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Artigo desenvolvimento rural e identidade quilombola

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Política de desenvolvimento e extensão rural em contexto quilombola: 
práticas, discursos e sentidos no Território Nova Jatobá 
 
Resumo 
As comunidades quilombolas se constituem como parte fundamental da trajetória social 
brasileira, estando, em muitos casos, ainda distantes do pleno gozo de direitos fundamentais 
nesse cenário nacional. No contexto do acesso a políticas públicas e serviços, tem sido ponto de 
discussão a sua consideração na definição de políticas e ações de desenvolvimento rural e a 
observância de suas particularidades culturais no desenvolvimento de tais ações, a exemplo da 
política de extensão rural. Abordam-se, neste texto, alguns dos dados levantados em pesquisa do 
Mestrado em Extensão Rural, na qual se debruçou, a partir de entrevista semiestruturada e 
observação in loco, sobre representações sociais de sujeitos quilombolas e extensionistas 
mediante análise de discurso (re)produzido acerca da identidade étnica e extensão rural, entre 
outros, no contexto do Território Quilombola Nova Jatobá, em Curaçá-BA. Evidenciam-se, a 
partir das (re)produções discursivas analisadas, apreensões fundamentais quanto aos modos de 
explicação, representação e significação desses objetos e da própria realidade, bem como a 
influência e os contrastes de suas inter-relações no âmbito do reconhecimento e da valorização 
identitária. 
Palavras-chave: Comunidades Quilombolas; Identidade Étnica; Extensão Rural; Política de 
Desenvolvimento Rural; Análise de Discurso; Nova Jatobá. 
 
Introdução 
 
As comunidades quilombolas são um fenômeno histórico, social e político que se 
constitui como parte fundamental da trajetória social brasileira, trazendo consigo a referência da 
experiência diaspórica africana e processos de resistência, dentre outras questões relativas à 
especificidade desse segmento. Dada a busca pelo direcionamento de atenções e o cumprimento 
de direitos, ante a compreensão de uma histórica situação de negligência e vulnerabilidade a que 
foi submetido, desde muitos anos tem sido imperante a necessidade de debates e análises da sua 
situação concernente às diversas questões relacionadas, como o paradigma da identidade, 
políticas de reconhecimento, regularização de território, acesso a políticas públicas, dentre 
outras. 
No contexto do acesso a políticas públicas e serviços, tem se tornado ponto fundamental 
de discussão a sua consideração na definição de políticas e ações de desenvolvimento rural e a 
observância de suas particularidades culturais e étnicorraciais no desenvolvimento de ações 
dessa linha, a exemplo da política de extensão rural.22 Seguindo em maior ou menor grau tais 
 
22 Reforçada enquanto política nacional no decurso 2003/04, pelo então Ministério do Desenvolvimento 
Agrário (MDA) (PEIXOTO, 2008), a política de extensão rural recebeu direcionamentos básicos que 
observam o paradigma racial enquanto estruturante das relações na sociedade brasileira e influente sobre 
a realidade de beneficiários em potencial, como os quilombolas, defendendo a observância da diversidade 
socioetnicorracial e o apoio a “ações específicas [...] visando à superação da discriminação” (MDA, 2004, 
p. 8). Na atual conjuntura, demarcada pela Lei n.º 12.188/2010, permanece uma orientação da Política 
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater), ainda que por meio de referências genéricas, 
para uma perspectiva de valorização étnicorracial, definindo entre os beneficiários: “os remanescentes de 
quilombos” (art. 5º, inciso I) e, entre os seus princípios: “equidade nas relações de gênero, geração, raça e 
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orientações, algumas poucas chamadas públicas para desenvolvimento de ações voltadas à 
agricultura familiar no modelo público não estatal, como ações de extensão rural ou projetos de 
apoio a vocações produtivas locais que buscam adotar a Assistência Técnica e Extensão Rural 
(ATER) como prática, têm sido direcionadas especificamente ao segmento quilombola, 
observando, por exemplo, orientações do eixo 3 do Programa Brasil Quilombola, criado em 
2004, que contempla o tema desenvolvimento local e inclusão produtiva (BRASIL, 2013). 
Outras chamadas não específicas para esse público têm trazido uma perspectiva étnica e 
sociocultural como aspecto transversal na estipulação das propostas, sendo passíveis de 
observação e análise.23 
A extensão rural tem o potencial de implicar na modificação de práticas e 
comportamentos do homem do campo, seja no âmbito produtivo, inclusive por um ideal de 
necessidade de modernização da agricultura historicamente arraigado, seja num contexto mais 
geral, por sua própria função de processo educativo e comunicativo. Esse aspecto, somado a 
uma percepção da necessidade de adequação de processos desenvolvidos com a população rural 
em suas diversas singularidades, é o que tem motivado, junto a outros fatores, questionamentos 
acerca da influência de sistemas de valores estranhos à cultura dos usuários no processo 
educativo e comunicativo desenvolvido em seu contexto, advindo daí uma defesa da 
necessidade de valorização das especificidades culturais dos sujeitos nas ações, inclusive dos 
quilombolas. Ademais, como a própria aceitação das ações pelos usuários e os efeitos delas 
sobre sua realidade envolve, muitas vezes, o fato de como eles as enxergam e as significam, vê-
se, nesses fatos, a importância da percepção dos sujeitos sobre tais ações, políticas públicas e 
fatores relacionados. 
As reflexões aqui presentes abordam alguns dos dados levantados em pesquisa realizada 
para elaboração do trabalho de conclusão de curso do Mestrado em Extensão Rural da 
Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), na qual se debruçou sobre atitudes 
 
etnia” (art. 3º, inciso v) (BRASIL, 2010). Outro marco legal que vigora desde 2007, o Decreto n.º 6.049, 
propõe que as ações voltadas ao desenvolvimento sustentável dos povos e das comunidades tradicionais 
observem princípios de diversidade socioambiental, sociocultural e étnicorracial, considerando, entre 
outros, os matizes de raça e etnia de maneira a não “instaurar ou reforçar qualquer relação de 
desigualdade” (art. 1º, inciso I) (BRASIL, 2007). 
23 É o caso da Seleção Pública de Projetos de Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção 
Orgânica, relativa ao projeto Redes Ecoforte (Edital 005/2014), uma das ações por meio das quais os 
participantes da pesquisa na qual se baseia este texto estavam relacionados enquanto executores e 
beneficiários. Essa ação, executada no Território Quilombola Nova Jatobá por equipe técnica do Instituto 
Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), sediado no município de Juazeiro-BA, 
objetivou “[...] o apoio a projetos territoriais de redes de agroecologia, extrativismo e produção orgânica, 
voltados à intensificação das práticas de manejo sustentável de produtos da sociobiodiversidade e de 
sistemas produtivos orgânicos e de base agroecológica” (FBB e BNDES, 2014, p. 3). Ela se voltou ao 
fortalecimento de empreendimentos coletivos da agricultura familiar, tendo havido incentivos, no 
processo de seleção por chamada pública, a projetos direcionados a povos e comunidades tradicionais. 
Em função disso, e pelo IRPAA já vir atuando no território supracitado, o projeto foi direcionado a ele, 
destinado à Associação Quilombola para atuação com produtos derivados da mandioca, principalmente. 
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representacionais de sujeitos quilombolas e extensionistas24 mediante análise de (re)produções 
discursivas acerca de objetos como identidade étnica e extensão rural, no contexto do Território 
Quilombola Nova Jatobá. Na referida pesquisa, fundamentou-se a abordagem na Teoria das 
Representações Sociais (MOSCOVICI,2003) e na Análise de Discurso francesa (ORLANDI, 
2007; 2009), procedendo-se à problematização de sentidos (re)produzidos no processo de 
representação social da realidade num contexto de execução de ações e políticas universalistas 
de desenvolvimento rural nesse território, em que há atribuição de identidade específica. 
Destacam-se, assim, a Política de Extensão Rural e o referido Projeto Ecoforte Redes, tratando-
se de ações voltadas a pessoas do campo em geral, mas que trazem princípios de consideração 
da especificidade étnicorracial quilombola, como será retomado. Somam-se, aqui, algumas 
atualizações acerca da situação do Território Quilombola elencado e algumas novas 
informações e formas de abordagem de dados. 
O texto está dividido em seis seções, incluindo esta introdução. Na próxima seção, 
apresentam-se alguns aspectos do histórico do território quilombola em questão; na terceira, 
analisam-se aspectos do sentido de pertencimento étnico e da apreensão da identidade; na 
quarta, retomam-se, com alguns novos aspectos, algumas formas de apreensão e explicação da 
extensão rural e ações de desenvolvimento rural anteriormente verificadas nesse contexto; na 
quinta, discute-se a constituição de sujeitos discursivos em sua interpelação sobre as políticas e 
ações em análise; e na sexta, o exame de valores comunitários manifestos no discurso e suas 
possíveis articulações de sentidos, encerrando com os apontamentos finais. 
 
Breve histórico do Território Quilombola Nova Jatobá e sua situação nos contextos local e 
nacional: alguns apontamentos gerais 
 
Localizado no município de Curaçá, a 12 km do centro, no extremo norte do estado da 
Bahia, à margem direita do Rio São Francisco, o conjunto das sete comunidades, assim 
denominadas Nova Jatobá, Rompedor, Caraíbas, Favela, Sombra da Quixaba, Primavera e 
Boqueirão, compõe o Território Quilombola Nova Jatobá, conforme apontado por moradores na 
pesquisa realizada em 2018, muito embora duas tratativas de regularização do/no território (uma 
de terras quilombolas e outra de terras devolutas, conforme exposto mais à frente) só tenham 
considerado aquelas cinco primeiras comunidades. 
Contam os moradores que o primeiro povoamento, que se chamava apenas Jatobá, 
recebeu esse nome dos barqueiros que transportavam mercadorias ao longo do Rio São 
Francisco e dormiam embaixo de uma árvore naquela região, o jatobazeiro/jatobá (Hymenaea 
 
24 Foram entrevistados 11 quilombolas: 3 do sexo masculino, 8 do feminino, sendo 3 não alfabetizados, 3 
com fundamental completo/incompleto e 5 com ensino médio completo/incompleto. Serão identificados 
com as iniciais QE, de “Quilombola Entrevistado/a”. E foram entrevistados dois extensionistas: um de 
cada sexo, ambos com nível superior, além de curso técnico de nível médio, identificados com as iniciais 
TE, de “Técnico/a Entrevistado/a”. 
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courbaril). Localizava-se em uma área mais baixa e, por isso, foi atingido por uma grande 
enchente em 1979 (data apontada por QE-8, com 78 anos quando entrevistado), o que fez os 
moradores se mudarem para onde atualmente se acha o povoamento nomeado como Nova 
Jatobá. 
A origem das primeiras pessoas a chegarem à região é explicada a partir da vinda, cujo 
ano de ocorrência seria 1905, de quatro pessoas do estado pernambucano, fugidas de possível 
contexto análogo à escravidão, sendo eles Antônio Lopes, Domingos Lopes, Francisco 
Coalhada e seu filho, Leandro Torquato Costa. Aponta-se, aqui, a situação de fuga de possível 
“contexto análogo”, considerando esse período de tempo referido pelos atuais moradores, 1905, 
que é posterior à abolição formal da escravidão no Brasil (1888). Contudo, segundo Rêgo 
(2020, p. 38-9), que analisa parte da árvore genealógica de um dos moradores mais antigos, em 
contraste com o aspecto cronológico, é possível cogitar que aqueles chegaram não em 1905, 
mas, sim, desde antes de 1879, quando o engenheiro civil Theodoro Sampaio, que integrou a 
Comissão Hidráulica do Império em expedição pelo Rio São Francisco e pela Chapada 
Diamantina, teria passado pela região analisando sua geografia humana, modos de vida, fauna, 
flora e topografia, entre outros. 
Mesmo que o processo de etnogênese (organização para resgate/conhecimento de sua 
história e descendência negroquilombola rumo ao autorreconhecimento e sua oficialização) 
tenha sido encampado há vários anos, por volta de 1998, contando com apoio do ex-prefeito e 
então candidato25 Aristóteles Loureiro (Tote), segundo QE-4, e apesar de os moradores terem 
conseguido, há mais de uma década, a certificação de comunidade remanescente quilombola, 
outorgada pela Fundação Cultural Palmares (FCP) em 25 de fevereiro de 2008, conforme consta 
na certidão de autodefinição,26 ainda aguardam a plena concretização de prerrogativas legais, 
pois possuem somente a referida certificação que oficializa o autorreconhecimento identitário. 
Inserindo-se como etapa do processo de enfrentamento de uma dívida histórica, essa medida já 
permite, apesar de adversidades, alguns benefícios com certa ampliação de direitos a políticas 
públicas específicas em diversas áreas, inclusive no âmbito do desenvolvimento rural, aqui 
abordado. 
Sobre a busca pela concretização de direitos territoriais inerentes à regularização 
fundiária de território quilombola, quanto ao Processo n.º 54.141.000.435/2010-59 iniciado em 
30 de março de 2010, junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), 
na então Superintendência Regional do Médio São Francisco (SR-29), em Petrolina-PE, já 
tendo se passado mais de uma década, diante da morosidade, problemas burocráticos e outros 
entraves legais e sociais inerentes a esse processo, ele ainda se encontra na fase inicial do 
 
25 E não prefeito recém-eleito, como se mencionou anteriormente (SANTOS, 2018, p. 85; SANTOS, 
ARAÚJO e FREITAS, 2018b, p. 09). 
26 Data de publicação da Portaria no Diário Oficial da União: 05 de março de 2008. 
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Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID). Embora nos últimos anos tenham 
ocorrido avanços no que se refere ao cadastramento de 213 famílias, realizado em 2018 no 
âmbito de Termo de Execução Descentralizado (TED) firmado entre o INCRA e a Companhia 
de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), ainda faltam as 
demais peças do RTID: levantamento fundiário, planta e memorial descritivo, sobreposição, 
parecer técnico, parecer jurídico e, a peça mais importante, o relatório antropológico, conforme 
entrevista realizada no início de abril de 2020 com a antropóloga Simone Ramos, integrante da 
equipe técnica da então SR-29/INCRA, posteriormente extinta, como se discorrerá mais à 
frente. 
Com relação à tentativa regularizatória de terras presumivelmente devolutas, em que as 
cinco comunidades do território pleiteado, anteriormente referidas, organizaram-se e foram 
consideradas em Processo de Discriminatória Administrativa Rural, realizado a partir de 
novembro de 2011, pela Coordenação de Desenvolvimento Agrário do Estado da Bahia (CDA), 
mediante processo aberto em 31 de agosto de 2011, ainda não se conhecem resultados práticos. 
Ainda no que tange à investida regularizatória iniciada no âmbito da mencionada SR-
29/INCRA, cabe ressaltar que, no dia 20 de abril de 2020, fora publicada a Portaria de n.º 582, 
de 26 de março de 2020, que extinguiu essa Superintendência Regional do Médio São Francisco 
(SR-29), em Petrolina, e a transformou em Unidade Avançada Especial (UAE-03.1) da 
Superintendência de Recife (SR-03). Com isso, demandas de Curaçá e outros cinco municípios 
da Bahia que estavam sob responsabilidade daquela SR-29, em virtude de 
localização/proximidade e/ou questões em comum com municípios do lado pernambucano, 
como risco de impactos ambientais (Abaré, Chorrochó,Macururé, Glória e Rodelas), 
retornariam para a Superintendência de Salvador. Naquele momento, embora a equipe técnica 
da SR-29 ainda estudasse os desdobramentos efetivos da medida sobre suas ações que já 
estavam em curso, conforme informações colhidas via e-mail em 20 de abril de 2020, o futuro 
desses trabalhos no território de Nova Jatobá, quanto à sua continuidade por ela, se mostrou 
incerto. 
Verifica-se, nesse contexto de dificuldade de obtenção do título coletivo e outras ações 
regularizatórias, uma das várias questões que se relacionam ao processo de busca pelas 
prerrogativas legais inerentes à trajetória quilombola: o prolongamento e a morosidade de 
processos de titulação (ALMEIDA, 2011), bem como a constância de negociações quanto à 
materialização de políticas públicas e direitos territoriais. Com efeito, embora sejam expressão 
de uma ocupação tradicional do território, que ali já se encontra há mais de um século resistindo 
aos desafios do meio rural, trabalhando em suas posses, desenvolvendo seu modo de vida em 
diferentes facetas (sertanejo, camponês, ribeirinho e quilombola, dentre outras), essas 
comunidades daquele território ainda se encontram numa situação de insegurança, no campo 
dos direitos territoriais, no que se refere a essa inexistência de garantia da propriedade das 
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terras, estas que, além do mais, são em grande parte localizadas às margens do Rio São 
Francisco e, assim, despertam interesses relacionados ao desenvolvimento da moderna 
agricultura produtivista pelo agronegócio. 
Com relação a esse contexto de embates latentes de ordem fundiária, historicamente o 
direito à terra no Brasil foi quase sempre negado, quando não dificultado, a diversos 
contingentes negros e quilombolas. Há mais de um século e meio o hábito de obstar o acesso à 
posse da terra pelos negros vem se reproduzindo através de vieses ideológicos e institucionais. 
Isso se iniciou desde antes da abolição da escravidão, com a ação de latifundiários a partir da 
Lei de Terras no século XIX, Lei n.º 601 de 1850, que impedia a aquisição de terras devolutas 
por vias que não fosse a da compra (BRASIL, [20--?], p. 11-12) e, mantendo-se ao longo dos 
tempos, tem feito com que a trajetória de muitos povos seja constantemente marcada por 
obstáculos e reorientações, como a influência de dificuldades quanto a entraves burocráticos, 
como também aponta Almeida (2011), e medidas de ampliação de requisitos impostos a 
“relatórios técnicos” e documentos necessários a processos de titulação (GONÇALVES, 2017, 
p. 59), entre outras investidas. Assim, embora tenha se observado a implementação de 
instrumentos legais normativos nessa seara, na prática não se verificam tanto seus efeitos. Vale 
mencionar ainda a atuação de forças opositoras no âmbito do Congresso Nacional,27 
reminiscência de todo esse processo histórico, que contrabalanceiam a arena de negociações 
sobre a agenda quilombola. 
No histórico daquelas comunidades do Território Quilombola Nova Jatobá, como em 
muitas comunidades negras rurais quilombolas, a produção agropecuária se insere como aspecto 
fundamental quanto à subsistência e composição de renda familiar, com destaque, nesse caso 
particular, ao cultivo de culturas como a mandioca (manihot esculenta), e à criação de espécies 
como caprinos e ovinos, mantendo-se, apesar dos obstáculos, práticas de produção para o 
próprio consumo e, havendo excedente, a comercialização. Não obstante, dificuldades de ordem 
técnica, financeira e mesmo ambientais quanto a uma produção irrigada a partir das águas do 
São Francisco, somadas a outros fatores que vão se impondo ao longo dos anos, têm contribuído 
para a perda da autonomia enquanto produtores familiares e, em paralelo, favorecido a geração 
de dependência frente ao assalariamento nas empresas de fruticultura que se impõem como 
alternativa ou mesmo oportunidade, sendo esse, como também discutido por Rêgo (2020), um 
 
27
 Têm sido citados, por exemplo, os casos emblemáticos da bancada dos parlamentares ruralistas e dos 
partidos conservadores que a compõem, em relação à sua postura contraposta ao reconhecimento e à 
autoatribuição quilombola (CALHEIROS e STADTLER, 2010, p. 137; ALMEIDA, 2011, p. 155-156), e 
o Partido Democratas (DEM), antigo Partido da Frente Liberal (PFL), em que uma das investidas foi o 
ajuizamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) n.º 3.239-9/600 de 2003, no Supremo 
Tribunal Federal, em contestação ao direito à terra pelos quilombolas, preconizado pelo Decreto n.º 
4.887/2003, tendo ela sido considerada improcedente (BRASIL, [20--?], p. 18) e tendo ainda sido 
retomada e posta em exame em outros momentos posteriores. 
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dos vários aspectos relacionados às contradições do desenvolvimento no Vale do Submédio São 
Francisco. 
Apesar desses obstáculos apresentados, persiste um potencial local quanto às práticas de 
produção agrícola familiar ou em pequena escala, o qual tem permitido, ao longo dos anos, que 
haja ali algum foco de execução de ações de desenvolvimento rural a partir de diferentes 
instituições, com vistas ao fortalecimento de ações produtivas, culturas locais e da agricultura 
familiar. Dessa forma, muitas pessoas se organizam e, por meio das instituições associativas, 
principalmente a associação quilombola, conseguem, às vezes, acessar políticas públicas que 
vão se mostrando acessíveis por meio de programas como o Programa de Aquisição de 
Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar 
(PNAE), entre outros. 
 
O sentido de pertencimento étnico e a apreensão da identidade: algumas considerações 
 
A identidade étnica é um dos objetos relacionados ao processo discursivo apreendido 
junto aos sujeitos e que é aqui analisado em contraste com o acesso a políticas públicas e 
serviços no âmbito do desenvolvimento rural. Assim, cabe discutir os movimentos do sentido de 
pertencimento que são (re)produzidos por aqueles e os aspectos do processo de apreensão da 
identidade representado por eles. 
Cabe, inicialmente, avaliar que o processo de construção identitária é algo dinâmico e a 
identidade está sempre em construção, porquanto é possível assumir identidades diversas 
conforme a diversidade de contextos (HALL, 2006). No caso da identidade étnica quilombola, 
esta compreende diversos elementos que se articulam desde aspectos mais básicos, como 
processos de autoafirmação e autoatribuição,28 pelos quais os indivíduos são impelidos a um 
assujeitamento sociopolíticoideológico, como também envolve as possibilidades de transmissão 
geracional de aspectos socioculturais e a reificação de sentidos do pertencimento a uma 
trajetória ou realidade, além da demarcação de especificidades em meio ao estabelecimento de 
relações intersubjetivas e trocas simbólicas na interação social, com constantes contrastes no 
campo das “fronteiras étnicas” (BARTH, 1998), sendo esses aspectos básicos fundamentais nos 
processos de consideração, avaliação e mesmo reconhecimento de definição identitária. 
Discutidas por vários autores em menor ou maior profundidade analítica, como, por 
exemplo, Bourdieu (1989, p. 117), Barth (1998), Taylor (2000), Honneth (2003), entre outros 
(respeitando-se as especificidades de cada uma dessas abordagens teóricas), a identidade é 
 
28 Legitimada pela antropologia e pelas ciências sociais, a autodefinição quilombola é também um 
princípio legalmente reconhecido, ratificado com base no Decreto n.º 4.887/2003. Como exposto em 
documento do INCRA, “[...] a autoatribuição identitária é um processo universalmente utilizado pela 
espécie humana ao longo de sua história. É universal o fato de que os membros de um grupo social 
qualquer têm a plena consciência de pertencer ao seu grupo, adotando e praticando de forma espontânea, 
emalguma medida, suas regras, costumes e valores” (INCRA, 2017, p. 6). 
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apontada como um elemento construído mediante processos intersubjetivos, nos quais as 
percepções de si se relacionam sobremaneira ao reconhecimento pelos outros. Nesses termos, a 
identidade se funda não numa manutenção das especificidades orientada por um isolamento, 
mas, pelo contrário, nos processos de interação e relacionamento com o outro em meio aos 
quais se forjam processos intercambiáveis de heteroidentificação e autoidentificação. 
Dentre quatro aspectos relativos à noção de “grupo étnico”, num olhar antropológico, 
um deles é aquele no qual se “possui um grupo de membros que se identifica e é identificado 
por outros como se constituísse uma categoria diferenciável de outras categorias do mesmo 
tipo” (BARTH, 1998, p. 190). Assim, “Na medida em que os atores usam identidades étnicas 
para categorizar a si mesmos e outros, com objetivos de interação, eles formam grupos étnicos 
neste sentido organizacional” (BARTH, 1998, p. 193-194). 
No contexto analisado, podem ser apontados esses aspectos básicos, os quais ajudam a 
identificar a mobilização de uma ideia de pertencimento étnico a partir de alguns enunciados 
que foram (re)produzidos, conforme ancoragem desses sentidos em meio ao processo 
representacional empreendido quando perguntado “O que é ser quilombola?”: 
 
a) A indicação de reprodução entre gerações de uma relação de pertencimento étnico: 
“Quando [...] eu nasci mesmo... os meus pais e... meus avós, eles já falavam nessa 
origem” (QE-8); 29 “[...] eu nasci [...] meus pais já se consideravam quilombolas, eu não 
posso mudar a minha origem!” (QE-8); “Eu entendo assim, nessa parte. Porque a pessoa 
foi se criando, e a pessoa foi passando pra gente sobre os mais velhos, que já... tratavam 
tudo assim como...” (QE-7). 
 
b) A fixação de uma identidade racial constituída em meio às relações com o outro, 
sob influência de um olhar externo acerca do perfil racial do grupo: “[...] o pessoal 
da cidade dali de Curaçá [...] gostava muito do pessoal daqui. O pessoal chamava os 
„neguim‟ de Jatobá, porque eram negros mesmo! Mas a gente se sentia feliz porque era 
a origem da gente. Era o sangue da gente” (Q-8); “[...] muita gente aqui em Curaçá [...] 
só era chamado a gente os negros do Jatobá, mas isso aí não era discriminação, era 
conhecido como isso, era a forma de se referir. Então pra nós isso é um orgulho, né” 
(QE-11). 
 
a) A operação de processos de autoafirmação e de valorização da identidade negro-
quilombola: “Porque eu [me] considero da... quilombola, sou da comunidade. [...] me 
considero ser negra” (QE-5); “[...] não tem nada que me tire esse brilho e esse orgulho 
de ser negro e ser quilombola!” (QE-11); “Viemos de uma origem que nascemos 
negros, da pele escura, negra! Então por que a gente não se considerar quilombola?” 
(QE-4); “Tá na raça, tá no sangue! [...] Negra mesmo!” (QE-2), entre outros. 
 
Determinam-se, conforme os enunciados exemplificados acima, alguns dos níveis de 
apropriação da identidade negro-quilombola entre esses participantes, paralelo à análise anterior 
que já se fizera dos sentidos que foram ancorados a partir dos enunciados (re)formulados em 
resposta àquela pergunta, como o sentido de “luta por direitos”, “afirmação da identidade”, 
 
29 Realizou-se a correção de pronúncia em palavras dos enunciados utilizados, sem, contudo, alterar o seu 
sentido neles. 
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“resgate e valorização das origens e da cultura” e a “união” (SANTOS, ARAÚJO e FREITAS, 
2018a, p. 122). Nessa análise anterior, alguns desses mesmos sentidos surgiam também em 
relação ao objeto “quilombo”, sendo explicitados tanto aspectos positivos, como a compreensão 
desse objeto enquanto uma forma de resistência, de união e associação com vistas ao trabalho, 
uma oportunidade de acesso a um desenvolvimento e viabilização de recursos, como também 
aspectos negativos, a exemplo do sentido de carência socioeconômica e dependência 
relacionado à realidade quilombola e que remete, assim, ao contexto do processo de 
vulnerabilização sofrido por esse segmento em sua trajetória histórica. 
Nem todos os enunciados (re)produzidos, porém, mobilizaram categorias relacionáveis 
ao sentido de apreensão de uma identidade étnica, quando perguntado “O que você entende 
por quilombo?”. Nesse sentido, houve inclusive a negação de alguma cognição sobre esse 
objeto discursivo quando se afirmou não saber do que se trata a questão ou não se (re)produziu 
enunciado que explicitasse a ancoragem de sentidos relacionados à etnicidade ou a percepção 
desta e a ideia de pertencimento a ela (QE-1 e QE-2). Isso ocorreu até mesmo quando ancorado 
um sentido positivo para esse objeto discursivo quanto ao seu aspecto de poder possibilitar 
alguma garantia: “Rapaz, no momento eu ainda estou desinformado com isso [...]! É... sei que 
disse que é um órgão bom, quilombola. Mas... o pessoal tá encaixando nisso pra ver se dá certo 
alguma coisa” (QE-9). 
Nota-se, portanto, a possibilidade de diferentes formas de apreensão e apropriação da 
identidade étnica e do próprio sentido de pertencimento a essa mesma identidade. Com um 
maior ou menor nível de incursão nos sentidos, os sujeitos articulam formações discursivas por 
meio das quais transitam do polo de interdição de uma fixação de sentidos mais relacionáveis, 
passando pelo da negação de uma cognição sobre o objeto referido, e chegando ao polo de 
ultrapassagem dessa interdição. Nesse último é que eles afirmam a identidade étnicorracial, seja 
ela apreendida ao nível de uma autopercepção mediante a heteroidentificação nos processos de 
interação com o “outro”, seja no nível de um resgate de processos históricos do grupo e da 
identificação de uma relação com a trajetória de resistência negroquilombola, ou ainda no 
âmbito de um agenciamento sociopolítico e mesmo ideológico no presente voltado à 
autoafirmação, entre outros aspectos. 
A esse respeito, a trajetória negroquilombola no Brasil é algo que envolve diversas 
nuanças que balizam as fronteiras do estabelecimento da própria identidade, dentre as quais as 
tentativas de apagamento e silenciamento da ideia de “ser quilombola”, o sentido negativo 
historicamente constituído frente ao contexto repressivo do período colonial e outras 
consequências negativas do passado escravista brasileiro, como o racismo. Com efeito, 
reconhecer-se quilombola “trata-se de assumir uma identidade que, para muitos, não é evidente 
ou que, historicamente, procuram negar com vistas ao favorecimento de sua inserção social em 
67 
 
sociedades altamente discriminadoras” (DIESEL e DIAS, 2010, p. 3).30 Soma-se a isso a 
influência dos próprios processos históricos de ressignificação do fenômeno quilombola, cujos 
sentidos estão sempre em disputa nos vários campos da sociedade: acadêmico, jurídico-
normativo, e no próprio discurso do senso comum. Esses são alguns fatores que estão no cerne 
do paradigma do (re)conhecimento e do assumir-se enquanto “detentor desta identidade”, esta 
que, no fim, ou para início de um processo de organização e luta, não se “detém” de fato, posto 
que, depois de tudo, ainda depende do crivo do reconhecimento pelo Estado, mantenedor dessa 
conceituação enquanto categoria proposta, atualmente inserido como agente de poder quanto à 
determinação das possibilidades de agência ou não de sujeitos, no processo de reconhecimento e 
firmação da identidade. 
 
Formas de percepção e explicação das políticas públicas: algumas das apreensões 
identificadas acerca da extensão rural e ações de desenvolvimento rural 
Elemento que também é alvo de um processo constante de ressignificações, a extensão 
rural tem assumido muitos significados ao longo do tempo, compreendendo uma diversidade de 
conceitos que muitas vezes se tensionam para sentidos comuns, podendo assim ser mobilizado apartir de discursos (re)produzíveis por sujeitos de diferentes “mundos”: instituições, 
profissionais executores, beneficiários, entre outros, contribuindo para a estabilização ou 
desestabilização de sentidos no processo de comunicação e interação. 
Com efeito, no processo discursivo sobre a extensão rural diversos discursos podem ser 
acionados e, através deles, diversos sentidos estabilizados, já tendo sido classificados e 
analisados em outro momento (SANTOS, 2018; SANTOS, ARAÚJO e FREITAS, 2018a) 
alguns exemplos dessa diversidade e que nesta parte são retomados, aprofundando-se em alguns 
novos aspectos: 
 Discurso econômico: pelo qual tanto os sujeitos extensionistas quanto quilombolas se 
viram interpelados a ancorarem a extensão rural a partir de uma ideia de geração de 
trabalho e renda e de desenvolvimento econômico. Esse discurso, que nesse contexto 
enunciativo teve como portadores locais momentâneos mais filiados a essa formação 
discursiva os sujeitos TE-1, TE-2, QE-8 e QE-11, permitiu-lhes fixar o sentido de ação 
intervencionista com fins ao apoio a um progresso econômico das pessoas e, em 
paralelo, o apoio à sua permanência e fixação local concomitante ao potencial de 
prevenção de migrações e correlatas desordens urbanas, como textualizado por um dos 
sujeitos quilombolas (QE-11), sem prejuízo de outros efeitos de sentido concernentes à 
influência da polissemia e interdiscursividade. Na disputa de sentidos, em meio ao 
 
30 Para tal consideração, esses autores citam: Arruti (1997), Leite (2000), Agier e Quintin (2003), Santos e 
Doula (2008) e Lifschitz (2008). 
68 
 
processo discursivo, o discurso econômico torna-se balizador dos dois “mundos”, 
verificando-se, através dele, o estabelecimento de um consenso a partir do resgate e da 
fixação de sentidos sedimentados numa memória coletiva. Esse discurso se insere como 
um discurso comum, aproximando processos de comunicação entre os dois grupos, 
executores e beneficiários/comunitários, de modo a haver entendimento e aceitação 
coletiva de uma dada configuração da realidade, discursivamente consensuada ao passo 
em que os sujeitos tendem a “falar a mesma língua”. Nessa linha, reificaram-se a 
extensão rural como algo que objetiva “ajudar a crescer” (TE-1 e QE-11), estando 
orientada à modificação das condições locais em termos econômicos (TE-1, TE-2, QE-
8, QE-11), produtivos (TE-1, QE-8), de qualidade de vida (TE-1) e de garantia de 
permanência e fixação local (QE-11). Tem-se, nessa prática discursiva, um resgate e 
uma estabilização de sentidos relacionados àqueles desde há muito31 atribuídos à 
extensão rural no processo de justificativa de sua adoção, ancorando-a a partir de uma 
visão sobre baixas condições socioeconômicas relacionadas à população rural e sobre o 
êxodo rural e migrações como fatores resultantes dessa realidade.32 
 Discurso tecnicista da intervenção assistencialista: interpelou os extensionistas a 
ancorarem a extensão rural a partir de uma noção de transmissão de conhecimentos 
voltados à “melhoria” de processos e à geração de oportunidades no campo, além do 
sentido de agência do profissional extensionista. Também se filiando a esse discurso, 
quilombolas ancoraram a extensão rural e atuação extensionista a partir de uma noção 
de transferência de conhecimento, indução de informações e mesmo de processo 
educativo (QE-2, 6 e 7)33. Esse último sentido é uma das três compreensões básicas 
tradicionalmente conferidas à extensão rural (ou seja, sua compreensão como 
 
31 Porém, mais posteriores, no histórico das discussões, pois ao desenvolvimento da extensão rural no 
Brasil vinculou-se primeiro o interesse pelo crescimento da produtividade a qualquer custo, consoante um 
modelo de execução difusionista voltado à “modernização conservadora” da agricultura (FREIRE, 1983 
[1969]; CAPORAL e RAMOS, 2006; CALHEIROS e STADTLER, 2010, p. 134), vindo daí uma série de 
consequências negativas (econômicas, sociais e ambientais) que hoje embasam muitos discursos sobre 
medidas de combate ao êxodo rural e fatores relacionados e sobre a promoção da autonomia financeira e 
permanência no campo, ainda que por trás de determinados discursos dessa mesma ordem também 
possam se inscrever sentidos outros. 
32 Não obstante, essas preocupações que vêm se consolidando nas últimas décadas, em relação aos índices 
de migração da população rural para as cidades e a decorrente geração de desordem urbana, é preciso 
reconhecer que, em geral, o discurso sobre desenvolvimento econômico rural ainda se insere, muitas 
vezes, subsumido a um paradigma mais amplo, advindo do sentido historicamente vinculado a uma lógica 
discursiva desenvolvimentista em contexto nacional. Ademais, o discurso econômico tem sido utilizado, 
normalmente, para mobilizar os sentidos de aumento de renda, produtividade e adoção de novas 
tecnologias, embora haja novos paradigmas de desenvolvimento nos quais esses não são os únicos 
critérios considerados, mas também outros, como os sociais e os ambientais, por exemplo. 
33
 Como nos seguintes exemplos de enunciados: “Extensão rural, pra mim, é onde tem um órgão e aí tem 
a extensão, né?... vai um técnico pra dar assistência. [...] É, tipo, tem uma escola, aí tem: „Vamos alugar 
uma sala!‟, ali é extensão [...]” (QE-2); “[...] aprendamos com eles a crescer na vida”, “O que a gente não 
sabe eles ensinam”, “quando tem as coisas pra eles virem ensinar a gente eles vêm” (QE-6); “A pessoa 
vai buscando com quem sabe, que a pessoa não sabe, assim, tudo na vida” (QE-7). 
69 
 
“processo”, “instituição” e como “política pública” [PEIXOTO, 2008]) e tem remetido 
a um contexto questionável, nas últimas décadas, juntamente com o sentido de 
transferência de conhecimento, no nível de sua operação em termos difusionistas-
produtivistas e não dialógicos, considerando-se críticas freireanas como a de que “[...] o 
conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aquêles que se julga não 
saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações de 
transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações” (FREIRE, 
1983 [1969], s/p, grifos originais). Tais sentidos tornaram-se problematizáveis a partir 
de enunciados (re)produzidos pelos participantes quando estes não mobilizaram um 
sentido de agência dos sujeitos usuários, mas somente dos executores, ancorando-os 
como protagonistas eminentes no processo educativo, predominando, assim, o sentido 
de agência unidirecional (extensionista > usuário) nas ações, o que também perfez o 
discurso técnico profissional, como se segue. 
 Discurso técnico profissional: viu-se uma interpelação dos agentes executores, então 
porta-vozes desse discurso, à ancoragem de um papel ativo e protagonista do 
extensionista enquanto agente interventor da realidade, evidenciando-se, nesse ponto, 
uma perspectiva mais voltada a um sentido de ação unidirecional (extensionista > 
usuário) nos processos, a partir do dito sobre a própria agência profissional, ao 
objetivarem a mesma quando discursaram sobre a extensão rural. Observou-se, paralelo 
à filiação a essa formação discursiva em que se constituiu o extensionista como agente 
por excelência e detentor da primazia do “saber” e do “fazer”, a significação do não 
dito, com o apagamento/“silenciamento” (ORLANDI, 2007, p. 24; 2009, p. 83) do 
“outro”, também envolvido nesse processo, enquanto coparticipante protagonista das 
ações. De maneira geral, raros foram os efeitos discursivos pelos quais se fixa algum 
sentido de agência participativa dos sujeitos da comunidade, no “intradiscurso”, 
mediante mobilização de regiões do “interdiscurso”.34 Isso ocorreu em referência à 
participação em etapa mais inicial e decisória da implantação de projetos, destacando-se 
enunciado (re)produzido por um quilombola,e outro por um dos extensionistas: “[...] 
quando eles têm um projeto eles trazem para a comunidade, aí as pessoas dão a opinião, 
e tão sempre ali orientando, buscando o melhor. Mas com a comunidade” (QE-3); “[...] 
porque a gente tá levando um projeto que foi, antes de tudo, foi solicitado por eles, né” 
(TE-2). Nesse quesito, sabe-se que a adoção de métodos como o Diagnóstico Rural 
Participativo (DRP) na implantação de projetos e ações de desenvolvimento rural, como 
ocorreu no caso do Projeto Ecoforte aqui apontado, pode garantir alguma agência 
 
34
 O interdiscurso é tudo aquilo que constitui o “já dito”, porém esquecido, e que assim orienta o dizer. É 
todo o conjunto de possibilidades do dizer, o dizível, que permite diferentes formações discursivas; o 
intradiscurso refere-se a tudo aquilo que é dito ou formulado no momento, mediante determinadas 
condições (ORLANDI, 2007; 2009). 
70 
 
participativa quanto à necessidade de engajamento na fase de identificação de 
necessidades locais: “O objetivo principal do DRP é apoiar a autodeterminação da 
comunidade pela participação [...]” (VERDEJO, 2006, p. 12). Ele permite que os 
envolvidos “[...] iniciem um processo de auto-reflexão sobre os seus próprios problemas 
e as possibilidades para solucioná-los” (VERDEJO, 2006, p. 12). 
 Discurso de caráter responsabilizador: por meio do qual o sujeito extensionista TE-1 
empreendeu filiação discursiva a uma visão sobre a postura e o papel dos usuários 
enquanto corresponsáveis no processo de busca por resultados nas ações de extensão 
rural, mais especificamente no que se refere à defesa do seu engajamento contínuo no 
decorrer das ações, e também quanto à aceitação de reorientações, propostas pelos 
extensionistas, de práticas tradicionalmente desempenhadas por eles no processo de 
comercialização da produção. Essa necessidade foi ainda objetivada metaforicamente 
pelo sujeito, como forma de reforçar o que já havia dito: “quando eles não abraçam 
aquela causa, aí não vai” (TE-1). Esse discurso de caráter responsabilizador também foi 
(re)produzido, de outro lado, por alguns quilombolas, os quais ancoraram uma ideia de 
responsabilização institucional e dos agentes executores no que se refere aos esforços 
para o alcance de resultados por meio da extensão rural, como enunciação (re)produzida 
por QE-11, por meio da qual exortou, ao mesmo tempo, as “políticas públicas”, 
“instituições” e os “técnicos”/extensionistas
35
 à responsabilidade de promover uma real 
transformação na realidade dos beneficiários, mediante sua autonomização. Assim, 
propôs, mediante objetivação e ancoragem de imagens mentais que relacionou 
parafrásica e metaforicamente a um modelo proposto de prática ideal, a 
instrumentalização (“dar o anzol”, “ensinar a pescar”, “dar condições”, “capacitar”) e a 
emancipação (“acompanhar”, deixar a “comunidade caminhando com suas próprias 
pernas”) em detrimento da manutenção do status quo (“dar o peixe” e deixar “viver [...] 
na dependência”), relacionando isso tudo à necessidade de um engajamento e 
proximidade efetivos por parte dos extensionistas, conforme recorte textual de uma 
parte dessa mesma enunciação que se inscreve nessa formação discursiva: “[...] eu 
nunca fui a favor [...] de algumas visitas técnicas no sentido de [...] passar uma, duas 
horas. [...] assistência técnica que você chega e vai pra uma sala, como se você tivesse 
numa sala de aula, [...] eu não acredito muito nisso! [...] a melhor assistência técnica é 
[...] fazendo junto com o produtor” (QE-11). A filiação do sujeito a essa formação 
discursiva da responsabilização institucional e profissional o interpela a objetivar a 
prática do profissional na imagem de “sala de aula”, à qual se relacionam sentidos de 
 
35 Sem, contudo, deixar de responsabilizar também os usuários em outros momentos enunciativos, 
ressaltando sua coparticipação e responsabilidade quanto ao comprometimento para o alcance de sucesso 
nas ações. 
71 
 
prática educativa “depositária” (FREIRE, 1983 [1969]), distanciamento entre educador 
e educando e incipiência da prática, como meio de significá-la enquanto forma “errada” 
de operação, e assim desaprová-la; ao mesmo tempo, o interpela a objetivá-la nas 
imagens do “fazer junto” e do “ensinar a pescar”, às quais se relacionam sentidos de 
proximidade e envolvimento, como meio de significá-la enquanto forma “correta” de 
ação e então prescrevê-la nesse modelo. Isso permite mapear nesse discurso algumas 
marcas de proximidade com sentidos também mobilizados em discussões travadas em 
espaços específicos como o meio acadêmico, em que tem se proposto à reflexão sobre a 
prática da extensão rural uma polarização entre ação de caráter “educativo” e ação de 
caráter “comunicativo”. No primeiro caso se concebe a extensão rural como “Educação, 
quando o destinatário recebe uma série de conhecimentos para que mais tarde possa 
resolver problemas de forma autônoma, de modo que sua participação se centra nesta 
segunda fase” (SANCHES DE PUERTA, 2004, p. 1 apud REIS, 2008, p. 3); no 
segundo caso, aquela se configura como “Comunicação, quando a educação é 
concebida no sentido freiriano, quando [se propõe] uma reflexão conjunta sobre a 
realidade do ator social rural onde a distância entre educador e o educando desaparece” 
(SANCHES DE PUERTA, 2004, p. 1 apud REIS, 2008, p. 3). Assim, se observa algum 
nível de apropriação desses elementos por aquele sujeito quilombola, verificando-se 
aspectos de um trânsito de formas de conhecimento entre o saber científico e o senso 
comum, como se atribui aos processos de representação social da realidade 
(MOSCOVICI, 2003). 
 Discurso prescritivo: por meio do qual quilombolas mobilizaram, por exemplo, o 
sentido de prescrição de modos de ação para os agentes executores quanto à 
necessidade de continuar sempre orientando e de “dar outras informações” em 
atividades subsequentes (QE-8), a necessidade de aumento da participação e da 
motivação das pessoas nas ações (QE-10) e a necessidade de maior aproximação, 
envolvimento e comprometimento com a promoção de resultados emancipatórios (QE-
11). Na sua filiação a essa formação discursiva, alguns quilombolas também foram 
interpelados a ancorar o sentido de união, esta que foi prescrita como prática ideal 
proposta à atuação extensionista, sendo mobilizada como um elemento que deve 
acompanhar sua inserção (QEs-7, 8 e 9) e também ancorada como elemento explicativo 
da extensão rural, inclusive, às vezes associada a outros elementos, como o trabalho e o 
engajamento associativo, como nos enunciados: “Acho que, deve ser um tipo de 
organização, não?, de trabalho, assim, para se unir, para se organizar, para poder 
trabalhar” (QE-10); “Extensão Rural? Trabalhar junto! [...] ser unidos!” (QE-5); “[...] a 
pessoa trabalhar junto, [...] ter união com... as pessoas do grupo, com a associação. [...]” 
72 
 
(QE-7). Forma de representação bastante reificada nos discursos analisados, a discussão 
desse elemento, “união”, será aprofundada mais adiante. 
Essas foram algumas das perspectivas discursivas classificadas, as quais, no processo 
discursivo, se chocam na disputa de sentidos e, por força da interdiscursividade, se cruzam para 
dar margem à construção de consensos necessários ao entendimento, aceitação coletiva e 
estabelecimento de políticas, ações, processos e intervenções no campo do desenvolvimento 
rural no contexto observado. 
 
A constituição dos sujeitos discursivos em sua interpelação sobre as políticas e ações e sua 
execução no contexto local 
Analisando-se as atitudes representacionais dos participantes quilombolas, agora de 
forma ainda mais centrada na mobilização do aspecto identitário, verifica-se que somente um 
deles procedeu a uma mobilização intradiscursiva mais explícita da ExtensãoRural e de sua 
execução em associação com o aspecto da identidade étnica na (re)produção representacional, o 
participante QE-11. Essa inscrição numa formação discursiva identitária caracterizada por 
associação mais explícita entre tais objetos se deu em resposta à pergunta que punha os 
participantes a refletirem e discursarem sobre sua percepção acerca do olhar do “outro” sobre si 
mesmos, ou seja: como pensam serem vistos pelos extensionistas? Assim, nela, QE-11 
apontara diferentes formas de orientação de agentes de desenvolvimento rural em geral que 
adentram o território para implementação de ações, tendo ancorado uma ideia de engajamento 
de “muitos” deles com um princípio de efeito reparatório das políticas públicas a esse segmento 
da população negra, como no enunciado: “[...] muitos dos técnicos [...] vão no intuito de nos 
fortalecer e levantar nossa autoestima, no sentido de achar que o que o governo tá fazendo é 
uma forma de reparar os danos, né, que causaram aos nossos antepassados [...]” (QE-11); e 
atribui a outros, porém, sentido contrário, como as ideias que remetem a uma manutenção de 
tratamento negativo, como no fragmento: “Alguns técnicos veem isso, [...] mas sempre tem um 
ou outro que às vezes ainda tem essa visão negativa do nosso povo” (QE-11), e ainda no 
enunciado: “[...] tem muita gente que tem uma discriminação muito grande, ainda, com a 
questão do negro e do índio” (QE-11). 
Também quando foi questionado “Como acha que os extensionistas do IRPAA 
deveriam auxiliar a comunidade?”, apenas este dentre os onze quilombolas entrevistados 
correlacionou de modo mais direto ou explícito, no intradiscurso, a ideia de atuação 
extensionista à percepção das especificidades culturais do grupo atendido e ao sentido de 
necessidade de valorização dessa particularidade: “[...] além de trabalhar aquela questão 
agrícola, a questão da produtividade, eu acho que é importante se trabalhar a [...] cultura, né, do 
negro, a questão das tradições, tanto no sentido social, econômico, a questão alimentar, né? [...] 
73 
 
pra não fugir, não tirar o foco da nossa cultura, das nossas tradições culturais, alimentares [...]” 
(QE-11). De maneira geral, a quase totalidade dos demais quilombolas não procedeu a uma 
abordagem representacional que correlacionasse de modo explícito, no intradiscurso, as 
políticas públicas e ações, sua execução ou a atuação dos agentes de ATER com a percepção 
dos aspectos étnicorraciais,36 não se verificando tanto, por essa via, a articulação mais explícita 
de uma visão sobre a extensão rural e ações de desenvolvimento rural como o Projeto Ecoforte 
em curso na época, com uma visão manifesta sobre a identidade quilombola, mas, sim, maior 
fixação explícita de outros sentidos mais generalizáveis. 
Quanto a isso, cabe considerar alguns fatores, como as apontadas influências do próprio 
processo de estabelecimento da identidade, esta que embora afirmada no discurso está sempre 
em constante construção e apropriação e, portanto, nem sempre posta como algo pronto e 
acabado a ser acionado por todos e explicitamente determinada em associação a outros 
elementos como o próprio universo da extensão rural, que também se põe em processo de 
apropriação, sendo, inclusive, para alguns, um conceito por ser ainda assimilado.37 Ademais, 
também a determinação de lugares sociais sobre o dizer e o dizível, pois, na trajetória daquele 
sujeito discursivo que procedeu a uma associação intradiscursiva mais explícita daqueles 
objetos, observa-se a experiência do engajamento político-representativo, já tendo ele sido uma 
das lideranças locais por meio da associação quilombola, o que remete à aquisição de maiores 
possibilidades de acesso a discussões variadas e certas apropriações nessas arenas. Relacionado 
a isso, considere-se, ainda, a influência do próprio processo discursivo, no qual, muitas vezes, 
em meio ao jogo dos sentidos, se estabelece o que é avaliado como autorizado a ser dito em 
meio a esse processo discursivo e o contexto relacional, como apontado em nota de rodapé do 
parágrafo anterior. 
Observe-se, ainda, que nesse campo de relacionamento com essas políticas e ações de 
desenvolvimento rural, a identidade étnica quilombola também não recebe tanto um reforço 
nesse contexto de execução. Nesse sentido, as ações abordadas se tratam de ações generalistas 
 
36
 Estes se filiaram, por exemplo, à explicitação de uma visão positiva sobre a atuação extensionista, 
sobre a visão desses profissionais acerca dos comunitários e, assim, também a positivação de sua 
realidade a partir do dito sobre a visão do outro, como foi destacado, procedendo-se, nesse caso, o 
funcionamento de sentido contextualmente mais aceito conforme as regras do discurso que o autorizaram 
a funcionar em meio ao contexto de relações estabelecidas frente a uma “política do silêncio”, prática 
sempre influente sobre o dizer e por meio da qual dados aspectos permanecem inscritos na ordem do “não 
dito” (ORLANDI, 2009, p. 83). 
37 Nessa linha houve, por exemplo, quem não conseguiu formular enunciado que expressasse apropriação 
desse objeto, como: “Eu não sei o que é não! Sei não!” (QE-6); “A o quê? A... extensão rural... [...] não 
sei nem informar direito sobre esse negócio aí não!” (QE-9). Houve também quem a tenha ancorado 
somente com base numa perspectiva de ação indutora, de algo trazido pronto de fora para dentro, o 
equívoco gnosiológico de que trata Paulo Freire (1983 [1969]), de confundir extensão como o mero ato de 
estender: “Extensão que vem da co... da... cidade. É extensão da cidade, eu acho que é isso” (QE-3); e 
ainda quem a tenha ancorado a partir da associação com elementos de outros campos que, junto com a 
própria extensão rural, mas não se confundindo com ela, constituem um conjunto de prerrogativas ao 
segmento quilombola: “Eu acho assim que é [...] ter acesso à água de qualidade, né?... [...] luz, e... [...] 
(silêncio)” (QE-4). 
74 
 
que trazem um princípio de valorização étnico quilombola numa perspectiva de 
transversalidade, cuja efetividade, entretanto, como se apontou em análise anterior desse cenário 
(SANTOS, 2018, p. 173; SANTOS, ARAÚJO e FREITAS, 2018a, p. 136-37), termina não 
sendo verificada na prática, figurando somente no processo de uma simples inserção nas ações, 
enquanto critério de pontuação considerável no processo de avaliação de propostas. Assim, 
prevalecem, ao fim, abordagens e atitudes homogeneizantes e desarticuladas de princípios de 
valorização étnica e cultural quilombola. 
Nessa mesma direção, também se apontou anteriormente, em relação às (re)produções 
discursivas empreendidas pelos agentes executores nesse contexto analisado, uma “[...] 
dificuldade de explicitar uma postura mais engajada enquanto profissional inserido no contexto 
de uma comunidade rural com tal identidade específica [...]” (SANTOS, ARAÚJO e FREITAS, 
2018a, p. 140). No bojo dessa influência, a ação extensionista vem a ser determinada pelas 
representações do contexto em que se insere, depreendendo-se que a adaptação do profissional à 
realidade a ser assistida e a adequação de suas práticas a ela estão relacionadas a essas 
representações que ele é capaz de constituir: 
 
Uma vez tomando contato com uma sociedade rural heterogênea, pressupõe-
se que o profissional tenderá a se aproximar daqueles grupos que ele tem 
condições de “distinguir” e que imagina ter algum tipo de conhecimento, 
habilidade ou competência para ofertar em termos de assistência, assessoria 
ou apoio. À “distinção” segue um processo de “decodificação” da realidade 
vivenciada pelo grupo e do trabalho “extensionista” a ser realizado junto a ele 
(DIESEL e DIAS, 2010, p. 7). 
 
Dessa forma, determinados aspectos que permaneçam como categorias marginais, não 
constituindo tanto o universo reflexivo e imaginário do profissional, tendem a se manterigualmente distantes da sua prática, sem as condições e motivações necessárias à sua integração 
e articulação. 
Aponta-se, portanto, também para esses agentes profissionais inseridos no contexto 
observado. A especificidade cultural e a identidade étnica se tornam objetos em vias de maior 
assimilação e mesmo valorização para que possam, desse modo, figurar num contexto de 
relacionamento verdadeiramente dialógico, o qual tem sido defendido há décadas (FREIRE, 
1983 [1969]) e esperado frente a parâmetros mais recentes estipulados para as ações de 
desenvolvimento e extensão rural. 
 
Valores comunitários: uma possibilidade de relacionamento de sentidos 
Não obstante o apontado acima, sobre a explicitude da articulação entre identidade 
étnica e percepção da extensão rural, uma análise ainda mais acurada de alguns aspectos das 
(re)produções discursivas mobilizadas pelos participantes quilombolas revelam outras 
possibilidades associativas e de significações. Por exemplo, a união (relacionada às práticas e ao 
75 
 
modo de vida locais, como se verá) é um objeto discursivo mobilizado para a atribuição de 
sentidos e representação dos diferentes outros objetos ali relacionados: ideias ou noção de 
pertencimento (ser quilombola); constituição comunitária e identitária (quilombo); política, 
processo, instituição ou prática voltada ao desenvolvimento rural (extensão rural); e postura 
profissional (atuação extensionista), todos que, no fim, no processo representacional dos 
sujeitos, são convertidas à categoria de ideia, para que possam ser cognoscivamente 
apreendidas, explicadas, criadas e recriadas e, nesses discursos analisados, coletivamente aceitos 
e reificados no processo de significação e explicação da realidade (Quadro 1). 
Quadro 1: Categorização/representação de objetos discursivos mencionados na entrevista e que 
tiveram associação com uma ideia de união, por participantes 
Objeto discursivo Perspectivas inter-relacionáveis dentre as 
várias que foram mobilizadas 
Sujeito discursivo 
Quilombo Constituição de grupos para a aquisição de 
recursos para se trabalhar 
QE-10 
Ser unidos/Ter união QE-7; QE-8 
Ser quilombola Ser unidos/Ter união QE-7; QE-9; QE-11 
 
Extensão rural 
Trabalhar em conjunto QE-5; QE-7 
Organização e união para o trabalho QE-10 
Ter unidade no âmbito associativo QE-7 
Ser unidos QE-5; QE-7 
Atuação extensionista Ser unidos QE-7; QE-8; QE-9 
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa (2018). 
 
Mesmo enunciados que mobilizam palavras diversas da palavra “união” convergem 
contextualmente para esse significado, considerando-se os efeitos de sentido presentes no 
discurso, pois o que mais pode indicar a ideia de “montagem de grupos” e a “associação para o 
trabalho” nesse contexto enunciativo-discursivo senão a união de esforços com vistas a um dado 
objetivo comum? Sendo esse sentido de união ancorado como um sentido atribuído à extensão 
rural e à identidade étnica, cabe analisar o que contribui para essa mobilização no discurso e nas 
representações sociais dos quilombolas. 
Indícios levantados no processo de pesquisa vêm da observação do contexto analisado e 
do próprio processo discursivo apreendido, sendo verificadas atitudes cooperativas, 
agenciamentos coletivos e processos associativos como elementos há muito presentes na 
trajetória daquelas comunidades. Nesse sentido, foi lembrado por QE-8 o potencial de união das 
pessoas presente já desde muitos anos, citando-se, por exemplo, o fatídico evento da grande 
enchente, em 1979, em função da qual, segundo ele, o povo se uniu e começou a fazer barracos 
76 
 
de taipa para morar na área mais elevada, onde se formou a Nova Jatobá. Assim, unidos e de 
maneira organizada, iam construindo gradativamente os lares de cada família. 
De fato, o sentido de coletividade e união para o trabalho é mobilizado a partir da 
articulação do discurso sobre formas de organização e atuação coletiva, como o mutirão, 
espontaneamente mencionado no discurso, como se verifica no enunciado a seguir, ainda que 
essa (re)formulação possa receber alguma influência da valorização geralmente existente acerca 
dessa prática coletiva quando se refere aos quilombolas: “[...] a gente tem que aconselhar uns 
aos outros e permanecer a união e o trabalho, como a gente fazia, e em comunidade, que a gente 
só trabalhava em mutirão. Você vê uma obra dessa aqui [o espaço da associação], nós fizemos 
[com] nosso suor, [com] nossos braços” (QE-8). 
Em pesquisa de mestrado mais recente, que se aprofundou somente na característica 
identitária ribeirinha de três das comunidades daquele território (Nova Jatobá, Rompedor e 
Favela), também foi identificada, no histórico delas, a influência dos mutirões em diferentes 
momentos, ali relacionados à organização e execução de diferentes atividades produtivas locais: 
a) no processamento da mandioca em casa de farinha, cuja “utilização do espaço se dava de 
forma coletiva, sem pagamento em espécie ou produto [exceto para o mexedor da farinha]. As 
instalações eram rudimentares, com uso de „roda‟, os trabalhos de processamento se davam 
parcialmente em mutirão, por exigir muito esforço físico” (RÊGO, 2020, p. 79); b) na 
organização de uma área da comunidade na qual seria implantado um projeto de irrigação por 
gravidade, com financiamento do Banco do Nordeste, para o plantio de frutíferas, na década de 
2000, o que, entretanto, não vingou: “[...] o projeto estava bem adiantado já prestes ao plantio 
das mudas de manga, uma vez que a área da terra já se encontrava toda cercada com arame 
farpado, construída toda no mutirão, do corte dos postes ao erguimento das cercas” (Edilson, ex-
presidente da Associação Quilombola, citado por Rêgo [2020, p. 75]); e c) nos processos de 
plantio e limpeza das roças: 
 
Eles se organizavam em equipes e montavam os mutirões determinando os 
dias em qual roça iriam trabalhar, estabelecendo a sequência das áreas de 
terras de forma que todos concordavam e no final todos eram contemplados 
com suas áreas de cultivos plantadas e quando das limpas e colheitas 
novamente formavam os mutirões (Noé, morador da localidade Rompedor, 
citado por Rêgo [2020, p. 80]). 
 
Pode-se determinar, portanto, que a apreensão dos sentidos de união e organização para 
o trabalho recebe influência, por um lado, de uma percepção do agenciamento para o 
desenvolvimento de ações coletivas no âmbito dessas práticas tradicionais de organização 
comunitária. Assim, verifica-se como a influência da união nas práticas locais, enquanto 
componente da cultura desses sujeitos de expressões diversas (camponeses, ribeirinhos e 
quilombolas, entre outras), determina as visões de mundo, sendo seu sentido mobilizado para 
77 
 
explicação e significação de outros elementos, como a extensão rural e formas de atuação 
extensionista, bem como o aspecto identitário, quando discursam sobre eles. 
Ademais, na mobilização dos sentidos de união e organização para o trabalho também 
há, por outro lado, uma influência da percepção do agenciamento no âmbito do associativismo e 
das organizações associativas locais, já tendo se apontado anteriormente a existência de forte 
“interesse no engajamento e no trabalho associativo” (SANTOS, 2018, p. 90) naquele território, 
além da percepção relacionada a um contínuo e intenso trânsito de ações de desenvolvimento 
rural ali executadas ao longo dos anos e que propiciam a oportunidade de organização de 
moradores para o trabalho, as quais, como anteriormente referido, “têm sido desenvolvidas [em 
sua diversidade] no âmbito de diferentes instituições com maior ou menor grau de intervenção 
local” (SANTOS, 2018, p. 104). 
Nesse aspecto, segundo Moscovici (2003, p. 61), ancorar é “classificar e dar nome a 
alguma coisa”, aproximando aquilo que lhe é estranho e sem sentido, a priori, a alguma 
categoria familiar preexistente, e objetivar “é reproduzir um conceitoem uma imagem” 
(MOSCOVICI, 2003, p. 71), comparando-o com esta, pode ser notado como no processo 
representacional dos sujeitos objetivam-se imagens mentais mais comuns à sua realidade, como, 
por exemplo, as de “associação” e “grupo de trabalho”, de modo a tornar ainda mais concreta e 
cognoscível, a partir desses ícones, ideias como a de união, trabalho e trabalho conjunto, por sua 
vez mobilizadas enquanto formas de ancoragem, explicação e significação de elementos como a 
extensão rural, como na textualização: “[...] deve ser isso, a pessoa trabalhar junto, [...] ter união 
com... as pessoas do grupo, com a associação. [...]” (QE-7), entre outras. 
Acerca desse aspecto, sobre os mutirões, Rêgo (2020) afirma que estes se tornaram uma 
prática não mais realizada no contexto produtivo das três comunidades por ele observadas 
(inclusive, não existindo mais ali a casa de farinha tradicional e o engenho que haviam), e que, 
com algumas alterações nos padrões existenciais locais, como a passagem ao assalariamento na 
fruticultura, “alguns ribeirinhos perderam a autonomia, dependendo das diretrizes dos patrões. 
Por exemplo, não são eles que escolhem o que plantar; essa decisão, geralmente, fica a cargo 
dos interesses do patrão” (RÊGO, 2020, p. 39). Em todo caso, permanecendo forte ou não 
enquanto prática relacionada a essas atividades produtivas, acham-se noutras ações voltadas ao 
desenvolvimento das comunidades formas de agenciamento coletivo, além do que, tal fenômeno 
faz parte da sua história e revive no discurso enquanto elemento constituinte de uma memória 
coletiva fundante de representações sociais locais, como visto acerca da extensão rural e da 
identidade étnica nesse Território Quilombola Nova Jatobá. 
 
Apontamentos finais 
Neste texto, foram abordados movimentos de sentidos e convergências de sentidos pelos 
quais os sujeitos consensuam sobre aspectos relativos aos objetos discursivos, mantendo-se, 
78 
 
porém, certos contrastes e especificidades relativas às suas posições discursivas e papéis sociais 
desempenhados nesse contexto. Abordou-se uma diversidade de discursos que, por força da 
interdiscursividade, se cruzam para dar margem à construção de consensos necessários ao 
entendimento e mesmo à aceitação coletiva de políticas, ações, processos e intervenções no 
campo do desenvolvimento rural nesse contexto socioterritorial analisado, além de orientar o 
próprio processo de significação da realidade. 
Viu-se que, no cenário analisado, em que há um contexto de fixação de referências 
identitárias afro-brasileiras e o agenciamento sociopolítico relacionado à autoafirmação e à 
busca por reconhecimento, pela comunidade, a grande maioria dos participantes discursara mais 
sobre as políticas públicas elencadas sem tanta mobilização de referências explícitas de 
associação entre esses objetos em contraste, dados os fatores objetivos e subjetivos apontados 
que mostraram, por exemplo, como no processo de resgate e reivindicação identitária estão 
envolvidas não apenas experiências e consciências coletivas, mas também apropriações 
individuais passíveis de influenciarem o jogo representacional, para além da influência dos 
lugares sociais assumidos. Do mesmo modo, também foram empreendidas filiações discursivas 
sem se pôr como “agentes” no processo das ações de desenvolvimento rural, inclusive no caso 
daqueles mais diretamente envolvidos como beneficiários, sendo, contudo, correponsabilizados 
auto e hetero-orientadamente quanto ao sucesso das ações mesmo sem esse estabelecimento de 
um sentido de agência participativa, nas próprias ancoragens ou nas ancoragens empreendidas 
pelo “outro” ali relacionado, os extensionistas. 
Ao discursarem sobre os objetos contrastados, os sujeitos quilombolas em geral 
mobilizaram, por outro lado, elementos que, analisados sob a ótica de seu funcionamento mais 
implícito, se mostraram relacionados ao seu modo de vida e organização tradicional, 
demarcadores de sua cultura, que também estão interligados a uma trajetória de resistência e 
organização de comunidades negras rurais. Esses elementos envolvem sua organização social 
própria, com articulações culturais e socioeconômicas próprias enquanto expressões de seu 
modo de vida (agenciamento coletivo de ações, mutirões, práticas de solidariedade e 
reciprocidade local, práticas tradicionais de agenciamento do trabalho nas atividades produtivas, 
como modelos de produção fundados sob sistemas de parcerias, arrendamentos e “pagamento” 
com retribuição de força de trabalho ou partilha de produtos/alimentos etc.), e suas cosmologias 
também determinadas em ações e relações estabelecidas no cotidiano, como a união e o 
trabalho. Percebem-se, assim, aspectos fundamentais que indicam como as dimensões 
econômica e ambiental naquele território estão interconectados a um conjunto de práticas da 
dimensão cultural, reproduzidas por gerações. 
No Território Quilombola Nova Jatobá, assim como em tantas outras comunidades, os 
agentes locais também se inserem num contínuo de lutas que compreende o resgate e a 
afirmação da identidade, bem como o seu reconhecimento e a sua valorização por parte de 
79 
 
agentes de poder legitimadores de status, como o Estado, outorgador de prerrogativas legais, e 
mesmo agentes burocráticos de políticas públicas, para além da própria sociedade envolvente. 
Assim, a isso se relaciona o campo das políticas e ações de desenvolvimento rural, no âmbito 
das quais, ao processo participativo esperado em relação ao modelo proposto voltado a uma 
perspectiva dialógica, que vêm se buscando consolidar nos últimos anos, também se impõe o 
princípio de valorização cultural e identitária, já presente no discurso legal normativo, mas nem 
sempre em dadas práticas de trabalho ainda bastante vinculadas a orientações convencionais, 
requerendo-se uma orientação para abordagens centradas no aspecto étnico-identitário. 
Ante tal defesa da necessidade da valorização étnica por políticas de desenvolvimento 
rural e processos de extensão rural, podem surgir importantes questionamentos do tipo: como ou 
por que haver uma extensão rural orientada a aspectos subjetivos (como as especificidades 
culturais e identitárias) dos usuários se, muitas vezes, estes apresentam questões objetivas “mais 
urgentes” a serem atendidas, como a necessidade de apoio em contextos produtivos, com 
aquisição de tecnologias, equipamentos, maquinário, insumos ou técnicas de apoio às atividades 
agrícolas, por exemplo? A formulação de respostas a tal questionamento deve, antes de tudo, 
avaliar se o olhar por trás de discursos que elegem aspectos objetivos como sendo mais 
importante que aspectos subjetivos, a exemplo dos citados, não incorre numa visão de mundo 
determinada por uma lógica produtivista-economicista e pelo viés tecnicista que 
tradicionalmente envolve muitos processos discursivos e o direcionamento de políticas públicas 
de desenvolvimento rural no país e nesta região do Submédio Vale do São Francisco. 
Cabe também avaliar que avanços no processo subjetivo de valorização da identidade 
étnica quilombola podem viabilizar avanços no próprio contexto objetivo das carências 
materiais, na ordem de recursos produtivos, e da ausência de possibilidades locais. Trabalhar a 
partir de uma perspectiva de valorização de culturas e identidades pode contribuir para o seu 
fortalecimento, e esse vigor pode significar, para os sujeitos, um estímulo a mais no seu 
processo de agenciamento, assim como quanto à busca de prerrogativas inerentes ao 
reconhecimento identitário, o que impulsiona um progresso nos vários campos da vida deles, 
conferindo-lhes, por exemplo, maiores possibilidades de acesso a políticas públicas. A esse 
respeito, instrumentos legais trazem importantes apontamentos quanto à inserção em ações de 
desenvolvimento rural, como o próprio que trata da titulação das terras quilombolas (Decreto 
Federal n.º 4.887/2003,art. 20), segundo o qual: “para os fins de política agrícola e agrária, os 
remanescentes das comunidades dos quilombos receberão dos órgãos competentes tratamento 
preferencial, assistência técnica e linhas especiais de financiamento, destinados à realização de 
suas atividades produtivas e de infra-estrutura” (BRASIL, 2003), ainda que isso não seja, por si 
só, garantia de cumprimento de tais direitos. 
Além disso, essa questão da valorização identitária de grupos quilombolas se relaciona a 
outras questões ainda mais prioritárias, como a regularização fundiária para grupos rurais, 
80 
 
voltada à garantia e proteção de espaços e territórios que são base de sua reprodução física, 
social, cultural e econômica, o que se constitui como uma demanda histórica, considerando-se 
os entraves ao direito à terra no Brasil, como foi discutido neste texto.38 
Então, uma perspectiva não é excludente da outra. O avanço nas questões subjetivas 
relacionadas à cultura e identidade pode ensejar um avanço em questões objetivas. Mas, 
obviamente, não se trata de um processo fácil e imediato, sobretudo em meio a um contexto 
histórico de negação de direitos, acentuado, mais ainda, no contexto político-ideológico mais 
recente, em que se assistiu a uma retomada de investidas de regresso no campo de muitas 
prerrogativas legais. Permanece como uma possibilidade, apesar desses e outros desafios, 
sobretudo quando se refere ao acesso de populações quilombolas a políticas e ações específicas, 
ou, ainda, àquelas gerais que deveriam considerar as suas especificidades culturais e 
étnicorraciais no processo de desenvolvimento e execução para esse público. 
 
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Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Disponível em: 
 
38 A questão identitária quilombola se insere, efetivamente, como um desafio à pauta de atenções da 
extensão rural. Esta, diferindo-se da extensão agrícola, que trata da “eficientização técnica e econômica 
dos processos de produção agropecuária” (DIESEL e DIAS, 2010, p. 1), também se orienta a aspectos 
como equidade social, promoção de sustentabilidade e questões culturais, políticos e sociais, como 
também argumentado por esses autores. Discute-se, assim, a sua inserção nesse campo do 
reconhecimento identitário e materialização de direitos territoriais quilombolas, inquirindo-se: “Como 
trabalhar a „adesão a uma identidade‟ que, a princípio, é negada e que se coloca como uma demanda 
externa ao grupo, mas que visa favorecê-lo? Quais os fundamentos éticos e teórico-metodológicos que 
subsidiam esta intervenção a partir da ação extensionista?” (DIESEL e DIAS, 2010, p. 3). Nessa linha, 
Benedetti (2014) aponta um exemplo de engajamento da extensão rural no processo de reconhecimento 
identitário de dezenas de comunidades quilombolas no Rio Grande do Sul, no âmbito de projeto de 
desenvolvimento rural ali executado via atuação de empresa pública estadual de ATER. 
81 
 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm>. Acesso em: 
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