trabalhador e permitia a greve pacífica.
• Decreto 1.313 de 1891 – instituía fiscalização permanente em 
estabelecimentos fabris onde trabalhassem menores em grande número; 
estabelecia jornada diária máxima de 9 horas para os menores e proibia 
trabalho noturno aos menores de 15 anos.
• Decreto 1.150 de 05 de janeiro de 1904 – conferia privilégio para o 
pagamento de dívidas provenientes de salários do trabalhador rural.
• Decreto Legislativo 1.637 de 05 de janeiro de 1907 – tratava da 
sindicalização.
• *Em 1915 houve uma primeira tentativa de criação de um Código de 
Trabalho, que, apesar de tramitar por longo tempo não chegou a ser 
aprovado.
• Código Civil de 1916 (Lei 3.701 de 1º. de janeiro de 1916) – incluiu 
algumas normas sobre o trabalho, dedicando 22 artigos ao tema, para 
Vianna (2003) com a “denominação imprópria de ‘locação de serviços” 
(p. 61). 
• Lei 3.742 de 15 de janeiro de 1919 – lei sobre acidentes de trabalho.
• Lei 4.682 de 24 de janeiro de 1923 – também chamada Lei Eloy Chaves 
– criava as caixas de aposentadorias e pensões para os ferroviários.
• Lei 4.982 de 23 de dezembro de 1925 – sobre o direito de férias.
• Decreto 16.027 de 30 de abril de 1923 – criando o Conselho Nacional do 
Trabalho.
• Decreto 17.934 de 12 de outubro de 1927 – sobre o trabalho de menores.
Apesar dessas legislações, durante toda a Primeira República a questão 
social e do trabalho permaneceu sobrepujada, ainda que latente. De um lado as 
greves e conflitos trabalhistas, em especial a Greve Geral de 1917 e de outro a 
afirmação do então presidente Washington Luís, de que a questão social era “caso 
de polícia”. Deram o tom do conflituoso e difícil processo de evolução normativa 
(além de econômica e social) das relações de trabalho no Brasil daquele período.
31
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
“Em síntese: durante quase toda a Primeira República a questão 
social foi considerada no Brasil como “caso de polícia”. (Extraído do 
dossiê do CPDOC sobre a Era Vargas). Para uma visão sobre o assunto 
você pode acessar o dossiê do período elaborado pelo CPDOCda 
Fundação Getúlio Vargas (FGV) no link: Disponível em: <http://cpdoc.
fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/QuestaoSocial>.
Segundo Cesarino Júnior (apud SÜSSEKIND; MARANHÃO; VIANNA, 1991, 
p. 63), “a Legislação Social do Brasil começou, decididamente, após a Revolução 
de 1930”. Esta frase indica o processo de transformação que atingiu o direito 
brasileiro, especialmente a legislação trabalhista, a partir de 1930.
 Podemos concordar ou discordar do conteúdo das legislações sociais e 
trabalhistas criadas a partir da Revolução de 1930, especialmente a CLT, mas é 
inegável que tal revolução e sua figura de proa – Getúlio Vargas – fazem parte da 
história e das análises e explicações sobre a evolução econômica e das relações 
de trabalho no Brasil neste período. 
Getúlio Vargas: presidente do Brasil de 1930 a 1945. De 1930 
a 1937 foi presidente aclamado como líder da vitoriosa Revolução 
de 1930. Em 1937 instituiu o Estado Novo, considerado um golpe 
de Estado, e governou até 1945 quando foi deposto por um levante 
militar. Leia mais sobre Getúlio Vargas acessando o link. Disponível: 
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/
getulio_vargas>. 
Agora, lembre-se, a construção das normas jurídicas, neste ou em qualquer 
outro tema do Direito, não está dissociada das realidades econômica e social. 
Ao contrário, são as realidades econômica e social que estruturam ou definem o 
conteúdo legislativo que regula as relações entre indivíduos. É assim, no que toca 
as relações de trabalho. 
32
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
 A Revolução de 1930 representa um momento de passagem, econômico e 
social. É um momento em que o Brasil vai deixando de ser apenas uma economia 
agrícola, e vive sua industrialização. Cidades crescem, e cresce também a massa 
de trabalhadores/operários. Crescem reivindicações por maior igualdade social. 
Todos esses acontecimentos vão impactar e redesenhar as relações de trabalho e 
a legislação trabalhista, como veremos na próxima seção. 
Direitos Trabalhistas e Sujeito de 
Direitos
Em Direito a expressão sujeito de direito (ou sujeito de direitos) tem um 
valor significativo. Em termos gerais o “sujeito de direito é aquele a quem a lei – 
em sentido amplo – atribui direitos e obrigações, aquele cujo comportamento se 
pretende regular” (CANTISANO, 2010, p. 132), ou seja, o sujeito de direitos é a 
pessoa portadora de direitos (e deveres). 
Hans Kelsen, em sua Teoria Pura, dá uma definição de sujeito 
de direito, “a teoria tradicional identifica o conceito de sujeito jurídico 
com o de pessoa. Eis sua definição: pessoa é o homem enquanto 
sujeito de direitos e deveres” (KELSEN, 2006, p. 191).
 Se tomarmos o Código Civil, veremos este conceito plenamente 
apresentado em seu artigo 1º. “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na 
ordem civil”. 
 Parece óbvio dizer isso a juristas já formados, mas é importante lembrar que 
não foi sempre assim. A ideia de sujeito de direito surge com o capitalismo e está 
basicamente associada ao princípio da igualdade formal, aquele segundo o qual 
todos os homens são iguais perante a lei. 
Embora os homens não sejam iguais em suas condições materiais reais, o 
conceito de sujeito de direito funciona como uma espécie de denominador comum 
dos homens. Uns podem comprar força de trabalho; outros vendem força de trabalho 
para sobreviver; ambos, como sujeitos de direito, podem assinar um contrato.
33
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
 A origem do homem sujeito de direito podem ser buscadas nas teorias do 
direito natural. Um exemplo de como se forjou a associação do homem como 
portador de direitos está na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
carta da Revolução Francesa de 1789, que em seu artigo 1º. diz: 
Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. 
Embora nos primórdios da era moderna e do capitalismo, sob o Estado 
Liberal, esses direitos fossem basicamente os direitos à liberdade e à propriedade, 
com o desenvolvimento da humanidade e com as constituições sociais, esses 
direitos foram modificados e ampliados. 
Então, quando falamos sujeito de direitos, também queremos dizer sujeito 
portador de direitos, ou seja, aquele que pode exercer determinados direitos. 
O sujeito de direitos trabalhistas é aquele a quem, por se enquadrar em uma 
posição definida na relação de trabalho, pode ser atribuída a condição de portador 
de determinados direitos assegurados pelo regime jurídico a ele aplicável. 
A questão passa, afinal, pela existência de uma legislação reconhecedora dessa 
posição e que atribua direitos que podem ser exercidos por quem lhes seja titular. 
No Brasil, superada a escravidão, o conteúdo das relações de trabalho em sentido 
jurídico, dependia da existência de uma clara regulamentação do trabalho livre e dos 
direitos dos trabalhadores, o que só aconteceu de modo mais completo a partir de 
1930, sendo sedimentado com a Consolidação das Leis do Trabalho em 1943.
Preparava-se o cenário para a entrega aos brasileiros da 
Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, momento em que se 
completaria uma etapa fundamental no processo de constituição 
do trabalhador brasileiro como sujeito de direitos, ou seja, um 
cidadão moderno (BIAVASCHI, 2007, p. 173, grifo nosso).
Como referência o estudo de Magda Barros Biavaschi “o Direito 
do Trabalho no Brasil: 1930-1942 – a construção do sujeito de 
direitos trabalhista”. Esta autora, assim como Arnaldo Süssekind e 
Sérgio Pinto Martins, entre outros, considera equivocada a relação 
que alguns estudiosos estabeleceram ao longo do tempo entre a CLT 
brasileira e a Carta del Lavoro da Itália. Você pode buscar outras 
referências sobre o assunto disponíveis em revistas especializadas, 
na internet e livros. 
34
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
É possível afirmar que a ideia de sujeito de direitos trabalhistas é concomitante 
e diretamente relacionada com o surgimento do Direito do Trabalho como regime 
jurídico e como disciplina. A universalização das normas jurídicas trabalhistas e 
de institutos como as convenções coletivas e as sentenças normativas, como 
o estabelecimento de diretrizes e princípios doutrinários fundamentais, e o 
consequente deslocamento dessas normas da esfera civil ou comercial, serviram 
para definir, no plano do Direito, que o Direito do Trabalho formasse um sistema 
orgânico e unitário (SÜSSEKIND; MARANHÃO; VIANNA, 1991). 
Em termos históricos este processo de formação do que chamamos de 
Direito do Trabalho – como sistema de normas (regras e princípios) e institutos – 
se desenvolveu no Brasil na primeira metade do século XX, tendo como seu ponto 
culminante a CLT.
Se queremos pensar de forma esquematizada (e um tanto simplificada) a 
questão, podemos colocar a distinção em fases das relações de trabalho no Brasil 
nos seguintes termos: 
• Na etapa escravista da economia, a produção estava sustentada pelo 
trabalho escravo; consequentemente as relações de trabalho continham 
uma base central e única: o proprietário de escravos era detentor do corpo 
do homem que trabalhava e por direito de propriedade dele dispunha. 
• Na etapa capitalista da economia, estruturada sobretudo a partir de 1930, 
a produção passa a ser sustentada em trabalho livre, mão de obra a 
ser comprada e vendida, em condições determinadas por normas 
legisladas.
Neste momento, podemos enfim, estabelecer um ponto de 
encontro entre relações de trabalho e Direito do Trabalho. A medida 
que se transformam as relações de trabalho nos planos econômico e 
social, surgem ou modificam-se normas legais de organização dessas 
mesmas relações de trabalho. 
A medida que 
se transformam 
as relações de 
trabalho nos planos 
econômico e 
social, surgem ou 
modificam-se normas 
legais de organização 
dessas mesmas 
relações de trabalho.
Em outras disciplinas do curso você provavelmente teve ou 
terá contato com o debate evolutivo e a construçãoda autonomia 
do Direito do Trabalho como ramo e como disciplina, inclusive as 
polêmicas iniciais para a consolidação da expressão Direito do 
Trabalho. As obras de Sérgio Pinto Martins e Arnaldo Süssekind, 
listadas nas referências, são possíveis para esta questão.
35
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
Interesses variados, e na maior parte das vezes conflituosos, entram em 
cena. As normas surgem, via de regra, desses embates e conflitos, expressando 
as condições econômicas e sociais de dado momento histórico. 
O período da República Velha (1889-1930) foi marcado pelo surgimento 
de uma grande massa operária no Brasil, e também por conflitos crescentes, 
decorrentes das reivindicações dos trabalhadores por direitos e melhores 
condições de trabalho. 
Após a Revolução de 1930, houve intensa produção normativa, estruturando 
o direito do trabalho brasileiro e organizando as relações de trabalho. A seguir, 
transcrevemos um quadro evolutivo das normas mais relevantes (acompanhadas 
de suas ementas) entre 1930 até a aprovação da CLT. 
Quadro 1 – Evolução das normas
Período do Governo Provisório
Decreto 19.671-A, de 4.2.1931 – Dispõe sobre a organização do Departamento Nacional 
do Trabalho.
Decreto 19.770, de 19.3.1931 – Regula a sindicalização.
Decreto 20.303, de 19.8.1931 – Dispõe sobre a nacionalização do trabalho na marinha 
mercante.
Decreto 20.465, de 1º..10.1931 – Reforma a legislação das Caixas de Aposentadoria e 
Pensões.
Decreto 21.186, de 22.3.1932 – Regula o horário para o trabalho no comércio.
Decreto 21.364, de 4.5.1932 – Regula o horário para o trabalho na indústria.
Decreto 21.396, de 12.5.1932 – Institui Comissões Mistas de Conciliação.
Decreto 21.417-A, de 17.5.1932 – Regula as condições de trabalho das mulheres na 
indústria e no comércio.
Decreto 21.690, de 1º..8.1932 – Cria Inspetorias Regionais de Trabalho nos Estados.
Decreto 22.042, de 3.11.1932 – Estabelece as condições de aposentadoria e pensões 
dos marítimos.
Período de 1934-1937
Decreto 24.637, de 10.7.1934 – Reforma a Lei de Acidentes do Trabalho. 
Decreto 24.594, de 12.7.1934 – Reforma da Lei Sindical.
Lei 62, de 5.6.1935 – Dispõe sobre a rescisão do contrato de trabalho. 
Lei 185, de 14.1.1936 – Institui as Comissões de Salário Mínimo.
Lei 367, de 31.12.1936 – Cria o Instituto de Aposentadoria dos Industriários.
36
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
Leis posteriores a 1937
Decreto-lei 910, de 20.11.1938 – Dispõe sobre a duração e condições de trabalho dos 
jornalistas.
Decreto-lei 1.402, de 5.7.1939 – Regula a associação profissional ou sindical. 
Decreto-lei 1.523, de 18.8.1939 – Assegura aos empregados o direito a dois terços dos 
vencimentos em caso de incorporação militar.
Criação de Justiça do Trabalho
Merece destaque no período o Decreto-Lei 1.237, de 2.5.1939, pelo qual foi organizada 
a Justiça do Trabalho. A existência da Justiça do Trabalho, organizada neste decreto, 
estava prevista na Constituição de 1937. Até então inexistia segmento específico do judi-
ciário encarregado dos conflitos de direito que envolvessem relações de emprego. Dizia o 
artigo 1º. do referido Decreto-lei, “os conflitos oriundos das relações entre empregadores 
e empregados, regulados na legislação social, serão dirimidos pela Justiça do Trabalho”. 
A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT 
Eis o elemento-chave do processo de estruturação do Direito do Trabalho e de orga-
nização das relações de trabalho no Brasil: o Decreto-lei 5.452 de 1º. 5.1943, a CLT. 
É corrente a visão de que a CLT não chegou a ser uma produção legislativa nova, em 
termos de criar novas normas e regulamentações, sendo, no geral, uma compilação de 
legislações já existentes. Como o próprio nome diz, uma consolidação. 
Fonte: Vianna (2003, p. 64-66).
 Neste processo histórico, tendo no ápice a CLT, forjou-se o Direito do 
Trabalho brasileiro e foram se desenhando, em termos jurídico-normativos, as 
relações de trabalho, em legislações que antes e depois da CLT, circunscreveram 
e determinaram a existência dos sujeitos de direitos trabalhistas. 
Por fim, é importante destacar elementos que influenciaram o Direito do 
Trabalho brasileiro em seu surgimento:
a) A Encíclica Rerum Novarum: trata-se de documento de 1891, expedido 
pelo Papa Leão XIII, que criou a doutrina social da Igreja Católica, e 
que influenciou fortemente legislações sociais ao longo do século XX. 
Visto também como uma reação ao crescimento a influência das ideias 
socialistas entre os trabalhadores e o enfraquecimento da Igreja. Veja 
como Biavaschi (2007, p. 124) descreve seu surgimento:
Foi assim que o Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891, 
publicou a Encíclica Rerum Novarum, estampando 
a doutrina social da Igreja Católica. Sem deixar de 
reconhecer na propriedade privada um direito natural e 
denunciar o socialismo como solução falta e injusta por 
violá-la, e por subverter o edifício social e viciar o papel 
37
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
do Estado, tratou da Questão Social e, clamando por 
respeito à dignidade do homem, condenou a exploração 
desumana e o uso vergonhoso dos operários como vis 
instrumentos do lucro. Registrando a urgência de direitos 
como jornada de trabalho, descanso, proteção às 
mulheres e às crianças, salário suficiente para assegurar 
a subsistência do operário sóbrio e honrado, exortou o 
Estado a intervir nas relações de trabalho [...]. 
Rerum Novarum significa “das coisas novas”. A expressão “coisas 
novas” era uma referência aos novos fenômenos decorrentes da 
expansão do capitalismo e do liberalismo que, ao passo da criação de 
riquezas consideráveis, havia produzido também miséria e exclusão. 
Disponível em: <https://www.ufrgs.br/napead/repositorio/objetos/servico-
social/rerum.php>; <https://juslaboris.tst.jus.br/handle/1939/106891>.
b) O 1º. Congresso Brasileiro de Direito Social: Este Congresso, realizado 
em São Paulo entre 15 e 21 de maio de 1941, organizado pelo Governo 
Federal e pelos Governos dos Estados, com ampla participação de 
juristas, foi também um dos elementos de influência do Direito do Trabalho 
brasileiro em seu surgimento e consolidação. Nele foram aprovadas teses 
que influenciariam mais tarde a CLT: como uma tese apresentada pelo 
jurista Arnaldo Süssekind com a seguinte redação: Serão nulos de pleno 
direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou 
fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. 
“Seria, mais tarde, integralmente contemplado pela comissão que elaborou 
a CLT, em seu artigo 9º” (BIAVASCHI, 2007, p. 128-129).
c) As constituições sociais do século XX: Como já mencionado em outro 
ponto, o mundo viveu no final do século XIX o declínio do Estado Liberal. 
O laissez faire do liberalismo serviu à consolidação do capitalismo, mas 
seu culto ao individualismo produzirá também desigualdade e miséria. A 
partir disso, emergiram conflitos dos trabalhadores em luta por direitos 
e também organizações políticas revolucionárias. O ápice da crise do 
liberalismo se deu com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, e, em seu 
término, com o surgimento da experiência real de socialismo inaugurada 
pela Revolução Russa de 1917. No bojo das lutas dos trabalhadores 
e dos conflitos, surgiram soluções de compromisso, na forma de 
constituições que reconheceram os direitos sociais – nos estudos 
38
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
constitucionais chamados direitos fundamentais de segunda geração. 
Os dois grandes marcos constitucionais com este conteúdo, sempre 
referenciados e estudados, são a Constituição do México de 1917 e a 
Constituição de Weimar (Alemanha) de 1919. 
d) Organização Internacional do Trabalho – OIT: A Organização Internacional 
do Trabalho – OIT – foi criada com o Tratado de Versailles (1919) após o 
término da Primeira Guerra Mundial. Marca a internacionalização do Direito 
do Trabalho. Como organização internacional,expede recomendações 
e convenções, que “quando ratificadas por um país-membro, integram 
seu ordenamento jurídico como fonte formal e heterônoma de direitos, 
gerando direitos subjetivos” (BIAVASCHI, 2007, p. 137). É importante 
lembrar também, que a partir da Emenda Constitucional 45, o § 3º do 
artigo 5º. da Constituição Federal passou a reconhecer força de emenda 
constitucional às Convenções internacionais sobre direitos humanos 
ratificadas pelo Brasil, os tratados e convenções internacionais sobre 
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso 
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos 
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Algumas Considerações
Chegamos ao final deste primeiro capítulo. Como mencionado em seu início, 
este capítulo tem um sentido mais teórico e histórico, procurando identificar e 
fazer compreender as raízes do Direito do Trabalho brasileiro e a evolução das 
relações de trabalho no nosso país. 
Podemos resumir os apontamentos apresentados no capítulo em torno das 
seguintes ideias:
1ª. Relações de trabalho é uma expressão complexa, que em seu sentido 
amplo, contém sentidos diversos, embora não contraditórios: o sentido 
econômico; o sentido sociológico; o sentido jurídico. 
2ª. O surgimento de um sentido jurídico para as relações de trabalho se 
firma com o surgimento das leis destinadas à regulação do trabalho. 
Nos países de capitalismo avançado isso ocorreu a partir da Revolução 
Industrial e seus desdobramentos. No Brasil, a passagem se deu de 
forma mais complexa e difícil, implicando a superação da escravidão (que 
dista de nós, pouco mais de 100 anos) para abrir caminho à formação de 
um mercado de trabalho. 
39
Relações de Trabalho no Brasil Capítulo 1 
3ª. A ideia de mercado de trabalho envolve a existência de normas legais, 
editadas pelo Estado, capazes de organizar as condições de compra e 
venda da força de trabalho.
5ª. Além da regulação dessas condições de compra e venda da força de 
trabalho, o século XX trouxe também as reivindicações de igualdade 
empunhadas pelos trabalhadores, fazendo surgir os direitos sociais, 
entre os quais estão os direitos do trabalho. 
6º. No Brasil, o marco histórico de transformação das relações de 
trabalho se dá com a Revolução de 1930. No plano econômico com a 
industrialização. No plano social com o reconhecimento da questão 
social como uma questão relevante ao desenvolvimento. No plano 
jurídico com o surgimento do sistema legal que reconheceu o trabalhador 
como cidadão e sujeito de direitos, o Direito do Trabalho, tendo como seu 
documento jurídico mais emblemático a CLT. 
Referências
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capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo, 2011. 
ARAÚJO, Romilda Ramos. Os sentidos do trabalho e suas implicações na 
formação dos indivíduos inseridos nas organizações contemporâneas. Revista 
de Gestão USP, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 53-66, jan./mar. 2007. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000147&pid=S1413-
2311201300020000200002&lng=pt>. Acesso em: 4 abr. 2018.
BARBOSA, Alexandre de Freitas. A formação do mercado de trabalho no 
Brasil: da escravidão ao assalariamento. Tese de Doutorado. Campinas: 
Unicamp, 2003. 
BIAVASCHI, Magda Barros. O direito do trabalho no Brasil 1930-1942: a 
construção do sujeito de direitos trabalhistas. São Paulo: LTR/Jutra – Associação 
Luso-Brasileira de Juristas do trabalho, 2007.
BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social. São Paulo: Saraiva, 2004. 
BONZATTO, Eduardo Antonio. Tripalium: o trabalho como maldição, como crime 
e como punição. 2009. Disponível em: <http://unifia.edu.br/revista_eletronica/
revistas/direito_foco/artigos/ano2011/Direito_em_foco_Tripalium.pdf>. Acesso 
em: 15 jan. 2018.
40
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
CEPAL/PNUD/OIT. Emprego, desenvolvimento humano e trabalho 
decente: a experiência brasileira recente. Brasília: 2008. Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/decent_work/pub/emprego_
desenvolvimento_299.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2018.
CÂMERA DOS DEPUTADOS. Decreto nº 2.827, de 15 de março de 1879 – 
publicação original. 1879.
CANTISANO, Pedro Jimenez. Quem é o sujeito de direito? A construção 
científica de um conceito jurídico. Revista Direito, Estado e Sociedade, n. 37, p. 
132-151, Rio de Janeiro, jul./dez. 2010.
DICIONÁRIO UNESP DO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO. Organizador 
Francisco S. Borba e colaboradores. São Paulo: Unesp, 2004.
ENGELS, Friedrich. Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco 
em homem. Edição eletrônica. Ridendo Castigat Mores, 1999. Disponível em: 
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KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2016. 
 
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro primeiro: O processo 
de produção do capital. Tomo I. Tradução: Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São 
Paulo: Nova Cultural/Círculo do Livro, 1996. 
RIBEIRO, Herval Pina. Os operários do direito. Florianópolis: Sinjusc/Lagoa 
Editora, 2009. 
SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigações sobre sua natureza e suas 
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Nova Cultural, 1996. 
SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas. Instituições de 
Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo: LTR, 1991. 
VIANNA, Segadas et al. Instituições de direito do trabalho. 21. ed. São Paulo: 
LTr, 2003. v. 1
CAPÍTULO 2
Relação de Trabalho x Relação de 
Emprego
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
�	Estabelecer os requisitos e/ou critérios para existência de relação empregatícia.
�	Compreender a natureza jurídica do contrato de trabalho a partir das teorias 
explicativas desenvolvidas, suas implicações e aplicações. 
�	Interpretar os critérios de caracterização da relação empregatícia.
�	Analisar aplicações jurisprudenciais dos componentes da relação empregatícia 
e suas consequências em casos concretos.
�	Caracterizar condições jurídicas da existência de vínculo empregatício.
42
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
43
Relação de Trabalho X Relação de Emprego Capítulo 2 
Contextualização
Caro acadêmico, estamos entrando no Capítulo 2 do Livro de Estudos da 
disciplina O Direito do Trabalho e as relações de trabalho.
No primeiro capítulo, analisamos o percurso de formatação das estruturas 
normativas das relações de trabalho no Brasil, o que implica no surgimento do 
próprio Direito do Trabalho Pátrio. 
No ponto ápice da legalização das relações de trabalho está a CLT, porém 
esta não é a única norma sobre o assunto. Há inúmeras outras leis, decretos etc., 
que balizam juridicamente as relações entre trabalhadores e seus empregadores. 
É bom lembrar, por exemplo, que a Constituição Federal é a fonte primeira 
de normas disciplinadoras das relações de trabalho, estabelecendo, no tocante 
aos direitos sociais e do trabalho – direitos fundamentais de segunda geração – 
direitos e garantias básicos de todos os trabalhadores. 
Isso tem impacto sobre o que estudaremos neste capítulo, visto que 
ao analisarmos o contrato – ou a relação jurídica – que se estabelece entre 
empregadores e empregados temos que ter em conta que há um conjunto 
normativo consideravelmente abrangente que atua dirigindo as vontades das 
partes, por exemplo, as partes não podem estabelecer qualquer jornada de 
trabalho, devendo respeitar as regras legais e constitucionais a respeito. 
Para chegar a este ponto, é importante recordar algo do que analisamos 
anteriormente para que possamos estabelecer, ao menos didaticamente, uma 
passagem de um conteúdo para outro. 
Quando analisamos a evolução das relaçõesde trabalho no Brasil, 
percebemos que um ponto culminante para compreender a atualidade foi 
exatamente a passagem do trabalho escravo para o trabalho livre.
A existência de trabalho livre, é algo que na linguagem econômica chamamos 
de mercado de trabalho, permitem pensar na questão da seguinte forma: 
os homens são livres para fazerem o que quiserem e também para venderem 
sua força de trabalho nas condições que conseguirem alcançar. Esta visão, 
essencialmente liberal (visto que afirma a liberdade de cada um para agir conforme 
sua disposição), poderia levar a uma curiosa consequência; se todos aqueles 
que dispõem de força de trabalho se recusassem a vendê-la, ou simplesmente 
preferissem organizar “seu próprio negócio”, não haveria quem trabalhasse nas 
fábricas, no comércio etc. 
44
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
Vender força de trabalho é a forma pela qual a maior parte das pessoas, 
em qualquer lugar do mundo, consegue recursos para satisfazer necessidades 
básicas como: alimentação, vestuário, moradia etc. É dessa constatação que 
surgem princípios como o da hipossuficiência do trabalhador, tido como elo 
mais fraco da relação laboral. Afinal, não se trata apenas de escolha, mas de 
necessidade. 
No entanto, há pessoas que pela natureza de sua atividade ou pelo modo 
como determinados serviços são organizados e reconhecidos na sociedade, ou 
por sua própria escolha, prestam serviços a outras pessoas (físicas ou jurídicas), 
mas preservam essa liberdade. Um advogado, por exemplo, presta serviço a uma 
empresa, mas pode fazê-lo de forma autônoma e sem subordinação a ordens de 
seu contratante. 
Há outras situações em que as pessoas realizam atividades que 
correspondem a uma necessidade esporádica de quem contrata. Uma faxineira 
contratada eventualmente para uma limpeza de escritório; um eletricista 
contratado para executar uma ligação de energia para uma máquina na fábrica, 
são exemplos desse tipo de situação. 
Esta questão, a diferença entre trabalho subordinado e trabalho não 
subordinado é a essência, da temática deste capítulo. Veremos que, apesar de 
antiga, é uma questão que permanece controvertida. A temática da subordinação 
traz como uma questão de fundo o contrato de trabalho e sua natureza. 
Analisaremos centralmente as condições ou os requisitos de formação do vínculo 
de emprego, partindo da distinção preliminar entre relações de trabalho e 
relações de emprego. 
O capítulo está dividido em cinco seções. A primeira é reservada à Distinção 
entre relações de trabalho e relações de emprego; na segunda o tema será o 
Contrato de Trabalho e sua natureza jurídica; na sequência analisaremos os 
critérios (ou requisitos) de caracterização da relação empregatícia; a partir 
disso poderemos então analisar a validade jurídica da relação de emprego: 
elementos jurídico-formais do contrato empregatício; concluindo com as 
características, classificação e condições dos contratos de trabalho. 
Neste capítulo, assim como no seguinte, trabalharemos com casos práticos, 
geralmente julgados de tribunais, que sirvam de exemplo para os estudos. 
 Vamos lá!
45
Relação de Trabalho X Relação de Emprego Capítulo 2 
Distinção Entre Relações de 
Trabalho e Relações de Emprego
Neste capítulo nossa preocupação será compreender a distinção entre 
relações de trabalho e relações de emprego, tendo como pano de fundo a 
diferença essencial entre trabalho subordinado e trabalho não subordinado. 
Para isso, começaremos analisando a situação das famílias Martini e 
Dallegrave e sua experiência de colheita de uva. A notícia mostra uma situação de 
trabalho envolvendo a solidariedade entre vizinhos e amigos e serve como ponto 
de partida da nossa análise para compreender o trabalho subordinado como 
elemento chave da relação de emprego. 
Leia a notícia a seguir: 
TEMPO DE COLHEITA
Familiares e vizinhos mantêm tradição antiga de se ajudarem 
uns aos outros durante a época da colheita da uva
PARCERIA Martini (E) e Dallegrave (D) se ajudam há 12 anos
O perfume que exala dos parreirais da Serra Gaúcha indica a 
quem transita pela região que o tempo de colheita já começou. E a 
cada ano, durante o verão, se renova uma tradição de longa data em 
diversas propriedades, a da ajuda mútua entre famílias de produtores 
para a retirada dos cachos de uva. Mesmo com os problemas 
enfrentados no campo, como a falta de sucessores na atividade rural, 
essa prática se mantém firme há décadas.
No interior de Caxias do Sul, as famílias Dallegrave e Martini 
são parceiras há 12 anos na colheita da uva. A cada safra, o trato se 
renova. Em um primeiro momento, Noeri Martini, sua esposa e o filho 
vão até a propriedade do vizinho Hamilto Dallegrave, em Caravaggio 
da Terceira Légua, para coletar a fruta. Posteriormente, Hamilto, sua 
esposa e o filho se dirigem até a propriedade dos Martini, em São 
Pedro da Terceira Légua, e fazem o mesmo processo.
46
 O DIREITO DO TRABALHO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO
– É difícil encontrar mão de obra. E também, dessa maneira, a 
gente mantém as famílias unidas. Quando um precisa do outro, a 
gente se ajuda – justifica Hamilto.
Para as duas famílias, o calendário acaba sendo um aliado. Em 
seus sete hectares de parreiras, os Dallegrave têm variedades que 
estão entre as primeiras a serem colhidas na safra, como Violeta e 
Isabel. Por dia, são tiradas 8 toneladas de uva. Sem o auxílio dos 
amigos, o volume cairia pela metade. Já os Martini privilegiam as 
uvas mais tardias, como Bordô e Niágara, em uma área de seis 
hectares. Assim, eles conseguem se organizar com facilidade para 
trabalharem juntos.
A maior agilidade na colheita e a economia financeira, decorrente 
da não contratação de funcionários, são alguns dos frutos resultantes 
da união. No entanto, um benefício acaba se sobressaindo sobre os 
demais: o fortalecimento da amizade.
– Trabalhando juntos, os dias passam mais rápido. Vamos contando 
piadas, falando besteira, conversando em meio aos parreirais. Às 
vezes também falamos assuntos sérios – revela Noeri Martini.
Fonte: Disponível em: <http://pioneiro.clicrbs.com.br/especiais-pio/
maisserra/23/central.html>. Acesso em: 19 abr. 2018.
a) Situação 1
Essa notícia, que para alguns pode até mesmo evocar lembranças familiares 
ou de infância, serve de ponto de partida para um questionamento: como 
podemos descrever a relação de trabalho estabelecida entre as famílias Martini e 
Dallegrave? Trata-se de uma relação de trabalho?
Efetivamente há trabalho envolvido, em sentido amplo podemos falar de uma 
relação de trabalho, talvez muito mais em sentido sociológico, como abordamos 
no primeiro capítulo. Se procurarmos um enquadramento jurídico para a história 
contada anteriormente não o encontraremos em lugar algum. Trata-se de uma 
relação de solidariedade entre pessoas que têm auxílio mútuo, não só um apoio 
de mão de obra, mas o estabelecimento de relações de amizade e convívio, e 
não há normatização jurídica para a amizade. A reiteração da prática corresponde 
a uma tradição, em termos civis não há qualquer laço de obrigação envolvendo 
as duas famílias, ou seja, há trabalho envolvido, mas não há criação de nenhum 
47
Relação de Trabalho X Relação de Emprego Capítulo 2 
tipo de liame jurídico entre as partes envolvidas. Podemos falar de um certo 
compromisso moral a ligar as famílias. Afinal, se meu vizinho me ajudou, eu 
considero justo ajudá-lo, mas não passa disso. 
b) Situação 2
Tente imaginar uma segunda situação: suponha que uma das famílias 
(ou ambas) decidam ampliar e modernizar seus parreirais, adotando um novo 
modelo de plantio das parreiras. Para esse modelo tomam conhecimento de 
um empreiteiro especializado nesse tipo de serviço, de uma cidade vizinha. A 
empreitada envolve a colocação de postes, esticamento de arames e todas as 
demais obras de suporte necessárias e todo material, que envolve um nível médio 
de tecnologia, é fornecido pelo próprio empreiteiro.

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