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Estrongiloidíase: uma zoonose parasitária

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Julia Ladeira de Moraes - 28/03/2022
PARASITO - ESTRONGILOIDÍASE
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~ Classificação taxonômica:
- Filo: Nematoda (vermes de corpo cilíndrico e com tubo digestivo completo)
- Família: Strongyloididae (helmintos de vida livre e/ou parasitária)
- Espécie: Strongyloides stercoralis (helminto cilíndrico)
~ Estrongiloidíase:
- É uma zoonose, já que o verme Strongyloides stercoralis parasita cães, gatos e, principalmente, seres humanos
- Se caracteriza pela presença dos vermes adultos no intestino delgado de seus hospedeiros
~ Strongyloides stercoralis:
- São tissulares, ou seja, são parasitos em que parte do corpo ou o corpo inteiro está mergulhado na mucosa do órgão em que parasita, logo eles não ficam expostos ao lúmen intestinal por ficarem mergulhados nas criptas duodenais, não sendo visíveis na colonoscopia, mas podem ser vistos no exame de Papanicolau
- Promovem ação mecânica, traumática (o que pode gerar úlceras, as quais podem romper as alças intestinais, e fibrose, ocasionando constipação intestinal por obstrução, o que favorece a retenção de larvas), irritativa, inflamatória (o que gera edema, dificultando a absorção de nutrientes no intestino, promovendo um sistema imune deficiente do hospedeiro, além de constipação intestinal por obstrução, o que favorece a retenção de larvas), imunológica, histolítica/enzimática, antigênica, tóxica (podendo gerar irritabilidade e depressão no hospedeiro) e espoliativa (se alimentam de sangue, de líquido intersticial e de células das glândulas de Liberkuhn)
- Se comportam como oportunistas no organismo do hospedeiro, pois, quando ele possui um déficit imunológico, possui um déficit nutricional, faz uso de substâncias que determinam imunossupressão (ex: AIDS, drogas imunossupressoras, quimioterapia e radioterapia) ou faz uso de corticoides (que além de amenizarem a resposta imunológica, seus resíduos metabólicos simulam o hormônio ecdizona, o qual transforma a larva rabditoide em filarióide, acelerando o ciclo do verme), esses parasitos provocam quadros clínicos exacerbados que podem levar seu hospedeiro à morte
- Por fazerem autoinfecção interna e por serem muito agressivos, as fêmeas, as quais possuem 6 lábios para se alimentarem e as quais são ovovivíparas, só liberam 30
ovos por dia, os quais já contém larva pronta dentro, que será liberada deles na mucosa intestinal, pois é o local em que a fêmea estará mergulhada, indo, em seguida, em direção ao lúmen do intestino delgado, sendo que, posteriormente, essas larvas saem junto com as fezes do hospedeiro, além de sangue e muito muco 
- São geohelmintos
- Possuem carga parasitária crescente
- Se reproduzem por partenogênese e fecundação
- Os vermes adultos vivem, geralmente, de 2 a 3 meses no organismo do hospedeiro, mas podem viver até 6 meses
- Existem 6 formas morfológicas desses vermes: Fêmeas partenogenéticas parasitas; machos de vida livre; fêmeas de vida livre/estercoral; ovos; larvas rabditoides; larvas filarióides 3n infectantes
. As fêmeas partenogenéticas parasitas são a única forma parasitária do ciclo desses vermes; ficam mergulhada nas criptas duodenais do hospedeiro, na altura das glândulas de Liberkuhn; em casos graves elas podem ficar no intestino grosso e na região pilórica do estômago de seu hospedeiro; possuem corpo cilíndrico, filariforme e longo (1,7 a 2,5 mm de comprimento); são triploides (3n); dão origem à prole sozinha, sem precisar do macho, ou seja, elas fazem partenogênese; e, em
seu processo reprodutivo, elas dão origem a 3 ovos com larvas rabditoides, sendo 1 haploide (liberam larvas rabditoides 1n que, ao se desenvolverem no solo ao se alimentarem de matéria orgânica e microrganismos depois de saírem junto com as fezes do hospedeiro, se transformarão em machos de vida livre, os quais possuem 0,7 mm de comprimento), 1 diploide (liberam larvas rabditoides 2n que, ao se desenvolverem no solo ao se alimentarem de matéria orgânica e microrganismos depois de saírem junto com as fezes do hospedeiro, se transformarão em fêmeas de vida livre, as quais possuem de 0,8 a 1,2 mm de comprimento) e 1 triploide (liberam larvas rabditoides 3n que, ao se desenvolverem no solo ou na região perianal depois de saírem junto com as fezes do hospedeiro, se transformarão em larvas filarióides 3n infectantes, as quais penetrarão a pele ou a mucosa oral do hospedeiro por autoinfecção, fazendo ciclo pulmonar/de Loss, virando fêmeas partenogenéticas parasitas no intestino delgado)
. Os machos e as fêmeas de vida livre que foram gerados copulam entre si no solo, dando origem a ovos triploides (liberam larvas rabditoides 3n que, ao se desenvolverem no solo ou na região perianal depois de saírem junto com as fezes do hospedeiro, se transformarão em larvas filarióides 3n infectantes, as quais penetrarão a pele ou a mucosa oral do hospedeiro, fazendo ciclo pulmonar/de Loss, virando fêmeas partenogenéticas parasitas no intestino delgado)
~ Ciclo biológico:
- Direto (3n  3n)
. Só envolve formas morfológicas do verme 3n (fêmeas partenogenéticas parasitas, ovos triploides, larvas rabditoide 3n e larvas filarióides 3n infectantes)
. As larvas rabditoides 3n, ao se desenvolverem no solo ou na região perianal depois de saírem junto com as fezes do hospedeiro, se transformarão em larvas filarióides 3n infectantes, as quais penetrarão a pele ou a mucosa oral do hospedeiro, fazendo ciclo pulmonar/de Loss, podendo provocar a síndrome de Loeffler (febre, tosse e eosinofilia), virando fêmeas partenogenéticas parasitas no intestino delgado
- Indireto: (3n  1n e 2n  3n)
. Envolve a passagem pelos vermes adultos (machos e fêmeas) de vida livre, os quais copulam entre si no solo, dando origem a ovos triploides que liberam larvas rabditoides 3n que, ao se desenvolverem no solo ou na região perianal depois de saírem junto com as fezes do hospedeiro, se transformarão em larvas filarióides 3n infectantes, as quais penetrarão a pele ou a mucosa oral do hospedeiro, fazendo ciclo pulmonar/de Loss, podendo provocar a síndrome de Loeffler (febre, tosse e eosinofilia), virando fêmeas partenogenéticas parasitas no intestino delgado
Larva rabditoide Larva filarióide infectante Fêmeas partenogenética parasita Macho de vida livre Fêmea de vida livre
 Ciclo indireto 
 Ciclo direto e indireto
A: Ciclo direto
B: Ciclo indireto
C: Ciclo direto por autoinfecção direta interna
~ Transmissão
- Heteroinfecção e primoinfecção (primeira vez que se adquire a infecção): Se adquire a partir de outras pessoas ou animais que eliminam as larvas nas fezes, as quais evoluem, se tornando larvas filarióides 3n infectantes, e penetram a pele ou a mucosa oral do novo hospedeiro
- Autoinfecção direta externa/exógena: As larvas rabditoides 3n na região perianal transformam-se em larvas filarióides 3n infectantes e penetram a pele desse local do hospedeiro, gerando lesões urticariformes, podendo isso acontecer, por exemplo, por defecação em fraldas, por roupas sujas de fezes e por restos de fezes nos pelos perianais
- Autoinfecção direta interna/endógena: As larvas filarióides 3n infectantes, as quais estão consolidadas no intestino, penetram na mucosa intestinal, retornando a infectar o organismo, cronificando a doença por muitos anos
- Não há retroinfecção
~ Patologia:
- Lesões causadas somente pelas larvas filarióides:
. Na pele: Lesões discretas; placas eritematosas; ou lesões urticariformes que aparecem em torno do ânus na autoinfecção direta externa
. No ciclo pulmonar: Pequenas hemorragias no parênquima quando as larvas invadem os alvéolos, fazendo suas mudas; crise de broncoespasmo; pneumonite difusa; ou síndrome de Loeffler com a presença de larvas no escarro, podendo haver repetição dos quadros
- Lesões causadas tanto pelas larvas filarióides como pelas fêmeas adultas:
. No duodeno e no jejuno: Lesões na mucosa por ação mecânica, histolítica/enzimáticae inflamatória; a migração das larvas para a luz intestinal causa inflamação catarral, pontos hemorrágicos, ulcerações e edema até a submucosa; e ocorrem como consequências duodeno-jejunite, o que aumenta o peristaltismo, causando diarreias e evacuações mucosanguinolentas com sangue vivo, e, posteriormente, fibrose e atrofia da mucosa intestinal que vão transformando o duodeno e o jejuno em um tubo quase rígido, provocando constipação e intensificação da doença
~ Sintomatologia:
- Desconforto abdominal, cólicas, dores vagas ou imitando úlcera péptica, surtos diarreicos, anorexia, náuseas e vômitos
- Anemia, emagrecimento, desidratação, astenia, irritabilidade nervosa ou depressão (por conta das toxinas liberadas pelo verme)
- Eosinofilia de 15 a 45% no exame de sangue
- Forma grave ou fatal: Ulcerações extensas ou síndrome de suboclusão intestinal alta, podendo levar o indivíduo a óbito
- As infecções podem assumir um curso crônico por 20 ou 30 anos pelas autoinfecções
~ Diagnóstico:
- Laboratorial: Exame parasitológico de fezes, no qual encontram-se larvas rabditóides ou filarióides (e não os ovos)
. Métodos para identificar larvas nesse exame: Método de Rugai, método de Baerman ou coprocultura de Harada-Mori
- Clínico: Tríade clássica que o paciente apresenta, formada por diarreia, dor abdominal e urticária
~ Patogenia, patologia e sintomatologia:
- Pequeno número de parasitos: 
. O indivíduo será assintomático
- Formas graves (até fatais): 
. Fatores extrínsecos: Carga parasitária crescente
. Fatores intrínsecos: Subalimentação, diarreia (causa desidratação), vômito (causa desidratação e movimentos retro peristálticos que vão potencializar a mudança da larva rabditoide para filarióide), infecções bacterianas e parasitárias associadas, e intervenções cirúrgicas
~ Localizações:
- Cutânea: 
. Discreta, ocorrendo nos pontos de penetração (ex: urticárias)
- Pulmonar: 
. Dispneia 
. Crises asmatiformes
. Tosse 
. Em casos mais graves, síndrome de Loeffler
- Intestinal (na ordem de menor gravidade para maior gravidade):
. Enterite catarral: Secreção mucoide com caráter reversível
. Enterite edematosa: Síndrome de má absorção intestinal
. Enterite ulcerosa: Alterações no peristaltismo e ulcerações da mucosa (quando há pontos de fibrose), podendo levar o indivíduo à morte
- Disseminada: Além de no intestino e nos pulmões, as larvas podem ser encontradas nos rins, fígado, vesícula biliar, cérebro, pâncreas, tireoide, adrenais, próstata, glândulas mamárias e linfonodos, podendo levar o indivíduo à morte 
~ Profilaxia:
- Diagnosticar e tratar os parasitados
- Medidas de higiene, como tomar banho, lavar bem as mãos e lavar bem a região perianal
- Limpeza local no caso de presença de gatos e, principalmente, de cães nos locais em que o indivíduo parasitado frequenta (já que esses animais realizam a eliminação dos ovos em suas fezes)
- Andar calçado
- Lavar bem os alimentos
- Não levar objetos que caem no chão à boca
~ Tratamento:
- Ivermectina por via oral, sendo contraindicada durante a gestação e o aleitamento
- Albendazol por via oral
- Tiabendazol por via oral, sendo recomendado nos casos de hiperinfecção
- Os anti-helmínticos não matam as larvas
- A taxa de cura é de 70% a 90% e convém repetir o tratamento para evitar reinfecções externas ou internas

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