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Farmacologia da disfunção erétil Os inibidores da fosfodiesterase 5 são utilizados na disfunção erétil, apesar de conterem uso cardiovascular e em casos de hipertensão pulmonar (pela vasodilatação). Estuda-se alguns efeitos possíveis como recuperação em AVE (melhora fluxo sanguíneo), potencialização cognitiva (melhora memória) e efeitos ansiolíticos e antidepressivos. Todavia, relacionados a esses fármacos também pode-se citar problemas com automedicação e alto potencial de interações medicamentosas, além do uso recreativo por indivíduos que não necessitam de tais fármacos. A disfunção erétil é a dificuldade ou incapacidade de atingir ou manter uma ereção suficiente. Possui prevalência que varia conforme os países de 2 a 53%, sendo de 48% no Brasil. Em pessoas maiores de 40 anos cerca de 15% usam fármacos e com menos de 40 até 10% faz o uso. É uma doença de etiologia variada, tendo duas causas principais: Psicogênica: derivada de alterações no SNC associada com ansiedade de desempenho, estresse, ansiedade, depressão, entre outros. Orgânicas: envolvem inúmeros fatores como idade, doenças cardiovasculares, diabetes, hipogonadismo (reduz a libido), obesidade, etilismo, esteroides (efeito dual, melhorando a curto prazo a ereção), tabagismo, lesões neurológicas, esclerose múltipla, neurodegeneração, uso de fármacos que promovem disfunção erétil secundária, entre outros. Mistas: envolvem aspectos orgânicos e psicogênicos. Fisiologia da ereção O corpo cavernoso possui artérias profundas, que são responsáveis por levar o sangue e manter a ereção. Além disso, tem-se veias que mandam ramos emissários que atravessam a túnica albugínea e formam o plexo venoso subtunical, estando relacionados com a drenagem do sangue do corpo cavernoso. A inervação dessa região é feita por ramos do simpático (envolvido com o orgasmo e a ejaculação) e parassimpático (indução da ereção), de modo que depois da ejaculação a ereção acaba. Por estímulos sensoriais e/ou psicológicos tem-se um estímulo parassimpático disparado por uma inibição do simpático que antes mantinha os vasos contraídos (ativação não adrenérgica e não colinérgica), promovendo uma vasodilatação de artérias cavernosas, preenchendo o corpo cavernoso se sangue, tendo também a compressão do plexo venoso e redução da drenagem desse órgão. Quando a ereção é cessada tem-se uma redução do parassimpático, retorno para um estado de artéria mais constrita, reduzindo o fluxo sanguíneo e retornando também a drenagem do sangue. A célula endotelial é responsável por produzir mediadores como a angiotensina II (contração da musculatura lisa e vasoconstrição), adrenalina por ação em 1, acetilcolina, bradicinina, esses últimos que atuam na célula endotelial produzindo óxido nítrico e prostaglandinas que promovem a ereção e vasodilatação. Pensando nisso, os fármacos buscam manter a vasodilatação e, consequentemente a ereção modulando esses mediadores. A acetilcolina atua na célula endotelial, de modo que essas células produzem mediadores específicos para ação na musculatura lisa e vasodilatação. Assim, se a pessoa tem lesão endotelial (como em casos de diabéticos e hipertensos), a acetilcolina não agirá de forma correta, tendo menor vasodilatação. Pensando na vasodilatação baseada no óxido nítrico, ele é um neurotransmissor atípico, gás, altamente lipofílico, não é armazenado, sendo produzido conforme a demanda e difundindo radialmente, tendo ação no local de produção. Estímulos endoteliais levam a uma estimulação celular que culmina com aumento do cálcio intracelular que estimula a calmodulina, estimulando a eNOS (no endotélio), que auxilia na produção do NO com a arginina como precursora. O NO difunde pelas membranas e age na célula efetora, ativando a guanilato ciclase solúvel na célula alvo, que converte o GTP em GMPc, que ativa uma cascata relacionada com a PKG, inibindo a entrada de Ca2+ (por ação direta no canal de Ca2+ na membrana) e a redução da contração muscular, promovendo uma vasodilatação. Existem enzimas fosfodiesterases serão responsáveis pela clivagem de GMPc em GMP, para permitir um controle dos efeitos do NO. Aumenta constrição das artérias e retoma drenagem do sangue, levando o corpo cavernoso ao estado flácido Ao cessar a ereção, reduz o estímulo parassimpático Compressão do plexo venoso e redução da drenagem Vasodilatação e preenchimento das artérias cavernosas Estímulo parassimpático por inibição do simpático Fosfodiesterases clivam GMPc em GMP e controla efeitos do óxido nítrico Inibição da entrada do Ca2+ e vasodilatação Conversão do GTP em GMPc e ativação da PKG Produção do NO, que ativa guanilato ciclase solúvel Estímulos endoteliais ativam a eNOS Fármacos para disfunção erétil 1) Inibidores da fosfodiesterase 5 Irão impedir que a fosfodiesterase torne o GMPc inativo, potencializando a vasodilatação e a ereção, de modo que seu mecanismo de ação busca potencializar o efeito do óxido nítrico. São fármacos de primeira escolha terapêutica, de uso oral e início de ação rápido, todavia, é extremamente dependente de estímulo sexual relevante, de modo que não deixa que a ereção dure tempo mais do que desejado, mas em contraposição não funcionam em pessoas com libido baixo ou ausente. Existem três inibidores disponíveis, com eficácia equivalente, apesar de algumas diferenças cinéticas que os distinguem. Sildenafil: a dose eficaz para 50% das pessoas é de cerca de 36-41 (menos potente) e tem boa eliminação fecal. Vardenafil: possui maior seletividade para a fosfodiesterase 5 devido a ter a menor concentração inibitória entre os 3, tendo menores efeitos indesejados. Possui o menor tempo de disponibilidade no sangue (cerca de 42 minutos), tendo pico plasmático e efeito rápido. Tadalafil: a dose eficaz para 50% das pessoas é baixa (10 mg), de modo que produz efeitos sem maiores efeitos indesejados e menor toxicidade. Quanto menor for concentração inibitória par fosfodiesterase 5 mais seletivo é o fármaco para essa isoforma, sendo que ele possui a maior concentração entre os 3, não sendo tão específico. Sua absorção oral é baixa e variável, sendo que as vezes precisa aumentar a dose considerando que grande parte do fármaco não será absorvido. Tem o maior tempo para ficar disponível no sangue (2h). Possui uma concentração intermediária no sangue, de modo que sua dose é suficiente para ser eficiente e não causar efeitos indesejados. É bom, já que não tem mudança na cinética com ingestão com alimentos. Seu volume de distribuição (quanto menor, o fármaco está concentrado no sangue e não em tecidos extravasculares) é o menor dos três, sendo melhor devido ao fato desse fármaco precisar estar no leito vascular. Tem meia vida maior, podendo ter o fármaco e seus efeitos por mais de três dias no organismo (5 meias vidas para eliminação). Seu metabolismo depende das isoformas do CYP450, sendo que pessoas com deficiência dessa isoforma podem ter toxicidade com doses normais. Tem menos eliminação fecal que os outros, então uma pessoa que possui problemas hepáticos e renais terá mais problemas para eliminação. Os inibidores da fosfodiesterase 5 não são seletivos, de modo que seu uso prolongado pode culminar em uma série de alterações em diversos sistemas. Como exemplo, a ação em outras isoformas de fosfodiesterase pode causar efeitos colaterais no sistema cardiovascular (PDE1) e alterações na retina e na pineal (PDE6). Como efeitos indesejados associados a PDE1 tem-se rubor (vasodilatação), congestão nasal, rinite, dor de cabeça (vasodilatação meníngea) e potencialização de vasodilatação, geralmente como interação com nitratos, facilitando hipotensão, agravamento de insuficiência cardíaca e aumentando risco de infarto por taquicardia reflexa. Além disso, associados a inibição da PDE6 pode ocorrer hipersensibilidade, alterações na discriminação visual azul/verde, neuropatia ópticapor degeneração nervosa/retinal. Uma extrema ação na PDE5 pode causar mialgia e a ação na PDE9 pode causar dispepsia por relaxamento do esfíncter esofágico. Nota-se relatos de fibrose cavernosa por deposição de colágeno, devido ao uso crônico e recreativo, como também por muita ereção. Tem-se outros usos desses fármacos, como para hipertensão pulmonar (vasodilatação pulmonar), fibrose cística, DPOC e hiperplasia prostática benigna. Além disso, estão pesquisando sobre ações neuroprotetoras e remodelamento/redução da apoptose após infarto agudo do miocárdio. Alternativas terapêuticas para os IPDEs Existem casos em que os inibidores da fosfodiesterase não respondem bem em casos de prostectomia, neuropatias, disfunção endotelial e alterações neurológicas severas. Anteriormente, para tais casos utilizam-se análogos de prostaglandinas (PGE2) administrado diretamente no corpo cavernoso como injeção. Atualmente ainda se utilizam tais métodos, mas existem outras aplicações, como injeções intrauretrais. Causam vasodilatação direta que geralmente não precisa ser mediada pelo endotélio, tendo ação direta no músculo liso. Todavia, a prostaglandina é um mediador inflamatório, podendo ter respostas indesejadas associadas à inflamação. Outro problema é que a absorção oral é baixa, devendo ser utilizados por injeção intracavernosa. Alprostadil: sua vasodilatação independe de estímulos (ereção logo em seguida à aplicação), sendo o método mais eficaz (85%), de modo que provoca uma rigidez peniana prolongada por 1 a 3h. Todavia, pelo fato de sua administração ser por injeção intracavernosa (dorsolateral em um ângulo de 90º para não atingir vasos) sua adesão é baixa e requer treinamento, além de causar dor, desconforto, sangramento e priapismo (ereção fora de relações sexuais, com duração de 2 a 4h) em alguns casos. Podem ser associados a outros fármacos para se potencializar os efeitos de ereção, como papaverina (opioide) e fentolamina (antagonista 1- adrenérgico). Existe atualmente a possibilidade de administração intra-uretral de análogos de prostaglandina, em que um comprimido é injetado no canal da uretra, promovendo seus efeitos. É uma forma menos inconveniente, mas também é menos eficiente, já que a absorção é menor. Os usuários relatam dor e ardência (mucosa uretral sensível), além de sangramentos e hipotensão (por absorção muito grande). A aplicação é feita inserindo o pallet com o fármaco na uretra e apertando o botão para liberar o comprimido. Depois deve rotacionar o dispositivo e massagear o pênis para garantir uma absorção adequada. Também existe uma administração intra-uretral por creme para colocar na saída da uretra, de modo que o creme fica apenas na glande, fato que terá menor absorção. Deve-se apertar a glande para ampliar a abertura uretral, injetar o creme dentro da abertura e mover suavemente qualquer excesso de creme para dentro. Existem alguns fármacos que podem ser indutores da disfunção erétil, sendo que existem algumas alternativas não indutoras com o mesmo efeito nas patologias de base. Conforme tabela abaixo, tem-se: Fármacos Indutores Alternativas não indutoras Anti- hipertensivos Betabloqueadores adrenérgicos Hidralazina Diuréticos tiazídicos Espironolactona* -bloqueador adrenérgico IECA IRA II Bloqueadores de canais de Ca2+ Antidepressivos Tricíclicos IMAO Fluoxetina Paroxetina Tradozona Hipolipemiantes Genfibrozila Clofibrato Estatinas Antissecretores gástricos Climetidina Ranitidina Omeprazol Antiandrogênicos Acetato de cipoterona Flutamida Análogos do GnH-RH Finasterida Minoxidil −bloqueador adrenérgico Outros Anti-histamínicos Alopurinol Dissulfiram Etanol em altas doses * A espironolactona é diurético antagonista de receptores de aldosterona com ação em receptores de estrógeno e progesterona, causando um desbalanço de efeito da progesterona no homem, estando possivelmente relacionada a uma disfunção erétil. Priapismo: é a ereção dolorosa, sem desejo sexual e prolongada (mais de 6h), sendo considerada uma emergência médica com necessidade de intervenção rápida, já que pode causar trombose, isquemia peniana e disfunção erétil. Como tratamento tem-se drenagem sanguínea (punção) e agonistas -adrenérgicos intracavernoso (fenilefrina). Ejaculação precoce: quando se tem latência para ejaculação reduzida (<1 min após penetração), associadas com falta de controle e dificuldades interpessoais. O tratamento pode ser feito com ISRS como dapoxetina e paroxetina (uso off label).
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