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1 Ana Catarina Rios – Odontologia - UFAL Preparo Químico Mecânico O preparo químico-mecânico de um canal radicular é realizado por meio do emprego de instrumentos endodônticos, de substâncias ou soluções químicas auxiliares e da irrigação-aspiração. Na realização do preparo não se pode separar procedimentos mecânicos de químicos, quer conceitualmente, quer na sua execução prática, visto que o resultado final do preparo de um canal radicular decorre da interação dos instrumentos endodônticos com as substâncias químicas auxiliares e com a irrigação-aspiração que se completam. O objetivo do preparo químico-mecânico é limpar, ampliar e dar forma definida ao canal radicular para que ele possa receber o material obturador. Técnica de PQM A técnica de PQM utilizada na Universidade Federal de Alagoas é baseada na Técnica de Oregon (Marshall e Papin, 1980). A Técnica de Oregon foi desenvolvida em 1980, na Universidade de Oregon. Esta técnica de preparo dos canais dividia-os em terços cervical, médio e apical. Princípio Técnico O princípio técnico consiste na realização do preparo prévio do terço cervical e médio, seguido da realização do preparo do terço apical. 1. Terço cervical 2. Terço médio 3. Terço apical Vantagens de realizar um preparo segmentado do canal: • Redução da contaminação do canal: nos dentes necrosados, a principal fonte de contaminação é através da saliva. As bactérias da saliva penetram no canal radicular e colonizam as paredes. Caso, durante o preparo químico mecânico, inseríssemos uma lima até a região do forame, as bactérias seriam “empurradas” da porção mais contaminada do canal (terço cervical e médio) para o seu ápice. Portanto, a técnica de Oregon promove, inicialmente, a limpeza dos dois terços mais contaminados do canal para, em seguida, realizar o preparo do terço apical com o canal mais descontaminado e livre das bactérias que estavam alojadas nos dois terços iniciais. • Melhor visualização do canal: a realização do preparo em terços facilita a visualização do canal. • Facilitar a penetração da agulha: a realização do preparo em terços permite a ampliação da área em vermelho, facilitando – consequentemente - a penetração da agulha de irrigação. Fases Operatórias Para facilitar a didática, o preparo do canal radicular é dividido em 3 fases operatórias: 1. Exploração dos canais radiculares 2. Preparo cervical 3. Preparo apical + ampliação foraminal Exploração do Canal Radicular A primeira fase do preparo do canal radicular tem como objetivo conhecer a anatomia interna, pois, logo após fazermos o acesso endodôntico, temos somente informações advindas da radiografia inicial e da visualização da câmara pulpar. Porém, outras informações são necessárias durante o preparo do canal, como: • Número de canais radiculares • Direção dos canais radiculares • Diâmetro dos canais radiculares • Presença de corpos estranhos no interior dos canais radiculares • Possibilidade de acesso à região apical É durante a exploração do canal radicular que iremos coletar todas as informações citadas acima. 1 2 3 É importante analisarmos a possibilidade de acesso à região apical, pois em algumas situações pode haver interferências, como calcificações e atresias dos canais radiculares, que impedem o acesso da lima à região apical. 2 Ana Catarina Rios – Odontologia - UFAL Como realizar a exploração do canal radicular: A exploração do canal radicular inicia-se por meio da (o): 1. Radiografia para diagnóstico do dente a ser tratado através do posicionador radiográfico. 2. Através da radiografia, iremos estabelecer o Comprimento Aparente do Dente (CAD), que vai da região do ápice dental até a borda incisal. O CAD pode ser medido através de um compasso de pontas secas e transferido para uma régua milimetrada ou apenas por meio de uma régua escolar. 3. Estabelecimento do Comprimento de Trabalho de Exploração (CTex) a partir do CAD. Os 5 mm é o que chamamos de “Recuo de Segurança”, para que não levemos as bactérias do terço cervical e do terço médio para a região apical. EX: um dente com CAD de 21 mm possui um CTex de 16 mm. Assim, nesta primeira etapa, trabalharemos na medida do CTex. ATENÇÃO: é importante registrar o ponto anatômico que servirá como referência externa. Nos dentes anteriores, a referência externa é a borda incisal, enquanto nos dentes posteriores é alguma das cúspides. Temos que registrar a referência externa, pois utilizaremos a mesma referência radiográfica para inserir a lima durante o preparo. 4. Seleção do Instrumento Apical Inicial (IAI). A exploração do canal radicular deve ser feita com as Limas da Série Especial (08 ou 10) ou a Lima da 1ª Série (K-File 15). 5. Inundação da câmara pulpar com uma substância química auxiliar (clorexidina gel 2%). 6. Movimento de cateterismo. Com o IAI, faz-se movimentos oscilatórios juntamente com movimentos de penetração. Terminada a etapa da exploração do canal radicular, partimos para o preparo cervical. Preparo Cervical O objetivo desta etapa é realizar o preparo dos terços cervical e médio. Para realizarmos o preparo dos terços cervical e médio do canal é necessário: 1. Estabelecer o Comprimento Provisório de Trabalho (CPT). EX: um dente com CAD de 21 mm possui um CPT de 15 mm. Como realizar o preparo cervical: 1. Inundar a câmara pulpar com clorexidina gel 2%. 2. Inserir a lima Easy M Orifice Shaper #15/10 (17 mm) até o CPT. O CAD é uma medida “Aparente”, pois estamos trabalhando apenas com uma radiografia inicial. CTex = CAD – 5 mm 5 mm OBS: esse instrumento, obrigatoriamente, precisa ser de pequeno calibre, pois se inserirmos uma lima de grande calibre em um canal amplo, este funcionará como um êmbolo e a seringa, empurrando bactérias para a região apical. Assim, quanto mais fina e delicada for a lima (para a exploração do canal radicular), melhor será o resultado. A = Penetração B = Oscilatório ATENÇÃO: sempre que uma lima penetra o interior do canal radicular, a câmara pulpar deve estar inundada de clorexidina gel 2%. Não se deve inserir um instrumento dentro de um canal seco. CPT = CAD – 6 mm 3 Ana Catarina Rios – Odontologia - UFAL Para atingir o CPT, devemos realizar movimentos de rotação e tracionar a lima para fora do canal, limpando o instrumento com uma gaze umedecida por álcool. A lima é tracionada para fora do canal para remover resíduos/raspas de dentina que ficam presos nas espiras da lima. Caso a lima não alcance a medida do CPT, não devemos forçar a sua entrada. Conforme a lima vai avançando, a clorexidina gel 2% presente dentro do canal radicular vai ficando esbranquiçada, sendo necessário realizar a aspiração dessa substância. 3. Após a aspiração da clorexidina gel 2%, deve-se realizar a irrigação ativa com soro fisiológico através da seringa de 10 mL. Para sabermos quanto a lima irá penetrar dentro do canal, deve-se deslizar o cursor sobre o instrumento e, com o auxílio da régua endodôntica, colocá-lo na medida que queremos trabalhar. 4. Realizar a Odontometria. A odontometria tem como objetivos: • Estabelecer o Comprimento Real do Dente (CRD). O CRD é obtido através de uma radiografia com a lima inserida no canal radicular. • Estabelecer o Comprimento de Trabalho (CT). O CT é a medida que a lima irá penetrar durante o preparo apical do canal radicular. • CT = CRD Como realizar a odontometria: • A odontometria é feita segunda a Técnica de Ingle (1989). • Inserir a lima IAI (lima utilizada para fazer a exploração do canal) ou uma lima de calibre superior no CAD. • Realizar uma radiografia periapical com a lima inserida. • Medir a distância entre a ponta da lima e o ápice radiográfico, a fim de estabelecero CRD. Ex: • CAD = 20 mm • Distância da ponta da lima ao ápice radiográfico = 2 mm • CRD = 22 mm • CT = 22 mm Ex: • CAD = 20 mm • Distância da ponta da lima ao ápice radiográfico = 0 mm • CRD = 20 mm • CT = 20 mm Ex: • CAD = 20 mm • A ponta da lima ultrapassou 2 mm o ápice radiográfico. • CRD = 18 mm • CT = 18 mm Assim, a odontometria serve para determinar qual será a medida que iremos realizar o preparo apical. Importância do Localizador Apical: Muitas vezes o ápice radiográfico não coincide com o forame apical. Assim, sempre que possível, devemos utilizar um localizador apical, pois quando a ponta do instrumento atinge o forame, a luz vermelha é acessa, alertando a chegada ao Comprimento Real do Dente (CRD). Portanto, o localizador apical permite saber a exata medida do CRD, sem precisar de uma radiografia. Preparo Apical O preparo apical tem como objetivo promover a limpeza do terço apical. O preparo apical é feito através do uso das limas Easy M – 15 a 40 - .05 (25 mm). Como realizar o preparo apical: 1. Inundar a câmara pulpar com clorexidina gel 2%. 2. A partir da lima K Flex #15 (usada na odontometria) deve-se ir aumentando o calibre até encontrar a primeira lima que Ápice radicular Forame apical 4 Ana Catarina Rios – Odontologia - UFAL ofereça resistência no CT (lima de referência). Através de movimentos de cateterismo, deve-se inserir a lima K Flex #15 no canal radicular de forma a tentar chegar ao forame apical. Em seguida, devemos observar se esta lima oferece dificuldade para atingir esta região. Se a lima K Flex #15 atingir com facilidade o forame apical, significa que ela entrou “folgada” dentro do canal. Assim, deve-se aumentar o calibre e fazer o mesmo procedimento com uma lima de calibre 20. Se a lima de calibre 20 também atingir o forame com facilidade, devemos inserir uma lima de calibre 25 e analisar se esta atinge o forame com facilidade ou dificuldade. A primeira lima que atingir o CT com dificuldade e resistência nas paredes será chamada de lima de referência. 3. Utilizar a lima Easy M – 15 a 40 - .05 (25 mm) correspondentes no CT (lima de finalização). Após identificar a lima de referência, retira-se a lima K Flex #15 e insere-se a lima Easy M .05 de calibre correspondente à lima de referência. Ex: • CT = 21 mm • Lima de referência = K Flex 30 • Lima de finalização = Easy M 30 .05 Assim, o preparo apical estará finalizado quando a lima 30 .05 atingir o CT e o canal não oferecer resistência à sua chegada. IMPORTANTE: Caso a primeira resistência seja obtida com uma lima superior à #45, deve-se ampliar 2 calibres. Ex: se a primeira lima a sofrer resistência possuir um calibre de 55, a lima de resistência será a de calibre 55 e a lima de finalização será uma de 2 calibres a mais, isto é, a lima de calibre 70. Para limpar as paredes pouco instrumentadas, deve- se fazer movimentos pendulares com a lima de calibre 40 .05. A cada troca de instrumento deve-se observar o aspecto da clorexidina gel 2%. Caso esta encontre-se esbranquiçada, devemos aspirar, limpar, renovar a substância e utilizar a lima IAI no CRD. A ampliação mínima para finalizar o preparo é com a lima 25 .05. assim, nunca se deve finalizar um preparo de canal com uma lima inferior à 25 .05. Em caso de resistência para atingir o forame com a lima Easy M, sempre utilizar a lima M de calibre inferior previamente. Ex: se a lima de referência for uma K 25, a lima de finalização será uma M 25. Porém, esse trajeto de sair de uma K para uma M é, muitas vezes, difícil, gerando resistência. Assim, nesse trajeto utiliza-se a M 15. Em seguida, utiliza-se a M 20, para depois finalizar com a M 25. Assim, finalizamos a parte mecânica do preparo. Finalizado o PQM... 1. Inundação do canal com EDTA para remoção da parte inorgânica do “smear layer”. A remoção da parte inorgânica da smear layer é feita através da aspiração do conteúdo presente no canal radicular, lavar com soro fisiológico e, em seguida, preenche-lo com EDTA 17%. 2. Agitação mecânica com Easy Clean durante 20 segundo por canal, em baixa rotação. O easy clean é uma lima/agitador de plástico que agita a substância presente no interior do canal. O easy clean será acoplado à caneta de baixa rotação e, durante 20 segundos, ficará agitando o EDTA presente no canal. A agitação do EDTA é capaz de remover a parte inorgânica da smear layer e, consequentemente, expor os túbulos dentinários, que se encontram prontos para receber a medicação intracanal ou o material restaurador. O cursor da easy clean é colocado na medida do CT – 2 mm. Ex: se o CT for 20 mm, trabalharemos com o easy clean em 18 mm. 3. Irrigação final com soro fisiológico para remoção do EDTA. IMPORTANTE: O completo domínio da técnica de instrumentação é diretamente proporcional à quantidade de treinamento. É de suma importância o treinamento prévio para a obtenção do sucesso futuro.
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