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Cirrose Hepática e Suas Complicações Introdução: · Estágio final de todas as doenças hepatocelulares, ocorre deposição de tecido fibroso no parênquima hepático com perda da arquitetura lobular e VASCULAR. · Ocorre ainda, a formação de nódulos de regeneração e diminuição do tamanho do fígado, e aumento da consistência ficando mais endurecido com bordas rombas e superfície irregular. · Etiologia: metabólica, viral, alcoólica, induzida por drogas ou fármacos, biliar, autoimune, obstrução do fluxo venoso hepático ou criptogênica. Obs.: causa alcoólica e viral são as mais comuns. Quadro clínico · Sintomas inespecíficos: · Alterações da função hepática (hipoalbuminemia e alargamento do INR) ou citopenias em assintomáticos. · Por consumo o paciente apresenta perda de peso, astenia. · Déficits neurológios, alterações de concentração, memória e encefalopatias. · Alterações hormonais, no ciclo menstrual ou libido. · Sintomas mais específicos: · Ginecomastia · Icterícia · Ascite · Esplenomegalia · Telangiectasias · Spiders/ aranhas vasculares · Circulação colateral · Eritema palmar · Flapping · Hálito hepático Diagnóstico · Aspectos clínicos -> sempre avaliar etiologia (somente deixa idiopático após excluir todas as causas). · Laboratorial -> exames de sangue (bilirrubina sérica, creatinina, albumina, tempo de protrombina, hemograma, VHS). · Padrão histológico (biópsia) -> não faz sempre, por riso aumentado de sangramento. · Elastrografia (fibroescan): · Método não invasivo de maior especificidade e sensibilidade. · Gradua o nível de cirrose hepática entre os portadores de hepatopatias crônicas. Classificação funcional: · Baseada em critérios clínicos e laboratoriais. · Determina a gravidade de cada caso. · Classificação mais utilizada é a de CHILD-PUGH -> Relacionada a sobrevida do paciente. · Classificação MELD (model for End-stage Liver Disease) é um sistema de avaliação da doença hepática crônica. São utilizados valores de bilirrubina sérica, creatinina e INR. Calculado com base em uma fórmula, valor aumenta conforme piora do quadro. Complicações: 1. Ascite · Acúmulo anormal de líquido seroso na cavidade peritoneal, líquido semelhante ao plasma. · Geralmente associada a doença hepática crônica. · Principal complicação do cirrótico (30%). · Sinal e mau prognóstico, mortalidade elevada e 2 anos após início. · Prejuízo na síntese proteica · Sempre que houver ascite pensar no GASA *(gradiente albumina soro-ascite) -> indicador acurado e hipertensão portal (HP). · Se > 1,1g/dl = HP. · Se < 1,1g/dl = ausência de HP. · O diagnóstico de ascite é estabelecido pela fórmula: GASA = Albumina sérica – Albumina do líquido ascítico · Principais causas: cirrose hepática (80%), carcinomatose peritoneal, ICC, tuberculose peritoneal etc. · Obs.: Relacionadas a hipertensão portal, ao peritônio, a retenção de líquidos ou extravasamento de líquidos no peritônio, existem causas não relacionadas a HP. · Relacionadas a HP: doenças hepáticas (cirrose, hepatites graves e metástases hepáticas maciças), cardiopatias, síndrome de Budd-chiari e doenças veno-oclusivas, mixedema. · Causas não relacionas a HP: diminuição da pressão oncótica, carcinomatose-peritoneal, inflamação do peritônio, extravasamento de líquido para o peritônio (pancreatite necro-hemorrágica). Fisiopatologia da cirrose levando a ascite: · Na cirrose ocorre uma vasodilatação esplâncnica (acúmulo de líquido na região de vasos esplâncnicos) e isso causa a um estado hiperdinâmico com diminuição da resistência vascular periférica e aumento do DC. · Assim, existe uma má distribuição da volemia com redução do volume circulante efetivo (líquido está “preso”). · Tendencia a hipotensão arterial por todos os motivos anteriores = ocorre ativação do sistema renina angiotensina aldosterona, ativação do SN simpático e aumenta secreção do hormônio antidiurético levando a retenção de Na e água. · Assim, ocorre edema e ascite. Aspectos clínicos do paciente com ascite: · Aumento do volume abdominal, empachamento pós-prandial, dispneia, sinais de macicez móvel, semicírculo de skoda e sinal de piparote. · Todo paciente com quadro de ascite deve ser submetido a uma paracentese diagnóstica, realizada em todos os casos novos de ascite e nos pacientes com descompensação. Diagnóstico ascite: · Paracentese diagnóstica (o que avaliar): · Citologia total e diferencial · Proteínas totais e albumina · Glicose · DHL · Amilase · Bilirrubina · Adenosina deaminase (ADA) · Bacteriologia com gram · Cultura com antibiograma pesquisa de células neoplásicas · Pesquisa de micobactérias Exames de imagem · Reservados para dúvida (Ultrassom, TC, RX). · Investigação da doença de base. · Laparoscopia diagnóstica se suspeita de neoplasia maligna e tuberculose, exame de maior acurácia para doenças peritoneais. Tratamento · Balanço negativo de sódio -> dieta hipossódica. · Restrição de água livre somente se Na sérico < 120 mEq/L. · Diuréticos -> otimizar pera ponderal de 0,5 a 1kg/dia. · Diuréticos poupadores de K é o tratamento inicial de escolha (antagonistas da aldosterona) – espironolactona 100mg/dia, pela manhã (até 400mg/dia). · Associar com diuréticos de alça que espoliam K – furosemida (na proporção de 40mg de furosemida para 100mg de espironolactona então na dos máxima de espiro 400mg/dia, a furosemida chegaria a 160mg/dia). Ascite refratária · Ausência de resposta aos diuréticos ou complicações com o uso das medicações indicadas. · Faz-se paracentese de alívio nestes casos. · Se retirar > 5L na paracentese, tem que repor Albumina em 8g/litro retirado. · Descompressão portal com TIPS -> casos muito graves, má resposta a paracentese, pré transplante. 2. Peritonite bacteriana espontânea (PBE) · Infecção do líquido ascítico (LA) previamente estéril sem perfuração de vísceras e sem contaminação direta. · Infecção espontânea, não é secundária. · Ocorre através da translocação de bactérias intestinais, isso ocorre principalmente porque o LA possui baixa capacidade bactericida. LA com pouco conteúdo proteico e baixo poder bactericida e de opsonização, diminuição da função do sistema reticulo endotelial nos cirróticos e bacteremias mais frequentes. · Pacientes de alto risco para PEBE = baixos níveis de proteínas do LA · Alta mortalidade (60%). · Recidiva de 70% em 1 ano. Diagnóstico · Dor abdominal e febre com piora clínica do quadro geral -> todo paciente cirrótico previamente compensado que demonstra piora no quadro clínico é MANDATÓRIO afastar quadro infeccioso. · Principais infecções no cirrótico = pneumonia, infecção do trato urinário e PEBE. · Paracentese diagnóstica -> contagem de polimorfonucleares do LA > 250 células/ml (já faz diagnóstico de PBE). · Cultura positiva em 50 a 90% dos casos, portando na PBE a cultura é variável. · Etiologias mais comuns = E. coli, pneumococo e Klebisiella. · PEBE clássica = clinica sugestiva + aumento do número de neutrófilos + cultura positiva. Diagnóstico diferencial · Bacteriascite -> não tem aumento do número de polimorfos aumentados, mas isolou-se uma bactéria. Pode tratar este paciente de acordo com a clínica. · Ascite neutrocítica cultura negativa -> aumento de polimorfonucleados, mas a cultura veio negativa. Neste caso tratamos o paciente independentemente da cultura porque nem sempre a cultura será positiva no quadro de PBE. · Peritonite bacteriana secundária -> ocorre por trauma penetrante e perfuração de vísceras, peritonite, ruptura de abcesso. · Na cultura não vem apenas um germe, é polibacteriana. · Consumo grande de glicose no líquido ascítico. Tratamento · Antibioticoterapia · Cefalosporina de 3ª geração: · Cefotaxima 2g de 8/8h · Ceftriaxona 1g de 12/12h · Tratamento por 5 dias · Infusão de albumina EV: · 1,5 g/kg no 1º dia do diagnóstico. · 1 g/kg no 3º dia do diagnóstico. · Se melhora do paciente, só é preciso fazer nova paracentese no final do tratamento. Mas se mesmo com tratamento não se observa melhora, no 3º dia do tratamento se faz nova paracentese e coleta de polimorfonucleado para ver se houve aumento e nova cultura.Profilaxia · PBE prévia (alta recidiva). · Proteínas totais do LA < 1g/dl. · Descompensação aguda hepática (uso transitório com 7 dias) principalmente se HDA. · Norfloxacino 400mg/d, VO, 7 dias. 3. Encefalopatia Hepática (EH) · Ocorre no paciente com insuficiência hepática u shunt portossistêmico. · O quadro clínico é referente a alterações neuropsiquiátricas, como déficits de memória e atenção · Deterioração neuropsíquica · Alteração de personalidade · Alterações no nível de consciência, variando de sonolência até coma. · Alterações motoras (Flapping pode estar presente). · Ocorre uma deficiência na depuração de toxinas e metabólitos, principalmente a amônia. · E podem ocorrer anastomoses portossitêmicas espontâneas, presença de shunts levando a EH. · É uma patogênese multifatorial, foco principal na amônia, podem ocorrer presença de falsos neurotransmissores, sinergismo de neurotoxinas, alterações do metabolismo cerebral. Classificação de WEST HAVEN · Avalia em estágios o nível da consciência, função intelectual, comportamento e anormalidades neuromusculares. Estágio I = Anormalidades do ciclo sono-vigília. Atenção abreviada. Pode apresentar euforia/depressão/irritabilidade. Presença de tremores, incoordenação muscular ou alterações da caligrafia. Estágio II = Paciente letárgico com desorientação leve, pode ter amnésia. Comportamento inapropriado ou mudança de personalidade. Presença de Flapping, anormalidade de reflexos e ataxia. Estágio III = Paciente sonolento, semiesturpor, responsivo aos estímulos. Inabilidade para uso de computador, pode estar paranoico, com comportamento bizarro, Presença de hiperatividade de reflexos, nistagmo, babinsk, clônus, rigidez muscular. Estágio IV = Paciente em estupor, como. Sem nenhuma função intelectual ou comportamento. Presença de midríase e opistótono. Fatores precipitantes da EH: · Mesmo que o paciente apresente doença hepática crônica e grave, deve-se investigar as causas para o surgimento de um EH. · Algo causou aumento na produção e amônia ou na absorção ou na entrada no cérebro -> excesso de proteína na dieta, sangramento gastrintestinal, infecção, distúrbios eletrolíticos, constipação, alcalose metabólica. · Drogas -> BZD, narcóticos, álcool. · Trombose -> Trombose de veia hepática ou trombose de veia porta. · Desidratação -> Vômitos, diarreia, hemorragia, diuréticos, paracentese de grande volume. · Shunt portossistêmico – shunt cirúrgico ou espontâneo. · Carcinoma hepatocelular primário. Diagnóstico diferencial · Encefalopatias metabólicas (DRC, ureia elevada, cetoacidose diabética). · Sangramento intracerebral. · Doença isquêmica cerebral. · Infecções do SNC. · Delirium tremens. · Alcoolismo · Status pós-ictal. Diagnóstico · Anamnese e exame físico. · Avaliação geral do paciente e busca de fatores que precipitam a EH. · Testes laboratoriais de rotina (hemograma, PCR, função renal, eletrólitos). · Afastar afecções – realizar paracentese diagnóstica (PBE). · Afastar lesões estruturais do SNC (TC, RNM). Tratamento · Dieta: · proteínas vegetais e aminoácidos de cadeia ramificada. · Lactulose: · Dose: varia de 20 a 40ml de 8/8h a 4/4h. · Promover 2 a 3 evacuações pastosas/dia. · Boa tolerabilidade. · Efeitos adversos: meteorismo, abdome distendido, diarreia e flatulência. · Enema de retenção com 20 a 30% e lactulose: 200 a 300ml de lactulose em 700 a 800ml de solução para uso RETAL (soro, água, glicerina ou manitol). O enema deve ser repetido por 30 min e repetir se necessário. · Antibióticos orais: · Inibição da produção de amônia ou outras neurotoxinas por bactérias intestinais · Metronidazol -> 250 a 500mg 8/8h. · Rifaxina -> 550mg 12/12h. · Neomicina -> nefrotoxicidade. 4. Síndrome Hepatorrenal (SHR) · Insuficiência renal e alterações da circulação arterial, ocorre alteração funcional dos rins. · Ausência de alterações morfológicas nos rins. · Vasoconstrição renal em pacientes com cirrose avançada = mau prognóstico e alta mortalidade. Diagnóstico: · Tipo 1: lesão renal rapidamente progressiva. · Tipo 2: lenta deterioração da função renal (semanas a meses), melhor prognóstico. · Sódio urinário baixo, capacidade diminuída de excreção de sódio. · Não há resposta a suspensão de diuréticos e a reposição volêmica vigorosa. · Sempre diagnóstico diferencial de IRA pré-renal. Tratamento: · Correção a hipovolemia. · Infusão de albumina · Utilização de análogos da somatostatina e, principalmente, vasoconstritores esplâncnicos. 5. Hemorragia Digestiva Alta (HDA) · Ocorre hematêmese ou melena. · Exame físico pensando em um paciente que pode estar chocando. · Avaliar palidez cutaneomucosa. · Taquicardia ou hipotensão ortostática. · Toque retal (avaliar presença de melena). · Alteração da perfusão periférica. · Avaliar sinais de peritonite. · Estigmas de hepatopatia crônica. Exames laboratoriais iniciais: · Hemograma · Função renal · Eletrólitos · Perfil e função hepática · Coagulograma · Tipagem sanguínea Tratamento · Avaliação da estabilidade hemodinâmica imediata. · Iniciar manobras de ressuscitação volêmica (cautela pois pode sangrar mais pelas varizes). · Sonda nasogástrica. · Paciente grave, necessário internação na UTI. · EDA · Exame de escolha, deve ser realizado 12-24h da admissão do paciente. · Pensar nas varizes esofágicas. · Estabilizar o paciente antes do exame. HDA varicosa · Jejum · Monitorização hemodinâmica, cardíaca, oximetria de pulso. · Oxigenioterapia · Se hemorragia maciça com risco de broncoaspiração, intubar imediatamente o paciente. · Dois acessos venosos periféricos calibrosos. · SF 0,9% 500ml a 1000ml, em até 30 minutos e avaliar resposta do paciente. · Avaliar diurese. Tratamento HD varicosa: · Manter hipovolemia relativa · Manter HB entre 7 e 8 g/dl e HT de 21-24%. · Proteger VA – intubar. · Intubação orotraqueal se encefalopatia hepática grau 3 e 4 ou hematêmese maciça ou hipoxemia. · Pesquisa de infecções. · Lembrando que o tratamento combinado (medicação + EDA) é superior a qualquer modalidade isolada -> iniciar vasoconstritores esplâncnicos o mais rapidamente possível, pode ser antes da EDA. · Vasoconstritor esplâncnico: terlipressina, somatostatina, octreotida. · Terlipressina (Glypressin) é o único que reduz mortalidade. · Agente de primeira escolha. · Análogo de ação prolongada da vasopressina. · Faz vasoconstricção arteriolar esplâncnica e diminuição do fluxo portal e intravaricoso. · Dose: 2mg, em bolus, seguidos de 1-2mg a cada 4h, EV, por 2 a 5 dias (frasco-ampola 1mg). · Efeitos adversos: angina, IAM, bradiarritmias, isquemia em MMII, isquemia mesentérica e HAS. · Somatostatina (stilamin). · Dose: 250 mcg, em bolus, seguidos de infusão contínua de 250 mcg/kg/h EV. · Ampola de 1ml contém 250mcg. · Ocreotida é um análogo da somatostatina. · Doses: 50 a 100 mcg, em bolus, seguidos de infusão contínua de 25-50 mcg/h, EV. · Realização de EDA dentro das primeiras 12h da admissão. · Procedimento de escolha para hemostasia é a ligadura elástica (menor risco de ressangramento e menor frequência de efeitos adversos). · Escleroterapia, tem mais efeitos colaterais. Profilaxia no paciente com HDA: · Rastrear infecções: ITU, ITR, PBE. · Solicitar hemocultura, urina I, análise do líquido ascítico e rx de tórax. · Antibióticoprofilaxia – MANDATÓRIO: · Reduzir frequências de infecções, recorrência de sangramento varicoso e mortalidade. · Profilaxia de PBE: · Quinolonas orais: Norfloxacino 400mg 12/12h / Cirpofloxacino 100mg, EV,12/12h -> 7 dias. · Cefalosporina de 3a geração: Ceftriaxona 1 a 2g, EV, 1x/dia -> 7 dias. · Preferir Ceftriaxona se cirrose avançada e instabilidade hemodinâmica. · Paciente com HDA de dificil controle (fez EDA + medicação) · Balão de Sengsaken -blakemore (não pode usar por mais de 24h) · Incapacidade de manter PAS> 90mmhg por 30 a 60 in, apesar da reposição volêmica. · Falência de controle de sangramento nos primeiros 5 dias. · TIPS · Não aumenta a sobrevida. · Terapia de resgate no sangramento agudo ou recorrente. · Tto no CC da hipertensão portal também não altera mortalidade.
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