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Iter Criminis Direito Penal @ANDEERSONROBERTO CONCEITO É o conjunto de fases que se sucedem cronologicamente no desenvolvimento do delito. É o caminho percorrido pelo crime. Se divide em quatro fases: cogitação, preparação, execução e consumação. ➢ COGITAÇÃO: Simples ideia do crime. Ou seja, o pensamento que o agente tem, sobre criar o crime, cogitar. Atenção: Em razão do princípio da materialização/exteriorização do fato (só podem ser punidos), a cogitação é sempre impunível. Querer punir a cogitação é adotar o direito penal do autor. ➢ PREPARAÇÃO: O agente procura criar condições para a realização da conduta criminosa. São todos os atos antecedentes cronologicamente à execução. Atenção: Em regra, são impuníveis. Entretanto, serão puníveis se constituírem crimes autônomos. ➢ EXECUÇÃO: Tem início com a prática da conduta nuclear do tipo penal. É o primeiro ato IDÔNEO e INEQUÍVOCO tendente à consumação do crime. Traduz a maneira pela qual o agente atua exteriormente para realizar o núcleo do tipo. ➢ CONSUMAÇÃO: Assinala o instante da composição plena do fato criminoso. INÍCIO DOS ATOS EXECUTÓRIOS É muito importante definir a partir de que momento se consideram iniciados os atos de execução do delito, tendo em vista que a partir deste momento a conduta passa a ser penalmente punida. Para definir o início da execução, surgem quatro teorias: → Teoria da hostilidade ao bem jurídico → Teoria objetivo-formal → Teoria objetivo-material → Teoria objetivo-individual TEORIA DA HOSTILIDADE AO BEM JURÍDICO Ato executório é aquele que ataca o bem jurídico tutelado, colocando-o em situação concreta de perigo. TEORIA OBJETIVO-FORMAL A execução se inicia no momento em que o agente pratica a conduta prevista no núcleo do tipo penal. Essa teoria é adotada aqui no Brasil, segundo STJ. Jugado em 27/09/2021. @ANDEERSONROBERTO TEORIA OBJETIVO-INDIVIDUAL. Atos executórios são aqueles que, de acordo com o plano do agente, realizam-se no período imediatamente anterior ao começo da conduta prevista no núcleo do tipo. TEORIA OBEJETIVO-MATERIAL. Atos executórios são aqueles que, de acordo com a visão de uma terceira pessoa, realizam-se no período imediatamente anterior ao começo da conduta prevista no núcleo do tipo. O EXAURIMENTO É FASE DO ITER CRIMINIS? ONDE SE SITUA? O exaurimento não é fase do iter criminis e se situa em momento posterior à consumação do delito. Dessa forma o exaurimento poderá resultar em quatro situações: Circunstância judicial, desfavorável, causa de aumento de pena, qualificadora ou delito autônomo. Veja os exemplos: O exaurimento pode: a) Servir como circunstância judicial desfavorável – art. 59 do CP Ex: Extorsão mediante sequestro – art. 159: O crime se consuma com a privação de liberdade da vítima, sendo exaurimento a eventual obtenção da vantagem. b) Atuar como qualificadora Ex: Art. 329, § 1° - quando em virtude da resistência o ato legal não se realizar. A pena, que na modalidade simples é de detenção de 2 meses a dois anos, passa a ser de reclusão de 1 a 3 anos. c) Caracterizar causa de aumento de pena Ex: Art. 317, § 1° - quando depois de solicitada a vantagem indevida (consumação da corrupção passiva) o agente não realiza ou retarda a execução de um ato de ofício (exaurimento do delito). Aumenta-se a pena em 1/3. d) Configurar um crime autônomo Ex: Art. 148, § 1°, V – sequestro qualificado pela finalidade libidinosa: O crime se consuma com a restrição à liberdade da vítima, sendo exaurimento se ocorrer os atos de libidinagem (os quais constituirão, inclusive, crime autônomo – art. 123 do CP). COGITAÇÃO → PREPARAÇÃO → EXECUÇÃO → CONSUMAÇÃO Justamente no intervalo entre a Execução e a Consumação, aparecem quatro importantes institutos do Direito Penal: • Tentativa • Arrependimento Eficaz • Desistência Voluntária • Crime impossível @ANDEERSONROBERTO ➢ TENTATIVA. Art. 14 – Diz-se o crime: ( . . . ) Tentativa II – Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. A tentativa de prática de um crime, portanto, não constitui, EM REGRA, infração penal autônoma, com pena autônoma. Trata-se de violação incompleta da mesma norma de que o crime consumado representa violação penal (execução incompleta do crime). EXCEÇÃO: Crimes de lesa pátria da lei 7.170/83 – arts. 11 e 17: Art. 11 – Tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país independente. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos. Art. 17 – Tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito. Pena: reclusão, de 3 a 15 anos. A tentativa é uma norma de execução temporal (ocorre a chamada tipicidade mediata). ELEMENTOS DA TENTATIVA: • Início da execução; • Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente; • Dolo de consumação; • Resultado possível; PUNIÇÃO DA TENTATIVA: Teoria subjetiva / voluntarista ou monista: Leva em conta o elemento subjetivo. Pune-se a tentativa com a mesma pena do crime consumado, pois subjetivamente os delitos são idênticos (ambos – consumado e tentado – possuem o mesmo dolo de consumação). Teoria objetiva ou realística: Leva em conta o elemento objetivo. A tentativa deve ser punida de forma menos severa, pois objetivamente é inacabada em relação ao crime consumado (ainda que subjetivamente sejam idênticos). O CP adotou, EM REGRA, a teoria objetiva (art. 14, parágrafo único): Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a mesma pena do crime consumado reduzida de 1/3 e 2/3. EXCEÇÃO: Existem crimes em que legislador optou por punir a tentativa e a consumação com a mesma intensidade (adotando, portanto, a teoria subjetiva). Esses crimes são chamados de crimes de atentado ou de empreendimento. Exs: art. 352 do CP – evasão de preso; art. 309 do código eleitoral 9Lei 4.737/65) @ANDEERSONROBERTO FORMAS DE TENTATIVA: 1. QUANTO AO ITER CRIMINIS PERCORRIDO: a) Perfeita / Acabada / Crime Falho / Crime Frustrado: O agente, apesar de praticar todos os atos executórios à sua disposição, não consegue consumar o delito por circunstâncias alheias à sua vontade. b) Imperfeita / Inacabada O agente, é impedido de prosseguir na execução, não conseguindo esgotar os atos executórios à sua disposição. 2. QUANTO AO RESULTADO PRODUZIDO NA VÍTIMA: a) Cruenta / Vermelha: A vítima é atingida. b) Não cruenta / Branca: A vítima não é atingida. INFRAÇÕES PENAIS NÃO ADMITEM TENTATIVA: Existem um mnemônio para facilitar a memorização dos delitos que não admitem a tentativa: → CHOUP CAC a) Contravenção penal; OBS: Em verdade, o que não se admite é a punição da tentativa de contravenção penal, pois a ocorrência da tentativa é possível factualmente. b) Crime Habitual: São aqueles compostos por reiteração de condutas. Dessa forma, ou se pratica o delito reiterando a conduta descrita ou não se pratica o delito realizando a conduta apenas uma vez. Por essa razão não admitem a tentativa. Ex: curandeirismo (art. 284, I, do CP); exercício ilegal da medicina (art. 282 do CP) c) Crime Omissivo próprio; É aquele praticado por omissão, o agente pratica por não ter feito o comportamento exigido pela norma. d) Crime Unissubsistente; São aqueles em que a conduta é exteriorizada mediante um único ato. A consumação é atingida assim que se pratica o ato de execução. Dessa forma, ou se pratica o ato de execução consumando o delito ou não se pratica o ato de execução e o delito não estará consumado. Ex: Injúria verbal. ATENÇÃO: Os crimes omissivos próprios são exemplos de delitos unissubsistentes. O mesmo não ocorre com os delitos omissivos impróprios (que admitem a tentativa). e) Crime Preterdoloso e Crime Culposo; Não há dolo de consumação, portanto falta um dos elementos da tentativa. @ANDEERSONROBERTO f) Crime de Atentado; A condutatentada é prevista no tipo penal, recebendo a mesma punição da conduta consumada. g) Crime Condicionado à Produção de um resultado; Havendo o resultado a que se condiciona a consumação do delito, haverá crime. Não ocorrendo o resultado a que se condiciona o delito, a conduta será atípica. Não há meio termo. ➢ DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA: É uma espécie de tentativa abandonada/qualificada. O sujeito ativo abandona a execução do crime quando ainda lhe sobra, do ponto de vista objetivo, uma margem de ação. Prevalece na doutrina que sua natureza jurídica é de causa de atipicidade de tentativa, pois exclui a tipicidade do delito anteriormente pretendido. ELEMENTOS DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA → Início da execução; → Não consumação por circunstâncias inerentes à vontade do agente; → Não esgotamento dos atos executórios; CONSEQUÊNCIAS: O agente responde pelos atos até então praticados. FÓRMULA DE FRANK Na tentativa o agente quer prosseguir, mas não pode. Na desistência voluntária o agente pode prosseguir, mas não quer. VOLUNTÁRIA X ESPONTÂNEA A desistência deve ser voluntária e não espontânea. Voluntária: O agente desiste por vontade própria. Pouco importa se a ideia de desistir foi sugestão de um terceiro ou partiu do próprio agente. Espontânea: A ideia de desistir parte do agente. Caso receba a sugestão de um terceiro deixa de ser espontânea. ATENÇÃO: Toda desistência espontânea será voluntária, mas nem toda desistência voluntária será espontânea. RELAÇÃO COM A TENTATIVA: A desistência voluntária é compatível com a tentativa inacabada/imperfeita, tendo em vista que não se esgotam todos os atos executórios. TENTATIVA SIMPLES DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA Início da execução. Início da execução. Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente. Não consumação por circunstâncias inerentes à vontade do agente. O agente quer prosseguir, mas não pode. O agente pode prosseguir, mas não quer. Consequência regra: Diminui a pena de 1/3 a 2/3. Consequências: O agente responde pelos atos até então praticados. @ANDEERSONROBERTO ➢ ARREPENDIMENTO EFICAZ: É uma espécie de tentativa abandonada/qualificada. Também conhecido como RESIPISCÊNCIA, ocorre quando o agente, desejando retroceder na atividade delituosa percorrida, desenvolve nova conduta, depois de terminada a execução criminosa. ELEMENTOS DO ARREPENDIMENTO EFICAZ → Início da execução; → Não consumação por circunstâncias inerentes à vontade do agente; → Atos executórios esgotados; CONSEQUÊNCIAS: O agente responde pelos atos até então praticados. VOLUNTÁRIO X ESPONTÂNEO: O arrependimento eficaz também não precisa ser espontâneo, bastando ser voluntário. Aplica-se ao arrependimento eficaz todas as observações feitas à voluntariedade da desistência. RELAÇÃO COM ATENTATIVA: O arrependimento eficaz é compatível com a tentativa acabada/perfeita/crime falho/crime frustrado, pois se esgotaram todos os atos executórios. ATENÇÃO: A DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA DEVE SER EFICAZ E O ARREPENDIMENTO EFICAZ DEVE SER VOLUNTÁRIO. CASO HAJA CONSUMAÇÃO NENHUM DESSES INSTITUTOS TERÁ APLICAÇÃO. CRIME IMPOSSÍVEL Art. 17 – Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. O crime impossível guarda relação com o instituto da tentativa. Na verdade, nada mais é que uma tentativa cujo resultado é impossível de se atingir. TEORIAS SOBRE A RESPONSABILIDADE DO AGENTE NO CRIME IMPOSSÍVEL • Teoria sintomática: O agente deve ser punido independentemente da possibilidade de ocorrência do resultado, pois com sua conduta, o agente demonstra ser perigoso, razão pela qual deve ser punido, ainda que o crime se mostre impossível de ser consumado. Tem como fundamento a periculosidade do autor, o que caracteriza o direito penal do autor. • Teoria subjetiva: O agente deve ser punido independentemente da possibilidade de ocorrência do resultado, pois, sendo a conduta subjetivamente perfeita (vontade consciente de praticar o crime, deve o agente sofrer a mesma pena cominada ao delito tentado. Preocupada com aspectos subjetivos, também é campo fértil para o direito penal do autor. • Teoria objetiva: O agente não deve ser punido quando se constata a impossibilidade de ocorrência do resultado. Levando em conta, objetivamente, a eficácia do meio e a propriedade do objeto. A teoria objetiva se subdivide em duas vertentes: teoria objetiva pura e teoria objetiva temperada. @ANDEERSONROBERTO • Teoria objetiva pura: Não se pune o agente, mesmo que a inidoneidade do meio escolhido ou a impropriedade do objeto atingido sejam relativas. Exemplo: Arma de fogo capaz de efetuar disparos, mas que no momento do crime acabou falhando eventualmente. • Teoria objetiva temperada (ADOTADA PELO BRASIL): O agente não será punido apenas quando a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto forem absolutas. Caso sejam meramente relativas, haverá a punição pela tentativa. O que torna o crime impossível é a ineficácia ABSOLUTA do meio ou impropriedade BSOLUTA do objeto. Se a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto forem relativas, ocorrerá a tentativa. Exemplos: A quantidade de veneno ministrada não foi suficiente para produzir a morte da vítima (ineficácia relativa do meio). Admite-se a punição pela tentativa do crime. O agente coloca talco na bebida da vítima acreditando tratar-se de veneno (ineficácia absoluta do meio). Crime impossível, que não admite a punição do agente. O punguista tenta retirar dinheiro do bolso errado da vítima (impropriedade relativa do objeto). Admite-se a punição pela tentativa do crime. O agente dispara arma de fogo contra pessoa que já estava morta (impropriedade absoluta do objeto). Crime impossível, que não admite a punição do agente. ELEMENTOS DO CRIME IMPOSSÍVEL: A – Início da execução; B – Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente; C – Dolo de consumação; D – Resultado absolutamente impossível de ser alcançado; ➢ ARREPENDIMENTO POSTERIOR “Art. 16 – Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”. É uma causa geral de diminuição de pena (1/3 a 2/3), favorecendo autor de crime não violento que se arrepende posteriormente à consumação, porém antes do recebimento da inicial. ATENÇÃO: É direito subjetivo do autor. REQUISITOS: A – Ausência de violência ou grave ameaça à pessoa; B – Reparação do dano ou restituição da coisa; C – Até o recebimento da inicial; D – Por ato voluntário do agente (não precisa ser espontâneo); @ANDEERSONROBERTO REQUISITOS: A – Ausência de violência ou grave ameaça à pessoa: OBS1: Violência contra coisa não impede arrependimento posterior. Ex: Furto com rompimento de obstáculo. OBS2: Crime violento culposo admite arrependimento posterior, pois a violência existe no resultado e não na conduta. Ex: Lesão corporal culposa. OBS3: A doutrina majoritária admite o arrependimento posterior nos casos de violência imprópria. B – Reparação do dano ou restituição da coisa; OBS1: Em regra, a reparação/restituição deve ser integral para permitir o benefício, entretanto, se a vítima concordar com a reparação ou restituição parcial, a jurisprudência e a doutrina admitem o arrependimento posterior. OBS2: A aceitação da vítima é irrelevante para a concessão do benefício. C – Até o recebimento da inicial; D – Ato voluntário do agente (não precisa ser espontâneo); DISPOSITIVOS ESPECIAIS MAIS BENÉFICOS: Existem alguns casos em que a reparação do dano traz consequências mais benéficas que a redução de pena do arrependimento posterior, e, portanto, esse instituto não terá aplicação nesses casos. São eles: - Peculato culposo: A reparação do dano, se anterior à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade,e sendo posterior, reduz de metade a pena prevista. - Fraude mediante emissão de cheque sem fundos (art. 171, §2°, VI, do CP): O pagamento do cheque antes de recebida a denúncia obsta o prosseguimento da ação penal, gerando a extinção da punibilidade do agente (súmula 554 do STF). - Crimes tributários e previdenciários: Havendo o pagamento integral do tributo devido ao fisco ocorre a extinção da punibilidade do agente. - Lei 9.009/97: A composição civil dos danos (reparação do dano) na audiência preliminar extingue a punibilidade do agente nos crimes de ação penal privada e de ação penal pública condicionada à representação.
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