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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ALIMENTAÇÃO ESPÍRITO SANTO 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2. ALIMENTAÇÃO .................................................................................................... 4 3. SIGNIFICADOS DA ALIMENTAÇÃO .................................................................... 6 4. HISTÓRICO DA ALIMENTAÇÃO, SAÚDE E CULTURA ...................................... 8 5. PROGRAMAS NACIONAIS DE ALIMENTAÇÃO ............................................... 11 5.1 Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE .................................... 11 5.2 Política Nacional de Alimentação e Nutrição - PNAN ................................... 14 5.3 Aleitamento Materno ..................................................................................... 15 6. ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ........................................................................... 16 6.1 Propósito ...................................................................................................... 25 6.2 Princípios ...................................................................................................... 25 7. AÇÕES DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (EAN) ....................... 27 8. PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SAUDÁVEL .......................... 30 9. VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL ...................................................... 32 10. GESTÃO DAS AÇÕES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ................................ 34 11. QUALIFICAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO .................................................... 37 12. CONTROLE E REGULAÇÃO DOS ALIMENTOS ............................................... 39 13. PESQUISA, INOVAÇÃO E CONHECIMENTO EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO......................................................................................................42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 44 3 1. INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2. ALIMENTAÇÃO Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com A alimentação está relacionada com as práticas alimentares, que envolvem opções e decisões quanto à quantidade; o tipo de alimento que comemos; quais os que consideramos comestíveis ou aceitáveis para nosso padrão de consumo; a forma como adquirimos, conservamos e preparamos os alimentos; além dos horários, do local e com quem realizamos nossas refeições (BRASIL, 2007). A alimentação e a nutrição são questões globais e locais relevantes para a saúde pública (RIBEIRO et al, 2017), que no cenário contemporâneo têm mobilizado organizações (internacionais e nacionais) e países para a criação e implementação de políticas públicas que visam à garantia e a efetivação do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Essas políticas públicas trazem como foco ações em Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) nas suas diversas dimensões: disponibilidade, acesso, consumo, produção e utilização biológica dos alimentos (FAO-UN, 2014). É direito de todo ser humano ter uma alimentação adequada e saudável, do ponto de vista da saúde, do respeito à cultura alimentar, da sustentabilidade econômica, social, ambiental, da disponibilidade e do acesso permanente aos alimentos de qualidade, sem comprometer outras necessidades inerentes a uma vida digna, como a educação, moradia, emprego e lazer (FAO-UN, 2010). 5 Contudo, os problemas alimentares contemporâneos permanecem atravessados pela transformação de bens essenciais aos seres humanos em mercadoria, como é o caso dos alimentos. Nesse contexto, observa-se que os alimentos são distribuídos de acordo com as leis da oferta e da demanda - um traço importante do capitalismo contemporâneo e uma das chaves para explicar o atual cenário produtor de doenças e de desigualdades econômicas e sociais, que impacta sobre os sistemas alimentares globais e impõe desafios no campo da saúde pública, criando obstáculos para a consolidação da SAN e a efetivação dos direitos humanos em diversos países. De acordo com a Lei citada por Silva & Bocaletto (2010) são quatro os princípios: Harmonia e Quantidade, Qualidade e Adequação. Fonte: image/jpeg;base64 A Lei da Quantidade aponta que os alimentos devem ser suficientes para satisfazer as necessidades energéticas e nutricionais do organismo e mantê-lo em equilíbrio. Assim cada indivíduo necessita de quantidades específicas de carboidratos, proteínas, gorduras, fibras, vitaminas, minerais e de água para manter suas funções orgânicas e 8 atividades diárias. Isto depende do sexo, da idade, do estado fisiológico e da atividade física. Tanto o excesso quanto a falta serão prejudiciais ao organismo. Portanto é necessária muita atenção às quantidades individuais. A Lei da Qualidade mostra que a alimentação deve ser completa em sua composição e que forneça ao organismo todos os nutrientes que ele necessita. Os nutrientes são essenciais para formação, crescimento e manutenção de um corpo 6 saudável ao longo da vida, assim como para uma possível recuperação quando necessário. As refeições devem ser variadas, oferecendo todos os grupos de nutrientes para o bom funcionamento do corpo. A saúde do nosso organismo depende da qualidade e não da quantidade do que fornecermos para que ele tenha ou não um bom desempenho. A Lei da Harmonia fala que é preciso ter um equilíbrio entre os todos os nutrientes que necessitamos. Não é porque um nutriente é bom que devemos consumi-lo em grande quantidade. É necessária uma relação de equilíbrio na composição da alimentação de modo a evitar os excessos ou deficiências de nutrientes. O nosso organismo aproveita corretamente os nutrientes quando estes se encontram em proporções adequadas. Assim, é importante haver um equilíbrio entre eles, pois as substâncias não agem isoladamente, mas sim em conjunto. Por exemplo, a relação entre a ingestão de carboidratos, proteínas e gorduras, deve estar em harmonia. A Lei da Adequação mostra que a alimentação deve se adequada às necessidades de cada organismo, respeitando as características de cada indivíduo. É necessário considerar os ciclos da vida: infância, adolescência, adulto e idoso; o estado fisiológico: gestação, lactação; o estado de saúde: presença ou ausência de doenças; os hábitos alimentares: deficiência de nutrientes; as condições socioeconômicas e culturais: acesso aos alimentos (SILVA & BOCALETTO, 2010). 3. SIGNIFICADOS DA ALIMENTAÇÃO Fonte: pt.slideshare.net 7 Ao estudo antropológico da alimentação, “o homem come significados” (FISCHLER Apud MACIEL & CASTRO, 2013), “come cultura” (BREGANTINI,2015). O que os humanos ingerem são nutrientes, mas são, sobretudo, imaginários, ideias, construções abstratas que são compartilhadas socialmente. A partir disso entendemos que o gosto que popularmente costumamos dizer que “não é discutido”, passa a ser concebido como altamente discutível, já que o gosto sempre tem suas raízes em algo que em determinado momento é comum a todos os participantes de determinado meio social, ou seja, que não envolve a experiência de apenas uma pessoa e está atrelado às ideias, aos imaginários compartilhados. Nas religiões de matrizes africanas a comida também exerce sentidos e significados que extrapolam sua funcionalidade fisiológica (SOUZA JUNIOR, 2014). Nas religiões afro-brasileiras a comida é entendida como força, dom, energia presente nas raízes, folhas e frutos que brotam da terra. É algo cheio de sentidos e sentimentos. Além do mais, a comida serve como elo dos vivos com os ancestrais, assim como também com o sagrado. As questões sobre alimentação que são elucidadas nas comunidades de terreiro por Souza Junior (2014) dão visibilidade para outro ponto importante a respeito do tema. O modo como é preparada a refeição, as formas como se deve comer de acordo com o período dos rituais, as restrições alimentares, as proibições rituais de ingerir alguns alimentos em determinados momentos do ano, tudo isso faz parte da simbologia e do próprio ritual que é a alimentação dentro dessas comunidades. O trivial ato de comer e seus cumprimentos de ordem fisiológica podem passar despercebidos por quem consome a comida. No entanto, a alimentação é permeada de desejos e emoções (ROSSI, 2014), carregada de memórias e significados (CASCUDO, 2011) e tem movido indivíduos em direções diversas associadas à saúde, estética e entretenimento (TEIXEIRA; SAUERBRONN; LODI, 2015). Cada vez mais pessoas se engajam mais profundamente com práticas de consumo de alimentos das mais diversas, desde a busca por dietas saudáveis até conversas sobre como preparar, executar e consumir pratos, compartilhando fotografias de pratos finalizados e troca de experiências culinárias. O interesse público pela comida cresceu a partir da década de 1990, quando presenciamos a proliferação de grande diversidade de programas de TV com conteúdos culinários, documentários de viajantes expondo as peculiaridades das 8 cozinhas por eles visitadas e debates sobre saúde, alimentos e consequências para o corpo. Ao mesmo tempo, livros de receitas figuram como produtos editoriais relevantes e a discussão acerca da alimentação toma conta das redes sociais (CUPOLILLO; SAUERBRONN, 2017). Na sociedade contemporânea, podemos observar que o alimento ocupa posição de destaque na vida das pessoas e nos mercados e que novas perspectivas estão sendo incorporadas às práticas de consumo: novas relações entre as pessoas, novos produtos, novas interpretações da comida. 4. HISTÓRICO DA ALIMENTAÇÃO, SAÚDE E CULTURA Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com Flandrin e Montanari (2015) observam a história da alimentação sem deixar de lado aspectos de ação e do pensamento humano. Tal proposta não pretende se distanciar da história tradicional da alimentação, mas reconhece o papel e a importância do tema, assim como sua posição estratégica no sistema de vida e de valores das diversas sociedades. De acordo com Flandrin e Montanari (2015), não se pode assegurar a autoria e invenção de alimentos e comidas, mas é possível compreender que existem forças que alteram as formas de consumo de alimentos, incluindo modos de preparo e gostos (FLANDRIN; MONTANARI, 2015). Na antiguidade, saúde e longevidade estavam intimamente relacionados com os hábitos alimentares. Assim, o apetite maior era sinal de saúde enquanto a 9 inapetência representava doença (BRESCIANI, 2015). Segundo Bresciani (2015) a alimentação contava com um cardápio variado que era baseado em trigo e cevada, mas incluía cebola, alho e alho-poró cultivados em hortas, assim como peixes, carnes e laticínios, os quais eram produzidos a partir de animais de criação. A cozinha da antiguidade também incorporava plantas e especiarias, o que a aproximava da prática medicinal daquele tempo (BRESCIANI, 2015). Segundo Bresciani (2015), os alimentos eram assados ou cozidos no fogo ou em fornos de terracota que se encontravam no interior das residências. Nos palácios, havia espaço para cozinha, despensa e depósitos de alimentos. De acordo com Piponnier (2015), o fogão e a mesa sempre foram dispostos em locais separados do espaço doméstico e, em geral, difíceis de situar num contexto social preciso (PIPONNIER, 2015). A natureza e disposição de mobiliários e utensílios revelam as maneiras como se davam as refeições. Nas aldeias mediterrâneas, por exemplo, o fogão, erguido no chão e no interior da casa, ocupava espaço muito bem delimitado e definia um local destinado exclusivamente para manipulação dos alimentos. Entretanto, havia contrastes entre as residências camponesas e a senhoriais ou urbanas, uma vez que nessas últimas foram encontrados espaços individualizados de cozinha dentro das casas, o que define uma função culinária mais focada no núcleo familiar (PIPONNIER, 2015). Piponnier (2015) afirma que no século XIV os objetos de cozinha já eram extremamente diversificados e podiam variar desde panelas de folha de cobre e caldeirões de bronze a grelhas e espetos, mais comuns em residências mais abastadas. Com respeito à preparação e sobretudo à conservação de alguns alimentos, a madeira era material mais comum e já se usavam acessórios como coadores, colheres, escumadeiras (PIPONNIER, 2015). Os utensílios que adornavam a mesa eram poucos e diversos, mas vale ressaltar que mesas eram raras para as pessoas mais modestas, tanto no campo quanto na cidade. Assim, segundo Piponnier (2015), as refeições eram feitas à beira do fogo ou à porta da casa sobre um banco, pois dessa forma a luz natural era melhor aproveitada. O impacto da revolução industrial foi grande na alimentação europeia. Flandrin e Montanari (2015) mostram que produtos que eram tidos como de subsistência e produzidos localmente em zonas rurais passaram a ser processados em fábricas de 10 maneira e se tornaram produtos de massa. Além disso, já na segunda metade do século XX, as fábricas de eletrodomésticos trouxeram para o mercado novos utensílios de cozinha e proporcionaram novas formas de se processar os alimentos em casa (FLANDRIN; MONTANARI, 2015). Em paralelo a isso, o avanço técnico- científico fez com que novas técnicas agrícolas passassem a serem utilizadas e as formas de conservação de alimentos se tornassem mais eficientes. A produção de alimentos e bebidas em escala industrial foi importante para o progresso da alimentação e para o surgimento de novos costumes alimentares. Aderindo à transformação técnica, econômica e demográfica, o ato de comer fora de casa cresceu e surgiu uma indústria de serviços de alimentação fora de casa (FLANDRIN; MONTANARI, 2015). Aliado ao desenvolvimento dos métodos de conservação de alimentos, o desenvolvimento de meios de transporte mais rápidos e eficientes fez com que se desenvolvesse um mercado global de alimentos e, por conta disso, frutas, grãos e cereais de todas partes do mundo passaram a ocupar posições importantes nos mercados europeus (FLANDRIN; MONTANARI, 2015). A partir do último quarto do século XX, o alimento passou a ser entendido não só como fonte de nutrientes e satisfação, mas também como agente do bem-estar corporal (TONINI; SAUERBRONN, 2013). Flandrin e Montanari (2015) apontam que essa tendência teve início nos anos 1970, quando as pessoas passaram a observar a composição e os benefícios dos alimentos. Assim, as formas de preparação e consumo de alimentos passaram a incorporar o entendimento das consequências dessas sobre os corpos e o movimentopela alimentação saudável ganha espaço em todo o mundo (TEIXEIRA; SAUERBRONN; LODI, 2015). Uma vez que os corpos passam a ser observados e controlados, a alimentação passa a ter um caráter funcional mais intenso e componentes com ação sobre o corpo passam a ser incorporados nas rotinas alimentares dentro e fora do lar (YAMAGATA et al, 2019). 11 5. PROGRAMAS NACIONAIS DE ALIMENTAÇÃO 5.1 Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), é gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e visa à transferência, em caráter suplementar, de recursos financeiros aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios destinados a suprir, parcialmente, as necessidades nutricionais dos alunos. É considerado um dos maiores programas na área de alimentação escolar no mundo e é o único com atendimento universalizado (DIAS; ESCOUTO, 2016). Em 31 de março de 1955, foi assinado o Decreto n° 37.106, que instituiu a Campanha de Merenda Escolar (CME), subordinada ao Ministério da Educação. Na ocasião, foram celebrados convênios diretamente com o Fisi e outros organismos internacionais (SOUTO, 2019). Em 1956, com a edição Decreto n° 39.007, de 11 de abril de 1956, ela passou a se denominar Campanha Nacional de Merenda Escolar (CNME), com a intenção de promover o atendimento em âmbito nacional. No ano de 1965, o nome da CNME foi alterado para Campanha Nacional de Alimentação Escolar (CNAE) pelo Decreto n° 56.886/65 e surgiu um elenco de programas de ajuda americana, entre os quais destacavam-se o Alimentos para a Paz, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid); o Programa de Alimentos para o Desenvolvimento, voltado ao atendimento das populações carentes e à alimentação de crianças em idade escolar; e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) (BRASIL, 2018). Desde 1998, o PNAE é gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que é uma autarquia do Ministério da Educação (MEC). E tem como objetivo atender às necessidades nutricionais dos estudantes, durante sua permanência em sala de aula, contribuindo para o crescimento, desenvolvimento, aprendizagem e rendimento escolar (CHAVES, 2006). Conheça os agentes que participam do funcionamento do PNAE: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação: é o órgão responsável pela transferência dos recursos do Governo Federal. Cabe lembrar que esse recurso é complementar, tendo de ser completado pelos estados, municípios e Distrito 12 Federal. É responsável, também, pela normatização, coordenação, monitoramento, execução do programa, entre outras ações. Entidades executoras: são, nos estados e no Distrito Federal, as Secretarias Estaduais de Educação e, nos municípios, as Prefeituras Municipais e, também, as escolas federais. Essas instituições são responsáveis pelo recebimento e pela execução do dinheiro transferido pelo FNDE. Agora que conhecemos o que é entidade executora, vamos aprender sobre a função de cada uma no PNAE: Secretarias Estaduais de Educação: são responsáveis pelo atendimento das escolas públicas e filantrópicas estaduais e as do Distrito Federal. Não podemos esquecer que essas secretarias também são responsáveis pelas escolas indígenas e quilombolas de sua jurisdição. Prefeituras Municipais: são responsáveis pelo atendimento das escolas públicas municipais, escolas filantrópicas, quilombolas e indígenas, e podem também ser responsáveis elas escolas estaduais (desde que tenha autorização das Secretarias Estaduais de Educação para isso). Escolas Federais: são responsáveis pelo recebimento dos recursos, quando optam por oferecer alimentação, esses são passados diretamente para elas (BRASIL, 2013). Em 17 de junho de 2013, foi publicada a Resolução FNDE nº 26, que fortalece um dos eixos do Programa, a Educação Alimentar e Nutricional (EAN), ao dedicar uma Seção às ações de EAN. Essa medida vai ao encontro das políticas públicas atuais relacionadas à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), visto a existência do Plano de SAN, do Plano Nacional Combate à Obesidade e do Plano de Ações Estratégicas para o enfretamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) (SILVA, 2018). Destaca-se ainda que, em 2 de abril de 2015, a Resolução CD/FNDE nº 4, considerando o fortalecimento da Agricultura Familiar e sua contribuição para o desenvolvimento social e econômico local, alterou a redação dos artigos 25 a 32 da Resolução FNDE nº 26, que tratavam da aquisição de gêneros alimentícios oriundos da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou suas organizações (OLIVEIRA, 2016). 13 A Resolução publicada em 2015 modificou a forma de aplicação dos critérios para seleção e classificação dos projetos de venda; estabeleceu o que são grupos formais e informais de assentados da reforma agrária, comunidades tradicionais indígenas e quilombolas e critérios para desempate; definiu os locais onde deverão ser divulgados os editais das chamadas públicas; incluiu o documento para habilitação dos projetos de venda dos grupos formais; estabeleceu os preços dos produtos a serem adquiridos da agricultura familiar são aqueles publicados na chamada pública; definiu o limite individual de venda para o agricultor familiar na comercialização para o PNAE por entidade executora; estabeleceu novas regras para o controle do limite individual de venda dos agricultores familiares; e definiu modelos de edital de chamada pública, de pesquisa de preços de projeto de venda e de contrato (MOURA, 2014). Destaca-se ainda que, em 2 de abril de 2015, a Resolução CD/FNDE nº 4, considerando o fortalecimento da Agricultura Familiar e sua contribuição para o desenvolvimento social e econômico local, alterou a redação dos artigos 25 a 32 da Resolução FNDE nº 26, que tratavam da aquisição de gêneros alimentícios oriundos da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou suas organizações (OLIVEIRA, 2016). A Resolução publicada em 2015 modificou a forma de aplicação dos critérios para seleção e classificação dos projetos de venda; estabeleceu o que são grupos formais e informais de assentados da reforma agrária, comunidades tradicionais indígenas e quilombolas e critérios para desempate; definiu os locais onde deverão ser divulgados os editais das chamadas públicas; incluiu o documento para habilitação dos projetos de venda dos grupos formais; estabeleceu os preços dos produtos a serem adquiridos da agricultura familiar são aqueles publicados na chamada pública; definiu o limite individual de venda para o agricultor familiar na comercialização para o PNAE por entidade executora; estabeleceu novas regras para o controle do limite individual de venda dos agricultores familiares; e definiu modelos de edital de chamada pública, de pesquisa de preços de projeto de venda e de contrato (MOURA, 2014). 14 5.2 Política Nacional de Alimentação e Nutrição - PNAN Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), aprovada no ano de 1999, integra os esforços do Estado Brasileiro que, por meio de um conjunto de políticas públicas, propõe respeitar, proteger, promover e prover os direitos humanos à saúde e à alimentação. A população brasileira, nas últimas décadas, experimentou grandes transformações sociais que resultaram em mudanças no seu padrão de saúde e consumo alimentar. Essas transformações acarretaram impacto na diminuição da pobreza e exclusão social e, consequentemente, da fome e desnutrição (BRASIL, 2015). Por outro lado, observa-se aumento vertiginoso do excesso de peso em todas as camadas da população, apontando para um novo cenário de problemas relacionados à alimentação e nutrição. A completar-se dezanos de publicação da PNAN, deu-se início ao processo de atualização e aprimoramento das suas bases e diretrizes, de forma a consolidar-se como uma referência para os novos desafios a serem enfrentados no campo da Alimentação e Nutrição no Sistema Único de Saúde. Em parceria com a Comissão Intersetorial de Alimentação e Nutrição (CIAN), do Conselho Nacional de Saúde, o Ministério da Saúde conduziu um amplo e democrático processo de atualização e aprimoramento da Política,por meio de 26 Seminários Estaduais e do Seminário Nacional de Alimentação e Nutrição– PNAN 10 anos (BRASIL, 2012). 15 5.3 Aleitamento Materno Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com A amamentação ou aleitamento materno é a alimentação de crianças pequenas com leite produzido pelas mamas de uma mulher. É a alimentação ideal para todas as crianças. O leite humano por sua composição de nutrientes é considerado um alimento completo (BRASIL, 2015). Apesar das vantagens que o leite materno proporciona para a criança e para a mãe, o Brasil ainda está longe de cumprir a recomendação de aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida, tornando o desmame precoce um aspecto importante no que se refere à saúde materno-infantil. A II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal, realizada em 2008, indica que apenas 9,3% das crianças amamentam de forma exclusiva na idade de 180 dias (BRASIL, 2009). Atualmente, no mundo existem no mundo diversos instrumentos que foram elaborados e testados com o objetivo de avaliar a mamada; alguns destes são mais conhecidos e foram validados em alguns países, como por exemplo, o LATCH As sessment (NILGUN et al.,2014). Estes instrumentos envolvem elementos essenciais na avaliação da mamada, semelhantes ao formulário utilizado neste estudo: comportamento do bebê, comportamento da mãe, posicionamento, pega, sucção efetiva, aspecto da mama e a experiência do aleitamento na percepção da mãe (KERAC et al., 2010). 16 6. ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com A alimentação e nutrição constituem-se em requisitos básicos para a promoção e a proteção da saúde, possibilitando a afirmação plena do potencial de crescimento e desenvolvimento humano, com qualidade de vida e cidadania (MARTINS et al, 2020). A população brasileira, nas últimas décadas, experimentou grandes transformações sociais que resultaram em mudanças no seu padrão de saúde e consumo alimentar. Essas transformações acarretaram impacto na diminuição da pobreza e exclusão social e, consequentemente, da fome e escassez de alimentos, com melhoria ao acesso e variedade destes, além da garantia da disponibilidade média de calorias para consumo, embora ainda existam cerca de 16 milhões de brasileiros vivendo na pobreza extrema. A diminuição da fome e da desnutrição veio acompanhada do aumento vertiginoso da obesidade em todas as camadas da população, apontando para um novo cenário de problemas relacionados à alimentação e nutrição (BRASIL, 2019). A alimentação e nutrição estão presentes na legislação recente do Estado Brasileiro, com destaque para a Lei 8.080, de 19/09/1990 (BRASIL, 1990), que entende a alimentação como um fator condicionante e determinante da saúde e que as ações de alimentação e nutrição devem ser desempenhadas de forma transversal às ações de saúde, em caráter complementar e com formulação, execução e avaliação dentro das atividades e responsabilidades do sistema de saúde. 17 Na última década, o principal avanço foi a incorporação da alimentação como um direito social. A Emenda Constitucional n° 64, aprovada em 2010, introduziu, no artigo 6° da Constituição Federal, a alimentação como direito (BRASIL, 1990). Nesse sentido, o Estado Brasileiro, ocupado com a construção de uma nova abordagem para atuar no combate à fome, à pobreza e na promoção da alimentação adequada e saudável, publicou a Lei 11.346/2006 – Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2006a) e o Decreto 7.272/2010 - Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2010). Tanto a Lei como o Decreto apresentam, entre as suas bases diretivas, o fortalecimento das ações de alimentação e nutrição no sistema de saúde. Na saúde, ressalta-se a publicação do Decreto 7.508, de 28/06/2011, que regulamenta a Lei 8.080, com a instituição da Rede de Atenção à Saúde e dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas que possibilitarão avanços para a organização e oferta das ações de Alimentação e Nutrição no âmbito do SUS (BRASIL, 2011). Outras Políticas da saúde somam-se aos princípios e diretrizes da PNAN no estabelecimento da Saúde e da Segurança Alimentar e Nutricional. A Política Nacional de Atenção Básica e a Política Nacional de Promoção à Saúde são orientadas nesse sentido. A determinação social da saúde assim como a promoção e prevenção de agravos estão presentes em diversos documentos internacionalmente conhecidos, como o Relatório da Comissão Nacional de Determinantes Sociais da Saúde, publicado em 2008, a Estratégia Global para a Alimentação do Bebê e da Criança Pequena (2002) e a Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde (2004). Os documentos apontam para a necessidade de formulação e implantação de estratégias nacionais, locais e regionais efetivas e integradas para a redução da morbimortalidade relacionada à alimentação inadequada e ao sedentarismo, com recomendações e indicações adaptadas frente às diferentes realidades dos países e integradas às suas políticas, com vistas a garantir aos indivíduos a capacidade de fazer escolhas saudáveis com relação à alimentação e à atividade física, prevendo ações de caráter regulatório, fiscal e legislativo que visem tornar essas escolhas factíveis à população (BRASIL, 2019). 18 Fonte: br.guiainfantil.com O aleitamento materno, que deve ser a primeira prática alimentar dos indivíduos, é necessário para a garantia da saúde e do desenvolvimento adequado das crianças. O Brasil adota as recomendações internacionais, recomendando o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e continuado até o segundo ano de vida (BRASIL, 2009a). Segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), realizada em 2006, 95% das crianças brasileiras foram alguma vez amamentadas, mas esse número cai drasticamente ao longo dos dois primeiros anos de vida. Segundo a II Pesquisa de Prevalência do Aleitamento Materno no Conjunto das Capitais Brasileiras e DF, realizada em 2008, a mediana de aleitamento materno exclusivo foi 54 dias e a mediana do aleitamento materno total, que deveria ser de 24 meses, foi 341,6 dias (11,2 meses). Atualmente, segundo a pesquisa, a prevalência do aleitamento materno exclusivo em menores de seis meses é de 41% (BRASIL, 2009). A transição do aleitamento materno para os alimentos consumidos pela família é o período denominado como alimentação complementar, que deve ser iniciada aos seis meses de idade e concluída aos 24 meses. A introdução de alimentos deve ser feita em tempo oportuno, em quantidade e qualidade adequadas a cada fase do desenvolvimento infantil. Esse é o momento em que os primeiros hábitos são adquiridos e formados e a correta inserção dos alimentos tem o papel de promoção à saúde e hábitos saudáveis, além de proteger a criança de deficiências de micronutrientes e doenças crônicas na idade adulta. Segundo a PNDS, a introdução 19 precoce de alimentos, antes dos dois meses de idade, era uma prática em 14% das crianças, evoluindo para mais de 30% nas crianças entre quatro e cinco meses (BRASIL, 2009). Fonte: emagrecerparasempre.com A dieta habitual dos brasileiros é constituída por diversas influências e atualmente é fortemente caracterizada por uma combinação de uma dieta dita “tradicional”(baseada no arroz com feijão) com alimentos classificados como ultraprocessados, com altos teores de gorduras, sódio, açúcar e conteúdo calórico e com baixo teor de micronutrientes (BRASIL, 2012). Essas inadequações podem comprometer o estado nutricional e levar ao desenvolvimento de carências ou excessos nutricionais que, além de atingira população adulta, também atingem as crianças (COSTA et al., 2011). As diferenças de renda são expressas no padrão de consumo alimentar dos diferentes estratos. A dieta dos brasileiros de mais baixa renda apresenta melhor qualidade, com predominância do arroz, feijão aliados a alimentos básicos como peixes e milho. A frequência de alimentos de baixa qualidade nutricional como doces, refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assados, tende a crescer com o aumento da renda das famílias (SILVA, 2018). O padrão de consumo também varia de acordo com os grupos etários. Entre os mais novos, é maior o consumo de alimentos ultra processados, que tendem a diminuir com o aumento da idade, enquanto o inverso é observado entre as frutas e hortaliças. Os adolescentes são o grupo com pior perfil da dieta, com as menores 20 frequências de consumo de feijão, saladas e verduras em geral, apontando para um prognóstico de aumento do excesso de peso e doenças crônicas (BRASIL,2013). Os brasileiros residentes na zona rural, quando comparados com os residentes da zona urbana, apresentam maiores frequências de consumo de alimentos básicos, com melhor qualidade da dieta, havendo predomínio de consumo de alimentos como arroz, feijão, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, frutas e peixes. Na zona urbana, observa-se um maior consumo de alimentos ultra processados. As regiões geográficas também imprimem a sua identidade alimentar, sendo mais frequente, na região norte, o consumo de farinha de mandioca, açaí e peixe fresco; no Nordeste: ovos e biscoitos salgados; no Centro-Oeste: arroz, feijão, carne bovina e leite; no Sudeste e Sul: pão francês, massas, batata inglesa, queijos, iogurtes e refrigerantes. Em algumas regiões, as tradições culturais resistem às mudanças, enquanto, em outras, essas tradições estão sendo descaracterizadas, havendo perda da identidade cultural alimentar (SILVA, 2018). Fonte: blog.tnh1.com.br O estilo de vida atual favorece um maior número de refeições realizadas fora do domicílio: em 2009, 16% das calorias foram oriundas da alimentação fora de casa. Esta é composta, na maioria dos casos, por alimentos industrializados e ultra processados como refrigerantes, cerveja, sanduíches, salgados e salgadinhos industrializados, imprimindo um padrão de alimentação que, muitas vezes, é repetido no domicílio. A transição nutricional foi acompanhada pelo aumento da disponibilidade média de calorias para consumo. Em 2009, o consumo energético diário médio da 21 população foi superior ao recomendado de 2000 kcal, o que é mais um fator contributivo para o aumento do excesso de peso. Essa média se assemelha às encontradas em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, com as maiores médias entre os adolescentes do sexo masculino e as menores entre os idosos (BRASIL, 2012). O declínio do nível de atividade física, aliado à adoção de modos de se alimentar pouco saudáveis, com a adesão a um padrão de dieta rica em alimentos com alta densidade energética e baixa concentração de nutrientes, o aumento do consumo de alimentos ultra processados e o consumo excessivo de nutrientes como sódio, gorduras e açúcar têm relação direta com o aumento da obesidade e demais doenças crônicas, como o diabetes e a hipertensão e explicam, em parte, as crescentes prevalências de sobrepeso e obesidade observadas nas últimas décadas Com relação às doenças relacionadas às deficiências de micronutrientes, a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, realizada em 2006, reafirmou que as deficiências de ferro e vitamina A ainda persistem como problemas de saúde pública no Brasil: 17,4% das crianças e 12,3% das mulheres em idade fértil apresentam hipovitaminose A, enquanto 20,9% e 29,4% desses grupos populacionais, respectivamente, apresentam anemia por deficiência de ferro. Estudos regionais apontam para uma prevalência média de cerca de 50% de anemia ferropriva em crianças menores de cinco anos de idade (BRASIL, 2012). Fonte: https://belezaesaude.com 22 A melhoria do acesso à saúde e à renda da população deveria ter impactado na melhoria dos indicadores relativos à deficiência de micronutrientes, carências que, aparentemente, estavam sanadas, como no caso da hipovitaminose A e outras deficiências, como o ressurgimento de casos de Beribéri em alguns estados brasileiros, e o desajuste do consumo de iodo por adultos, provenientes do consumo excessivo do sal de cozinha iodado. A sociedade brasileira vivenciou uma peculiar e rápida transição nutricional: de um país que apresentava altas taxas de desnutrição, na década de 1970, passou a ser um país com metade da população adulta com excesso de peso, em 2008. A redução da desnutrição em crianças menores de cinco anos foi intensa nas últimas décadas. Nesse sentido, a associação de políticas econômicas e sociais, particularmente na década de 2000, foi fundamental para o Brasil avançar na redução das desigualdades internas (FRANÇA et al., 2012). Entre 1989 e 2006, o Brasil alcançou as metas relativas à redução da desnutrição infantil do primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (indicador do ODM de erradicação da pobreza extrema e fome): “Prevalência de crianças (com menos de cinco anos) abaixo do peso” caiu mais de quatro vezes (de 7,1% para 1,7%), enquanto o déficit de altura diminuiu para cerca de um terço no mesmo período (de 19,6% para 6,7%). No entanto, os avanços são desiguais. Ainda persistem altas prevalências de desnutrição crônica em grupos vulneráveis da população, como entre as crianças indígenas (26%), quilombolas (16%), residentes na região norte do país (15%) e aquelas pertencentes às famílias beneficiárias dos programas de transferência de renda (15%), afetando principalmente crianças e mulheres que vivem em bolsões de pobreza. Apesar das diferenças entre os grupos étnicos e regiões geográficas, a maior redução das prevalências de desnutrição infantil se deu na Região Nordeste e nas populações mais pobres do país, sendo os principais fatores responsáveis por esses avanços: o aumento da escolaridade materna, o aumento da renda familiar, o maior acesso aos serviços da Rede de Atenção Básica de Saúde e a expansão do saneamento básico. Simultaneamente, o Brasil vem enfrentando o aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade, assim como em vários países do mundo. Em função de sua magnitude e velocidade de evolução, o excesso de peso – que compreende o sobrepeso e a obesidade é considerado atualmente um dos maiores 23 problemas de saúde pública, afetando todas as faixas etárias. Em vinte anos, as prevalências de obesidade em crianças entre 5 a 9 anos foram multiplicadas por quatro entre os meninos (4,1% para 16,6%) e por, praticamente, cinco entre as meninas (2,4% para 11,8%). Nos adolescentes, após quatro décadas de aumento gradual nas prevalências, em torno de 20% apresentaram excesso de peso (com pequena diferença entre os sexos) e quase 6% dos adolescentes do sexo masculino e 4% do sexo feminino foram classificados como obesos (BRASIL, 2012). Na população adulta, houve aumento do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias e de renda. A obesidade cresceu de 2,8% em homens e 7,8% em mulheres para 12,5% entre homens e 16,9% entre as mulheres nos períodos entre 1974-1975 e 2008-2009, de modo que o excesso de peso alcançou 50,1% nos homens e 48,0% nas mulheres. Atualmente, a obesidade tem prevalências semelhantes entre as mulheres de todos os níveis de renda,mas, entre os homens, a obesidade entre os vinte por cento mais ricos da população é o dobro das prevalências encontradas entre o quinto mais pobre. A renda média da população brasileira apresentou um incremento nas últimas décadas e as doenças crônicas, com foco para obesidade, passaram a apresentar taxas semelhantes entre os grupos (BRASIL, 2012). As doenças crônicas são a principal causa de mortalidade de adultos no Brasil. Nos últimos anos, os percentuais de hipertensão arterial sistêmica e diabetes vêm se mantendo estáveis, embora a obesidade esteja em ascensão. Segundo o VIGITEL, a obesidade avança anualmente cerca de 1% entre os adultos. O aumento da obesidade está fortemente ligado ao consumo alimentar e à prática de atividade física. Seus determinantes são de natureza demográfica, socioeconômica, epidemiológica e cultural, além de questões ambientais, o que torna a obesidade uma doença multifatorial. Esses fatores interagem de forma complexa, exigindo que a obesidade seja tratada, tendo em vista toda a sua complexidade e determinação social (DAUDT, 2013). 24 Fonte: image/jpeg;base64 O Estudo de Carga Global de Doenças no Brasil revela que 58% dos anos de vida perdidos precocemente se devem às doenças crônicas não transmissíveis. Os indicadores de saúde e nutrição refletem as desigualdades de renda e raça que ainda persistem no país: mulheres negras e de baixa renda apresentam maiores percentuais de doenças crônicas quando comparadas a mulheres, da mesma idade, brancas e de renda mais alta. Entre os homens, a obesidade está mais presente entre os de renda mais alta, embora cresça em todos os estratos. O desenvolvimento econômico deve ser acompanhado pelo setor saúde para que as populações que tenham incremento de renda também tenham melhorias de acesso e condições de saúde. O cenário epidemiológico apresentado reflete os avanços do Brasil na luta contra a fome e a desnutrição, embora ainda existam populações vulneráveis a esses agravos. O acelerado crescimento do excesso de peso em todas as faixas etárias e de renda deixa clara se essas ações não forem implementadas, estima-se que em vinte anos cerca de 70% dos brasileiros estarão com excesso de peso no Brasil (BRASIL, 2012). O enfrentamento desse quadro clama por ações nos diversos setores, desde a produção à comercialização final dos alimentos e com a garantia de ambientes que propiciem a mudança de conduta dos indivíduos e da sociedade. Ciente de sua responsabilidade sanitária, frente a esse cenário, a PNAN constitui-se uma resposta oportuna e específica do SUS para reorganizar, qualificar e aperfeiçoar suas ações para o enfrentamento da complexidade da situação alimentar e nutricional da 25 população brasileira, ao tempo em que promove a alimentação adequada e saudável e a atenção nutricional para todas as fases do curso da vida. 6.1 Propósito A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) tem como propósito a melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição. 6.2 Princípios A PNAN tem por pressupostos os direitos à Saúde e à Alimentação e é orientada pelos princípios doutrinários e organizativos do Sistema Único de Saúde (universalidade, integralidade, equidade, descentralização, regionalização e hierarquização e participação popular), aos quais se somam os princípios a seguir: - A Alimentação como elemento de humanização das práticas de saúde: a alimentação expressa as relações sociais, valores e história do indivíduo e dos grupos populacionais e tem implicações diretas na saúde e na qualidade de vida. A abordagem relacional da alimentação e nutrição contribui para o conjunto de práticas ofertadas pelo setor saúde, na valorização do ser humano, para além da condição biológica e o reconhecimento de sua centralidade no processo de produção de saúde. - O respeito à diversidade e à cultura alimentar: a alimentação brasileira, com suas particularidades regionais, é a síntese do processo histórico de intercâmbio cultural, entre as matrizes indígena, portuguesa e africana que se somam, por meio dos fluxos migratórios, às influências de práticas e saberes alimentares de outros povos que compõem a diversidade sociocultural brasileira. Reconhecer, respeitar, preservar, resgatar e difundir a riqueza incomensurável de alimentos e práticas alimentares correspondem ao desenvolvimento de ações com base no respeito à identidade e cultura alimentar da população. - O fortalecimento da autonomia dos indivíduos: o fortalecimento ou ampliação dos graus de autonomia para as escolhas e práticas alimentares implica, por um lado, um aumento da capacidade de interpretação e análise do sujeito sobre si e sobre o mundo e, por outro, a capacidade de fazer escolhas, governar e produzir a própria 26 vida. Para tanto, é importante que o indivíduo desenvolva a capacidade de lidar com as situações, a partir do conhecimento dos determinantes dos problemas que o afetam, encarando-os com reflexão crítica. Diante dos interesses e pressões do mercado comercial de alimentos, bem como das regras de disciplinamento e prescrição de condutas dietéticas em nome da saúde, ter mais autonomia significa conhecer as várias perspectivas, poder experimentar, decidir, reorientar, ampliar os objetos de investimento relacionados ao comer e poder contar com pessoas nessas escolhas e movimentos. Há uma linha tênue entre dano e prazer que deve ser continuamente analisada, pois leva os profissionais de saúde, frequentemente, a se colocarem nos extremos da omissão e do governo exacerbado dos outros. Para isso, deve-se investir em instrumentos e estratégias de comunicação e educação em saúde que apoiem os profissionais de saúde em seu papel de socialização do conhecimento e da informação sobre alimentação e nutrição e de apoio aos indivíduos e coletividades na decisão por práticas promotoras da saúde. - A determinação social e a natureza interdisciplinar e Inter setorial da alimentação e nutrição: o conhecimento das determinações socioeconômicas e culturais da alimentação e nutrição dos indivíduos e coletividades contribui para a construção de formas de acesso a uma alimentação adequada e saudável, colaborando com a mudança do modelo de produção e consumo de alimentos que determinam o atual perfil epidemiológico. A busca pela integralidade na atenção nutricional pressupõe a articulação entre setores sociais diversos e se constitui em uma possibilidade de superação da fragmentação dos conhecimentos e das estruturas sociais e institucionais, de modo a responder aos problemas de alimentação e nutrição vivenciados pela população brasileira. - A segurança alimentar e nutricional com soberania: a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é estabelecida no Brasil como a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. A Soberania Alimentar se refere ao direito dos povos de decidir seu próprio sistema alimentar e de produzir alimentos saudáveis e culturalmente adequados, acessíveis, de forma sustentável e 27 ecológica, colocando aqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentares, acima das exigências de mercado. BRASIL (2012) 7. AÇÕES DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (EAN) Fonte: ideiasnamesa.unb.br As ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) possuem o enfoque histórico na modificaçãode comportamento individual, embutido de um processo de “culpabilização” dos sujeitos, característica do aspecto biomédico da formação dos profissionais de saúde, incluindo o nutricionista. Reconhece-se, porém, a necessidade da APS ampliar o processo educativo em A&N para o resgate da relação entre os seres humanos e o alimento, na seleção e preparo de alimentos, nos conhecimentos culturais e tradicionais dos hábitos alimentares, promovendo saúde com base no empoderamento individual, familiar e comunitário (MAGALHÃES, MARTINS e CASTRO, 2012). Em função do processo de transição epidemiológica e nutricional no Brasil e no mundo, os sistemas universais de saúde possuem o desafio de adaptação dos modelos de APS, e consequentemente de organização da atenção nutricional. Desta forma, destaca-se um modelo de atenção nutricional de transição que prioriza as demandas do público materno-infantil de carências de micronutrientes e agravos 28 agudos ainda não solucionados, mas ao mesmo tempo apresenta respostas às DCNT relacionadas aos hábitos alimentares (JAIME e SANTOS, 2014). O monitoramento e avaliação das intervenções são considerados como aspectos fundamentais para a atenção à saúde, incluindo a atenção nutricional. A avaliação das necessidades dos programas, do suporte dos especialistas às equipes de saúde, do trabalho multiprofissional e da eficácia, eficiência e efetividade das intervenções em A&N são estratégias capazes de diagnosticar as fragilidades, promover a interdisciplinaridade com reconhecimento dos papéis dos profissionais na organização dos serviços, modificar as intervenções além de reduzir as inequidades em saúde (DAPONTE et al., 2014). Para que atenção nutricional na APS seja delineada pela compreensão de saúde de forma integral, interdisciplinar e intersetorial, em suas múltiplas vertentes, faz-se necessário tencionar as responsabilidades de duas dimensões, a gestão e a assistência, evidenciando sua transversalidade. A relação entre gestão e assistência para as ações de A & N requer o repensar sistemático das práticas e ações de forma a contemplar a complexidade de cenários presentes no território em saúde. Visa a operacionalização dos recursos humanos, sistemas de informação e redes de atenção estabelecidas para outros níveis do sistema, tendo a APS como organizadora e orientadora do cuidado às DCNT (LANG e RIBAS, 2011). Pela revisão de literatura pode-se determinar que a atenção nutricional desenvolvida nos modelos de APS seletiva priorizam o público materno- infantil, com ações voltadas aos agravos agudos de forma pontual e fragmentada (GIOVANELLA e MENDONÇA, 2012). Já nos modelos de APS abrangente pautados pela integralidade há um enfoque da atenção nutricional relacionada às ações de vigilância, promoção e prevenção dos agravos associados à alimentação. No Brasil, adotou-se a nomenclatura “Atenção Básica” para designar o termo APS do tipo abrangente ou integral, defendido pelo Movimento da Reforma Sanitária em contraponto a APS do tipo seletiva que desenvolve programas focalizados e amplamente difundidos pelos organismos internacionais durante a década de 1980 (GIOVANELLA e MENDONÇA, 2012). Em função da ampla consulta à literatura internacional para a construção do objeto de pesquisa desta tese, optou-se por adotar o termo APS, assumida como sinônimo de “Atenção Básica” quando se refere ao modelo abrangente. 29 O Quadro apresenta os diferentes enfoques para as ações de A&N conforme o modelo de APS na tentativa de sintetizar as características da atenção nutricional revisadas nesta sessão. Características dos modelos de atenção nutricional segundo os modelos de APS. Fonte: Machado (2018) 30 8. PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SAUDÁVEL Fonte: image/jpeg;base64 A alimentação adequada e saudável é um dos temas prioritários de ações da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), visando à promoção da saúde e à segurança alimentar e nutricional, contribuindo com as ações e com as metas de redução da pobreza, com a inclusão social e com a garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2015). Além da PNPS, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) demonstra preocupação quanto as formas de acesso a uma alimentação adequada e saudável, colaborando com a mudança do modelo de produção e consumo de alimentos que determinam o atual perfil epidemiológico (BRASIL, 2013). A Promoção da Alimentação Adequada e Saudável (PAAS) corresponde a uma das diretrizes da PNAN, inserida como eixo estratégico da PNPS, sendo descrita como o conjunto de ações que proporcionam a realização de práticas alimentares adequadas às necessidades biológicas e socioculturais de indivíduos e coletividades, bem como o uso sustentável do ambiente em que vivem. Nesse sentido, busca possibilitar um pleno potencial de crescimento e desenvolvimento humano, com qualidade de vida e cidadania e refletir sobre a preocupação com a prevenção e com o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição (BRASIL, 2012a). No Brasil, a PNAB, aprovada em 2006, em um contexto de descentralização e controle social da gestão, tem a Estratégia Saúde da Família (ESF) como plano 31 prioritário de reorganização do modelo de atenção à saúde com ênfase na promoção da saúde, reconhecendo que as necessidades de intervenções vão além de práticas curativas e centradas apenas na doença (BRASIL, 2012b). A ESF visa à expansão, qualificação e consolidação do primeiro nível da atenção, pois favorece uma reorientação do processo de trabalho, com maior potencial de aprofundar os princípios, diretrizes e fundamentos da AB e de ampliar a resolutividade e impacto na situação de saúde das pessoas e coletividades, de acordo com os princípios da universalidade, integralidade, equidade e descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS) (JAIME et al., 2011). O processo de trabalho da ESF prevê o desenvolvimento de ações educativas que possam interferir no processo saúde-doença da população, de forma a ampliar o controle social na defesa da qualidade de vida e a desenvolver ações focalizadas para grupos de risco e fatores predisponentes, quer por meio de componente comportamental, alimentar e/ou ambiental. Para reorganização das práticas de promoção da saúde, visando à integralidade da atenção, é fundamental que a ESF conheça os problemas e necessidades em saúde e nutrição da população do seu território, assim como os possíveis aspectos promotores de sua saúde. Dessa forma, a utilização desse conhecimento contribui para a organização de seu processo de trabalho (BRASIL, 2015a). Os cuidados relativos à alimentação e nutrição na AB devem-se iniciar com diagnóstico da situação alimentar e nutricional realizado pelas equipes da ESF, necessitando de um trabalho multiprofissional e interação dos indivíduos com competências e habilidades distintas (BRASIL, 2012a). O avanço na implementação dessas ações tende a crescer à medida que a ESF se consolida no país, agregando a racionalidade da organização do cuidado integral em saúde nas redes de atenção do SUS. Neste contexto, a apropriação de ações de alimentação e nutrição por parte de todos os profissionais da saúde, não necessariamente o nutricionista, configura-se como um grande desafio. Assim, destaca-se a necessidade da formação de profissionais aptos a colocar em prática as ações propostas para a Atenção Básica (JAIME, et al., 2011). Com o objetivo de mapear, sistematizar e avaliar a produção científica em alimentaçãoe nutrição no âmbito da AB uma pesquisa constatou que é de grande relevância a condução de estudos que analisem a prática profissional, 32 as percepções e a educação permanente de profissionais da saúde da AB (CANELLA; SILVA; JAIME, 2013) 9. VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é um sistema de informação em saúde (SIS), que possibilita o armazenamento de dados e a geração contínua de informações sobre o estado nutricional e o consumo alimentar dos usuários da atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de que tais informações propiciem o diagnóstico e o acompanhamento da situação alimentar e nutricional da população brasileira e contribuam para a elaboração de intervenções sobre os fatores de risco associados aos agravos nutricionais e os determinantes sociais da insegurança alimentar e nutricional, tanto no âmbito da assistência individual, quanto no âmbito coletivo. A vigilância nos serviços de saúde, em conjunto com os inquéritos populacionais, as chamadas nutricionais e a produção científica, compõe a vigilância alimentar e nutricional e, consequentemente, as estratégias de vigilância em saúde no país (BRASIL, 2015). A vigilância alimentar e nutricional surgiu no Brasil, e em outros países da América, África e Ásia, por uma iniciativa internacional para dar resposta à situação alarmante de fome, desnutrição e carências de micronutrientes, identificada e mapeada em pesquisas pioneiras realizadas nas décadas de 1950 e 1960, tendo 33 Josué de Castro como principal referência no Brasil. Compunha, também, um conjunto de políticas sociais compensatórias ao ajuste econômico implementado no contexto das crises econômica e alimentar mundiais, deflagradas no início da década de 1970. A vigilância nutricional foi instituída como um dos campos de atuação do SUS por meio da Lei Orgânica da Saúde (Lei no 8.080/1990), em seu artigo 6o. O SISVAN e seus objetivos foram estabelecidos nacionalmente pela Portaria no 1.156/19906. A primeira grande expansão do sistema ocorreu quando ele foi indicado como pré- requisito para o financiamento e a implantação do Programa de Atendimento aos Desnutridos e às Gestantes em Risco Nutricional – Leite é Saúde, 1994; substituído pelo Programa de Incentivo ao Combate às Carências Nutricionais, 1998; e o último passou a vincular a permanência do município no programa ao envio regular de dados de antropometria. Nesse período, alguns autores já discutiam a necessidade de ampliação do escopo de indicadores e das fases da vida monitoradas pelo SISVAN (NASCIMENTO et al, 2017). Cerca de dez anos depois, em um contexto de maior priorização da segurança alimentar e nutricional na agenda política brasileira, foi realizada a unificação de programas de transferência de renda condicionada, para a criação do Programa Bolsa Família, que passou a adotar prioritariamente a renda familiar como critério para a seleção dos beneficiários, e não mais o marcador biológico e de morbidade do risco nutricional/desnutrição 9. Entre as ações de vigilância alimentar e nutricional preconizadas nas condicionalidades de saúde do programa, apenas o público de crianças menores de sete anos e gestantes são citados (TREVISANI et al, 2012). Atualmente, uma das principais barreiras para a ampliação e consolidação dos sistemas é a fragmentação do trabalho ou retrabalho na coleta, digitação e inclusão de dados em diferentes plataformas. Além disso, problemas de falta de estrutura nos municípios 15, ausência de identificador único, falhas na padronização da coleta dificultam a transmissão e qualidade dos dados coletados. No bojo da reestruturação do SUS, a estratégia de integração das informações “e-SUS atenção básica”, atualmente em fase de implementação, aparece como uma aposta para resolver parte dos problemas (Morais et al, 2014). Apesar do crescente reconhecimento da vigilância alimentar e nutricional e demanda de monitoramento na atenção básica, poucos estudos avaliaram a cobertura do SISVAN no Brasil, sendo focalizados do ponto de vista do público, território e/ou 34 período avaliado. Por essas razões, o presente estudo tenciona descrever e analisar a cobertura da avaliação do estado nutricional da população usuária de serviços públicos de saúde registrada no SISVAN Web, entre 2008 e 2013, em todo o país (NASCIMENTO et al, 2017). 10. GESTÃO DAS AÇÕES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com De acordo com a Matriz de ações de alimentação e nutrição na atenção básica à saúde é necessário evidenciar a institucionalização e fortalecimento da gestão dessas ações e para isso identificar as corresponsabilidades do gestor municipal para implementação da PNAN e da PNSAN e do DHAA. A gestão dessas ações ou ação administrativa pressupõe o desenvolvimento de um processo que envolve as funções de planejamento, organização, direção e controle que deverá conduzir ao cuidado nutricional de forma alinhada, planejada e articulada nos diferentes níveis de atenção à saúde e entre as unidades de saúde e suas equipes que conformam a rede de serviços. Ou seja, o gestor municipal tem a tarefa de identificar as diretrizes para o município no campo da alimentação e nutrição operado no setor saúde articulado com outros setores (BRASIL, 2011). Essas diretrizes devem estar balizadas pelo estudo da magnitude dos problemas nutricionais e seus determinantes, levando em conta as características da transição epidemiológica e nutricional. O planejamento deve orientar-se pelo 35 compromisso da realidade epidemiológica, em um determinado território, levando-se em conta: • Os estudos epidemiológicos dos problemas nutricionais do território ou área de abrangência • A dinâmica de transição de aumento de doenças Crônicas não Transmissíveis e queda das doenças parasitárias e infecciosas e também o aparecimento (ou reaparecimento) de “novas” epidemias infecciosas, manutenção de endemias e doenças que são típicas da pobreza •A redução da fertilidade e aumento da expectativa de vida • A urbanização crescente e desordenada e as mudanças no processo de produção e consumo e das relações com o capital. No entanto, ao ampliarmos a visão de planejamento das ações de nutrição básica, é possível perceber o desafio de identificar as demandas dos atores sociais locais. As pesquisas de caráter qualitativo estão mais apropriadas metodologicamente para alcançar tal objetivo, que correntemente não são atingidos pelos estudos quantitativos de cunho epidemiológico. Trata-se de estudos e pesquisas sociais, antropológicas e psicológicas para compreender as práticas alimentares (o comportamento alimentar) das comunidades locais (VIEIRA, 2011). Além das pesquisas no campo da Alimentação e Nutrição na Atenção Básica identificamos a partir das referências consultadas, mas também inspirados na experiência dos autores nesse campo de práticas, o elenco de ações que se apresenta a seguir: 1. Vigilância Alimentar e Nutricional – a atitude de vigilância e os recursos tecnológicos a. Ações e atitude de Vigilância Alimentar e Nutricional de crianças, adolescentes, gestantes, nutrizes, adultos e idosos. O monitoramento do estado nutricional como atitude de vigilância para promoção da saúde b. O monitoramento do estado nutricional na Atenção Básica por meio do SISVAN-WEB c. O monitoramento do estado nutricional restrito ao cumprimento da condicionalidade do setor saúde nos programas de transferência de renda e/ou distribuição de alimentos 36 2. Assistência/cuidado nutricional individual de pacientes com distúrbios nutricionais e doenças mais comuns na Atenção Básica. a. O atendimento individual do nutricionista na Atenção Básica: demanda espontânea e/ou atendimentodas prioridades epidemiológicas? b. O atendimento nutricional a partir do marco conceitual de saúde como um processo que envolve a tríade saúde, doença e cuidado. Evitar a ideia preventivista focada na doença e na sua eliminação e idealização de um comportamento alimentar ideal e hábitos saudáveis para prevenir doenças. c. A política de Humanização que incorpora o conceito de clínica ampliada. Como uma metodologia de trabalho que tem como objetivo dar retaguarda especializada a equipes e profissionais, encarregados da atenção a problemas de saúde. O suporte é tanto no campo técnico pedagógico quanto na assistência, com discussão de casos e desenvolvimento de consultas conjuntas e na troca de saberes entre apoiadores e equipe de referência. No bojo da implantação da política de Humanização do SUS contribuições de outros autores que apresentam outros conceitos complementares no âmbito da gestão do cuidado alimentam e qualificam a prática cotidiana do encontro do profissional (ou espaço intercessor) com o paciente na AB. Espaço com potencialidade de criação de tecnologias de cuidado, a partir da prática comunicativa, desde que não predomine uma racionalidade inibidora da potência criativa. Racionalidade que se apresenta com excessiva protocolização e gerenciamento dos recursos humanos (VIEIRA, 2011). 3. Visita domiciliar na área de abrangência de USF Ações de Alimentação e Nutrição na visita domiciliar e a visita domiciliar de nutrição em conjunto com membros da equipe da estratégia de saúde da família para moradores da área de cobertura: crianças com desnutrição leve e moderada, recém- nascidos, idosos, acamados, faltosos de consultas (busca ativa), portadores de doenças metabólicas crônicas não transmissíveis com dificuldade de adesão e manejo das adaptações e mudanças na alimentação na convivência com o processo de adoecimento crônico e controle dos fatores de risco aos eventos cardiovasculares graves. 4. A educação em saúde e nutrição na atenção básica a. A inevitabilidade do processo educativo e a qualificação do profissional de saúde como educador. 37 b. Diferentes modalidades de atividades educativas com grupos na Atenção Básica. 5. Intersetorialidade para a promoção de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável no território da Unidade de Saúde. As parcerias com o setor escolar, com os Centros Regionalizados de Assistência Social, com o setor de comercialização de alimentos, entre outros 11. QUALIFICAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO Fonte: image/jpeg;base64 Qualificação da força de trabalho, são destacados os principais temas e prioridades para a ordenação da formação dos saúde que atuam na agenda da alimentação e nutrição no SUS. No geral, recomenda-se que a qualificação dos profissionais esteja em consonância com as necessidades de saúde, alimentação e nutrição da população, sendo estratégico considerar o processo de trabalho em saúde como eixo estruturante para a organização da formação da força de trabalho. Destaca- se no processo de qualificação de gestores e trabalhadores de saúde as ações voltadas à atenção e vigilância alimentar e nutricional, a promoção da alimentação adequada e saudável e a segurança alimentar e nutricional, o enfrentamento dos agravos e problemas decorrentes do atual quadro alimentar e nutricional brasileiro. Em síntese, a PNAN revela ser a educação permanente em saúde a principal estratégia para qualificar as práticas de cuidado, gestão e participação popular no SUS (VIEIRA, 2011). 38 No que se refere ao processo de formação profissional, a fragmentação do conhecimento, bem como do próprio cuidado, faz com que a forma como se presta serviço em saúde se distancie da lógica da clínica ampliada e de um fazer interdisciplinar. Como estratégia para mudança deste cenário, a educação interprofissional parece enriquecer o processo formativo do profissional de saúde (PEDUZZI, 2013). A partir dos casos analisados é possível perceber o intuito de aproximar os diferentes cursos que compõem a área da saúde como Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Psicologia, entre outros, através de currículos integrados e vivências interdisciplinares na rede. O envolvimento destes cursos com programas como o Pró-Saúde e o PET Saúde e a aproximação com as Secretarias de Saúde dos municípios, bem como com as políticas públicas, disparam este processo de compartilhamento entre os núcleos para atuação no campo da Saúde Pública (LOURENÇO et al., 2017). Os desafios encontrados na implementação destas metodologias de ensino capazes de integrar teoria e prática conforme os relatos acima descritos, como vivências na comunidade, práticas de ensino e estágios supervisionados perpassam a própria formação e a implicação do docente enquanto facilitador do processo de ensino-aprendizagem com o aluno ocupando um papel ativo nesta relação. Para tanto, a notável sobrecarga de trabalho na rotina docente merece atenção para que este docente tenha condições plenas para buscar por espaços de capacitação para atuação como supervisor em atividades de integração ensino-serviço-comunidade (NEVES, SOUSA, VASCONCELOS, 2014; LUZ et al., 2015) A formação do nutricionista é possível sinalizar a necessidade de fomento às modificações na estrutura curricular, privilegiando currículos integrados na área de Saúde capazes de articular o campo teórico com a prática, a partir de ações de integração ensino-serviço-comunidade. Em recente revisão sistemática referente a formação do nutricionista em Saúde Pública, foi identificada como pertinente à formação profissional a realização de atividades práticas, possibilitando a efetiva relação entre teoria e prática (ALMEIDA et al., 2018) 39 12. CONTROLE E REGULAÇÃO DOS ALIMENTOS Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com O planejamento das ações que garantam a inocuidade e a qualidade nutricional dos alimentos, controlando e prevenindo riscos à saúde, se faz presente na agenda da promoção da alimentação adequada e saudável e da proteção à saúde. A preocupação em ofertar o alimento saudável e com garantia de qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica à população é o produto final de uma cadeia de processos, desde a produção (incluindo a agricultura tradicional e familiar), processamento, industrialização, comercialização, abastecimento até a distribuição, cuja responsabilidade é partilhada com diferentes setores de governo e da sociedade. A atual complexidade da cadeia produtiva de alimentos coloca a sociedade brasileira diante de novos riscos à saúde, como a presença de agrotóxicos, aditivos, contaminantes, organismos geneticamente modificados e a inadequação do perfil nutricional dos alimentos. O avanço da tecnologia contribui para maior oferta e variedade de alimentos no mercado e alto grau de processamento dos alimentos industrializados - cuja composição é afetada pelo uso excessivo de açúcar, sódio e gorduras, gerando alimentos de elevada densidade energética. Essas novas formulações, aliadas ao aumento de consumo de refeições fora do lar, exigem adequações na regulação de alimentos (NUTMED, 2012). Nesse contexto, a segurança sanitária busca a proteção da saúde humana, considerando as mudanças ocorridas na cadeia de produção até o consumo dos alimentos, nos padrões socioculturais decorrentes da globalização e as adaptações 40 ao modo de produção de alimentos em escala internacional. Assim, o risco sanitário deve enfocar a abordagem integral de saúde e considerar, além de si próprio, o risco nutricional decorrente desse cenário, ampliando a capacidade de o Estado fazer uso dos instrumentos legais de controle necessários à proteção da saúde da população. A PNAN e o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária – SNVS se convergem na finalidade de promover e proteger a saúde da população na perspectivado direito humano à alimentação, por meio da normatização e do controle sanitário da produção, comercialização e distribuição de alimentos (FILHO, 2012). As medidas sanitárias adotadas para alimentos se baseiam na análise de risco, considerando-se o risco como a probabilidade de um efeito adverso à saúde em consequência de um perigo físico, químico ou biológico com o potencial de causar esse efeito adverso à saúde. Dessa forma, é fundamental o uso da ferramenta de análise de risco com a finalidade de monitorar e assegurar à população a oferta de alimentos seguros e adequados nutricionalmente, respeitando o direito individual na escolha e decisão sobre os riscos aos quais irá se expor. Nesse sentido, implementar e utilizar as Boas Práticas Agrícolas, Boas Práticas de Fabricação, Boas Práticas Nutricionais e o Sistema Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC, na cadeia de produção de alimentos, potencializa e assegura as ações de proteção à saúde do consumidor (NUTMED, 2012). Para que os órgãos de controle sanitário de alimentos possam viabilizar as ações de monitoramento e responder oportunamente às demandas que lhes são apresentadas, é preciso que sejam dotados de capacidade de resposta rápida, com um sistema ágil que permita o acompanhamento dessas ações de forma a reavaliar processos, produzir informações e a subsidiar a tomada de decisões. Dessa maneira, faz-se necessário revisar e aperfeiçoar os regulamentos sanitários e norteá-los em conformidade às diretrizes nacionais da PAAS e da garantia do direito humano à alimentação e reforçar a capacidade técnica e analítica da rede nacional de vigilância sanitária. O monitoramento da qualidade dos alimentos deve considerar aspectos sanitários, como o microbiológico e o toxicológico, e aspectos do seu perfil nutricional, como teores de macro e micronutrientes, articulando-se com as estratégias de fortificação obrigatória de alimentos e de reformulação do perfil nutricional de alimentos processados com vistas à redução de gorduras, açúcares e sódio. 41 Especificamente a ação de monitoramento da publicidade e propaganda de alimentos deve buscar aperfeiçoar o direito à informação, de forma clara e precisa, com intuito de proteger o consumidor das práticas potencialmente abusivas e enganosas e promover autonomia individual para escolha alimentar saudável. Essa estratégia deve limitar a promoção comercial de alimentos não-saudáveis para as crianças e aperfeiçoar a normatização da publicidade de alimentos, por meio do monitoramento e fiscalização das normas que regulamentam a promoção comercial de alimentos (NUTMED, 2012). A comunicação e os canais de interação com os consumidores devem ser ampliados, estabelecendo ações contínuas de informação para que as medidas de controle e regulação sejam compreendidas e plenamente utilizadas pela população. A maior compreensão da percepção de risco nutricional e de saúde por parte do consumidor é fundamental para o desenvolvimento de estratégias efetivas de enfrentamento às práticas inadequadas de alimentação (FILHO, 2012). , Fonte: www.maisequilibrio.com.br A rotulagem nutricional dos alimentos constitui-se em instrumento central no aperfeiçoamento do direito à informação. O acesso à informação fortalece a capacidade de análise e decisão do consumidor, portanto, essa ferramenta deve ser clara e precisa para que possa auxiliar na escolha de alimentos mais saudáveis. Apesar do avanço normativo da rotulagem nutricional obrigatória, ainda é possível se deparar com informações excessivamente técnicas e publicitárias que podem induzir 42 à interpretação equivocada. Dessa forma, é preciso aprimorar as informações obrigatórias contidas nos rótulos dos alimentos de forma a torná-las mais compreensíveis e estender o uso da normativa para outros setores de produção de alimentos. As ações relacionadas à regulação de alimentos devem estar coordenadas e integradas à garantia da inocuidade e qualidade nutricional de alimentos, com o fortalecimento institucional dos setores comprometidos com a saúde pública e a transparência do processo regulatório - em especial dos agrotóxicos em alimentos, aditivos e alimentos destinados a grupos populacionais com necessidades alimentares específicas (NUTMED, 2012). Atualmente, o Brasil compõe o Mercado Comum do Sul – Mercosul, que apresenta políticas de regulamentação, estabelecendo práticas equitativas de comércio para os produtos alimentícios a partir da internalização e harmonização de legislações internacionais. Essas normas são amplamente discutidas com objetivo de estabelecer a livre circulação de gêneros alimentícios seguros e saudáveis, adaptadas às políticas e aos programas públicos de cada país. Outro fórum internacional de regulação de alimentos é o Codex Alimentarius, do qual o Brasil faz parte e deve levar em conta as recomendações desse espaço com vistas à defesa da saúde e da nutrição da população brasileira (FILHO, 2012). 13. PESQUISA, INOVAÇÃO E CONHECIMENTO EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Fonte: unifor.br/ 43 O desenvolvimento do conhecimento e o apoio à pesquisa, à inovação e à tecnologia, no campo da alimentação e nutrição em saúde coletiva, possibilitam a geração de evidências e instrumentos necessários para implementação da PNAN. Com relação ao conhecimento da situação alimentar e nutricional, o Brasil conta, atualmente, com os sistemas de informação de saúde e, em especial, o SISVAN, bem como pesquisas periódicas de base populacional nacional e local. Nesse aspecto, é importante que essas fontes de informação sejam mantidas e fortalecidas e que a documentação do diagnóstico alimentar e nutricional da população brasileira seja realizada por regiões, estados, grupos populacionais, etnias, raças/cores, gêneros, escolaridade, entre outros recortes que permitam visualizar a determinação social do fenômeno (NUTMED, 2012). É fundamental manter e fomentar investimentos em pesquisas de delineamento e avaliação de novas intervenções e de avaliação de programas e ações propostos pela PNAN, para que os gestores disponham de uma base sólida de evidências que apoiem o planejamento e a decisão para a atenção nutricional no SUS. Deve-se, portanto, manter atualizada uma agenda de prioridades de pesquisas em alimentação e nutrição de interesse nacional e regional, pautada na agenda nacional de prioridades de pesquisa em saúde. Desse modo, é importante a ampliação do apoio técnico, científico e financeiro às linhas de investigação aliadas às demandas dos serviços de saúde, que desenvolvam metodologias e instrumentos aplicados à gestão, execução, monitoramento e avaliação das ações relacionadas à PNAN. Para esse fim, os Centros Colaboradores em Alimentação e Nutrição (CECAN) constituem-se em uma rede colaborativa interinstitucional de cooperação técnico-científica, que deve ser aprimorada e fortalecida à medida que produzem evidências que contribuem para o fortalecimento da gestão e atenção nutricional na Rede de Atenção à Saúde do SUS (NUTMED, 2012). 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL - Decreto nº 7.272, de 25 de agosto de 2010. Regulamenta a Lei no 11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada, institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - PNSAN, estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 ago. 2010 BRASIL - Departamento de Atenção Básica, Secretaria de Atenção à Saúde, Ministério da Saúde. Marco de referência da vigilância alimentar e nutricional na atenção. Brasília: Ministério da Saúde; 2015. BRASIL - M. da Pesquisa nacional
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