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Livro Texto - Unidade III

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221
FARMACOLOGIA
Unidade III
7 FÁRMACOS ANTIVIRAIS
O termo vírus origina-se do latim e significa veneno ou toxina. Hoje sabemos que os vírus não são 
venenos, e sim pequeninos agentes infecciosos que agem nas células humanas infectando-as, causando 
uma série de problemas à saude. Trata-se de parasitas intracelulares, que não apresentam parede ou 
membrana celular e são incapazes de se reproduzir, ou mesmo, de efetuarem reações metabólicas sem 
o auxílio da célula do hospedeiro. 
Os vírus podem ser classificados como vírus de DNA (herpes-vírus, adenovirus, vírus da hepatite B 
e bacteriófagos) e vírus de RNA (retrovírus, por exemplo, o HIV), influenza, vírus da hepatite A, C e D, 
vírus da febre hemorrágica (ebola, hantavírus, dengue). Estruturalmente, os vírus são constituídos de 
material genético: RNA ou DNA em fita dupla ou simples, protegido por um capsídeo (envoltório proteico) 
e/ou envelope (membrana lipídica). Na superfície da partícula viral, podem também ser encontradas 
glicoproteínas e lipídios, ancorados ao envelope. 
A figura a seguir ilustra as principais estruturas de uma partícula viral tendo como exemplo a estrutura 
do vírus da imunodeficiência humana, ou HIV. A partícula viral é constituída por moléculas mantidas 
unidas. Uma partícula viral completa é denominada virion. Além dos diferentes componentes estruturais, 
os virions podem apresentar diversos formatos, existindo vírus icosaédricos, helicoidais e vírus complexos. 
Alguns tipos de vírus icosaédricos ou helicoidais podem ser envelopados, enquanto outros não. 
Membrana 
lipídica
gp120
gp41
Transcriptase 
reversa
RNA
Matrix
Capsídeo
Figura 86 – Esquema da estrutura viral, no caso, do vírus HIV. De forma geral, os vírus são constituídos de material genético 
 composto de ácido nucleico, RNA ou DNA, em fita dupla ou simples, protegido por um envoltório proteico denominado 
capsídeo e/ou um envelope formado por membrana lipídica. Na superfície da partícula viral, podem também ser 
encontradas glicoproteínas e lipídios, ancorados ao envelope
222
Unidade III
O primeiro evento para que ocorra a infecção viral é a adsorção do vírus à superfície da célula 
hospedeira. Essa adsorção se dá por meio de proteínas virais que reconhecem moléculas da 
superfície celular do hospedeiro através de interações iônicas. Após a ligação, o vírus penetra na 
célula do hospedeiro através de dois processos diferentes: por fusão, em que o envelope viral se 
funde à membrana celular, permitindo a entrada do vírus no citosol, essa entrada é mediada por 
uma proteína, denominada proteína F; e por invaginação (viropexia), mediada por uma proteína 
denominada clatrina. 
Após a entrada da partícula viral no citoplasma das células hospedeiras, os lisossomos do hospedeiro 
removem o capsídeo viral (desnudamento), expondo assim o material genético do vírus (DNA ou RNA). 
Com o material genético e inserido no hospedeiro, novas proteínas e partículas virais, tanto de vírus 
de DNA quanto de RNA, serão montadas e liberadas da célula hospedeira por brotamento ou por lise 
celular. Essa liberação resulta em contaminação de outras células. Para a sobrevivência e proliferação 
do vírus, é vital que ele sofra um ciclo intracelular na célula do hospedeiro. Esse ciclo, denominado de 
replicação viral, é composto de etapas: adsorção, penetração, desnudamento, transcrição e tradução, 
maturação e liberação. 
A figura a seguir ilustra o ciclo geral de replicação no interior da célula hospedeira e pontos para 
intervenção farmacológica. Os antivirais são, em sua maioria, análogos de nucleosídios cujo alvo é a 
replicação do genoma, atuando na inibição da DNA polimerase ou a transcriptase reversa viral, outros 
fármacos são orientados para a fixação e entrada do vírus na célula do hospedeiro, desnudamento, 
montagem e maturação da partícula viral e liberação. 
Um fármaco antiviral ideal deve interromper a replicação do vírus sem afetar o metabolismo 
do hospedeiro. Espera-se que esse medicamento tenha um amplo espectro, iniba completamente a 
replicação do vírus, sem causar danos ao hospedeiro. 
223
FARMACOLOGIA
Bloqueio por 
enfuvirtida (HIV); 
docosanol (HSV), 
palivizumabe (VSR)
Liberação 
do vírus
Acondicionamento 
e montagem
Bloqueio por IP 
(HIV, HCV)
Síntese de ácidos 
nucleicos
Síntese de 
proteína precoce
Célula de 
mamífero
Penetração Desencapsu- 
lamento
Bloqueio por IINTF (HIV)
Integração 
no genoma
Síntese e 
processamento de 
proteína tardia
Fixação e 
entrada 
do vírus Bloqueio por 
interferona α 
(HBV, HCV)
Bloqueio por 
inibidores da 
neuraminidade, 
(influenza)
Bloqueio por 
amantadina, 
rimantadina 
(influenza)
Bloqueio por INTR 
(HIV, HBV), 
INNTR (HIV), 
aciclovir (HSV), 
foscarnete (CMV)
Figura 87 – Ciclo geral de replicação no interior da célula hospedeira e pontos para bloqueio farmacológico. O ciclo viral é composto 
e ilustrado por uma sequência de etapas em que cada uma representa um alvo para intervenção farmacológica. Os antivirais são, 
em sua maioria, análogos de nucleosídios cujo alvo é a replicação do genoma, atuando na inibição da DNA polimerase, ou a 
transcriptase reversa viral. Existem ainda outros fármacos orientados para a fixação e entrada do vírus na célula do 
hospedeiro, desnudamento, montagem e maturação da partícula viral, e liberação
Normalmente, o tratamento das doenças virais inicia-se tardiamente, com o aparecimento dos 
primeiros sinais clínicos, momento em que o vírus já infectou o paciente e começou a sua replicação. 
Dessa maneira, o tratamento é basicamente sintomático, de potencialização do sistema imune, e com 
o uso de fármacos antivirais que irão bloquear a replicação do vírus. No quadro a seguir, os principais 
fármacos antivirais.
Quadro 44 – Resumo do uso clínico de fármacos antivirais
Anti-herpes-vírus Aciclovir, cidofovir, fanciclovir, foscarnet, ganciclovir, penciclovir, valganciclovir
Anti-influenza Amantadina, oseltamivir, rimantadina, zanamivir
Anti-hepatite Adefovir, lamivudina, entricitabina
Antirretrovirais Inibidores de protease Amprenavir, atazanavir, indinavir, lopinavoir nelfinavir, ritonavir, saquinavir 
Inibidores da transcriptase 
reversa
Adefovir, delavirdina, didanosina, efazvirenz, 
estavudina, lamivudina, neviparina, tenofovir, 
zalcitabina, zidovudina
224
Unidade III
 Lembrete
As figuras do texto ilustram de forma rápida e pontual o ciclo 
geral de replicação viral no interior da célula hospedeira e pontos para 
bloqueio farmacológico.
Melhor que o tratamento com antiviral seria se a população adotasse medidas e atitudes para prevenir 
uma infecção viral tanto no âmbito pessoal, como nutrição adequada, higiene pessoal, vacinação; 
como no âmbito de saúde pública, tratamento de água e esgotos, controles de insetos, práticas clínicas 
apropriadas e informação. Nesse sentido, vale a pena destacar a importância da vacinação, que fornece 
ao indivíduo proteínas do envelope viral, para o qual ele irá gerar anticorpos. Eles irão bloquear a fixação 
e a entrada das partículas virais nas células, facilitando assim a eliminação. 
A vacinação pode erradicar infecções virais, como varíola, poliomielite, sarampo, caxumba e rubéola. 
Mas, infelizmente, existem outras doenças virais em que a vacinação não funciona. Nesse sentido, 
há a necessidade de tratar os pacientes com medicamentos antivirais, como é o caso da maioria das 
infecções pelo vírus do trato respiratório (adenovírus, rinovírus, vírus da influenza e vírus sincicial 
respiratório – VSR), o vírus do papiloma humano, o herpes-vírus, vírus varicela-zóster, vírus Epstein-Barr, 
citomegalovírus, herpes-vírus humano e a vasta gama de vírus da febre hemorrágica.
7.1 Vírus da influenza 
As infecções virais mais comuns são as respiratórias causadas pelo vírus da influenza (H1N1, H2N2, 
H3N2, H3N8). Os vírus respiratórios, que causam a gripe, são transmitidos por gotículas geradas pela 
fala, tosse e espirros e também por contato com superfícies e mãos contaminadas por partículasvirais. A 
prevenção para a gripe é realizada através da imunização por vacinação, higiene pessoal e manutenção 
de locais com ventilação adequada. As gripes são normalmente sazonais, com maior probabilidade de 
ocorrência de epidemias no inverno, geralmente limitadas a uma região.
As gripes normalmente são agudas e autolimitadas, podendo se agravar em idosos, crianças e doentes 
crônicos. Os sintomas da gripe acabem não sendo específicos a ponto de estabelecer um diagnóstico 
definitivo: febre alta, calafrios, tosse, cefaleia, mialgia, coriza, rouquidão, cansaço e dor torácica. 
Pacientes saudáveis têm a sintomalogia tratada com antitérmico, analgésicos e descongestionantes 
nasais. Por outro lado, crianças com idade inferior a dois anos, pacientes com doenças crônicas (por 
exemplo, cardiopatias, hepatopatias, imunossuprimidos) são candidatos à terapia antiviral.
Para infectar uma célula, o vírus da influenza se fixa na célula hospedeira através da ligação de 
uma proteína denominada hemaglutinina, existente no envelope viral, e ácido siálico, existente nas 
glicoproteínas da membrana celular. Ao fim do ciclo de replicação do vírus da influenza, a mesma molécula 
de hemaglutinina que auxiliou no processo de adsorção irá impedir a liberação viral. Para prosseguir 
com a liberação viral, o vírus da influenza tem uma enzima localizada no envelope viral, denominada 
de neuraminidase, que tem como papel clivar a ligação entre o ácido siálico e as glicoproteínas de 
225
FARMACOLOGIA
membrana, liberando, desse modo, novas partículas virais. A figura a seguir ilustra o ciclo de vida do 
vírus da influenza e os alvos para intervenção terapêutica.
Vírus se liga à célula 
(hemaglutinina)
Liberação da 
partícula viral
Sialidase
zanamivir 
oseltamivir
Montagem da 
partícula viral
Síntese de cRNA e mRNA
amantadina 
rimantadina
Canal iônico M2
H+
Endocitose
Figura 88 – Ciclo de vida do vírus influenza e alvos para intervenção terapêutica. A superfície do vírus da influenza A apresenta uma 
proteína do canal iônico M2, a lectina hemaglutinina e a enzima sialidase. Inicialmente, o vírus da gripe adere à célula hospedeira 
através de sua glicoproteína de superfície, a hemaglutinina, para reconhecer glicoconjugados, como GD1a. O vírus endocitado 
acopla-se à maquinaria da célula hospedeira para produzir as proteínas virais necessárias para sua sobrevivência, replicação e 
infecção de outras células hospedeiras. A ação da sialidase permite que a prole do virion agregado na superfície da célula hospedeira 
sofra o processo de brotamento para sair da célula hospedeira e busque novas células hospedeiras para infectar. A enzima sialidase 
cliva os resíduos terminais α-Neu5Ac das glicoproteínas da progênie de virions recém-sintetizadas, bem como da superfície da célula 
hospedeira. Tanto a hemaglutinina como a sialidase foram propostas como possíveis alvos de descoberta de medicamentos anti-
influenza. O zanamivir e o oseltamivir bloqueiam a ação da sialidase e inibem o mecanismo de liberação viral. 
Medicamentos denominados adamantanes, que incluem amantadina e rimantadina, atuam na proteína do canal 
iônico M2 do vírus influenza A e, por último, a ribavirina inibe a replicação do vírus, inibindo a RNA polimerase
7.1.1 Inibidores da neuraminidase
A terapia antiviral específica para o vírus da influenza consiste nos inibidores de neuraminidase: 
oseltamivir (Tamiflu®) e zanamivir (Relenza®), que inibem a neuraminidase viral impedindo, assim, a 
infecção e a disseminação das partículas virais célula a célula. Estudos que abordam o uso de inibidores 
de neuraminidase em pacientes com infecção por influenza indicam redução na duração da gripe quando 
se inicia precocemente a terapia. Os inibidores da neuraminidase, se administrados antes da exposição 
ao vírus, previnem a infecção, principalmente, na população suscetível. Dessa maneira, recomenda-se 
não aguardar a confirmação laboratorial de influenza para iniciar o tratamento com antivirais. 
Estudos mostram que tanto o oseltamivir como o zanamivir também diminuem a intensidade 
dos sintomas de pacientes infectados pelos vírus do tipo influenza. Para que ocorra esse benefício, é 
necessário que o início do tratamento seja de até dois dias após o aparecimento dos sintomas. Apesar 
226
Unidade III
de o benefício diminuir o estado gripal do paciente, esses medicamentos apresentam um custo elevado 
e efeitos adversos potenciais, o que justifica uma análise cautelosa de sua aplicação e dos riscos e 
benefícios ao paciente. 
O zanamivir, por apresentar baixa biodisponibilidade oral, é administrado por inalador. Devido à 
via de administração, pode promover irritação do trato respiratório e deve ser usado com prudência 
nos pacientes acometidos por doenças respiratórias, tais como DPOC e asma, pois há a possibilidade 
de o fármaco provocar broncoespasmo. Em contraponto, o oseltamivir é administrado por via oral e é 
rapidamente biotransformado nos hepatócitos para a sua forma ativa, ou seja, ele é um pró-fármaco. 
Apresenta como efeitos adversos náuseas, desconforto abdominal e vômito, que podem ser aliviados 
pela ingestão concomitante do fármaco com alimento. 
Já foram identificadas mutações na neuraminidase da influenza em pacientes tratados com os 
inibidores de neuraminidase. Contudo, os vírus mutantes são menos infectantes e virulentos que o 
vírus selvagem.
7.1.2 Derivados de adamantano
O espectro terapêutico dos derivados de adamantano, amantadina (Symetrel®) e rimantadina 
(Flumadina®) é limitado a infecções por influenza A (H1N1). Ambos os fármacos agem inibindo o 
desnudamento do vírus da influenza A através do bloqueio da proteína viral M2, um canal de prótons 
que acidifica o interior do vírus. Essa acidificação é necessária para que a proteína da matriz viral se 
dissocie da ribonucleoproteína viral. Tanto a amantadina como a rimantadina podem interagir com os 
canais iônicos celulares, bloqueando-os. Isso explica parte dos efeitos adversos observados nos pacientes.
A amantadina é administrada por via oral com uma ótima absorção no trato gastrintestinal e 
consegue atravessar a barreira hematencefálica atingindo assim o SNC. Ela é excreta inalterada pela 
urina, sendo necessário ajuste de dose na presença de algum problema renal.
Do ponto de vista farmacocinético, a principal diferença da amantadina para a rimantadina é que 
a última não atravessa a barreira hematoencefálica, é biotransformada hepaticamente e é excreta 
renalmente na forma de metabolitos e do fármaco inalterado. A rimantadina é também utilizada no 
tratamento da doença de Parkinson. 
Os principais efeitos adversos da amantadina são neurológicos, ocorrem em cerca de 20% dos 
pacientes, como cefaleia, tontura, insônia, nervosismo e dificuldade de concentração. Por outro lado, a 
rimantadina provoca menores efeitos no SNC.
Estudos indicam que os derivados do adamantano podem ser usados na profilaxia de infecções do 
vírus influenza A. O tratamento, quando iniciado entre 24 a 48 horas após o surgimento dos sintomas, 
diminui a duração da infecção e os seus sintomas, mas não reduz significativamente as complicações da 
doença. Existem relatos do desenvolvimento de resistência do vírus da gripe A, devido a mutações em 
um resíduo de aminoácidos da proteína viral M2.
227
FARMACOLOGIA
7.1.3 Ribavirina
A ribavirina é um análogo sintético do nucleosídeo guanosina, inibindo a replicação de vírus 
tanto de RNA como de DNA. Apesar de ser um agente viral de amplo espectro, a ribavirina é 
utilizada no tratamento da hepatite C crônica em associação com interferon α e nos casos de 
infecção grave pelo VSR. 
A ribavirina é administrada oralmente ou por via inalatória. Quando administrada oralmente à 
ingesta de alimentos gordurosos, aumenta a sua biodisponibilidade. O fármaco e os seus metabolitos 
são eliminados através da urina. 
O fármaco, após a sua absorção, é fosforillado e irá inibir a formação do GTP (trifosfato de guanosina) 
através da inibição da inosinamonfosfato deshidrogenase, enzima viral. Dessa maneira, a ribavirina irá 
bloquear a atividade da RNA-polimerase dependente de RNA, inibindo a síntese de RNA, DNA e de 
proteínas, impedindo, dessa maneira, a replicação viral. 
Com efeitos adversos, a ribavirina apresenta anemia e elevação de bilirrubina não conjugada, que 
tendem a desaparecer com a suspensão do fármaco. O paciente também pode apresentar cefaleia, 
cólicas e fadiga. Embora em forma de aerossol a ribavirina seja mais segura, em crianças, pode ocorrer 
uma queda da função respiratória ao início do tratamento. A ribavirina não deve ser usada na gestação. 
O fármaco apresenta uma toxicidade mínima na síntese de DNA celular e ainda não foram observados 
casos de resistência viral. 
7.2 Herpes‑vírus
Os vírus herpes simples 1 e 2 humanos (HSV-1, HSV-2) apresentam alta prevalência na população 
humana e podem causar infecções ao longo da vida e recorrências esporádicas devido à infecção. 
A infeção por HSVs pode ser sintomática ou assintomática, a contaminação ocorre principalmente por 
fluidos corporais das mucosas, resultando em ferimentos bucais, encefalite viral e infecções genitais 
que podem acometer recém-nascidos. O HSV-1 produz aftas, e o HSV-2 é um agente do herpes genital. 
Após a infecção primária, tanto o HSV-1 quanto o HSV-2 permanecem latentes em seus hospedeiros. 
O genoma do HSV-1 permanece latente nos neurônios sensoriais do gânglio trigêmeo, enquanto o 
genoma do HSV-2, nos gânglios sacrais. A latência pode ser ativada por imunossupressão ou outros 
estímulos, dando origem às infecções herpéticas secundárias.
Os fármacos eficazes contra os herpes-vírus atuam na fase aguda da infecção viral, não sendo eficazes 
na fase latente da doença. Com exceção do foscarnete e do fomivirseno, todos os outros fármacos são 
análogos da purina ou da pirimidina, que inibem a síntese de DNA viral. Atualmente, existem variantes 
do HSV resistentes aos antivirais existentes, especialmente em indivíduos imunossuprimidos. Assim, 
novos antivirais que podem reduzir a gravidade e a duração dessas manifestações cutâneas certamente 
seriam bem-vindos.
228
Unidade III
7.2.1 Análogos nucleosídeos e nucleotídeos anti-herpes-vírus
Aciclovir
O aciclovir (acicloguanosina) é um fármaco análogo da guanosina, usado contra o vírus herpes 
simples (VHS), o vírus zóster da varicela (VZV) e algumas infecções ocasionadas pelo vírus Epstein-Barr. 
Tanto o vírus herpes como o zóster produzem uma enzima do tipo timidina quinase, que fosforila o 
aciclovir transformando-o em sua forma ativa o aciclovir GTP (aciclovir-guanosinatrifosfato), que irá 
inibir ou servir de substrato a DNA polimerase viral: se o aciclovir for incorporado ao DNA viral, teremos 
uma finalização da síntese da fita de DNA. A afinidade do aciclovir a timidina quinase viral é muito 
superior a qualquer outra enzima de células de mamíferos, superior a 300 vezes, tornando o fármaco 
muito mais seletivo às células infectadas. 
O aciclovir pode ser administrado pelas vias oral, intravenosa ou tópica. A molécula possui boa 
distribuição no organismo, inclusive no líquido cefalorraquidiano. Deve-se ter cautela com pacientes 
com insuficiência renal, pois esses podem apresentar acúmulo do fármaco no organismo devido a sua 
menor taxa de filtração glomerular e, consequentemente, excreção renal da substância. 
O aciclovir apresenta baixa toxicidade e um alto índice terapêutico, principalmente, em virtude 
da sua seletividade. Quando administrado topicamente, bem tolerado, sem apresentar um potencial 
sensibilizante. Na administração por via oral, há a ocorrência de efeitos adversos leves, tais como náuseas, 
diarreia, êmese e cefaleia. Por outro lado, quando administrado pela via intravenosa, principalmente de 
forma rápida e em bolus (alta dose), pode ocorrer alteração da função renal e nefropatia obstrutiva 
devido à formação de cristais do fármaco nos túbulos e ductos renais. 
Existe uma molécula que é o pró-fármaco do aciclovir, o valaciclovir (ester L-valil do aciclovir), 
que apresenta uma maior biodisponibilidade, cerca de cinco vezes maior que o aciclovir, quando 
administrado oralmente. Pacientes com Aids (ou síndrome da imunodeficiência adquirida) apresentam 
problemas do trato gastrintestinal e púrpura trombocitopênica trombótica, quando expostos a altas 
doses de valaciclovir. 
Ocorre resistência ao aciclovir principalmente por mutação e/ou baixa expressão das proteínas 
virais alvos: timidina quinase e a DNA polimerase. Essa resistência é mais comum em pacientes 
imunocomprometidos.
O vírus do herpes simples ancora-se à membrana da célula hospedeira, funde-se com a membrana 
celular e libera os capsídeos e o DNA viral. O DNA viral será direcionado para o núcleo da célula, onde 
será sintetizado um novo DNA viral utilizando-se da maquinaria de replicação do hospedeiro. 
O aciclovir penetra através da membrana celular e, no citoplasma da célula hospedeira, o aciclovir é 
convertido a monofosfato de aciclovir pela timidina quinase induzida por vírus. Outros dois grupamentos 
fosfatos serão adicionados formando o trifosfato de aciclovir, molécula que será direcionada ao núcleo. 
No núcleo, a DNA polimerase do herpes cliva o pirofosfato do trifosfato de aciclovir, a polimerase do 
DNA viral insere o monofosfato de aciclovir em vez do monofosfato de 2’-desoxiganosina no DNA viral. 
229
FARMACOLOGIA
O alongamento adicional da cadeia torna-se impossível, porque o monofosfato de aciclovir não possui 
o grupo hidroxila 3’ necessário para a inserção de um nucleotídeo adicional, e a exonuclease associada à 
polimerase de DNA viral não pode remover a fração de aciclovir. A figura a seguir detalha o mecanismo 
de ação do aciclovir.
Aciclovir
Timidina cinase do 
HSV ou do VZV
A)
B)
Monofosfato de aciclovir
Difostato de aciclovirTrifosfato de aciclovir (pppACV)
Cinase celular
Cinase celular
O
O
NH2
HO
NN
NN NN
NHNH
OO
OO
OO
OO
PP
NN
NN
NN NHNH22
NHNH
HOHO
OHOH
OO
OO
OO
OO
PP
NN
NN
NN NHNH22
NHNH
HOHO
OHOH
OO
OO
OO
OO
PP
NN
NN
NN NHNH22
NHNH
HOHO
OHOH
OOOOOO
OHOHOHOHOHOH
PPPPPP
OOOOOO
pppdCpppdC
pppACVpppACV
DNA polimerase viralDNA polimerase viral
pppdGpppdG
ACVACVACVACV
dGdGdGdGdGdG dCdCdCdCdCdC
1- A ligação do pppACV à DNA 
polimerase viral compete com 
a ligação de pppdG.
2- O ACV é incorprado à cadeia 
do DNA em crescimento, 
bloqueando o crescimento 
adicional da cadeia.
3- Quando ocorre a ligação 
do próximo trifosfato de 
desoxinucleosídio, a DNA 
polimerase viral é “congelada“.
Figura 89 – Mecanismo de ação do aciclovir. Parte A: O aciclovir é fosforilado no interior da célula hospedeira pelas enzimas virais 
(timidina quinase do HSV) gerando o monofosfato de aciclovir e em seguida o trifosfato de aciclovir (pppACV). Parte B: O trifosfato 
de aciclovir que será incorporado à nova fita de DNA viral, que está sendo sintetizada pela DNA polimerase viral. A incorporação do 
pppACV fará com que: se impeça a incorporação de dGTP, funcionando como um inbidor competititvo (1); realizará um pareamento 
com uma citosina (dC), impedindo o crescimento da cadeia de DNA viral – terminação da cadeia (2); e pode-se incorporar um novo 
desoxinucleosídeo, bloqueando a ação da DNA polimerase viral (3)
O ganciclovir e o penciclovir têm um grupo hidroxila 3’; portanto, é possível uma síntese adicional 
do DNA viral na presença desses medicamentos. O foscarnet atua no local de ligação à pirofosfato da 
polimerase de DNA viral e evita a clivagem do pirofosfato dos trifosfatos de nucleosídeos, impedindo, 
assim, a extensão do modelo de iniciador. 
230
Unidade III
Fanciclovir
O fanciclovir é um pró-fármaco que, após a administração oral e absorção, sofre ação das esterases 
e oxidases e é transformado no penciclovir, sua forma ativa. Bem absorvido oralmente, apresenta uma 
biodisponibilidade de cerca de 70%. O mecanismo de ação do penciclovir é semelhante ao do aciclovir, 
com diferenças em relação à atividade: o penciclovir é mais ativocontra a timidina quinase e um inibidor 
menos seletivo das DNA polimerase virais, isso quando comparado ao aciclovir. Utilizado principalmente 
no caso de infeções pelo vírus do herpes simples e herpes-zóster. Pode causar cefaleia.
7.3 Citomegalovírus (HCMV)
O citomegalovírus humano (HCMV) é um vírus disseminado na população adulta, estabelecendo 
uma infecção persistente, mas assintomática na maioria dos indivíduos, apresenta períodos de ciclos 
produtivos de reativação, o que contribui para a sua disseminação. 
O citomegalovírus (CMV) consegue infectar e replicar uma ampla variedade de células humanas, 
sendo este mais um fator facilitador da sua disseminação. 
A infecção por CMV pode causar febre de origem desconhecida, pneumonia, hepatite, encefalite, 
mielite, colite, uveite, retinite e neuropatia. Particularmente em indivíduos imunocomprometidos, o CMV 
pode gerar infecções oportunistas e graves. O CMV é transmitido pela placenta, transfusão sanguínea, 
transplante de órgãos, relação sexual e amamentamento materno. Outra relevância desse vírus é que ele 
promove defeitos congênitos em crianças (doença neurológica congênita), através da sua transmissão 
pela placenta da mãe.
A figura a seguir ilustra o ciclo de vida do HCMV. Pode-se observar que a infecção por HCMV se 
inicia com a entrada dos virions na célula hospedeira pela interação com os receptores celulares. 
Essa interação resulta na entrada das proteínas do tegumento e do capsídeo ao citoplasma da célula 
hospedeira. O capsídeo dirige-se ao núcleo, juntamente com os genes que são circularizados. As 
proteínas tegumentares regulam as respostas das células hospedeiras e iniciam a cascata temporal 
da expressão dos genes virais imediatos, seguidos pelos genes iniciais retardados, que iniciam a 
replicação do genoma viral e os genes tardios. A expressão tardia do gene inicia a montagem do 
capsídeo no núcleo, seguida pela saída nuclear para o citosol. Os capsídeos se associam às proteínas 
do tegumento no citoplasma e são trafegados para o complexo de montagem viral que contém 
componentes do retículo endoplasmático, aparelho de Golgi e maquinaria endossômica. Os capsídeos 
adquirem mais tegumento e envelope viral e brotam em vesículas intracelulares. Partículas infecciosas 
envelopadas são liberadas junto com corpos densos não infecciosos. A figura a seguir mostra os 
principais mecanismos de ação dos fármacos utilizados no tratamento das infecções por HCMV. 
231
FARMACOLOGIA
Ganciclovir
(GCV)
Cidofovir
(GDV)
Foscarnet
(FOS)
OH
OH OH
OH
OH
PO
O
O
O
O
O N
N
N
N
NHN
H2N
NH2
HO
HO P
O
O
Análogo de pirofosfato
Análogo de nucleosídeo
Análogo de nucleosídeo
pUL54
pUL97
DNA
polimerase
HCMV
Quinases
HCMV
Incorporação no DNA viral
P P
P
P
ADP
ATP
P
P
PP
Quinases 
celulares
Célula infectada 
pelo HCMV
Figura 90 – Ciclo de vida do HCMV. Alvos moleculares dos fármacos usados no tratamento do HCMV. O ganciclovir (GCV) é 
fosforilado por uma enzima viral, uma proteína quinase denominada de pUL97. O cidofovir (CDV) não precisa da ação da quinase 
viral (pUL97), mas ambos são fosforilados por quinases da célula hospedeira formando suas formas de trifosfato de ganciclovir e de 
cidofovir. Os análogos trifosfatos de nucleosídeos (pppCDV e pppGCV) competiram com os nucleotídeos trifosfatos celulares pela 
DNA polimerase viral (pUL54) e serão incorporados ao DNA viral, recém-sintetizado. O foscarnet (FOS) inibe diretamente a DNA 
polimerase viral, bloqueando a ligação do pirofosfato
7.3.1 Inibidores nucleosídeos de DNA polimerase
Ganciclovir
O ganciclovir é um análogo do aciclovir que apresenta uma atividade biológica maior contra o 
HCMV, cerca de dez vezes. Ele foi o primeiro agente viral aprovado para o uso contra o HCMV, sendo 
indicado para o tratamento de retinite por CMV em pacientes imunocomprometidos. Outra indicação 
do ganciclovir ocorre em pacientes que realizaram transplante hepático para diminuir o risco de doença 
pelo HMCV. O seu principal mecanismo de ação é a inibição da síntese de DNA viral através da ativação 
realizada pela fosfotransferase do HCMV. 
Administrado pela via intravenosa, ele se distribui por todo o corpo, incluindo o líquido cefaloespinhal. 
Pacientes com insuficiência renal apresentam um acúmulo do fármaco devido à excreção renal. Existe 
também o valganciclovir, um pró-fármaco do ganciclovir que apresenta uma maior biodisponibilidade 
oral que o ganciclovir.
A mielossupressão é o efeito adverso mais importante do ganciclovir, sendo que pelo menos 15% dos 
pacientes apresentam neutropenia. Alterações comportamentais, cefaleia, convulsões e coma podem 
também ocorrer. Em ensaios com animais, o ganciclovir é carcinogênico, embriotóxico e teratogênico.
232
Unidade III
Cidofovir
O cidofovir é um análogo nucleotídico da citosina, que não necessita da fosforilação viral. Apresenta 
atividade inibitória contra o vírus herpes humano, papiloma, polioma, varicela e adenovírus, inibindo a 
síntese do DNA viral. Também seu uso é aprovado em pacientes com HIV/Aids que apresentam retinite 
causada pelo HCMV.
O fármaco apresenta biodisponibilidade oral baixa, mas ele é eficaz quando administrado pela 
via intravenosa, intravitrea (usado no tratamento de retinite) e por via tópica, na forma de gel. Com 
uma eliminação lenta do metabolito intracelular, permite um maior intervalo entre as doses, quando 
comparado com o ganciclovir.
Apresenta toxicidade renal significativa e deve ser evitado em pacientes que têm problemas 
renais, em uso de fármacos nefrotóxicos, incluindo os AINEs (anti-inflamatórios não esteroidais). 
Neutropenia, acidose metabólica, cicloplegia, uveíte e reações de hipersensibilidade são apresentados 
por alguns pacientes em uso do cidofovir. Para reduzir a nefrotoxicidade, em conjunto com o cidofovir, 
é administrada a probenecida, que inibe um determinado transportador de aníons no túbulo proximal, 
diminuindo assim a excreção renal do cidofovir. 
Fomivirseno
O formivirseno é um oligonucletotídeo antisense que interage com o RNAm do HCMV. Normalmente, 
ele é administrado em pacientes que têm retinite por CMV e não toleraram outros medicamentos ou que 
não obtiveram resultados. Administrado pela via intravireal, seus efeitos adversos incluem irite, vitrite e 
alterações na visão. 
7.3.2 Inibidores não nucleosídeos da DNA polimerase
Foscarnete
O foscarnete (ácido fosfonoformico, PFA) é pirofosfato não nucleotídeo, que não requer ativação 
por quinases virais e irá inibir a DNA polimerase e RNA polimerase dos vírus de DNA, em especial HSV e 
HCMV, principalmente quando a terapia com aciclovir ou ganciclovir não obteve o resultado desejado.
Pouco absorvido oralmente, o foscarnete deve ser administrado intravenosamente e apresenta uma 
boa distribuição corporal, inclusive com uma parcela do fármaco, cerca de 10%, penetrando na matriz 
óssea. Ele é eliminado por filtração glomerular e secreção tubular.
Entre os efeitos adversos, os pacientes apresentam nefrotoxicidade, hipocalemia, anemia, náuseas e 
febre, além de efeitos centrais (cefaleia, tremores, convulsões e alucinações). 
7.4 Vírus da imunodeficiência humana (HIV)
Os fármacos antirretrovirais são utilizados no tratamento de infecções causadas por retrovírus, que 
nada mais são do que vírus cujo material genético é o RNA. Dessa classe de vírus, se destaca o HIV (do inglês 
Human immunodeficiency virus ou vírus da imunodeficiência humana), que, quando infecta o organismo 
233
FARMACOLOGIA
humano, causa a Aids (do inglês: acquired immunodeficiency syndrome ou síndrome da imunodeficiência 
adquirida). O objetivo da terapia antirretroviral contra o HIV é reduzir a carga viral (medida através do 
número de cópias do RNA viral no plasma) e restaurar a contagem de linfócitos do tipo CD4.
O HIV é um retrovírus que infecta células CD4+. A infeção de linfócitos CD4+ depende da fixação 
do vírus à gp160 (composta pelas proteínas gp41 e gp120) e os receptores CD4 e da célula hospedeira. 
A fixaçãodo vírus na célula hospedeira resulta na fusão do envelope viral à membrana plasmática da célula 
hospedeira e a entrada do genoma do HIV e proteínas do virion. O desnudamento permite a transcrição do 
RNA de fita simples (RNAFS) do genoma do HIV pela transcriptase reversa em DNA de fita dupla. O DNA 
do HIV é integrado no genoma da célula hospedeira, numa reação que depende da integrase codificada 
pelo HIV. Essa integração resulta na produção de RNA do HIV genômico e mRNA viral. O mRNA viral é 
traduzido em proteínas nos ribossomos da célula hospedeira e na sequência são formadas proteínas e 
virions imaturos, que sofrem brotamento a partir da membrana celular do hospedeiro. Os virions sofrem 
clivagem proteolítica, com maturação em virions totalmente infecciosos. A figura a seguir ilustra o ciclo de 
vida do HIV e alvos da terapia anti-HIV, incluindo proteínas envolvidas na ligação do HIV às células CD4+ e 
integrasses, proteínas importantes na integração do DNA do HIV no genoma da célula hospedeira.
Fusão2
3
4
5
6
7
8
1 Ligação HIV
RNAfs
gp120
CD4
DNA
RNA (genômico e mRNA)
Proteína do cema
gp41
Proteína da matriz
Proteína do ceme
Receptor de 
quimiocinas
Transcrição 
reversa
Integração
Transcrição
Tradução
Montagem e 
brotamento 
do virion
Maturação
Protease
Integrase
Transcriptase reversa
Integrase
Protease
Integrase
(Protease)
Transcriptase reversa
Figura 91 – Ciclo de vida do HIV
Os agentes anti-HIV são dirigidos contra a fusão, a transcrição reversa e a maturação virais. Existem 
cinco classes de fármacos antirretrovirais: os inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosideos 
234
Unidade III
ou nucleotídeo (ITRNs); ou inibidores de transcriptase reversa não análagos de nucleotídeos (ITRNNs); os 
inibidores de protease (IP); os inibidores de entrada e os inibidores de integras. 
O tratamento de escolha envolve o uso de associações de fármacos antirretrovirais, de modo a impedir 
a replicação viral, restabelecer as células CD4 e tornar o paciente imunocompetente. O regime múltiplo 
de tratamento, utilizando-se de mais de um fármaco, é denominado de tratamento antirretroviral 
altamente ativo, ou TARAA (ou HAART, do inglês, highly active antiretroviral therapy). O tratamento 
envolve a administração de dois fármacos da classe dos ITRNs com outro fármaco antirretroviral 
(IPs, ITRNNS ou inibidor da integrasse). 
A preferência de escolha da terapia se baseia em: 
•	 evitar o uso de dois fármacos que são análogos do mesmo nucleosideo (ou nucleotídeo); 
•	 evitar o aumento de toxicidade do tratamento e alterações no genoma e fenótipo do vírus; 
•	 considerar o estado do paciente: seus sintomas e doenças presentes; 
•	 considerar o impacto da associação farmacológica; 
•	 facilitar a adesão ao regime terapêutico. 
O desenvolvimento de resistência aos fármacos pode ser significativamente retardado com o uso de 
combinações de fármacos dirigidos contra uma única etapa (por exemplo, dois ou mais inibidores da transcrição 
reversa) ou mais de uma etapa no ciclo de vida do HIV (por exemplo, inibidores da transcriptase reversa 
e inibidores da protease).
A zidovudina foi o primeiro antirretroviral aprovado para o tratamento da infecção por HIV, isso em 
1987. Antes dessa data, o tratamento dos pacientes infectados tinha como objetivo apenas diminuir a 
incidência de infecções oportunistas, que levava a um elevado índice de morbidade e mortalidade em 
pacientes com Aids. 
O Brasil se destaca na luta contra a Aids. Desde os anos 1990, o Brasil distribui gratuitamente, 
através do SUS, medicamentos antirretrovirais aos portadores de HIV e pacientes com Aids, desde que 
obedeçam ao consenso terapêutico do Ministério da Saúde. Em nosso país, estima-se que cerca de 866 mil 
pessoas estão infectadas com o HIV. 
Apesar da distribuição gratuita dos antirretrovirais, há uma significativa não adesão por parte 
dos pacientes. Os motivos são os mais variados, desde o número excessivo de comprimidos, os efeitos 
colaterais dos antirretrovirais, por motivos psicológicos (lembrança do HIV) e ausência de sintomas 
físicos da doença. Pacientes portadores do vírus HIV que fazem o uso de antirretrovirais possuem uma 
maior tendência a desenvolver hipertensão, diabetes, dislipidemia e infarto do miocárdio, quando 
comparado a pessoas sem o HIV. Essa incidência é maior em idosos e pacientes que fazem o uso da 
terapia há muitos anos.
235
FARMACOLOGIA
7.4.1 Inibidores da transcriptase reversa (agentes nucleosídicos) – ITRNs
Os inibidores da transcriptase reversa (ITRNs) se dividem em duas categorias: agentes nucleosídicos 
e agentes não nucleosidicos. Os ITRNs são análogos dos nucleosídeos nativos, desprovidos da ligação 
3’-OH (hidroxila). 
Todos os fármacos da classe dos ITRNs têm mecanismos de ação semelhantes: ao serem 
incorporados na célula, eles vão ser fosforilados por enzimas a uma nucleosídeo análago trifosfatado 
e será incorporado ao DNA viral através da transcriptase reversa. Devido à ausência da hidroxila no 
carbono 3’, não haverá a formação da ligação fosfodiéster entre o nucleosídeo e a cadeia do DNA, 
interrompendo assim a síntese do DNA. 
Ocorre resistência aos ITRNs através de mutação na transcriptase reversa viral. Como há resistência 
cruzada entre os ITRNs, não se recomenda o uso simultâneo contra o mesmo alvo. A seguir, iremos 
apresentar os fármacos dessa classe.
Zidovudina (AZT)
A zidovudina (AZT) é um análogo sintético da timidina, em que há uma alteração na ribose: em vez de 
ter uma hidroxila na posição 3’, o AZT tem um grupamento azido, que, quando incorporado, promove a 
terminação da cadeia de DNA. A zidovudina foi o primeiro fármaco utilizado para o tratamento da infecção 
por HIV, apresentando atividade contra o HIV-1, HIV-2 e o HTLV-I e II (vírus linfotrópico de célula T). 
O AZT é bem absorvido oralmente, apresenta o pico plasmático em torno de uma hora, com uma 
meia-vida plasmática de 1,5 horas, e penetra na barreira hematoencefálica e placentária (por isso é 
indicado para evitar a transmissão vertical da mãe para o filho, durante a gestação). Boa parte do AZT é 
biotransformada nos hepatócitos (sofre glicuronização) e então eliminada pela urina. 
Dentro da célula, a zidovudina é fosforilada pela timidina quinase, se transformando no 5-trifosfato 
de zidovudina, que será agora incorporado à cadeia de DNA em síntese pela transcriptase reversa do 
vírus. A incorporação do metabolito do AZT impede o alongamento da cadeia de DNA, além de inibir 
também a DNA polimerase celular e a polimerase mitocondrial. 
Ao contrário de outros antivirais (aciclovir e ganciclovir), não há uma seletividade na etapa de 
ativação do AZT e, desse modo, todas as células do corpo que estiverem em divisão celular serão afetadas 
pelo metabólito.
Como efeitos adversos, se caracterizam por anorexia, fadiga, cefaleia, mialgia e insônia. O AZT 
apresenta uma mielossupressão: anemia acomete cerca de 7% dos pacientes tratados, neutropenia 
também pode se apresentar no início do tratamento. Pacientes tratados cronicamente com AZT podem 
apresentar miopatia, hiperpigmentação da unha, hepatotoxicidade e acidose láctica. Os efeitos adversos 
da zidovudina são causados tanto pelo trifosfato de AZT agindo nas polimerases celulares como pelo 
monofosfato de AZT que age sobre a timidilato quinase, enzima essencial para a replicação. Limitações 
na eficiência clínica do AZT e a sua toxicidade e resistência levaram ao desenvolvimento de outros 
236
Unidade III
fármacos contra o vírus HIV e ao uso de associações de fármacos contra o vírus, normalmente, se utiliza 
de um fármaco inibidor de protease e um nucleotídeo análogo ou com inibidor da transcriptase reversa 
não nucleotídeo e nucleosídeo análogo.
Estavudina
A estavudina (d4T) é um análogo da timidina usado no tratamento da infecção pelo HIV. O fármaco 
é bem absorvido quando administrado oralmente, atinge o pico de concentração plasmática em 
aproximadamente 1 hora e penetra na barreira hematoencefalica.A estavudina é excretada pela urina, 
na sua forma ativa e exigindo cuidados em pacientes que apresentam insuficiência renal. Seu principal 
efeito adverso é a neuropatia periférica, mas tem-se descrito cefaleia, urticária, diarreia, lipoatrofia, 
pancreatite e acidose láctica.
Didanosina
A didanosina (ddI) é um análogo de nucleosideo purínico que, ao entrar na célula hospedeira, 
se transforma em ddATP (didesoxiadenosina trifosfato), sendo incorporado à cadeia de DNA viral e 
interrompendo a sua síntese (alongamento). 
Em pH extremamente baixo, a didanosina sofre degradação, portanto a sua melhor absorção se dá 
quando ingerida em jejum. O fármaco é excretado na sua forma ativa pela urina.
O seu efeito adverso mais comum é a diarreia, mas apresenta como efeitos tóxicos a neuropatia 
periférica e a pancreatite, que pode ser fatal, devendo, durante o tratamento, o paciente ter monitoradas 
as suas enzimas pancreáticas (amilase e lipase).
Tenofovir
O tenofovir (TDF) é um análogo nucleotídeo da adenosina 5’-monofosfato, que, dentro do citoplasma 
celular, é convertida em um difosfato, que tem a capacidade de inibir competitivamente a transcriptase 
reversa viral do HIV e também de ser incorporado no DNA viral, causando a interrupção da sua síntese.
Cineticamente, o tenofovir tem uma meia-vida longa, permitindo uma única tomada diária, ele é 
excretado na sua forma inalterada pela urina, de modo que pacientes com problemas renais devem ter 
a sua creatinina sérica monitorada.
O tenofovir é bem tolerado pelos pacientes, sendo que os problemas gastrintestinais (náuseas, 
flatulência e diarreia) são os principais efeitos adversos. Pode ocorrer resistência especifica ao tenofovir 
e também resistência cruzada com os outros ITRNs, como a zidovudina.
Lamivudina
A lamivudina (3TC) é um análogo pirimidínico, inibindo assim o alongamento da cadeia de cDNA 
do vírus através da formação de um composto trifosfatado que irá inibir a transcriptase reversa 
tanto do HIV como do HBV.
237
FARMACOLOGIA
A lamivudina apresenta alta biodisponibilidade oral, um pico plasmático em torno de uma hora e 
sofre excreção renal. 
Como a lamivudina não interfere na síntese do DNA mitocondrial ou das células da medula óssea, 
ela apresenta menor toxicidade e seus efeitos adversos mais comuns são a cefaleia e náuseas. 
A monoterapia com lamivudina é pouco eficaz, mas a sua combinação com outros fármacos antivirais 
é aprovada no tratamento da infecção pelo HIV. Pode-se usar também a lamivudina em pacientes com 
infecções causadas pelo HBV e em situações de evidências de replicação viral ativa. 
Entricitabina
A partir da modificação (fluoração) da lamivudina, surgiu a entricitabina (FTC), um análogo da 
citosina. Tem um mecanismo de ação semelhante aos outros inibidores da transcriptase reversa 
viral. O fármaco é bem absorvido pela via oral, apresenta elevada biodisponibilidade e sua meia-vida 
plasmática é de aproximadamente 10 horas. Ele é eliminado pela urina sem sofrer biotransformação. 
Considerado como um dos mais seguros antirretrovirais, apresenta pouco efeitos adversos: cefaleia, 
diarreia, náusea e urticária. O seu uso prolongado causa uma hiperpigmentação da pele (pés e mãos 
principalmente). Casos de hepatite e pancreatite já foram relatados, mas sempre quando o fármaco é 
utilizado em associação com outros agentes antivirais.
Abacavir (ABC)
O avacavir (ABC) é um análogo da guanosina. Bem absorvido por via oral, apresenta uma alta 
biodisponibilidade e é biotransformado pelo álcool desidrogenase em metabolitos inativos. Seus efeitos 
adversos mais comuns são náusea, vômito, diarreia, cefaleia e insônia.
Zalcitabina
A zalcitabina (ddC) é um análogo da citosina, apresenta alta biodisponibilidade oral e é excretado 
pela urina na sua forma inalterada. Seus principais efeitos adversos são a neuropatia, estomatite e 
pancreatite. O seu uso é indicado em infecções por HIV em associação com zidovudina e saquinavir 
(inibidor de protease).
7.4.2 Inibidores da transcriptase reversa (agentes não nucleosídicos)
Essa classe de fármacos, que engloba o efavirenz, nevirapina e etravirina, age inibindo de maneira 
não competitiva a transcriptase reversa viral. Nenhum desses fármacos necessita de ativação celular e 
apresenta algumas características comuns: resistência cruzada entre eles, interações farmacológicas e 
reações de hipersensibilidade.
Nevirapina (NVP)
A neviparina (NVP) foi o primeiro inibidor não nucleosídeo da transcriptase reversa (ITRNN) usado no 
tratamento de infecções pelo HIV, agindo diretamente no sítio catalítico da enzima.
238
Unidade III
Farmacocineticamente, a neviparina é bem absorvida pela via oral, sem a interferência de alimentos. 
Por causa da sua natureza lipídica, consegue ampla distribuição no corpo, atingindo o SNC e a placenta. 
O fármaco sofre biotransformação hepática em duas fases: primeiro, sofre uma hidroxilação e depois 
uma conjugação com glicuronídeos; e tem os seus metabolitos eliminados pela urina. 
A neviparina é um indutor do sistema enzimático do CYP450, dessa maneira, diminuindo 
drasticamente a meia-vida de fármacos que são substratos desse sistema, como contraceptivos orais, 
cetoconazol, quinidina e varfarina. 
Seus efeitos adversos consistem em febre, fadiga, cefaleia, sonolência, náuseas, elevação das 
enzimas hepáticas e hepatotoxicidade. Há relatos de problemas dérmicos, incluindo a síndrome de 
Stevens-Johnson. 
A resistência a nevirapina está associada a mutações na transcriptase reversa viral.
Efavirenzo (EFV)
O efavirenzo (EFV) é um inibidor não competitivo da transcriptase reversa do HIV, apresentando 
mecanismo de ação, perfil de toxicidade e resistência semelhantes à neviparina. O fármaco é administrado 
oralmente, tem uma boa distribuição no organismo, atingindo o SNC. Preferencialmente, ele deve ser 
ingerido em jejum, ou seja, com o estômago vazio. 
A ocorrência dos efeitos adversos no SNC atinge quase 50% dos pacientes, na forma de sonolência, 
insônia, tontura, disforia, depressão e alucinações. Cerca de 25% dos pacientes apresentam erupção 
cutânea. Ele é contra-indicado em mulheres grávidas.
O efavirenzo foi o primeiro antirretroviral aprovado para o uso em dose única diária e com eficiência 
na redução da carga do HIV, mas, para diminuir a chance de resistência, recomenda-se a associação com 
outros fármacos. 
Etravirina (ETR)
A etravirina (ETR) é um ITRNN de segunda geração, ativo apenas contra o HIV-1. Cepas de HIV 
resistentes aos ITRNNs de primeira geração são suscetíveis à etravirina. 
Quando ingerida com alimentos gordurosos, a sua biodisponibilidade aumenta. Apesar de ter uma 
elevada meia-vida (cerca de 40 horas), são indicadas 2 tomadas diárias. A etravirina é extensamente 
biotransformada a produtos inativos e excretada pelas fezes. Por ser um indutor das enzimas do CYP450, 
há um grande risco de interações farmacodinâmicas. Seus efeitos adversos é a urticária (rush cutâneo).
7.4.3 Inibidores da protease do HIV
No caso do vírus do HIV, para montar uma nova partícula viral infecciosa, é necessário, além de 
montar as proteínas e o seu ácido nucleico, que o vírus passe por uma etapa denominada de maturação. 
239
FARMACOLOGIA
Nessa etapa, o vírus produz uma protease viral, fundamental para clivagem de proteínas precursoras 
da sua estrutura e enzimas essenciais ao seu metabolismo. Esse papel é essencial para a finalização da 
montagem da partícula viral.
Os inibidores da protease do HIV foram introduzidos na terapia em meados dos anos 1990, mais 
precisamente em 1995. A sua introdução mudou o paradigma do tratamento da Aids: a partir 
desse evento, o número de mortes de pacientes HIV positivos diminui drasticamente. Depois da 
mudança desse paradigma, diversos fármacos antivirais com alvo nas proteases do HIV foram aprovados: 
saquinavir, ritonavir, amprenavir, indinavir, nelfinavir, lopinavir, atazanavir, tipranavir e darunavir.
Diversos fatores explicam o porquê de a protease do HIV ser o alvo mais utilizadono tratamento da 
Aids, entre eles, pode-se citar: 
•	 essa protease é essencial para a replicação do vírus do HIV (etapa de maturação); 
•	 mutações pontuais acabam inativando a enzima, sugerindo que pequenas moléculas podem 
funcionar como um inibidor; 
•	 os substratos da enzima (protease do HIV) são conservados e incomuns entre outras espécies, 
sugerindo uma alta especificidade do complexo enzima-substrato. 
Todos esses fatores associados à possibilidade de expressar a protease em laboratório aumentaram 
as chances de acertos no desenvolvimento dos inibidores da protease do HIV.
De modo geral, os inibidores da protease do HIV apresentam algumas características comuns, entre elas: 
•	 O alvo farmacológico dessas moléculas é a retropepsina (aspartil protease) do HIV, que irá clivar 
a proteína viral originando diversas enzimas essencias ao vírus, como a transcriptase reversa, 
protease e integrasse; impedindo assim a maturação das partículas virais.
•	 Todas as moléculas se ligam às proteínas plasmáticas e são substratos da CYP3A4, apresentando 
uma alta taxa de biotransformação, de modo que a maioria não é excretada inalterada na urina, 
a menos em uso de dosagens altas ou no caso do paciente apresentar insuficiência renal. 
•	 Distúrbios metabólicos (diabetes, hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia) são comuns. Ocorre 
também redistribuição de gordura, de modo que o paciente apresente o pescoço de búfalo 
(acúmulo de gorduras abdominais e na base do pescoço). 
• Acabam apresentando um grande número de interações medicamentosas, já que os inibidores de 
protease também inibem as isoenzimas do CYP450.
Saquinavir (SQV)
O saquinavir (SQV) é um inibidor de protease que, para aumentar a sua biodisponibilidade, sempre 
é associado com uma baixa dose de ritonavir ou com uma refeição rica em lipídeos. O fármaco, após a 
240
Unidade III
sua absorção, apresenta uma meia-vida de sete a 12 horas, sofre biotransformação hepática seguida por 
excreção biliar. O seu uso apresenta como principais efeitos adversos, náuseas, diarreia e outros distúrbios 
do trato gastrintestinal. Considerando o sistema nervoso, o mesmo apresenta cefaleia. Pacientes em 
tratamento com saquinavir apresentam elevação das transaminases hepáticas, principalmente se 
estiverem infectados com os vírus da hepatite B ou C. 
Ritonavir (RTV)
A partir do planejamento racional de fármacos, surgiu o ritonavir, um peptidomimético (com 
estrutura similar a um peptídeo) inibidor da protease do HIV. Hoje o ritonavir (RTV) não é empregado 
isoladamente como um inibidor da protease, e sim para aumentar a absorção de outros inibidores 
(reforçador farmacocinético ou booster). Por ser um potente inibidor da CYP3A, o ritonavir consegue 
aumentar a biodisponibilidade de outro inibidor de protease do HIV, de modo a diminuir as tomadas 
do IP por parte do paciente. Além disso, mesmo em doses baixas, o ritonavir diminui a possibilidade de 
desenvolvimento de resistência por parte do vírus. 
O ritonavir apresenta uma meia-vida de aproximadamente quatro horas, sofre biotransformação 
hepática e a excreção é preferencialmente biliar. Existem inúmeras interações farmacológicas, visto que 
o ritonavir é um inibidor de enzimas do CYP450. Entre os efeitos adversos mais comuns, foram achados 
cefaleia, parestesia circumoral, náuseas, êmese e diarreia. 
Indinavir 
O indinavir (IDV) é um inibidor de protease que é bem absorvido quando administrado oralmente 
e encontra condições ácidas no ambiente gástrico. Dos IPs utilizados nas clínicas, o indinavir é o que 
apresenta a menor meia-vida, inferior a duas horas. Por causa do tempo de meia-vida curto, o indinavir 
é associado com ritonavir, que aumenta a meia-vida do IDV e, desse modo, permite a tomada do fármaco 
duas vezes ao dia. Após a absorção, o indinavir é biotransformado, e os metabolitos são eliminados 
através das fezes e urina. Os efeitos adversos mais comuns são a cefaleia e problemas gastrintestinais, 
mas pacientes também demonstram nefrolitíase e hiperbilirrubinemia. Os pacientes em uso desse 
fármaco devem ingerir dois litros de água por dia, de modo a diminuir a probabilidade de formação de 
cálculos renais. Outro aspecto é que o indinavir altera a redistribuição de gordura corporal. 
Nelfinavir (NFV)
O nelfinavir (NFV) é um inibidor de protease que é bem absorvido, não sendo necessário realizar 
associações como outros fármacos ou alimentos para a sua absorção. O NFV é biotransformado pelo 
complexo enzimático das CYP450. Sua meia-vida é estimada em cinco horas e apresenta como principal 
efeito adverso a diarreia, que pode ser controlada com o uso da loperamida.
Atazanavir (ATV)
O atazanavir (ATV) é um inibidor de protease administrado oralmente em conjunto com a refeição, 
para, desse modo, ter a sua absorção e biodisponibilidade aumentadas. O fármaco apresenta uma 
241
FARMACOLOGIA
boa ligação com as proteínas plasmáticas e com uma meia-vida de aproximadamente sete horas. 
Sofre biotransformação pela enzima CYP3A4 e é eliminado pela bile. Seus efeitos adversos são a 
hiperbilirrubinemia e icterícia. Além disso, o atazanavir promove um prolongamento do intervalo PR da 
contração cardíaca. Deve-se evitar por pelo menos uma hora a administração de antiácidos, bloqueadores 
do receptor H2 e dos inibidores de bomba prótons, antes da tomada do atazanavir. 
Darunavir (DRV)
O darunavir (DRV) é um dos inibidores de protease aprovado para o tratamento inicial de pacientes 
infectados recentemente com o HIV, bem como para pacientes que apresentam resistência aos outros 
IPs. O darunavir é administrado junto com uma baixa dose de ritonavir e com alimentos, de modo a 
aumentar a sua absorção. Sua meia-vida é de aproximadamente 15 horas, o fármaco é biotransformado 
hepaticamente pelas enzimas CYP3A, mas o DRV também é um inibidor da CYP3A4. Seus efeitos adversos 
são semelhantes aos outros IPs e existe o relato de urticária em alguns pacientes. 
Fosamprenavir (FPV)
O fosamprenavir é um pró-fármaco, administrado oralmente, que será biotransformado em 
amprenavir. Normalmente ele é administrado em conjunto com o ritonavir, de modo a aumentar a sua 
meia-vida plasmática e diminuir a sua dosagem diária total. Seus efeitos adversos mais comuns incluem 
cefaleia, fadiga, parestesia e distúrbios gastrintestinais (náuseas, êmese e diarreia).
Lopinavir (LPV)
A lopinavir (LPV/r) é um inibidor de proteases que normalmente é associado ao ritonavir em 
baixa concentração. Essa associação permite aumentar a biodisponibilidade do lopinavir, que é 
extremamente baixa. Apresenta como efeitos adversos mais comuns distúrbios do trato gastrintestinal 
e hipertrigliceridemia. A solução oral de lopinavir contém álcool, portanto os pacientes não devem usar 
concomitantemente dissulfiram ou metronidazol. 
Tipranavir (TPV)
O tipranavir (TPV) é um inibidor de protease, não peptídico, que inibe a protease do HIV. Normalmente, 
ele é utilizado quando o vírus começa a apresentar resistência aos outros inibidores de protease. 
O fármaco, ao ser ingerido com alimentos, melhora a sua absorção, apresentando uma meia-vida de 
seis horas. Os efeitos adversos são semelhantes aos outros inibidores de protease, acrescidos de hepatite 
grave e fatal, além de alguns pacientes apresentarem hemorragia intracranial. 
7.4.4 Inibidores de fusão
Enfuvirtida (T20)
A enfuvirtida (T20) é um peptídeo sintético de 36 aminoácidos com alta similaridade de sequência 
com proteínas virais do HIV-1, que age como um inibidor de fusão.
242
Unidade III
Para que o vírus HIV infecte a célula hospedeira, é necessário que ocorra a fusão entre a membrana da 
célula hospedeira e o envelope viral. A glicoproteína gp41 do HIV-1 é responsável pela ligação da partícula 
viral à membrana da célula e, por consequência, à infecção viral. E nesse painel que a enfuvirtida 
apresenta o seu mecanismo de ação: o fármaco se liga à glicoproteína viral gp41, evitando a sua 
mudança conformacional, essencial para a infecção, e, desse modo,impede a infecção viral.
Por ser um peptídeo, a enfuvirtida deve ser administrada subcutaneamente. O fármaco apresenta boa 
biodisponibilidade, cerca de 84%; se liga a proteínas plasmáticas, entre elas, a albumina, e apresenta como 
metabolito um composto inativo. 
Os principais efeitos adversos se relacionam a reações no local de aplicação do medicamento: dor, 
eritema, endurecimento e nódulos. 
O vírus HIV pode desenvolver resistência à enfurvitida através de mutações no domínio de ligação 
da glicoproteína gp41. O seu uso clínico, sempre feito em associação, é reservado para pacientes que 
apresentam replicação persistente, mesmo com o uso de outros antivirais.
 Saiba mais
O site a seguir aborda vídeos e outros materiais produzidos pelo 
Departamento de Vigilância Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente 
Transmissíveis em relação ao HIV/Aids e às hepatites virais.
BRASIL. Ministério da Saúde. Vídeos. Brasília, [s.d.]. Disponível em: 
http://www.aids.gov.br/pt-br/centrais-de-conteudos/videos. Acesso em: 
25 jun. 2020.
7.5 Hepatites
De uma maneira simples podemos descrever a hepatite como um processo inflamatório hepático 
que pode ser causado por vírus, pelo uso de determinadas substâncias químicas (álcool, drogas de abuso 
e medicamentos), bem como problemas metabólicos e genéticos, além de doenças autoimunes. 
Na maioria das vezes, a hepatite cursa nos pacientes de maneira assintomática.
As hepatites virais, que iremos abordar agora, são causadas por diferentes vírus e denominadas por 
letras maiúsculas do alfabeto: A, B, C, D e E. Os vírus da hepatite B (VHB) e da hepatite C (VHC) possuem 
semelhanças quanto à transmissão: são transmitidos por via parenteral, transcutânea e transmucosa; 
sendo que a hepatite B é considerada como doença sexualmente transmissível (DST).
Há uma importância no diagnóstico laboratorial precoce, principalmente, quando o paciente 
apresenta algum sinal clínico ou pertence a um grupo de risco: uso de drogas injetáveis, sexo sem 
proteção (preservativo), tatuagem e piercing. Dessa maneira, evita-se a evolução da patologia para 
cirrose ou câncer hepático.
243
FARMACOLOGIA
A maneira mais eficaz de prevenir a hepatite A e B é a vacinação, essa vacina essa protege o 
indivíduo da hepatite D. A vacinação contra a hepatite A faz parte do calendário vacinal e é oferecida 
para crianças até 5 anos de idade. Já contra a hepatite B, são fornecidas quatro doses para as crianças 
até os 6 meses de idade. Para a hepatite C, não existe vacina, e a prevenção deve ser feita evitando o 
contato com sangue contaminado. 
Apesar da vacinação e de existirem meios de evitar a contaminação, segundo o Boletim 
epidemiologico: hepatites virias (BRASIL, 2019), do Ministério da Saúde, nos últimos 20 anos, foram 
notificados 230.000 novos casos da hepatite B e 360.000 novos casos da hepatite C. 
 Observação
O Boletim epidemiológico: hepatites virais (BRASIL, 2019c) mostra 
que, no Brasil, há cerca de 40.000 novos casos por ano. Também ocorrem 
aproximadamente 33.000 mortes devido a hepatites, sendo a grande 
maioria dos pacientes contaminada pela hepatite C (70%) e B (22%). 
O vírus da hepatite B (VHB), da família Hepadnaviridae, é composto de uma dupla hélice de DNA, 
e uma parcela, cerca de 10% dos pacientes infectados e diagnosticados, evoluem para uma forma 
crônica da patológica: cirrosse ou hepatocarcinoma. O objetivo do tratamento farmacológico é impedir 
a replicação viral, já que o vírus se incorpora ao DNA do hospedeiro e dificilmente será erradicado. 
Caso o paciente apresente o VHB, o tratamento indicado é o uso da lamivudina associada ou não ao 
inteferon-α. Não podemos esquecer que a melhor maneira de se prevenir é a vacinação, que é eficaz e 
sem efeitos colaterais importantes. 
O tratamento medicamentoso é o uso de interferons (peguilhado ou não) em associação com um 
análogo de nucleotídeo (lamivudina, adefovir, dipivoxila, tenofovir, entecavir e telbivudina) de modo a 
reduzir a probabilidade do desenvolvimento de resistência farmacológica por parte do vírus VHB, apesar 
de o tratamento de primeira linha incluir apenas os análogos de nucleotídeos.
Por outro lado, o vírus causador da hepatite C (VHC) pertence à família Flaviviridae, é um vírus de 
RNA que tem diversos genótipos. O objetivo do tratamento medicamento é a erradicação do vírus, 
apesar de alguns pacientes apresentarem recidiva da infeção, algo em torno de 5% dos que têm uma 
ausência de viremia por 24 semanas após o término da terapia (RVS: resposta viral sustentada). 
O tratamento da hepatite C é realizado com inferferon associada com ribavirina (inibidor não 
nucleosídeo da transcrição, inibindo a RNA polimerase viral). Outros fármacos, como o telaprevir ou 
bocepravir, podem ser utilizados – ambos são inibidores de protease NS3/4A. A escolha do tratamento 
medicamentoso depende da genotipagem do vírus, VHC do genótipo 1 são mais suscetíveis ao bocepravir. 
De modo geral, a associação dos inibidores de protease ao tratamento clássico (interferon mais ribavirina) 
aumenta substancialmente a taxa de eliminação viral em pacientes com VHC do genótipo 1.
244
Unidade III
Interferons
Os interferons são proteínas (glicoproteínas) produzidas pelas células do sistema imune em resposta 
a vírus, parasitas, bactérias e células tumorais.
Existem duas classes de interferon. Os interferons do tipo I (interferons α e β), que têm uma maior 
atividade antiviral e são produzidos por todas as células do sistema imune em resposta à infecção viral 
e interagem com o mesmo receptor celular. Já os inteferons do tipo II (interfereon γ) são produzidos 
somente pelos linfócitos T e células NK (natural killers) em resposta à liberação de citocinas.
Os interferons interagem com os seus receptores específicos presentes na membrana celular, 
ativando as vias de sinalização intracelular que aumentam a atividade e/ou expressão de proteínas que 
combatem as infecções virais: inibindo a penetração, tradução, transcrição, processamento da proteína 
viral, maturação e liberação do vírus. Além de aumentar a expressão de antígenos do MHC (Complexo 
principal de histocompatibilidade; do inglês major histocompatibility complex), há o aumento da 
atividade dos macrófagos e células T citotóxicas. Uma dessas proteínas é denominada de proteína 
quinase R (PKR), ativada por RNA de dupla fita, produzida nas infecções virais.
Do ponto de vista farmacocinético, os interferons não são ativos quando administrados por via oral, 
devido a sua baixa biodisponibilidade (inferior a 1%), desse modo, são administrados pela via 
intravenosa ou subcutânea; possuem boa distribuição, exceto no SNC, e sua meia-vida plasmática 
varia de uma a quatro horas – a sua baixa meia-vida se deve ao metabolismo hepático e renal e pela 
captação celular. As moléculas de interferon podem ser modificadas através da ligação covalente com 
o polietilenoglicol (PEG), formando a interferon α-2ª peguilhada, aumentando assim o tamanho da 
molécula e, desse modo, melhorando o perfil farmacocinético, retardando a absorção, prolongando o 
seu efeito e diminuindo a sua eliminação renal.
Os principais efeitos dos interferons são semelhantes a um quadro de infecção viral, como a gripe: 
febre, calafrios, mialgia, dores nas articulações e distúrbios do trato gastrintestinal, que normalmente 
se apresentam após a administração do fármaco. Com o uso do fármaco, parte dos sintomas tende a 
diminuir. Letargia, anorexia e sonolência podem aparecer após uma semana de administração. Além dos 
seus efeitos adversos, os interferons podem causar toxicidade que se apresenta na forma de supressão 
da medula óssea (linfocitopenia, granulocitopenia e trombocitopenia), neurotoxicidade, doenças 
autoimunes, alterações do estado mental, transtorno psicótico e depressão.
Pacientes com descompensação hepática, que apresentam doença autoimune ou arritimias cardíacas, 
devem evitar o uso do interferon α. A presença de outras patologias, como doenças psiquiátricas, 
epilepsia, insuficiênciarenal, inspiram cuidados na administração de interferon α. Grávidas também 
devem evitar o seu uso, visto que em primatas o interferon α é abortivo.
O interferon α é usado como fármaco no tratamento da hepatite viral (HBV e HCV), no sarcoma 
de Kaposi (causado por herpes-vírus), além de alguns tipos de tumores raros, como, por exemplo, a 
leucemia de células pilosas e o carcinoma de células renais. No paciente com hepatite B crônica, o 
uso da terapia com interferons limita a infectividade do portador e pode erradicar a infecção crônica. 
245
FARMACOLOGIA
Já o interferon β é usado principalmente no tratamento da esclerose múltipla. Os interferons também 
mostram benefícios em pacientes infectados com rinovírus do tipo 4 e varicela.
Adefovir
Desenvolvido inicialmente para o tratamento da infecção por HIV, o adefovir dipivoxila foi aprovado 
para a terapia do VHB, em doses menores e por consequência menor toxicidade. Ele é um análogo 
nucleotídico fosforilado pelas quinases celulares, transformando-o no difosfato de adenovir, que será 
incorporado à cadeia do DNA viral e, desse modo, interrompe a síntese do DNA viral (replicação) através 
da inibição do seu alongamento. 
Administrado uma vez ao dia, oralmente, o adefovir apresenta uma biodisponibilidade de 60% e 
não sofre interferências da ingesta ou não de alimentos. Após a absorção, o fármaco apresenta baixa 
ligação às proteínas plasmáticas e uma meia-vida suficiente para ser administrado uma única vez ao 
dia (meia-vida entre 5 a 18 horas). Eliminado pela via renal, o fármaco sofre tanta filtração glomerular 
como secreção tubular, precisando de ajustes na presença de doença renal. 
Efeitos colaterais podem ocorrer, mas são tolerados pelos pacientes: cefaleia, diarreia, astenia e 
dor abdominal. A interrupção rápida do uso do adefovir pode causar um agravamento do quadro da 
hepatite, além de promover nefrotoxicidade no seu uso crônico. O uso concomitante com o tenofovir 
deve ser evitado devido ao aumento da toxicidade.
Não há relatos de resistência cruzada do adefovir com a lamivudina ou entecavir. Grávidas devem 
ter extremo cuidado, já que o adefovir é embriotóxico em altas doses em ratos e genotóxico em 
estudos clínicos.
Entecavir
O entecavir é um análogo do nucleosídeo de guanosina, utilizado no tratamento de infecções pelo 
VHC, que inibe competitivamente três funções da DNA-polimerase viral: a iniciação, a transcrição e a 
síntese da nova fita de DNA viral. 
Administrado oralmente, o entecavir deve ser ingerido de estômago vazio para evitar a diminuição 
da biodisponibilidade causada pela ingesta de alimentos. Apresenta uma meia-vida acima de 15 horas, 
possibilitando a administração de uma única dose diária ao paciente. Excretado de maneira inalterada 
pela urina, deve ter a sua dose ajustada em pacientes que apresentam alguma nefropatia, do mesmo 
modo que não deve ser utilizado em associação com outros fármacos nefrotóxicos. 
Intracelularmente, o fármaco é fosforilado na sua forma ativa trifosfatada e compete com o substrato 
natural da transcriptase reversa viral: o trifosfato de desoxiguanosina.
Bem tolerado, o entecavir apresenta como efeitos adversos cefaleia, fadiga, tontura, náuseas, 
exantema e febre. Ensaios realizados em camundongos e ratos demonstram que há maior ocorrência de 
adenomas e carcinomas pulmonares, hepáticos e gliomas. 
246
Unidade III
Na clínica, o entecavir apresenta uma melhor supressão nos níveis do VHB, quando comparado 
ao uso da lamivudina ou adefovir em ensaios clínicos, como também é eficaz contra cepas do VHB 
resistentes a lamivudina. 
Telbivudina
A telbivudina é um nucleosideo análogo da timidina com atividade contra o vírus da hepatite B (VHB). 
Intracelularmente, o fármaco é fosforilado à forma de trifosfato, que irá competir com o trifosfato de 
timidina na incorporação do DNA viral, onde irá interromper o alongamento da cadeia de DNA.
Administrada oralmente uma vez ao dia, a telbivudina apresenta uma baixa ligação a proteínas 
plasmáticas, uma ampla distribuição corporal, com uma meia-vida aproximada de 15 horas. Eliminada 
por filtração renal, pacientes com insuficiência renal precisam de ajuste de doses.
Reações adversas comuns são leves e incluem fadiga, cefaleia, tosse, náuseas, diarreia, exantema, 
febre e elevação das transaminases.
Apesar de a telbivudina não ser ativa contra o HIV-1, o fármaco apresenta uma maior resposta 
virológica ao VHB do que o tratamento com lamivudina ou adefovir, dados obtidos de ensaios clínicos 
comparativos. Em pacientes que apresentam resistência ao tratamento com lamivudina, a telbivudina 
não é eficaz.
Boceprevir e telaprevir
Os primeiros antivirais destinados ao tratamento das infecções por hepatite C foram o boceprevir 
e o telaprevir. Ambos os fármacos são inibidores da serino protease do VHC NS3/4A, que inibem a 
replicação viral. 
Ambos os fármacos são administrados oralmente e a ingesta de alimentos aumenta a absorção, no 
caso do telaprevir com alimentos gordurosos. A ligação a proteínas plasmáticas é semelhante em ambos 
os fármacos, em torno de 75%. A metabolização é realizada pelas enzimas do CYP450 e atua como 
inibidor da CYP3A4 e da glicoproteína P.
O boceprevir apresenta como efeitos adversos anemia e disgeusia, e o telaprevir é associado a 
urticária, exantema, anemia, fadiga, prurido, náuseas e desconforto anorretal.
Tanto o boceprevir e o telaprevir não devem ser usados de maneira isolada, em esquema de 
monoterapia, pois o VHC desenvolve rapidamente resistência. Normalmente, eles são associados na 
farmacoterapia com o interferon-α e/ou a ribavirina, de modo a diminuir a possibilidade de resistência 
e aumentar a eficiência do tratamento.
Há necessidade de aumentar a dose do telaprevir quando administrado em associação com 
o efavirenz. 
247
FARMACOLOGIA
8 FÁRMACOS ANTINEOPLÁSICOS
O primeiro conceito que precisamos rever é o de câncer. O câncer é uma doença genética, não 
necessariamente, hereditária. Ou seja, alterações em genes resultam na expressão erronêa de proteínas, 
que levam a um conjunto de doenças em que a principal característica é o crescimento desordenado 
e potencialmente ilimitado de células existentes em um tecido ou órgão. As células cancerosas violam 
as regras mais básicas de comportamento celular, por exemplo: elas perdem a inibição por contato, 
apresentam um aumento na secreção dos fatores de crescimento e de oncogenes e têm a diminuição na 
expressão dos genes supressores de tumores.
O câncer abrange doenças com característica distintas. A grande variabilidade biológica dos tipos de 
cânceres dificulta a redação de uma abordagem terapêutica única para todos os pacientes, uma vez que 
existem diferenças na sintomatologia clínica, impacto no hospedeiro e possibilidade de cura ou controle. 
O êxito terapêutico depende de uma série de fatores, como tecido afetado, extensão do problema, 
doenças de base do paciente, idade do paciente, entre outros. Embora o objetivo do tratamento do 
câncer seja a cura, na maioria das vezes, ela ainda não é possível, porém, com o tratamento, pode-se 
obter prolongamento da sobrevida e qualidade de vida.
Os fatores de risco podem ser encontrados no ambiente físico, herdados ou resultado de hábitos ou 
costumes próprios de um determinado ambiente social e cultural. Didaticamente, os riscos envolvidos na 
carcinogênese são os de natureza química (consumo exagerado de álcool, tabaco, contato com agentes 
alquilantes), viral (HPV, hepatite, HIV) e físicos (energia irradiante, UVA, UVB, raios X, raios gama), além 
de predisposição genética, estresse, envelhecimento. O tabagismo está fortemente relacionado com 
o câncer de pulmão, faringe e bexiga, e a irradiação solar (raios UVA, UVB e UVC) está diretamente 
relacionada com os cânceres de pele.
Diferentes fatores de risco podem estar envolvidos na origem de uma mesma doença. Estudos 
mostram, por exemplo, a associação entre álcool, tabaco e o câncer da cavidade oral. O tabagismo e a 
obesidade, porexemplo, são fatores de risco para diversos cânceres, além de doenças cardiovasculares, 
metabólicas e respiratórias. No câncer, as primeiras manifestações podem surgir após muitos anos de 
uma exposição única (radiações ionizantes, por exemplo) ou contínua (no caso da radiação solar ou 
tabagismo) aos fatores de risco. A exposição solar prolongada sem proteção adequada durante a infância 
pode ser uma das causas do câncer de pele no adulto. O quadro a seguir mostra alguns dos fatores de 
risco associados ao desenvolvimento de um câncer. 
Quadro 45 – Relação entre determinados tipos de 
cânceres e os seus principais fatores de risco
Câncer de pulmão, laringe e bexiga Fumo
Câncer de mama
Histórico familiar (câncer de mama)
Mulheres que nunca engravidaram
Mulheres que tiveram o primeiro filho após os 30 anos
Câncer de colo de útero Vida sexual precoce e parceiros múltiplos
Câncer de cólon e reto Histórico familiar (câncer de intestino, pólipo ou colite ulcerativa)
248
Unidade III
Conhecer o perfil dos diferentes tipos de cânceres e caracterizar possíveis mudanças de cenário ao 
longo do tempo são elementos norteadores para ações de vigilância do câncer – componente estratégico 
para o planejamento eficiente e efetivo dos programas de prevenção e controle de câncer no Brasil. 
 Saiba mais
O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) em 
seu site disponibiliza a publicação: 
BRASIL. Ministério da Saúde. ABC do câncer: abordagens básicas para 
o controle do câncer. Rio de Janeiro: Inca, 2019. Disponível em: https://
www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document/livro-abc-5-
edicao_2.pdf. Acesso em: 25 jun. 2020.
A obra compartilha o conhecimento da instituição nas politicas públicas 
de prevenção, detecção e controle do câncer com alunos dos cursos da área 
da saúde.
A incidência, a morbidade hospitalar e a mortalidade são medidas de controle para a vigilância 
epidemiológica que permitem analisar a ocorrência, a distribuição e a evolução das doenças. A base para 
a construção desses indicadores são os números provenientes, principalmente, dos registros de câncer e 
do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. A tabela a seguir ilustra a 
incidência estimada conforme a localização primária do tumor e sexo no Brasil em 2020.
Tabela 4 – Incidência estimada conforme a localização 
primária do tumor e sexo, no Brasil em 2020
Homens Mulheres
Localização primária Casos (%) Localização primária Casos (%)
Próstata 65.840 (29,2%) Mama feminina 66.280 (29,7%)
Traqueia, brônquio e pulmão 20.520 (9,15) Cólon e reto 20.470 (9,2%)
Cólon e reto 17.760 (7,9%) Colo do útero 16.590 (7,4%)
Estômago 13.360 (5,9%) Traqueia, brônquio e pulmão 12.440 (5,6%)
Cavidade oral 11.180 (5,0%) Glândula tireoide 11.950 (5,4%)
Adaptada de: Inca (2020). 
No tratamento do câncer, pode-se utilizar diferentes métodos: 
•	 tratamento com o uso de radiação (radioterapia); 
•	 transplante de medula óssea (aplicado nos casos de anemia aplástica grave, mielodisplasias, 
leucemia mieloides e linfoide); 
249
FARMACOLOGIA
•	 tratamento com hormônios;
•	 uso de fármacos antineoplásicos (quimioterapia).
A teleterapia ou braquiterapia parte do princípio de usar radiação para destruir células tumorais e/ou 
impedir o seu crescimento com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do paciente. Por outro lado, 
a radioterapia apresenta como efeitos colaterais cansaço, perda de apetite e reação na pele.
Um dos objetivos primordiais da quimioterapia antineoplásica é criar um evento citotóxico e 
antiproliferativo na célula tumoral, como a inibição de uma via metabólica essencial à célula tumoral 
ou a interferência nos processos de tradução, transcrição e replicação do seu código genético (DNA). 
A alteração nesse ciclo proliferativo da célula tumoral leva-a a apoptose.
De modo geral, a terapia antineoplásica apresenta como características a interferência no crescimento 
tanto em células neoplásicas como normais (geralmente apresentam baixa especificidade) e devem 
causar um maior dano às células malignas.
 Observação
Segundo a revista The Economist (2017), o gasto do sistema público de saúde 
brasileiro com o tratamento de câncer (cirurgia, quimioterapia e radioterapia) 
tende a crescer e alcançou cerca de um bilhão de dólares em 2015.
8.1 Tipos e finalidades da quimioterapia
A farmacologia antineoplásica pode ser considerada curativa, adjuvante, neoadjuvante (prévia) e 
paliativa, dependendo do seu objetivo e do quadro clínico do paciente. A terapia é considerada curativa 
quando consegue um controle completo do tumor, eliminando a totalidade das células neoplásicas 
e gerando ao paciente uma maior sobrevida livre da doença. A terapia antineoplásica adjuvante é 
realizada após uma cirurgia inicial e terá como objetivo erradicar as células tumorais residuais, locais 
ou circulantes, muitas vezes, indetectáveis, diminuindo assim a probabilidade de metástases. O uso 
da terapia antineoplásica adjuvante se baseia em critérios como o grau de extensão do tumor, a 
existência de neoplasias em linfonodos e características histológicas do tumor. De modo geral, a terapia 
antineoplásica adjuvante tem aumentado a sobrevida dos pacientes livres da doença e o índice de cura 
em cânceres de mama e coloretal. 
Outro tipo de tratamento antineoplásico é a terapia neoadjuvante. Nesse caso, a quimioterapia é 
realizada antes da cirurgia. O princípio do tratamento é ter diminuição da massa tumoral e, desse modo, 
poder preservar pelo menos parcialmente a função do órgão, devido a uma menor remoção subsequente 
do órgão. O uso da terapia neoadjuvante tem melhorado a sobrevida dos pacientes com cânceres de 
mama, cabeça e pescoço, câncer esofágico, de pulmão, bexiga e reto. A terapia neoadjuvante pode 
apresentar como vantagem a avaliação à resposta ao tratamento: se um tumor primário não responder 
à terapia, é bem provável que um novo esquema terapêutico deverá ser empregado após a cirurgia, com 
o objetivo e erradicar possíveis micrometástases. 
250
Unidade III
A terapia antineoplásica paliativa é aplicada em estágios avançados do câncer, em que a 
probabilidade de controlar a doença está fora do alcance médico e farmacológico e, nesse caso, o 
objetivo da terapia não é a cura, mas sim diminuir os sintomas, melhorar a qualidade de vida do 
paciente e a sobrevida.
N
úm
er
o 
de
 c
él
ul
as
 c
an
ce
ro
sa
s
Cirurgia Radioterapia
1012
1010
108
106
104
102
Tempo
Câncer detectável
Tratamento local
Resistência 
ou toxicidade
Morte
Paliação
Cura Cura
Câncer 
não detectável
A
B C
D
Figura 92 – Modelo de matança celular logarítmica do crescimento e regressão tumorais. De acordo com o modelo de matança 
celular logarítmica, os efeitos da quimioterapia antineoplásica podem ser considerados como um processo de primeira ordem, 
isto é, uma determinada dose de fármaco mata uma fração constante de células tumorais, e o número de células destruídas 
irá depender do número total de células remanescentes. As quatro curvas representam quatro possíveis desfechos da terapia 
antineoplásica. A curva A é a curva de crescimento do câncer não tratado. O câncer continua crescendo com o decorrer do 
tempo, levando finalmente à morte do paciente. A curva B representa o tratamento local curativo (cirurgia e/ou radioterapia) 
antes da disseminação metastática da neoplasia maligna. A curva C representa o tratamento local do tumor primário, seguido 
imediatamente de quimioterapia sistêmica administrada em ciclos (setas para baixo) para erradicar as células cancerosas 
metastáticas remanescentes. Observe que cada ciclo de quimioterapia reduz o número de células cancerosas por uma fração 
constante (aqui, em cerca de dois “logs”, ou aproximadamente 99%) e que ocorre algum crescimento do câncer na medida 
em que os tecidos normais têm tempo para se recuperar entre os ciclos de quimioterapia. A curva D representa o tratamento 
local seguido de quimioterapia

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