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Avaliação da Função Renal-Bioquímica Fisiológica

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Avaliação da Função Renal 1
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Avaliação da Função Renal
Quais as principais funções dos rins?
As principais funções incluem: 
excreção de produtos residuais e toxinas hidrossolúveis (compostos 
nitrogenados)
controle da composição e volume urinários
composição do líquido extracelular (LEC), 
funções endócrinas pela síntese de eritropoietina, renina, prostaglandinas e 
1,25-diidrocolecalciferol.
O que é o Limiar Renal?
Valor de concentração plasmática de uma substância acima do qual a mesma 
aparece na urina, ou seja, um valor de concentração plasmática de uma 
substância acima do qual a velocidade de filtração glomerular é superior à 
velocidade de reabsorção (Exemplo: no homem, o limiar renal para glicose é de 
160 mg / dL em média - varia de 140 a 200 mg / dL-; assim, uma concentração 
de 161 mg / dl de glicose plasmática gera sua eliminação urinária).
O que é o Transporte máximo?
Capacidade máxima dos rins de reabsorção ou secreção de uma substância. É 
uma espécie de limite devido a saturação de sistemas de transporte quando a 
quantidade de soluto excede a capacidade das proteínas carreadoras
O que é a Urinálise e como é feita a coleta dessa exame?
É um exame laboratorial que fornece informações a respeito do trato urinário e 
de outros segmentos corporais. Para tal, deve contar com amostra de urina 
colhida corretamente (em frasco limpo pela manhã, eliminando o primeiro jato 
miccional) e analisada em até 30 minutos após coleta (ou em até 12 horas, 
tempo em que pode ser preservada sob refrigeração).
Quais as três fases de avaliação do exame de Urinálise?
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As três fases do exame são a avaliação física do material, avaliação química e 
avaliação do sedimento urinário.
Como é feita a avaliação física da Urinálise?
Na avaliação física há análise de aspectos como:
Cor: O normal é transparente e amarela à inspeção visual; pode ser 
influenciada pela concentração urinária
Turbidez: Aumentada pela presença de elementos anormais como 
leucócitos, eritrócitos, cristais, bactérias, além da própria concentração.
Densidade: Aumentada em casos como uma desidratação com redução do 
fluxo renal e diminuída em casos com hiper-hidratação, uso de diuréticos 
dentre outros
Como é feita a avaliação química da Urinálise e o que é avaliado nessa 
fase?
Nessa avaliação se utiliza tiras reagentes que indicam resultado por meio da 
interpretação da coloração apresentada. Nesta fase, são avaliados: 
pH Urinário
Reflete a função dos túbulos renais na manutenção da homeostasia do pH. 
É alterado pela dieta ou presença de distúrbios metabólicos. Como valores 
de referência, temos que o pH urinário normal varia entre 4,6 a 8, com 
média 6;
O pH se apresenta aumentado na: alcalemia, infecção das vias 
urinárias, acidose tubular renal e numa eventual dieta vegetariana,
O pH aparece reduzido na: acidemia, diabetes mellitus, acidose 
respiratória e ingestão excessiva de proteína animal.
Glicosúria
Pode indicar Diabetes mellitus
Cetonas
Podem aparecer na urina devido à inanição (deficiência nutritiva grave), 
diabetes mellitus não controlada e, ocasionalmente, após ingestão 
significativa de álcool;
Sangue
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Pode ser visualizado por alteração na cor urinária. Pode ser causada por 
traumas, tumores dos rins e das vias urinárias, litíase renal, cistites, 
pielonefrites, dentre outros;
Nitritos
A presença detectada é um dos indicativos de infecção no trato urinário
Esterase leucocitária
Enzima encontrada em certos glóbulos brancos que, na urina, pode indicar 
inflamação, causada geralmente por uma infecção no trato urinário.
Como é feita a avaliação do sedimento urinário?
Em situação normal, a urina contém um número reduzido de células e de outros 
resíduos provenientes do interior do trato urinário. Em presença de distúrbios 
renais ou a nível do trato urinário, há maior liberação de células que, após 
centrifugação, se depositam sob a forma de sedimento, avaliado nesta fase do 
exame. Pode detectar a presença anormal de células (com aumento indicativo 
de irritação/inflamação do trato urinário no caso de eritrócitos e leucócitos), 
bacteriúria, principal indicativo de infecção, e cilindros (formam-se nos túbulos 
renais a partir de mucoproteínas condensadas). Em relação a estes últimos, não 
há indicativo de falha da função renal quando detectados na urina; representam 
doença renal, podendo esta ser secundária a outros quadros metabólicos.
O que é a Síndrome de Fanconi?
Achado de glicosúria com índices glicêmicos normais pode indicar síndrome de 
Fanconi, distúrbio raro da função tubular renal que resulta em quantidades 
excessivas de glicose, bicarbonato, fosfatos (sais de fósforo), ácido úrico, 
potássio e certos aminoácidos sendo excretados na urina. Os sintomas mais 
comuns em adultos incluem fraqueza com dores nos ossos, enquanto em 
crianças pode gerar falha no desenvolvimento , crescimento lento e doença 
renal crônica.
Como é feita a avaliação de proteinúria e quais as causas?
Na avaliação química, detecta-se também a presença de proteínas na urina, 
com a detecção específica de albumina pela tira reagente e detecção. As 
técnicas de precipitação, tais como aquecimento e tiras de ácido sulfossalicílico, 
detectam todas as proteínas, normal se ocorre em pequena quantidade. 
Entretanto, um excesso dessa eliminação configura quadro clínico, a 
proteinúria, que pode ser visualizada em níveis mais avançados pela formação 
de espuma ao urinar, sinal clássico da presença do quadro. Assim, o resultado 
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da tira reagente deve ser interpretado juntamente com a densidade urinária, 
pois está relacionado com a concentração da urina. A proteinúria pode ser 
decorrente de glomerulonefropatia, defeitos de transporte tubular, ou inflamação 
ou infecção do trato urinário; a hematúria glomerular, quando 
macroscopicamente visível, também pode produzir proteinúria significativa. 
Pode estar aumentada em períodos febris, após exercício físico e em crianças e 
adolescentes. 
Proteinúria nefrótica: Eliminação acima de 3g de proteína na urina em 24h
Proteinúria subnefrótica: Eliminação entre 200mg e 3g em 24h
Quais os tipos de proteinúrias patológicas e o que elas indicam?
Glomerular
Ligada ao aumento da permeabilidade dos glomérulos que permite que 
quantidades aumentadas de proteínas plasmáticas passem para o filtrado;
Tubular
Resulta de doenças tubulointersticiais renais que impedem a reabsorção de 
proteínas pelo túbulo proximal diminuição da reabsorção tubular de 
proteínas filtradas
Secretada
Por proteínas derivadas do epitélio do trato urinário
De sobrecarga
Quando quantidades excessivas de pequenas proteínas plasmáticas 
excedem a capacidade de reabsorção dos túbulos proximais
Funcional
Quando o fluxo renal sanguíneo aumenta em situação de exercício, febre, 
dentre outras, e entrega quantidades aumentadas de proteínas para os 
néfrons, resultando em aumento de proteínas na urina. Se reverte quando o 
fluxo sanguíneo renal volta ao normal.
O que é a proteinúria ortostática?
É uma condição benigna (mais comum entre crianças e adolescentes) em que a 
proteinúria ocorre principalmente quando o paciente está em pé. Deste modo, a 
urina contém tipicamente mais proteínas durante as horas acordadas (quando 
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as pessoas estão mais frequentemente na posição em pé) do que durante o 
sono. Tem ótimo prognóstico e não necessita de nenhuma intervenção especial.
A ureia faz parte de qual metabolismo? Onde ela é sintetizada e onde é 
excretada?
A ureia é o produto final do metabolismo e digestão de proteínas, sendo 
sintetizada no fígado e liberadas no sangue para ser excretada pelos rins. 
Dessa forma, encontra-se em quantidade aumentada na disfunção renal, 
quadro no qual sua excreção é alterada e em níveis reduzidos na disfunção 
hepática, já que sua produção é prejudicada. Assim, não deve ser o método 
escolhido para avaliar a função renal em pacientes com disfunçãohepática. Não 
é um bom marcador de TFG, já que sua concentração sanguínea sofre variação 
em função de ingesta proteica, eventual sangramento gastrointestinal, uso de 
corticosteroides e estado volêmico do paciente.
Qual o valor de referência da ureia?
Valores de referência: 5 a 18 mg/dL em crianças e 10 a 20 mg/dL em adultos. 
Os idosos podem apresentar valores mais elevados.
Como o ácido úrico é degradado e excretado e quais os valores de 
referência?
Configura o produto do metabolismo das purinas. Em situação normal, cerca de 
⅓ é degradado e excretado pelo intestino e ⅔ pelos rins; em situação de 
falência renal, porém, há aumento na degradação e eliminação intestinais, que 
pode atingir até 80%. Valores de referência: no soro, são de 3,5 a 7,2 mg/dL em 
homens e 2,6 a 7,5 mg/dL em mulheres; na urina de 24 horas, os valores são 
de 800mg para homens e 750mg para mulheres.
O que é a taxa de filtração glomerular (TFG)?
A TFG calcula o volume de líquido que sai do capilar para a cápsula de 
Bowman por unidade de tempo, auxiliando na avaliação da função renal normal 
e na percepção de possíveis alterações. No rim normal, corresponde a 180 
L/dia, ou 125 ml/min. Pode ser utilizada na avaliação do grau da insuficiência 
renal ou no acompanhamento da evolução da doença.
O que é a depuração ou clearence? Quais os solutos utilizados nesse 
processo?
Depuração, ou clearence, é a forma não-invasiva de se medir a TFG, 
correspondendo à taxa na qual determinado volume de determinado soluto 
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desaparece do corpo por excreção ou metabolização. Para esta avaliação, tal 
substância deve ser atóxica e filtrada livremente pelos glomérulos e eliminada 
por esta via, sem a ocorrência de reabsorção ou secreção tubular; ainda, devem 
existir técnicas laboratoriais que permitam sua determinação quantitativa. 
Dentre os principais solutos utilizados, temos:
Agentes de contraste não-radioativos
Inulina
Polissacarídeo vegetal (sendo assim, não é produzida pelo organismo 
humano), que não se liga à proteínas plasmáticas, sendo filtrado livremente 
pelos glomérulos sem sofrer reabsorção nem secreção tubular. Os testes 
para sua medição são complexos, dependentes da infusão constante de 
inulina para manutenção de concentração plasmática máxima e coleta de 
sangue e urina em tempos cronometrados, o que torna o método de difícil 
utilização;
Creatinina
Substância com taxa constante de produção endógena pelo metabolismo 
muscular, não apresenta ligação às proteínas plasmáticas, é filtrada 
livremente pelos glomérulos e secretada ativamente no lúmen tubular. Em 
condições normais, a contribuição da secreção tubular ativa é desprezível, 
sem afetar a taxa de filtração glomerular. 
A creatinina plasmática é derivada majoritariamente do catabolismo da 
creatina, metabólito utilizado para armazenar energia no músculo (mais 
especificamente sob a forma de fosfocreatina). Sua degradação para 
creatinina ocorre de maneira constante por uma reação irreversível, na qual 
participam as enzimas arginina glicina amidinotransferase (AGAT), 
guanidinoacetato metiltransferase (GAMT) e creatina-quinase (CK), e a taxa 
da sua produção depende da massa muscular. 
Em situações de doença renal avançada, entretanto, a contribuição da 
secreção tubular ativa de creatinina para a quantidade total excretada na 
urina se torna alta em relação à quantidade filtrada. Com isso, a depuração 
de creatinina pode superestimar a taxa de filtração glomerular real, limitando 
seu uso para avaliação destes casos. Pode-se usar fármacos para inibir tal 
secreção, como a cimetidina. 
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A creatinina pode ser avaliada na urina, com a coleta de urina de 24 horas. 
O cálculo da concentração envolve a seguinte equação:
Valores aumentados podem indicar acometimento renal; deve-se atentar 
para o uso de drogas que alterem a secreção tubular da creatinina ou para 
uma possível coleta incorreta da urina, já que ambos podem alterar os 
resultados e gerar falsos positivos de agravo renal. Para a creatinina sérica, 
usamos a fórmula:
A elevação dos níveis plasmáticos indica presença de falência renal.
O que é a Insuficiência Renal Aguda (IRA)?
Agravos a nível renal podem trazer alterações tanto locais, a nível renal e de 
trato urinário, quanto sistêmicas. Dos quadros de acometimento do órgão, um 
dos principais é a Insuficiência Renal Aguda (IRA), redução/perda súbita da 
capacidade de filtração renal que gera concentração sanguínea de resíduos 
indesejados. É um quadro reversível, mas que pode ser fatal e pressupõe 
necessidade de tratamento intensivo. 
O diagnóstico é fornecido pela elevação abrupta de creatinina em 48 horas ou 
elevação do seu nível basal em 7 dias, ou por presença de oligúria (micção de 
0-1 vez ao dia). 
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Apresenta quatro etapas: fase inicial, durante e imediatamente após o início 
da lesão renal; fase de extensão, na qual a isquemia, hipóxia, inflamação e 
lesão celular permanecem, levando à apoptose celular, necrose ou ambos; fase 
de manutenção, caracterizada por azotemia (aumento da concentração de 
compostos nitrogenados - ureia,creatinina e outros- no sangue, plasma ou soro) 
e/ou uremia e que pode durar dias ou semanas; e fase de recuperação, na 
qual ocorre redução da azotemia e reparo de túbulos renais (Poliúria marcante 
pode ocorrer durante esta fase devido à restauração parcial da função renal 
tubular ou diurese osmótica de solutos acumulados). 
Assim, a função renal pode retornar ao normal, ou pode haver desenvolvimento 
de uma disfunção renal residual. A redução da função renal que ocorre na IRA é 
multifatorial, e inclui redução do fluxo sanguíneo intra-renal e lesão celular. Suas 
possíveis causas são muito amplas e incluem alterações hemodinâmicas, 
infecciosas e tóxicas.
O que é a Doença Renal Crônica (DRC)?
A Doença Renal Crônica (DRC), por sua vez, é definida pela perda lenta, 
progressiva e irreversível das funções renais, com presença de anormalidades 
estruturais ou funcionais em um ou ambos rins por período prolongado (3 
meses ou mais). Como a DRC possui diferente diagnóstico, tratamento e 
prognóstico, essa doença deve ser diagnosticada discriminadamente da IRA. 
No entanto, IRA e DRC podem ocorrer concomitantemente em um mesmo 
paciente. Em geral, a DRC é vista como uma doença irreversível que pode ser 
progressiva, enquanto a IRA pode ser reversível. Na urinálise, a urina de 
pacientes com DRC apresenta-se clara e límpida, em grande volume, com 
isostenúria e ausência de estruturas celulares. Pode ser causada por quadros 
como diabetes mellitus, HAS, glomerulonefrites, dentre outros. Seu diagnóstico 
é dado quando a TFG avaliada encontra-se menor que 60ml/min por 3 meses, 
com auxílio diagnóstico por exames de urina, histológicos e de imagem 
(ecografia de vias urinárias, no qual podem surgir indicativos como rim 
policístico, pielonefrite, estenose de artéria renal, dentre outros).
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Os sintomas surgem tardiamente, já que há importante adaptação tubular e dos 
néfrons remanescentes para tentar compensar a perda de função. Com isso, há 
maior esforço para as unidades funcionais, o que aumenta a progressão da 
lesão renal. Em fases avançadas, pode gerar: 
Edemas, pelo aumento da excreção de Na+ que acarreta expansão do 
volume extracelular;
Hipertensão arterial;
Alterações no sistema gastrointestinal, com náuseas, vômitos ou até 
anorexia;
Alterações no sistema hematológico, podendo gerar anemias ou 
imunossupressão; 
Hálito urêmico (característico); 
Alteração no odor da urina.

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