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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA ........................................................ 4 1.1 Fenômenos em Psicopatologia ............................................................ 5 2 O normal e o patológico .............................................................................. 9 3 O diagnóstico em saúde mental ................................................................ 11 3.1 Avaliação Psicopatológica .................................................................. 13 4 As funções mentais ................................................................................... 14 4.1 Transtornos Mentais ........................................................................... 15 4.2 Manifestação dos sintomas e transtornos mentais ............................. 16 5 Síndromes Depressivas ............................................................................ 17 6 Síndromes Maníacas e Transtorno Bipolar ............................................... 19 7 Síndromes Ansiosas ................................................................................. 22 7.1 Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG .................................. 22 7.2 Crises de Pânico ................................................................................ 23 7.3 Transtorno de Pânico ......................................................................... 23 7.4 Transtorno Fóbico .............................................................................. 23 7.5 Transtorno de Estresse Pós-Traumático ............................................ 24 7.6 Transtorno Obsessivo Compulsivo ..................................................... 24 7.7 Transtorno Hipocondríaco .................................................................. 24 8 Síndromes Psicóticas ............................................................................... 25 8.1 Esquizofrenia ...................................................................................... 25 8.2 Transtorno Delirante ........................................................................... 26 8.3 Transtorno Esquizoafetivo .................................................................. 27 9 Síndrome Psicomotora.............................................................................. 27 9.1 Síndrome de Agitação Psicomotora ................................................... 27 9.2 Síndromes de Estupor ........................................................................ 28 2 9.3 Síndrome de Comportamento Disruptivos na Infância e Adolescência 28 9.4 Transtorno disruptivos da desregulação do humor ............................ 29 9.5 Transtorno de Oposição Desafiante ................................................... 29 9.6 Transtorno da Conduta....................................................................... 29 9.7 Transtorno Explosivo Intermitente ...................................................... 30 10 Transtornos Alimentares ........................................................................ 30 10.1 Anorexia Nervosa ............................................................................ 31 10.2 Bulimia Nervosa .............................................................................. 32 11 Transtorno devido ao uso de substâncias e comportamentos aditivos .. 33 11.1 Transtornos por uso de substâncias ............................................... 34 11.2 Transtornos induzidos por substâncias ........................................... 35 11.3 Transtornos por uso do álcool ......................................................... 35 11.4 Transtornos por uso da maconha ................................................... 35 11.5 Transtorno por cocaína e crack ....................................................... 36 12 Transtornos associado ao sono ............................................................. 37 12.1 Transtorno de insônia ..................................................................... 37 12.2 Transtorno de hipersonolência ........................................................ 38 12.3 Síndrome das pernas inquietas ....................................................... 38 12.4 Transtornos do sono relacionados à respiração ............................. 39 12.5 Transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano .............................. 39 12.6 Narcolepsia ..................................................................................... 40 12.7 Parassonias .................................................................................... 40 13 Sexualidade e Psicopatologia ................................................................ 40 14 Transtornos ou disfunções sexuais ....................................................... 41 14.1 Disfunções do desejo e da resposta sexual .................................... 41 14.2 Transtornos parafílicos e parafilias ................................................. 42 3 14.3 Homofobia e Transfobia .................................................................. 42 15 Transtornos Neurocognitivos ................................................................. 43 16 Demências e outros transtornos neurocognitivos de longa duração ..... 43 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 46 4 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA Segundo o autor Campbell (1986), a psicopatologia é o ramo da ciência que cuida da natureza essencial da doença ou transtorno mental, quais são suas causas, as mudanças estruturais e funcionais a ela associadas e suas maneiras de manifestação. Numa compreensão mais ampla, a psicopatologia pode ser descrita como o conjunto de conhecimentos pertinentes ao adoecimento mental do ser humano. É um conhecimento que busca ser organizado, esclarecedor e desmistificante. Fonte: i.ytimg.com Estudo que propõe ser científico, a psicopatologia não abarca parâmetros de valor, tão pouco acolhe supostas verdades. No estudo e na prática da psicopatologia, não há preconceitos ao que se estuda; tem como objetivo a observação, identificação e compreensão dos diferentes componentes do transtorno mental. Na psicopatologia não se aceita suposições, verdades rígidas, inflexíveis, seja qual for sua natureza, filosófica, religiosa, biológica ou psicológica. Portanto o entendimento buscado está propício a reavaliações, considerações, reestruturações contínuas. O campo da psicopatologia inclui uma variedade de fenômenos humanos especiais, associados ao que se denominou historicamente de doença 5 mental. São vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica (as vivências das pessoas com doenças mentais apresentam dimensão própria, genuína, não sendo apenas “exageros” do normal) e, por outro, conexões complexas com a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é totalmente estranho ao mundo das experiências psicológicas “normais”). (Dalgalarrondo, 2019) Para Dalgalarrondo (2019), apesar de se beneficiar das tradições neurológicas, psicológicas e filosóficas, a psicopatologia não se confunde com a neurologia das chamadas funções corticais superiores (não se resume, portanto, a uma ciência natural dos fenômenos relacionados às zonas associativas do cérebro lesado) nem com a hipotética psicologia das funções mentais desviadas. Assim, podemos defini-la como uma ciência autônoma, e não um prolongamento da neurologia, da neuropsicologia ou da psicologia (seja ela experimental, seja ela psicométrica ou social). Ela é ricamente nutrida por essas tradições, mas não se confunde com elas. “[...] quanto mais reconhece e caracteriza o típico, o que se acha de acordo com os princípios, tanto mais reconhece que, em todo indivíduo, se oculta algo que não pode conhecer” (Jaspers, 1979, p. 12).1.1 Fenômenos em Psicopatologia O conhecimento pela doença ou transtorno mental, se dá pela observação minuciosa de suas manifestações, assim como qualquer busca por conhecimentos. A observação propicia a exposição dos fenômenos e sua disposição. Que irá determinar, especificar, organizar o objeto de estudo em certa concepção, se direcionando com determinada coerência na observação e classificação. Dalgalarrondo (2019) classifica três distintos tipos de fenômenos humanos na psicopatologia, sendo eles: Fenômenos semelhantes em todas ou quase todas as pessoas. É o plano dos fenômenos psicológicos, fisiológicos, daquilo que é o normal. De modo geral, todo ou quase todo ser humano sente fome, sede ou sono. Aqui se inclui também o medo de um animal perigoso, a ansiedade perante desafios difíceis, o desejo por uma pessoa amada, etc. Embora haja uma qualidade pessoal própria para cada ser humano, certas experiências são basicamente semelhantes para todos. 6 Fenômenos em parte semelhantes e em parte diferentes. É o plano em que o psicológico e o psicopatológico se sobrepõem. São fenômenos que o ser humano comum experimenta, mas que apenas em parte são semelhantes aos vivenciados pela pessoa com transtorno mental. Assim, todo indivíduo comum pode sentir tristeza, mas a alteração profunda, avassaladora, que uma paciente com depressão psicótica experimenta é apenas parcialmente semelhante à tristeza normal. A depressão grave, por exemplo, com ideias de ruína, lentificação psicomotora, apatia, etc., introduz algo qualitativamente novo na experiência humana. Fenômenos qualitativamente novos, distintos das vivências normais. É o campo específico das ocorrências e vivências psicopatológicas. São praticamente próprios a apenas (ou quase apenas) certas doenças, transtornos e estados mentais. Aqui, incluem-se alguns fenômenos psicóticos, como alucinações e delírios, ou cognitivos, como turvação da consciência, alteração da memória nas demências, entre outros. De acordo com Dalgalarrondo (2019), a psicopatologia é, por natureza e destino histórico, um campo de conhecimento que requer debate constante e aprofundado, no qual não há e não pode haver uma teoria ou perspectiva amplamente hegemônica. Aqui, o conflito de ideias não é uma debilidade, mas uma necessidade. Não se avança em psicopatologia negando e anulando diferenças conceituais e teóricas; evolui-se, sim, pelo esforço de esclarecimento e aprofundamento de tais diferenças, em discussão aberta, desmistificante e honesta. Dentre as principais linhas de estudo da psicopatologia que se dispõe de modo aleatório, devido rigorosas razões didáticas, pode-se destacar: PSICOPATOLOGIA DESCRITIVA E PSICOPATOLOGIA DINÂMICA – a psiquiatria descritiva, refere-se especialmente a definição das maneiras que ocorrem as mudanças psíquicas, a organização dos sintomas, detalha e qualifica a manifestação doentia como sinais quase que específicos. A psiquiatria dinâmica se volta para a essência das experiências, as mudanças intrínsecas dos afetos, vontades e receios da pessoa. A prática em saúde mental requer a conciliação de ambas abordagens descritiva dinâmica. 7 Quando um médico se defronta com a grande tarefa de ajudar uma pessoa psiquicamente enferma, vê à sua frente dois caminhos: ele pode registrar o que é mórbido. Irá, então, a partir dos sintomas da doença, concluir pela existência de um dos quadros mórbidos impessoais que foram descritos. [...] ou pode trilhar outro caminho: pode escutar o doente como se fosse um amigo de confiança. Nesse caso, dirigirá a sua atenção menos para constatar o que é mórbido, para anotar sintomas psicopatológicos e, a partir disso, chegar a um diagnóstico impessoal, e mais para tentar compreender uma pessoa humana na sua singularidade e co-vivenciar suas aflições, seus temores, seus desejos e suas expectativas pessoais (Bleuler, 1985, p. 1). PSICOPATOLOGIA MÉDICA E PSICOPATOLOGIA EXISTENCIAL – Na concepção médica o estudo se volta para o corpo humano, na biologia do ser, como ser universal. Então o sofrimento mental é descrito como desajuste, transtorno, alteração no cérebro ou parte dele, o sistema biológico. Na concepção existencial, a percepção do paciente é em sua vivência individual, única, como um ser natural e biológico, na sua extensão fundamental, ser substancialmente histórico e humano. Nessa concepção a construção do ser se dá através de suas vivências sociais, singulares, que são determinantes para sua construção pessoal. Aqui o sofrimento mental tem sua causa tanto no desajuste psicológico quanto biológico, significando a singularidade de cada ser que se constrói em grande parte de maneira dolorosa. PSICOPATOLOGIA COMPORTAMENTAL/COGNITIVISTA E PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA – Sob o olhar comportamental, o indivíduo é percebido como um complexo com comportamentos perceptíveis, passível de dimensionar, controlados por impulsos peculiares e comuns, como também pelas consequências inerentes aos comportamentos. O comportamento se fundamenta em determinados preceitos e motivadores do conhecimento. Não separada do olhar comportamental, a concepção cognitiva, focaliza nas abstrações cognitivas singular de cada pessoa. As abstrações são fundamentais para desenvolvimento mental, seja ele são ou doentio. As manifestações dos sinais procedem de comportamentos e abstrações desequilibrados, assimilados e ampliados a partir das vivências social e familiar. Já a concepção psicanalítica vê o indivíduo como um ser determinado por vários fatores, comandado por energias, vontades, confrontos internos, inconscientes. Nessa perspectiva os afetos têm relevância, pois seriam eles que controlam a psique. O autocontrole, a coerência, autonomia aqui é um devaneio para o ser humano. 8 PSICOPATOLOGIA CATEGORIAL E PSICOPATOLOGIA DIMENSIONAL – A linha de estudos categorial classifica as doenças mentais, descrições específicas, particularizadas, muito bem delimitados, com caráter biológico, da qual o reconhecimento rigoroso, estabelece um dos papéis da psicopatologia. Deste modo as patologias são identificadas em sua natureza básica, pois nessa perspectiva há a distinção clara das mesmas. Paralelo ao estudo categorial, tem a linha de estudo dimensional, que se aproxima mais à rotina da clínica. Nessa perspectiva as patologias são dimensionadas por exemplo a esquizofrenia tem formas mais ou menos deteriorantes, com sintomas/comprometimentos leves à graves. Nesse sentido podemos exemplificar as extremidades dimensionais em psicopatologia como: depressão moderada, bipolar ou grave, transtornos afetivos menores, esquizofrenia benigna ou deficitária. PSICOPATOLOGIA BIOLÓGICA E PSICOPATOLOGIA SOCIOCULTURAL – A perspectiva biológica se volta para os aspectos neurofisiológicos, cerebrais das doenças mentais. Nesse viés, o todo transtorno mental ocorre devido alterações nos mecanismos neurais e de áreas específicas, no funcionamento cerebral. O psiquiatra Griesinger (1997) sintetiza essa concepção “[...] doenças mentais devem ser vistas como afecções do cérebro”. Já na perspectiva sociocultural os transtornos mentais são entendidos como condutas divergentes, que se manifestam em resposta a condições socioculturais, tais como migração, pobreza, discriminação, estresse ocupacional entre outros. Analisados sob o olhar de seu cenário sociocultural, histórico e simbólico. Os transtornos e sintomas são significados de acordo com os valores e normas culturais eminentes, sendo passíveis de estudos, uma vez que a cultura é fator substancial na delimitação entre o normal e patológico, desde o estabelecer de um transtorno à terapêutica que trata destes. PSICOPATOLOGIA OPERACIONALPRAGMÁTICA E PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL – A atuação operacional-pragmática, delineia os sintomas e transtornos de modo eventual, de acordo com seu aproveitamentoprático, direcionado à produção de estudos. Nesse olhar, a essência das doenças e sintomas e seu embasamento não são relevantes. Em contrapartida a concepção da psicopatologia 9 fundamental, concentra-se no embasamento teórico e histórico de toda definição patológica, que realça a ideia de doença mental como suplício, indiferença, paixão. Tais divisões denotadas expõe a diversidade conceitual assim como aplicabilidade prática das abordagens. Percepções que agregam de modo imparcial são mais interessantes, pois sobressaem às divisões dos aspectos ambientais e biológicos. 2 O NORMAL E O PATOLÓGICO Fonte: encrypted-tbn2.gstatic.com Para Almeida Filho (2000), o conceito de saúde e de normalidade em psicopatologia é questão de grande controvérsia, sendo fundamental o questionamento permanente e aprofundado sobre o que seriam o normal e o patológico. Determinar o que é normal ou patológico não é tarefa fácil, pois tal definição se relaciona ao que é desejável ou não, aprazível ou não, e mesmo que de modo implícito tendo a rotular a pessoa como normal ou anormal. Ademais, a conduta e a condição mental dos indivíduos são aspectos relevantes, inerentes aos propósitos humanos, que não permanece inerte no cuidado para com os sentimentos, condição mental e comportamento alheio. 10 Como afirma Dalgalarrondo (2019), classificar de normal/anormal ou patológico/saudável alguém cuja orientação do desejo erótico é homossexual ou cuja identidade de gênero é de transgênero afeta marcadamente milhares de pessoas reais, para as quais essas definições interferem diretamente em suas vidas. Assim, o debate sobre normalidade em psicopatologia é um debate vivo, intenso, interessado, repleto de valores (explícitos ou não), com conotações políticas e filosóficas (explícitas ou não) e conceitos que implicam o modo como milhares de pessoas serão situadas em suas vidas na sociedade. Casos onde o comprometimento mental é grave, produzindo distúrbios intensos, bem como psicose grave, demência profunda, delimitar entre o saudável e patológico é menos complexo. Todavia, em casos onde os sintomas/sinais são mais leves, e casos onde a definição é complexa, a definição entre saudável e patológico se torna delicado. O conceito de normalidade em psicopatologia também implica a própria definição do que é saúde e doença/transtorno mental. Os próprios termos levantam discussão. No século XIX, usava-se o termo “alienação”, oriundo do direito; no século XX, passou-se a usar o termo “doença mental”; e, nas últimas décadas, com os sistemas diagnósticos Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID) e Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM) ganhando protagonismo, passou-se a usar o termo “transtorno mental”. (Dalgalarrondo, 2019) Sobre a normalidade, Canguilhem (1978) diz, há vários e distintos critérios de normalidade e anormalidade em medicina e psicopatologia. A adoção de um ou outro depende, entre outras coisas, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional ou da instituição em que ocorre a atenção à saúde. Entre os critérios basilares acerca da normalidade aplicados na psicopatologia, podemos destacar: normalidade como ausência de doença, onde a ausência de sinais e sintomas é sinônimo de saúde, sendo este um critério muito precário por se embasar na negativa dos sintomas para determinar a normalidade, conforme cita LERICHE (1936), “a saúde é a vida no silêncio dos órgãos”; normalidade ideal, cria-se hipoteticamente um ideal que se constitui na sociedade, que dependerá dos aspectos ideológicos, dogmáticos, socioculturais de cada sociedade; normalidade estatística, este quantifica os fenômenos, sua ocorrência e regularidade, delimita-os na população, sendo também um critério falho, pois a frequência não significa que é saudável; normalidade como bem-estar, critério disposto pela Organização Mundial da Saúde e, 1946, 11 caracterizando a normalidade como bem-estar físico, mental e social, por ser muito amplo poucas pessoas se adequariam; normalidade funcional, relaciona-se a questões funcionais, onde patológico é quando o fenômeno é disfuncional, desestruturado causando dor, sofrimento ao indivíduo ou para os que estão ao seu redor; normalidade como processo, ressalta-se questões dinâmicas da evolução psicossocial, suas alterações ao longo do tempo, sua concepção é de grande utilidade quando se refere à psicopatologia clínica de crianças, adolescentes e idosos; normalidade subjetiva, a concepção subjetiva do indivíduo tem maior relevância no tocante a sua condição de saúde, tal critério deixa lacunas o sentir-se feliz ou saudável, pode estar presentes em muitas pessoas, inclusive em situação de fase maníaca do transtorno bipolar; normalidade como liberdade, onde a ausência, perda da liberdade de viver, existir é caracterizado como doença mental, como afirma Henry Ey (2008),[...] as enfermidades físicas são ameaças à vida, as enfermidades mentais são ataques à liberdade. [...] no transtorno mental [...] o processo mórbido travando, bloqueando, dissolvendo a atividade psíquica, diminui a liberdade e responsabilidade do paciente mental; normalidade operacional, tal critério é parcial, com desígnios objetivos e claros, ao determinar o que é normal e patológico, empenha-se funcionalmente acerca do conceito. Diante do exposto, percebe-se a variabilidade dos critérios de normalidade bem como sua aplicabilidade, que dependerá da orientação teórica do profissional ou instituição, não descartando a possibilidade da aplicação de diversos critérios. Contudo uma conduta de análise, atenta do profissional é necessária. 3 O DIAGNÓSTICO EM SAÚDE MENTAL Para o diagnóstico em saúde mental, faz-se necessário seguir alguns princípios das ciências médicas, que também apresentam questões singulares, como destaca Dalgalarrondo (2019): O diagnóstico de um transtorno psiquiátrico é quase sempre baseado preponderantemente nos dados clínicos. É importante ressaltar, entretanto, que os exames complementares (semiotécnica armada) não substituem o essencial do 12 diagnóstico psicopatológico: uma história clínica bem colhida e um exame do estado mental minucioso, ambos interpretados com habilidade; o diagnóstico psicopatológico, com exceção dos quadros psico-orgânicos (delirium, demências, síndromes focais, etc.), de modo geral, não é baseado em mecanismos etiológicos supostos pelo avaliador. Baseia-se principalmente no perfil de sinais e sintomas apresentados pelo paciente na história do transtorno, desde que surgiu até o momento atual da avaliação. De modo geral, não existem sinais ou sintomas psicopatológicos específicos de determinado transtorno mental; O diagnóstico psicopatológico é, em inúmeros casos, apenas possível com a observação do curso do transtorno. Dessa forma, o padrão evolutivo de determinado quadro clínico obriga o psicopatólogo a repensar e refazer continuamente seu diagnóstico. Uma das funções do diagnóstico em medicina é prever e prognosticar a evolução e o desfecho da doença (o diagnóstico deveria indicar o prognóstico). Ressaltou o psiquiatra brasileiro Leme Lopes (1954), o diagnóstico psiquiátrico deve ser sempre pluridimensional. Várias dimensões clínicas e psicossociais devem ser incluídas para uma formulação diagnóstica completa: identifica-se um transtorno mental como a esquizofrenia, a depressão, a dependência de álcool, etc., diagnosticam-se condições ou doenças ou condições físicas associadas (hipertensão, cirrose hepática, obesidade, etc.) e avaliam-se a personalidade e o nível intelectual desse paciente, sua rede de apoio social, além de fatores ambientais protetores ou desencadeantes; Confiabilidade e validade do diagnóstico em psicopatologia, a confiabilidade de um procedimento diagnóstico (técnica de entrevista padronizada,escala, teste, diferentes entrevistadores, etc.) diz respeito a sua capacidade de produzir, em relação a um mesmo indivíduo ou para pacientes de um mesmo grupo diagnóstico, em circunstâncias diversas, o mesmo diagnóstico. Ao mudar diferentes aspectos do processo de avaliação (avaliador ou momento de avaliação), o resultado final permanece o mesmo. Assim, quando a avaliação é feita por examinadores distintos ou em diferentes momentos, obtém-se o mesmo diagnóstico. Tem-se um indicador de reprodutibilidade do diagnóstico. 13 3.1 Avaliação Psicopatológica A avaliação dos pacientes em psicopatologia é realizada principalmente através de entrevistas. Esta não deve ser considerada superficial, apenas um questionar o paciente sobre determinados aspectos da vida. Na verdade, além da observação cuidadosa dos indivíduos, é também a principal ferramenta de conhecimento da psicopatologia. Por intermédio da entrevista feita com habilidades e estratégias, os profissionais podem obter valiosas informações clínicas diagnósticas, compreender a dinâmica emocional do paciente e, mais relevante, pragmaticamente, para as intervenções e planos de tratamento mais adequados. A prática profissional em saúde mental tem como pilares essenciais, atingir compreensão significativa do atendimento ao paciente, e nesse momento conduzir de maneira proficiente e produtiva. Os elementos centrais da avaliação na entrevista psicopatológica são a anamnese e exame psíquico. Inclui-se também a avaliação física, avaliação neurológica, avaliação psicológica (psicodiagnóstico), exames complementares. O método e a aptidão em desenvolver entrevistas são características essenciais e imprescindível do especialista da saúde mental em particular. Essa aptidão pode ser desenvolvida ou ser característica do perfil do especialista, de sua percepção das relações interpessoais, sendo neste caso instintiva. Em primeiro lugar, pode-se dizer que as habilidades do entrevistador são reveladas pelas perguntas que faz, pelas perguntas que evita e quando e como falar ou apenas pela decisão de calar-se. Uma particularidade essencial dos entrevistadores é a aptidão de estabelecer uma relação empática e tecnicamente útil com a prática clínica. O profissional deve ser capaz de acolher a dor do paciente, propiciar uma escuta qualificada, ouvindo suas dificuldades e características. Além de serenidade e respeito, os profissionais também precisam de certo temperamento e habilidade para instituir limites para os pacientes ofensivos ou severos, a fim de se proteger e garantir o contexto da entrevista. A entrevista bem desenvolvida dependerá do “felling” do profissional em discernir o momento em que se faz necessário ouvir o paciente com tranquilidade e atenção do momento em que sua intervenção e participação são mais significantes. 14 A primeira entrevista bem estruturada e elaborada é primordial para um bom desenvolver do tratamento, proporciona ao paciente segurança, alívio, confiança, do contrário onde a estruturação não existe, havendo desencontros, causando sentimentos de hostilidade no paciente, tende ao afastamento do tratamento. Dalgalarrondo (2019) destaca, logo no início, o olhar e, com ele, toda a comunicação não verbal já têm sua importância: é o centro da comunicação, que inclui toda a carga emocional do ver e ser visto, do gesto, da postura, das vestimentas, do modo de sorrir ou expressar sofrimento. “A primeira impressão tem o seu valor próprio e dificilmente poderá ser recapturada em ocasiões posteriores [...] com maior frequência, essa impressão é correta, mesmo que desapareça aos poucos ou passe a ser considerada como enganosa, quando a atenção estiver voltada para os detalhes, as ideias e as informações fornecidas pelo paciente”. Mayer-Gross, Slater e Roth (1976). 4 AS FUNÇÕES MENTAIS Fonte: super.abril.com.br Embora se perceba basilar a análise minuciosa das funções mentais estremadas tal como suas variações, importante salientar que a disjunção da atividade mental e da vida em diversos planos ou funções psíquicas mostra-se um movimento 15 por demais ilusório. Tal disjunção refere-se somente ao procedimento de interpretação da vida mental, demonstrando-se prestadio por um lado propiciando análise minuciosa de certas questões da vida psíquica (normal e patológica), porém perigoso, por tender a equívocos e reducionismo indevido, fomentando a crença na autonomia de tais fenômenos. O exercício clínico leva a presumir que a afetividade, memória, a vontade, a consciência sejam esferas autônomas e naturais, independentes. Nesse sentido Dalgalarrondo (2019) pontua, deixa-se de lembrar o que elas realmente são, isto é, construtos aproximativos da psicologia e da psicopatologia que permitem uma comunicação mais fácil e um melhor entendimento dos fatos. Que fique claro: não existem funções psíquicas isoladas e alterações psicopatológicas compartimentalizadas desta ou daquela função. É sempre a pessoa na sua totalidade que adoece. Na doença mental, discorre-se não somente sobre as séries dos sintomas que se manifestam com frequência expondo sua origem. Sendo tais sintomas, componentes da doença mental, conectados e dispostos entre si. A divisão de qualquer psicopatologia se torna perigoso para o diagnóstico. Em um ato psíquico, apenas pode ocorrer uma separação teórica, não uma separação real, entre as distintas qualidades psíquicas de que se trata. [...] na observação e descrição do mundo das manifestações psíquicas e psicopatológicas tendemos, de há muito, à fragmentação: descrevemos funções psíquicas singulares (como a sensação, a percepção, a atenção, a memória, o pensamento, o juízo). [...] se reunirmos estes fragmentos, ficamos com a impressão de que a vida psíquica pode ser compreendida como um mosaico, a partir de uma soma de manifestações isoladas. Esta impressão, não obstante, não corresponde à realidade. [...] cada função parcial na vida psíquica e cada aspecto da realidade psíquica só existem em vinculação estreita com toda a vida e com a realidade psíquica total. (Eugen Bleuler 1985, p. 16) 4.1 Transtornos Mentais De acordo com Ferreira (1999), transtorno tem por característica um comportamento que exprime contrariedade, decepção, marcadas por atitudes que revelam desarranjo ou desordem neurológica. Em alguns casos, o termo pode referir- se também a qualquer perturbação da saúde. Transtornos mentais (ou doenças mentais, transtornos psiquiátricos ou psíquicos, entre outras nomenclaturas) são condições de anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica, mental ou cognitiva. Em geral, um https://pt.wikipedia.org/wiki/Comportamento https://pt.wikipedia.org/wiki/Decep%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Neurologia 16 transtorno representa um significativo impacto na vida do paciente, provocando sintomas como desconforto emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória. Dentre os fatores causadores, a genética, a química cerebral (problemas hormonais ou uso de substâncias tóxicas que afetam o cérebro) e o estilo de vida são tidos como os principais desencadeadores dos diversos transtornos existentes. Doenças em outras partes do corpo podem afetar a mente, e inversamente, transtornos ou doenças mentais podem também desencadear outras doenças pelo corpo, produzindo sintomas somáticos. Uma doença ou transtorno mental pode ser cuidado por meio de intervenção medicamentosa, ou diversas formas de psicoterapia. O diagnóstico envolve o exame do estado mental e seu histórico clínico, podendo também ser utilizados testes psicológicos, exames neurológicos, de imagem e exames físicos. 4.2 Manifestação dos sintomas e transtornos mentais Importante destacar a particular ligação entre histórico de vida, eventos vitais e propósito de vida do indivíduo. Ademais, no que refere aos sintomasquanto às síndromes, interessante elucidar as prováveis condições que predispõe, tais como fatores genéticos, vivências emocionais tanto na infância como na adolescência, circunstâncias precedentes de vida e precipitantes como stress, rompimentos, causas atuais e o aparecimento dos desarranjos mentais. É indispensável atentar a forma que se manifesta no decorrer da vida, a junção das condições biológicas, psicológicas e sociais para a incidência de sintomas, síndromes ou transtornos mentais. Então em psicopatologia, acredita-se que junto às condições genéticas (gestacional e perinatal), que antecedem o começo da vida relacional do indivíduo, existem as razões predisponentes. No desenvolvimento gestacional, as pessoas trazem junto de si uma fragilidade própria, a hereditariedade, para os diversos transtornos. Tais razões predisponentes se constituem com a conexão da fragilidade própria e as vivências iniciais, que compõem a primeira e segunda infância. As síndromes são grupos de sinais e sintomas que se agregam de modo regular e são analisados na atuação clínica diária. Esses agrupamentos regulares dos sintomas, são desenvolvidos por diversas razões. De acordo com Lemes Lopes http://www.galenoalvarenga.com.br/testes-psicologicos http://www.galenoalvarenga.com.br/testes-psicologicos 17 (1980), identificar síndromes é o primeiro passo no sentido de ordenar a observação psicopatológica dos sinais e dos sintomas dos pacientes. O diagnóstico sindrômico é uma prática clínica simples, porém habilidosamente relevante no discernimento clínico. Segundo Van Den Berg (1970) é uma indicação preciosa para o diagnóstico. Desse modo, o discernimento clínico se desenvolve progressivamente no decorrer das avaliações iniciais, promovendo um entendimento mais intenso acerca do paciente e seu desarranjo mental. Para Dalgalarrondo (2019), é interessante e mais útil que os transtornos sejam definidos segundo sistemas internacionais de diagnóstico e classificação, estabelecidos por grupos de pesquisadores e profissionais experientes (como DSM-5 e CID-11), com vocabulário e construtos compreendidos e utilizados de forma estável pelos profissionais e pesquisadores, visto que, dessa forma, o conhecimento pode progredir no mundo todo, de modo mais rápido e fecundo. Em muitas situações clínicas, por dispor-se de pouca informação sobre o paciente, pela dificuldade intrínseca do caso ou pela insuficiência de conhecimento científico, faz-se necessário utilizar e se contentar provisoriamente com o diagnóstico sindrômico (Eisenberg, 1993). 5 SÍNDROMES DEPRESSIVAS Na perspectiva da psicopatologia, as síndromes depressivas apresentam como características relevantes o humor triste, o desânimo, relativamente acentuado. Na depressão, a tristeza e o desânimo são, desmedidamente profundos e prologados comparados às reações corriqueiras de tristeza que se manifestam no decurso da vida. Os quadros depressivos caracterizam-se por uma multiplicidade de sintomas afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos, relativos à autovaloração, à vontade e à psicomotricidade. (Dalgalarrondo,2019). Em quadros graves de depressão, é passível de se manifestarem sintomas psicóticos, como alucinação ou delírio, notável mudança psicomotora (lentidão), como também fatos biológicos associados. Dos sintomas característicos das síndromes depressivas podemos citar conforme Dalgalarrondo (2019): 18 Tristeza, sentimento de melancolia, na maior parte do dia, todos ou quase todos os dias; Choro fácil e/ou frequente Apatia (indiferença afetiva) na maior parte do dia, todos ou quase todos os dias; Sentimento de falta de sentimento Sentimento de tédio, de aborrecimento crônico Irritabilidade aumentada (a ruídos, pessoas, vozes, etc.), na maior parte do dia, todos ou quase todos os dias; Também se manifestam comumente a angústia, ansiedade, o desespero e a desesperança, entre outros agrupamentos de sinais e sintomas como alterações da volição e da psicomotricidade, alterações ideativas, alterações da esfera instintiva e neurovegetativa, alterações da autovaloração, alterações cognitivas, sintomas psicóticos. Sobres as síndromes depressivas, vale ressaltar que são distribuídas em subtipos, sendo eles – Episódio de depressão e transtorno depressivo maior recorrente; Transtorno depressivo persistente e transtorno distímico; Depressão atípica; Depressão tipo melancólica ou endógena; Depressão psicótica; Estupor depressivo ou depressão catatônica; Depressão ansiosa ou com sintomas ansiosos proeminentes e transtorno misto de depressão e ansiedade; Depressão unipolar ou depressão bipolar Depressão como transtorno disfórico pré-menstrual; Depressão mista; Depressão secundária ou transtorno depressivo devido a condição médica (incluindo aqui o transtorno depressivo induzido por substância ou medicamento). 19 6 SÍNDROMES MANÍACAS E TRANSTORNO BIPOLAR Fonte: www.minutopsicologia.com.br Belmaker, (2004) destaca que, a base da síndrome maníaca são sintomas de euforia, alegria exacerbada, elação (expansão do Eu), grandiosidade ou irritabilidade marcante, desproporcionais aos fatos da vida e distintos do estado comum de alegria ou entusiasmo que o indivíduo sadio apresenta em sua vida. Nos quadros maníacos, frequentemente se nota o taquipsiquismo (aceleração das funções psíquicas), ocasionando agitação psicomotora, loquacidade e pressão para falar, exaltação, bem como aceleração do pensamento e escape das ideias. Para o diagnóstico, o quadro deve permanecer por pelo menos uma semana, no entanto a média de permanência do episódio maníaco gira em torno de três meses. Geralmente o indivíduo em estado maníaco, demonstra-se eufórico, alegre, brincalhão, como também arrogante, irritado e por vezes agressivo. As alterações ocorrem também na área ideativa, com pensamentos de conteúdo de grandiosidade, imprecisão, alegria, sendo imprudente e aparente. De acordo com Binswanger (1973) na mania “o paciente fala mais do que pensa”. Dalgalarrondo (2019) pontua que, o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) exige, para o diagnóstico de episódio maníaco, que estejam presentes, na maior parte do dia, por pelo menos uma semana (geralmente duram bem mais que isso), além de humor elevado (euforia, elação), pelo menos mais três dos sintomas de mania (quatro, se o humor for apenas irritável). 20 Sobre os sintomas de mania podemos citar: aumento da autoestima, diminuição da necessidade de sono, loquacidade, logorreia, pressão para falar, alterações formais do pensamento, distraibilidade, aumento de atividade ou agitação psicomotora, envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas ou danosas, labilidade afetiva, agitação psicomotora, arrogância, heteroagressividade., desinibição social e sexual, grandiosidade, ideias de grandeza não psicóticas, confusão, irritabilidade, euforia, expansibilidade (sensação do eu engrandecido, elação), redução da necessidade de sono, comportamentos de ataque ou comportamentos violentos, hiper-religiosidade (aumento de atividades religiosas, pregação, canto de hinos, etc.), catatonia, incontinência fecal e/ou sujidade (comportamento de urinar ou defecar em qualquer lugar). Dos sintomas psicóticos no episódio de mania podemos citar: delírio de grandeza, delírio de perseguição, delírio de passividade, alucinações auditivas, alucinações visuais, alucinações olfativas, história de sintomas psicóticos no passado, transtornos do pensamento. As síndromes maníacas são descritas nos subtipos – mania franca ou grave, mania irritada ou disfórica, mania com sintomas psicóticos, mania mista ou mania com características mistas, hipomania (ou episódio hipomaníaco), ciclotimia ou transtorno ciclotímico. O transtorno bipolar tem caráter fásico (episódios), possui vários tipos. Tantoos episódios de mania e depressão acontecem de forma um tanto quanto definida no tempo, com certa frequência, com períodos atenuados, onde o humor da pessoa fica normal, eutímico, com o regresso das modificações psicopatológicas intensas. Mesmo com a probabilidade de períodos de melhora quase completa, o transtorno bipolar é um transtorno mental grave, com consequências significativas no que tange a decadência na qualidade de vida, na performance e interação social dos indivíduos acometidos, como também dano neuropsicológico e propensão a doenças físicas e suicídio. A probabilidade de suicídio é intensificada em indivíduos que manifestam episódios mistos, aumento dos sintomas ansiosos e mudança súbita dos episódios, geralmente no início do transtorno bipolar, que não recebem tratamento adequado. Em casos de comorbidades com transtornos de personalidade ou uso de substâncias ilícitas (drogas) a probabilidade é ainda maior. 21 Então o transtorno bipolar é caracterizado como do tipo I e II e ciclagem rápida. Sendo que no tipo I, pode-se dizer mais leve, apresenta os episódios depressivos alternados com período normal e ao menos uma fase maníaca, já no tipo II apresenta episódios depressivos com fases hipomaníacas. No caso do transtorno bipolar I e II, os sintomas característicos da fase maníaca são: autoestima elevada ou grandiosidade muito falante, loquaz ou logorreico, fuga de ideias distraibilidade, queda da necessidade de sono, aceleração psicomotora, desinibição social e/ou sexual ou aumento do gasto de dinheiro, aumento envolvimento em atividades prazerosas de risco. Para o diagnóstico é preciso identificar humor anormal elevado, expansivo ou irritável e com ao mais três dos sintomas supracitados, com duração mínima de uma semana. De acordo com Dalgalarrondo (2019) o episódio hipomaníaco, deve se apresentar por pelo menos quatro dias, haver três ou mais sintomas bem demarcados de humor persistentemente elevado, irritado ou expansivo. Não pode haver sintomas psicóticos, assinala que os sintomas não perturbam claramente o funcionamento profissional ou social, e não há necessidade de hospitalização. No transtorno bipolar tipo ciclagem rápida, caracterizado pela alteração súbita de episódio, em seu diagnóstico é necessário que seja observado no período de dozes meses a manifestação ao menos quatro episódios bem definidos e distintos de transtorno do humor, mania (ou hipomania) e/ou depressão. Embora seja um tema polêmico e centro de muita discussão, o transtorno bipolar pode acometer crianças e adolescentes. Nesse caso para o diagnóstico de episódio de mania antes da adolescência, a identificação de sintomas como grandiosidade, fuga de ideias ou pensamento acelerado, hipersexualidade, euforia, diminuição da necessidade de sono é um requisito. Estudioso ampliam esses sintomas, defendendo que a irritabilidade, impulsividade, raiva e ataques de birra, concentração ruim, hiperatividade e dificuldades comportamentais são sintomas apresentados na infância que podem configurar o transtorno bipolar infantil, nesse sentido tal diagnóstico na infância se torna mais frequente. 22 7 SÍNDROMES ANSIOSAS Fonte: www.galenoalvarenga.com.br As síndromes ansiosas têm uma incidência significante na sociedade, grande parte da população sofreu ou já sofreu algum transtorno de ansiedade e/ou fobia. Pode-se dizer que as síndromes ansiosas num primeiro momento são referenciadas em dois ordens, sendo ansiedade generalizada, livre e flutuante que apresentam uma característica permanente e constante, e as crises de ansiedade abruptas relativamente intensas, também chamadas crises de pânico. Quando tais crises se manifestam de modo recorrente, caracteriza o transtorno de pânico. 7.1 Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG É caracterizada pela manifestação de sintomas ansiosos descomedido, estão presentes em grande parte do dia e permanece por muito meses. Ocasionando irritabilidade, ansiedade e preocupação na pessoa. O diagnóstico deve ser feito através da análise dos sintomas, sua duração e interferência na vida pessoal, social 23 e no trabalho, se está causando sofrimento na vida da pessoa. Os sintomas característicos da TAG são: falta do sono, dificuldade em relaxar, angústia contínua, irritabilidade elevada e dificuldade em concentrar-se, dores de cabeça, dores musculares, dores ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento e sudorese fria. 7.2 Crises de Pânico Como descreve Dalgalarrondo (2019), as crises de pânico são crises marcantes de ansiedade, nas quais ocorre importante descarga do sistema nervoso autônomo. Nelas ocorrem sintomas como batedeira ou taquicardia, suor frio, tremores, desconforto respiratório ou sensação de asfixia, náuseas, formigamentos em membros, dedos e/ou lábios. Nas crises intensas, os pacientes podem experimentar diversos graus da chamada despersonalização, que se revela como sensação de a cabeça ficar leve, de o corpo ficar estranho, sensação de perda do controle, estranhar- se a si mesmo. Pode ocorrer também a desrealização, ou seja, a sensação de que o ambiente, antes familiar, parece estranho, diferente, não familiar. 7.3 Transtorno de Pânico De acordo com Dalgalarrondo (2019), o transtorno de pânico é denominado com a manifestação de crises recorrentes, com evolução do medo de ter novas crises, desconfortos com prováveis consequências da crise (perda do controle, ataque cardíaco ou sentimento de enlouquecer) e sofrimento intrínseco relevante. Tal transtorno pode ou não ser manifestado junto de agorafobia, causando desconforto expressivo e medo de lugares extensos e agrupamentos. 7.4 Transtorno Fóbico Esse transtorno é descrito por medo agudo e incoerente, desmedidos, ocasionados por momentos, objetos ou animais que absolutamente não apresentam 24 à pessoa risco real e congruente à força de tal medo. Dentre os transtornos fóbicos podemos citar Agorafobia, fobia simples ou específica, ansiedade social e fobia social. 7.5 Transtorno de Estresse Pós-Traumático Caracterizado pela elevada manifestação de ansiedade que surge após a vivência da pessoa a uma ou mais situações excessivamente ameaçadores, traumáticos e horríveis (como violência sexual, rapto, assalto, homicídio, desabamentos, incêndios, catástrofes naturais, entre outros). O indivíduo é pego por lembranças recorrentes da situação vivida no trauma, normalmente essas lembranças trazem consigo emoções fortes (ansiedade, medo, sensações físicas). 7.6 Transtorno Obsessivo Compulsivo São caracterizados por pensamentos, imaginação e imagens obsessivas e por ação, ritos ou condutas compulsivas, agindo como uma imposição sobre o indivíduo, fazendo-o se submeter a tal situação, como se estivesse sendo obrigado a tal ato. 7.7 Transtorno Hipocondríaco Nesse transtorno a pessoa busca continuamente por atendimento médico e serviços de saúde devido ao temor de adoecer, assim ele pode “se assegurar” de não ter doenças. Muito embora exista o anseio de adoecer, não caracteriza comportamento delirante, pois em algum momento a pessoa pode questionar o excesso de preocupação. Constantemente comorbidades de personalidade se manifestam junto a este transtorno. 25 8 SÍNDROMES PSICÓTICAS Fonte: gilsantosnoticias.com As síndromes psicóticas são caracterizadas por vivências como delírios e alucinações, desestrutura significativa do pensamento e do comportamento. Sensação de perseguição ou ameaça, mudanças na vida familiar, social e pessoal, são situações que se manifestam com frequência nesses quadros. Dalgalarrondo (2019) expõe que a orientação da psiquiatria clínica, enfatiza a noção de psicose como presença de sintomas psicóticos (delírios, alucinações, desorganizações marcantes de pensamento e comportamento). Esses elementos clínicos são os critériosde identificação e diagnóstico de psicoses propostos pela CID11 e DSM-5. 8.1 Esquizofrenia A esquizofrenia é das síndromes psicóticas com mais incidência no mundo. Nos primeiros estudos, a esquizofrenia era classificada com subtipos, a paranoide, catatônica, hebefrênica, simples, no entanto tais classificações não foram mantidas pelos sistemas de classificação atuais por não se demonstrarem úteis. Assim os estudos buscaram identificar grupos de sintomas e comportamentos que manifestam nas diversas faces da esquizofrenia, estes grupos de sintomas em alguns casos se combinam de modo variado. Os grupos de sintomas foram delimitados da seguinte 26 forma: sintomas negativos; positivos; de desorganização; psicomotores/catatonia; humor; prejuízos cognitivos. 8.2 Transtorno Delirante De acordo Dalgalarrondo (2019), o transtorno delirante é uma forma distinta de psicose próxima à esquizofrenia, que se caracteriza pelo surgimento e pelo desenvolvimento de um delírio ou sistema delirante (vários delírios de alguma forma interligados tematicamente) com considerável preservação da personalidade, da afetividade, da cognição e do resto do psiquismo do indivíduo acometido. Não deve haver pensamento e/ou comportamento francamente desorganizado ou sintomas negativos marcantes. O transtorno delirante, tal como descrito nos sistemas diagnósticos atuais (CID-11 e DSM-5), é um construto heterogêneo. Poucos casos são subagudos e transitórios, com remissão completa após alguns meses, e outros evoluem para quadros mais graves de esquizofrenia. Entre esses dois extremos, há pessoas com delírios persistentes, que expressam a ideia clássica de paranoia (Opjordsmoen, 2014). A ocorrência do transtorno delirante é mais comum em pessoas acima de 40 ou 50 anos de idade e normalmente tem um percurso crônico e estável. A duração do delírio deve durar ao menos um mês (DSM-5) ou três meses (CID-11), podendo ser mais longa, durando anos. Há também o transtorno psicótico agudo que apresenta sintomas parecidos com a esquizofrenia, como o delírio e alucinação. Tem surgimento agudo bem como a remissão dos sintomas é também rápida. Dalgalarrondo (2019) alerta que, o transtorno psicótico agudo pode confundir- se com transtorno de estresse pós-traumático ou com quadros graves e prolongados de transtorno dissociativo (frequentemente denominado na tradição psicopatológica de histeria). Transtornos ou traços de personalidade do grupo B (sobretudo transtornos da personalidade borderline e histriônica) e transtorno da personalidade esquizotípica, além de traços de personalidade do tipo “psicoticismo”, podem preceder ou predispor as pessoas a apresentar transtorno psicótico agudo/breve. 27 8.3 Transtorno Esquizoafetivo O transtorno esquizoafetivo é caracterizado pelo surgimento de sintomas requisitados para o diagnóstico de esquizofrenia em conjunto (no mesmo episódio, concomitantemente, ou com espaço de poucos dias entre eles) com sintomas próprios de um quadro de depressão maior, de mania ou de episódio misto (para a CID-11, concomitância com duração de pelo menos um mês). 9 SÍNDROME PSICOMOTORA As síndromes psicomotoras são classificadas como de agitação psicomotora e as de estupor e lentificação psicomotora. Compreender essas síndromes é muito importante para a atuação clínica em psiquiatria e atendimentos à saúde mental. 9.1 Síndrome de Agitação Psicomotora Nas síndromes de agitação psicomotoras, é percebida intensa aceleramento da esfera motora e elevação da excitabilidade; ademais, o paciente se apresenta desinquieto, andando de um lado para outro, gesticulando, expressando contínua inquietação. Podem estar relacionados à agitação psicomotora sintomas como loquacidade ou logorreia, insônia, irritabilidade, hostilidade e agressividade. A agitação psicomotora é classificada por subtipos como, agitação maníaca, paranoide, catatônica, psico-orgânica, nas demências, nos quadros de deficiência intelectual, explosiva associada a transtorno da personalidade, histriônica, ansiosa. Na agitação maníaca pode-se identificar agitação psicomotora intensa, logorreia, inquietude, ideia de grandeza, irritabilidade, arrogância, irritabilidade. Na agitação paranoide pode-se identificar ideias delirantes, desconfiança, estado de vigília, tensão. Na agitação catatônica identifica-se impulsividade, reações agressivas, presença de alucinação e delírio. Na agitação psico-orgânica identifica-se confusão mental, desorientação, dificuldade de compreensão das situações ao redor. Sua maior incidência é em situações de uso abusivo de drogas, síndromes de abstinência. 28 Na agitação nas demências, em pessoas acometidas por alzheimer, dentre outras, identifica-se muita desconfiança, medo, cognição comprometida. Na agitação nos quadros de deficiência intelectual, devido ao comprometimento cognitivo, e ter dificuldade em lidar com determinadas situações, pode manifestar choro, grito, birra, agressividade num momento de agitação. Na agitação explosiva associada a transtorno da personalidade, pessoas acometidas por tais transtornos tem propensão a reagir a frustrações, de maneira agressiva e explosiva. Essa agitação pode surgir subitamente e sumir quando a pessoa consegue o que deseja. Na agitação histriônica tem por característica um comportamento de chamar a atenção, teatral, a pessoa se demonstra escandalosa, buscando ser o centro das atenções. Na agitação ansiosa, pessoas com quadros elevados de ansiedade apresentam inquietude, tensão nas mãos, ato de roer unhas, profunda angústia. Devido a ansiedade intensa há o risco de suicídio. 9.2 Síndromes de Estupor De acordo com Rasmussen et. al. (2016) as síndromes de estupor incluem quadros de diferentes etiologias, com retardo psicomotor em graus variáveis e ausência de reatividade com preservação de consciência. Definida pela inabilidade ou negativa das pessoas em responder, reagir ou conduzir-se conforme exigências do ambiente. Frequentemente a pessoa apresenta mutismo, se limitando à sua cama ou a uma cadeira, sem interação social, não se alimenta. Tal comportamento é involuntário, a pessoa não escolhe agir assim. Dalgalarrondo (2019) expõe que existem quatro subtipos de estupor, relacionados a quadros nosológicos específicos ou distintos mecanismos produtores: estupor depressivo, estupor na esquizofrenia, estupor psicogênico e estupor orgânico. 9.3 Síndrome de Comportamento Disruptivos na Infância e Adolescência Tem maior presença na infância e adolescência, se associa ao autocontrole do comportamento e das emoções. A presença desse transtorno traz dificuldades com o 29 controle emocional, potencializa condutas agressivas que infringem direitos de outros, atos destrutivos consigo e como os outros, causando atritos com regras sociais. 9.4 Transtorno disruptivos da desregulação do humor Tem por característica principal a irritabilidade crônica grave. Seu diagnóstico geralmente é realizado antes dos dez anos de idade, no entanto não pode ser feito em crianças menores de seis meses. Os sintomas manifestados neste transtorno são explosão de raiva, humor constante irritável e zangado, podem surgir em diferentes ambientes. 9.5 Transtorno de Oposição Desafiante A respeito desse transtorno, Dalgalarrondo (2019) fala que nessa condição, observa-se, em crianças e adolescentes, humor de base irritável ou raivoso, assim como comportamento frequentemente desafiante ou questionador e índole vingativa. E complementa, o comportamento desafiante e/ou questionador revela frequente questionamento de figuras de autoridade (pais, professores, pessoas adultas com papel de educador ou disciplinar), recusa a obedecer a regras ou pedidos de tais figuras e atitude desafiadora dirigida a tais pessoas. Crianças com o transtorno com frequência culpam outros por seus erros ou mau comportamentoe incomodam deliberadamente as demais pessoas. Crianças com esse transtorno apresentam humor raivoso, se incomodam com facilidade e com frequência perdem a calma. 9.6 Transtorno da Conduta Também chamado de transtorno dissocial de conduta, é definido por condutas violentas que violam normas (leis, regras, direitos alheios), de modo recorrente e resistente. Para seu diagnóstico é necessário a presença desses comportamentos num período mínimo de um ano. 30 9.7 Transtorno Explosivo Intermitente Caracterizado por explosões comportamentais regular, a criança ou adolescente não consegue conter os impulsos de agressividade, acarretando em verbalização agressiva com xingamentos, discussões violentas, agressividade física (com pessoas ou animais), podendo também quebrar objetos. A dimensão da agressividade expressa durante as explosões é claramente desproporcional em relação às provocações ou aos estressores psicossociais desencadeantes. Deve-se atentar aqui para o fato de as explosões de agressividade não poderem ser premeditadas, não terem objetivos de atingir a um fim predeterminado tangível (obter dinheiro, intimidar os outros ou obter mais poder). São explosões impulsivas, e não instrumentais para obter ganhos desejados. (Dalgalarrondo, 2019) 10 TRANSTORNOS ALIMENTARES Gerbasi et al. (2014) enfatiza que a conduta alimentar é motivada pelas sensações básicas de fome, sede e saciedade. Estas são geradas, controladas e monitoradas por diversas áreas do organismo: o hipotálamo (centro da saciedade) e várias estruturas límbicas e corticais, mediadas por substâncias como a insulina, a leptina e a grelina. Além disso, mudanças sociais e culturais relacionadas ao padrão de beleza, sobretudo feminina (beleza magra), têm tido impacto internacional sobre a prevalência e o curso das síndromes de comportamento alimentar, que têm aumentado em muitas regiões do mundo. 31 10.1 Anorexia Nervosa Fonte: encrypted-tbn3.gstatic.com É definida pela presença de baixo peso relacionado ao peso ideal por consequência da redução de alimentação necessária, a pessoa não se alimenta, provoca vômitos, faz uso de laxantes, diuréticos e anorexígenos, levando a perda de peso autoinduzida. Existindo um empenho infindável de emagrecer por medo exagerado e doentio de ficar ou parecer gordo. Há busca implacável de magreza e medo intenso e mórbido de parecer ou ficar gorda, trazendo outras complicações para a saúde. Ela apresenta dois subtipos, o tipo restritivo e o tipo compulsão alimentar purgativa. 32 10.2 Bulimia Nervosa Fonte: www.infoescola.com A bulimia nervosa para Mehler (2003) é descrita por preocupação excessiva com controle do peso corporal, que leva o paciente a tomar medidas extremas, como vômitos autoinduzidos, purgação, enemas e diuréticos, a fim de mitigar os efeitos do aumento de peso decorrente da ingestão de alimentos. A pessoa acometida por esse transtorno apresenta medo resistente de comer e a vontade de se alimentar, propiciando episódio de hiperfagia, os constantes de “ataques à geladeira”. Pessoas acometidas por este transtorno normalmente é negam tal prática quando questionadas por profissional da saúde. É dividido em níveis de gravidade, sendo leve, moderada, grave e extrema. O transtorno de compulsão alimentar tem por característica, a pessoa manifesta o ato de comer compulsivamente, tem o sentimento que perdeu o controle em comer, sofre rejeita seus comportamentos, sente culpa, mas nesse caso não apresenta comportamentos purgativos. No transtorno de ruminação há a presença de conduta recorrente e proposital de regurgitar o alimento engolido. 33 11 TRANSTORNO DEVIDO AO USO DE SUBSTÂNCIAS E COMPORTAMENTOS ADITIVOS Fonte: www.adesg.net.br Substâncias como cafeína, tabaco, álcool, cocaína, maconha, crack, opioides, alucinógenos, anfetamínicos, sedativos, inalantes, hipnóticos e ansiolíticos agem sobre o cérebro, proporcionam sensação de prazer ou excitação (ativando o sistema de recompensa do cérebro). Gardner (2011) destaca que as principais estruturas desses circuitos são o nucleus accumbens (NAc), a área tegmental ventral e a amígdala, e o principal neurotransmissor envolvido é a dopamina. Há uma tendência maior das pessoas com transtornos mentais graves em desenvolver dependência à essas substâncias. Dalgalarrondo (2019) cita que segundo a Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-11), os transtornos devidos a substâncias são ordenados em categoria única, para cada tipo de substância (álcool, cocaína, maconha, etc.). Nessa categoria (p. ex., transtorno devido ao álcool), para cada tipo de problema, deve-se, quando necessário, acrescentar os especificadores 34 ou subtipos – por exemplo, transtorno devido ao álcool: intoxicação, dependência, abstinência e quadros psicopatológicos induzidos. O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), classifica os transtornos associados a substâncias em dois grupos, sendo transtornos por uso de substâncias e transtornos induzidos por substâncias. Não há uma razão única que explique, para todas as pessoas, por que se passa a usar substâncias ou quando e por que tal uso se torna um transtorno destrutivo para o indivíduo e para a sociedade (Dawes et al., 2000). Observa-se que o começo do uso de substâncias, geralmente na adolescência, é associado a aspectos como a curiosidade, convivência (companheiros (as) que já fazem o uso), busca por aceitação pelo grupo, sentimento de pertença a uma subcultura, prazer em infringir normas (fazer algo ilegal), desejo de diminuição de sentimentos desagradáveis como ansiedade, solidão, impotência, tensão, tristeza, baixa autoestima. 11.1 Transtornos por uso de substâncias Nessa situação, é identificado o uso constante e habitual de uma substância, mesmo diante dos prejuízos relevantes que o uso traz. A pessoa acometida por esse transtorno não consegue ter controle sobre o uso, é submetido a problemas psicossociais e sociais visíveis, prejuízos psicológicos e físicos, apresenta tolerância e abstinência. A pessoa apresenta sentimento de fracasso, devido às tentativas frustradas em cessar o uso, a fissura, que geralmente é incitada pelo ambiente de uso da substância. Apresenta comprometimento na responsabilidade em cumprir deveres como trabalho, estudos, assim como a deserção de atividades importantes da vida. Não conseguindo extinguir o uso mesmo com os s prejuízos em sua vida pessoal, o afastamento das pessoas, isolamento, bem como os prejuízos na saúde física. A tolerância à substância utilizada é cada vez maior, ou seja, a necessidade do aumento da quantidade utilizada, para obtenção do efeito esperado. Apresente também a abstinência, que ocorre quando o teor da substância no organismo diminui causando ansiedade, tremores, insônia, sudorese, os sintomas variam de acordo com a substância usada. 35 11.2 Transtornos induzidos por substâncias De acordo com Dalgalarrondo (2019), os transtornos induzidos são, devidos aos efeitos fisiológicos da substância no cérebro. Há uma relação específica entre o uso e a síndrome induzida. Trata-se de quadros geralmente reversíveis que podem durar horas ou dias, mas que não ultrapassam, de modo geral, um mês sem o uso da substância. Os transtornos induzidos podem ser a intoxicação, a síndrome de abstinência da substância, diversas psicopatologias como depressão, transtorno neurocognitivo, ansiedade, psicose, delirium. A intoxicação apresenta mudanças mentais e comportamentais, perda do grau de consciência, confusão da atenção, do pensamento, da percepção, do julgamento, da psicomotricidade, agressividade, provocados pelo consumo intenso de uma substância. 11.3 Transtornos por uso do álcool De acordo com a CID-11, os transtornos oriundos do uso de álcoolrepresentam um modelo de consequências negativas subsequente ao uso da substância, até mesmo intoxicação, uso arriscado, dependência, síndrome de abstinência e transtornos mentais induzidos pelo álcool. Duffy (1995) cita que é comum que o indivíduo negue terminantemente ou minimize que o álcool seja um problema em sua vida, que usa bebidas alcoólicas de forma claramente perigosa e prejudicial, que não consegue parar de beber ou que perdeu o controle sobre seu padrão de ingesta. O uso abusivo de álcool pode causar delirium tremens, alucinose alcoólica (alucinações audioverbais), delírio de ciúmes, embriaguez patológica. 11.4 Transtornos por uso da maconha O transtorno por uso da maconha tem como fatores de risco problemas nas relações familiares, dificuldades escolares, influência de familiares próximos, o fácil acesso à droga. O início do uso normalmente é antes dos quinze anos e seus efeitos pode variar entre sensação de prazer, relaxamento, riso sem motivo, muita fome, 36 confusão da percepção tempo-espacial, dispersão da atenção e concentração, boca seca, olhos vermelhos. 11.5 Transtorno por cocaína e crack A cocaína pode ser inalada, injetada ou fumada (no caso do crack). A ação da cocaína no organismo quando aspirada é rápida, durando até 45 minutos. No caso do crack, a ação é imediata, no entanto dura cerca de 10 minutos, causando enorme fissura para o uso, favorecendo a dependência, sendo esta uma das dependências mais graves. Dalgalarrondo (2019) destaca que os efeitos imediatos mais frequentes da cocaína (pó ou crack) são: “sensação subjetiva de bem-estar ou euforia”, de estar “mais ativo, mais alerta, autoconfiante ou forte”, com “mais energia” e pensamento acelerado, fisicamente, pode haver taquicardia, aumento da frequência respiratória, sudorese, dilatação das pupilas, tremores leves de mãos e pés, tiques e contrações musculares de língua e mandíbula, ansiedade e crises de pânico, sensação de desconfiança, perseguição, sua ação no coração está relacionada a risco aumentado de infarto do miocárdio, arritmias, dor torácica, acidentes vasculares cerebrais e morte súbita em jovens usuários. Outros transtornos como jogo e apostas, dependência da internet, compulsão por sexo e compras, trazem também grandes prejuízos às pessoas por ele acometido como a perda de controle e a intensidade crescente de prioridade de tal atividade, o que prejudica significativamente outros aspectos relevantes da vida. 37 12 TRANSTORNOS ASSOCIADO AO SONO Fonte: encrypted-tbn1.gstatic.com A necessidade do sono é uma questão individual, há pessoas com maior necessidade dele para sentir-se descansada e outras que com poucas horas de sono estão renovadas para realizar suas atividades diárias. Portanto para seu diagnóstico, é importante uma anamnese minuciosa, sobre os comportamentos ligados ao sono e à sonolência, de preferência acompanhado com alguém de seu convívio que trará observações quanto seu padrão de sono e vigília. Geralmente, dificuldades com o sono são seguidas de depressão, distúrbios cognitivos, ansiedade, agravando o transtorno. Entre os transtornos de sono mais relevantes podemos destacar o transtorno de insônia, transtorno de hipersonolência, síndrome das pernas inquietas, transtornos do sono relacionados à respiração (apneias do sono), transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano (tipo fase do sono atrasada e fase do sono avançada), narcolepsia, parassonias (sonambulismo, terror noturno, bruxismo). Estes tem elevada frequência e grande impacto na sociedade. 12.1 Transtorno de insônia Segundo especificações da APA (2014), a insônia é um dos sintomas mais comuns em saúde mental; calcula-se que cerca de um terço da população adulta 38 tenha pelo menos alguns dias de insônia clinicamente significativa durante um ano e que 6 a 10% da população adulta apresentem o transtorno de insônia. É caracterizado pela dificuldade em “pegar no sono” e permanecer dormindo, acordar pela madrugada e não conseguir mais dormir, que devem ser observadas ao menos três vezes na semana por um período mínimo de três meses. Além do cansaço, baixa produtividade, a insônia causa prejuízos na qualidade de vida, na saúde física e emocional. Entre os fatores que estão relacionados ao sono podemos citar a ingestão de café à tarde ou à noite e de bebidas alcoólicas à noite, alimentação copiosa à noite, trabalhos difíceis e estressantes no período noturno, atividade tensa no período noturno, televisão no quarto, hábito de despertar e levantar da cama a cada dia em horários muito diferentes, trabalho em turnos. Já os que facilitam o sono são o hábito de acordar todos os dias na mesma hora, não forçar o sono e retirar o despertador do lado da cama, atividades relaxantes no período noturno, quarto escuro, fresco e silencioso, peso corporal adequado, atividade física regular. 12.2 Transtorno de hipersonolência Neste caso, mesmo dormindo, a pessoa relata excesso de sono ao longo do dia. Dalgalarrondo (2019) enfatiza que pessoas com esse transtorno conseguem dormir rapidamente, e há boa eficiência do sono (≥ 90%); entretanto, podem ter dificuldade para acordar pela manhã e, às vezes, parecem confusas ou atáxicas (desequilíbrio motor) ao acordar. Queda da habilidade motora, percas de memória, confusão no tempo e no espaço e sensação de atordoamento são alguns sintomas vivenciados por pessoas acometidas por esse transtorno quando acordadas no meio do sono. 12.3 Síndrome das pernas inquietas Esta síndrome é caracterizada pela precisão de movimentar as pernas durante o sono, podem ter sensação de desconforto nas pernas, formigamentos. O desconforto é aumentado quando a pessoa está em repouso, aliviando com o movimento. É agravado devido a inatividade, prejudicando o sono. 39 Esse desconforto se intensifica com o repouso e melhora com o movimento. A sensação se agrava durante período de repouso ou inatividade e é pior no final da tarde ou à noite, prejudicando gravemente o sono. 12.4 Transtornos do sono relacionados à respiração A apneia do sono caracteriza-se pela ocorrência de muitas pausas respiratórias curtas, de 10 a 50 segundos, durante o sono. Nos episódios de apneia, o indivíduo pode roncar, a saturação sanguínea de oxigênio cai, e, com frequência, ocorre breve despertar (Dalgalarrondo, 2019). Esse transtorno é subdividido em: Apneia e hipopneia obstrutivas do sono que é um tipo de apneia/hipopneia provocada pelo bloqueio das vias aéreas superiores, abalando-as. Comumente relacionado à obesidade, pescoço curto, mudanças estruturais da cavidade orofaríngea. Roncos são comuns nesse caso. Apneia central do sono é causada pela oscilação no empenho respiratório (involuntário), apresenta episódios repetidos de apneia e hipopneia durante o sono. Neste caso, com frequência, a pessoa acordo ao longo da noite, muitas vezes sentindo sufocamento, tendo sonolência, insônia, cansaço pela manhã. Hipoventilação relacionada ao sono, apresenta respiração no sono reduzida associada a níveis elevados de gás carbônico. Pessoas acometidas por esse transtorno sentem sonolência exagerada ao longo do dia, dores de cabeça ao amanhecer, insônia. 12.5 Transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano É caracterizado por um modelo insistente ou periódico de conturbação do sono causado pelas mudanças do sistema circadiano (regulação fisiológica do ritmo sono- vigília durante 24 horas), onde há instabilidade entre o ritmo circadiano endógeno (o ritmo biológico do indivíduo, durante o dia) e os horários de sono e de vigília propostos pelo ambiente físico (como a luminosidade) e social, podendo ser as regras da família, ou requisitos do trabalho e/ou escola. 40 12.6 Narcolepsia Nesta situação, a pessoa tem uma necessidade incontrolável de dormir, cochilar durante o dia, com sonolência acentuadae repentina, Dalgalarrondo (2019) descreve que além da sonolência diurna, a narcolepsia manifesta-se clinicamente por ataques de cataplexia, que é uma crise breve (de segundos a minutos) de perda bilateral de tônus muscular, com manutenção da consciência, geralmente desencadeados por risos ou brincadeiras. A pessoa acometida por este transtorno, cai inesperadamente no chão. Para seu diagnóstico os ataques devem se manifestar ao menos três vezes por semana, pelo período mínimo de três meses. 12.7 Parassonias São caracterizadas por fatos comportamentais ou fisiológicos diferentes relacionados a estágios característicos do sono ou da transição sono-vigília, mudanças do despertar ou despertar incompleto. O sonambulismo, o terror noturno, o sonilóquio, a paralisia do sono, bruxismo, enurese noturna, pesadelos, são situações presentes nesse transtorno. 13 SEXUALIDADE E PSICOPATOLOGIA Basson (2006) descreve que a sexualidade, desejo fundamental do ser, ocupa um lugar central em nossa condição existencial. Ela compreende três dimensões básicas: biológicas, psicológicas e socioculturais. Na dimensão biológica temos os aspetos neuronais, hormonais e anatomofisiológicos genitais. Na dimensão psicológica destaca-se aos aspectos singulares e individuais da vontade erótica, das fantasias sexuais e da extensão subjetiva de prazer que a vida sexual pode produzir. Nas dimensões socioculturais estão referenciados padrões culturais, atos, produções e objeções expressa por cada sociedade relacionados à sexualidade. 41 14 TRANSTORNOS OU DISFUNÇÕES SEXUAIS Nas palavras de Dalgalarrondo (2019) as disfunções sexuais são síndromes que incluem as várias formas pelas quais indivíduos adultos apresentam dificuldades na experiência pessoal de atividade sexual não coercitiva. E de acordo com CID-11 a disfunção sexual para ser conceituada como tal, necessariamente tem que apresentar as condições abaixo: Ocorrência frequente do transtorno ou disfunção, podendo estar ausente em algumas situações; O transtorno deve estar presente por pelo menos alguns meses; O transtorno deve estar associado a sofrimento ou disfunção clinicamente significativos. 14.1 Disfunções do desejo e da resposta sexual Nesse transtorno, acontecem disfunções que prejudicam a satisfação/prazer do ato sexual. Dos distúrbios relacionados com esse transtorno podemos citar a inibição do desejo sexual que é caracterizada pela constante inibição de desejo de cunho sexual, que é influenciada aos valores culturais, idade e momento da vida da pessoa acometida. Se esta ausência do desejo sexual causa sofrimento na pessoa acometida ou em seu parceiro (a), identifica-se o transtorno. Dificuldades intrínsecas, proibição voltada para assuntos sexuais, ligação da sexualidade ao pecado devido normas culturais, sentimento de culpa, bem como disfunções fisiológicas são fatores que favorecem a inibição do desejo sexual. Vale citar também o transtorno da dor gênito-pélvica/penetração (ocorre na mulher), transtorno do orgasmo feminino (dificuldades ou ausência de excitação), transtorno erétil (falha parcial ou total em alcançar e/ou manter a ereção), transtornos da ejaculação (ejaculação precoce ou retardada). 42 14.2 Transtornos parafílicos e parafilias Esses transtornos se referem a formatos de fantasias, estímulos sexuais que envolvem sofrimento expressivo vivenciado pela pessoa acometida por este transtorno. Neste caso a realização do estímulo sexual acarreta prejuízo a outros, como quando o outro não consente a realização sexual, ou quando envolve pedofilia. Entre os transtornos parafílicos estão o transtorno exibicionista, o transtorno voyeurista, transtorno do sadismo sexual, transtorno do masoquismo sexual, transtorno pedofílico, transtorno fetichista, zoofilia, transtorno transvéstico, transtorno frotteurista. Para o diagnóstico é necessária a relação com elevado sofrimento ou prejuízo para si e/ou outros, com a duração mínima de seis meses. Na hipersexualidade ocorre estímulos e comportamentos sexuais exacerbados, que causa sofrimento significativo, sejam em homens ou mulheres. Há a tendência em tensões excessivas e recorrentes com fantasias sexuais, uma precisão excessiva de sexo. 14.3 Homofobia e Transfobia São tipos de preconceitos repulsivos que agridem psicologicamente a pessoa homossexual ou transgênero. A homofobia e são relatos e convicções, condutas, atos e práticas de ódio, para com pessoas homossexuais somente pelo fato de serem homossexuais ou bissexuais. Na transfobia ocorre o mesmo para com a população transgênero, na maioria das vezes mais expressiva. São formas de preconceito e discriminação hediondas e inaceitáveis e que devem ser claramente combatidas. A homofobia internalizada e a transfobia internalizada retratam a autoimagem negativa construída, internalizada pela pessoa LGBT, que desencadeia sentimentos de vergonha, culpa, experiências negativas direcionada a si própria. Está relacionada a valores, mensagens e ideologias socioculturais e políticas negativas. 43 15 TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS Nesses transtornos se encaixam delirium, demências, transtorno amnéstico, Alzheimer, Parkinson, encefalite, insuficiências renal ou hepática, entre outros. Esses transtornos se subdividem em delirium e transtorno neurocognitivo de longa duração. O delirium é uma síndrome aguda onde acontece rebaixamento do nível da consciência e alteração da atenção, desorientação alopsíquica, pensamento ilógico, confuso e desorganização do discurso, alterações da sensopercepção, alteração do humor, labilidade afetiva, agitação psicomotora, sonolência, alucinações visuais, sonolenta, com pensamento muito confuso, desorientada, com alucinações visuais, perturbação do ciclo sono-vigília. 16 DEMÊNCIAS E OUTROS TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS DE LONGA DURAÇÃO Dalgalarrondo (2019) expõe que na grande maioria das vezes, as demências são transtornos que surgem na senilidade (após os 65 anos), mas também ocorrem, embora bem menos frequentemente, na forma pré-senil (entre os 50-65 anos). As perdas cognitivas nas demências evoluem para déficits bem mais marcantes do que em transtornos como esquizofrenia e transtorno bipolar. O autor enfatiza que esses transtornos não são transtornos do desenvolvimento que surgem na infância, adolescência ou juventude e permanecem ao longo da vida. Nas demências, o curso das perdas cognitivas e da limitação da vida funcional é quase sempre progressivo (na esquizofrenia, por exemplo, as perdas tendem a ser precoces e mais estáveis). Os TNCs (demências) são causados por doenças neurodegenerativas e cerebrovasculares, ou seja, têm uma etiologia neuropatológica específica e bem estabelecida. (Dalgalarrondo, 2019) De acordo com CID-11 a demência é caracterizada como uma síndrome mental orgânica, e ela manifesta o declínio do funcionamento cognitivo prévio, afetando a memória, linguagem, funções executivas, julgamento, atenção, velocidade de processamento, cognição social, velocidade psicomotora e habilidades visuoespaciais ou visuoperceptivas. 44 A doença de alzheimer é derivada de uma condição neurodegenerativa que se apresenta por perdas cognitivas, especialmente da memória episódica e da aprendizagem. Sendo também prejudicadas, a linguagem, a capacidade visuoconstrutiva e perceptomotora. Doença cerebrovascular se refere ao conjunto de quadros de perdas cognitivas que configuram um TNC, maior ou leve, e nos quais a doença cerebrovascular, seja decorrente de acidentes vasculares em grandes vasos, seja de doença microvascular, é o principal fator, a patologia dominante ou exclusiva que determina o declínio cognitivo e a demência (Dalgalarrondo, 2019). Seu diagnóstico é mais assertivo através de exames que mostram se há lesão no cérebro relacionada à doença cerebrovascular. Na degeneração
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