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Auxiliar de Necropsia - Módulo II

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2 
 
SUMÁRIO 
BIOSSEGURANÇA NA NECROPSIA ............................................................... 3 
TÉCNICAS DE NECROPSIA DA CAVIDADE ORAL PARA IDENTIFICAÇÃO 
HUMANA ........................................................................................................... 4 
PLASTINAÇÃO ............................................................................................... 11 
A FIXAÇÃO ...................................................................................................... 14 
DISSECAÇÃO ................................................................................................. 15 
DESIDRATAÇÃO ............................................................................................ 15 
IMPREGNAÇÃO .............................................................................................. 17 
CURA OU POLIMERIZAÇÃO .......................................................................... 18 
ESTADOS DE DECOMPOSIÇÃO DO CORPO HUMANO .............................. 19 
PUTREGAÇÃO ................................................................................................ 23 
COLOZINAÇÃO ............................................................................................... 25 
ENTERRO ........................................................................................................ 30 
ANTROPOLOGIA FORENSE .......................................................................... 32 
ETAPAS PARA A LIBERAÇÃO DE UM CORPO ........................................... 39 
LAUDOS REALIZADOS NO IML .................................................................... 44 
PAPILOSCOPIA .............................................................................................. 45 
VIRTÓPSIA ...................................................................................................... 49 
NECROMAQUIAGEM ...................................................................................... 52 
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 57 
 
 
 
 
3 
BIOSSEGURANÇA NA NECROPSIA 
 
Os cadáveres podem atuar como vetores de uma pluralidade de 
doenças infecciosas que serão transmitidas no manejo e análise do material 
orgânico em decomposição, logo, discutir sobre biossegurança em necrotérios 
e no serviço de autópsia é dialogar sobre a saúde e a segurança dos diversos 
trabalhadores deste local insalubre, além de lhes proporcionar melhores 
condições ocupacionais. Este assunto também se faz necessário ao passo que 
os necrotérios são pouco explorados pela comunidade acadêmico-científica. 
A manipulação de cadáveres nos institutos médicos legais brasileiros 
requer medidas urgentes de biossegurança, uma vez que a natureza da 
atividade oferece risco de contaminação aos profissionais de saúde e técnicos 
de necropsia. O alerta foi feito pelo odonto-legista Marcus Vinícius Ribeiro de 
Carvalho, depois de avaliar 50 cadáveres, para detectar a presença do vírus 
HIV, na cidade fluminense de Volta Redonda. Em 2,4% das amostras, ele 
constatou a presença do agente etiológico, mesmo passadas 24 horas da 
morte do indivíduo. 
 
 
4 
Uso de EPIs é fundamental, pois o risco fica também para Tuberculose, 
meningites e Hepatites. Dica de como trabalhar com higiene na sala de 
necropsia: - Manter a limpeza da mesa com água corrente para evitar sangue 
parado. 
A higienização constante é fundamental e depois das necropsias a 
equipe de limpeza deve fazer a lavagem da sala e os instrumentos devem ser 
lavados e colocados de molho em soluções especificas. 
 
TÉCNICAS DE NECROPSIA DA CAVIDADE ORAL PARA 
IDENTIFICAÇÃO HUMANA 
 
Em procedimentos de identificação, quando a Papiloscopia não pode ser 
aplicada (como em desastres em massa, carbonização, putrefações e outros) a 
Odontologia Legal assume o protagonismo no processo de identificação 
humana. Juntamente com os ossos, os dentes possuem unicidade e alta 
resistência após transformações tanatológicas, tornando possível o confronto 
de suas características com dados 
odontológicos registrados em vida. O acesso à 
cavidade bucal e suas estruturas deve ser 
amplo e com boa visibilidade, o que pode 
demandar a remoção e ressecção especializada 
de mandíbula ou dissecção facial. 
http://3.bp.blogspot.com/-7UUUx8l5NhA/U07w8ALphqI/AAAAAAAABPc/7YVZnff6dPA/s1600/EPI-Dicas-Odonto.jpg
 
 
5 
A necropsia bucal permite o acesso detalhado dos arcos dentais para 
uma melhor descrição da estrutura estomatognática. A análise de 
características dentárias (como dentes cuneiformes, geminação, atrição), 
materiais odontológicos de restaurações, próteses e manifestações patológicas 
podem indicar uma possível vítima, com o auxílio de registros odontológicos 
para o confronto ante e post mortem. As técnicas preconizam incisões em 
regiões de face e pescoço, com a remoção ou não dos maxilares, selecionadas 
para serem utilizadas de acordo com a necessidade de preservação das 
estruturas faciais ou o estado de degradação dos corpos – decomposição, 
rigidez cadavérica, carbonização. 
 
TÉCNICA DE LUNTZ 
 
Para carbonizados, cadáveres putrefeitos, desastres em massa: 
 Incisão em formato de “V”. São feitas duas incisões a partir das 
comissuras labiais: a superior, indo até o arco zigomático, expondo o 
côndilo mandibular (cavidade glenoide do osso temporal), e a inferior, 
atingindo o ângulo da mandíbula. 
 Remove-se os músculos da mastigação (principalmente o masseter) e 
os ligamentos inseridos, expondo a região. 
 Depois é feita uma incisão na borda inferior do osso mandibular, no 
assoalho bucal, dissecando a musculatura aderida. Por fim, remove-se a 
mandíbula da articulação temporomandibular. 
 A maxila é retirada com um corte horizontal com uma serra, iniciando 
pela espinha nasal até o processo pterigoide. 
Essa técnica é aconselhada para melhor manuseio, observação e 
possibilidade de se fazer uma radiografia, caso necessário. 
 
TÉCNICA SUBMANDIBULAR (OU DA MÁSCARA): 
 
 A incisão é feita em formato de ferradura, na base até o ângulo da 
mandíbula, rebatendo os tecidos superiormente acima da região nasal, 
 
 
6 
expondo os ossos maxilares e mandibulares. 
 A mandíbula é removida com um corte bilateral dos ramos, na altura dos 
terceiros molares. A maxila não é retirada. 
 A técnica submandibular causa menor prejuízo as estruturas faciais, 
mantendo a estética do cadáver. 
 Após as técnicas de incisão, é feita a limpeza das peças para serem 
usadas nos procedimentos de comparação. 
 Usa-se sabão, água e escova no processo inicial, para a remoção do 
tecido biológico aderido. Depois ferve-se com água e detergente, ou 
com cristais de soda cáustica (NaOH) para degradação de 
remanescentes. Por último, os ossos são mergulhados em peróxido de 
hidrogênio (H2O2) por 24 horas para o branqueamento. 
 
TÉCNICA DE IDENTIFICAÇÃO 
 
Este processo inclui minucioso exame da arcada durante a necrópsia, e 
confronto com dados de prontuários, moldes em gesso, fotografias e 
radiografias, para uma correta identificação. 
Trata-se de um método comparativo dos registros odontológicos ante 
mortem com a perícia post mortem de enucleação dos arcos dentais. 
O confronto é feito relacionando-se os números de dentes presentes e 
ausentes, restaurações, posicionamentos dos elementos, existência de 
anomalias e deformidades e, sendo possível, a análise das rugosidades 
palatinas (quando edentados). 
Dessa forma, é importante que o cirurgião-dentista elabore um 
prontuário odontológico detalhado e atualizado, a fim de facilitar o 
procedimento pericial de comparação. A documentação odontológica é uma 
ferramenta essencial por oferecer características singulares do complexo 
estomatognático, auxiliando a perícia criminal de forma simples e eficiente na 
identificação de vítimas e suas famílias. 
 
 
 
 
7 
ESTRATÉGIAS PARAPREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÕES. 
 
Como os patologistas trabalham em laboratórios, as melhores práticas 
para evitar e controlar as infecções são praticamente as mesmas nos dois 
departamentos. Uma lista de estratégias para prevenção e controle de 
infecções (PCI) que deve ser obedecida no departamento de patologia está 
descrita a seguir: 
 Usar as precauções-padrão; 
 Fazer a higiene adequada das mãos; 
 Usar equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados para a 
exposição de patógenos transmitidos pelo sangue (máscaras, proteção 
para olhos ou escudos de face, roupas, aventais, jalecos); 
 Descartar o EPI ou lavar a roupa não descartável de forma adequada; 
 Receber educação e treinamento, incluindo o treinamento sobre a 
prevenção de tuberculose (TB) e as precauções com sangue e fluidos 
corporais; 
 Tomar vacinas específicas, como a da hepatite B; 
 Observar as precauções do nível de biossegurança; 
 Tratar todas as amostras como infectadas; 
 Descartar os perfurocortantes em recipientes adequados; 
 Limpar e desinfetar os equipamentos; 
 Comunicar casos suspeitos da doença de Creutzfeldt-Jakob.
 
 
 
8 
 A obediência a esses padrões de precaução e as estratégias de PCI 
deve ser monitorada pelos supervisores. 
 
ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÕES NO 
CUIDADO PÓS-MORTE. 
 
Além das precauções para os laboratórios, os patologistas que realizam 
necrópsias lidam com os riscos adicionais dos cadáveres e dos procedimentos. 
Todos os cadáveres que chegam ao departamento de patologia podem ser 
fontes de infecção. Os patologistas que fazem necrópsias estão sob risco de 
exposição a hepatite viral, vírus da imunodeficiência humana (HIV), TB e 
doença de Creutzfeldt-Jakob, entre outras doenças. Para evitar a transmissão 
de infecções, os líderes do departamento de patologia devem exigir que os 
PASs desse setor adotem as seguintes estratégias: 
 Ao cuidar de um cadáver na necrópsia, todos os PASs na área devem 
usar as precauções-padrão. Tais precauções incluem o uso de EPI e a higiene 
das mãos. Os EPIs adequados para necrópsia incluem avental cirúrgico, touca 
cirúrgica, roupa impermeável ou avental com mangas compridas, propés, 
óculos ou proteção para rosto, olhos, pele e membranas mucosas. Os PASs 
devem usar dois pares de luvas cirúrgicas ou luva de malha de aço, de rede ou 
de Kevlar sobre as luvas cirúrgicas para proteger contra cortes com 
facas. Também existem luvas não metálicas à prova de perfuração. Quando 
existe risco de patógenos em aerossóis, como TB, os PASs presentes durante 
a necrópsia devem usar respiradores N95. 
 
 
9 
Fazer a necrópsia em uma área de risco biológico indicada. As salas de 
necrópsia devem ser fisicamente separadas das áreas administrativas e de 
todas as outras do hospital. Essa separação ajuda a evitar potenciais infecções 
a partir da disseminação a funcionários ou pessoas que não realizam as 
necrópsias. Essas salas devem ter pressão negativa, com o ar da sala retirado 
diretamente para a parte externa. 
O American Institute of Architects recomenda pelo menos 12 trocas de 
ar por hora nessas áreas. Equipamentos adicionais podem ajudar a reduzir o 
risco da exposição a patógenos em aerossóis, como mesas de necrópsia com 
esvaziamento descendente, filtração de ar particulado de alta eficiência 
(HEPA), radiação ultravioleta (para esterilizar o ar) e cabines de segurança 
biológica para manusear os tecidos infectados. 
 Usar o equipamento de segurança durante as necrópsias, como 
equipamento com proteção, anexos com vácuo e drenos ou unidades 
para descarte. 
 Restringir a entrada ou saída da área de necropsia durante a execução 
do procedimento. 
 Implantar os controles de prática de trabalho, como tratar todas as 
amostras como infectantes, separar todo o material necessário antes de 
iniciar um procedimento, manter todos os tecidos na mesa de necrópsia 
até serem fixados – exceto se transportados em uma bandeja ou 
recipiente –, cortar seções apenas em tecidos fixados e indicar uma 
pessoa para monitorar as práticas de PCI durante o procedimento. 
 Rotular claramente todas as partes congeladas ou não fixadas com a 
expressão “risco de infecção”. As partes do corpo fixadas devem ser 
seladas em recipientes seguros, à prova de vazamento, para evitar a 
contaminação para o ambiente externo. 
 Tornar a imunização, especialmente para hepatite B, obrigatória para 
todas as pessoas que trabalhem no departamento de patologia. Um 
teste cutâneo inicial com tuberculina durante o exame admissional 
também é importante. 
 Os hospitais podem solicitar que os patologistas façam exames 
 
 
10 
médicos anuais para verificar a saúde desses profissionais e identificar 
qualquer possível exposição. 
 Preparar o cadáver após o término da necrópsia. Isso envolve suturar 
qualquer incisão com agulhas e pinças, lavar o corpo com detergente 
seguido por uma solução de água sanitária e acondicionar o corpo em 
uma embalagem específica à prova de vazamento. 
 Limpar adequadamente as superfícies. A limpeza envolve retirar 
produtos do corpo, fluidos corporais e outros materiais orgânicos 
grosseiros com água, esfregar e desinfetar todas as superfícies e 
enxaguar a área desinfetada. Para alguns tipos de procedimentos de 
alto risco, pode ser necessária uma limpeza mais profunda. Por 
exemplo, as superfícies contaminadas com Mycobacterium tuberculosis 
devem ser descontaminadas com soluções tuberculocidas líquidas, 
como compostos fenólicos. (Ver o Destaque 13.1 para informações de 
limpeza específicas para doença de Creutzfeldt-Jakob.) 
 Limpar e reprocessar os equipamentos médicos adequados. Limpadores 
enzimáticos, desinfetantes de nível intermediário e lavadoras 
esterilizantes de instrumentos podem ser incluídos nos processos de 
limpeza dos equipamentos de patologia. 
 
PREVENÇÃO E CONTROLE DE RISCOS DE INFECÇÃO COM A DOENÇA 
DE CREUTZFELDT-JAKOB 
 
Dentro do departamento de patologia, existem alguns procedimentos 
que são considerados de maior risco para transmissão de infecção do que 
outros. Isso ocorre principalmente por causa das consequências da 
transmissão de infecções. Por exemplo, fazer necrópsias de cadáveres ou 
manusear tecidos de pacientes com doença de Creutzfeldt-Jakob são 
considerados procedimentos de alto risco, e os patologistas que cuidam de 
pacientes com suspeita ou confirmação de doença de Creutzfeldt-Jakob devem 
tomar precauções adequadas, como: 
 Ter uma sala de procedimento dentro do necrotério para fazer 
 
 
11 
necrópsias em pacientes de alto risco. Isso é recomendável, mas não 
essencial; 
 Usar um conjunto separado de instrumentos para casos de doença de 
Creutzfeldt-Jakob. Se não for possível, usar instrumentos descartáveis; 
 Após manusear cadáveres com suspeita de doença de Creutzfeldt-
Jakob, descontaminar os instrumentos do necrotério e as superfícies de 
trabalho usando um dos seguintes métodos: 
 18 minutos de autoclavagem a vapor a 134°C ou 6 ciclos de 134°C por 3 
minutos; 
 1 hora de autoclavagem a vapor com deslocamento de gravidade a 
134°C; 
 Aplicar hidróxido de sódio 1 N por 1 hora (incluindo molhar as 
superfícies com frequência); 
 Usar solução de hipoclorito de sódio com 20.000 ppm de cloro (Nota: a 
solução de hipoclorito é muito corrosiva para metais, portanto, deve-se 
ter cuidado ao aplicá-la sobre superfícies); 
 1 hora de ácido fórmico a 96% (Nota: a solução de ácido fórmico é muito 
corrosiva para metais, portanto, deve-se ter cuidado ao aplicá-la sobre 
superfícies); 
 Incineração. 
 
PLASTINAÇÃO 
 
A Plastinação é o procedimento técnico, moderno, de preservação de 
materiais biológicos, criado pelo médico, anatomista, artista e cientista de 
Heidelberg na Alemanha, Gunther Von Hagens em 1977, e que consiste 
basicamente em extrair os líquidos corporais (água e soluções fixadora) e 
os lipídios, atravésde métodos químicos, substituindo-os por resinas plásticas 
como silicone, poliéster e epóxi. 
Tal técnica tem numerosas vantagens, tais como: 
 Melhor conservação dos corpos e tecidos; 
 
 
12 
 Diminuição da insalubridade da manipulação das peças anatômicas; 
 Durabilidade de peças anatômicas; 
 Diminuição da manutenção; 
 Morfologia natural das estruturas; 
 Facilidade na manipulação; 
 Aumenta o rendimento do aluno (maior tempo do aluno com a peça); 
 Ferramenta na pesquisa morfológica; 
 Facilita a exposição em Museus. 
Sem sombra de dúvida, Von Hagens 
teve uma grande ideia: o desenvolvimento de 
uma técnica de conservação que permite o 
estudo macrocósmico de cadáveres sem os 
incômodos odores ou as mudanças de 
tonalidade dos tecidos, normalmente 
produzidas pelas químicas de conservação 
tradicionais. Os estudos anátomo-científicos do 
corpo humano puderam ser, então, mais 
didáticos e esclarecedores. 
No Brasil, bem como em boa parte dos países, a aquisição do cadáver 
humano para estudo, e até mesmo animais, vem cada vez sendo mais difícil. 
As questões éticas e legais têm sido empecilho em muitos lugares. A 
Plastinação hoje é apontada como uma técnica que pode ajudar a minimizar 
tais dificuldades, haja vista a maior durabilidade de a peça anatômica resultar 
em uma menor demanda por corpos humanos e animais. 
Outro grande ganho trazido pela Plastinação é a melhor formação de 
museus de anatomia, onde as peças conferem um melhor entendimento ao 
visitante, maior interação e proximidade do público e até mesmo propiciando 
inclusão, como o caso de deficientes visuais que podem ter oportunidade de 
manipular peças anatômicas. 
A International society for Plastination (isp.plastination.org), fundada em 
1986, tem sido uma grande difusora da técnica mundialmente, e reúne 
plastinadores de todos os lugares do mundo, no objetivo de difundir, 
 
 
13 
desenvolver e aprimorar as técnicas de Plastinação, promove fóruns de 
discussão para troca mútua de informações sobre Plastinação, além de manter 
o The Journal of International society for Plastination. 
 
TIPOS DE PLASTINAÇÃO 
 
A Plastinação pode ser dividida em 3 tipos, segundo o polímero a ser 
impregnado: a Plastinação em Silicone (que pode ser subdividida em 
Plastinação a Frio e Plastinação em temperatura ambiente), Plastinação em 
poliéster e Plastinação em Epóxi. 
A Plastinação em Silicone obtém peças com aspecto emborrachado, 
flexível, e é mais usada em peça sólidas, espessas. A impregnação usa 
silicones tipo S40 e S10 da Biodur, associados a um cross-linker S3 e um 
reticulante S6 (alongador de cadeias) também da Biodur. No Brasil laboratórios 
de Plastinação têm obtido sucesso com produtos nacionais, ainda em 
experimentação. A Plastinação em silicone pode ainda ser realizada a baixa 
temperatura (-25ºC) e a temperatura ambiente, cada uma com suas 
particularidades de procedimentos, combinação de reagentes, forma de 
desidratação, tempo de impregnação e controle de pressão. 
Vale ressaltar que a Plastinação em silicone a frio, mostra melhores 
resultados na qualidade das peças obtidas, na flexibilidade, no nível de 
retração tecidual e coloração, principalmente em peças de sistema nervoso. A 
Plastinação em silicone a frio é mais lenta, e requer também maior 
investimento em freezers adaptados e em segurança. A Plastinação a 
temperatura ambiente funciona muito bem, apesar da menor qualidade, com 
exceção de material de sistema nervoso, recomenda-se para quem está 
iniciando e implantando seu laboratório por seu baixo custo e maior 
simplicidade do processo. 
A Plastinação em poliéster e epóxi são usadas no preparo de peças em 
slides, cortes de 1, 2 e 3 mm, com características de transparência. A 
Plastinação com poliéster usa o P35 ou P40 da Biodur, onde a cura é feita com 
ultravioleta, já o Epóxi usa o E12 e a cura é feita através do calor. 
 
 
14 
Devido ao curto tempo de curso e a complexidade das demais técnicas 
envolvidas na Plastinação e suas peculiaridades, tanto neste material como em 
nossa aula teórica e prática nos ateremos somente a Plastinação em sílice a 
temperatura ambiente. 
 
PRINCÍPIOS DA PLASTINAÇÃO (AMBIENTE) 
 
Basicamente a Plastinação se baseia na preparação da peça anatômica 
(fixação e dissecação), desidratação, impregnação do polímero e cura ou 
polimerização. Onde cada etapa é um ponto crítico para a próxima etapa e 
para o sucesso do resultado do processo de Plastinação. A má execução de 
um destes pontos compromete e inviabiliza todo o restante do processo. 
 
A FIXAÇÃO 
 
A fixação é o início de todo o processo de Plastinação, teoricamente 
pode se plastinar sem fixação dos tecidos, entretanto é necessário preservar os 
tecidos de espécime durante o processo de dissecação, que costuma ser 
 
 
15 
bastante demorado. É recomendado que não se use soluções fixadoras que 
contenham glicerina, esta pode comprometer o processo de impregnação. Na 
verdade, a melhor técnica a ser utilizada para fixação é o nosso velho 
conhecido do dia a dia, o formaldeído (formol), que pode ser usado de 5% a 
10%. Particularmente, para uso em peças com objetivos de Plastinação, 
preferimos utilizar o formol a 5%, por conferir maior flexibilidade. Também 
recomendamos que se acondicione as peças fixadas com formol a 5% em 
refrigeração 2 a 5ºC, com objetivo de manter em parte as cores naturais da 
peça. 
Peças preservadas em glicerina ou glicerinadas impossibilitam a 
impregnação dos polímeros, portanto não são recomendadas para a 
Plastinação. Contudo, alguns laboratórios de anatomia têm relatado ter tido 
sucesso na reversão da glicerinação e bons resultados de uso destas peças 
em plastinação. 
 
DISSECAÇÃO 
 
Passado o período de cura da fixação, a dissecação torna-se em minha 
opinião o ponto mais crítico de todo o processo, haja vista uma peça mal 
dissecada, se tornará “feia” e mal esclarecedora em sua anatomia antes e 
depois da Plastinação, e após a Plastinação, fica quase impossível corrigir tais 
erros. Assim, uma boa escolha da metodologia de dissecação, uso de bom 
material e a definição do objetivo da dissecação (o que desejamos “mostrar”) é 
imprescindível para obter uma peça ótima. 
A dissecação deve ser feita com cuidado e calma. O ditado popular “ A 
pressa é inimiga da perfeição” se aplica muitíssimo bem a essa situação. 
 
DESIDRATAÇÃO 
 
Tendo uma peça de qualidade, bem preparada, bem conservada, bem 
dissecada ou seccionada, ou seja, uma peça digna de ser “imortalizada”, digna 
de ser plastinada, podemos iniciar o protocolo de Plastinação propriamente 
 
 
16 
dito. Lembrando que se temos uma peça mal preparada “feia”, ao ser 
plastinada teremos como resultado uma peça “feia” plastinada. 
A primeira etapa da Plastinação é desidratação da peça, remover agua 
dos tecidos, juntamente com as gorduras (restantes da dissecação). Assim 
como a preparação da peça é fundamental para o sucesso da Plastinação, a 
desidratação também é um ponto crítico do processo. Falhas nessa etapa 
comprometem o sucesso das etapas seguintes. Resíduos de água no tecido 
impedem a penetração do polímero, bem com atrapalham a cura do material, 
provocando manchas na peça. 
A desidratação pode ser feita com acetona ou álcool, apesar da acetona 
ser mais cara que o álcool, a acetona confere melhor resultado. 
A desidratação deve ocorrer de forma lenta, portanto deve ser feia em 
baixas temperaturas (-15 a -25ºC), o que evita a saída rápida da água e o 
colabamento da peça. Pelo mesmo motivo a desidratação deve iniciar em 
menor concentrações em banhos de acetona 80%, 90%, 100% e 100% 
novamente, com intervalo de 7 dias. Vale ressaltar que após a retirada da 
acetona de cada banho, sua concentração deve ser verificada com 
acetonômetro, só devendo parar o processo quando a acetona retirada banho 
chegar a 100%, ou seja, não haver mais água para retirar dapeça. Tecido ou 
peças com maior quantidade de água necessitam de uma maior quantidade de 
banhos para chegar a 100%. Alguns autores aceitam a concentração de 98% 
de acetona, entretanto, é melhor chegar a 100% e garantir o sucesso do 
processo. Após a chegada aos 100% de acetona, deve-se ainda fazer mais um 
banho a temperatura ambiente para retirada de gorduras excedentes das 
peças. 
A desidratação pode ser feita a temperatura ambiente, mas deve ser 
evitada por levar a um maior nível de retração, principalmente em tecidos 
moles. 
A desidratação deve ocorrer em recipiente que suportem a acetona, e 
que sejam herméticos. Os freezers usados na Plastinação devem ser 
adaptados, seus componentes elétricos e compressor devem ser removidos e 
colocado em uma sala diferente da sala onde o freezer se encontra. Tal medida 
 
 
17 
deve ser feita para evitar explosões, haja vista a acetona ser extremamente 
explosiva, ser pesada e não se dissipar do ambiente facilmente. 
 
IMPREGNAÇÃO 
 
Tendo obtido um material bem desidratado, este material pode ser 
retirado e enxugado com papel toalha, seguindo diretamente para o polímero a 
ser utilizado, neste caso silicone. O silicone mais usado para Plastinação em 
temperatura ambiente é o S10 da Biodur (existe alguns equivalentes nacionais, 
mas ainda se encontram em teste). A Plastinação a frio, assim como a 
desidratação a frio, confere maior qualidade as peças, menor nível de retração 
pelo mesmo motivo, entretanto esta é mais demorada, e requer maior 
investimento na adaptação das câmaras de vácuo dentro de freezers, que por 
sua vez também devem ter adaptação de seu circuito elétrico e compressor. 
Nesta fase é necessário ter uma bomba de vácua capaz de gerar um 
vácua mínimo de -760 mmHg para o volume de sua câmara. Quanto maior a 
câmara de vácuo, maior deve ser a capacidade de drenagem por minuto de 
sua bomba, algo que deve ser calculado antes de aquisição de sua bomba. O 
vácuo gerado pela bomba é diferente da potência da mesma. Também 
devemos ter acoplado ao sistema vacuômetros (diferente de manômetro) para 
o fiel controle da pressão ideal de plastinação e para evitar implosões do 
sistema. 
Também é necessário ter uma câmara de vácuo capaz de suportar 
pressões inferiores a -760 mmHg. Tenha em mente o quanto de vácuo seu 
sistema é capaz de suportar para evitar implosões, assim nunca excedendo 
estes limites. 
As câmaras normalmente são de aço inoxidável, com chapas 
compatíveis com o tamanho da câmara e do vácuo a ser usado, quanto maior a 
câmara mais reforço ela deve ter. Também deve conter tampa de vidro ou 
acrílico transparentes que possibilitem a visualização das peças e das bolhas 
de acetona que saem das mesmas. 
Também pode-se usar como câmaras de vácuo, dissecadores para 
 
 
18 
pequenos trabalhos (recomendado para quem está iniciando). O mesmo 
cuidado deve ser observado com dissecadores, pois o risco de implosões é 
eminente, lembre-se que o dissecador é feito de vidro, e que o vidro do mesmo 
deve ser adequado e suportar vácuo (deve ser temperado). 
Ao S10 deve ser adicionado o alongador de cadeia (Cross-Linker) S6 na 
concentração de 8%, e bem homogeneizado. A peça é mergulhada no 
polímero com ajuda de uma tela com peso suficiente para fazê-la afundar. 
Depois disso inicia-se a formação do vácuo, regulando-se a pressão através de 
válvulas acoplados em seu sistema de vácuo. O tempo de plastinação vai 
variar de acordo com o volume da peça, até que não se saia mais acetona da 
mesma. 
 
CURA OU POLIMERIZAÇÃO 
 
Após a impregnação forçada com o silicone, a peça deve ser colocada 
em uma tela que possibilite o escorrimento do silicone excedente. Nesta fase 
deve ser pincelado em sua superfície o cross-linker ou S3 que irá promover a 
vulcanização do silicone (solidificação). Em aproximadamente 3 dias a peça irá 
começar a adquirir características de peça plastinada, podendo já ser 
manipulada, entretanto tal processo continua a ocorrer de fora para dentro da 
peça por aproximadamente 3 meses dependendo de seu volume. 
 
CUIDADOS COM SEGURANÇA 
 
Os laboratórios de plastinação devem ter ambientes distintos para 
 
 
19 
desidratação e impregnação, e adaptados com exaustores baixos (peso da 
acetona) por tubulação e instalações elétricas anti-explosão. O sistema de 
refrigeração, bem condicionadores de ar assim como os freezers devem ter as 
instalações elétricas e compressores no ambiente externo. 
 
CUIDADOS COM A BOMBA 
 
A Bomba de vácuo necessita de troca constate de óleo, mesmo que o 
mesmo ainda esteja com boa aparência e viscosidade. A acetona passa dentro 
da bomba, e pode impregnar no óleo, danificando as peças. Limpeza interna 
das peças da bomba também é recomendada a cada 1 ano. 
ESTADOS DE DECOMPOSIÇÃO DO CORPO HUMANO 
 
A maioria de nós preferiria não imaginar o que acontece com o nosso 
corpo depois que morremos, mas este processo faz nascer novas formas de 
vida de maneiras inesperadas, escreve Moheb Costandi. 
“Talvez seja preciso um pouco de 
força para mover isso daqui”, diz a agente 
funerária Holly Williams, carregando o braço 
de John e gentilmente flexionando os dedos, 
cotovelos e pulsos dele. “Geralmente, 
quanto mais fresco o corpo, mais fácil é meu 
trabalho”. 
Williams fala de forma leve e tem um comportamento sorridente que vai 
contra a natureza do trabalho dela. Criada e agora empregada na funerária de 
sua família no norte do Texas, EUA, ela viu e lidou com corpos quase que de 
forma diária desde a infância. Agora, com 28 anos, ela estima que já tenha 
trabalhado em mais de 1.000 cadáveres. 
O trabalho dela envolve coletar corpos recém falecidos da região de 
Dallas e Fort Worth e prepará-los para o funeral. 
“A maioria das pessoas que recolhemos morre em casas de repouso”, 
 
 
20 
diz Williams, “mas em alguns casos recolhemos pessoas mortas por tiros ou 
em acidentes de carro. Podemos receber uma ligação para pegar uma pessoa 
que morreu sozinha e foi encontrada dias ou semanas depois, e ela já está em 
decomposição, o que torna o meu trabalho muito mais difícil”. 
John estava morto havia cerca de 4 horas antes do corpo dele ser 
trazido à funerária. Ele foi relativamente saudável pela maior parte da vida. Ele 
trabalhou a vida inteira nos campos de petróleo do Texas, um emprego que o 
mantinha fisicamente ativo e em boa forma; parou de fumar há décadas; e 
bebia álcool de forma moderada. Daí, em um dia frio de janeiro, ele sofreu um 
terrível ataque cardíaco em casa (aparentemente desencadeado por outras 
complicações desconhecidas), caiu no chão e morreu quase que 
imediatamente, aos 57 anos de idade. 
Agora, John deita sobre a mesa de metal de Williams, o corpo dele 
envolto em um lençol de linho branco, frio e duro ao toque, a pele dele com 
uma coloração roxa e acinzentada — sinais de que os estágios iniciais da 
decomposição já estavam acontecendo. 
 
AUTODIGESTÃO 
 
Longe de estar “morto”, um cadáver apodrecendo está cheio de vida. 
Um crescente número de cientistas vê um cadáver em apodrecimento como os 
fundamentos de um vasto e complexo ecossistema, que emerge depois da 
morte e evolui com a decomposição. 
A decomposição começa alguns minutos depois da morte em um 
processo chamado autólise, ou autodigestão. Momentos depois do coração ter 
parado de bater, as células ficam privadas de oxigênio e a acidez delas 
aumenta, à medida que os subprodutos tóxicos das reações químicas começa 
a se acumular dentro delas. As enzimas começam a digerir as membranas 
celulares e vazam; assim, as células começam a se romper. 
Isso geralmente começa no fígado, rico em enzimas, e no cérebro, que 
possui um nível maior de água. Depois, todos os outros tecidos e órgãos 
começam a se desmembrar. Glóbulos brancos danificados começam a vazar 
 
 
21 
de vasos rompidos e, auxiliados pela gravidade, instalam-se nos capilares e em 
pequenas veias,descolorindo a pele. 
A temperatura do corpo também começa a cair, até se aclimatar ao 
ambiente. Então chega o rigor mortis — a rigidez cadavérica — começando 
pelas pálpebras, queixo e músculos do pescoço, antes de prosseguir ao tronco 
e aos membros. Em vida, células musculares se contraem e relaxam graças à 
ação de duas proteínas filamentosas (actina e miosina), que andam juntas. 
Depois da morte, as células ficam sem energia e as proteínas filamentosas 
ficam paradas no lugar. Isso faz com que o músculo fique rígido, prendendo as 
articulações. 
Durante estes primeiros estágios, o ecossistema cadavérico consiste em 
grande parte nas bactérias que vivem dentro e fora do corpo humano. Nossos 
corpos hospedam uma enorme quantidade de bactérias; todas as superfícies e 
cantos do corpo providenciam um habitat para uma comunidade microbial 
especializada. De longe, a maior dessas comunidades vive no intestino, lar de 
trilhões de bactérias que pertencem a centenas ou milhares de espécies 
diferentes. 
O microbioma do intestino é um dos tópicos mais pesquisados na 
biologia; ele está ligado à saúde humana e a uma pletora de doenças e 
problemas, incluindo autismo, depressão, síndrome do cólon irritável e 
obesidade. Mas ainda sabemos pouco destes passageiros microbiais. 
Sabemos ainda menos sobre o que acontece com eles quando nós morremos. 
Em agosto de 2014, a cientista forense Gulnaz Javan, da Universidade 
Estadual do Alabama (EUA), e seus colegas publicaram o primeiro estudo 
 
 
22 
sobre o que eles chamaram de tanatomicrobioma (de “thanatos”, a palavra 
grega para morte). 
“Muitos dos nossos exemplos vêm de casos criminais”, diz Javan. 
“Alguém morre em um suicídio, homicídio, overdose de drogas ou em um 
acidente de carro, e eu coleto amostras do corpo. Existem problemas éticos 
porque preciso de consentimento”. 
A maioria dos órgãos internos são desprovidos de micróbios quando 
estão vivos. Pouco depois da morte, no entanto, o sistema imunológico para de 
funcionar, deixando que eles se espalhem livremente por todo o corpo. Isso 
geralmente começa no intestino, na junção do intestino grosso e delgado — e 
então os tecidos adjacentes — de dentro para fora, usando o coquetel químico 
que vaza das células 
danificadas como fonte de 
alimentação. Então eles 
invadem os capilares do 
sistema digestivo e os 
linfonodos, espalhando-se 
primeiro no fígado e no baço, 
depois o coração e o cérebro. 
Javan e a equipe dela colheram amostras do fígado, baço, cérebro, 
coração e sangue de 11 cadáveres, entre 20 e 240 horas depois da morte. Eles 
usaram duas tecnologias de ponta de sequenciamento de DNA, combinadas 
com bioinformática, para analisar e comparar as bactérias presentes em cada 
amostra. 
As amostras colhidas de diferentes órgãos no mesmo cadáver eram 
parecidas umas com as outras, mas muito diferentes das amostras colhidas do 
mesmo órgão em outros pacientes. Isso talvez seja devido parcialmente às 
diferenças na composição do microbioma de cada cadáver, ou talvez seja 
causado pela diferença na hora da morte de cada corpo. Um estudo 
anterior avaliou a decomposição de camundongos e descobriu que, apesar do 
microbioma mudar drasticamente após a morte, ele faz isso de forma 
consistente e mensurável. Os pesquisadores puderam estimar a data da morte 
 
 
23 
dentro de um intervalo de três dias. 
O estudo de Javan também sugere que este ‘relógio microbiológico’ 
pode estar funcionando dentro do corpo humano em decomposição. Ele 
mostrou que as bactérias alcançaram o fígado em cerca de 20 horas depois da 
morte, e elas levaram cerca de 58 horas para se espalhar pelo restante do 
corpo de forma sistemática. O tempo levado para infiltrar o primeiro órgão 
interno e então outro pode prover uma nova forma de estimar a hora da morte. 
“Depois da morte, a composição das bactérias muda”, diz Javan. “Elas 
se movem para dentro do coração, do cérebro e então órgãos reprodutores por 
último”. Em 2014, Javan e seus colegas obtiveram US$ 200.000 da Fundação 
de Ciências Naturais para continuar as pesquisas. “Nós utilizaremos 
sequenciamento e bioinformática de próxima geração para ver qual órgão é o 
melhor para estimar [a hora da morte] — isso ainda não é claro”, ela diz. 
Uma coisa que parece clara, entretanto, é que uma composição 
diferente de bactérias está associada a diferentes estágios da decomposição. 
 
PUTREFAÇÃO 
 
Espalhados entre pinheiros em Huntsville, no Texas, EUA, estão cerca 
de meia dúzia de cadáveres em vários estágios de decomposição. Os dois 
corpos postos recentemente estão de braços abertos próximos ao centro do 
local, com grande parte da pele acinzentada macilenta ainda intacta, as 
costelas e os ossos pélvicos visíveis entre a pele que apodrece pouco a pouco. 
A alguns metros deste local está outro corpo, completamente esqueletizado, 
com a pele dura e escura agarrada aos ossos, como se o cadáver vestisse 
uma roupa de látex brilhante com capuz. Próximo dali, entre outros restos 
esqueléticos espalhados por abutres, está um terceiro corpo, dentro de uma 
gaiola de metal e arame. Este está próximo do fim do ciclo da morte, 
parcialmente mumificado. Diversos cogumelos marrons crescem onde um dia 
estava um abdômen. 
Para a maioria de nós, avistar um corpo em decomposição é na melhor 
nas possibilidades desconfortante; e na pior, algo repulsivo e assustador, coisa 
 
 
24 
de pesadelos. Mas este é o dia a dia dos pesquisadores do Departamento de 
Ciências Forense Aplicada do Sudeste do Texas. Aberto em 2009, o 
departamento está localizado em uma área de cerca de 100 hectares de 
floresta nacional mantida pela Universidade Pública de Sam Houston (SHSU). 
Dentro dela, um trecho de mais ou menos 4 hectares de terrenos densamente 
arborizados foi selado da área maior e subdividido por cercas de arame 
farpado de 3 metros de altura. 
No final de 2011, os pesquisadores Sibyl Bucheli, Aaron Lynne e seus 
colegas da SHSU deixaram dois cadáveres novos ali, e deixaram eles se 
decomporem em condições naturais. 
Uma vez que a autodigestão se inicia e a bactéria começa a escapar do 
trato gastrointestinal, a putrefação começa. Isso é a morte molecular: a quebra 
dos tecidos moles que os transforma em gases, líquidos e sais. Este processo 
já se inicia em estágios iniciais da decomposição, mas ele fica bem mais forte 
quando bactérias anaeróbicas entram em ação. 
A putrefação está associada a uma mudança de bactérias aeróbicas, 
que precisam de oxigênio para crescer, para as anaeróbicas, que não precisam 
de oxigênio. Estas então se alimentam de tecidos do corpo, fermentando 
açúcar para produzir subprodutos gasosos como metano, sulfureto de 
hidrogênio e amônia, que acumulam dentro do corpo, inflando (ou estufando) o 
abdômen e, em alguns casos, outras partes do corpo. 
Isso causa uma maior descoloração do corpo. À medida que glóbulos 
brancos danificados continuam a se romper dos vasos em desintegração, as 
bactérias anaeróbicas convertem moléculas de hemoglobina, que costumavam 
carregar oxigênio pelo corpo, em sulfoemoglobinemia. A presença desta 
molécula em sangue parado dá a pele uma aparência esverdeada, 
característica de um corpo em decomposição ativa. 
A pressão do gás que continua a se acumular dentro do corpo faz com 
que bolhas apareçam por toda a superfície da pele. Isso é seguido pelo 
afrouxamento de grande parte da pele, que permanece presa apenas à 
estrutura em deteriorando abaixo delas. Os gases e os tecidos 
liquefeitos acabam saindo do corpo, geralmente vazando pelo ânus e outros 
 
 
25 
orifícios, e frequentemente também de peles rasgadas de outras partes do 
corpo. Em alguns casos, a pressão é tão forte que o abdômen chega a 
estourar. 
O estufamento é muitas vezes usado para demarcar a transição entre os 
estágios da decomposição, e outro estudo recente mostra que essa transição é 
caracterizada por uma distinta mudançana composição das bactérias 
cadavéricas. 
Bucheli e Lyne colheram amostras das bactérias de várias partes do 
corpo no início e no final do estágio de estufamento. Eles então extraíram o 
DNA das bactérias das amostras e o sequenciaram. 
Como uma entomologista, Bucheli está mais interessado nos insetos 
que colonizam os cadáveres. Ela vê um cadáver como um habitat 
especializado para várias espécies de insetos necrófagos (ou comedores de 
mortos), alguns dos quais passam por um ciclo de vida inteiro dentro do corpo 
ou em seus arredores. 
 
COLOZINAÇÃO 
 
Quando um corpo em decomposição começa a eliminar substâncias, ele 
fica completamente exposto às redondezas. Neste estágio, o ecossistema 
cadavérico chega ao seu ponto máximo: trata-se de um ‘centro’ para micróbios, 
insetos e detritívoros. 
 
 
26 
Duas moscas diretamente conectadas à decomposição são as varejeiras 
(e suas larvas) das famílias Calliphoridae e Sarcophagidae. Os cadáveres 
liberam um desagradável odor adocicado, feito de um complexo coquetel de 
compostos voláteis que mudam conforme a decomposição avança. As 
varejeiras detectam o cheiro usando receptores especializados em suas 
antenas, elas então pousam no cadáver e botam ovos nos orifícios e nas 
feridas abertas. 
Cada mosca deposita cerca de 250 ovos que se chocam dentro de 24 
horas, dando vida a larvas de primeiro nível. Estas larvas se alimentam de 
carne apodrecendo e se transformam em larvas maiores, que se alimentam por 
várias horas antes se transformar mais uma vez. Depois de se alimentarem um 
pouco mais, elas se distanciam do corpo. Elas então se transformam em 
pupas, para, enfim, se tornarem moscas adultas. Este ciclo se repete até não 
existir mais nada no que elas possam se alimentar. 
Sob condições ideais, um corpo em decomposição ativa terá um grande 
número de larvas em terceiro nível se alimentando dele. Estas “larvas em 
massa” geram muito calor, aumentando a temperatura interna do corpo em 
mais de 10˚C. Como pinguins amontoados no Polo Sul, larvas individuais 
dentro da massa estão em movimento constante. Mas enquanto pinguins se 
amontoam para se aquecerem, as larvas se movimentam para se resfriarem. 
“É uma faca de dois gumes”, explica Bucheli, cercada de grandes larvas 
de brinquedo e uma coleção de bonecas de Monster High em seu escritório na 
SHSU. “Se a larva está sempre pelas bordas, ela pode ser comida por um 
pássaro, e se ela está sempre pelo centro, ela pode sofrer com o calor. Então 
elas estão sempre se movimentando do centro para as bordas, indo e 
voltando”. 
A presença de moscas atrai predadores como besouros de couro, 
ácaros, vespas e aranhas, que se alimentam das moscas ou parasitam em 
seus ovos e larvas. Abutres e outros detritívoros, assim como outros grandes 
animais comedores de carne, também podem se aproximar do corpo.No 
entanto, na ausência de detritívoros, as larvas são responsáveis por remover 
os tecidos moles. Conforme notou Carl Linnaeus (que idealizou o sistema o 
 
 
27 
qual cientistas nomeiam espécies) em 1767, “três moscas podem consumir o 
cadáver de um cavalo tão rápido quanto um leão”. Larvas de terceiro nível se 
distanciam em grandes quantidades do cadáver, geralmente seguindo uma 
mesma rota. A atividade delas é tão rigorosa que seus caminhos de migração 
podem ser vistos depois que a decomposição chega ao fim, como fundos 
sulcos no solo emanando do cadáver. 
Toda espécie que visita um cadáver tem o próprio repertório de 
micróbios do intestino, e espécies diferentes de solo tendem a acolher 
comunidades distintas de bactérias — uma composição que é provavelmente 
determinada por fatores como temperatura, umidade, tipo de solo e textura. 
Todos estes micróbios se misturam e se associam com o ecossistema 
cadavérico. As moscas que pousam no cadáver não vão apenas depositar os 
ovos nele, mas também levam consigo algumas das bactérias presentes no 
cadáver, além de deixar algumas delas próprias neles. E os tecidos liquefeitos 
vazando do corpo permitem uma troca de bactérias entre o corpo e o solo 
abaixo dele. 
Quando colheram amostras dos cadáveres, Bucheli e Lynne detectaram 
bactérias originadas da pele no corpo e de moscas e detritívoros que o 
visitaram, além de bactérias presentes no solo. “Quando um corpo vaza 
líquidos, as bactérias do intestino começam a sair, e vemos uma grande 
proporção delas do lado de fora do corpo”, diz Lynne. 
Portanto, é provável que todo corpo tenha a sua própria assinatura 
microbiológica, e essa assinatura pode mudar com o tempo de acordo com as 
condições exatas do local em que a morte ocorreu. Um melhor entendimento 
da composição dessas comunidades de bactérias, a relação entre ela e como 
 
 
28 
elas influenciam umas às outras conforme a decomposição avança, pode um 
dia ajudar equipes forenses a saber mais onde, quando e como uma pessoa 
morreu. 
Por exemplo, detectar sequências de DNA pertencentes a um organismo 
ou tipo de solo em particular a um cadáver pode ajudar investigadores de 
cenas do crime a conectar o corpo de uma vítima a uma geolocalização 
específica ou tornar menor a busca por pistas, talvez até especificar um campo 
dentro de uma área. 
“Existem diversos casos judiciais no qual a entomologia forense 
forneceu importantes peças de um quebra cabeça”, diz Bucheli, e ela espera 
que bactérias possam providenciar informações adicionais, se tornando mais 
uma ferramenta para aperfeiçoar a estimativa da hora da morte. “Espero que, 
em mais ou menos cinco anos, possamos começar a usar dados de bactérias 
em julgamentos”, ela diz. 
Até então, pesquisadores estão ocupados catalogando as espécies de 
bactérias que estão presentes dentro e fora do corpo humano, estudando como 
populações de bactérias se diferenciam entre cada indivíduo. “Eu amaria ter 
uma base de dados da vida para a morte”, diz Bucheli. “Eu amaria conhecer 
um doador que me permita colher amostras de bactérias enquanto ele está 
vivo, durante o processo de morte dele e enquanto ele se decompõe”. 
 
PURGANDO 
 
“Este aqui é o líquido que é expelido de corpos em decomposição”, diz 
Daniel Wescott, diretor do Centro de Antropologia Forense da Universidade 
Estadual do Texas, em San Marcos. 
Wescott, um antropólogo especializado na estrutura do crânio, usa um 
tomógrafo para analisar a estrutura microscópica dos ossos trazidos da 
fazenda de corpos. Ele também colabora com entomólogos e microbiólogos — 
incluindo Javan, que tem se ocupado analisando amostras do solo de 
cadáveres coletados do departamento de San Marcos — além de engenheiros 
da computação e um piloto, que opera um drone fotográfico que registra 
 
 
29 
imagens do local. 
“Eu li um artigo sobre drones que voavam sobre campos de colheita, 
pesquisando quais seriam os melhores para plantar”, ele diz. “Eles procuravam 
por espectrometria de infravermelho próximo, e solos organicamente mais ricos 
apresentavam uma coloração mais escura que os outros. Eu pensei que se 
eles podiam fazer isso, então talvez nós pudéssemos detectar esses pequenos 
círculos”. 
Os “pequenos círculos” são ilhas de cadáveres em decomposição. Um 
corpo em decomposição altera significativamente a composição química do 
solo abaixo dele. A purgação — o vazamento de materiais que restam dentro 
de um corpo — libera nutrientes no solo, e a migração de larvas transfere muita 
da energia no corpo para o ambiente. Todo o processo acaba criando uma “ilha 
de cadáveres em decomposição”, uma área de solo organicamente rico e 
altamente concentrado. Além de liberar nutrientes para um amplo ecossistema, 
isso atrai outros materiais orgânicos, como animais mortos e matéria fecal de 
animais maiores. 
De acordo com uma estimativa, um corpo humano padrão consiste em 
50 a 70% de água, e cada quilograma de massa corporal seca libera 32g de 
nitrogênio, 10g de fósforo, 4g de potássio e 1g de magnésio no solo. 
Inicialmente, isso mataparte da vegetação abaixo e ao redor do corpo, 
possivelmente por causa da toxicidade do nitrogênio ou por causa dos 
antibióticos encontrados no corpo, que são secretados pelas larvas de insetos 
conforme elas se alimentam da carne. 
Mas, depois, a decomposição é benéfica ao ecossistema. A biomassa 
microbial existente dentro de uma ilha de cadáveres em decomposição é maior 
que outras áreas próximas. Vermes nematoides, associados com a retirada de 
nutrientes, se tornam mais abundantes, e a vegetação se torna mais diversa. 
O avanço nas pesquisas sobre como corpos em decomposição alteram 
a ecologia dos arredores pode fornecer novas formas de encontrar vítimas de 
assassinatos cujos corpos foram enterrados em sepulturas rasas. 
Análises do solo da sepultura podem providenciar outra possível forma 
de estimar a hora da morte. Um estudo de 2008 sobre as mudanças 
 
 
30 
bioquímicas que ocorrem na ilha de um cadáver em decomposição mostrou 
que a concentração de lipídios no solo de um cadáver vazando tem seu auge 
40 dias após a morte, enquanto os de nitrogênio e fósforo extraível alcançam o 
auge em 72 e 100 dias, respectivamente. Com um entendimento mais 
detalhado deste processo, análises da bioquímica do solo de sepulturas podem 
um dia ajudar pesquisadores forenses a estimar há quanto tempo um corpo foi 
posto em uma sepultura escondida. 
 
ENTERRO 
 
No implacável tempo seco do verão texano, um corpo exposto a estes 
elementos será mumificado antes de se decompor por completo. A pele 
rapidamente perderá quase toda a umidade, ficando perdurada nos ossos 
quando o processo estiver completo. 
A velocidade das reações químicas envolvidas dobra a cada aumento de 
10˚C na temperatura. Desta forma, um cadáver alcança um avançado estágio 
de decomposição depois de 16 dias a uma temperatura média diária de 25˚C. 
Até lá, a maior parte da carne já terá sido removida do corpo, e a migração em 
massa das larvas pode começar. 
Os egípcios antigos aprenderam sem querer como o ambiente afeta a 
decomposição. No período pré-dinástico, antes que eles começassem a 
construir caixões e tumbas elaboradas, os mortos eram envoltos em linho e 
enterrados diretamente na areia. O calor inibia a atividade dos micróbios, 
enquanto o enterro prevenia que os insetos alcançassem os corpos, então eles 
ficavam muitos bem preservados. 
Depois, eles começaram a construir tumbas elaboradas para os mortos, 
para providenciar uma vida ainda melhor na vida após a morte, mas isso teve 
um efeito oposto ao esperado: separar o corpo da areia acelerava a 
decomposição. Aí os egípcios inventaram o embalsamamento e a mumificação. 
O embalsamamento envolve tratar o corpo com produtos químicos que 
desaceleram o processo de decomposição. O embalsamador egípcio 
primeiramente lavava o corpo do falecido com vinho de palma e água do Rio 
 
 
31 
Nilo, removia a maioria dos órgãos internos por incisões feitas do lado 
esquerdo, e os enchia de natrão (uma mistura natural de sais encontrada por 
todo o Rio Nilo). Ele usava um longo gancho para puxar o cérebro pelas 
narinas, para então cobrir todo o corpo com natrão, deixando-o secar por 40 
dias. 
Inicialmente, os órgãos secos eram postos dentro de vasos canópicos 
que eram enterrados juntamente ao corpo; depois, eles passaram a 
ser envolvidos em linho e retornados ao corpo. Finalmente, o corpo era envolto 
em múltiplas camadas de linho, em preparação para o enterro. Agentes 
funerários estudam os métodos de embalsamamento do Egito Antigo até os 
dias de hoje. 
De volta à casa funerária, Holly Williams executa algo semelhante para 
que a família e os amigos possam ver os entes queridos no funeral como eles 
foram em vida, em vez de vê-los como eles são agora. Para as vítimas de 
traumas e mortes violentas, isso envolve extensas reconstruções faciais. 
Por morar em uma cidade pequena, Williams trabalhou em muitas 
pessoas que ela conhecia e com quem conviveu — amigos que morreram de 
overdose, cometeram suicídio ou morreram mexendo no celular enquanto 
dirigiam. Quando a mãe dela faleceu, há quatro anos, foi Williams quem cuidou 
do enterro dela, adicionando toques finais à maquiagem facial da mãe: “Fui eu 
quem sempre cuidou do cabelo e da maquiagem dela quando ela era viva, 
então eu sabia como fazer isso bem”. 
Ela transfere John para a mesa de preparação, remove as roupas dele e 
o posiciona, então pega diversas garrafinhas de fluido de embalsamamento da 
parede. O fluido contém uma mistura de formol, metanol e outros solventes; ele 
temporariamente preserva os tecidos do corpo conectando células de proteína 
umas às outras, e arrumando-as no lugar certo. O fluido mata bactérias e 
previne que elas quebrem as proteínas para usá-las como alimento. 
Williams derrama o conteúdo das garrafas na máquina de 
embalsamamento. O fluído possui uma série de cores; cada uma 
correspondente a um tom de pele diferente. Ela seca o corpo com uma esponja 
molhada e faz incisões diagonais acima da clavícula. Depois, ela levanta a 
 
 
32 
artéria carótida e a veia subclávia do pescoço e as amarra com fios, ela então 
empurra uma cânula (um tubo fino) na artéria e pequenas pinças na veia para 
abrir os vasos. 
A seguir, ela liga a máquina, que bombeia o fluido dentro da artéria 
carótida e ao redor do corpo de John. Conforme o fluido entra, o sangue sai 
pelas incisões, escorregando pelas bordas da mesa de metal e caindo dentro 
de uma grande pia. Enquanto isso, ela pega um dos braços e o massageia 
gentilmente. “Leva cerca de uma hora para remover todo o sangue de uma 
pessoa e substitui-lo pelo fluido de embalsamamento”, diz ela. “Coágulos de 
sangue podem desacelerar o processo; a massagem ajuda a rompê-los e a 
acelerar o fluxo do fluido de embalsamamento”. 
Uma vez que o sangue é substituído, ela aperta um aspirador contra o 
abdômen de John e suga todos os fluidos da cavidade, sugando também 
qualquer urina e fezes que ainda possam estar dentro do corpo. Finalmente, 
ela costura as incisões, seca o corpo uma segunda vez, acerta o rosto e o 
veste novamente. John está pronto para o funeral. 
Corpos embalsamados também se decompõem. Exatamente quando, e 
quanto tempo isso leva, depende da forma como o embalsamamento foi feito, o 
tipo de caixão em que o corpo foi posto e como ele foi enterrado. Afinal, nossos 
corpos são meras formas de energia presas em pedaços de matéria, 
esperando serem lançadas de volta ao universo. 
De acordo com a lei da termodinâmica, a energia não pode ser criada ou 
destruída, apenas convertida de uma forma para outra. Em outras palavras: as 
coisas têm fim, convertendo massa para energia enquanto acabam. A 
decomposição é uma lembrança mórbida e final que toda matéria no universo 
deve seguir estas leis fundamentais. Ela nos destrói, equilibrando nossa massa 
corpórea com os arredores e nos reciclando para que outros seres vivos 
possam fazer bom uso dela. 
 
ANTROPOLOGIA FORENSE 
 
O Direito e a Medicina sempre buscaram harmonizar a vida do ser 
 
 
33 
humano, cada uma com seus objetos e aspectos próprios, tem como foco o 
homem. 
Se por um lado o Direito se preocupa com o homem integrado no meio 
social, com regras e leis que organizam seus direitos e obrigações, a medicina 
busca cuidar de sua fisiologia, para preservação de sua vida e manutenção de 
sua saúde. 
O elo entre essas duas ciências ocorre no momento em que há violação 
de um dos direitos ligados aos objetos da ciência médica (saúde, integridade 
física e psicológica, vida). Assim surge a medicina legal como ponte, unindo as 
ciências como forma de melhor interpretar casos indissolúveis apenas pela 
aplicação de uma ciência ou de outra puramente. 
Na aplicação das normas jurídicas, não raros os casos, deparamo-nos 
com eventos em que se fazem imprescindíveis a utilização de recursos técnico-
científicos provenientes de outros ramos do conhecimento. Assim, a medicinaforense é uma das ferramentas auxiliadoras da justiça na resolução de crimes. 
Novamente, o Direito é uma ciência que abrange inúmeras áreas e em 
razão disso, por si só, nem sempre é autossuficiente. Assim a medicina legal, 
como uma das matérias auxiliadoras do Direito, fornece o devido aparato para 
análise de elementos e objetos que envolvam a cena de crimes e através 
desse olhar é possível gerar documentos, ou seja, provas documentais, 
capazes de formar a convicção do juízo criminal para que este diga o direito de 
forma precisa, consoante com a busca da verdade real. 
No ramo da medicina legal existem vários seguimentos, dentre eles, a 
 
 
34 
antropologia forense, a traumatologia forense, a asfixiologia forense, a 
sexologia forense, a tanatologia, a toxicologia, a psiquiatria e psicologia 
forense, a química forense, a infortunística, a vitimologia e a criminologia. No 
entanto na presente dissertação teremos nossa visão direcionada 
exclusivamente para a antropologia forense, com seus principais aspectos, 
características e forma de aplicação. 
 
CONCEITOS E TERMOS. 
 
Conceituar a antropologia forense, sem antes conceituar o seu núcleo, 
não atingiria o objetivo da presente dissertação. Assim, para plenos 
esclarecimentos, a conceituação partira da medicina legal, que é de onde se 
origina a antropologia forense e em seguida os termos que complementarão o 
conceito desta ciência. 
 Medicina legal: é uma especialidade concomitantemente médica e 
jurídica que utiliza conhecimentos técnico-científicos da medicina para o 
esclarecimento de fatos de interesse da justiça; 
 Antropologia: ciência do homem no sentido mais lato, que engloba 
origens, evolução, desenvolvimento físico, material e cultural, fisiologia, 
psicologia características raciais, costumes sociais, crenças, etc; 
 Forense: relativo aos tribunais e à justiça; jurídico, judiciário, judicial; 
 Antropologia forense: é a área científica que estuda e aplica métodos 
para individualização e identificação de raça, cor, idade, sexo em 
indivíduos ou restos cadavéricos. 
 
ANTROPOLOGIA FORENSE 
 
A antropologia forense é a área da antropologia que interessa a 
medicina legal, em especial em duas modalidades: a identificação policial ou 
judiciária e a identificação médico-legal. Ainda que a antropologia possa ser 
conceituada de forma simples, para ela existem diversos conceitos. Para 
melhor compreensão buscou-se conceitos dos renomados doutrinadores da 
 
 
35 
área. Vejamos: 
Segundo o Professor Doutor Hugo Filipe Violante Cardoso da 
Associação Portuguesa de Ciência Forense temos que: 
“Tradicionalmente, a Antropologia Forense ocupa-se de vários aspetos 
da investigação médico-legal relacionada com a morte, nomeadamente quando 
o cadáver do indivíduo se encontra em avançado estado de decomposição ou 
esqueletizados. Nestes casos, o antropólogo forense aplica conhecimentos e 
princípios teóricos e práticos desenvolvidos e utilizados pela antropologia, 
biologia e pela arqueologia para responder a questões relacionadas com a 
identidade, como seja o sexo ou a idade, assim como com as circunstâncias da 
morte, através da análise e estudo detalhado dos restos ósseos e dentários do 
indivíduo e do contexto físico em que ele foi encontrado. Mais recentemente, 
na Europa e noutras partes do mundo, a aplicação de conhecimentos e 
princípios de antropologia biológica tem-se estendido a áreas da medicina-legal 
que envolvem indivíduos vivos. Nomeadamente a estimativa da idade em 
indivíduos sobre os quais recai a suspeita de menoridade, em casos de 
investigação da imputabilidade criminal ou de atribuição de asilo 
político.”. (Autor Prof. Doutor Hugo Filipe Violante Cardoso). 
Ainda sobre o tema, o Dr. André Vicente Pires Alves acrescenta: 
“A Antropologia Forense consiste na aplicação dos conhecimentos da 
antropologia física numa investigação de caráter forense, ou seja, numa 
investigação legal, tentando estabelecer um perfil biológico, auxiliar na 
determinação da causa de morte e estimativa do intervalo post mortem. Criada 
por Thomas Dwight nos finais do século XIX, nos EUA, com o intuito de auxiliar 
investigações legais, a antropologia forense é agora parte integrante do 
conceito ciências forenses, sendo uma das principais intervenientes nas 
investigações de crimes de guerra e desastres de massa tentando determinar o 
perfil biológico de restos esqueletizados com vista à identificação dos mesmos. 
Em Portugal, devido às suas características criminais, a antropologia forense 
não assume um papel fundamental na maior parte das investigações criminais, 
no entanto, na presença de restos esqueléticos é, juntamente com a 
odontologia e a genética forense, a única ciência capaz de fornecer 
 
 
36 
informações essências à investigação de um crime. Para além da utilização em 
cadáveres a antropologia forense pode ainda ser utilizada para determinar a 
estatura de indivíduos presentes em gravações de câmaras de videovigilância 
e na previsão das alterações sofridas fruto do envelhecimento de indivíduos 
desaparecidos.”. (Autor Dr. André Vicente Pires Alves). 
Concluímos então que o objetivo da Antropologia Forense é: 
I. Determinar identidade do indivíduo (origem dos restos, 
características gerais de identificação, características 
individualizantes); 
II. Determinar data da morte; 
III. Determinar a causa da morte; 
IV. Determinar o modo da morte (homicídio, suicídio, acidental, natural, 
desconhecido); 
V. Interpretar as circunstâncias da morte. 
O trabalho de um antropólogo começa no local do crime e estende-se 
até ao laboratório. Dividindo-se parcialmente em três etapas: 
1º etapa – Arqueologia forense: É feita uma escavação minuciosa do local 
onde se encontra o corpo. 
2º etapa – Antropologia social: Consiste na recolha de informações em redor 
da área do crime (entrevistas às pessoas da região, consultas em arquivos 
municipais, eclesiásticos e militares, etc.) 
3º etapa – Investigação: laboratorial. Há uma aplicação de técnicas como a 
osteologia humana (área que se debruça sobre o estudo dos ossos que 
compõe o esqueleto), paleopatologia (ramo da ciência que se dedica ao estudo 
 
 
37 
das doenças do passado) e tafonomia (estudo sistemático da evolução de 
fósseis). Pode ainda ser feita uma reconstrução facial do cadáver e 
superposição fotográfica. 
Os estudos da antropologia forense têm como objetivo o sucesso das 
investigações criminais. Vale ressaltar que a participação de antropólogos 
forenses se inicia no momento da recuperação das evidências, que são 
extremamente importantes para aclaramento dos fatos. Assim, com a aplicação 
dos métodos e técnicas próprias é possível atingir os resultados pretendidos 
das análises. 
Quando requisitados, os primeiros trabalhos dos técnicos no local das 
averiguações é estabelecer se existem restos humanos no local (tecidos ou 
ossadas), pois eventualmente podem ser de animais. Assim que identificada a 
natureza humana da evidência, começa o trabalho de preservação, remoção, 
documentação de todas as fases e aspectos físicos do material colhido. 
Realizando-se a perícia é possível determinar as características do sujeito 
antes de sua morte e condições desta. 
 
 
38 
 Determinação do sexo: O primeiro parâmetro a ser observado será o 
sexo. Analisa-se a pélvis ou bacia, sendo este o elemento mais 
importante nesta determinação, haja vista a grande desproporção entre 
os sexos neste osso. 
 Determinação de idade: É incontestável na avaliação da idade, 
principalmente até os 21 anos, o estudo radiológico do sistema ósseo 
(punho, palma da mão, cotovelo) de um lado apenas (direito) visando o 
aparecimento de pontos de ossificação e soldaduras dos ossos. 
Importante ressaltar que na fase infantil, juvenil ou adulta requer análise 
macroscópica de indicadores diferentes. 
 Estimativa de estatura: quando não se tem a integralidadedos ossos, 
é possível determinar a estatura aproximada de acordo com as medidas 
dos ossos encontrados, pois estes normalmente guardam proporção 
com os outros. 
 Afinidades popolacionais (raça): grupos humanos apresentam 
características esqueléticas que permitem determinar a que grupo 
pertencia o cadáver a partir de comparação. Assim, determina-se a raça. 
Para determinação da raça o crânio fornece os melhores elementos de 
diferenciação, sendo feito exame: detalhando os contornos vertical, 
horizontal, anterior e posterior e lateral. 
 
 
39 
Atualmente a identificação também pode ser realizada mediante exame 
da DNA, quando há material genético comparativo à disposição. 
Após essas etapas e métodos o antropólogo forese procederá à análise 
dos restos esqueléticos a fim de colher evidências que permitam determinar a 
causa da morte e em quais circunstâncias ocorreu. 
Apesar da analise antropológica ser uma parte bastante relevante na 
investigação, é importante frisar que na maioria das vezes, a causa de morte 
ou circunstâncias não são envolvidas apenas com análise dos restos da 
ossada. Em outras palavras, o antropólogo deverá, a partir de uma lesão 
óssea, caracterizar a ação ou ferramenta utilizada, qual a direção e a força 
empenhada, para que o potologista forense possa estimar as lesões e a sua 
severidade ao nível. 
O exame pormenorizado das informações colhidas no desenvolver desta 
dissertação demonstra que as técnicas e métodos aplicados no campo da 
antropologia são bastante seguros na investigação criminal. A antropologia 
forense possui um índice muito alto em resolução de crimes, pois mesmo em 
avançado estado e deterioração dos corpos é possível determinar diversos 
aspectos que envolvem a vítima e o crime, sendo fica clara a relevância desta 
ciência de distinção para o campo jurídico. 
 
ETAPAS PARA A LIBERAÇÃO DE UM CORPO 
 
1º PASSO: ATESTADO DE ÓBITO 
 
O primeiro passo após o falecimento de uma pessoa é obter o Atestado 
de Óbito, documento sem o qual nenhuma outra providência pode ser tomada 
em relação ao falecido. 
O Atestado de Óbito é um documento atestando o falecimento e a causa 
da morte, fornecido por um médico, que será determinado pelas circunstâncias 
em que o falecimento ocorreu. As circunstâncias que ocasionarão a emissão 
do Atestado de Óbito de maneira diferente dependem do tipo de morte (Natural 
e Não Natural / Acidental) e o local onde está ocorreu (casa, hospital ou via 
 
 
40 
pública). 
Morte Natural é aquela que ocorre em consequência de causas naturais 
como envelhecimento, doenças, sem a contribuição de qualquer fator externo. 
Morte Não Natural/Acidental é aquela que ocorre por causas externas. 
Quedas, atropelamentos, afogamentos, homicídios, suicídios caracterizam 
mortes violentas. 
Vamos abordar cada caso e identificar quem será o responsável por lhe 
fornecer o ATESTADO DE ÓBITO: 
Em caso de morte natural: 
 Em Casa, acompanhada por um médico da família – O próprio médico 
da família providenciará o atestado de óbito; 
 Em Casa, sem acompanhamento médico – A família deve procurar o 
distrito policial mais próximo e solicitar a remoção do corpo para o 
Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) ou o Instituto Médico Legal do 
município (IML). Neste caso é um médico do SVO ou IML quem emitirá, 
depois dos exames, o atestado de óbito; 
 No Hospital – O próprio médico do hospital que acompanhou o falecido 
fornecerá o atestado de óbito; 
 Em Via Pública – Nestes casos, quando acontece em via pública, o 
corpo é encaminhado ao hospital municipal e a família deverá 
comparecer para retirar a declaração de óbito. 
 Em caso de morte não natural/acidental: 
 Em Casa, deve-se procurar o distrito policial mais próximo para o 
registro da ocorrência e solicitar a remoção do corpo para o Serviço de 
Verificação de Óbitos (SVO) ou o Instituto Médico Legal do município 
(IML). Neste caso é um médico do SVO ou IML quem emitirá, depois 
dos exames, o atestado de óbito; 
 No Hospital, se a morte for considerada violenta o corpo será 
encaminhado ao IML e a família deverá comparecer a uma Delegacia de 
Polícia para registrar o Boletim de Ocorrência. Após este procedimento a 
família deverá comparecer ao IML para retirar a declaração de óbito; 
 Em Via Pública – Neste caso a família deverá registrar o Boletim de 
 
 
41 
Ocorrência na Delegacia de Polícia. Após a liberação da polícia técnica, 
o corpo será encaminhado ao IML, e então a família poderá retirar a 
declaração de óbito. 
 
2° PASSO: SERVIÇO FUNERÁRIO – PROVIDÊNCIAS PARA O VELÓRIO E 
ENTERRO/CREMAÇÃO: 
 
Depois de obter o atestado de óbito, a família ou responsável deve 
procurar a agência de serviço funerário municipal ou uma casa funerária, para 
contratar o velório e o funeral. Para contratar estes serviços, devem-se levar os 
seguintes documentos do falecido: 
 Atestado de óbito assinado por um médico para sepultamento; 
 No caso de cremação, dois médicos deverão assinar o Atestado. Em 
caso de Morte Violenta, é necessária também a apresentação de uma 
autorização judicial. 
 Cédula de Identidade; 
 Certidão de Nascimento (em caso de falecidos menores) ou Certidão 
de Casamento; 
 Carteira Profissional; 
 Título Eleitoral; 
 Certificado de Reservista; 
 CPF; 
 Cartão do INSS; 
 PIS/PASEP. 
Apresentados estes documentos, o funcionário do Serviço Funerário 
procederá ao REGISTRO DO ÓBITO com todos os dados do falecido e o 
anexará ao Atestado de Óbito para envio ao Cartório de Registro Civil do 
Distrito onde ocorreu a morte. Após a emissão do registro de óbito é entregue 
um protocolo ao declarante para a retirada da CERTIDÃO DE ÓBITO em 
cartório após 5 dias úteis. A partir da efetivação do registro de óbito a equipe 
da funerária realiza a remoção do corpo, na residência, IML ou hospital. 
 
 
 
42 
 Velório: O velório pode ser realizado em hospitais, igrejas, residências 
ou nos velórios municipais. A escolha do local deve ser feita no 
momento da contratação do funeral, e contará com a ajuda do 
funcionário da agência para sua reserva no horário escolhido. Caso se 
opte por um velório particular (igreja, hospital e residência), a agência 
cobrará taxa de remoção do corpo e taxa de serviço pelo transporte de 
materiais como artigos religiosos e enfeites florais. 
 Enterro: O funcionário da agência auxiliará na reserva Cemitério mais 
próximo à residência, ou aquele que apresente disponibilidade de vagas. 
Caso a família possua alguma concessão em algum Cemitério, deve 
citá-la ao funcionário para a reserva do funeral. 
 Cremação: Nos municípios que possuem serviço de cremação, os 
procedimentos são os mesmos que os adotados para a reserva de 
cemitérios, desde que apresentada a documentação extra exigida, 
conforme mencionado acima. 
 
IMPORTANTE 
 
Dispensa de Pagamento de Taxas Funerárias 
Pela Lei 11.083/ 91, é concedida, aos moradores da cidade de São 
Paulo que não tenham condições de pagar as despesas do funeral, a 
gratuidade dos meios e procedimentos necessários ao sepultamento. Para que 
obtenha dispensa, é necessário que comunique à agência funerária, que 
informará qual o procedimento para que seja garantida a gratuidade no 
sepultamento. Não é necessária a apresentação de atestado de pobreza, basta 
apenas que ela seja declarada pelo interessado; 
No Estado de São Paulo há também o auxílio funeral concedido aos 
servidores embasado na Lei nº. 10.261, de 28 de outubro de 1968; 
Além disso, conforme Lei 11.479/ 94, regulamentada pelo Decreto 
35.198/ 95, a família da pessoa que tiver doado algum órgão para fins de 
transplante médico poderá se beneficiar da dispensa do pagamento de 
algumas taxas, emolumentos e tarifas do funeral. Para isso, na contratação do 
 
 
43 
funeral, a família deverá apresentar o comprovante de doação de órgãos do 
falecido, bem como da imediata comunicação do óbito à instituiçãomédica 
habilitada em receber os órgãos. 
Não é necessária a comprovação de efetivo aproveitamento dos órgãos 
doados. 
 
3º PASSO: CERTIDÃO DE ÓBITO: 
 
Depois do velório e do funeral, a família deve ainda providenciar a 
Certidão de Óbito do falecido. A Certidão de Óbito, também conhecida como 
óbito definitivo, é um documento diferente do Atestado de Óbito e é o registro 
do óbito no Cartório Civil do distrito onde ocorreu o falecimento. 
Para obter a Certidão de Óbito, o funcionário do Serviço 
Funerário colherá os dados da pessoa que faleceu e os encaminhará para o 
Cartório de Registro Civil do distrito onde ocorreu a morte e será entregue, a 
um dos familiares, um protocolo que possibilita a retirada desta certidão no 
cartório, em até 5 dias. 
 
4º PASSO: DOCUMENTOS E CONTAS DO FALECIDO 
 
É importante acompanhar o encerramento de contas e documentos do 
falecido, de forma a evitar que alguém venha a fazer uso de seus dados. A 
seguir descrevemos os procedimentos básicos a serem adotados pelos 
familiares. 
 
Cancelar o RG e Carteira de Motorista 
 
Os Cartórios de Registro Civil, após a emissão da Certidão de Óbito, 
enviarão comunicação aos órgãos emissores, para o cancelamento dos 
devidos documentos. Caso haja alguma falha, a família deverá comparecer às 
Secretarias de Segurança e/ou Detrans, munida da Certidão de Óbito e solicitar 
o cancelamento. 
 
 
44 
 
Cancelar o Título de Eleitor 
 
Mensalmente, após um cruzamento entre os dados do cadastro de 
eleitores e os registros de óbito fornecidos pela Previdência Social, a zona 
eleitoral procede a este cancelamento. Caso, por falha, este não ocorra, 
cumpre à família do falecido comparecer à zona eleitoral, munida do Título de 
Eleitor e Certidão de Óbito para solicitar a baixa. 
 
Cancelar o CPF 
 
É necessário o comparecimento a uma unidade de atendimento da 
Receita Federal e, mediante a apresentação da Certidão de Óbito, o CPF do 
falecido, e um documento de identidade, solicitar o cancelamento. 
Caso o falecido tenha deixado bens, o CPF não pode ser cancelado, 
mas transformado em um CPF temporário até a definição do espólio, para seu 
posterior cancelamento. 
 
Encerrar Contas Bancárias 
 
Deve-se entrar em contato com o Banco/s em que o falecido mantinha 
contas e aplicações e solicitar, mediante a apresentação da Certidão de Óbito 
e documentos de Identidade, seu encerramento assim como o de eventuais 
cartões de crédito/débito. Os valores que restarem depositados nessas 
instituições serão incluídos no espólio para sua posterior destinação. 
 
LAUDOS REALIZADOS NO IML 
 
O Instituto Médico Legal, mais conhecido pela sua sigla IML, é 
um instituto brasileiro responsável pelas necropsias e laudos cadavéricos para 
Polícias Científicas de um determinado Estado na área de Medicina Legal. É 
um órgão público subordinado à Secretaria de Estado da Segurança Pública. 
 
 
45 
Conhecido também como Departamento Médico Legal, ou DML, por ser, 
este órgão, vinculado à Secretaria de Estado de Segurança Pública através da 
Superintendência de Polícia Técnica Científica. As atribuições são as mesmas. 
Nos IMLs ou DMLs são realizados vários exames de corpo de delito e perícias, 
como: 
 Autópsia; 
 Exame de tanatologia; 
 Exame de toxicologia; 
 Exame de lesões corporais; 
 Exame de constatação de violência sexual; 
 Exame de sanidade mental; 
 Exame de constatação de idade; 
 Exame de constatação de doença sexualmente transmissível. 
 
PAPILOSCOPIA 
 
Papiloscopia é a ciência forense que trata da identificação humana por 
meio das papilas dérmicas. A palavra Papiloscopia é resultante de um 
hibridismo greco-latino (Papilla = papila e Skopêin = examinar). 
Papilas são pequenas saliências de natureza neurovascular, situadas na 
parte externa (superficial) da derme, estando os seus ápices reproduzidos 
pelos relevos observáveis na epiderme. 
A Papiloscopia estuda a 
identificação humana pelas digitais, 
presentes nas palmas das mãos e na 
sola dos pés. Tem como objetivo a 
perícia e o estudo a fim de pesquisas 
técnico-científicas, visando a 
identificação em indivíduos vivos ou 
mortos. 
A coleta, identificação e arquivamento das impressões digitais humanas 
acontecem muitas vezes em casos de crime nos quais é necessário o 
 
 
46 
levantamento de provas que envolvem as digitais humanas na cena. 
Podem também ser utilizadas as técnicas da papiloscopia para a 
identificação de corpos que sofreram decomposição ou estão em estado de 
difícil identificação. 
 
O QUE FAZ UM PAPILOSCOPISTA? 
 
Em meio a inúmeros procedimentos e processos voltados à apuração de 
provas criminais, e também ligados à veracidade de um fato, a prova judicial é 
o objeto mais importante da ciência processual, já que ela constitui os olhos do 
processo. 
Assim, a impressão digital deixada num local de crime é a prova mais 
direta e incontestável da indicação da presença do indivíduo ou até mesmo da 
autoria do delito, tornando a papiloscopia uma grande ferramenta judicial e 
investigatória nesse sentido. 
Para entendermos melhor o que é a Papiloscopia, como atuar nessa 
área e quais os principais desafios, é importante saber um pouco da sua 
história, conforme veremos a seguir. 
 
ENTENDA MAIS SOBRE ESTA CIÊNCIA 
 
A investigação das papilas dérmicas, presentes na palma das mãos e na 
sola dos pés (impressões digitais) no Brasil começou por volta de 1901. Tem 
suas divisões de pesquisa da seguinte maneira: datiloscopia, quiroscopia, 
podoscopia, poroscopia e cristascopia. 
 
 
47 
A datiloscopia é o processo de identificação humana pelas impressões 
digitais (dedos). Já quiroscopia é o processo de identificação humana pelas 
impressões palmares (mãos). 
A podoscopia é o processo de identificação humana pelas impressões 
plantares (pés). A poroscopia é o processo de identificação humana dos poros. 
E a cristascopia é o processo de identificação humana pelo estudo das cristas 
papilares. 
A necropapiloscopia é a perícia realizada em cadáveres, que tem como 
objetivo identificar pessoas falecidas cuja identidade é desconhecida; a sua 
identificação será feita pelo confronto das impressões papilares. 
Para a identificação de cadáveres existem técnicas adequadas para 
cada situação em que se encontra o corpo. Todas essas técnicas fazem parte 
da Papiloscopia e da atividade do profissional papiloscopista. 
Na área Criminal, a Papiloscopia trata da identificação de pessoas 
indiciadas em inquéritos ou acusadas em processo, confeccionando o Boletim 
de Identificação Criminal (BIC) por força do Código de Processo Penal, o que 
constitui uma forma de identificação obrigatória, bem como o levantamento de 
impressões digitais em locais de crime. 
Mundialmente, o caso criminal mais famoso da utilização desta ciência é 
o de Will & William West. 
 
O CASO WILL & WILLIAM WEST 
 
Will e William West não eram irmãos, mas tinham nomes iguais, e em 
1903 eles foram presos na Penitenciária Leavenworth no Kansas. O primeiro a 
ser preso foi William, porém, alguns anos depois, com a chegada de Will e com 
as incríveis semelhanças entre os dois, a polícia local decidiu investigar 
seguindo o método de Bertillon – um método de obtenção de medidas criado 
para identificação humana. 
O sistema de identificação humana que consistia na medição das 
diferentes partes do corpo foi batizado como uma homenagem ao policial 
francês Alphonse Bertillon, em Paris (1879). 
 
 
48 
Após constatar falhas no método Bertillon, e com a insistente afirmação 
de Will, que dizia nunca ter sido preso antes, a polícia decidiu mudar a técnica 
e partiu para a investigação das digitais, método que ainda era pouco usado na 
época, mas que resolveu o problema. 
Finalmente, após a conclusão de que Will e William West eram duas 
pessoas distintas, a Papiloscopia passou a ser utilizada com maior frequência 
nas prisões em todo o

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