Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HEPATITES VIRAIS E INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA HEPATOLOGIA 1 Eduardo Siqueira Insuficiência Hepática Aguda Definições Paciente precisa ter Injúria hepática aguda Desenvolver encefalopatia hepática INR ≥ 1,5 Ausência de hepatopatia prévia Duração < 26 semanas (não pode ser um cirrótico) Evolução Hiperaguda: < 7 dias Aguda: 7-21 dias* Subaguda: > 21 dias e < 26 semanas (pior prog- nóstico). *Intoxicação por paracetamol Insuficiência Hepatocelular Síndrome Ictérica Pele amarelada ↑ Bb direta Fadiga Eritema malar + ↑ TAP ↓ Albumina Anemia Plaquetopenia USG com alteração hepática ↓ Síndrome de insuficiência hepática Arquitetura Hepática Os hepatócitos estão organizados em muros que formam estruturas poligonais, no meio temos a veia centro-lobular, e nos vértices, os espaços-porta. Cirrose Não é sinônimo de fibrose Quando as traves fibróticas surgem, elas acabam isolando os hepatócitos em nódulos de regeneração (deixar de ser funcionais). Cirrose tem fibrose “Cirrose = Fibrose + Nódulos de Regeneração” O desarranjo estrutural é mais importante do que a perda de células parenquimatosas. Causas → “VAT” - V: Vírus (HBV e HCV) - A: Autoimune (Hepatite auto-imune e cirrose biliar primária). - T: Tóxica (DAT - drogas, álcool, triglicerídeos). No álcool tem aumento de parótidas com AST > ALT. Etiologia A - Hepatite A, Acetaminofeno, Autoimune B - Hepatite B, Budd-Chiari C - Hepatite C, CMV, Criptogênico D - Hepatite D, drogas E - Hepatite E, EBV F - “Fatty” (esteatose, gravidez, Reye - AAS) G - “Genético” (Wilson) H - Hipoperfusão (hepatite isquêmica), HELLP, Hepatectomia I - Infiltração tumoral Drogas e Hepatites Virais São as principais, sendo a secunda tendo como a mais comum a hepatite B. A primeira é mais prevalente nos EUA, UK, Austrá- lia. A secunda é mais comum na França, Japão, Brasil Hepatite Virais 1º - HEV em gestantes (15-25%) 2º - Coinfecção B + D 3º - HBV (↑ risco se imunossupressão ou QT) 4º - HAV 5º - HCV (coinfecção com HBV) Outros: Herpes simples, CMV, EBV, adenovírus Drogas Hepatotoxicidade direta (previsível) - Dose-dependente 1 HEPATITES VIRAIS E INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA HEPATOLOGIA 1 Eduardo Siqueira - Acetaminofeno (paracetamol) é o principal - Dose terapêutica máxima → 4 g/dia - Relacionado à tentativa de suicídio e intoxica- ção sem intenção (fármacos com paracetamol as- sociado). - Droga metabolizada no fígado, em associação com sulfato/glicuronídeo até ser excretado na urina - 5% permanece na forma intacta e também é eliminada na urina - 5% através da P450 é transformada em NAPQI (radicais livres dentro do hepatócito) é o que vai causar a hepatotoxicidade. Glutation é responsável por quelar essa molécula para evitar a toxicidade. - Quando tem dose excessiva, tem uma super saturação da fase do sulfato/glicuronídeo, aumen- tando dessa forma a conversão para NAPQI. O organismo não consegue degradar essa quantida- de grande (acúmulo tóxico) → Hepatotoxicidade. - Outros: Álcool, Anticonvulsivantes, Hepato- patia prévia. - Mesmo em doses terapêuticas de paracetamol quando associado à esses outros fatores. Reação idiossincrásica (imprevisível) Genético Doença de Wilson ↓ Exceção biliar → ↑ Cobre Forma hepática - Fulminante - Crônica ativa/cirrose Forma neuropsiquiátrica - Distúrbios do movimento (parkinsonismo) - Alteração da personalidade / psicose - Anéis de Kayser-Fleisher Particularidades - Jovem de 5-30 anos - Pode ter anemia hemolítica com Coombs nega- tivo (não é imune) - Presença dos anéis em 98% dos pacientes com lesão no SNC. Diagnóstico - Diminuição da ceruloplasmina + - Aumento do cobre (livre, urinário e hepático) + - Anéis de KF Obs: O cobre liga-se à ceruloplasmina; se o cobre não consegue ligar-se à ceruloplasmina, tal como ocorre na doença de Wilson, esta é rapidamente de- gradada. Triagem - ↓ Ceruloplasmina Tratamento - Quelante: Trientina / Penicilamina - Transplante: Casos graves / refratários Manifestações Clínicas Clássica Injúria hepática + Encefalopatia + INR ≥ 1,5 Início Inespecífico Anorexia Fadiga Letargia Náuseas Vômitos Icterícia e alterações mentais progressivas Prurido Dor no QSD Encefalopatia Hepática Obs: O que vai garantir o diagnóstico é a presen- ça de encefalopatia hepática. Grau 1 → Confusão leve; alteração do comporta- mento e sono. Grau 2 → Letargia, confusão moderada, Flapping positivo. 2 HEPATITES VIRAIS E INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA HEPATOLOGIA 1 Eduardo Siqueira Grau 3 → Confusão acentuada, fala incoerente, flapping positivo Grau 4 → Coma, sem resposta à dor, flapping negativo. Esse quadro esta associado em grande maioria com edema cerebral. É a principal causa de morte desses pacientes, podendo até ter herniação encefá- lica e convulsões. - Encefalopatia grau 1 e 2 → Ausente - Encefalopatia grau 3 → 25-35% - Encefalopatia grau 4 → 75% Exame das pupilas (existência ou não de edema) - Grau 1 → Normal - Grau 2 e 3 → Hiperresponsivas (já pode ter) - Grau 3 e 4 → Hiporresponsivas - Herniação cerebral → Midríase fixa Tríade de Cushing - Hipertensão - Bradipneia - Bradicardia Crises convulsivas Manifestações Laboratoriais Clássica ↑ TAP / RNI ↑ Bb ↑ ALT / AST ↓ Plaquetas Falência hepática/renal Tromboelastograma: 35% são hipercoagulável - Mesmo tendo déficit dos fatores de coagulação, mas, 35% dos casos tem um estado de hipercoa- gulabilidade. - 20% tem risco de hemorragia - Não há indicação de repor plasma pra esses pacientes. E a albumina? Como é uma doença que acontece muito rápido (7 dias) não altera valores de albumina, pois o tempo de vida dela é de 21 dias, ou seja, ela gasta 21 dias para diminuir. Se TAP/RNI e Bb aumentarem e aminotransfera- ses diminuirem é indicador de piora clínica. Agora, se queda de TAP/RNI e Bb pode indicar também piora clínica ou até mesmo falência total he- pática. Pistas para etiologias específicas… Acetaminofeno - ALT/AST > 3500 - ↓ Bb Isquemia hepática - ALT/AST > 25-250x LSN (É a que mais aumenta aminotransferase) - ↑ LDH (devido à isquemia generalizada) Doença de Wilson - Relação AST/ALT > 2 - Isquemia generalizada → Liberação de cobre - Anemia hemolítica (devido ao excesso de CU) - Coombs negativo - ↓ Ácido úrico (CU lesa túbulo renal) - ↓ FA (pode estar normal também) - O CU é tóxi- co. Síndrome HELLP - ALT/AST < 1000 - ↓↓ Plaquetas HSV - Leucopenia - Rash disseminado AUMENTA DIMINUI Azotemia (30-70% com ↓ da Ur) Anemia Acidose/alcalose ↑ Amilase/lipase Hipoglicemia Hiperamoniemia Hipocalemia ↑ LDH Hipofosfatemia Hipomagnesemia 3 HEPATITES VIRAIS E INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA HEPATOLOGIA 1 Eduardo Siqueira Estadiamento e Prognóstico Child-Pugh > 5 critérios “BEATA” A → Score de 5-6 pontos B → Score de 7-9 pontos C → Score de 10-15 pontos Escore MELD Bb RNI Creatinina Obs: Estabelece prioridade na fila de transplante Diagnóstico Confirmação Injúria hepática + encefalopatia + RNI ≥ 1,5 antes de 26 semanas. Diagnóstico Etiológico Tem de 60 a 80% de sucesso!!! Em alguns casos, você fazendo o transplante você reverte o quadro do paciente, garantindo a vida dele. Sequência - Anamnese - EF - Avaliação laboratorial extensa - Imagem (AngioTC ou AngioRM - Contraindicado em insuficiência renal). O principal exame de ima- gem é o USG-Doppler (o fígado pode parecer no- dular). - Biópsia hepática Biópsia hepática É utilizado em casos de dúvida da etiologia com os exames anteriores. A via preferência é a via transjugular (causa me- nos hemorragia). Diagnóstico Diferencial Pérolas do dx dif… IHA x Hepatite aguda grave = A primeira tem como definição a encefalopatia associado a outros fatores, já a secunda não tem. Tem ↑ do RNI em am- bas. IHA x Doença de Wilson = Pode ter quadro que não leva a encefalopatia,mas tem manifestações da doença propriamente dita que são neurológicas (pre- cedem o dano hepático). Ou seja, “Neuro-Wilson” ≠ Encefalopatia hepática. Wilson tem sintomas de par- kinsonismo, distonia e disartria prévias. Tratamento Medidas Gerais Transferência para centro capaz de transplante Internar no CTI (pode evoluir rápido do grau 1 para o grau 2) ↓ Estímulos ambientais (↓ PIC, convulsões): Pode até ser o estímulo que faltava para uma herniação encefálica. Manuseio hidroeletrolítico Hidratação venosa - SF 0,9% - PAM: 75 mmHg Hipotensão persistente? - Norepinefrina (< vasoconstricção esplênica) - Em casos extremos pode associar outros - Refratário: Hidrocortisona Se acidose - Repor HCO3 IV - Melhorar responsividade Se hipoglicemia - Repor IV (manter > 65 mg/dl) Corrigir demais distúrbios eletrolíticos. Dados clínicos e laboratoriais Pontuação 1 2 3 Bb (mg/100ml) < 2 2-3 > 3 Encefalopatia - Grau 1 e 2 Grau 3 e 4 Albumina > 3,5 2,8 a 3,5 < 2,8 Tempo de Protrombina / RNI 0 a 3 4 a 6 > 6 Ascite - Leve Mod/Grav 4 HEPATITES VIRAIS E INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA HEPATOLOGIA 1 Eduardo Siqueira N-Acetilcisteína (NAC) É o antídoto em casos de intoxicação por parace- tamol. Atualmente, mesmo aquele paciente que tem insuficiência hepática não por causa do paracetamol. Sendo também, aquele paciente que o paracetamol está piorando o quadro do paciente. Insuficiência hepática de origem indeterminada também é indicação do protocolo acima. Age repondo os estoque de glutation. Possível benefício somente se encefalopatia inicial Protocolo Início: 150 mg/kg/h por 1 hora 2ª etapa: 12,5 mg/kg/h por 4 horas 3ª etapa: 6,25 mg/kg/h por 67 horas Controle/Prevenção de Hemorragias IBP ou BH2 (HDA é o sítio + comum) Plasma profilático não altera mortalidade aqui, não é indicado! - Interfere na monitorização do INR - Risco de hipervolemia - INR: Não é um bom parâmetro para chance de hemorragia. Ele é bom para diagnóstico e trata- mento. Obs: INR não prevê hipocoagulabilidade na IHA - Cumarínicos → Block da vitamina K Indicação de Plasma Sangramento ativo ou pré-procedimento - Tromboelastograma (TEG) OU - Dosar fibrinogênio Prevenção de Infecções Após diagnóstico de IHA cerca de 30% dos paci- entes já possui um foco infeccioso ← ATB empírico. Pacientes com IHA tem infecção frequente. Guideline AASLD Tem que fazer todo dia mesmo sem sintomas - Escarro - Sangue - Urina - Rx de tórax ATB profilático? Não é mais utilizado ATB terapia? Sim… - Evidência de infecção - Cultura positiva - SIRS - ↑ Encefalopatia / IRA Qual? Drogas que não são hepatotóxicas - Fluoroquinolona OU - Piperacilina-Tazobactam Evitar amoxicilina com clavulanato; aminoglicosí- deo. Considerar Antifúngico empírico: - Internação prolongada - Hemodiálise contínua - Uso prévio de ATB - Uso prévio de glicocorticoide Nutrição Evitar catabolismo proteico, pois pode levar a hi- poventilação e instabilidade hemodinâmica. Introdução de proteínas → Cuidado com aumento de amônia. Protocolo Recomendação atual: 60 g de proteína/dia Carboidrato Eletrólitos Encefalopatia grau 1 e II → Dieta oral Encefalopatia grau III e IV → Dieta enteral Tem chance aumenta de edema cerebral Para passar o cateter CNG tem que sedar e intu- bação o paciente, por que pode alterar PIC e causar herniação encefálica. Parenteral Só se dieta enteral insuficiente… Encefalopatia Hepática Lactulose? Controverso (muito bom para crônico) Neomicina? Evitar (nefrotóxico) Rifamicina? Controverso (poucas evidências) 5 HEPATITES VIRAIS E INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA HEPATOLOGIA 1 Eduardo Siqueira Monitoriza PIC? Estudos não mostram diferença entre paciente monitorizado e não monitorizado, mas na prática faz sim!!! Cateter para PIC Somente em encefalopatia grau IV ou grau III de- teriorando rápido. Qual o cateter? Cateter epidural (menor chance de infecção e hemorragia). Medidas sem benefício Glicocorticoides (exceto hepatite autoimune) Insulina + Glucagon (regeneração hepática) Hemoperfusão com Carvão PGE2 Tratamentos Específicos Acetaminofeno Ideal: até 8 horas após ingesta Hepatite B Antivirais - Tenofovir Cogumelos Anita muscaria e faloides Antídoto: Carvão ativado (0,5 g/kg de 4/4 horas, por 4 dias). Budd-Chiari Trombolíticos TIPIS Cirurgia HSV Aciclovir (5-10 mg/kg de 8/8 horas por 7 dias) Wilson Plasmaférese (quelante não) HAI Glicocorticoide (PDN ou prednisolona) Gravidez Interrupção da gravidez Transplante Hepático Quando? Desafio → Avaliação do paciente em tempo inte- gral para preenchimento de critérios para transplante. Quando necessita de transplante por IHA o paciente sobe para o primeiro da fila. Saber qual o doente que tem listar para transplan- te e ele ter melhora espontânea, ou aquele paciente que precisa de transplante urgente. Então, o desafio aqui é determinar a chance de recuperação espontânea!! Critérios de King’s College (prognóstico pior) IHA por paracetamol - pH < 7.30 OU - Encefalopatia III-IV + TAP > 100s + Cr > 3.4 IHA por outras causas - TAP > 100s OU 3 de: - 1. Idade < 10 ou > 40 anos - 2. Hepatite não A/B, halotano ou idiossincrasia - 3. Icterícia > 7 dias antes da encefalopatia - TAP > 50s - Bb > 18 mg/dl 6 Paciente precisa ter Evolução Insuficiência Hepatocelular Drogas e Hepatites Virais Genético Clássica Início Inespecífico Clássica Falência hepática/renal Child-Pugh > 5 critérios “BEATA” Escore MELD Confirmação Diagnóstico Etiológico Pérolas do dx dif… Medidas Gerais N-Acetilcisteína (NAC) Controle/Prevenção de Hemorragias Prevenção de Infecções Nutrição Encefalopatia Hepática Medidas sem benefício Tratamentos Específicos Transplante Hepático
Compartilhar