Buscar

MEANDROS DA INTERPRETAÇÃO artigo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

MEANDROS DA INTERPRETAÇÃO: A AMBIGUIDADE LEXICAL E O FORRÓ SERTANEJO – ANÁLISES SEMANTICAS
Paulo Narley Pereira Cardoso[footnoteRef:1] [1: Graduando do curso de Licenciatura Plena em Letras Português, UFPI, 2016. E-mail: narleypaulo@hotmail.com] 
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a letra de uma música, escolhida aleatoriamente, do gênero forró sertanejo, evidenciando os fenômenos linguísticos referentes ao campo dos estudos semânticos relativos às questões de ambiguidade lexical e suas características. O trabalho se valeu da metodologia de pesquisa bibliográfica, onde se evidenciou teóricos e pesquisas múltiplas acerca do tema em análise. Percebeu-se com o estudo que a maioria das músicas de forró se valem do uso de ambiguidades para causar no público essa ideia de dualidade e chamar sua atenção.
Palavras – Chaves: Semântica, Ambiguidade, Forró.
INTRODUÇÃO
	Dentro dos estudos Linguísticos, existe uma preocupação entre os teóricos quanto ao sentido – significado e significação – que é dado para as palavras dentro do contexto de uma língua. Com base nisso, nos muitos acontecimentos que envolvem o estudo da língua, as ambiguidades sugerem bastante cautela e atenção, partindo da ideia de que, ao aceitar que existem mais conceitos no mundo do que nomes para dar significado a elas, a ambiguidade é uma benesse.
	A ideia de ambiguidade parte do pressuposto da desproporção existente, como já mencionado, entre os nomes e seus referentes, e ao mesmo tempo, pelo que se pode observar dentro do campo linguístico de uma língua, uma economia de significados, partindo da ideia de que não conseguiríamos abarcar tantos conceitos e significados existentes se um mesmo signo conseguisse abarcar diferentes significados. Essa possibilidade de uma única palavra apresentar diferentes significados dentro do campo linguístico oferece a ideia de que o falante poderia ter dificuldades interpretativas dentro do campo semântico.
	Com base nisso, nos dispomos a analisar a letra de uma música em um gênero no qual cresce constantemente o uso desses fenômenos linguísticos. Faremos um recorte teórico com base em estudos dentro do campo da semântica e conseguintemente analisaremos uma letra de música de forró, dando foco ao caráter ambíguo da letra. Fica-se claro aqui que existem outros fenômenos linguísticos dentro do campo da semântica que possibilitam essa noção de economia de significados, tais como a questão da vagueza e da ambivalência. O presente artigo faz parte do componente de aprovação da disciplina de Semântica.
DISCUSSÕES TEÓRICAS ACERCA DA NOÇÃO DE AMBIGUIDADE
	Dar significado às palavras nem sempre é uma tarefa simples. Muitas vezes pensamos conhecer o significado de uma palavra, mas em determinadas situações comunicativas, esse significado nos foge por não coincidir com o que está querendo ser dito. Isso acontece devido ao fato de “o significado, na maioria das vezes, estabelecer-se a partir de um determinado contexto.” (CANÇADO, 2015, p. 65).
	Kempson e Marten (1999) apresentam a ideia de que todas as línguas – línguas lexicais – dependem de outras palavras para a construção de frases com significados, mas que para isso o falante, ao ativar essa rede de significados, necessita acionar uma rede mental implícita complexa. Segundo a autora, este trabalho do leitor não dependeria somente da sua capacidade de organizar significados dentro de uma sentença, mas também, das relações implícitas e explícitas que as conferiam sentido – sintaxe – permitindo a organização das ideias para transmitir ao seu falante.
	A noção em cadeia de que para cada objeto no mundo existe uma única palavra para defini-lo, e por sequencia uma única ideia ou sentido para defini-lo é vago e pouco possível. Como relatado anteriormente, existem mais significados no mundo do que palavras para nomeá-los. Podemos classificar as palavras em dois grandes grupos, a saber: as que admitem um único significado – monossêmicas – e as que permitem mais de um significado e sentido – ambíguas. 
As palavras ambíguas geram mais discussões, pois algumas podem apresentar nenhuma relação entre os significados – homonímias – ou podem apresentar diferentes significados dependendo do contexto – polissêmicas. Para tanto, a noção de ambiguidade parte dos estudos linguísticos que visam discutir o sentido das palavras – a Semântica.
	A semântica, segundo Ullmann (1964), é o “estudo do significado das palavras” (p. 7). Nas palavras do autor: “se alguém ouvir a palavra, pensará na coisa, e se pensar na coisa, dirá a palavra. É a esta relação recíproca e reversível entre o som e o sentido que proponho chamar ‘significado’ da palavra” (ULLMANN, 1964, p. 117).
	Marques (1995) já nos oferece a noção de que o objeto de estudo da Semântica é o significado em um sentido amplo, ou seja, além da palavra. A autora esclarece que “a semântica tem por objeto o estudo do significado (sentido, significação) das formas linguísticas: morfemas, vocábulos, locuções, sentenças, conjunto de sentenças, textos etc., suas categorias e funções na linguagem” (p. 15).
	 Dentro dessa noção, podemos perceber que a Ambiguidade, dentro do campo da linguística – semântica – seria dar a mensagem, diversos significados, dentro da circunstancia no campo linguístico que se presa à interpretação. Sobre a Ambiguidade, podemos classifica-la como: Ambiguidade Sintática, Ambiguidade Lexical, Ambiguidade de Escopo, Ambiguidade Semântica. Dentro do que nos comprometemos a analisar, veremos a Ambiguidade lexical.
	A saber, ambiguidade lexical seria a dupla interpretação que incide sobre os itens lexicais. É muito fácil perceber isso nas construções musicais atuais, onde se nota pelo falante o dúbio sentido de suas letras, fruto das interações semânticas dentro das sentenças. Com base nisso, faremos a seguir a análise de uma música de forró, escolhida aleatoriamente, devido à vasta possibilidade de exemplos encontrados que sugerem a noção de ambiguidade.
FORRÓ E AMBIGUIDADE LEXICAL
	Como foi observado, a noção de ambiguidade parte da ideia de que uma palavra abarca um conjunto de significados. Neste sentido, segue-se um extrato da letra da música “CHUPA QUE É DE UVA” da banda Aviões do Forró. A música já foi interpretada por diversas bandas em diferentes gêneros por todo o país. Colocaremos a letra e consequentemente iremos perfazer as análises necessárias.
CHUPA QUE É DE UVA – AVIÕES DO FORRÓ[footnoteRef:2] [2: Composição: Elvis Pires/ Rodrigo Mell/ Richardson Maia] 
Vem meu cajuzinho!
Te dou muito carinho.
Me dá seu coração!
Me dá seu coração!
Vem meu moranguinho!
Te pego de jeitinho.
Te encho de tesão!
Te encho de tesão!
Me deixa maluca!
Tira mel da fruta.
Me mata de amor!
Me mata de amor!
Me pega no colo;
Me olha nos olhos;
Me beija que é bom!
Me beija que é bom!
Na sua boca eu viro fruta.
Chupa que é de uva!
Chupa! Chupa!
Chupa que é de uva!
Na sua boca eu viro fruta.
Chupa que é de uva!
Chupa! Chupa!
Chupa que é de uva!
Vem meu cajuzinho!
Te dou muito carinho.
Me dá seu coração!
Me dá seu coração!
Vem meu moranguinho!
Te pego de jeitinho.
Te encho de tesão!
Te encho de tesão!
Me deixa maluca!
Tira mel da fruta.
Me mata de amor!
Me mata de amor!
Me pega no colo;
Me olha nos olhos;
Me beija que é bom!
Me beija que é bom!
Na sua boca eu viro fruta.
Chupa que é de uva!
Chupa! Chupa!
Chupa que é de uva!
Na sua boca eu viro fruta.
Chupa que é de uva!
Chupa! Chupa!
Chupa que é de uva!
	Os desvios da língua comum, pelo viés das ambiguidades causadas pelo uso dos significados de determinadas palavras, mostram uma reinvenção da linguagem comum, por meio da distorção dos sentidos propositalmente dados por determinadas estruturas. Com base nisso, analisaremos os trechos da música acima, mostrando os usos da ambiguidade nas composições do forró. Este tipo de recurso causa na letra uma visão de humor e obscenidade que atraem o público e dá sonoridade a música.
	A ambiguidade verificada em alguns trechos da música é de caráter gramatical – lexical – onde em alguns pontos podemos notar que ocompositor usou especificadamente para causar essa dualidade da letra. Vejamos:
	Vem meu cajuzinho! Te dou muito carinho. Me dá seu coração! [...]
	Neste ponto, percebemos que mais de um significado foi dado as palavras, ou seja, neste trecho, a mesma palavra pode ter dois ou mais significados. Analisando o trecho verificamos isso quando a palavra Cajuzinho está no mesmo campo de significação amor, companheira, namorada, esposa, e a palavra Coração está no mesmo campo semântico de amor, carinho, sentimentos. Este recurso é conhecido dentro da ambiguidade como polissemia, onde o sentido novo se ajustará com o contexto que foi dado e poderá gerar confusão na mente do público. Esse caráter polissêmico pode ser notado em outros trechos da música, tais como:
	Vem meu moranguinho! Vem meu cajuzinho! Na sua boca eu viro fruta. [...]
	Da mesma forma como foi citado anteriormente, o contexto ira ou não definir qual significação cabe a essas palavras. No exemplo [...] na sua boca eu viro fruta [...] não necessariamente o locutor irá virar uma fruta e ser comido pela mulher amada, que durante a música inteira é retratada como frutas. Novamente percebemos que os nomes das frutas citadas no trecho, assumem o significado de amor, meu bem e outros elogios.
	Com isso percebesse a necessidade do uso de ambiguidades, como a polissemia e a homonímia para a construção das mais diversas músicas, com efeito de provocar essa sensação de dualidade para mesmo chamar a atenção do público e deixar mais rítmica.
Me mata de amor...
Neste trecho a palavra mata não é usada em seu significado usual. O sujeito não está pedindo para ser morto de verdade. O que se pretende ao fazer uso de mata no referido contexto é expressar o desejo de um amor que seja intenso, arrebatador e profundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Como se observou, o uso de ambiguidades advém da necessidade de, num mundo cheio de conceitos e com poucos nomes, haver a economia de significados. Observamos que as ambiguidades podem se manifestar de múltiplas maneiras, desde lexicais até de escopo e sintáticas e observamos como esse recurso estilístico se manifesta nas músicas de forró por meio do uso de palavras que abarcam mais de um significado, evidenciado o caráter polissêmico delas. 
A pesquisa mostrou que esse recurso é utilizado nas músicas forrozeiras como uma necessidade de chamar a atenção do público, por vezes transformando essas músicas em obscenas e vulgares, por outras, românticas e cheias de sentimentos. A pesquisa abre um leque de possibilidades nas mais diversas áreas e com outros exemplos que podem ser discutidos com o referido tema.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciação à semântica. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
Kempson, R.; Marten, L. The dynamics of word-order change in the Romance languages. SOAS Working Papers in Linguistics and Phonetics, 9 (p. 21-38), 1999.
ULLMANN, Stephen. Semântica: uma introdução à ciência do significado.Trad. J. A. Osório Mateus. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,1964.
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2015.

Continue navegando