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Motricidade Orofacial Modulo-II

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AN02FREV001/REV 3.0 
50 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
MOTRICIDADE OROFACIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
51 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
MOTRICIDADE OROFACIAL 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do 
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são 
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
52 
 
 
MÓDULO II 
 
 
6 BASES FISIOLÓGICAS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO 
 
 
O conhecimento da base anatômica de cabeça e pescoço é fundamental 
para o entendimento das bases fisiológicas das funções estomatognáticas. Os 
músculos são as peças chaves para a dinâmica dos movimentos e para a execução 
das funções estomatognáticas, eles ficam inseridos nas estruturas da cabeça (osso, 
cartilagem). As funções estomatognáticas são atividades fisiológicas imprescindíveis 
e estão estreitamente ligadas entre si, pois utilizam muitas das mesmas estruturas. 
Esta ligação é tão direta que o mau funcionamento de qualquer uma delas reflete no 
funcionamento das demais. Um equilíbrio saudável entre essas diversas funções, é 
fundamental, para que haja a integridade da saúde física e psicológica do indivíduo 
(Oba, 1999). 
O sistema estomatognático, “identifica um conjunto de estruturas bucais que 
desenvolvem funções comuns, tendo como característica constante a participação 
da mandíbula”, por isso o nome grego gnatos, que significa mandíbula. Mesmo 
tendo suas características próprias, depende do funcionamento dos outros sistemas 
do corpo humano (sistema nervoso, o circulatório, endócrino, etc.), “porque não 
constitui uma unidade separada do resto do organismo, mas se integra estritamente 
a ele” (Douglas (2002, p. 289). Desde a sua formação, o sistema estomatognático 
durante o desenvolvimento da pessoa passa por várias adaptações, e é dinâmico, 
podendo apresentar alterações morfológicas durante todo o processo de 
crescimento/desenvolvimento, ou seja, durante toda a vida (Tanigute, 2005). 
O sistema estomatognático é composto de estruturas estáticas ou passivas 
e de estruturas dinâmicas ou ativas que são equilibradas e controladas pelo sistema 
nervoso central. Estas estruturas são responsáveis pelo funcionamento das funções. 
Fazem parte das estruturas estáticas ou passivas os arcos osteodentários, a 
maxila e a mandíbula, que estão relacionados entre si pela articulação 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
53 
temporomandibular (ATM), ainda fazem parte das estruturas passivas, outros ossos 
cranianos e o osso hioide e a coluna vertebral cervical. A unidade neuromuscular 
representa as estruturas dinâmicas ou ativas, e são responsáveis em mobilizar as 
estruturas estáticas. 
Essas estruturas estão interligadas formando um sistema com 
características próprias, “que tem uma unidade morfofuncional localizada 
centralmente na cavidade oral” (Douglas, 2002, p. 290) e desenvolve funções em 
comum, ou seja, as funções estomatognáticas. Estas funções são divididas no grupo 
das funções adaptadas – o beijo, sorriso, mordida, bocejo, etc.; e das funções 
clássicas, que estão ligadas a alimentação e a respiração – mastigação, sucção, 
deglutição, respiração e fonoarticulação (Douglas, 1998). 
 
 
Tabela 1. Estruturas constituintes do sistema estomatognático 
 
Estruturas constituintes do sistema estomatognático 
Estruturas passivas ou 
estáticas 
Estruturas ativas ou 
dinâmicas 
Gasto energético basal 
Baixa taxa metabólica 
Potenciais elétricos 
localizados 
Alto gasto energético 
Taxa metabólica elevada 
Potencial de ação 
Elementos  Elementos 
Osso – mandíbula, hióides, 
maxilar superior (base 
craniana), coluna cervical 
ATM – articulações 
vertebrais cervicais 
Dentes – área oclusal, 
periodonto 
Mucosa oral 
Tendões, aponeuroses, 
ligamentos 
Nervos – motores e 
sensitivos 
Músculos  
FONTE: Douglas, CR. Tratado de fisiologia aplicada à fonoaudiologia. São Paulo: Robe 
Editorial, 2002, p. 290. 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
54 
Funcionalmente o sistema estomatognático está constituído por quatro 
elementos básicos: articulação temporomandibular, componente neuromuscular, 
superfícies e pressões oclusais e periodonto. 
 Articulação temporomandibular (ATM) – a mandíbula fica articulada ao 
cérebro através de uma articulação dupla bilateral, que se move por meio de 
movimentos amplos e sincronizados entre as duas articulações. A ATM não suporta 
forças, e tende a manter em posição a mandíbula, que está pendurada na 
articulação. A ATM tem os movimentos de translação lateral, translação 
anteroposterior, movimentos de rotação e circunvalares (Douglas, 2002). 
 Componente neuromuscular – é o “conjunto de musculoesqueléticos, 
cuja função depende diretamente da ação motora do SNC”. Os músculos principais 
são os mandibulares, principalmente os levantadores (Douglas, 2002, p. 293). 
 Superfície e pressões oclusais – é a parte da área oclusal dentária que 
intervém na função oclusal, como ocorre na mastigação, por exemplo, em que 
constitui superfície triturante ou cortante. A pressão oclusal é a pressão exercida 
sobre os dentes e é determinada pela relação entre força sobre área oclusal. A 
superfície oclusal é maior nos molares, enquanto nos caninos e incisivos é 
inexpressiva, já a pressão oclusal é muito alta no incisivo e menor no molar, no “pré-
molar apresenta pressão relativamente elevada, e superfície oclusal relativamente 
grande, sendo o dente ideal para a trituração” (Douglas, 2002, p. 299). 
 Periodonto – são as estruturas responsáveis pela fixação e 
sustentação dos dentes, formadas pelo osso alveolar, a gengiva marginal, cemento 
e as fibras periodontais. (que ligam o dente ao osso alveolar). Marchesan (1993) 
salienta que a parte do periodonto que participa na dinâmica estomatognática é o 
ligamento periodontal ou as fibras periodontais. 
Como todo o corpo, o sistema estomatognático sofre mudanças, e, a 
primeira modificação importante ocorre no primeiro ano de vida, mas precisamente, 
após o 6ª mês de vida. Observa-se alongamento da faringe, mudanças importantes 
no esqueleto facial, início da erupção dentária. O amadurecimento do sistema 
estomatognático modifica o funcionamento da musculatura facial (Douglas, 1998). 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
55 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Disponível em: <www.nutrinews.com.br/.../news/amamentação.jpg>. Acesso em: 21 set. 
2010. 
 
 
Como vimos acima, o sistema estomatognático tem as funções adaptativas e 
as funções clássicas. Dentro das funções clássicas a deglutição e a sucção surgem 
na vida intrauterina; a respiração acontece no nascimento; e a mastigação e a fala 
são aprendidas durante o crescimento e desenvolvimento. Neste módulo falaremos 
sobre as funções clássicas, começando com a sucção. 
 
 
6.1 SUCÇÃO 
 
 
A sucção1 é uma função inata, que pode ser observada perfeitamente na 29ª 
semana de vida gestacional, porém, está totalmente aperfeiçoada na 32ª semana e 
por volta da 34ª, o controle entre a sucção a deglutição e a respiração acontece de 
forma coordenada. O reflexo da sucção é um reflexo motor simples que tem o 
controle nervoso da medula e da ponte, e deve estar presente no recém-nascido, 
pois se trata de um fenômeno reflexo, do tipo alimentar visando à ingestão de leite. 
Deixa de ser reflexo por volta do 4º mês de vida, passando a ser de controle 
voluntário, permanecendo durante toda a vida. (Xavier, 1998, Douglas, 2002, 
Hernandez, 2003, Tanigute, 2005). 
 
1 Em relação a dataprecisa do aparecimento da sucção, existe variação entre os autores, 
encontramos autores falando que exames ultrassonográficos detectaram padrão de sucção na 15ª 
semana de vida intrauterina (Hernandez, 2003), na 32ª semana (Felício, 2004), porém aqui vamos 
utilizar os dados de Douglas, 2002. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
56 
Douglas (2002) salienta que a boca do recém-nascido é altamente sensível 
e que é por meio dos lábios e da ponta da língua que são captadas todas as 
informações que vem de fora – este conjunto é chamado de fronte líguo-labial. A 
partir deste conjunto que partem as aferências que desencadeiam o reflexo de 
sucção, ocorrendo de maneira rítmica por comando do núcleo supratrigeminal, 
provocando um vácuo na boca permitindo a sucção que ocorre em três fases 
distintas, consideradas mecânica da sucção (Douglas, 2002). 
 I Fase – produção de pressão negativa intraoral – a boca determina 
um vácuo – a pressão oral é menor que a pressão atmosférica. Este vácuo ocorre 
devido ao posicionamento da mandíbula numa posição elevada através da ação 
tônica dos músculos levantadores, em seguida ocorre o selamento anterior da boca, 
por convergência da língua com os lábios, após segue-se o selamento posterior da 
boca – forma-se uma câmara hermétrica fechada suscetível de determinar o vácuo. 
Em seguida observa-se a formação da colher glóssica – depressão central da língua 
enquanto a ponta da língua ergue-se para cima. Quando a colher glóssica está 
formada, a mandíbula se abaixa, sem haver abertura dos orifícios anterior e 
posterior da boca. Em seguida ocorre a contração da musculatura perioral, condição 
fundamental para o leite ingressar na boca ao pressionar o mamilo ou bico da 
mamadeira, ficando na colher glóssica. Observa-se em seguida depressão da base 
da língua, produzida pelo abaixamento dos músculos infra-hióideos. 
 II Fase – promoção de pressão positiva intraoral – após o leite ser 
depositado na língua, inicia-se a fase de pressão positiva, pois a ocorre a contração 
da musculatura levantadora da mandíbula, com isso ela se levanta. A mandíbula e a 
língua elevada mais a contração do bucinador determina na cavidade oral uma 
pressão positiva. Esta pressão é aumentada quando o centro da língua sobre, 
passando de uma côncava para convexa, impelindo o leite para trás, como uma 
função de êmbolo. 
 III Fase – deglutição associada ou consectária – com a pressão 
aumentada na boca abre-se o esfíncter linguopalatino e o fechamento do orifício 
posterior das narinas através do movimento do esfíncter velofaríngeano. Ao mesmo 
tempo a parte posterior da língua se abaixa devido a contração do hioglosso e o leite 
é impulsionado para trás. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
57 
Este processo é repetido tantas vezes quanto for necessário para a ingestão 
da quantidade de líquido a ser sugado, devendo ocorrer de forma ritmada no padrão 
duas ou três sucções seguindo de uma deglutição. Vejamos no quadro abaixo os 
mecanismos neuromusculares dos fenômenos que estão envolvidos na sucção: 
 
 
Quadro 9 - Mecanismos neuromusculares dos fenômenos envolvidos nas fases da sucção 
Fenômeno funcional Músculos envolvidos Nervos estimuladores 
I Fase: pressão negativa intrabucal 
Elevação da mandíbula músc.levantadores trigêmio 
Selamento linguolabial orbicular da boca facial 
Selamento linguopalatino palatoglosso glossofaríngeo 
 relaxação do véu do palato plexo faríngeo 
Formação da colher lingual hioglosso hipoglosso 
 Ponta para cima: genioglosso Hipoglosso 
 Base elevada: palatoglosso glossofaríngeo 
Descenso da mandíbula relaxação de levantadores trigêmeo 
 supra-hióideos: milo-hióideo, trigêmeo 
 ventre anterior do digástrico trigêmeo 
 infra-hióideos: tireo-hióideo C3 – C5 
Compressão labial orbicular da boca facial 
 bucinador facial 
Depressão da base da língua hioglosso hipoglosso 
 músculos faríngeos e hióideos 
estilo-hióideo 
glossofaríngeo 
 estiloglosso hipoglosso 
II Fase: pressão positiva intrabucal 
Elevação da língua palatoglosso glossofaríngeo 
Levantamento da 
mandíbula 
músculos levantadores trigêmeo 
III Fase: deglutição acoplada 
Abertura esfíncter linguopalatino levantador do véu palatino Plexo faríngeo 
(X, XI, IX) 
 hioglosso hipoglosso 
Selamento da narina 
posterior 
levantador do véu do palato plexo faríngeo 
Depressão da base da 
língua 
hioglosso hipoglosso 
Arremesso posterior longitudinal superior hipoglosso 
 genioglosso hipoglosso 
Deslocamento de laringe tireo-hióideo C3 – C5 
Abertura esfíncter cricofaringeo vago 
Posição extensora da 
 cabeça 
músculos da nuca C2 – C5 
FONTE: Douglas, CR. Tratado de fisiologia aplicada à fonoaudiologia. São Paulo: Robe Editorial, 2002, p. 340. 
 
 
O controle neural da sucção é realizado por um gerador de padrão central – 
rede neural localizada na formação reticular, que enviam impulsos motores para a 
realização da sucção (Felício, 2004). A partir de receptores de tato dos lábios e da 
língua, integram-se reflexos na formação reticular, que vão controlar a respiração, a 
sucção, a deglutição, a postura da cabeça e do pescoço durante a amamentação 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
58 
(Douglas, 2002). Para uma adequada sucção, deve haver sincronia de movimentos 
dos lábios, língua, bochechas, mandíbula, maxila e faringe/laringe, sendo que o 
bucinador é bem ativo (Tanigute, 2005). 
Ao mamar o bebê movimenta a mandíbula 
dorsalmente, para frente e para trás, voltando à 
posição inicial para obter o leite, com a 
repetição destes movimentos o bebê estará 
fazendo um grande exercício, exercitando a 
mandíbula, musculatura orofacial, as 
bochechas, os lábios e a língua. Este exercício 
é muito importante para o desenvolvimento 
craniofacial. No aleitamento materno o bebê 
executa de 2000 a 3500 movimentos de 
mandíbula em 24 horas, enquanto na 
mamadeira, esses movimentos são bem 
menores, de 1500 a 2000 (Tanigute, 2005). 
 
 
Deglutição com destaque em rosa. FONTE: Disponível em: <www.msd-
brazil.com/.../images/09_101_a.jpg>. Acesso em: 21 set. 2010. 
 
 
6.2 DEGLUTIÇÃO 
 
 
A primeira função a manifestar-se no feto é a deglutição, aparecendo na 12ª 
semana gestacional. A partir do desenvolvimento ela vai se modificando, 
apresentando-se inicialmente com padrão infantil – deglutição infantil ou visceral – 
modificando-se a partir do crescimento craniofacial, com o amadurecimento do 
sistema sensório-motor-oral e da erupção dos incisivos. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
59 
Esta fase é caracterizada pelo posicionamento lingual entre as gengivas, 
pela contração da musculatura facial, estabilizando assim a mandíbula, e, devido “a 
deglutição ser guiada pela relação sensorial existente entre os lábios e a língua”. A 
deglutição madura aparece a partir da erupção dos primeiros molares decíduos, com 
o início dos verdadeiros movimentos da mastigação. A deglutição nesta fase 
apresenta-se com os dentes em oclusão, a mandíbula é estabilizada pelas 
contrações dos músculos levantadores, o terço anterior da língua coloca-se acima e 
atrás dos incisivos superiores e os lábios estão unidos, com contração mínima 
(Tanigute, 2005, p. 6). Além da erupção dos dentes, iniciando um processo instintivo 
de mastigar, esta transição da deglutição infantil para a madura é favorecida pelo 
amadurecimento dos elementos neuromusculares, o surgimento da postura ereta da 
cabeça, e a capacidade de manipular alimentos de várias texturas (Felício, 2004). 
Veja na figura abaixo, o bolo alimentar se preparando para a deglutição, a 
movimentação da língua, da epiglote e do esfíncter velofaringeano. 
A deglutição é considerada uma função hegemônica, ou seja, “o organismonão pode se permitir não realizar, mesmo que esta lhe cause grande dispêndio”. 
Pode-se definir deglutição como o processo de enviar o bolo alimentar, o líquido ou 
a saliva da cavidade oral para o estômago (conforme observamos o alimento em 
rosa, fazendo o trajeto até o estômago, na figura 6). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esquema anatômico das estruturas troncais relativas à função da deglutição. Escaneada de 
DOUGLAS, C. R. Tratado de fisiologia aplicada à fonoaudiologia. São Paulo: Robe Editorial, 2002, p. 
376. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
60 
É uma função fundamental, sendo considerado como a real função alimentar 
(Felício, 2004, p. 200). Douglas (2002, p. 372) define mais amplamente, 
considerando como: 
“o conjunto de mecanismos motores, perfeitamente coordenados, 
visando a passagem do conteúdo oral para o estômago, com 
participação ativa da faringe e esôfago. Tal efeito se refere ao 
conteúdo oral, seja bolo alimentar (de consistência elevada) ou de 
líquido, seja de bebida ou secreção salivar, mas também refere-se à 
expulsão do contento das vias aéreas sub-faríngeas, especialmente 
as secreções mucosas, por mecanismos respiratórios de retropulsão 
de caráter protetor, que remove particular originariamente captadas 
em ditas vias.” 
 
Trinta e um pares de musculoesqueléticos, comandados pelo centro 
funcional da deglutição que está localizado na formação reticular bulbar, inervados 
por seis pares de nervos cranianos (X, XI, IX, XII, V e VII) mais os nervos cervicais 
C3 a C5 comandam toda a sequência de contrações musculares ordenadas, que é a 
deglutição. Veja na figura F.6a, esquema anatômico, proposto por Douglas (2002), 
das estruturas troncais relativas à função da deglutição. Os nervos IX e X fazem 
parte do núcleo do trato solitário (NTS). 
A deglutição é uma atividade neuromuscular complexa e integrada, vejamos 
abaixo o quadro proposto por Douglas (2002) em relação aos requisitos funcionais 
da deglutição: 
 
Quadro 10 – Requisitos funcionais da deglutição alimentar 
Fenômenos fisiológicos Mecanismos participantes 
Gradiente pressórico 
Língua: ação de êmbolo (pistão) M. do soalho da boca 
 M. faciais 
 M. levantadores mandibulares 
Estabilização da base da língua M. supra-hióideos 
Constrição da faringe: ação de espremer M. constritores 
Esôfago: peristaltismo Plexos intramurais: controle vagal 
Prevenção do refluxo antiboral 
Selamento anterior da boca Lábios: orbicular da boca 
 Incisivos 
 Ponta da língua 
Aposição língua-palatina M. longitudinal superior 
Aposição da língua contra parede faríngea M. palatoglosso e estiloglosso 
Esfíncter hipofaringeano (UES) Contração esfíncter 
Esfíncter gastroesofágico (LES) Vago, simpático, gastrina 
Proteção das vias aéreas 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
61 
Aposição do palato mole contra parede da faringe Levantador do palato 
Levantamento e tração da laringe M. supra-hióideos 
 Estilo-hióideo 
Adução das pregas vocais M. intralaríngeos 
Apneia Grupo dorsal deprimido 
Inibição do vômito 
Estimulação de receptores de baixo limiar 
Via aferente vagal menos usada na deglutição 
Ponto de ingresso: núcleo do trato solitário 
Do núcleo do trato solitário ligação inibidora da área 
postrema 
 
FONTE: Douglas, C. R. Tratado de fisiologia aplicada à fonoaudiologia. São Paulo: Robe Editorial, 
2002, p. 372. 
 
 
6.2.1 Propósitos da Deglutição 
 
 
De acordo com Douglas (2002, p. 373) a deglutição tem os seguintes 
propósitos: 
 Alimentar – introdução do bolo alimentar já formado na boca, por 
mastigação e salivação. 
 Escoamento do conteúdo líquido que está na cavidade bucal. 
 Defesa das vias aéreas inferiores – permitindo a drenagem do produto 
da ação de mecanismos protetores, como o mecanismo muco-ciliar. 
 Proteção da permeabilidade das vias aéreas cervicais e intratorácicas 
– evitando a entrada de fluídos ou bolo alimentar na sua passagem inicial na faringe. 
 Coordenação funcional dos processos respiratório e digestório. 
 
 
6.2.2 Fases da deglutição 
 
 
Em relação às fases da deglutição, encontra-se na literatura autores que 
citam como tendo três fases – oral, faríngeana e esofagiana; outros consideram que 
existem cinco fases – uma primeira que seria o comando do sistema nervoso central 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
62 
quando sentimos o cheiro de algum alimento e começamos a nos preparar para 
deglutir – em segundo viria a fase preparatória, a oral, a faríngea, a esofágica. Estas 
divisões ocorrem somente para fins didáticos, pois todo processo ocorre muito 
rápido. Aqui usaremos a divisão mais utilizada pelos autores que são quatro fases: 
preparatória, oral, faríngea e esofágica. Apresentamos antes o quadro proposto 
por Douglas sobre as características das diversas fases deglutitórias. 
 
 
Quadro 11 – Características das fases deglutitórias 
 Preparatória Oral Faríngea Esofágica 
Tempo < 0,5” 0,5” 0,8” 3,0-9,0” 
Mecânica Fim mastigação Propulsão Fluxo de 
transporte 
Fluxo de 
descenso 
Mecanismo Língua Ponta da língua; 
colher; 
ondulação 
dorsal; abertura 
esfíncter glosso-
palatino 
↑∆ seriado 
↑Fk hipofaringe 
Superior, ∆P2-
Fk3 Inferior, 
peristalse 
Controle Voluntário Voluntário Reflexo Padrão rítmico 
 Reflexo Reflexo Padrão rítmico peristalse 
 Padrão rítmico 
Músculos 
participantes 
Tônus bucinador Levantadores da 
mandíbula; 
língua; 
genioglosso; 
levantador do 
véu 
Complexo 
diretor, tireo-
hióideo; 
Palatinos; UES; 
Laríngeos 
Constritor 
inferior, 
musculatura lisa 
circular-
longitudinal 
FONTE: Douglas, C. R. Tratado de fisiologia aplicada à fonoaudiologia. São Paulo: Robe Editorial, 
2002, p. 372. 
 
 
Características da fase I – preparatória 
Fase voluntária da deglutição e que constituiria uma fase intermediária entre 
o final da mastigação e o início da deglutição. O alimento que está na boca é 
transformado em bolo alimentar coeso, permanecendo na boca momentaneamente, 
enquanto é preparado para o transporte. Nesta fase a língua se prepara para a 
deglutição, formando uma depressão na sua superfície. As bochechas e os lábios 
também colaboram para impulsionar o bolo para a fase seguinte. A fase preparatória 
ocorre na deglutição alimentar, quando há formação do bolo alimentar. Nesta fase o 
 
2 ∆P – gradiente pressórico ou diferença de pressões (Douglas, 2002, p. 373). 
3 Fk – função de condutância (Douglas, 2002, p, 373). 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
63 
nervo trigêmeo, facial e hipoglosso participam, comandando os músculos que vão 
atuar (Douglas, 2002, Corbin-Lewis, Liss e Sciortino, 2009). 
 
 
Características da fase II – oral 
 Fase ainda voluntária e um pouco mais demorada que a anterior e “é 
caracterizada pela propulsão intraoral que determina um fluxo baixo de transporte 
sobre a própria superfície da língua.” A sequência de movimentos que ocorre nesta 
fase é: o ápice da língua é projetado para cima e para trás, seguida da formação de 
uma concavidade que forma uma espécie de colher, processo ondulatório da parte 
posterior para a base da língua, com isso o bolo alimentar é deslocado no sentido da 
faringe. Esta fase é considerada “como a formação de um êmbolo lingual que 
pressiona o bolo alimentar para trás, formando-se um sistema de pistão propulsor do 
bolo.” Esta fase é finalizada com a abertura do esfíncter glossopalatino, que é 
determinado pelo aumento do diâmetro posterior da boca por abaixamento da base 
da língua e levantamento do véu palatino. Os nervos protagonistas desta fase são o 
trigêmeo e o hipoglosso, sendo que o plexo faríngeo começa a assumir um papel 
relevante. Na figura 6b temos a representação esquemática de corte sagital da boca, 
faringe e laringe, assinalando por números o local das quatro fases da deglutição. 1- 
fase preparatória, 2- fase oral, 3- fase faríngea e 4- fase esofágica. 
 
 
 
 
 
Fases da deglutição – escaneada de DOUGLAS, 
C. R. Tratadode fisiologia aplicada à 
fonoaudiologia. São Paulo: Robe Editorial, 2002, p. 
376. 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
64 
 
Características da fase III – faríngea 
Douglas (2002) considera a fase faríngea a mais complexa da deglutição, 
devido ao grande número de estruturas atuantes e da necessária coordenação 
temporal entre as funções, respiratória e digestória. Esta fase é considerada 
involuntária, e tem início quando a resposta de deglutição foi desencadeada e o bolo 
alimentar passa pelo véu palatino elevado, pela epiglote e pela região 
laringotraqueal protegida, atravessando o esfíncter esofágico superior, trajeto que 
dura entre 0,7 a 1,0 segundo. De acordo com Corbin-Lewis, Liss e Sciortino (2009, 
p. 44) a passagem do bolo alimentar pelos receptores sensoriais das fauces 
anteriores e da base da língua, desencadeia esta terceira fase da deglutição. 
Consiste em: “fechamento velofaríngeo, inversão da epiglote sobre a entrada da 
laringe, deslocamento anterior e superior do complexo hiolaríngeo, fechamento das 
pregas vocais verdadeiras e falsas, contração progressiva da faringe e abertura do 
esfíncter esofágico (EES).” Toda essa sequência de movimentos, “consiste numa 
série de eventos involuntários de proteção das vias aéreas e propulsão do bolo 
alimentar.” 
Tanigute (2005) salienta que nessa fase ocorre apneia de aproximadamente 
um segundo, facilitando assim, a passagem do bolo alimentar para o esôfago e não 
para as vias respiratórias. 
Acompanhe na tabela abaixo, proposta por Douglas (2002), a sequência de 
fenômenos mecânicos que ocorrem na faringe durante a fase III da deglutição. 
 
Tabela 2 – Sequência de fenômenos mecânicos ocorridos na faringe na fase III da 
deglutição 
Havendo uma sequenciação de contração musculares estabelecem-se degraus 
unitários DP que vão conduzindo por etapas o conteúdo bucal para o esôfago que, de 
conjunto constituem um fluxo transfaríngeo, por que: 
- Manutenção do posicionamento elevado da mandíbula (ação preponderante do 
masseter) 
- Propulsão do osso hioide para cima por ação predominante do tire-hióideo 
- Limitação do refluxo para o nariz por elevação do véu palatino (levantador do véu) 
- Relaxamento do esfíncter esofágico superior (UES), pelo músculo cricofaríngeo 
- Contração de êmbolo da língua (músculo longitudinal superior) 
- Contração do constritor superior da faringe no sentido superior e anterior 
- Sequência de contrações descendentes no sentido aboral 
- Fechamento do vestíbulo laríngeo 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
65 
- Epiglote adota posicionamento horizontal por deslocamento do hioide promovida pela 
contração do tireo-hióideo 
- Fechamento da glote (tireo-aritenóideo) 
- Deslocamento global da laringe para cima e frente pelos músculos supra-hióideos e 
tireo-hióideo 
- Contração do constritor médio da faringe 
- Contração do constritor inferior da faringe 
Inibição da respiração (apneia) 
FONTE: Douglas, C. R. Tratado de fisiologia aplicada à fonoaudiologia. São Paulo: Robe Editorial, 
2002, p. 372. 
 
 
 
Características da fase IV – ou esofágica 
 
Esta fase é inconsciente, involuntária e mais lenta, demorando por volta de 
seis segundos na deglutição de bolo 
alimentar e mais rápida na deglutição de 
líquidos. O bolo alimentar entra no esôfago 
após a abertura do músculo cricofaríngeo, 
e é levado ao estômago através dos 
movimentos peristálticos de caráter 
descendente ou aboral reflexos, que 
empurram o bolo alimentar do esôfago 
para o estômago (Macedo F, Gomes e 
Furkim, 2000, Douglas, 2002, Tanigute, 
2005, Corbin-Lewis, Liss e Sciortino, 2009). 
 
Esôfago. Disponível em: 
<www.andersoncosta.org/.../2008/01/esofago.gif>. 
Acesso em: 21 set. 2010. 
 
Nessa fase, no esôfago “ocorrem 
ondas peristálticas primárias e secundárias 
sequenciais, iniciadas pelos constritores da faringe. Quando a onda peristáltica 
primária alcança o esfíncter inferior do esôfago, este relaxa, permitindo a passagem 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
66 
do bolo alimentar ao estômago, encerrando-se assim o processo da deglutição” 
(Macedo F., Gomes e Furkim, 2000, p. 23). 
O esôfago é o tubo aonde o alimento vai para o estômago, também permite 
o movimento inverso durante o vômito e a eructação. O alimento é transportado 
através de ondas peristálticas sincronizadas, sendo que, podemos dizer que o 
peristaltismo é a “compressão sistemática do segmento muscular que ficou para trás 
do bolo alimentar, com relaxamento simultâneo do segmento que está a sua frente.” 
Este movimento provoca uma espécie de 
estiramento do bolo na faringe e no esôfago. 
 
Vista lateral das divisões da cavidade faríngea 
– escaneado de CORBIN-LEWIS, K, LISS, J. 
M, SCIORTINO, L. K. Anatomia clínica e 
fisiologia do mecanismo de deglutição. São 
Paulo: Cengage Learning, 2009, p. 47 
O esôfago tem dois esfíncteres – o 
esfíncter esofágico superior e o inferior. O EES 
não é um anel muscular completo, é composto 
por fibras constritoras cricofaríngeas e inferiores e tem a forma de “C” na parte 
posterior, inserindo-se anteriormente, na cartilagem cricóidea. O esfíncter esofágico 
inferior (EEI) abre-se no estômago, no local em que o bolo alimentar é retido e onde 
se inicia a digestão. 
É considerada uma barreira importante ao movimento inverso do conteúdo 
gástrico. Sua morfologia é diferente do EES, sendo que é formado pelo aumento da 
espessura e pela mudança de características histológicas das fibras musculares 
circulares do esôfago na região. Esses anéis circulares completos não se inserem 
em cartilagem (como o EES), mas ficam “cercados pelas fibras do centro tendíneo 
do diafragma, que podem auxiliar em seu fechamento em casos de aumento da 
pressão, como na inspiração profunda, tosse ou expiração forçada com a glote 
fechada.” O EEI relaxa quando aonde peristáltica chega à porção média do esôfago 
(Corbin-Lewis, Liss e Sciortino, 2009, p. 83, 87). 
Vimos às fases da deglutição, e pudemos verificar a importância da faringe e 
a região próxima a ela, por isso vamos conhecer um pouco mais estas estruturas. 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
67 
A faringe tem a forma de um tubo (Figura 6c – vista lateral das divisões da 
cavidade faríngea) que vai da base do crânio, atrás da cavidade nasal, até o 
esfíncter esofágico superior, na verdade, não é um tubo completo, mas sim um 
semicírculo fechado na parte de trás. É um órgão com grande complacência, 
podendo adquirir graus variados de distensão de acordo com a quantidade do bolo 
alimentar ingerido. É recoberta por uma membrana mucosa. A parede posterior da 
faringe está posicionada contra a face anterior das vértebras cervicais, porém, 
separadas totalmente pelas camadas de fáscia, com isso, ela fica livre para se 
encurtar ou se alongar verticalmente. Esse tubo formado pela faringe e pelas 
estruturas anteriores não é liso e uniforme, mas é composto de dois recessos pelos 
quais o bolo alimentar passa durante o percurso na faringe – as valéculas e os seios 
piriformes (conforme podemos observar na figura 6d que apresentamos uma vista 
posterior dos recessos faríngeos em secção coronal). Inicialmente, o bolo alimentar 
passa pelos espaços em “L” das valéculas, seguindo para os seios piriformes, em 
seguida desloca-se por canais laterais da laringofaringe 
(Corbin-Lewis, Liss e Sciortino, 2009). 
 
 
 
FONTE: Vista posterior dos recessos faríngeos em secção coronal, 
escaneado de CORBIN-LEWIS, K, LISS, J. M, SCIORTINO, L. K. 
Anatomia clínica e fisiologia do mecanismo de deglutição. São Paulo: 
Cengage Learning, 2009, p. 50. 
 
 
As valéculas localizam-se entre a base da língua e 
a epiglote. Seguindo pelo tubo, mais abaixo, de cada lado da cartilagem tireoide, 
estão os seios piriformes, eles se formam à medida que as fibras do músculo 
constritor inferior se curvam para alcançar a cartilagem tireoide anterior. Tanto as 
valéculas como os seios piriformes são visíveis no exame de videofluoroscopia,porém, difíceis de visualizar sem auxílio do contraste de bário (Corbin-Lewis, Liss e 
Sciortino, 2009). 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
68 
Alguns conceitos importantes na deglutição: 
 
 
6.2.3 Formação da pressão dirigida 
 
 
A soma das fases oral e faríngea da deglutição forma a pressão dirigida, que 
ocorre devido a um tubo e quatro válvulas que trabalham na deglutição. O tubo é a 
cavidade oral e a faringe juntas, e, as válvulas são representadas pelos lábios, 
região velofaríngeana, laringe e pelo cricofaríngeo. Vamos ver a sequência de 
funcionamento dessas válvulas: enquanto o bolo alimentar permanece na cavidade 
oral e na faringe, as quatro válvulas estão fechadas, propiciando um aumento de 
pressão nessa região. A pressão na orofaringe é de 10.9 (3.9) kPa sendo que a 
pressão na base da língua é de 16.3kPa. Quando ocorre a abertura do cricofaríngeo 
na fase faríngea da deglutição, resulta em um diferencial de pressão entre a 
orofaringe e o esôfago, que tem a pressão mais baixa que a câmara de alta pressão 
formada na orofaringe. Com isso, o alimento passa da faringe para o esôfago 
(Macedo F, Gomes e Furkim, 2000). 
 
 
6.2.4 Fechamento velofaríngeo 
 
 
Para Corbin-Lewis, Liss e Sciortino (2009) um importante evento da fase 
faríngea é o fechamento velofaríngeo que dura de meio a um segundo. Os músculos 
responsáveis por este movimento são: elevador do véu palatino; fibras horizontais 
do músculo palatofaríngeo e o músculo da úvula, sendo que todos são inervados 
pelo plexo faríngeo, com desempenho importante do ramo faríngeo do nervo vago. 
 
 
 
 
 
 
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69 
 
Estes músculos juntos produzem três movimentos distintos: 
1. Elevação velar, inicialmente anterior seguida de um rápido movimento 
para trás, em direção à parede posterior da faringe, na junção oronasofarínge; 
2. Movimento medial das paredes laterais da faringe, e 
3. Deslocamento anterior da parede posterior da faringe. 
 
 
6.2.5 Elevação hiolaríngeo 
 
 
Ao iniciar o fechamento velofaríngeo, ocorrem os movimentos para cima e 
para frente do osso hioide e da coluna de cartilagens laríngeas que se prendem nele 
– o complexo hiolaríngeo. A base da língua, o osso hioide e a laringe, são estruturas 
independentes que estão interligadas por músculos e tendões, com isso quando os 
músculos da língua (assoalho da boca) se contraem o 
osso hioide é puxado para cima, levantando a laringe. 
Esse movimento é realizado por vários músculos, 
entre eles o ventre anterior do digástrico, o milo-
hióideo e o gênio-hióideo. A elevação da laringe é 
auxiliada pelo músculo tireo-hióideo que também vai 
auxiliar na dilatação do esfíncter esofágico superior 
(Corbin-Lewis, Liss e Sciortino, 2009). 
 
 
6.2.6 Proteção da laringe 
 
 
A resposta da deglutição ativa a tripla proteção 
das vias aéreas, que incluem a inversão da epiglote 
sobre o ádito da laringe e o fechamento das 
verdadeiras e das falsas pregas vocais. Para o 
fechamento das pregas vocais entra em funcionamento outros músculos: 
Observação:                
Conseguimos iniciar deglutições 
voluntárias, mas não 
conseguimos engolir repetidas 
vezes sem um estímulo 
sensorial. Quem dá este 
estímulo é bolo alimentar, por 
isso não conseguimos deglutir 
muitas vezes sem tomar 
nenhum líquido ou ingerir 
alimentos. O bolo alimentar 
estimula os receptores 
sensoriais superficiais e 
profundos, muitos dos quais se 
projetam – pelos nervos 
glossofaríngeo, vago e acessório 
espinhal – em uma área da 
formação reticular da medula 
chamada núcleo do trato 
solitário. Essa região é chamada 
centro da deglutição (Corbin‐
Lewis, Liss e Sciortino, 2009, p. 
51). 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
70 
cricoaritenóideo lateral, interaritenóideo, e o músculo vocal (tireoaritenóideo). Esses 
são os mesmos músculos que fecham as pregas vocais durante a fonação. O único 
músculo que participa diretamente na deglutição é o cricotireóideo, que é inervado 
pelo ramo laríngeo superior do nervo vago (Corbin-Lewis, Liss e Sciortino, 2009). 
 
 
6.2.7 Contração progressiva da faringe 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Disponível em: 
<vidadecamaleao.files.wordpress.com/2007/08/re.> Acesso em: 21 set. 2010. 
 
 
Até pouco tempo, era utilizado o termo peristaltismo faríngeo para designar a 
contração segmentar e sequencial da parede da faringe, porém, este termo foi 
mudado para contração progressiva da faringe, pois peristaltismo é um termo 
utilizado para os movimentos de um tubo muscular (como o esôfago) e a faringe tem 
características de um músculo semicircular. A contração faríngea é iniciada com a 
resposta de deglutição, sendo essencial para gerar as forças e pressões 
necessárias para uma condução eficiente do bolo alimentar até o esfíncter esofágico 
superior (Corbin-Lewis, Liss e Sciortino, 2009). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
71 
 
 
6.2.8 Abertura do esfíncter esofágico superior (EES) 
 
 
A abertura do EES é o componente final da resposta de deglutição faríngea. 
O EES que é formado pelos músculos tireofaríngeo e o cricofaríngeo são o limite 
entre a faringe e o esôfago e se fecha devido ao tônus. 
Para Corbin-Lewis, Liss e Sciortino (2009) a dilatação do esfíncter parece 
ser o responsável pelo gradiente de pressão criado ao longo da faringe, ficando uma 
pressão mais alta atrás do bolo alimentar (devido a elevação e constrição da faringe) 
e pressão baixa à frente do bolo de alimento pela dilatação do EES. Esse 
mecanismo ajuda a tracionar e impulsionar o bolo de alimento ao longo de seu 
trajeto. 
 
 
7 RESPIRAÇÃO 
 
 
O que é respirar? 
Para Gameiro, 
Bonjardim, Pereira e Coelho-Ferraz (2005, p. 37) 
“respirar é aspirar, puxar para dentro, formar um 
espaço, reter para assimilação e troca e, depois, 
expelir.” Se pegarmos a definição no dicionário 
teremos que respirar é “absorver o oxigênio do ar 
e expelir o gás carbônico resultante das queimas 
orgânicas” (Houaiss, 2008, p. 650). Se pegarmos 
a definição de um poeta, talvez ele dissesse – 
respirar é viver, respirar é vida. Sabemos que 
respirar é vital, se não respiramos, não 
sobrevivemos. E se respiramos errado, quais as 
consequências para nosso organismo? É o que 
veremos a seguir. 
Fala,  deglutição  e  a 
respiração  são 
funções  sobrepostas 
do  trato 
aerodigestivo.  
“O centro da deglutição está 
fortemente conectado – pelo 
núcleo do trato solitário – com o 
centro respiratório (grupo dorsal 
e centro pneumotáxico) e o 
núcleo cardiomoderador que atua 
através do núcleo motor do vago, 
controlando ambas as funções – 
respiratórias e cardiovasculares – 
poderosamente associadas à 
deglutição.” 
Douglas, 2002, p.386 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
72 
A respiração pulmonar é o primeiro e mais importante fenômeno que 
acontece com o nascimento e exerce função vital para a sobrevivência humana, 
porém movimentos respiratórios do tórax e do abdome já são observados na fase 
pré-natal, por volta de 18,5 semanas. Na 25ª observa-se uma respiração que não é 
profunda, mas pode manter a vida por algumas horas, quando estabelecida (Felício, 
2004, Gameiro, Bonjardim, Pereira e Coelho-Ferraz, 2005, Tanugite, 2005). Desde o 
nascimento até o final dos dias, a manutenção fisiológica das vias aéreas tem 
importância vital e contínua, sendo que a musculatura oral e dos maxilares é 
responsável pela manutenção das vias aéreas orofaríngeas. É importante salientar 
que quando nascemos o padrão respiratório é predominantemente nasal, pois a 
língua ocupa todo o espaço da boca, o palato mole e a epiglote se tocam, com isso, 
fica difícil respirar pela boca, caso aja necessidade (Felício, 2004). Em crianças ou 
adultos, esse padrão de respiração bucal é considerado patológico, desencadeando 
a Síndrome do Respirador Oral. Di Francesco (2003) também afirma que a 
respiração nasal é a mais adequada, e, é fundamental para o crescimento e 
desenvolvimento craniofacial harmonioso,e, quando a criança ou adulto apresenta 
uma respiração oral, deve ser considerada patológica. 
A função principal da respiração é suprir nosso corpo de oxigênio, 
executando trocas gasosas entre nosso organismo e o meio, removendo o produto 
gasoso (dióxido de carbono) do metabolismo celular. A troca gasosa é realizada 
pelos alvéolos, nos pulmões, e o ambiente. Os pulmões participam também da 
manutenção do pH plasmático dentro da faixa fisiológica, regulando a eliminação do 
ácido carbônico (CO2). O aparelho respiratório participa ativamente da fonação e da 
defesa contra agentes agressores ao nosso organismo, pois o nariz tem a função de 
filtrar o ar, além de aquecê-lo e umidificá-lo (Felício, 2004, Tanugite, 2005, Gameiro, 
Bonjardim, Pereira e Coelho-Ferraz, 2005). Quando respiramos, o ar deve 
preferencialmente, entrar pelas narinas, local em que é filtrado por uma ação 
mecânica dos pelos, da função ciliar e da ação química e bactericida do muco nasal, 
passa para a nasofaringe, onde é aquecido e umidificado. O processo de 
condicionamento de temperatura é realizado pela irradiação do calor das veias e 
artérias e da intensa vascularização da mucosa nasal e o umedecimento acontece 
pela secreção mucosa e lacrimal (Felício, 2004). 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
73 
Bydlowski e Douglas (2002) salienta que respirar é um processo automático 
e basicamente involuntário, porém pode ser modificado quando houver necessidade, 
se a pessoa quer inspirar mais profundamente, ou quiser segurar por um tempo a 
respiração. Também a fala, tosse ou o soluço alteram o padrão respiratório. 
A entrada do ar no pulmão e logo após a sua saída – chamado de fenômeno 
respiratório – é repetida ritmicamente, determinando-se certa frequência respiratória, 
que determinam uma amplitude ou intensidade respiratória que pode ser avaliada 
pela quantidade de ar mobilizado durante a ventilação – chamado de volume 
corrente (VC). Partindo-se de uma referência de 500ml, hiperpneia seria o aumento 
deste volume e hipopneia a diminuição. A frequência respiratória (FR) de um adulto 
sadio em repouso seria de 12 a 15 
respiração/minutos, espaçadas entre si. O 
ritmo respiratório é determinado pelo sistema 
nervoso central, por descarga rítmica de 
neurônios altamente excitáveis e é 
determinado pela sequência de movimentos 
respiratórios caracterizados por certa 
frequência e certa magnitude da distensão. O 
volume destes dois fatores constitui o volume 
ventilatório por minuto. Em relação ao ritmo 
respiratório normal, de uma pessoa em 
situação de repouso, foi calculado por volta 
de 7 litros/minuto (Bydlowski e Douglas, 
2002, p. 454). 
 
 
7.1 VIA NASAL 
 
 
O nariz, as narinas ou cavidade nasal é uma estrutura com papel estético-
funcional, sendo que a porção estética é dada pela pirâmide nasal, que tem base 
nos ossos da face, e a porção funcional é determinada pela cavidade nasal, espaço 
dividido ao meio pelo septo osteocartilaginoso. Têm a responsabilidade de filtrar 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
74 
partículas e micro-organismos do ar que inspiramos; umidificar e aquecer o ar, 
protegendo assim, as vias aéreas inferiores. O nariz desempenha também outras 
funções a olfação, a ressonância da voz e o controle da conduta por meio dos 
feromônios4 que agem no órgão vômero-nasal. (Douglas, 2002, Gameiro, Bonjardim, 
Pereira e Coelho-Ferraz, 2005). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Aparelho respiratório. Disponível em: <www.prof2000.pt/.../image001.jpg>. Acesso em: 21 
set. 2010. 
 
 
O aparelho respiratório é constituído pelas fossas nasais, boca, laringe, 
traqueia, brônquios e pulmões, sendo que as vias respiratórias são constituídas por 
uma série de dutos que permitem ao ar passar do ambiente externo aos pulmões e 
dos pulmões para o ambiente externo. Dos órgãos que são responsáveis pela 
respiração alguns desempenham outras funções além da respiração. É o caso do 
nariz que é o órgão da olfação e da faringe que faz parte do sistema digestório. A 
laringe, traqueia, brônquios e os pulmões são órgãos unicamente do aparelho 
 
4 Substâncias químicas que, captadas por animais de uma mesma espécie (intra-específica), 
permitem o reconhecimento mútuo e sexual dos indivíduos (dicionário Michaelis on-line. Disponível 
em: <http://michaelis.uol.com.br>. Acesso em: 21 set. 2010. 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
75 
respiratório. Na figura F.7b podemos observar o aparelho respiratório com suas 
principais estruturas. 
 
 
7.2 DINÂMICA DA RESPIRAÇÃO 
 
 
A respiração divide-se em duas fases distintas: a entrada ou inspiração e a 
saída do ar, a expiração. Na inspiração o ar entra e vai até os alvéolos pulmonares 
levando oxigênio. Na expiração o ar faz o caminho inverso e elimina dióxido de 
carbono. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Expiração. Disponível em: <www.prof2000.pt/.../image001.jpg>. Acesso em: 21 set. 2010. 
 
 
Inspiração: requer gasto de energia, portanto é ativa. Os músculos 
respiratórios produzem um aumento do volume da caixa torácica, verticalmente, 
lateralmente e anteroposteriormente. Esse aumento gera diminuição da pressão 
intrapulmonar (na expiração ocorre o inverso). Os músculos inspiratórios são o 
diafragma, músculos intercostais externos, músculos intercostais internos anteriores, 
e os músculos acessórios. O diafragma é considerado o principal músculo da 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
76 
inspiração e separa a cavidade torácica da abdominal. Quando contraído, o 
diafragma se move para baixo, em direção ao abdome, aumentando o volume da 
caixa torácica, principalmente verticalmente. Já os músculos intercostais externos, 
quando contraídos elevam as costelas, movendo-as para cima e para fora, com isso, 
os espaços intercostais ficam tensos, evitando a sua alteração pela diminuição da 
pressão intratorácida durante a inspiração (Bydlowski e Douglas, 2002). 
 
Expiração: movimento normalmente passivo. O que ocorre é que durante a 
inspiração a musculatura inspiratória se contrai, distendendo os tecidos elásticos dos 
pulmões e do tórax, armazenando energia potencial. Quando ocorre a retração 
destes tecidos elásticos, a energia armazenada é liberada – ocorre a expiração. 
Existem casos em que a expiração é ativa, existindo a participação dos músculos 
expiratórios. Os principais músculos expiratórios são os abdominais – oblíquo 
externo, oblíquo interno, retoabdominal e transverso-abdominal (Bydlowski e 
Douglas, 2002). 
Como falamos no início deste tópico, a respiração deve ser predominante 
nasal, porém alguns estudos demonstram que na fala o padrão respiratório é muito 
diferente quando comparado com a respiração metabólica. Smith e Denny (1990) 
apud Felícia (2004) sugerem uma dissociação do trajeto neural envolvido no controle 
dos músculos da respiração em comportamentos voluntários e os trajetos usados no 
controle automático da respiração, ou seja, na fala e na respiração automática o 
controle neural seria diferente. Na fala, a respiração é caracterizada por um padrão 
inspiratório-expiratório oral, sendo que a fase da inspiração é curta e rápida, seguida 
por uma expiração lenta e longa, diferente do padrão em repouso, que se apresenta 
com inspiração-expiração nasal, com duração igual Felício (2004). Mas a frente, 
discutiremos mais sobre fonoarticulação, detalhando mais estes aspectos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 3.0 
77 
 
 
7.3 MASTIGAÇÃO 
 
 
Para Douglas (2002) a mastigação é a função 
estomatognática mais importante, pois é a fase inicial do 
processo digestivo, que se inicia pela trituração e formação 
do bolo alimentar. Mastigação é a ação de morder, triturar 
e mastigar o alimento (Tanigute, 2005). 
 
FONTE: Disponível em: <1.bp.blogspot.com/.../s320/mastigação.bmp>. Acesso em: 9 set. 2010. 
 
 
Complementa Douglas (2002, p. 342) que a mastigação é um “conjunto defenômenos estomatognáticos que visa à degradação mecânica dos alimentos, isto é, 
a trituração e moagem dos alimentos, degradando-os em partículas pequenas que, 
logo após, ligam-se entre si pela ação misturadora da saliva, obtendo-se o bolo 
alimentar, apto para ser deglutido.” 
Os primeiros indícios de mastigação vão aparecer por volta do 6º/7º mês, 
quando nascem os primeiros dentes. Passa a fase em que a sucção é o meio mais 
eficaz de alimentação e inicia os movimentos mastigatórios, assumindo a 
mastigação assume um papel preponderante na obtenção de nutrientes. Até um ano 
de idade, transformações importantes como aumento do espaço intraoral, erupção 
dos dentes, maturação neuromuscular e o processo de remodelação das ATM 
permitem o início da mastigação (Felicio, 2004). 
A maturação dos movimentos mastigatórios vai ocorrendo gradativamente, 
conforme vão erupcionando novos dentes e perante a apresentação de alimentos 
mais consistentes. No início a mordida e a trituração dos alimentos ocorrem com os 
incisivos, primeiros dentes que nascem, até uma mastigação mais complexa com o 
nascimento dos primeiros molares decíduos superiores e inferiores, por volta de 14 
meses. Ao nascimento dos segundos molares inferiores e superiores, entre 20 e 24 
meses, a alimentação da criança já pode ser igual a do adulto. 
 
 
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78 
 
 
7.4 ATO MASTIGATÓRIO 
 
 
A mastigação é um ato aprendido, fisiológico e complexo, envolvendo 
atividades neuromusculares e digestivas. Ocorre devido à aproximação firme e 
ritmada dos arcos osteodentários, conseguida por meio dos movimentos 
mandibulares de abertura, fechamento, lateralidade, protrusão, retrusão e os 
movimentos combinados rotatórios próprios da mastigação. Esses movimentos são 
possíveis devido à articulação temporomandibular. Os principais movimentos 
articulares são a rotação e a translação (Bianchini, 2005). 
O ciclo da mastigação e a frequência mastigatória (número de golpes 
mastigatórios produzidos) são variáveis de acordo com a consistência do alimento. 
Alimentos mais duros como a cenoura crua, podem ter um ciclo mastigatório de 0,48 
segundos aproximadamente. Para uma carne de boi assada, uma pessoa realiza 1,9 
golpes/segundos, já na cenoura cura, mais dura, tem que mastigar mais, é realizado 
2,1 golpes/segundo. O ato mastigatório apresenta estágios sequenciais integrantes 
do ciclo da mastigação e é constituído por três fases distintas e fundamentais 
(Douglas, 2002): 
 Fase de abertura da boca – nesta fase ocorre um relaxamento reflexo 
simultâneo dos músculos levantadores e contração simultânea dos abaixadores 
mandibulares, fazendo a mandíbula cair. 
 Fase de fechamento da boca – ocorre o movimento inverso, a contração 
dos músculos levantadores e relaxamento dos músculos abaixadores, e a mandíbula 
eleva-se. 
 Fase oclusal – os dentes estão em oclusão cêntrica, gerando forças 
interoclusais, devido à contração isométrica dos músculos levantadores da 
mandíbula. É a fase crucial da mastigação, pois gera a pressão interoclusal, 
quebrando o alimento em partículas. Pode ser conhecida também como golpe 
mastigatório. 
 
 
 
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7.5 FASES MECÂNICAS DA MASTIGAÇÃO 
 
 
Classicamente descrevem-se três etapas no ciclo mastigatório – a incisão, a 
trituração e a pulverização. 
 Incisão ou mordida – fase de apreensão do alimento entre as bordas 
incisais, através da elevação da mandíbula em protrusão, logo após a mandíbula 
volta para trás, deslizando as bordas incisais dos dentes incisivos inferiores contra a 
face palatina dos incisivos superiores. Nesta fase ocorre grande secreção salivar, a 
língua recebe o alimento e empurra-o para a face oclusal dos dentes posteriores 
para iniciar a segunda fase. Dura aproximadamente 5-10% do tempo total da 
mastigação (Felício, 1999, Douglas, 2002, Bianchini, 2005). 
 Trituração - é a fase em que o alimento é triturado, reduzido a partículas 
menores. A língua conduz o alimento à face oclusal dos dentes, voltando a essa 
posição a cada ciclo mastigatório devido à ação do bucinador de fora para dentro. 
Essa fase ocorre principalmente nos pré-molares, devido a pressão intercuspideana 
ser maior que a dos molares, com isso podendo moer mais facilmente as partículas 
maiores. A salivação intensa ajuda na formação do bolo alimentar. Essa é a fase 
mais demorada, durando de 65-70% do tempo total da mastigação (Douglas, 2002, 
Bianchini, 2005). 
 Pulverização – os alimentos são transformados em partículas menores 
ainda, transformando-os em elementos bem reduzidos. Acontece principalmente nos 
molares. Nesta fase os movimentos mandibulares são variados e de menor 
amplitude. Dura de 25-30% do tempo total do ciclo mastigatório (Douglas, 2002, 
Bianchini, 2005). 
Entre a fase da trituração e da pulverização não existe uma separação 
visível, assim também como a utilização de molares e pré-molares se alterna. 
Durante todo o ciclo da mastigação ocorre reflexamente secreção salivar que é 
fundamental na mastigação, auxiliando na formação do bolo alimentar. A atividade 
muscular é intensa, devido aos movimentos mandibulares – abertura e fechamento. 
 
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80 
Na pulverização a mandíbula realiza movimentos horizontais, laterais e de protrusão 
ou retrusão (Douglas, 2002, Bianchini, 2005). 
 
 
7.6 PADRÃO DE MASTIGAÇÃO 
 
 
Uma mastigação adequada e equilibrada produz estímulos alternados nas 
diversas estruturas que compõem o sistema estomatognático. Para que isto ocorra o 
padrão mastigatório correto deve ser predominante bilateral alternado, ou seja, o 
alimento deve ser distribuído homogeneamente tanto nos dentes direitos como nos 
esquerdos, também a força mastigatória nos tecidos de suporte do dente deve ser 
uniforme e com isso a atividade dos músculos da mastigação apresenta-se 
bilateralmente sincrônica. Observa-se que algumas pessoas têm um lado 
preferencial para mastigar. Um padrão de mastigação unilateral é anormal, e 
geralmente aparecem em indivíduos que apresentam alterações no padrão oclusal, 
na ATM (Douglas, 2002, Bianchini, 2005). 
Ocorrendo a mastigação bilateralmente, ocorre uma distribuição da força 
mastigatória, intercalando períodos de trabalho e repouso musculares e articulares, 
existindo uma sincronia e equilíbrio muscular e funcional. A pressão exercida nos 
dentes é transformada pelo periodonto em tração do osso alveolar, que atua no 
desenvolvimento e/ou manutenção dos arcos dentários e na estabilidade oclusal. 
Para que ocorra este padrão mastigatório bilateral alternado é necessária harmonia 
morfológica e funcional das estruturas estomatognáticas. Para Bianchini (2005, p. 
51) dependendo de: 
 “Presença de dentes e boa saúde dental; 
 Crescimento e desenvolvimento craniofacial; 
 Equilíbrio oclusal; 
 Ausência de interferência dental ou contatos prematuros; 
 Estabilidade e saúde da ATM; 
 Maturação neuromuscular”. 
 
 
 
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7.7 ESTRUTURAS ENVOLVIDAS NA MASTIGAÇÃO 
 
 
Muitas estruturas estão envolvidas no ciclo mastigatório – nervos trigêmio e 
facial, músculos elevadores da mandíbula, músculos supra e infra-hióideos, língua, 
lábios, músculo bucinador, dentes e periodonto, mandíbula, maxila e palato, 
musculatura do pescoço (para definir a postura da cabeça e dar sustentação). 
No transporte do alimento, quando o alimento é levado para as faces 
oclusais posteriores, observa-se que o músculo masseter apresenta baixos níveis de 
atividade, enquanto o músculo gênio-hióideo está atuando devido à movimentação 
da língua. Na trituração a atividade do genioglosso e do gênio-hióideo é intensa, 
enquanto do masseter é fraca. O bucinador juntamente com a língua reconduz para 
as faces oclusais e centro da cavidade oral o alimento que escorregou para o 
vestíbulo (Felício, 1999). 
Douglas (2002, p. 368) afirma que “o controle nervoso da mastigaçãoé 
determinado por reflexos de origem oral e a imposição de um ritmo central por meio 
da geração de um padrão rítmico mastigatório, provavelmente localizado no corpo 
amigdaloide do sistema límbico.” É 
efetivado na formação reticular 
mesencefálica e pontina, participam 
posteriormente os núcleos 
mesencefálicos do V par craniano, 
supratrigeminal e diversos núcleos 
motores, destacando-se o V, VII e xII, 
como básicos. Também participam o 
IX, X, XI e os neurônios cervicais C2 a 
C5. 
 
 
FONTE: Disponível em: <www.odontologiadiferenciada.com.br/imagens/di>. Acesso em: 21 set. 
2010. 
 
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7.8 FATORES GERAIS CONDICIONANTES DA FORÇA MASTIGATÓRIA 
 
 
A força e o movimento mastigatório podem ser afetados por alguns fatores: à 
dureza, viscosidade, tamanho e a forma dos alimentos (Felício, 2004). Douglas 
(2002) apresenta outros fatores que podem influenciar também: 
 Sexo ou idade – os homens apresentam força mastigatória levemente 
maior que as mulheres e também os jovens entre 15 e 20 anos, período em que 
apresentam valores um tanto maiores de força mastigatória. 
 Tipo de alimento – se os alimentos forem mais duros, mas fibrosos, 
necessitam de força maior na mastigação. Alguns grupos étnicos como os 
esquimós, que tem uma alimentação mais dura, têm uma força mastigatória nos 
molares de cerca de 150 Kg. Quando a pessoa tem uma mastigação unilateral vai 
apresentar força mastigatória maior do lado que mastiga. 
 Grupos dentários – os primeiros molares registram força maior de 
mastigação enquanto os incisivos os mais baixos níveis. 
 Estado dos dentes – se a pessoa apresenta doença periodontal, 
condições patológicas dentárias (cáries, lesões gengivais) ou os portadores de 
próteses dentárias, apresentarão limites na mastigação. 
 
 
7.9 INSUFICIÊNCIA MASTIGATÓRIA 
 
 
Considera-se que uma pessoa tenha suficiência mastigatória quando se 
observa que o rendimento mastigatório seja equivalente ou superior a 78% para o 
adulto. Quando o rendimento é inferior a isto, deve-se verificar o que está 
interferindo na mastigação, ou seja, porque a pessoa tem uma insuficiência 
mastigatória. 
 
 
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 Diminuição da área dentária de oclusão – vai diminuir menor corte e 
menor trituração, pois quando existe uma diminuição da área dentária, reduz-se 
também a área útil para mastigação. Esta diminuição pode ser devido à ausência de 
dentes, relações oclusais anormais e reabilitação protética (Douglas, 2002). 
 Limitação de outros componentes estomatognáticos – quando língua, 
bochechas, lábios estão flácidos ou apresentam alguma dificuldade em conduzir o 
alimento, a mastigação pode ficar insuficiente. 
 Desequilíbrio ou limitação da força mastigatória – se a pessoa 
apresentar dor ao mastigar, periodontopatias, uso de prótese removível pode haver 
um desequilíbrio ou limitação na mastigação. 
 Movimentos mandibulares anormais – causados pelos distúrbios da 
articulação temporomandibular ou em transtornos da contratilidade muscular. 
Motta (2004, p, 62) salienta que a mastigação é importante não apenas pela 
ingestão de alimentos, mas também “às funções sistêmicas, mentais e físicas do 
organismo humano”, pois, ela ocupa importante papel no desenvolvimento das 
estruturas craniofaciais, proporciona efeitos benéficos no crescimento e manutenção 
dos tecidos orais, exige dissociação dos movimentos de língua, lábios e mandíbula 
que é importante para a preparação da musculatura para a articulação. Com isso, 
ela afirma que a mastigação seria uma função estomatognática fundamental na 
prevenção dos distúrbios miofuncionais orofaciais e cervicais. 
 
 
7.10 FONOARTICULAÇÃO 
 
 
É uma função realizada por órgãos pertencentes a outros sistemas do nosso 
organismo, como o sistema respiratório e o digestivo, que juntos formam o aparelho 
fonador. É uma função própria do ser humano e desde o nascimento o bebê vai se 
preparando para falar (Tanigute, 2005). É considerado um processo complexo, 
envolvendo várias áreas ligadas ao SNC; a parte motora e as estruturas periféricas, 
além do inter-relacionamento entre eles. Pode ser definido como “a emissão da voz 
 
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e o mecanismo de formação das palavras” (Douglas, 2002, p. 471). É uma função 
que está ligada ao desenvolvimento e maturação do sistema miofuncional oral e às 
demais funções estomatognáticas (Tanigute, 2005). 
A produção da fala consiste na produção de um som pela laringe, através da 
vibração das pregas vocais que ocorre na expiração – a fonação, posteriormente, 
será modificada e ampliada por meio do mecanismo de ressonância nos vários 
espaços que existem entre a laringe e os lábios e finalmente articulado nos órgãos 
articuladores (Douglas, 2002). É um processo sensório-motor que envolve a 
regulação de forças ativas entre várias estruturas musculares do trato vocal – os 
lábios, mandíbula, maxila e dentes, língua, velofaríngeo e complexo laríngeo-
respiratório, controlados pelos nervos cranianos correspondentes, conforme 
podemos verificar no quadro abaixo, proposto por Felício (1999). Para que o emissor 
produza o que um ouvinte vai escutar, é necessário uma série de atividades 
coordenadas dos músculos respiratório, faciais, mandibulares e outros necessários 
para a produção da fala. 
 
Quadro 12 – Estruturas envolvidas na fonoarticulação 
FALA 
Estruturas Câmaras de ressonância Inervação 
Complexo laríngeo 
respiratório 
Pregas vocais Vago 
Velofaríngeo Laringe/Raiz da língua 
Parede faríngea/Palato mole 
Glossofaríngeo 
Vago 
Língua Dorso da língua/Palato duro 
posterior 
Dorso da língua/palato duro 
anterior 
Hipoglosso 
Mandíbula 
Maxila 
Dentes 
Língua-dentes Trigêmeo 
Lábios Dentes lábios 
Passagem nasal 
Facial 
FONTE: FELÍCIO, C. M de. Fonoaudiologia aplicada a casos odontológicos – motricidade oral e 
audiologia. São Paulo: Pancast, 1999, p. 52. 
 
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85 
 
 
 
7.11 MECÂNICA DA FONAÇÃO 
 
 
A laringe - órgão onde estão situadas as pregas vocais – é formada por uma 
estrutura cartilaginosa composta de: 
 
 Cartilagem cricóidea 
 Cartilagem tireóidea 
 Um par de aritenóideas 
 E a epiglote. 
Este conjunto estabelece uma arquitetura anatomofuncional que protegem a 
laringe de impactos que possam atingir seu interior. Vejam na figura F.9a a 
disposição especial das cartilagens na laringe, observando a cartilagem cricóidea 
que tem uma porção superior mais alta que a inferior, com isso sustenta as 
cartilagens aritenóideas. A tireoide serve como anteparo de proteção (Silva, Paula e 
Douglas, 2002, p. 485). A este conjunto, deve-se acrescentar o osso hioide e a 
traqueia, estruturas extralaríngeas fundamentais para a fonação (Figura F9b). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Fonoarticulação. Disponível em: <www.unesp.br/.../garganta5tb.jpg>. Acesso em: 21 set. 
2010. 
 
 
 
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86 
A sustentação e a fixação da laringe são realizadas pela musculatura 
extrínseca da laringe e a produção do som é de responsabilidade da musculatura 
intrínseca que ligam as cartilagens entre si. Cinco músculos formam esse complexo 
fonatório: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Estruturas da laringe – escaneada de DOUGLAS, C. R. Tratado de fisiologia aplicada à 
fonoaudiologia. São Paulo: Robe Editorial, 2002, p. 486. 
 
 
1) Tireoaritenóideo, músculo par, que compõe a própria prega vocal, tem 
como função o fechamento das aritenoides, pois está inserido lateralmente no 
ligamento vocal, exerce tensão nas pregas vocais, aduzindo ou abduzindo de acordo 
com a posição das cartilagens aritenóideas (Silva, Paula e Douglas, 2002). 
2) Ariaritenóideo ou interaritenoideos, ímpar, que vai de uma 
cartilagem aritenóidea a outra; ao se contrair, aproximam as aritenoides e, auxiliando 
na adução das pregas vocais (Silva, Paula e Douglas, 2002). 
3) Cricoaritenóideoposterior, músculo par, mantém as aritenoides 
abduzidas, permitindo a passagem do ar na respiração. Quando contraído amplia a 
fenda glótica (Silva, Paula e Douglas, 2002). 
4) Cricoaritenóideo lateral, músculo par, estão inseridos no processo 
muscular das aritenoides e na porção lateral da cartilagem cricoide, ao agir, ocorre o 
fechamento glótico (Silva, Paula e Douglas, 2002). 
 
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5) Cricotireóideo, músculo par, produz modulação importante da tensão 
das pregas vocais, pois abaixa e anterioriza a cartilagem tireóidea, aumentando a 
distância entre as aritenoides e a tireoide (Silva, Paula e Douglas, 2002). 
 
Então, podemos dizer que de acordo com sua ação, os músculos da laringe 
dividem-se em: 
- Adutores, que aproximam as cordas vocais: são os cricoaritenóideos 
laterais e ariaritenóideos; 
- Abdutores, que afastam as cordas vocais: são os cricoaritenóideos 
posteriores; 
 
- Tensores, que distendem as cordas vocais: são os tireoaritenóideos e os 
cricotireóideos. 
A inervação motora desses diferentes músculos é fornecida pelo: laríngeo 
inferior ou recorrente, com exceção do cricotireóideo, cuja motricidade é garantida 
pelo laríngeo superior, através do ramo laríngeo externo também fornecendo a 
toda inervação sensitiva da mucosa laríngea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Músculos intrínsecos da laringe. Disponível em: 
<http://liceu.uab.es/~joaquim/phonetics/fon_produccio/Laringe_musculs_cartilags.jp>. Acesso em: 21 
set. 2010. 
 
 
 
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A integridade das estruturas orofaciais é importante para a articulação dos sons 
da fala além de: um fluxo respiratório adequado; bom mecanismo de válvula com 
palato mole, língua e lábios; estruturas, dental e alveolar suficientes para manter a 
tonicidade labial; liberdade de movimento da mandíbula e um sistema nervoso 
intacto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 FIM DO MÓDULO II