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D ir ei to P r o c es su al P en al Claudio Mikio Suzuki Direito Processual Penal D ir eito P r o c essu al P en al A ndré Luiz M artins de A lm eida Das Nulidades e dos Recursos em Geral Claudio Mikio Suzuki Direito Processual Penal Das Nulidades e dos Recursos em Geral Direito Processual Penal Nelson Boni Leandro Lousada Claudio Mikio Suzuki Vitor Bertollini Wagner Boni Célia Ferreira Pinto Coordenação Geral Coordenação de Projetos Professor Responsável Projeto Gráfico e Diagramação Capa Revisão Ortográfica e Coordenação Pedagógica de Cursos EaD 1ª Edição: Agosto de 2012 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD KnowHow 2012 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Das Nulidades e dos Recursos em Geral Das Nulidades 1.1. Nulidades Absolutas e Relativas 1.2. Nulidades em Espécie Questões Dos Recursos em Geral 2.1. Conceito 2.2. Princípios 2.3. Pressupostos 2.3.1. Pressupostos objetivos 2.3.2. Pressupostos subjetivos 2.4. Efeitos 2.5. Recurso em sentido estrito 2.5.1. Conceito 2.5.2. Cabimento 2.5.3. Prazo 2.5.4. Efeitos 2.5.5. Competência 2.6. Recurso de Apelação 2.6.1. Conceito 2.6.2. Cabimento 2.6.3. Prazo 2.6.4. Procedimento 2.6.5. Características da Apelação 2.6.6. Efeitos 2.6.7. Competência 2.7. Embargos de Declaração 2.7.1. Conceito 2.7.2. Cabimento 2.7.3. Prazo 2.7.4. Efeitos 2.8. Embargos Infringentes e de Nulidade 2.8.1. Conceito Capítulo 1 Capítulo 2 7 27 Sumário 2.8.2. Cabimento 2.8.3. Prazo 2.8.4. Efeitos 2.8.5. Competência 2.9. Habeas Corpus 2.9.1. Conceito 2.9.2. Espécies 2.9.3. Legitimidade Ativa 2.9.4. Cabimento 2.9.5. Competência 2.9.6. Pedido de Liminar 2.9.7. Prazo 2.10. Revisão Criminal 2.10.1. Conceito 2.10.2. Características 2.10.3. Pressuposto 2.10.4. Prazo 2.10.5. Procedimento 2.10.6. Legitimidade 2.10.7. Hipóteses legais de cabimento 2.10.8. Competência Questões Gabarito Bibliografia 54 55 - 7 - CAPÍTULO 1 DAS NULIDADES As regras de Processo Penal visam a tornar o processo um percurso equilibrado para que se alcance uma deci- são correta, que espelhe a justa aplicação da Lei ao caso concreto. Como as partes têm interesses a defender, a todo o mo- mento estarão tentando influenciar o convencimento do julgador das mais diversas maneiras. Para assegurar o equilíbrio na relação processual, existem as normas processuais. Sem a obediência às normas da legislação processual, o desfecho seria desequilibrado, o que, além de prejudicar as partes, seria insuportável ao Estado. Cabe ressaltar que a função jurisdicional busca solucio- nar o conflito com justiça, o que só poderá ser alcança- do em uma relação realmente equilibrada. Na análise específica do Processo Penal, em que gran- de parte das normas traz limites ao Estado em prol do cidadão, poderia surgir a dúvida: é interesse do Estado que tais fórmulas sejam respeitadas? Sim, pois em um Estado Democrático de Direito, o exercício do poder punitivo apenas se legítima, quando é respeitado o de- vido processo legal, tanto em sua feição formal como material. Assim, os limites impostos pelas normas pro- cedimentais ao exercício do poder estatal também im- - 8 - portam ao Estado, que necessita de tais limites, porque é democrático. Daí, a ideia de que sempre que uma norma for desres- peitada, deve ser repetido o ato, para que tudo volte a correr de forma equilibrada e regular. Como os atos são praticados de forma contígua, como elos de uma corrente, também os subsequentes deveriam ser repeti- dos, para que o desenrolar do caminho processual desa- guasse em decisão justa, conforme prevê o princípio da causalidade (também chamado de princípio da sequen- cialidade ou consequencialidade dos atos processuais), descrito no art. 571, § 2º, CPP. No entanto, percebeu-se que, por vezes, ainda que o aspecto formal da norma não tivesse sido seguido, não havia desequilíbrio, pois o ato, ainda que contrário ao mandamento da Lei tivesse atingido o objetivo visado pelo ordenamento. Daí, a ideia da instrumentalidade das formas, ou seja, o ato tem uma forma que visa a padroni- zar o alcance de seus fins, mas, se apesar de desobedecida a forma, o ato tiver atingido os objetivos previstos, não será necessária a repetição, e o ato continua plenamente válido. Eis o sentido de um sistema de nulidades. O Código de Processo Penal trata do sistema de nulida- des a partir do art. 563 do Código de Processo Penal. No sistema brasileiro, há a classificação dos vícios dos atos processuais em inexistentes, irregulares e nulos, sendo que os últimos são classificados como relativa- mente nulos e absolutamente nulos. As soluções e clas- sificações são as mais controversas. - 9 - Inexistente é o ato que, por desrespeitar de forma es- sencial a tipologia necessária, os requisitos imaginados para sua relevância, é considerado um não ato, um ato inexistente, que não precisa sequer ter seu vício reco- nhecido, ou seja, não gera qualquer efeito (nem o de provocar uma decisão que o declare inexistente, como acontece no ato nulo, que precisa ser declarado). Não existe, e não tem qualquer relevância. É o caso da sen- tença prolatada por quem não é juiz. Irregular quando não gera qualquer desequilíbrio ao processo, ainda que respeite a forma da Lei. É o caso da denúncia oferecida fora de prazo. Diferenciar a nulidade entre absoluta e relativa é tarefa mais complexa, seja para doutrina, seja para jurisprudência. Há classificação sugerida na Lei, mas que não é aceita de forma pacífica. Pela letra do CPP (art. 572), as nuli- dades arroladas no inciso III, alíneas “d”, “e” (segunda parte), “g” e “h”, e IV, do art. 564 do CPP, serão con- sideradas sanadas, se não arguidas em tempo oportuno, se alcançarem o fim querido pelo ordenamento ou se a parte, ainda que tacitamente, aceitar seus efeitos. Seriam nulidades absolutas, contrário senso, as demais. A classificação com tais rigores já não encontra adeptos na doutrina atual, quer pela evolução do sistema pro- cessual, quer pela entrada em vigor da nova Constitui- 1.1. Nulidades Absolutas e Relativas - 10 - ção Federal, com amplo rol de garantias individuais. Há quem indique como absoluta a nulidade, quando prevalecer o interesse público, e relativa quando for maior o interesse da parte (Vicente Greco Filho ain- da traz a categoria da anulabilidade, quando a exigência é preconizada pela Lei no interesse da parte de forma dispositiva). Acredita-se, bastante insuficiente à ideia, pois, como já descrito, o Estado tem interesse no processo equilibra- do e decisão justa, sendo seu dever manter a igualdade de forças e oportunidades, em razão do mandamento constitucional do “devido processo legal”. Assim, acre- dita-se que os princípios do prejuízo, do interesse e da convalidação, orientados por construções jurispruden- ciais, melhor configuram nosso atual panorama acerca das nulidades. Majoritário, ainda, na doutrina que, se há afronta ao princípio constitucional, a nulidade é absoluta. Enten- de-se como valorosa a orientação, embora seja muito difícil afastar a desobediência à norma procedimental da afronta ao princípio do devido processo legal (ao menos em seu aspecto formal), que tem índole constitu- cional. Embora elogiável, o entendimento não traz cri- tério fácil de instrumentalizar. Assim, na verdade, cabe aos Tribunais decidir que vícios atingem diretamente o princípio constitucional de forma a gerar nulidade ab- soluta, e que outros vícios apenas violam a constituição de forma reflexa, sendo que os últimos resultariam ape- nas em nulidades relativas. - 11 - Pelo princípio do prejuízo, apenas pode ser reconhe- cida nulidade quando houver prejuízo. Assim, se o ato atingiu sua finalidade, jamais deverá ser repetido. Por outro lado, em alguns casos o prejuízo é evidente, como nos casosem que garantias constitucionais são afronta- das ou em que o desequilíbrio é patente, como a falta de oportunidade para oferecer alegações finais (não é necessário demonstrar que houve prejuízo: é evidente). Em outros casos, o prejuízo deve ser demonstrado, não com a certeza de que influiria na decisão, mas com a probabilidade. Classificam-se as primeiras como nulida- des absolutas e as segundas, como relativas. Em suma, pelo enfoque das partes, quando a nulidade é classificada pela jurisprudência como absoluta, não será preciso demonstrar o prejuízo, pois é presumido. Quando classificado o vício como suficiente apenas a provocar nulidade relativa, será ônus da parte, demons- trar o prejuízo, ou seja, demonstrar em que ponto sua atividade na marcha contraditória foi prejudicada, que o quadro probatório poderia ter outra direção. Por outro lado, o princípio do interesse indica que ape- nas o interessado pode requerer que seja reconhecida a nulidade, ou seja, se a nulidade aproveita apenas à parte contrária, não pode ser reconhecida a pedido. Vale res- saltar aqui que o julgador pode, tratando-se de nulidade absoluta, reconhecê-la a qualquer momento e de ofício, com uma exceção: em recurso da acusação, não pode ser reconhecida nulidade não arguida que prejudique a defesa, conforme Súmula 160 do STF: ”é nula a deci- são do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não - 12 - arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”. Ada Pellegrini Grinover assinala que o Ministério Pú- blico, por ter interesse na formação de título executivo válido, pode arguir nulidades não arguidas pela defesa, quando não se convença que se trate de nulidades rela- tivas. Também não pode pedir que seja reconhecida a nulidade que lhe deu causa. Pelo princípio da convalidação, restam convalidados os atos cuja nulidade não foi arguida no momento oportu- no, ditado pela Lei. Tal princípio tem como fundamen- to a necessidade de evolução da marcha procedimental. Também são consideradas convalidadas as nulidades em favor da acusação, quando se esgotam seus recur- sos, uma vez que a coisa julgada apenas poderá ser afrontada pela defesa. Prevalece que, no rito ordinário, as nulidades relativas devem ser arguidas até o momento das alegações finais. No rito do júri há três momentos: a) até as alegações finais (art. 411, §4º, do CPP) as ocorridas até aquele momento; b) as ocorridas após a pronúncia devem ser arguidas quando do anúncio do julgamento em plenário, assim que apregoadas as partes; c) as ocorridas em plenário, assim que ocorrerem. A nulidade absoluta que aproveita a defesa pode ser re- conhecida, mesmo após o trânsito em julgado da deci- - 13 - são, por meio de habeas corpus e revisão criminal. O primeiro, por seu rito especial, no caso de não ser ne- cessário exame mais profundo das provas para perceber o prejuízo. Se for preciso tal exame, melhor a via da revisão criminal. Há previsão especial na legislação processual de três convalidações: a) art. 568 CPP: a nulidade por ilegitimidade do repre- sente da parte poderá ser a todo tempo sanada, median- te ratificação dos atos processuais. Trata o dispositivo de irregularidades vinculadas a pressupostos processuais, como a ausência de menção ao fato criminoso na procu- ração outorgada a advogado para a propositura da ação penal privada: desde que respeitado o prazo decadencial, o patrono do querelante poderá retificar os termos da procuração, e não precisará repetir os atos praticados, como, por exemplo, propor nova queixa. b) art. 569 CPP: as omissões da peça acusatória ini- cial (denúncia ou queixa) poderão ser supridas até a sen- tença final: a legislação apenas se fere, aqui, às omissões não essenciais, ou seja, aquelas que não prejudicam o amplo exercício da defesa. Se faltar elemento essencial, como a narrativa do fato comum, todas as circunstân- cias estritamente necessárias à defesa, o vício não pode- rá ser convalidado, e outra inicial deverá ser oferecida. c) art. 570 CPP: a ausência de citação, intimação ou notificação será considerada convalidada desde que o interessado compareça. Aqui, a parte final do dispo- - 14 - sitivo já adverte que cabe ao magistrado analisar se a irregularidade provocou ou não algum prejuízo para a parte, sendo que, se reconhecer o prejuízo (ainda que potencial), deve adiar o ato. Ada Pellegrini Grinover destaca que, em analogia ao disposto no art. 249, §2º, do CPC: “quando puder decidir do mérito em favor da parte a quem aprovei- te a declaração de nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta”. Daí, o famoso entendimento de que é possível ao julgador absolver ao invés de pronunciar nulidade alegada pela defesa, ainda que a reconheça. Vicente Greco Filho lembra que os vícios precisam ser declarados para que o ato viciado deixe de gerar efeitos, o que significa que se não houver oportunidade proces- sual para a decretação (decisão absolutória com trân- sito em julgado), o ato nulo persistirá gerando efeitos indefinidamente. É que o autor denomina princípio da restrição processual à declaração de nulidade. Conforme Súmula 523 do STF, a inexistência de defesa torna o processo absolutamente nulo, mas a deficiência de defesa gera nulidade relativa. Vicente Greco Filho assinala ser comum que os Tribu- nais reconheçam a nulidade do feito a partir de deter- minado ato, invalidando todos os posteriores em nome do princípio da consequencialidade. Anota, no entanto, que essa prática deve ser afastada, pois é possível que um ato posterior não dependa de um anterior, devendo - 15 - ser preservado em homenagem ao princípio da conser- vação dos atos processuais. O artigo 564 do Código de Processo Penal traz o rol das nulidades processuais. A nulidade ocorrerá nos se- guintes casos: I – por incompetência, suspeição ou suborno do juiz. Gera nulidade relativa à incompetência relacionada ao território, bem como quando não há união de proces- sos derivada da conexão e continência. Há nulidade ab- soluta nos casos de nulidade relacionada à competência em razão da matéria, funcional, hierárquica ou das jus- tiças especiais. Apesar de não expressa a previsão, há nulidade absoluta no caso de impedimento do juiz. Para alguns autores, em relação à suspeição, a nulidade é relativa, devendo ser arguida em exceção, sendo que, em caso contrário, ainda será possível o reconhecimento da eiva, desde que demonstrado o prejuízo. O “suborno” refere-se à hipótese de recebimento de vantagem, normalmente relacionada com os crimes de corrupção passiva, concussão e prevaricação, gerando nulidade absoluta, uma vez que a imparcialidade do juiz é um dos mais importantes pilares da função jurisdicional. 1.2. Nulidades em Espécie - 16 - II - por ilegitimidade de parte. A ilegitimidade pode ser “ad causam” (para a causa) e “ad processum” (para o processo). Ad causam no caso de ação proposta por quem não é o titular do direito, como na inversão dos titulares das ações públicas e privadas, enquanto que a Ad processum dá-se, por exemplo, com a propositura de denúncia contra o menor de 18 anos, que não tem capacidade processual penal passiva. As nulidades apontadas são absolutas. A possibilidade de convalidação do art. 568 do CPP, já referida, apenas vale para os representantes das partes, ou seja, está relaciona- da com a capacidade postulatória. III – por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos pro- cessos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante; A doutrina costuma apontar aqui a efetiva ausência da inicial acusatória, o que sem dúvida geraria a nulidade absoluta. Enquadra-se aqui também, os casos em que falta formalidade essencial para o ato especificamente previsto, como no caso de denúncia que não narra o fato delituoso. b) O exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios,ressalvado o disposto no art. 167; A previsão busca evitar acusações infundadas contra a pessoa, ou seja, em tese, a denúncia sequer deveria ser recebida quando, em crimes que deixam vestígios, não foi - 17 - feito exame de corpo de delito, ressalvada a possibilidade de exame de corpo de delito indireto. Há exceções legais, como no caso da Lei de Drogas, em que é possível o recebimento da denúncia apenas com o chamado auto de constatação, sendo que o exame de corpo de delito pode ser juntado aos autos até a sentença (art. 50, §§ 1º e 2º, da Lei 11.343/06). Lamentavelmente, a ineficiência dos aparelhos persecu- tórios em conjunto com o desprezo pelas garantias indi- viduais tem orientado a jurisprudência a admitir a acusa- ção, ou seja, receber a denúncia, ainda que sem o exame de corpo de delito, exigindo-o apenas para a sentença, mesmo fora dos casos da lei de drogas. A nulidade da presente alínea é apontada pela doutrina como absoluta. c) A nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos; A nomeação de defensor é necessária desde o momento da apresentação da resposta ou defesa escrita. Também há nulidade quando, apesar de presente, o de- fensor técnico não atua, ou seja, não cumpre seu mister, deixando o réu indefeso. Súmula 523 STF: “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”. - 18 - d) A intervenção do Ministério Público em todos os ter- mos da ação por ele intentada pela parte ofendida, quan- do se tratar de crime de ação pública; Esta nulidade, como dispõe o art. 572 CPP, será consi- derada sanada se não arguida em tempo oportuno. e) A citação do réu para ver-se processar, o seu interro- gatório, quando presente, e os prazos concedidos à acu- sação e à defesa; A doutrina classifica a ausência de citação como nulidade relativa, uma vez que o acusado pode abrir mão de ser citado, quando comparece espontaneamente em juízo. Quanto ao interrogatório, o artigo 185 CPP determi- na que “o acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do Processo Penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituí- do ou nomeado”. Com base na antiga redação do arti- go, que também tratava do réu preso, há jurisprudência amplamente majoritária no sentido de que, se o acusa- do apresenta-se espontaneamente ou é preso, sem que tenha sido interrogado, deve ser imediatamente inquiri- do. A jurisprudência admite a providência mesmo que o processo já esteja em grau de recurso, como homenagem à autodefesa, elemento essencial à ampla defesa, que é garantia individual com índole constitucional. É corrente a decretação da nulidade da sentença quando o réu, que não foi interrogado, no momento próprio, vê- -se preso antes da sentença, sem que o juiz o interrogue. f) A sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da res- - 19 - pectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri; g) A intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a Lei não permitir o julgamen- to à revelia; h) A intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei; i) A presença pelo menos de quinze jurados para a constituição do júri; j) O sorteio dos jurados do Conselho de Sentença em número legal e sua incomunicabilidade; k) Os quesitos e as respectivas respostas; l) A acusação e a defesa, na sessão de julgamento. As alíneas indicadas tratam de nulidades relativas ao procedimento especial dos crimes dolosos contra a vida, e, pela clareza, não demandam maiores esclare- cimentos. A ausência da decisão de pronúncia impli- ca nulidade absoluta, que até porque é a primeira que “submete o réu a julgamento”. Todas as nulidades relativas à formação do conselho de sentença geram nulidade absoluta, porque ferem inte- resse da própria administração da Justiça. Súmula 206 do STF: “é nulo o julgamento pelo Júri com - 20 - a participação de jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo”. Os quesitos devem ser formulados com clareza, haven- do nulidade na deficiência dos quesitos ou de suas res- postas e nas contradições entre estas. Aliás, o parágrafo único do presente artigo traz: “Ocor- rerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição entre estas. Há súmula 156 do STF no seguinte sentido: “É absoluta a nulida- de do julgamento, pelo júri, por falta de quesito obriga- tório.” A defesa deve ser suficiente a não causar prejuízo, con- forme já explanado. A acusação não significa o ato de acusar, mas sim a tomada de palavra pelo promotor, que pode inclusive pleitear a absolvição do réu, quando não convencido de sua culpa, uma vez que também zela pela correta aplicação da Lei penal. É claro que a inexistência da sentença macula o proces- so, mas nesse caso quis a Lei atingir a sentença que não conta com seus elementos essenciais, como motivação e lógica interna. A falta de elementos essenciais da sen- tença incide no inciso IV, sendo que a presente previsão trata, na verdade, de inexistência de sentença. n) O recurso de ofício nos casos em que a Lei o tenha estabelecido; Só gera nulidade a ausência de recurso de ofício (hoje chamado reexame necessário) se não houver recurso - 21 - voluntário. A ausência de recurso de ofício impede o trânsito em julgado da decisão, ou seja, o que se anula é a certidão de trânsito em julgado, bem como outros atos praticados com base no trânsito. o) a intimação, nas condições estabelecidas pela Lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba re- curso; A ciência dos atos é necessária para permitir a partici- pação das partes, aperfeiçoando-se o contraditório. A ausência das comunicações devidas, como a intimação das decisões recorríveis, viola o contraditório na medi- da em que cerceia a utilização dos “recursos inerentes” ao seu exercício. O defensor público deve ser intimado pessoalmente de todas as decisões. Súmula 155 STF: “É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de preca- tória para inquirição de testemunha”. p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quórum legal para o julgamento; Trata-se, mais uma vez, de nulidade absoluta, pois fere interesse na correta administração da Justiça. IV – por omissão de formalidade constitua elemento essencial do ato. Trata-se de cláusula residual, que rege todo sistema pro- cessual, devendo incidir a nulidade sempre que a desobe- diência à fórmula legal provocar desequilíbrio na relação - 22 - processual, obedecidos os princípios e regras gerais. - 23 - Questões 1. (MP/SE – Analista – 2009). Não constitui nulidade: a) a falta de intimação do advogado dativo para os atos instrutórios. b) a não apreciação da sentença de tese subsidiária constante das alegações finais defensivas. c) o patrocínio de defesas colidentes pelo mesmo advo- gado constituído. d) o julgamento de habeas corpus em segunda instância, sem prévia intimação ou publicação de pauta. e) a citação por edital de réu preso na mesma unidade da Federação. 2. (TJ/MG – Técnico Judiciário – 2007). Analise as se- guintes afirmativas a respeito das nulidades no Proces- so Penal. I. O art. 185 do Código de Processo Penal exige como forma de resguardar os direitos constitucionais do acu- sado, que o interrogatório se realize na presença de um defensor e do representante do Ministério Público, cujas ausências causam nulidade ao processo. II. Em tema de nulidades processuais, o nosso Código de Processo Penal acolheu o princípio pas de nullité sans grief, do qual se resume que somente há de decla- rar-se a nulidade do feito, quando, além de alegada op- portune tempore, reste comprovado o efetivo prejuízo dela decorrente. III. Decretada a nulidade do processo por incompe- tência absoluta do Juízo, que pode serreconhecida em qualquer tempo e grau de jurisdição, o novo decisum - 24 - a ser proferido pelo Órgão judicante competente está adstrito ao entendimento firmado no julgado anterior, sob pena de violação indireta do princípio ne reforma- tio in pejus. IV. A constatação de desempenho insatisfatório do de- fensor dativo, caracterizando deficiência de defesa téc- nica, é causa de nulidade do processo somente quando demonstrado prejuízo à defesa do acusado. A partir dessa análise, pode-se concluir que: a) apenas as afirmativas I e II estão corretas. b) apenas as afirmativas III e IV estão corretas. c) apenas as afirmativas I e III estão corretas. d) apenas as afirmativas II e IV estão corretas. 3. (TJ/MG – Técnico Judiciário – 2007). Analise as seguintes afirmativas sobre as nulidades no Processo Penal. I. A intimação do defensor público ou dativo deve ser pessoal, sob pena de nulidade absoluta por cerceamen- to de defesa. II. A nomeação de defensor ad hoc em razão do não comparecimento do defensor constituído, regularmen- te intimado, à audiência de ouvida de testemunha, não é causa de nulidade. III. Não há cerceamento de defesa quando ocorre o in- deferimento de diligências requeridas, se o juiz as consi- derar protelatórias ou desnecessárias e sem pertinência com a instrução do processo. IV. Nos crimes afiançáveis de responsabilidade dos funcionários públicos, a inobservância do art. 514 do CPP, que determina, precedendo ao recebimento da - 25 - denúncia, a notificação do acusado, para responder por escrito, no prazo quinze dias é causa de nulidade relati- va, devendo, pois, ser arguida no momento processual oportuno, sob pena de preclusão. A partir dessa análise, pode-se concluir que: a) apenas as afirmativas I e III estão corretas. b) apenas as afirmativas II e IV estão corretas. c) apenas as afirmativas II e III estão corretas. d) todas as afirmativas estão corretas. 4. (TJ/PE – Técnico Judiciário – Área Administrativa – 2007). A respeito das nulidades no Processo Penal, é correto afirmar que: a) a nulidade de ato processual será declarada ainda que não houver influído na decisão da causa. b) a nulidade de um ato, uma vez declarada, não causa- rá a dos atos que dele diretamente dependam, ou seja, consequência. c) da decisão que anula o processo, no todo ou em par- te, não cabe qualquer recurso. d) a nulidade de ato processual será declarada ainda que não houver influído na apuração na verdade substan- cial. e) as nulidades relativas considerar-se-ão sanadas se, praticado de outra forma, o ato tiver atingido o seu fim. 5. (TJ/MG – Técnico Judiciário – 2005). Consideran- do-se a nulidade absoluta ocorrida no curso de um Pro- cesso Penal, é CORRETO afirmar que tal nulidade: - 26 - a) pode ser declarada, de ofício, pelo Magistrado e ar- guida por quaisquer das partes, mas nunca após o trân- sito em julgado da sentença. b) pode ser suscitada apenas pelo representante do Mi- nistério Público. c) pode ser suscitada pela Defesa, após o trânsito em julgado de sentença condenatória. d) não pode ser declarada, de ofício, pelo Magistrado, por ferir o princípio do ne proceda iudex ex oficio. - 27 - CAPÍTULO 2 DOS RECURSOS EM GERAL Vem do latim “recursus” que significa retrocesso, volta. Recurso é um pedido de reexame ou reforma da decisão do juízo “a quo” pelo juízo “ad quem”. É o pedido de nova apreciação da decisão judicial, pelo qual se obtém o reexame da decisão anterior. a) duplo grau de jurisdição Tem origem no artigo 5º, inciso LV da Constituição Fe- deral, que assim prevê de seu texto: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administra- tivo, e aos acusados em geral são assegurados o contra- ditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Ou seja, baseia-se na possibilidade de falha hu- mana, surgindo com a finalidade de diminuir o arbítrio dos juízes de primeiro grau com a fiscalização, por parte dos juízes superiores sobre os inferiores, consequente- 2.1. Conceito 2.2. Princípios - 28 - mente, minimizando os erros do judiciário. Visa também propiciar um conformismo maior com a decisão, pois terá sido decidida por um colegiado de julgadores. b) da voluntariedade O recurso é meio voluntário; é extensão do direito de ação. O Poder Judiciário só atua se provocado. Ao pro- latar a sentença, o órgão jurisdicional entrega a presta- ção tornando-se inerte. Logo, para que volte a apreciar a questão, deve ser provocado novamente com a interpo- sição de um recurso. A inércia da jurisdição é a garantia da imparcialidade. O princípio da voluntariedade do recurso é mitigado pelo recurso de ofício (recurso obrigatório, recurso ne- cessário), ou seja, o juiz deve interpor recurso da decisão (art. 574 do CPP – revogado pelo art. 129, I da CF). Segundo Ada Pellegrini Grinover, vê que a terminolo- gia correta seria a garantia ao duplo grau de jurisdição. c) da fungibilidade Está previsto no art. 579 do CPP que possibilita o co- nhecimento de um recurso por outro, desde que não haja má-fé, bem como o recurso seja tempestividade. d) proibição do “reformatio in pejus” Trata-se de garantia para o réu de que não terá sua pena agravada em qualidade, quantidade ou espécie, de recur- - 29 - so interposto exclusivamente por ele (art. 617 do CPP). São pressupostos recursais os requisitos de admissibilida- de que o recurso deve possuir. a) Cabimento O recurso deve estar previsto em Lei, ter previsão legal. b) Adequação Ademais, não basta que o recurso tenha previsão legal; é necessário que seja adequado à decisão que se deseja impugnar. Esse pressuposto confere lógica ao sistema recursal. c) Regularidade formal São as formalidades legais para o recurso ser recebido. O Código de Processo Penal estabelece a forma segun- do a qual o recurso deve ser interposto (artigo 578 do Código de Processo Penal). Ex.: a apelação, e o recurso em sentido estrito podem ser interpostos por petição ou termos nos autos. Os demais recursos devem ser inter- postos por petição. d) Tempestividade O recurso deve ser interposto dentro do prazo estabe- lecido pela Lei. Os prazos para interposição de qualquer recurso começam a correr a partir do primeiro dia útil 2.3. Pressupostos 2.3.1. Pressupostos objetivos - 30 - após a intimação, e, conforme prevê a Súmula n.º 310 do Supremo Tribunal Federal: “quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que come- çará no primeiro dia útil que se seguir”. e) Ausência de fatos impeditivos do direito de recorrer Fatos impeditivos são aqueles que impedem a interposi- ção do recurso ou seu recebimento. A renúncia é ato de disposição, ou seja, abre-se mão do direito de recorrer. É diferente de deixar escoar o pra- zo sem interpor recurso. Na renúncia, há manifestação expressa nesse sentido. O Ministério Público não pode renunciar. A renúncia antecipa o trânsito em julgado. f) Ausência de fatos extintivos do direito de recorrer Fatos extintivos são fatos supervenientes à interposição do recurso. A desistência também é ato de disposição, contudo, pos- terior à interposição do recurso. O Ministério Público não pode desistir dos recursos já interpostos, conforme disposição expressa do art. 576 do CPP. O defensor po- derá fazê-lo, se tiver poderes para tanto. A deserção é o ato de abandonar o recurso, que pode acontecer com o não pagamento das custas processu- ais, nos casos de ação penal privada (artigo 806, § 2º do CPP) - 31 - a) Legitimidade A legitimidade refere-se às partes legítimas para interpo- sição do recurso: Ministério Público, querelante, réu ou seu defensor (artigo 577 do Código de Processo Penal). Devem ser intimados o réu e seu defensor, iniciando-se o prazo após a última intimação. b) Interesse jurídico O interesse deriva da sucumbência, que ocorre sempre que a parte teve frustrada alguma expectativalegítima. O parágrafo único do artigo 577 do Código de Processo Penal: “não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão”. a) Devolutivo: transfere à instância superior o reexame da matéria. É comum em quase todos os recursos; b) Suspensivo: o recurso suspende a eficácia da decisão até o julgamento final; c) Extensivo: se o recurso não tem por fundamento mo- tivo de caráter exclusivamente pessoal, o seu julgamento aproveitará aos demais no concurso de agentes, ainda que não tenham recorrido (art. 580 do CPP); d) Regressivo ou diferido: é a possibilidade dada ao juiz 2.3.2. Pressupostos subjetivos 2.4. Efeitos - 32 - prolator da decisão impugnada de reexaminar sua pró- pria decisão. É o recurso que se procede ao reexame da decisão do juiz, nas matérias especificadas em Lei (rol taxativo), permitindo novo pronunciamento, para juízo de retrata- ção, antes da remessa dos autos à instância superior, cuja fundamentação encontra-se nos artigos 581 a 592 do Código de Processo Penal. O Recurso em Sentido Estrito tem cabimento no rol des- crito no art. 581 do CPP (decisão, despacho ou sentença): I - que não receber a denúncia ou a queixa (recebimento com capitulação diversa equivale à rejeição); II - que concluir pela incompetência do juízo (crime em cidades limítrofes, ou ainda da justiça militar para comum e vice e versa); III - que julgar procedentes as exceções (incompetência, litispendência, ilegitimidade de parte e de coisa julgada), salvo a de suspeição; 2.5. Recurso em Sentido Estrito 2.5.1. Conceito 2.5.2. Cabimento - 33 - IV - que pronunciar o réu (nova redação dada pela Lei 11.689/08); V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar ini- dônea a fiança, indeferir requerimento de prisão pre- ventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante (não cabe recurso da decisão do juiz que decreta a preventiva ou que indefere o pedido de relaxamento de prisão. Não cabe da decisão que não concede liberdade provisória e não arbitra a fiança ou não relaxa a prisão em flagrante. Cabível HC); VI - que absolver o réu, nos casos do art. 411 do CPP – Absolvição sumária = casos em que este- jam presentes as excludentes de ilicitude (revogado pela Lei 11.689/08); VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor (quebra-se a fiança quando deixa de comparecer a ato judicial, quando muda de residência sem prévio aviso e per- missão, praticar nova infração etc. E a perda quando conde- nado o réu deixa de recolher à prisão); VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade (MP); IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da pres- crição ou de outra causa extintiva da punibilidade – Vide art. 107 do CP; X - que conceder ou negar a ordem de Habeas Corpus (somente do juiz singular, e não do Tribunal. Ex.: HC para - 34 - pedido de trancamento de Inquérito Policial); XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão con- dicional da pena; XII - que conceder, negar ou revogar livramento condi- cional; (revogados pela Lei de Execução Penal – art. 197) XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte (MP); XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta (deserta é a fuga do apelante); XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial (arts. 92 e 93 do CPP); XVII - que decidir sobre a unificação de penas – (revo- gado pela Lei de Execução Penal – art. 197); XVIII - que decidir o incidente de falsidade (quanto a documento ou laudos); XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; XX - que impuser medida de segurança por transgres- são de outra; XXI - que mantiver ou substituir a medida de seguran- ça, nos casos do Art. 774; - 35 - XXII - que revogar a medida de segurança; XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a Lei admita a revogação; XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples. (revogado pela Lei de Execução Penal – art. 197) Os incisos revogados pela Lei de Execução Pe- nal são situações onde não cabem mais o Recurso em Sentido Estrito, contudo, são passíveis de um recurso chamado Agravo em Execução. O prazo para interposição do recurso é de 5 (cinco) dias a contar da publicação do despacho (art. 586 caput do CPP). Sendo as suas razões devendo ser apresentadas em 2 (dois) dias, conforme prevê o art. 588 do CPP. O Recurso em Sentido Estrito possui os efeitos devo- lutivo, regressivo (possibilidade de o juiz rever sua decisão – juízo de retratação) e suspensivo (nos casos expressos do art. 584 do CPP). 2.5.3. Prazo 2.5.4. Efeitos A interposição será sempre perante o juiz recorrido, para que esse possa rever a decisão, mas endereçado ao tribu- nal competente. 2.5.5. Competência Trata-se de recurso ordinário interposto de decisão defi- nitiva ou com força de definitiva, para a 2ª instância, para o reexame de matéria e a consequente modificação da decisão, cuja fundamentação se encontra nos artigos 593 e seguintes do Código de Processo Penal. Tem cabimento nas hipóteses do rol descrito no art. 593 do CPP: a) sentenças do juiz singular: definitivas ou não, condena- tórias ou não, e que não se confundem com o Recurso em Sentido Estrito (art. 593 I e II, do CPP). Deve-se pleitear sempre pela absolvição, bem como toda a matéria de de- fesa possível (aplicação de atenuantes, pena alternativa etc). b) sentenças do tribunal do júri: de caráter restrito, por serem soberanas as suas decisões, ao se apelar, não se pode requerer a reforma da sentença, mas sim que seja o 2.6. Recurso de Apelação 2.6.1. Conceito 2.6.2. Cabimento - 37 - O recurso de apelação tem prazo de 5 (cinco) dias a con- tar da publicação do despacho (art. 593 CPP). Uma vez interposto o pedido de apelação o juiz poderá adotar 3 (três) decisões: a) recebê-la: neste caso abre-se vista ao apelante, para que este arrazoe o recurso no prazo de 8 (oito) dias (art. 600 CPP), e no caso de contravenção 3 (três) dias. Depois se abre vista a parte contrária para contra-arrazoar o recur- so também em 8 dias. Com as razões e contra-razões os autos são remetidos ao Tribunal competente para reexa- me da matéria; b) denegá-la: neste caso, cabe o RESE (art. 581, XV do CPP); c) recebê-la e julgá-la deserta: na hipótese em que o réu apelar e fugir (art. 595 CPP), ou quando não for pago o preparo (custas – nas ações de iniciativa privada). Neste caso, caberá também o RESE (artigo 581, XV do CPP). 2.6.3. Prazo 2.6.4. Procedimento apelante submetido a novo julgamento (artigo 593, III, “a” a “d” do CPP) ou que seja retificada a pena imposta (artigo 593, § 1º ao 3º, do CPP), ou pedir a nulidade, quando for posterior à denúncia. - 38 - São características do recurso de apelação: a) limitada e plena: apenas as razões da apelação, o Tri- bunal não pode julgar “ultra petita” (além do pedido), nos termos do art. 599 do CPP e, portanto, devolve-se ao Tribunal no limite em que se apelou. b) ampla: porque devolve o conhecimento da matéria impugnada. Há entendimento que o defensor dativo não é obrigado a apelar, só será obrigado se houver mani- festação expressa do réu. O réu também pode desistir da apelação, o advogado só poderá fazê-lo caso tenha poderes especiais para tanto. A desistência é irrevogável. c) sumária: nos casos de crimes apenados com detenção ou contravenção (art. 610 CPP); d) ordinária: aplicada aos crimes de reclusão (art. 613 CPP). São efeitos do recurso de apelação, os efeitos devolutivos e suspensivos (art. 596 e 597 do CPP). Exemplo: caso esteja em liberdade e tiver sido condenado, tem o direito de recorrer em liberdade. Se a sentença for absolutória, haverá apenas o efeito devolutivo. 2.6.5. Características da Apelação 2.6.6. Efeitos - 39 - A interposição será sempre ao juiz que proferiua senten- ça, para que uma vez recebido, possa remeter ao Tribunal competente. 2.6.7. Competência Trata-se de recurso impetrado ao próprio juiz ou tribunal prolator da sentença ou do acórdão, para que os declare, reforme ou revogue, com a seguinte fundamentação: - artigos 619 e 620 do CPP (para sentenças de 2.ª ins- tância); - artigo 382 do CPP (para sentença de 1.ª Instância); - artigo 83 da Lei 9.099/95 (Jecrim). Os embargos de declaração constituem-se meio de cor- reção da decisão, tendo por característica a invocação no mesmo juízo ou Tribunal, para que este desfaça a: a) Obscuridade: falta de clareza na redação, não sendo possível a perfeita compreensão do que foi decidido; 2.7. Embargos de Declaração 2.7.1. Conceito 2.7.2. Cabimento - 40 - b) Ambiguidade: a decisão permite interpretações várias e distintas; c) Omissão: quando não for apreciado algum ponto; d) Contradição: quando os conceitos e afirmações ex- postas na decisão são inconciliáveis, incompatíveis. O prazo para interposição dos Embargos de Declara- ção, em regra, é de 2 (dois) dias a contar da publica- ção do acórdão ou da sentença, e deve ser dirigido ao próprio órgão que prolatou a decisão. No STF ou STJ (artigo 337, § 1º do Regimento Interno do STF) ou JECRIM (artigo 83 § 1º da Lei 9.099/95) o prazo é de 5 (cinco) dias. O prazo para interposição dos Embargos de Declara- ção, em regra, é de 2 (dois) dias a contar da publica- ção do acórdão ou da sentença, e deve ser dirigido ao próprio órgão que prolatou a decisão. No STF ou STJ (artigo 337, § 1º do Regimento Interno do STF) ou JECRIM (artigo 83 § 1º da Lei 9.099/95) o prazo é de 5 (cinco) dias. 2.7.3. Prazo 2.7.3. Prazo - 41 - Os embargos de declaração interrompem o prazo de outro recurso e a parte contrária não será ouvida. No JECRIM o prazo será suspenso (artigo 83 § 2.º da Lei 9.099/95) 2.7.4. Efeitos É o recurso oponível contra decisão não unânime de se- gunda instância, em recurso de apelação e em sentido estrito, desde que desfavorável ao réu, com fundamenta- ção no artigo 609, § único do CPP. Trata-se de recurso exclusivo da defesa. São as hipóteses de cabimento do presente recurso: a) Embargos infringentes: visam à modificação do acór- dão sobre o mérito da questão, ou da pena; b) Embargos de nulidade: visam à anulação do julgamen- to, versando sobre matéria processual, capaz de invalidar o acórdão ou o processo. Os Embargos Infringentes e de Nulidade devem ser vin- 2.8. Embargos Infringentes e de Nulidade 2.8.1. Conceito 2.8.2. Cabimento - 42 - culados a matéria do objeto do voto vencido, devendo limitar-se ao entendimento, não podendo ser ampliado para questões não apreciadas no voto. Tem prazo de 10 (dez) dias a contar da publicação do acórdão. Os Embargos infringentes e de nulidade possuem efeito suspensivo quanto à prisão do réu que se encontra sol- to. O Tribunal só expedirá mandado após o julgamento, exceto se a prisão seja decorrente da parte unânime da decisão (ex.: divergem sobre qualquer outra parte da decisão, menos da decretação da prisão). Será sempre endereçado à Câmara que julgou o recur- so atacado. 2.8.3. Prazo 2.8.4. Efeitos 2.8.5. Competência - 43 - A expressão completa é “habeas corpus ad subjicien- dum”, cuja tradução significa “que tenhas o teu corpo”. Trata-se de remédio jurídico destinado a tutelar a liber- dade física do indivíduo, a liberdade de ir, ficar e vir, tendo por finalidade evitar ou fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção decorrente de ilegalidade ou abuso de poder (o conceito em geral é fornecido pelo art. 647 do CPP). Não obstante a fundamentação do Código de Processo Penal, também é chamado de remédio constitucional, pois tem previsão no artigo 5º, LXVIII da Constituição Federal e nos artigos 647 a 667 do Código de Proces- so Penal. a) Liberatório ou repressivo: objetiva afastar o cons- trangimento ilegal já efetivo à liberdade de locomoção; b) Preventivo: destina-se a afastar uma ameaça à liber- dade de locomoção. Hipótese de salvo conduto. Nesse caso, deve existir um fundado receio; c) De ofício: o juiz pode conceder de ofício, se obser- 2.9. Habeas Corpus 2.9.1. Conceito 2.9.2. Espécies - 44 - vado constrangimento ilegal. Nem todas as correntes doutrinárias entendem a existência deste, eis que se tra- ta unicamente de uma das situações anteriores, onde o magistrado ao verificar uma ilegalidade, concede “de ofício” o Habeas Corpus. São partes legítimas o rol descrito no “caput” do art. 654 do Código de Processo Penal. Em suma, podem impetrar Habeas Corpus: - qualquer pessoa a seu favor ou de outrem, com ou sem capacidade postulatória, ou seja, com ou sem advo- gado. Ex.: menor de idade, capaz ou incapaz, nacional ou estrangeiro; - pessoa jurídica pode impetrar em favor de pessoa fí- sica. Obs.: como se trata de liberdade, veda-se a favor dela, embora exista a responsabilidade penal de pessoa jurídica e o HC pode servir para trancamento de ação penal em caso de crime contra o meio ambiente (Lei 9.605/98) que reconhece a possibilidade de responsabi- lização criminal da pessoa jurídica; - MP (art. 654 “caput”) e Juiz de Direito podem como qualquer do povo ou paciente, mas o juiz pode conce- der de ofício (art. 654 § 2.º). O delegado de polícia não pode no exercício de suas funções, somente como qualquer um do povo. 2.9.3. Legitimidade Ativa - 45 - São hipóteses de cabimento, as que se encontram ex- pressos no artigo 648 do Código de Processo Penal: a) falta de justa causa: para a prisão, para o inquérito policial (trancamento), para o processo (ex.: visando a anulação, quando abuso evidente e sem provas); b) excesso de prazo: para encerrar a instrução proces- sual e sentenciar o processo (ex.: súmulas 21, 52 e 64 do STJ); c) autoridade incompetente (ex.: juiz militar, prender civil); d) cessado o motivo da coação (ex.: tempo de prisão cumprido); e) não concessão de fiança (ex.: art. 5º, LXVI da CF); f) processo manifestamente nulo (ex.: não nomeação de advogado durante instrução do processo); g) extinção da punibilidade (ex.: art. 107 do CP). 2.9.4. Cabimento Será sempre endereçado à autoridade jurisdicional hie- rarquicamente e imediatamente superior àquela tida como autoridade coautora (ex.: se a autoridade coauto- 2.9.5. Competência - 46 - Não se trata propriamente de recurso. É uma ação au- tônoma destinada ao desfazimento dos efeitos de uma sentença condenatória transitada em julgado. É consti- tutiva, ação de conhecimento. O condenado pode pedir a qualquer tempo, o reexame do processo já findo, a fim de ser absolvido ou beneficiado, e tem fundamentação nos artigos 621 a 631 do Código de Processo Penal. Será devida indenização por erro judiciário que se vis- lumbre culpa ou dolo por parte do Estado, isto é, de 2.10.1. Conceito 2.10. Revisão Criminal É admissível desde que os documentos evidenciarem a ilegalidade, bem como presentes os requisitos “pericu- lum in mora” e “fumus boni juris”, conforme previsão expressa do art. 660, § 2º do Código de Processo Penal. Pode ser impetrado a qualquer tempo, sempre que pre- sente uma ilegalidade. 2.9.6. Pedido de liminar 2.9.7. Prazo ra for o delegado de polícia, o Habeas Corpus deve ser endereçado ao juiz de 1.ª instância). - 47 - Trata-se de uma ação autônoma contra sentença, onde se instaura outra relação jurídica. É privativo da defesa, podendo ser requerida a qualquer tempo, não existindo decadência (artigo 622, do CPP). É pressuposto primordial da revisão criminal, que a sentença penal condenatória tenha transitado em jul- gado, não sendo cabível mais nenhum recurso, com exceção do “Habeas Corpus”, que também é cabível a qualquer tempo. Após o transito em julgado, não há prazo para interpo- sição, desde que tenha surgido fato novo. Como uma petição inicial, apresentam-se os fatos, o di- reito e os pedidos, endereçando para o Presidente do 2.10.2. Características 2.10.3. Pressuposto 2.10.4.Prazo 2.10.5. Procedimento seus representantes ou agentes. Agora o juiz poderá arbitrar a indenização, não necessitando ser liquidada pelo juízo cível. - 48 - Tribunal, que irá processar o seu julgamento. Conforme o rol do art. 623 do Código de Processo Penal, são partes legítimas para propor a Revisão Cri- minal, o próprio réu, independentemente do advogado. O Estatuto da OAB não revogou o dispositivo em ra- zão da garantia da ampla defesa. Em caso de morte (e haver interesse), a ação pode ser proposta pelo cônju- ge, ascendente, descendente ou irmão. Se o réu falecer durante o curso do processo, deverá haver nomeação de curador, pois há interesse no “status dignitatis” do condenado. O MP não tem legitimidade. O Rol taxativo do artigo 621 do CPP: a) quando a sentença condenatória a ser desconstituída for contrária ao texto expresso da Lei Penal ou à evi- dência dos autos; b) quando a sentença condenatória a ser desconstituí- da fundar-se em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; c) quando, após a sentença, forem descobertas novas pro- vas de inocência do condenado ou de circunstância, que determine ou autorize diminuição da pena estabelecida. 2.10.6. Legitimidade 2.10.7. Hipóteses legais de Cabimento - 49 - A interposição será sempre ao Presidente do Tribunal. Se crime de competência Estadual, para o Tribunal de Justiça do Estado. Se crime de competência Federal, para o Tribunal Regional Federal. 2.10.8. Competência Será admissível a revisão criminal das decisões profe- ridas pelo Tribunal do Júri, uma vez que a soberania dos veredictos é instituída como uma das garantias in- dividuais em benefício do réu, não podendo ser atingi- da, enquanto preceito para garantir sua liberdade, não podendo ser invocada contra ele. Havendo anulação do processo, o acusado deverá ser submetido a novo julgamento. - 50 - Questões 1. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – 2011). Considere as seguintes assertivas: I. o Ministério Público poderá desistir de recurso que haja interposto; II. não se admitirá recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão; III. salvo a hipótese de má-fé, a parte não será pre- judicada pela interposição de um recurso por outro. De acordo com o CPP em suas disposições gerais sobre os recursos (arts. 574 a 580), é correto ape- nas, o que se afirma em: a) II. b) III. c) I e II. d) I e III. e) II e III. 2. (TJ/PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUSTIÇA – 2009). O recurso de apelação deve ser interposto: a) somente por petição. b) por petição ou por termo nos autos. c) por termo nos autos ou por agravo regimental. d) mediante requerimento dirigido ao Ministério Público. e) quando do oferecimento da defesa preliminar. 3. (TJ/PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUSTIÇA – 2009). A decisão que deixa de receber - 51 - a denúncia, ofertada por crime de roubo, pode ser ata- cada por: a) carta testemunhável. b) apelação. c) agravo em execução. d) recurso em sentido estrito. e) recurso extraordinário. 4. (TJ/PE – Técnico Judiciário – Área Administrativa – 2007). Considere os recursos abaixo: I. Apelação. II. Recurso em Sentido Estrito. III. Protesto por Novo Júri. IV. Agravo de Petição. V. Recurso Especial. VI. Recurso Extraordinário. São cabíveis, dentre outros, no âmbito do Processo Pe- nal brasileiro, os indicados APENAS em: a) I, III, IV e V. b) I, II, III, V e VI. c) I, II, IV, V e VI. d) II, III, IV e VI. e) II, IV, V e VI. 5. (TJ/PE – Técnico Judiciário – Área Administrativa – 2007). De acordo com o Código de Processo Penal: a) a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro, salvo a hipótese de má-fé. b) a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro, ainda que tenha agido de má-fé. - 52 - c) a interposição de um recurso por outro impede o respectivo conhecimento, tenha ou não a parte agido de má-fé. d) a interposição de um recurso por outro não impede o respectivo conhecimento, mesmo que interposto fora de prazo. e) a interposição fora de prazo e a má-fé não justificam o não recebimento de recurso interposto erroneamente pela parte. Capítulo 16 1. D | 2. D | 3. D | 4. E | 5. C Capítulo 17 1. E | 2. B | 3. D | 4. C | 5. A Gabarito - 55 - Bibliografia BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Pe- nal, 4ª edição, 2009. Ed. Saraiva CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 16ª edi- ção, 2009. Ed. Saraiva CAPEZ, Fernando. Execução Penal, 10ª edição, 2010. Ed. Saraiva FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Processo Penal volume 1, 28ª edição, 2009. Ed. Saraiva FILHO, Vicente Greco. Manual de Processo Penal, 8ª edição, 2010. Ed. Saraiva. GONÇALVES, Victor Eduardo Rios, 15ª edição, 2010. Ed. Saraiva. ISHIDA, Válter Kenji. Processo Penal, 2008. Ed. Atlas. JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. Processo Pe- nal, 10ª edição, 2010. Ed. Revista dos Tribunais. MACHADO, Antonio Alberto. Curso de Processo Pe- nal, 2ª edição, 2009. Ed. Atlas. MAGGIO, Vicente Rodrigues de Paula. Direito Penal. 6ªedição, 2006. Ed. Millennium. MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal, 9ª edi- ção, 2011. Ed. Saraiva. - 56 - MUCCIO, Hidejalma. Curso de Processo Penal, 2011. Ed. Método. NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado, 8ª edição, 2008. Ed. Revista dos Tribunais. NUCCI, Guilherme de Souza. Prisão e Liberdade, 2011. Ed. Saraiva OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal, 13ª edição, 2010. Ed. Lumen Juris. OLIVIERA, Flávio Cardoso de. Direito Processual Pe- nal, 5ª edição, 2011. Ed. Saraiva. PAGLIUCA, José Carlos Gobbis. Direito Processual Penal, 5ª edição, 2009. Editora Rideel. SCALQUETTE, Rodrigo Arnoni. Direito Processual Penal, 2010. Ed. Atlas. SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação Penal Espe- cial, 10ª edição, 2007. Ed. Atlas. VANZOLINI, Maria Patrícia. Prática Penal, 7ª edição, 2010. Ed. Revista dos Tribunais.
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