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Cárie dentária

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A história da cárie 
Resumo Esse artigo visa traçar um breve histórico da evolução do conceito de cárie e do modo de prevenção. Para essa pesquisa foram analisados os artigos publicadas no jornal Diário da Noite em 1958 que noticiavam a preocupante situação da saúde bucal dos brasileiros.
Essa pesquisa se justifica pela importância de divulgar o esforço da ciência para combater a cárie.
Para a realização desse trabalho foram selecionadas as matérias publicadas no Diário da Noite em 1958 e uma referência bibliográfica sobre o tema.
 Palavras- chaves : Cárie, saúde bucal, Diário da Noite
Abstract This article aims to trace a brief history of the evolution of the concept of caries and the mode of prevention. For this research, the articles published in the daily newspaper Diário da Noite in 1958 that reported the worrying situation of the oral health of Brazilians were analyzed.
This research is justified by the importance of publicizing the effort of science to combat caries.
In order to carry out this work, the articles published in the Diário da Noite in 1958 and a bibliographic reference on the subject were selected.
Key words: Caries, oral health, Diário da Noite
1
Introdução 
O objetivo dessa pesquisa é fazer um conciso histórico do avanço no estudo sobre cárie. Para alcançar esse objetivo foram selecionadas pesquisas que definiam a cárie e trazia a evolução dos fatores causadores da cárie e dos modos de prevenção. Como fonte foram escolhidas as matérias publicadas no Diário da Noite em 1958.
A medicina social surgiu entre o final século XVIII e o começo do século XIX, a partir dos movimentos revolucionários e reformadores europeus que modificaram profundamente as ideias sobre direitos; liberdades e responsabilidades e cidadãos. 
No início do século XVIII surge o positivismo, corrente filosófica surgida na França que prega o conhecimento científico como a única forma de conhecimento verdadeiro, com neutralidade científica e um olhar puramente biológica para a medicina, desconsiderando os fatores sociais, culturais e econômicos.
Nesse contexto nasce a Teoria Unicausal da Doença, na qual somente os microrganismos seriam a única causa das doenças, logo a ciência deve descobrir novos agentes patogênicos e como combate-los.
No século XX, a explicação unicausal, a euforia e a profundidade da prática médica não satisfaziam os cientistas na busca da determinação das causas das doenças. Assim, passa a considerar que as doenças dependem de outros fatores além dos agentes infeciosos.
Na década de 1920, a teoria da “Balança de Gordon”, apesar de dar pouca importância aos fatores ambientais, foi a pioneira teoria a considerar a tríade “ agente-hospedeiro-meio-ambiente”.
Na década de 1960, nascem duas linhas de pensamento: a “rede de causalidade”, um modelo cientifico que assumia de uma forma positivista que existia uma relação entre os fatores envolvidos na doença; outra linha de pensamento nascida na época foi a história natural da doença, um modelo mais complexo que a “rede de causalidade”, fundamentada no equilíbrio da tríade homem- hospedeiro – meio em um sistema fechado.
Também na década de 1960, a odontologia deixa para trás um caráter artesanal para assumir um viés científico. Assim surgiu uma visão científica sobre a odontologia e consequentemente diversas pesquisas se iniciaram.
Entre as pesquisas na área da odontologia, um dos temas mais recorrentes é a cárie, a doença bucal mais comum, essas pesquisas atualizaram a definição de cárie, quais são os fatores responsáveis e quais os modos de prevenção.
No Brasil, a cárie é o problema de saúde bucal mais importante e frequente, logo é a doença bucal mais estudada, mas ainda falta estudos em adolescentes, justamente a faixa etária mais afetada pela cárie.
A cárie dentária representa o problema de saúde bucal mais importante e prevalente no Brasil, sendo considerado um problema de saúde pública . Na adolescência, a prevalência de cárie atinge o dobro dos valores registrados para a idade-índice de 12 anos , e entre adultos e idosos produz perdas dentárias em magnitude expressiva, levando milhões de brasileiros à mutilação e ao edentulismo parcial ou total.[footnoteRef:1] [1: SILVEIRA, Marise Fagundes. Cárie dentária e fatores associados entre adolescentes no norte do estado de Minas Gerais, Brasil: uma análise hierarquizada. In Ciênc. saúde coletiva [online], vol.20, n.11, pp.3352 , dez .2014 . Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152011.122620142015. Acesso em : 11 fev. 2021.] 
Definindo a cárie 
O pesquisador Paulo Capel Narvai define a cárie como
... uma doença infecciosa e transmissível que acompanha a humanidade desde tempos imemoriais. Resulta da colonização da superfície do esmalte por microorganismos – especialmente os Streptococcus mutans – que, metabolizando carbo-hidratos fermentáveis (sacarose, p. ex.), produzem ácidos. Essa acidez localizada, provocada pela disponibilidade de açúcar, leva à dissolução do fosfato de cálcio das camadas superficiais da estrutura de esmalte, liberando fosfato e cálcio para o meio bucal. A partir de um determinado momento essa perda mineral atinge tal grau que observa-se a formação de uma cavidade cuja evolução, nos casos extremos, corresponde à destruição de toda a coroa dentária. A relação açúcar-cárie está bem documentada e não há qualquer dúvida quanto ao papel central do açúcar no processo cariogênico (Stephan, 1940; Gustafsson et al., 1954).[footnoteRef:2] [2: Narvai, Paulo Capel. Cárie dentária e flúor: uma relação do século XX In Ciência & Saúde Coletiva, Ciênc. saúde coletiva [online], vol.5, n.2, pp.382, 2000. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232000000200011.Acesso em : 11 fev. 2021.
] 
Esse conceito de cárie é ilustrado pelo diagrama desenvolvido pelo pesquisador norte-americano Paul Keys em 1960.
 
Em 1974 Newbrum incluiu o tempo ao diagrama de Keys, após concluir que a cárie é resultado de um processo crônico, logo é necessário que as interações entre os outros três fatores ocorrem por um determinado tempo.
Segundo José Eduardo de Oliveira Lima 
É fundamental conceituar-se a cárie dentária como um processo anormal. É anormal porque um indivíduo que vivia em condições naturais, isto é, o homem primitivo, não desenvolvia uma lesão no esmalte que pudesse ser considerada cárie dentária, por estar inserido em uma biodiversidade comandada pela natureza, em um equilíbrio físico-químico. Apesar de todos os elementos necessários para desenvolver a cárie estarem presentes, havia uma condição de desequilíbrio e reequilíbrio, representados pelo fenômeno da desmineralização e remineralização, mediadas pela saliva, que mantinha a estrutura do esmalte dentário intacta. Essa biodiversidade determinada pela presença de todos os elementos que influenciavam a fisiologia da cavidade bucal em condições naturais, como alimentação, microrganismos e secreção salivar, mantinha o equilíbrio homeostático.[footnoteRef:3] [3: LIMA, José Eduardo de Oliveira. Cárie dentária: um novo conceito.In Rev. Dental Press Ortodon Ortop Facial v. 12, n. 6, pp. 119, nov/dez.2007. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-54192007000600012. Acesso em: 11 fev. 2021.] 
A cárie deixou de ser uma doença açúcar-dependente ou mutans-dependente para uma doença social-dependente. Ou seja, o perfil atual da cárie mudou, não é mais considerado uma doença que depende só do consumo do açúcar e sim uma doença que depende de fatores sociais.
Fatores responsáveis pela cárie 
A cárie é uma doença que não depende somente do agente biológico que transmite, depende também da dieta e de fatores sociais e econômicos.
O avanço científico, conseguido através de pesquisas que levam em consideração todas as variáveis, que direta e indiretamente podem atuar como fatores que interferem no aparecimento da cárie, provoca confusão, tanto para os profissionais da Odontologia como também para o paciente. Muitas delas foram consideradastão importantes que, na tentativa de controlar a doença em populações humanas, eram aplicadas em conjunto, sem a devida consideração à racionalidade biológica. Portanto, cabe esclarecer esses temas e tentar explicar como fatores isolados, como microrganismos, dieta e suscetibilidade dentária, podem resultar em conceitos de “causa e efeito” influenciando profundamente a maneira pela qual programas preventivos são projetados ou mantidos, sem efetiva redução da incidência de cárie.[footnoteRef:4] [4: LIMA, José Eduardo de Oliveira. Cárie dentária: um novo conceito.In Rev. Dental Press Ortodon Ortop Facial v. 12, n. 6, pp. 121, nov/dez.2007. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-54192007000600012. Acesso em: 11 fev. 2021.
] 
As pesquisas sobre a cárie feitas por Keys concluíram que a cárie é resultado da interação de diversos fatores: microrganismos, um dente suscetível e uma dieta rica em açúcar.
A relação da dieta com a cárie é comprovada ao estudar casos como dos aborígenes australianos, neozelandês e da população nativa da Ilha Tristão da Cunha, que a partir do momento que aumentaram a ingestão de alimentos industrializados e ricos em açúcar o número de cárie nessas populações aumentou, chegando a equiparar com os demais países do ocidente.
Populações de territórios onde o açúcar de cana não fazia parte dos hábitos alimentares, como os aborígenes australianos, da Nova Zelândia e da Ilha de Tristão da Cunha, apresentavam baixa prevalência de cárie. A introdução de produtos açucarados alterou significativamente esse quadro, equiparando-o ao dos demais países ocidentais (Newbrun, 1989a).[footnoteRef:5] [5: Narvai, Paulo Capel. Cárie dentária e flúor: uma relação do século XX In Ciência & Saúde Coletiva, Ciênc. saúde coletiva [online], vol.5, n.2, pp.383, 2000. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232000000200011.Acesso em : 11 fev. 2021.] 
O Brasil, o maior produtor mundial de açúcar desde o século XVI, teve um papel crucial na conversão do açúcar em um produto consumido no mundo todo. Esse aumento no consumo de açúcar transformou a cárie em uma doença em uma pandemia que não poupou nem a nobreza de uma das maiores potências da época; há relatos que Elizabeth I, rainha da Inglaterra entre 1558 e 1603, sofria frequentemente com as cáries e o mau hálito que eram resolvidos comendo doces em grande quantidade.
Na Grã-Bretanha o consumo de açúcar triplicou entre 1830 e 1850 dando a dimensão do aumento do consumo de açúcar e consequentemente os crescentes casos de cárie.
Na década de 1990, pesquisas se debruçaram sobre o impacto da desigualdade social no número de cárie, se concluiu que nos países subdesenvolvidos, as crianças das classes mais altas tinham uma maior incidência de cárie, diferentemente de países desenvolvidos como a Finlândia e a Suécia onde as classes mais altas tinham um número menor de cárie.
Nos Estados Unidos, juntamente com as variáveis sociais, culturais e econômicas a exclusão social e econômica advinda do racismo, levava os negros a terem uma saúde bucal pior em relação aos brancos. 
... as minorias não-brancas têm maior risco de cárie, mas isto está acompanhado de menor renda, menor estruturação familiar, maior isolamento social, menos recursos para saúde e transporte e menor atenção a infância.[footnoteRef:6] [6: FREITAS, Sérgio Fernando Torres de. Uma história social da cárie dental.Universidade Federal Fluminense- UFF, Niterói, 1995, pp. 105 ] 
Em suma, a cárie depende de quatro fatores determinantes: interação entre hospedeiros (dente e saliva), microrganismos, uma dieta rica em carboidratos e o tempo; além desses fatores determinantes, fatores sociais, econômicos e comportamentais influenciam no desenvolvimento da cárie. 
Aumento da cárie com a mudança na alimentação 
Segundo Navai a cárie acompanha a humanidade desde o 
... final do paleolítico (12 mil a 10 mil anos a.C.), o homem começou a produzir e processar seu próprio alimento, com o cozimento e o surgimento do pão em sua forma primitiva, a cárie dentária passou a ser encontrada em 60 a 70% dos crânios recuperados daquele período (Moore & Corbett, 1971). Mas ocorria em pequeno número e era mais freqüente em adultos do que em crianças e adolescentes. Com pequenas e pouco significativas mudanças (cerca de 10%) nesse padrão, desde a Idade do Ferro (4 mil a.C.) até o final da Idade Média, a cárie atingia principalmente as regiões de fóssulas e fissuras de molares e pré-molares (Moore & Corbett, 1973).[footnoteRef:7] [7: Narvai, Paulo Capel. Cárie dentária e flúor: uma relação do século XX In Ciência & Saúde Coletiva, Ciênc. saúde coletiva [online], vol.5, n.2, pp.382, 2000. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232000000200011.Acesso em : 11 fev. 2021.
	] 
A análise da alimentação do homem primitivo reitera a importância de uma alimentação natural, rica em frutas, legumes e verduras e com baixo teor de açúcar na prevenção da cárie. Pois no fim do paleolítico, justamente no momento que se começou a produzir um pão rustico e a cozinhar o alimento, a incidência de cárie aumentou.
Pesquisas apontam que a cárie foi uma doença pouco relevante até a explosão global no consumo de açúcar gerado pelas plantações extensivas de cana de açúcar na América. Na América pré-colombiana, estudos não encontraram registros de cárie na população; no Egito antigo foi detectado uma taxa de 15% de cárie em seus habitantes e o mesmo cenário ocorria na Europa.
A introdução do açúcar na dieta de 
Populações de territórios onde o açúcar de cana não fazia parte dos hábitos alimentares, como os aborígenes australianos, da Nova Zelândia e da Ilha de Tristão da Cunha, apresentavam baixa prevalência de cárie. A introdução de produtos açucarados alterou significativamente esse quadro, equiparando-o ao dos demais países ocidentais (Newbrun, 1989a).
Até a Idade Média, não havia muitos casos de cárie, quadro que mudou a partir do século XVII, devido a mudanças relacionadas ao consumo de açúcar: importação crescente; a introdução na dieta cotidiana dos europeus; crescimento da oferta no mercado, queda no preço; melhora das técnicas de moagem dos grãos e a migração dos camponeses ingleses para as cidades. 
Na metade do século XVI em 1550, juntamente no momento em de aumento do consumo de açúcar de cana pelas elites nas metrópoles e nas colônias, foram relatados os primeiros casos de dor de dente na Inglaterra.
Quais são as medidas de prevenção contra a cárie?
Segundo a Carta de Otawa assinada em novembro de 1986, 
A saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida. Fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos podem tanto favorecer como prejudicar a saúde. As ações de promoção da saúde objetivam, através da defesa da saúde, fazer com que as condições descritas sejam cada vez mais favoráveis.[footnoteRef:8] [8: Carta de Otawa] 
O período do pós-guerra inaugura uma nova relação da humanidade com a saúde, valorizando a prevenção de doenças e o bem-estar; ao mesmo tempo a medicina desenvolveu novos produtos de higiene e beleza.
 Essa nova forma de se relacionar com a saúde se reflete na forma como produtos como pasta de dente Ipana são anunciados no Brasil, ressaltando a necessidade da higiene oral de qualidade para a prevenção da cárie e da perda de dente.
A partir do final dos anos 70 passou a haver uma preocupação maior, entre os pesquisadores da área, com a qualidade dos produtos à venda no país, dado o importante significado que tais produtos passaram a ter no contexto nacional. De modo geral, a qualidade dos produtos é adequada, assegurando-se eficácia preventiva (Cury et al., 1981; Narvai 1996b).[footnoteRef:9] [9: Narvai, Paulo Capel. Cárie dentária e flúor: uma relação do século XX In Ciência & Saúde Coletiva, Ciênc. saúde coletiva [online], vol.5, n.2, pp.387, 2000. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232000000200011.Acesso em : 11 fev. 2021.] 
O norte americanoFrederick McKay foi o primeiro pesquisador a relacionar flúor e cárie, conclusão feita a partir da observação que a maioria das crianças de Colorado Springs apresentavam um excesso de flúor e uma incidência de cárie muito baixa e as crianças que não tinham fluorose tinham um índice de cárie tão quanto alto quanto as crianças que não tinham de outras regiões do Estados Unidos.
No Brasil, a adição de flúor na água é recomendada pela primeira vez em 1952 no X Congresso Brasileiro de Higiene realizado em Belo Horizonte, que foi a primeira cidade brasileira a fornecer água fluorada aos seus moradores.
Em janeiro de 1958 dentistas se colocaram contrários ao veto do chefe do Executivo Estadual ao projeto decretado pela Casa em 1957 que 
...frisa a necessidade de se misturar composto de flúor na água destinada ao abastecimento da população, medida essa que diminuiria o índice de cáries dentárias registrado nos últimos tempos. [footnoteRef:10] [10: DIARIO DA NOITE. São Paulo: Diários Associados, 1958.] 
O governador do estado de São Paulo afirma ao Diário da Noite que o projeto foi vetado pois 
... os resultados conseguidos em determinadas cidades foram realmente satisfatórios, com redução de 60 % das cáries, mas a proteção só beneficiaria aos indivíduos que, desde a mais tenra idade, tenham consumido água devidamente fluorada. Entretanto- acrescenta- esse resultado é condicionado por outros de importância, como alimentação baseada em hidratos de carbono, hereditariedade, raça, falta de higiene bucal, etc.[footnoteRef:11] [11: DIARIO DA NOITE. São Paulo: Diários Associados, 1958.] 
 Em abril de 1958 o Diário da Noite repercute o veto da Assembleia Legislativa ao projeto do governador do estado de São Paulo que decreta a adição de flúor á água fornecida aos paulistas. O deputado Homero Silva defende que 
A Assembleia acaba de prestar um grande serviço ao povo. Sabem todos quanto é lamentável a falta de sanidade dentaria dos brasileiros. Pode-se afirmar que a totalidade do nosso povo sofre dos dentes e ninguém escapa ao mal, já nos primeiros anos de vida. Se se tratasse de doença mortal, a população estaria dizimada de ser danosos. Infelizmente, a ciência ainda luta contra a cárie, se maiores possibilidades de vencê-la. Há, porém, um único método experimentado em todo o mundo, o da fluoretação das águas como sistema preventivo. De tal maneiro se evidenciou a eficiência do flúor que, hoje em dia, ninguém mais nega essa conquista. Nos Estados Unidos e no Canadá, os resultados positivos têm sido obtidos em grande escala. Aqui mesmo, entre nós, há exemplos como o do Baixo- Guandu, no Espírito Santo, e o de Marília. A verdade é que a incidência é atenuada até em 60 por cento”.[footnoteRef:12] [12: DIARIO DA NOITE. São Paulo: Diários Associados, 1958.] 
Em setembro do mesmo ano, diversas entidades de cirurgiões dentistas se uniram para lançar a Campanha Permanente de Higiene Dentária que 
Após o preenchimento de questionários, distribuídos aos professores a fim de ser avaliado o nível de higiene dentária dos escolares, especialmente no Interior do Estado, as Comissões Executiva e Especializadas da Campanha Permanente de Higiene Dentári, ligadas ao Serviço Dentário Escolar, traçaram as diretrizes a serem seguidas. São elas: divulgação e ensino de conhecimentos e cuidados relativos á prevenção das moléstias da boca e profilaxia dentária em geral, mostrando, em consequência, a inter-relação entre a sanidade bucal e a geral.
Para atingir o objetivo, foi traçado amplo programa de divulgação, que abrange desde a professora de escolas das mais distantes da Capital até a imprensa escrita e falada, TV, cinema etc.[footnoteRef:13] [13: DIARIO DA NOITE. São Paulo: Diários Associados, 1958.] 
Em 1974, durante o período mais duro da ditadura civil- militar, a fluoração da água fornecida aos brasileiros se torna obrigatória, após pouco mais de 25 anos do início da obrigatoriedade da fluoração da água aproximadamente 65 milhões de brasileiros foram beneficiados com a adição de flúor a água fornecida.
Na década de 1980, ocorre no Brasil um momento de 
...grande expansão da fluoretação das águas no Brasil, decorrente de decisão governamental federal de apoiar financeiramente iniciativas nessa área (Vianna et al., 1983) e conseqüência também da eleição direta de governadores e o surgimento de novos coordenadores estaduais de saúde bucal, muitos dos quais empenhados em reorientar as políticas públicas nesse setor. Entre outros, o caso do estado de São Paulo é indicativo do sentido daquelas mudanças: celebração de dezenas de convênios para municipalização da assistência; estímulo ao trabalho em clínicas modulares, fixas e transportáveis; incorporação de pessoal auxiliar e formação de equipes de saúde bucal; e desenvolvimento de sistemas de prevenção baseados na fluoretação das águas. Apesar de certa oposição (Amaral, 1986; Narvai, 1986), foi feita a fluoretação dos municípios da região metropolitana de São Paulo e, no dia 31 de outubro de 1985 teve início oficialmente a fluoretação na capital. Em 1985-1986 o Ministério da Saúde realizou uma pesquisa sobre cárie em escolares da cidade (Brasil, 1988). Pesquisa semelhante realizada onze anos depois permitiu identificar uma redução da ordem de 67,7% na prevalência de cárie na idade-índice de 12 anos (Narvai, 1996a)...[footnoteRef:14] [14: Narvai, Paulo Capel. Cárie dentária e flúor: uma relação do século XX In Ciência & Saúde Coletiva, Ciênc. saúde coletiva [online], vol.5, n.2, pp.385, 2000. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232000000200011.Acesso em : 11 fev. 2021.
] 
A partir de 1970, a campanha de prevenção declínio no índice de CPO em adolescente de 12 anos no município de São Paulo.
Índice CPO aos 12 anos de idade no município de São Paulo no período 1970-1996.
Prevenir a cárie na infância garante um desenvolvimento saudável da criança, um dos principais meios de prevenção é um nível de educação dos pais elevado. Demostrando que a cárie é altamente dependente do comportamento pessoal, logo as condições socioeconômicas da população ou parte dela são fundamentais no padrão de saúde bucal.
O fim do século XX e início do XXI marcou um período de declínio de brasileiros com dentes cariados, obturados ou extraídos, entre 1980 e 1986 esse índice ainda era alto, em pouco mais de 15 anos, em 2003, a melhora da condição de vida dos mais pobres fizeram esse contingente ser considerado moderado, embora houvesse um declínio de CPOD em todas as regiões brasileiras, os mais pobres continuaram tendo mais intercorrências odontológicas, devido ao acesso difícil ao tratamento odontológico. Tais dados comprovam que melhores condições socioeconômicas associadas a um autocuidado com a saúde bucal são a melhor forma de prevenção da cárie dental.
A promoção da saúde vai além dos cuidados de saúde. Ela coloca a saúde na agenda de prioridades dos políticos e dirigentes em todos os níveis e setores, chamando-lhes a atenção para as conseqüências que suas decisões podem ocasionar no campo da saúde e a aceitarem suas responsabilidades políticas com a saúde. A política de promoção da saúde combina diversas abordagens complementares, que incluem legislação, medidas fiscais, taxações e mudanças organizacionais. É uma ação coordenada que aponta para a eqüidade em saúde, distribuição mais eqüitativa da renda e políticas sociais. As ações conjuntas contribuem para assegurar bens e serviços mais seguros e saudáveis, serviços públicos saudáveis e ambientes mais limpos e desfrutáveis. A política de promoção da saúde requer a identificação e a remoção de obstáculos para a adoção de políticas públicas saudáveis nos setores que não estão diretamente ligados à saúde. O objetivo maior deve ser indicar aos dirigentes e políticos que as escolhas saudáveis são as mais fáceis de realizar.[footnoteRef:15] [15: Carta de Otawa] 
Visando reduzir os fatores de riscos que a ameaçam a saúde dos brasileiros que podem levar a doenças e incapacidades, foram determinadas 4 ações de promoção e proteçãoda saúde a serem desenvolvidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em parceria com demais instituições governamentais, empresas e a sociedade civil: fluoretação das águas, educação em saúde, aplicação utópica de flúor e higiene bucal supervisionada. Tais ações envolve o diagnóstico e o tratamento de doenças; o diagnóstico deve ser feito o mais precoce possível e o tratamento deve ser iniciado o quanto antes, visando retardar a evolução da doença e evitar sequelas.
Referências bibliográficas
LIMA, José Eduardo de Oliveira. Cárie dentária: um novo conceito. In Rev. Dental Press Ortodon Ortop Facial v. 12, n. 6, p. 119-130, nov/dez.2007. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1415-54192007000600012. Acesso em: 11 fev. 2021.
NARVAI, Paulo Capel. Cárie dentária e flúor: uma relação do século XX In Ciência & Saúde Coletiva, Ciênc. saúde coletiva [online], vol.5, n.2, pp.381-392, 2000. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232000000200011.Acesso em : 11 fev. 2021.
SILVEIRA, Marise Fagundes. Cárie dentária e fatores associados entre adolescentes no norte do estado de Minas Gerais, Brasil: uma análise hierarquizada. In Ciênc. saúde coletiva [online], vol.20, n.11, pp.3351-3364 , dez .2014 . Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152011.122620142015. Acesso em : 11 fev. 2021.
FREITAS, Sérgio Fernando Torres de. Uma história social da cárie dental. Universidade Federal Fluminense- UFF, Niterói, 1995, pp. 105.

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