Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brasília-DF. AfAsiAs, AprAxiAs, DisArtriAs e ComuniCAção suplementAr e AlternAtivAs Elaboração Gisele Senhorini Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I ANATOMIA CÉREBRO VASCULAR ............................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 O CÉREBRO ........................................................................................................................... 10 UNIDADE II ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL .......................................................................................................... 15 CAPÍTULO 1 AFASIAS ................................................................................................................................. 19 CAPÍTULO 2 CLASSIFICAÇÃO DAS AFASIAS ................................................................................................ 26 CAPÍTULO 3 AS CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA PARA A DISCUSSÃO SOBRE A SEMIOLOGIA DAS AFASIAS .... 34 UNIDADE III DISARTRIA ............................................................................................................................................ 39 CAPÍTULO 1 CLASSIFICAÇÃO DAS DISARTRIAS ........................................................................................... 41 UNIDADE IV APRAXIA .............................................................................................................................................. 45 CAPÍTULO 1 AVALIAÇÃO DE APRAXIAS EM PACIENTES COM LESÃO CEREBROVASCULAR NO HEMISFÉRIO ESQUERDO ............................................................................................................................ 49 CAPÍTULO 2 APRAXIA DA FALA ADQUIRIDA E DESENVOLVIMENTAL: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ............... 56 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NAS APRAXIAS DA FALA ...................................................... 65 UNIDADE V COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E/OU ALTERNATIVA .............................................................................. 70 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO DA COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E ALTERNATIVA NA TERAPIA COM AFÁSICOS .. 87 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 92 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 7 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Esta disciplina possibilita a discussão e compreensão da relação entre Fonoaudiologia e Neurologia, uma vez que a atuação fonoaudiológica nessa área tem contribuído com grandes avanços e criado novas perspectivas de integração social para os indivíduos com comprometimento da linguagem em função dos distúrbios neurológicos. Objetivos » Favorecer ao aluno a aquisição de conhecimentos a respeito das alterações de linguagem em crianças e adultos decorrentes de distúrbios neurológicos. » Possibilitar ao aluno a compreensão e o levantamento do diagnóstico diferencial quanto às alterações da linguagem decorrentes das alterações do sistema nervoso. » Favorecer a correlação teórico-prática na execução do processo diagnóstico: instrumentos e critérios. Apresentação e discussão de diferentes abordagens terapêuticas utilizadas no atendimento de crianças e adultos com alterações de linguagem decorrentes dos distúrbios neurológicos. » Oferecer condições ao aluno para o entendimento do processo de (re) integração de crianças e adultos com lesões cerebrais e sequelas para linguagem. 9 UNIDADE IANATOMIA CÉREBRO VASCULAR O cérebro humano é o centro de comando para o sistema nervoso. Ele recebe a contribuição dos órgãos sensoriais e envia sinais para os músculos. O cérebro humano tem a mesma estrutura básica que outros cérebros de mamíferos, mas é maior em relação ao tamanho do corpo. Algumas mudanças genéticas ocorrerão durante o desenvolvimento do cérebro no decorrer da evolução dos homens e dos chimpanzés, por exemplo. Existem alguns genes que são mais expressos durante o desenvolvimento cerebral humano, o que mostra uma complexidade maior nos cérebros humanos já que se diferenciam mais. O oposto ocorre nos chimpanzés cujo cérebro se diferencia menos. Durante certa fase do desenvolvimento embrionário do homem, determinados genes são mais expressos em um hemisfério que em outro. Esses genes podem conferir diferenças evolutivas principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento da fala. Por exemplo, o gene LM04 é mais expresso no hemisfério direito que no esquerdo durante as 12-14 semanas do desenvolvimento embrionário, esse gene confere padrões corticais ao organismo.O gene FOXP2 está associado à fala e a déficits na fala, autismo e até dislexia, além disso, pode ser encontrado expresso em regiões corticais e subcorticais. O sistema nervoso dos seres humanos tornou-se especializado de tal forma que não há nenhum computador com capacidade de armazenar informações e desempenhar funções como ele. De fato, o que nos torna tão especiais são as sinapses, conexões estabelecidas entre um neurônio e outro, que nos permitem desenvolver uma rede neural por meio dos cem bilhões de neurônios que apresentamos de baixo de nossa calota craniana. 10 CAPÍTULO 1 O cérebro O cérebro é a maior e mais evidente estrutura do encéfalo, constituindo cerca de 80% da massa total deste. Está dividido em duas metades, os hemisférios cerebrais esquerdo e direito, interligados entre si pelo corpo caloso, situado na parte inferior da fissura inter-hemisférica. Cada hemisfério possui uma fina camada externa de substância cinzenta – o córtex cerebral, que contém os corpos celulares dos neurónios. Situada debaixo do córtex cerebral está uma abundante camada de substância branca, contendo feixes de axónios neuronais mielinizados, que lhe conferem a aparência branca. Os hemisférios cerebrais estão divididos em quatro lobos cerebrais: lobo frontal, temporal, parietal e occipital, cada um com funções específicas a desempenhar. Figura 1. Estruturas do cérebro. Corte coronal do cérebro evidenciando as substâncias cinzenta e branca. Fonte: <http://run.unl.pt/bitstream/10362/2505/1/Goncalves_2009.pdf>. Hemisférios cerebrais O cérebro compreende os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, e uma pequena linha mediana situada na porção anterior do III ventrículo. Os dois hemisférios cerebrais são incompletamente separados pela fissura longitudinal do cérebro, cujo o assoalho é formado por uma larga faixa de fibras comissurais, denominada corpo caloso, principal meio de união entre os dois hemisférios. Os hemisférios possuem cavidades, os ventrículos laterais direito e esquerdo, que se comunicam com o III ventrículo pelos forames interventriculares. 11 ANATOMIA CÉREBRO VASCULAR │ UNIDADE I Figura 2. Fonte: <http://www.auladeanatomia.com/neurologia/telencefalo.htm>. O hemisfério esquerdo seria o responsável pelas atividades racionais e analíticas como a linguagem, a escrita, a aritmética, o pensamento linear, a comunicação digital, os processos secundários da psicanálise etc. Por sua vez, o hemisfério direito estaria ocupado pelas atividades sensoriais, emocionais e globais, como a intuição, a síntese, a compreensão da linguagem, da música, dos sonhos, dos gestos inconscientes, pela comunicação analógica e pelos processos primários da psicanálise. Deste modo, o hemisfério esquerdo seria capaz de distinguir uma árvore de outra árvore, sem tentar ver o bosque, enquanto que o hemisfério direito veria o bosque, mas não cada uma das suas árvores (CAYROL; SAINT-PAUL, 1984). O hemisfério esquerdo seria como a formiga, que apenas vê todos os detalhes, um de cada vez, à medida que vai caminhando, enquanto que o hemisfério direito seria como a águia, que no seu voo observa todo o território num simples relance (WILLIAMS, 1984). Contudo, atualmente, os investigadores já tentaram superar esta teoria, incentivando a encontrar um modelo explicativo que, sem ser definitivo, sirva para explicar as novas descobertas. Segundo Williams (1986), o hemisfério esquerdo interessa-se primordialmente pelos componentes, processando a informação em sequencias, em série, seguindo um padrão temporal, descodificado por sinais acústicos (linguagem oral, matemática, noções musicais) e traduzindo-as em palavras depois de tê-las analisado. 12 UNIDADE I │ ANATOMIA CÉREBRO VASCULAR O hemisfério direito, por sua vez, estaria especializado no tratamento em simultâneo e analógico da informação. Estaria interessado primordialmente nos conjuntos e se dedicaria a integrar as partes para formar o todo. Investigaria as estruturas e as relações. Esse modo de tratamento da informação é especialmente eficaz para a maioria das tarefas visuais e espaciais, e também para o reconhecimento de melodias musicais. Resumindo, as funções associadas ao funcionamento do hemisfério direito, não estão necessariamente localizadas no respectivo hemisfério cerebral, mas antes, que representa certos tipos de processamento da informação que se acredita estar relacionados com o hemisfério direito. Provavelmente, as metáforas e as alegorias usadas em vários modelos terapêuticos são as técnicas mais eficazes, já que ativam o hemisfério direito, pois estão diretamente relacionadas com o próprio processo de aquisição de conhecimento. Num funcionamento mental “ótimo”, ambos os hemisférios deveriam atuar intercalados e em estreita colaboração. Anatomicamente, a conexão existe por meio do corpo caloso. O exemplo seguinte, citado também por Williams, nos mostra que não pensamos com um ou outro hemisfério cerebral, mas que ambos intervêm conjuntamente no processo cognitivo: “O engenheiro Charles Duryea levava já muito tempo a lutar com um problema que parecia não ter solução – encontrar um sistema eficaz para introduzir o combustível dentro do motor do automóvel. Certo dia, no ano de 1891, ele estava a observar a sua esposa sentada em frente ao espelho, no seu quarto, quando esta decidiu perfumar-se usando um frasco com pulverizador (bastante habituais na época), mas até esse exato momento ele não relacionara o frasco com pulverizador ao seu problema. Contudo agora, e de forma instantânea, soube como poderia construir um carburador de injeção...”. Nesse exemplo, a imaginação interior e a metáfora que consiste em ver os pontos de ligação que unem duas coisas muito diferentes, parece ser o mecanismo por meio do qual a consciência verbal (hemisfério esquerdo) adotou uma criação da consciência não verbal (hemisfério direito). Lobos cerebrais O cérebro humano possui quatro áreas, conhecidas como: lobo frontal, lobo parietal, lobo temporal e lobo occipital. O lobo frontal é assim chamado por localizar-se na parte frontal do crânio. Ele parece ser particularmente importante por ser responsável pelos movimentos voluntários e também por ser o lobo mais significante para o estudo da personalidade e inteligência. 13 ANATOMIA CÉREBRO VASCULAR │ UNIDADE I O lobo parietal está localizado na parte posterior do lobo frontal. Ele possui uma área denominada somatossensorial, responsável pela percepção de estímulos sensoriais que ocorrem através da epiderme ou órgãos internos. O lobo temporal possui uma área especial chamada córtex auditivo, como o próprio nome já diz, esta área está intimamente ligada à audição. Na parte de trás da cabeça, mais precisamente na região da nuca, localiza-se o lobo occipital. Nele encontra-se o córtex visual, que recebe todas as informações captadas pelos olhos; melhor dizendo, sua especialidade é a visão. Figura 3. Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/-feoPIlSmPBw/UQRMn8RWaZI/AAAAAAAAAU0/vxKrNLsX7Z0/s1600/Untitled-20_clip_image001.jpg>. Existem outras áreas dos lobos que não possuem especialização, estas são chamadas de córtex de associação. Além de elas serem conectadas a vários sentidos e movimentos, acredita-se que nelas também são processados nossos pensamentos e armazenadas nossas memórias. No córtex cerebral podem ser distinguidas diversas áreas, com limites e funções relativamente definidos. A diferença entre elas reside na espessura e composição das camadas celulares e na quantidade de fibras nervosas que chegam ou partem de cada uma. Embora o sistema nervoso seja um todo único, determinadas áreas cerebrais estão mais diretamente ligadas a certas funções. Assim, podem ser diferenciadas a área motora principal, a área sensitiva principal, centros encarregados da visão, audição, tato, olfato, gustação e assim por diante. Áreas corticais e suas funções As áreas de associação são conectadas com várias áreas sensoriais e motoras por fibrasde associação. 14 UNIDADE I │ ANATOMIA CÉREBRO VASCULAR As áreas de associação são importantes na manutenção de atividades mais elevadas no homem, ainda que não seja possível localizar qualquer faculdade mental específica ou fração da experiência consciente. Afasias ou defeitos na fala resultantes de lesões corticais ilustram a significância das áreas de associação. Em indivíduos destros elas são produzidas por lesões no hemisfério esquerdo (o hemisfério dominante). Figura 4. Áreas funcionais. 1. Áreas pré-frontais. 2. Área motora secundária. 3. Área motora primária. 4. Área somatossensorial primária. 5. Área somatossensorial secundária. 6. Área visual secundária. 7. Área visual primária. 8. Área de Wernicke. 9. Área auditiva secundária. 10. Área auditiva primária. 11. Área de broca. Fonte: <http://matadordeidiotas.blogspot.com.br/2011_12_01_archive.html>. Curiosidades: » A área da ciência que estuda o cérebro humano, a mente e o sistema nervoso é a Neurociência. » O hemisfério esquerdo do cérebro dos seres humanos é responsável pelo pensamento lógico e também pela comunicação verbal (fala). » O hemisfério direito é o responsável pela intuição, estabelecimento de analogias e comunicação não verbal. » Cada hemisfério do cérebro humano está relacionado a um conjunto de habilidades. Assim sendo, o lado esquerdo é o responsável pelas seguintes habilidades: leitura, uso da linguagem, seguimento de instruções, localização de fatos, identificação de símbolos e escrita à mão. Já o lado direito é o responsável pelas seguintes habilidades: matemática, canto, música, expressão artística, criatividade, emoções e sentimentos. 15 UNIDADE IIACIDENTE VASCULAR CEREBRAL O acidente vascular cerebral (AVC) é a mais frequente das doenças vasculares encefálicas. As doenças vasculares encefálicas são anormalidades do tecido encefálico decorrentes de algum processo patológico dos vasos sanguíneos encefálicos ou que neles ocorrem, por exemplo, lesão da parede do vaso, alteração da permeabilidade vascular, oclusão da luz vascular por trombo ou êmbolo, ruptura do vaso e alteração da viscosidade ou da qualidade do sangue. As doenças vasculares encefálicas constituem a terceira causa de morte em vários países desenvolvidos, só não sendo mais frequentes que doença cardíaca e câncer. No Brasil, o AVC é considerado, atualmente, a primeira causa de morte em adultos. A prevalência total de doenças vasculares encefálicas é estimada em 5 – os casos por 1.000 habitantes acima de 25 anos de idade. Cerca de 10% a 20% dos casos ocorrem em indivíduos com menos de 45 anos. O AVC é considerado a doença mais incapacitante. Esses dados mostram o grande impacto sobre a saúde populacional, além dos impactos social, econômico e psicológico. O acidente vascular cerebral (AVC) é um problema sério provocado por um distúrbio no fornecimento de sangue ao cérebro. Se o fornecimento de sangue for limitado ou interrompido, as células do cérebro começam a morrer, o que pode levar a lesões cerebrais e possivelmente à morte. Os AVCs são uma emergência médica que requer tratamento imediato, pois quanto mais depressa a pessoa receber tratamento, menor será a probabilidade de lesões. Existem dois tipos principais de AVCs: isquémico e hemorrágico. O AVC isquêmico é causado por um coágulo sanguíneo que impede o fornecimento de sangue. O AVC hemorrágico é causado pela ruptura dos vasos sanguíneos que fornecem sangue ao coração, provocando lesões cerebrais. 16 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Como ocorre o AVC? Figura 5. Fonte: <http://www.megaartigos.com.br/natureza/animais/doencas/avc-hemorragico-derrame-cerebral>. Também existe um problema relacionado que se chama ataque isquêmico transitório (AIT) e que ocorre com a interrupção temporária do fornecimento de sangue ao cérebro, provocando um mini AVC. Esses ataques devem ser levados muito a sério, porque, muitas vezes, são um alerta de que está para vir um AVC maior. Os AVCs podem ser tratados com uma combinação de cirurgia e medicamentos. Sintomas Os sintomas de um AVC são geralmente súbitos e podem incluir torpor ou fraqueza num dos lados do corpo, fraqueza na face, tonturas, dificuldade em caminhar ou entender os outros e dores de cabeça fortes. Os sintomas de um ataque isquêmico transitório são os mesmos de um AVC, mas duram entre alguns minutos a algumas horas, antes de desaparecerem por completo. No entanto, nunca deverá ignorar um ataque isquêmico transitório, pois é um sinal de alerta de que existem problemas com o fornecimento de sangue ao cérebro. Causas Os AVCs isquêmicos ocorrem com a formação de coágulos que bloqueiam o fluxo sanguíneo ao cérebro. Os coágulos sanguíneos geralmente se formam em áreas onde as artérias estão mais estreitas. 17 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II À medida que envelhecemos, as nossas artérias ficam mais estreitas, mas alguns fatores de risco podem acelerar perigosamente esse processo: fumar, tensão arterial alta (hipertensão), obesidade, uma alimentação rica em colesterol e diabetes. Os AVCs hemorrágicos ocorrem com a ruptura de um vaso sanguíneo no cérebro. A causa principal para este tipo de AVC é a tensão arterial alta, que pode enfraquecer as artérias no cérebro e torná-las susceptíveis a romperem. A tensão arterial alta pode ser causada pela obesidade, consumo elevado de álcool, fumar, falta de exercício e stress. O AVC hemorrágico também pode, por vezes, ocorrer como resultado de um traumatismo craniano. Tratamento O tratamento para o AVC dependerá da sua causa. Existem vários medicamentos que podem ser usados para reduzir as probabilidades de nova formação de coágulos sanguíneos. Também existem medicamentos para baixar a tensão arterial e o colesterol no sangue. Alguns AVCs isquêmicos são causados por um bloqueio na artéria carótida, que é a artéria principal no pescoço. Poderá ser necessária uma cirurgia para desbloquear a artéria. O cirurgião irá fazer uma incisão no pescoço para abrir a artéria carótida e retirar o bloqueio. Muitas vezes é necessária uma cirurgia de emergência para tratar os AVCs hemorrágicos para drenar o sangue do cérebro e reparar vasos sanguíneos que tenham rebentado. Normalmente, isto é feito por meio de um procedimento cirúrgico chamado craniotomia. Recuperação Os danos causados por um AVC podem ser vários e duradouros. Muitas pessoas precisam de um longo período de reabilitação antes de recuperarem a sua antiga independência. Poderá ter problemas com o discurso, a memória, a mobilidade, a coordenação e a execução de tarefas do dia a dia. Também são comuns sentimentos de depressão e ansiedade depois de um AVC. Poderá necessitar de aconselhamento e medicamentos que melhorem a forma como o paciente se sente. 18 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Figura 6. Fonte: <www.netterimages.com>. 19 CAPÍTULO 1 Afasias Antes de se definir afasia, deve-se entender o que acontece no cérebro, que é onde está localizado o centro da patologia. Em 1987, Hubel descreve a função cerebral como tendo um sinal de saída, o modo como o homem responde ao mundo exterior e influiu sobre ele. E entre o sinal de saída e entrada, há todo o resto: percepção, emoção, memória, pensamento e tudo o que torna o homem humano. Para Luria (1981), os processos mentais de percepção, memorização, gnosias, praxias, fala, pensamento, escrita, leitura e aritmética fazem parte de sistemas funcionais complexos, não podendo ser encarados como representando uma “faculdade”, função isolada de uma área particular do cérebro. Portanto, as funções mentais, como sistemas funcionais complexos não estão localizadas em zonas estritas do córtex, mas devem ser organizadas em sistemas de zonas, que podem estar em áreas do cérebro diferentes. Já para Oliveira e Amaral,(1998) a linguagem pode se der definida como a faculdade que possui o homem de comunicar-se com seus semelhantes, usando de sons articulados – as palavras – cujossignificados são convencionados. Pode-se diferenciar três aspectos de linguagem, que são: 1. Fonação: capacidade de formar os sons da voz, exercida pela laringe. 2. Articulação: faculdade de combinar os sons da voz, formando conjuntos organizados e delimitados, as palavras. É realizada pela laringe em conjunto com a faringe, a língua, o palato, os dentes e os lábios. 3. Fala: Pela qual os pensamentos são expressos, utilizando as palavras, cujos significados são definidos pelo uso social. A produção da fala envolve coordenação precisa da respiração, fonação, ressonância e articulação, integrada nos níveis bulbar, diencéfalo e cortical. O sistema de comunicação oral é prejudicado por lesões em diversos pontos do sistema nervoso. De acordo com a localização das lesões, distingue-se clinicamente as manifestações patológicas: disfonia (alteração da intensidade, qualidade, e timbre de voz); disartria (má articulação das palavras, se deve à dificuldade de realizar os movimentos musculares coordenados necessários à produção de vogais e consoantes); e disfasia (condição em que está comprometida a capacidade de expressão por meio da fala, embora possam 20 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL estar intactas a fonação e articulação); os afásicos podem ter problemas relacionados com a percepção da linguagem, com a sua expressão ou com ambas. Em relação à afasia, Mathias (l996) coloca que é um distúrbio de linguagem decorrente de afeções neurológicas como infartos, doenças degenerativas, ou lesões traumáticas. Para Mansur (1996), a afasia é uma perda ou alteração da linguagem decorrente de lesão cerebral. Definindo afasia, Joanette, Lafond e Lecours (1995), colocam que a afasia não pode ser considerada uma doença rara ou nova, e sim pouco conhecida. Ela se manifesta como consequência de um acidente vascular cerebral, um tumor cerebral ou um traumatismo craniano. Pode estar na origem de várias manifestações clínicas, e diz respeito à capacidade de comunicação das pessoas, ou seja, à sua linguagem. As características são: » dificuldades em compreender a linguagem dos outros, » encontrar o nome das coisas, » produzir sua própria linguagem, » organizar o conjunto dos comandos motores responsáveis pela boa articulação das palavras, » é, na verdade, o conjunto de perturbações da linguagem oral e/ou escrita que acompanha uma lesão cerebral. Segundo Coudry (1986), a afasia se caracteriza por alterações de processos linguísticos de significação de origem articulatória e discursiva (incluindo-se os aspectos gramaticais) produzidas por lesão cortical adquirida, podendo ou não se associarem a alterações de outros processos cognitivos. Já Luria (1981) coloca que muitas áreas diferentes do cérebro cooperam para formar os sistemas funcionais da linguagem receptiva e expressiva, e qualquer dano a uma dessas áreas afeta o sistema funcional na extensão na qual um sistema baseia-se, ou seja, a lesão terá ligação mais forte com determinada função, mas não deixa de ter relação com outras. Jakubovicz (1992) descreve que as afasias ocorrem em consequência de danos cerebrais e/ou acidentes encefálicos como as embolias, os infartos, as tromboses, os aneurismas, os tumores cerebrais e doenças degenerativas. Afasia e seu impacto social Nosso organismo é comandado por um sistema intricado de circuitos neurais, que conectam áreas sensoriais e motoras, capazes de armazenar, interpretar e emitir 21 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II respostas eficientes a qualquer estímulo. É capaz, ainda, de verificar se a resposta dada foi correta e se atingiu os objetivos propostos. É um sistema sensório – motor – sensório. Por isso, dois terços do córtex são ocupados por atividades sensitivas (lobo temporal, occipital e parietal) e as atividades motoras ocupam um espaço bem inferior (lobo frontal) (MURDOCH, 1997). O sistema nervoso coordena todas as atividades do organismo, integrando sensações a respostas motoras, adaptando-a as condições (internas e externas) vigentes no momento, permitindo melhores oportunidades de sobrevivência (MAC-KAY; ASSÊNCIO–FERREIRA; FERRI–FERREIRA, 2003). O córtex cerebral tem uma organização muito mais complexa, pois os impulsos sensoriais serão discriminados e reconhecidos, para então serem encaminhados para os sistemas motores para uma resposta, em geral, complexa e de alta especificidade, podendo ser consciente ou automática. Luria, em seus estudos didáticos, dividiu o cérebro em três unidades, pois segundo ele deve-se conceituar as funções mentais superiores como sistemas funcionais de composição extremamente complexos. A mais primitiva de todas as unidade é a I que regula a estimulação, ou em nível psicológico, o estado de consciência. A unidade II recebe, analisa e armazena informações já a unidade III é o executivo do cérebro e é responsável pelo controle e avaliação da ação. Embora cada unidade tenha uma função singular e específica, a cognição depende de uma colaboração íntima entre todas as três unidades. Muitas áreas corticais diferentes contribuem para o desempenho normal de sistemas funcionais, tais como os da linguagem expressiva e receptiva (LURIA, 1986). O autor citado refere-se ainda ao funcionamento de cada uma dessas áreas como uma cadeia dentro do sistema funcional. Dano a uma área cortical particular afeta sua habilidade de funcionar idealmente. A área afetada pode ser concebida como uma ligação fraca ou interrompida na cadeia do sistema funcional. Embora qualquer ligação danificada afete o sistema funcional, os efeitos variarão dependendo da ligação particular que foi afetada. Os hemisférios cerebrais são idênticos quando observados microscopicamente. Não são observadas diferenças anatômicas grosseiras entre o lado direito e o esquerdo. Entretanto, do ponto de vista funcional, eles são muito diferentes, existindo atividades nervosas superiores que são desenvolvidas unicamente por um dos lados. A superfície do córtex cerebral é conceituada como um mosaico de territórios distintos, cada um agindo com um “centro” para o controle de uma função mental particular (LURIA, 1986). O hemisfério esquerdo tem a tarefa de analisar a sequência dos estímulos (linguísticos e não linguísticos), enquanto o hemisfério direito é mais especializado na análise de 22 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL estímulos presentes ao mesmo tempo, e no processamento de palavras mais abstratas, e com maior índice de frequência no contexto do sujeito. Assim o hemisfério esquerdo é “especializado na fala e linguagem” (MURDOCH, 1997). Bressanim (1998) sinaliza que a linguagem do ser humano está relacionada de maneira intrínseca à sua natureza, interativa e dialógica. Não se sabe ainda quanto dessa “faculdade” é ou não inata, mas não há dúvidas de que a linguagem seja constitutiva das ações humanas, sejam elas verbais ou não verbais. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que a linguagem faz a história e a cultura, quando constitui os homens em “sujeitos” e os coloca em relação. Vygotsky trabalha com duas funções básicas da linguagem. A principal função é a de intercâmbio social: é para se comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de linguagem. Para que a comunicação com os outros indivíduos seja possível de forma mais sofisticada, é necessário que sejam utilizados signos compreensíveis por outras pessoas que traduzam ideias, sentimentos, vontades e pensamentos, de forma bastante precisa (OLIVEIRA, 1997). Ainda segundo Oliveira (1997) os processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem se unem, surgindo, então, o pensamento verbal e a linguagem racional, o ser humano passa a ter a possibilidade de um modo de funcionamento psicológico mais sofisticado, mediado pelo sistema simbólico da linguagem. A linguagem reproduz a realidade Aquele que fala faz renascer, pelo seu discurso, o acontecimento e a sua experiência do acontecimento. Aquele que ouve apreende primeiroo discurso e por meio desse discurso, o acontecimento reproduzido. Assim, a situação inerente ao exercício da linguagem, que é da troca e do diálogo, confere o ato de discurso dupla função: para o locutor representa a realidade; para o ouvinte recria a realidade. Isso faz da linguagem o próprio instrumento da comunicação intersubjetiva (BENVENISTE, 1995). A interação entre interlocutores é o princípio fundador da linguagem. Bakhtin considera não apenas que a linguagem é fundamental para a comunicação, mas que a interação dos interlocutores funda a linguagem. É impossível pensar no outro fora das relações que o ligam ao outro. “A vida é dialógica por natureza” (BAKHTIN apud BRAIT, 1997). A lesão cerebral que provoca a afasia, não raro, submete o sujeito a problemas de expressão e compreensão da linguagem; também compromete a relação do sujeito com seus interlocutores com a própria linguagem e com o mundo social (BRESSANIM, 1998). 23 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II A afasia caracteriza-se por alterações de linguagem, gestualidade e percepção decorrentes de lesão cortico-cerebral. A afasia pode afetar o sistema linguístico, em seus diferentes níveis e dimensões (fonético-fonológico, sintático, semântico e pragmático), e também pode afetar a relação desse sistema com parâmetros culturais partilhados por sujeitos pragmáticos (COUDRY; MAYRINK – SABINSON, 2003). O indivíduo afásico é posto diante de um problema que, não só diminui ou acaba com suas possibilidades de comunicação, frequentemente é acompanhado por outras incapacidades físicas e ainda problemas psicológicos, familiares e/ou sociais (PONZIO; LAFOND; DEGIOVANI; TUBERO; HORI, 1995). No sujeito afásico, o organismo busca mecanismos cerebrais na base da função reguladora da linguagem, em outras zonas fora do córtex e na interação com o mundo. É nessa atividade linguística que a fala externa e interna do sujeito se constrói, motivando o papel da linguagem na reorganização das funções corticais superiores e a emergência de possíveis processos alternativos de significação (COUDRY; MORATO, 1988). Para Luria (1986), a origem da função reguladora da linguagem é a capacidade que o indivíduo tem de se subordinar à linguagem do outro. Esta linguagem, que frequentemente é acompanhada de gestos indicadores, é a primeira etapa que traz consideráveis modificações para a organização da atividade psíquica do indivíduo. A linguagem é “um trabalho a muitas mãos, que se desenvolve na multiplicação de interlocutores, no diálogo, na contradição e, sobretudo, no contexto”. Como a linguagem do sujeito em questão é patológica, está, muitas vezes, bastante “desestabilizada” pela afasia, a reformulação, a readaptação, a reconstrução conjunta do dizer é sempre necessária, se diria indispensável, para a afirmação do sujeito, como tal, no mundo (FRANCHI, 1977). Após o dano cerebral, a qualidade de vida do sujeito cérebro-lesado será proporcional à intensidade do impacto da afasia. E isso dependerá, entre outras coisas, do grau de extensão e importância do comprometimento lesional da etiologia da afecção, das sequelas neurológicas e neurolinguísticas resultantes, das características do próprio sujeito e bem como da forma como ele e seus familiares ou amigos reagem a isso tudo (MORATO, 2001). A família é a célula originária da vida social É a sociedade natural onde o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. Ela é a comunidade na qual, desde a infância, se pode assimilar os 24 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL valores morais, a liberdade e o diálogo entre outros. A vida em família é a iniciação para a vida em sociedade (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1993). Nas diferentes fases da vida, à família é, de forma total ou parcial, o lugar de relações privilegiadas. Conforme o grau de autonomia ou criatividade do sujeito, os vínculos familiares são mais estreitos ou mais distantes. Quando ocorre uma crise importante na vida de um homem, de uma mulher, ou de um adolescente, os laços familiares fundamentais podem ser questionados em todas suas dimensões (PONZIO e col., 1995). O contexto familiar tem um papel fundamental na recuperação de um sujeito afásico, pois Santana (2001) relata que as trocas dialógicas estruturam a linguagem do sujeito atribuindo a ela forma, sentido e significado. Ao ouvir sua linguagem sendo estruturada, o sujeito aos poucos estrutura sua linguagem. E é na família que essas trocas dialógicas ocorrem com maior eficácia. Nesse sentido, a interação passa a ser a instância de significação por excelência. Estabelecer rotinas significativas de interação de linguagem e de diálogo faz com que o sujeito possa, aos poucos, assumir seu papel de interlocutor. Dessa forma, Koch (2003) acrescenta que é preciso pensar na linguagem humana como lugar de interação, de constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de sentidos, portanto, de coenunciação. Em outras palavras, é preciso encarar a linguagem não apenas como representação do mundo e do pensamento ou como instrumento de comunicação, mas sim, acima de tudo, como forma de interação social. A interlocução decorre, segundo Franchi (1977), de atos de linguagem que são constituídos pelas intenções do locutor; expectativa do ouvinte; compreensão por parte de ambos dos objetivos sociais imediatos da comunicação; identificação dos objetos em um mesmo universo de referências. Todo esse processo de significação ocorre dentro de um ato enunciativo. É por meio de práticas discursivas (ter um interlocutor privilegiado) que se propicia o acesso ao simbólico para um parceiro diádico que, por razões patológicas, acabou sendo excluído desse simbólico. E esse caminho só se faz dentro da linguagem, não mostrando-a, apontando-a, treinando-a, definindo-lhe as regras gramaticais, mas nos seus usos, que são sociais (e interacionais) por natureza (FREIRE, 1997). As interações não se dão fora de um contexto social e histórico mais amplo; na verdade, elas se tornam possíveis como acontecimentos singulares, no interior e nos limites de uma determinada formação social – o meio familiar, sofrendo as interferências, os controles e as seleções impostas por esta (SANTANA, 2001). Para Benveniste (1995) é na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito, ou seja, a subjetividade é a capacidade do locutor para propor-se como 25 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II sujeito. Assumir seu papel de sujeito na linguagem implica assumir um papel de falante, de interlocutor, e isso só pode ocorrer na interação. Góes (2000) diz que o sujeito não é passivo nem apenas ativo: é interativo. A autonomia do sujeito e a regulação de suas ações constroem-se sobre interações. Algumas dificuldades se fazem presente no meio familiar, impedindo-os de colaborar de forma efetiva, entre elas: a falta de conhecimento da afasia e suas manifestações e ainda a desorientação impossibilita a família de agir e reagir com o sujeito. Dessa forma, cabe ao meio terapêutico possibilitar esclarecimentos e orientações que promovam o bem-estar, a segurança e recursos para atividades eficazes nas relações interpessoais com o sujeito afásico. 26 CAPÍTULO 2 Classificação das afasias Na afasia o indivíduo não tem comando sobre a sua forma de exteriorização verbal. Os distúrbios de linguagem estão presentes em todos os tipos de afasia, em menor ou maior número. Para se entender melhor, destacarei em seguida uma das classificações de afasia mais recentes, compilada por Mac-Kay (1998), em seu estudo sobre distúrbios neurogênicos. Dentre os principais quadros de afasia têm-se: » Afasia de Broca: é decorrente de lesão na parte inferior da terceira circunvolução frontal do hemisfério esquerdo. É considerada uma afasia não fluente, não há linguagem expressiva, há presença de fala laboriosa e com significado, presença de agramatismo, pausas de grau variado, anomia, reconhecimento das incorreçõesda fala, melhor performance na leitura do que na escrita, problemas de compreensão em grau mais leve. » Afasia de Wernicke: é a afasia que tem como causa mais conhecida a lesão no córtex auditivo de associação, no giro superior do lobo temporal do hemisfério esquerdo. É uma afasia fluente, mas há déficit de compreensão. Há fala fluente com aparente gramaticalidade (melodia e ritmos adequados): jargonofasia, dificuldade em traduzir os pensamentos e palavras; problemas moderados de leitura e escrita. O paciente sente que há algo errado com sua fala, mas não tem certeza qual é o problema. » Afasia do tipo surdez pura a palavra: a causa mais conhecida é a lesão que desconecta o córtex auditivo primário, dos hemisférios direito e esquerdo, do córtex auditivo de associação, nesse caso a pessoa não compreende a fala do outro, mas pode traduzir seus pensamentos em palavras. » Afasia global: é a que tem como causa mais comum uma lesão extensa e lesão na substância branca periventricular frotoparietal. Os sinais mais comuns deste tipo de afasia são fala laboriosa, e não fluente, anomia, possível presença de dispraxia, dificuldades na compreensão. » Afasia de condução: é ocasionada por lesão que rompe os axônios que conecta a área Wernick com área de Broca. Se caracteriza pela dificuldade que o paciente apresenta em repetir palavras, principalmente as sem significado, embora haja compreensão e produção de fala e linguagem adequadas; a fala é fluente e com significado, há presença de parafasias; compreensão relativamente boa com preservação da leitura e escrita. 27 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II » Afasia transcortical motora: a causa deste tipo de afasia é a lesão na área cerebral anterior esquerda envolvendo a área motora suplementar. Os sinais são: fala espontânea reduzida com compreensão preservada; há bom prognóstico de recuperação da capacidade de repetir, de nomear e, do quadro geral da linguagem. » Afasia transcortical sensorial: este tipo de afasia é decorrente de lesão no setor do giro temporal médio e no giro angular, ou na substância branca subjacente. Os principais sinais são: afasia do tipo fluente, parafasias, ecolalia, compreensão auditiva comprometida, assim como a leitura e escrita também. » Afasia anômica: é causada por lesões no córtex temporal anterior esquerdo e tem como características: leitura e escrita preservadas, fala fluente, ausência de parafasias, boa repetição, boa compreensão auditiva e nomeação comprometida. A classificação das afasias é um tema controverso em Neurolinguística, havendo uma infinidade de tipologias, conforme se pode visualizar em Caplan (1987) e Jakubovicz e Meinberg (1992). Em termos gerais, tais classificações partem das propostas teóricas desenvolvidas para explicar o funcionamento neurocognitivo, de modo que os autores divergem não só quanto aos critérios empregados para classificar as afasias como também quanto ao número das síndromes consideradas (ou determinadas). Nesse quadro de reflexões, uma das classificações mais próximas da proposta interacional/discursiva é a de Luria. Na linha de Vygostsky, o autor vê a atividade neurocognitiva como determinada social e historicamente, por meio de um sistema de funções. Para Luria (LURIA, 1986; VIEIRA, 1992), o cérebro é constituído por funções restritas (de base orgânica e passíveis de localização) que possibilitam o desenvolvimento das funções complexas (desenvolvidas socialmente e não passíveis de localização). Nesse sentido, quando há uma lesão cerebral, ocorre o comprometimento de uma função restrita que poderá afetar uma (ou mais) função complexa. As funções restritas estão agrupadas em três categorias, quais sejam: 1. de regulação do tônus cortical; 2. de recebimento, processamento e armazenamento da informação; 3. de programação, regulação e controle do comportamento. 28 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Das funções complexas, são exemplos: a produção da fala, a nomeação, a repetição e a compreensão auditiva. A classificação das afasias por Luria provém da verificação dos sintomas afásicos nos dois planos funcionais (restrito e amplo) e da determinação da área lesada. Desse modo, aponta, em sua obra, seis tipos de afasia (eferente, sensorial, dinâmica, semântica, aferente e amnésica), descrevendo-as do seguinte modo: » Afasia motora eferente ou cinética: decorre de afecções nos setores inferiores da zona pré-motora do hemisfério esquerdo. Essa afasia acarreta alterações dos movimentos voluntários que, ao contrário dos movimentos automáticos, se originam em um impulso da vontade para realizá-los. A estrutura prosódica, nesse caso, está prejudicada, o sujeito não consegue repetir palavras ou mesmo denominar objetos. Essa afasia motora é considerada por Luria como correspondente à afasia de Broca. » Afasia sensorial: decorre de afecções que atingem os setores áudio-verbais do córtex, ou seja, a região póstero-superior da área temporal esquerda (área de Wernicke). Enquanto a afasia motora consiste em uma alteração da expressão, a afasia sensorial se centraliza no aspecto da compreensão dos sinais verbais. Nesse tipo de afasia, ocorre uma espécie de surdez verbal e uma perturbação da palavra espontânea, tanto na leitura quanto na escrita. “É uma condição na qual os pacientes falam, mas são incapazes de entender a linguagem falada” (LURIA, 1992, p. 169). Para Ballone (2001, p. 5) “A afasia sensorial costuma ser encontrada nos pacientes involutivos, tanto em casos de demência de Alzheimer, quanto nas demências vasculares”. » Afasia dinâmica: esta afasia é o resultado de lesões nos setores anteriores das zonas verbais do hemisfério esquerdo. Existe, por parte do sujeito, uma perda de iniciativa. Nas palavras de Luria (1986, p. 222): [...] estes enfermos não apresentam nenhuma dificuldade de articulação, repetem com facilidade palavras ou frases isoladas, não têm dificuldade para nomear objetos e série de objetos, não produzem fenômeno de preservação ou de emergência incontroladas de enlaces secundários, característicos dos pacientes com afecções da zona pré-frontal. A observação inicial pode não detectar neles nenhuma desordem verbal. No entanto, uma análise atenta mostra estas alterações em forma bem evidente, pois aparecem nos enfermos deste grupo no momento em que é necessário passar da simples repetição de 29 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II palavras, frases ou da designação de objetos à criação ativa, criativa, de esquemas da própria enunciação verbal. » Afasia semântica: decorre de afecções que atingem as zonas terciárias, parieto-têmporo-occiptais do hemisfério esquerdo e sua sistematologia, causando desorientação espacial, acalculia, apraxia de construção espacial, agnosia, e, do ponto de vista linguístico, alterações de percepção simultânea da oração composta. Nesse tipo de oração, o significado de cada termo depende das relações entre elas e o sentido se dá pela compreensão simultânea da estrutura lógico-gramatical. O paciente com lesão nessa região não consegue compreender essas relações, ainda que compreenda corretamente as palavras isoladas e as orações simples. Luria (1992, p. 169) afirma ter constatado que: “os pacientes de afasia semântica eram capazes de entender palavras isoladas, mas se perdiam quando deparados com termos que evocavam relações, como ‘o irmão do pai’ ou ‘o círculo sob o triângulo’”. » Afasia motora aferente ou cinestésica: decorre de afecções que atingem os setores pós-central da zona verbal. O que se nota nessa afasia é uma apraxia específica do aparelho verbal. O portador dessa afasia apresenta uma imprecisão dos movimentos, devido a uma perda da sensação para com estes movimentos. Contudo, encontrada a posição articulatória correta, o paciente consegue articular. » Afasia acústico-amnésica: os mecanismos fisiológicos que se encontram na base dessa alteração ainda não são bem conhecidos, mas parecemestar relacionados com lesões na área temporal esquerda. “A alteração básica desse tipo de afasia é a instabilidade de retenção das séries articulatórias” (LURIA, 1992, p. 103). Os enfermos podem reter ou a parte inicial da série verbal ou a sua parte final; como resultante disso, a comunicação percebida perde sua totalidade e sua compreensão se torna mais complexa com a aparição de novas dificuldades, dessa vez de ordem mnêmica (cf: GANDOLFO, 1994, p. 15). Luria abordou o caráter das diversas desordens da expressão e da compreensão da linguagem, que podem ser encontradas nas afasias. Esses distúrbios são muito diversos e não se encontram todos em um mesmo paciente. Na verdade, cada afasia tem uma série de sintomas que serão, no seu conjunto, característicos das alterações da linguagem do sujeito afásico. Além disso, cada caso real encontra dúvidas no encaixe tipológico. 30 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Freud neurologista: o estudo da afasia O ensaio de Freud sobre a afasia, de 1891, é um texto pouco conhecido e divulgado – mesmo à época de sua publicação – que marca uma ruptura teórica radical com o pensamento localizacionista hegemônico da neurologia no final do século XIX. Freud elabora um minucioso estudo crítico das teorias neurológicas vigentes, sobretudo as elaboradas por Meynert, Lichtheim, Grashey e Wernicke. Para revisar o conceito de afasia e propor uma nova concepção para o aparelho de linguagem, Freud parte dos pressupostos de Wernicke, que se apoia, por sua vez, em Meynert. Segundo Wernicke, existem no córtex cerebral áreas bem definidas cujas células nervosas contêm as imagens ou impressões essenciais para o processo de linguagem. As imagens são os resíduos de impressões que chegam ao cérebro por meio dos nervos visuais ou auditivos, que se originam das sensações de inervação ou das percepções de movimentos efetuados no ato de falar e que se agrupam no córtex na forma de centros. Os centros estão conectados entre si por feixes de fibras brancas (fibras de associação) havendo, entre eles, um território cortical sem função, os hiatos funcionais. Assim, uma representação está contida em uma célula cortical localizada em um determinado centro. Fora deles não há nenhum tipo de atividade representacional. Freud recusa todo esse raciocínio e formula um novo conceito para o aparelho de linguagem: uma região cortical contínua que compreende o espaço entre as terminações dos nervos óptico e acústico, das regiões dos nervos cranianos e alguns nervos periféricos no hemisfério esquerdo. Apoiado nos estudos de Hughlings Jackson (1881-87), Freud afirma que as excitações não cessam quando os processos mentais começam, ao contrário, tendem a continuar. O processo psíquico, portanto, é paralelo ao fisiológico, é dependente e concomitante. O correlato físico de uma ideia para Freud é algo dinâmico, começa em um ponto específico do córtex e se difunde por ele ao longo de certas vias, deixando atrás de si uma modificação que pode ser recordada. São as imagens mnêmicas ou os traços mnêmicos. Isso significa que cada vez que o mesmo estado cortical for suscitado o evento psíquico a que se relaciona aparecerá na forma de recordação. Assim, para Freud não se pode diferenciar o papel da percepção do papel da associação: “[...] são dois termos com os quais descrevemos diferentes aspectos de um mesmo processo” (FREUD, 1891/1973, p. 71). Trata-se de abstrações de um processo unitário e indissolúvel que parte de um único ponto e se difunde por todo o córtex: toda percepção implica em associação. É com a recusa de localizações separadas 31 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II para a percepção e associação que Freud refuta a diferenciação entre centros e vias da linguagem. Assim, não se sustenta mais diferenciar a afasia central da de condução: “[...] todas as afasias se originam da interrupção das associações, isto é, da condução” (FREUD, 1891/1973, p. 81). Mesmo a afasia decorrente de lesão em um centro é uma afasia por lesão de fibras associativas que se encontram em um ponto nodal desse centro. Freud rejeita a ideia de que diferentes funções da linguagem estão localizadas em diferentes centros. Para ele as aquisições posteriores ao desenvolvimento da língua materna (a fala) – a leitura, a escrita, outros idiomas, outros alfabetos, a taquigrafia – estão localizadas nos mesmos centros em que se localiza a língua materna sendo organizadas hierarquicamente sob a forma de superassociações. No caso de um aparelho de linguagem modificado pela afasia, Freud afirma que: “[...] jamais acontece que uma lesão orgânica provoque uma deterioração que afete a língua materna e não a língua adquirida posteriormente” (FREUD, 1891/1973, p. 75). A superassociação é danificada antes da aquisição primária, qualquer que seja a localização da lesão. Mais uma vez é à doutrina de Jackson que Freud recorre “[...] todos esses modos de reação representam instâncias de regressão funcional (desenvolução) de um aparelho sumamente organizado, e correspondem, portanto, a estados anteriores de seu desenvolvimento funcional. Isso significa que em todas as circunstâncias, um ordenamento de associações, que por ter sido adquirido posteriormente, pertence a um nível superior de funcionamento, se perderá, mesmo que os ordenamentos mais remotos e simples se mantenham” (FREUD, 1891/1973, p. 100). Assim, o aparelho de linguagem é um aparelho equipado para associações (FREUD, 1891/1973, p. 102), que vão além do território da linguagem. Mas o que significa isso? Freud mostra que a palavra é uma unidade funcional da linguagem, constituída por elementos auditivos, visuais e cinestésicos. Essa estrutura só se dá a conhecer por meio do estudo da patologia da linguagem que permite observar sua desintegração. A perda de qualquer um desses elementos é um importante indicador da localização da lesão. A palavra adquire significado por meio de sua associação com a ideia do objeto, ou pelo menos é isso o que ocorre, diz Freud, quando se consideram os substantivos. A ideia ou o conceito de objeto é também um outro complexo de associações integrado pelas mais diversas impressões visuais, auditivas, táteis, cinestésicas. A ideia de objeto é aberta, dificilmente propensa a fechar-se, enquanto o conceito de palavra é algo fechado, mas passível de extensão (Figura 7). 32 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Figura 7. Esquema da representação-de-palavra associado ao de representação-de-objeto. Fonte: Freud, 1891/1973. Freud afirma que a representação-de-palavra está conectada com sua parte sensorial – mediante suas impressões sonoras – com a representação-de-objeto, sendo então possível distinguir os transtornos da linguagem em duas classes. A primeira delas compreende a afasia verbal, em que estão perturbadas as associações entre os distintos elementos da representação-de-palavra. A segunda classe engloba a afasia assimbólica, em que está alterada a associação entre a representação-de-palavra e a representação-de-objeto. A patologia que apresenta problemas na relação entre a representação-de-objeto e sua ideia (objeto real no mundo físico percebido pelos processos perceptivos) – denominada de agnosia por Freud – decorre de extensas lesões corticais bilaterais e pode acarretar problemas de linguagem à medida que todos os estímulos para a linguagem surgem das associações com a representação-de-objeto, já que percepção e associação são faces de um único processo. Freud entende que esses casos configuram uma terceira classe de afasia, a afasia agnósica. A afasia agnósica, portanto, é causada por um efeito funcional remoto com ausência de lesão orgânica no aparelho de linguagem e as afasias verbal e assimbólica são manifestações de lesões no aparelho de linguagem. Freud afirma que se uma lesão particular não afeta todos os elementos de uma dada função da linguagem as atividades da porção intacta do tecido nervoso “compensarão a parte lesadae encobrirão o defeito” (FREUD, 1891/1973, p. 102). Esse modo dinâmico de conceber o funcionamento psíquico e neurofisiológico do cérebro, do nosso ponto de vista, tem um efeito importante no trabalho clínico com a linguagem. Ainda hoje, a correlação entre o ponto de vista funcional (dinâmico) e a localização da lesão não recebe a devida atenção (STENGEL, 1973, p. 9). Na conclusão de seu ensaio, Freud (1891, p. 117) chama a atenção para a supervalorização do aspecto topográfico: 33 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II Vejo com clareza que as considerações expostas nesse ensaio não podem senão deixar um sentimento de insatisfação na mente do leitor. Na tentativa de demolir uma teoria conveniente e atrativa das afasias, e uma vez conseguido, só pude colocar em seu lugar algo menos óbvio e menos completo. [...] A diluição de um tema científico começa por uma clara exposição dos problemas. Queria formular a essência de meus pontos de vista com poucas palavras. Os autores que têm escrito sobre a afasia e conheciam somente uma área cortical com uma relação especial com o transtorno da linguagem se viram obrigados pelo caráter incompleto de seu conhecimento a buscar uma explicação da diversidade dos transtornos de linguagem nas peculiaridades funcionais do aparelho de linguagem. Depois que Wernicke descobriu a relação entre a área que leva seu nome e a afasia sensorial, teria que surgir a esperança de poder compreender plenamente esta variedade a partir das circunstâncias da localização. Mas nos parece que o significado que o fato da localização tem para a afasia tem sido superestimado e que faríamos bem em preocupar-nos com os estados funcionais do aparelho de linguagem. 34 CAPÍTULO 3 As contribuições da linguística para a discussão sobre a semiologia das afasias A Linguística inicia a discussão sobre a semiologia das afasias apenas na metade do século XX, com Jakobson (1954), e vem se solidificando como uma área que muito pode contribuir para o avanço das teorias que se debruçam não só sobre o estudo das afasias, mas de qualquer fenômeno que relacione a linguagem aos demais processos cognitivos. A complexidade desses processos e de suas inter-relações só pode ser melhor compreendida numa perspectiva multidisciplinar e a Neurolinguística, disciplina híbrida, busca explicações que sejam compatíveis entre um modelo de cérebro dinâmico, flexível, como propõe a abordagem luriana, e uma concepção de linguagem também dinâmica, como atividade constitutiva dos sujeitos e da própria língua, como a que é defendida pela ND. Inaugurando a entrada da Linguística nas afasias, Jakobson (1954) ressalta a importância dessa disciplina para uma adequada descrição e melhor compreensão dos fenômenos. Ele, de fato, convoca os linguistas a participarem de tal empreitada, em seu texto “Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia”. Foi o primeiro a realizar uma análise dos distúrbios afásicos utilizando critérios puramente linguísticos. Os neurologistas e neuropsicólogos acreditavam que a afasia era um “problema de língua”. Jakobson rompeu com essa concepção, que havia marcado os estudos até então, e assumiu o ponto de vista de que só se pode entender a linguagem “em funcionamento” e compreendendo as suas distintas funções. A classificação das afasias, segundo Jakobson, pode ser estabelecida em relação aos dois “eixos” de organização da linguagem: o paradigmático e o sintagmático. O primeiro estaria relacionado às dificuldades do afásico em selecionar unidades dentre uma lista de elementos – também concebido como eixo metafórico – e o segundo relacionado às dificuldades com as combinações dos elementos previamente selecionados – ou eixo metonímico. Jakobson (1954) propõe, de acordo com as dificuldades mais acentuadas dos afásicos com a seleção ou com a combinação, dois tipos de afasias cujas formas puras poderiam ser descritas como polares: a jargonafasia e o agramatismo. Em outras palavras, as afasias causariam uma ruptura em um dos dois eixos e a bipolaridade – característica da linguagem normal – em que seleção e combinação estão intimamente vinculadas, passaria a ser unipolar nos afásicos (FEDOSSE, 2008). O autor salienta que, embora 35 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II suas colocações sejam relativas aos casos puros, prevê a possibilidade de diferentes graus em que esses processos estariam comprometidos, o que permitiria explicar as várias formas possíveis de afasia. A contribuição de Jakobson marca um lugar diferenciado para as afasias no campo dos estudos da linguagem. Em 1954, no artigo “Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia”, ele faz avançar seu pensamento, ampliando “as noções de paradigma e sintagma no sentido de apreender a sistematicidade que subjaz tanto o sistema em dissolução no discurso do afásico como seu “estado nascente” na fala infantil. Jakobson representa um marco no que diz respeito à ressignificação das manifestações afásicas, pensando na linguagem enquanto instância simbólica e não apenas cerebral; o cérebro passa a ser visto como condição de possibilidade para o funcionamento simbólico. Conferindo à linguagem uma ordem própria. Manifestações das alterações de linguagem Os distúrbios de linguagem vão acontecer em menor ou maior grau nas afasias, dependendo das lesões ocorridas, é claro. Em relação à linguagem, Joanette, Lafond e Lecours (1995) dividem os problemas apresentados em quatro áreas. Colocam que na maior parte dos casos a linguagem expressiva está comprometida, o afásico muitas vezes tem dificuldades de encontrar palavras, tem dificuldade na combinação dos movimentos articulatórios para produzir os sons da língua, dificuldades em combinar palavras, palavras em frases e assim por diante. Em alguns casos, os problemas de expressão são tão grandes que a fala parece apenas um jargão incompreensível. Já a compreensão da linguagem oral corresponde à capacidade de um indivíduo de compreender a mensagem linguística dos sons da linguagem que chegam até ele, esta capacidade está perturbada em alguns tipos de afasia. Não compreende, embora não tenha dificuldade de ouvir, tem dificuldade de fazer a representação acústica das palavras, aquilo a que elas se referem. A expressão escrita é menos sentida que a oral, mas, em geral, o desempenho em relação à capacidade que possuía antes da doença, é pior. Em alguns casos o problema de expressão escrita pode se manifestar de maneira isolada. Pode-se encontrar também problemas de compreensão escrita. Muitas vezes as perdas da comunicação da linguagem faz com que suscite no afásico sentimentos de isolamento, solidão, tristeza, frustração, desespero e angústia. Segundo 36 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Mansur (1996), as alterações de linguagem podem ser classificadas levando-se em conta a fluência, a compreensão e a emissão. A afasia admite vários níveis de desorganização da linguagem, como fonológico, lexical, morfosintático e discursivo, nas diferentes modalidades de entrada: visual, auditiva, de expressão oral e gráfica. Jakubovicz (1992) completa discorrendo sobre diferentes características observadas na linguagem do afásico: » mutismo; » afemia (incapacidade de produzir sons); » bradilalia (lentidão no ritmo da fala e atenuação da prosódia); » logorreia (ritmo de fala mais acentuado); » ecolalia (repetição sistemática de um recorte de fala); » agramatismos (redução do vocabulário, desorganização da estrutura sintática); » perseveração de tema ou palavra; » anomia (inabilidade para nomear objetos); » estereotipias (segmentos linguísticos constituídos de apenas alguns fonemas, ou algumas palavras de uma locução, automaticamente repetidas todas as vezes que tenta se comunicar oralmente); » jargão (produção verbal sem identificação precisa); » parafasias (emissão de uma palavra por outra quando não existem problema muscular orofacial); » apraxias (inabilidadepara executar movimentos orofaciais voluntariamente, quando os músculos da laringe, faringe, língua e lábios estão funcionando adequadamente); » disartrias (lentidão, fraqueza e descoordenação da musculatura da fala); » anartria (dificuldade de executar os movimentos da escrita, desorganização sintático-semântica da linguagem expressiva escrita); » alexia (distúrbio máximo de leitura devido a lesão cerebral). A Neurolinguística Discursiva inclui nas análises das afasias justamente o sujeito e valoriza os dados singulares (ABAURRE, 1996), que permitem visualizar o processo e 37 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL │ UNIDADE II como o sujeito se move na língua, como trabalha sobre os seus recursos para produzir a linguagem, uma atividade heterogênea e multifacetada. Ou seja, o modo como o sujeito lida com seus déficits é singular. Por isso, podemos encontrar sujeitos com uma mesma lesão e com características linguísticas diferentes. Partindo de um pressuposto luriano de que as práticas sociais organizam o funcionamento cognitivo, podemos entender as variáveis encontradas entre os casos, o que ajuda também a compreender as dificuldades para agrupar os sujeitos e seus sintomas em categorias estanques. A partir do momento em que se olha mais para o sujeito afásico e menos para sua afasia, questionamos o excessivo peso que as classificações têm no contexto terapêutico. Capturada pelo discurso da afasiologia, a Fonoaudiologia também construiu um modo de realizar a clínica com os afásicos da relação causal cérebro/linguagem. Na clínica o terapeuta assume o papel um lugar de saber, suposto a ele pelo paciente, o que de certo modo é constitutivo de qualquer ato clínico. Porém, nesse caso, o terapeuta acredita nessa posição baseado também na firme crença do saber constituído em sua formação profissional e na experiência profissional acumulada. O ajustamento da fala do paciente será feito em relação ao padrão de normalidade, seja em relação a um padrão descritivo gramatical, seja pela ilusão de que a escuta do terapeuta é suficiente para dirigir os atos clínicos. Na clínica fonoaudiológica, ao se conceber a linguagem como um trabalho constitutivo dos sujeitos, busca-se (re)inserir o sujeito, agora afásico, em rotinas significativas para ele, aproximando-o das suas atividades cotidianas anteriores à lesão cerebral. Nessa perspectiva, o terapeuta deve ser um interlocutor privilegiado, que conhece os processos linguísticos do afásico e é capaz de propor estratégias terapêuticas que visam à (re) inserção do sujeito na linguagem. Essa (re)inserção é realizada por meio de propostas de práticas de oralidade, leitura e escrita que têm relação com as práticas sociais do sujeito. Para a Neurolinguística Enunciativo-Discursiva, a fala é multimodal, de maneira que os aportes não verbais que viabilizam a interação linguística também são considerados no processo terapêutico. Tais aportes ampliam as possibilidades de significação do sujeito afásico e viabilizam a re(inserção) do sujeito na posição gerenciadora e ideológica da fala. Assim, a oralidade e a escrita são vistas como práticas sociais interdependentes, os gestos (gesticulação facial e corporal, pantomima e emblemáticos) como componentes de uma mesma matriz com a fala e o desenho assume função simbólica representativa do conteúdo verbal, social ou de cunho ideológico. Nessa ótica, o trabalho com a linguagem a partir da abordagem histórico-social, considera o meio social enquanto um fator que, apesar de exterior ao cérebro, participa do funcionamento cognitivo, interferindo no funcionamento cerebral. Isto porque a linguagem 38 UNIDADE II │ ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL [...] integra o seu funcionamento, na dimensão contextual e social em que os homens, por ela, atuam sobre os outros, na dimensão subjetiva em que, por ela, os homens se constituem como sujeito, na dimensão cognitiva em que, por ela, os homens atuam sobre o mundo estruturando a realidade. Nessa perspectiva, autores apontam a importância de se considerar as práticas de letramento que o sujeito é inserido desde antes de tornar-se afásico. O letramento é definido como um conjunto de práticas cotidianas que usam a escrita enquanto sistema simbólico e tecnológico, em contextos específicos (eventos de letramento), correspondentes a gêneros linguísticos marcados por objetivos socialmente determinados. Pressupõe-se que o envolvimento em diferentes práticas de letramento possa favorecer as associações cognitivas que viabilizam uma tomada de consciência do sujeito acerca dos processos linguísticos envolvidos em diversas situações sociais. Deve-se observar, contudo, que o processo de letramento não se dá somente pelo uso da palavra escrita, mas também por meio de práticas de linguagem multissemióticas, envolvendo gráficos, ilustrações, imagens, cores, sons, entre outros. Nesse ponto, convém esclarecer que o termo letramento surge para explicar o impacto da escrita em todas as esferas das atividades humanas, na sociedade grafocêntrica atual. Ou seja, o letramento não está vinculado apenas a atividades escolares, pois é um conceito que se refere aos usos da linguagem escrita em todos os espaços sociais. Dessa maneira, com relação à escrita, a perspectiva do letramento ultrapassa a questão do ato de ler e escrever símbolos gráficos, codificar e decodificar, refere-se ao uso que cada sujeito faz da leitura e da escrita, socialmente. Trabalhar a linguagem escrita do afásico a partir da perspectiva do letramento permite ao terapeuta deixar de ver a escrita como uma atividade que se constitui individualmente para analisá-la enquanto uma atividade social, que, ao mesmo tempo, evidencia a singularidade do sujeito. Por isso, o trabalho terapêutico com a escrita precisa envolver gêneros discursivos diversos que dependem de diferentes contextos de produção, tais como: cartas, artigos jornalísticos, palavras cruzadas, agendas, listas de compras, mensagens de redes sociais, e-mails, dentre outros. Nas palavras de Jakobson, é preciso que a linguagem seja trabalhada “em funcionando”, pois é por meio do discurso, da posição do sujeito enquanto enunciador de um dado texto, que a linguagem pode se reorganizar em todos os seus níveis. Assim, a prática terapêutica, a partir da produção de diferentes gêneros discursivos é fundamental para a (re)inserção do sujeito nas atividades de leitura e escrita. 39 UNIDADE IIIDISARTRIA Etimológicamente o termo disartria se deriva do grego dys = defeito e arthon = articulação. Assim, podemos definir disartria como uma alteração da articulação própria de lesões no Sistema Nervoso Central (SNC), assim como as enfermidades dos nervos e dos músculos da língua, faringe e laringe, responsáveis pela fala. Por tanto, a disartria é uma dificuldade da expressão da expressão oral da linguagem devido a transtornos do tônus e do movimentos dos músculos fonatórios, secundários a lesões do SNC. Na disartria não existe transtorno no âmbito linguístico, somente afeta o componente motor que repercute na articulação do sujeito. A disartria é uma alteração da fala de etiologia neurogênica, ou seja, não compreende patologias da fala associadas aos defeitos estruturais somáticos ou psicológicos. A disartria pode afetar tanto os movimentos voluntários, coordenados pelo sistema nervoso piramidal, como os involuntários, coordenado pelo sistema extrapiramidal. O mecanismo da fala engloba, basicamente, articulação, fonação, respiração, ressonância e prosódia. Estes processos são encontrados no trato vocal, sendo a prosódia o resultado harmônico de todos os mecanismos envolvidos, que necessitam de uma ação muscular para o seu perfeito funcionamento. O tipo de disartria resulta do transtorno neuromuscular e depende do local em que ocorreu a lesão. Devido a esse fato, o mecanismo da fala pode ser alterado em menor ou maior grau, atingindo diferentes músculos orofaciais, gerando tipos específicos de disartria. Portanto,os sistemas neuromusculares danificados originam um tipo de disartria que pode afetar o neurônio motor inferior (disartria do tipo flácida), neurônio motor superior (disartria espástica), cerebelo (disartria atáxica), sistema piramidal ou sistema extrapiramidal. A disartria pode ser definida como uma alteração na expressão oral causada por um acometimento no controle muscular dos mecanismos da fala, em decorrência de uma lesão no Sistema Nervoso Central (SNC) ou Periférico (SNP). Nas disartrias, há a diminuição ou perda da faculdade de unir os sons, o que acarreta na emissão imprecisa de sílabas. 40 UNIDADE III │ DISARTRIA A disartria é uma alteração da fala de etiologia neurogênica, ou seja, não compreende patologias da fala associadas aos defeitos estruturais somáticos ou psicológicos. A disartria pode afetar tanto os movimentos voluntários, coordenados pelo sistema nervoso piramidal, como os involuntários, coordenados pelo sistema extrapiramidal. O mecanismo da fala engloba, basicamente, articulação, fonação, respiração, ressonância e prosódia. Esses processos são encontrados no trato vocal, sendo a prosódia o resultado harmônico de todos os mecanismos envolvidos, que necessitam de uma ação muscular para o seu perfeito funcionamento. O tipo de disartria resulta do transtorno neuromuscular e depende do local em que ocorreu a lesão. Devido a esse fato, o mecanismo da fala pode ser alterado em menor ou maior grau, atingindo diferentes músculos orofaciais, gerando tipos específicos de disartria. Portanto, os sistemas neuromusculares danificados originam um tipo de disartria que pode afetar o neurônio motor inferior (disartria do tipo flácida), neurônio motor superior (disartria espástica), cerebelo (disartria atáxica), sistema piramidal ou sistema extrapiramidal. 41 CAPÍTULO 1 Classificação das disartrias A disartria é um distúrbio de fala, resultante de alterações no controle muscular dos mecanismos envolvidos em sua produção, originado por uma lesão do Sistema Nervoso Central ou Periférico que acarreta em alterações na emissão oral, devido a uma paralisia, fraqueza ou falta de coordenação dos músculos da fala. Uma disartria pode ser secundária a uma tumoração do cérebro, cerebelo ou tronco encefálico, a doenças infecciosas, metabólicas, tóxicas ou degenerativas do sistema nervoso ou do sistema muscular. Geralmente, é uma sequela comum de lesões cerebrais não progressivas, consequentes de uma lesão vascular cerebral ou de um traumatismo cranioencefálico, bem como de doenças progressivas neuromusculares ou que atingem o Sistema Extrapiramidal. Existem vários tipos de disartria, de acordo com o local da lesão: disartria flácida, disartria espástica, disartria do neurônio motor superior unilateral, disartria hipocinética, disartria hipercinética, disartria atáxica e disartria mista. Cada um desses tipos apresenta características peculiares que envolvem o desempenho anormal das estruturas pulmonares, laríngeas, faríngeas e da cavidade oral, que agrupadas, correspondem às bases fonoarticulatórias responsáveis pela produção de uma fala inteligível. Alterações nessas bases são suficientes para causar uma alteração na inteligibilidade de fala ininteligível do sujeito. Sabe-se que o processo fonoarticulatório em pacientes com disartria tende a ser prejudicado e, apesar da variação dos quadros, é comum encontrar em quase todos os pacientes disártricos: diminuição da velocidade da fala, imprecisão articulatória, fala lenta e irregular, monoaltura e monointensidade. Em nosso meio, o número de publicações sobre o assunto ainda é reduzido e não foram encontrados artigos que apresentassem o perfil populacional de pacientes disártricos, especialmente em relação às cinco bases motoras da fala. Inúmeras são as doenças neurológicas que podem causar a disartria. No entanto, considerando-se a gama de possibilidades, algumas doenças são mais comuns do que outras, podendo, dessa forma, causar disartrias que sejam mais prevalentes em uma determinada população. Disartria flácida Os neurônios fazem uma conexão entre o SNC e as fibras do músculo esquelético ativando-o. Dos corpos celulares localizados no corno anterior da medula espinhal e 42 UNIDADE III │ DISARTRIA nos núcleos motores dos nervos cranianos do tronco cerebral, os axônios dos neurônios motores inferiores passam pelos vários nervos espinhais e cranianos motores para o SNP e, daí, aos músculos voluntários. O segundo neurônio motor ou periférico representa a via final da motricidade e é, portanto, um agente executor efetor. A lesão em alguma extensão da unidade motora implica na alteração da motricidade voluntária, causando diminuição do alongamento muscular e flacidez dos músculos. Quando o neurônio motor inferior não transmite os impulsos nervosos necessários para a manutenção da adequação do tônus, a principal característica gerada desta alteração é a hipotonia. As características clínicas da disartria flácida são: hipernasalidade associada a escape aéreo nasal, voz suspirada, inspiração audível, pobre abertura labial, excesso de saliva, dificuldade quanto aos movimentos alternantes da língua, redução do tempo de fonação, pobreza de inteligibilidade, respiração curta, dificuldade na emissão de tons altos, voz baixa e dificuldade na emissão de fonemas fricativos e plosivos. Disartria espástica Os neurônios motores superiores transmitem impulsos nervosos das áreas motoras do córtex cerebral do giro pré-central ou pré-motor do córtex aos neurônios motores inferiores e encontram-se localizados no cérebro, tronco encefálico e medula espinhal. Lesões nesse neurônio ocasionam debilidade e espasticidade contralateral do córtex lesionado (giro pré-central do córtex), sendo evidente a alteração motora nos músculos distais das extremidades da língua e dos lábios, podendo ser uni ou bilateral. A lesão unilateral está localizada em cada córtex motor ou cápsula interna, sendo manifestada alteração nos lábios e parte inferior do rosto. Entretanto, a disartria espástica persistente ou bilateral é causada por uma interrupção bilateral dos neurônios motores superiores que inervam os músculos dos nervos cranianos bulbares. Os principais sintomas de uma disfunção muscular são: espasticidade, fraqueza muscular, limitação e lentidão de movimentos. O distúrbio da fala afeta alguns fonemas, embora as sentenças produzidas sejam gramaticalmente corretas e a compreensão também seja normal. Os fonemas bilabiais, linguodentais e fricativos apresentam-se mais distorcidos do que os outros. É importante mencionar a existência de descontrole da respiração devido à incapacidade de vedação velofaríngea, dificuldade de protrusão de língua, de levantar o véu palatal e controlar os movimentos dos lábios, ausência de diferenciação entre sons surdos e sonoros, voz 43 DISARTRIA │ UNIDADE III rouca e baixa, frases curtas, ausência de controle fonorrespiratório, distorção de vogais e hipernasalidade. Disartria atáxica O estudo das lesões cerebelares e de seus efeitos permite findar que o cerebelo regula a força, a velocidade, a duração e a direção dos movimentos originados em outros sistemas motores. Lesões no cerebelo ou em suas conexões levam a ataxia, em que os movimentos se tornam descoordenados. Se esta ataxia afetar os músculos do mecanismo da fala, a sua produção se torna alterada. O cerebelo está anatomicamente localizado na porção posterior do tronco cerebral, onde ocupa a maior parte da fossa craniana posterior. Esse órgão é separado dos lobos occipital e temporal do cérebro pelo tentório cerebelar. Os músculos afetados se tornam hipotônicos, e os movimentos lentos com alteração na força, extensão, duração e direção. Há o predomínio de monotonia, interrupções e, às vezes, nasalidade e presença de lentidão na leitura e prosódia. A fala de pacientes com este tipo de disartria é denominada de escandida ou “scanning speech”, caracterizada por pausas depois de cada
Compartilhar