[Pensar Criminalista]_ A serendipidade no Processo Penal

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jusbrasil.com.br
23 de Julho de 2022
[Pensar Criminalista]: A serendipidade no Processo Penal
Publicado por BLOG Anna Cavalcante há 17 horas  9 visualizações
Olá, amigos e amigas! Tudo bem?
Vocês já ouviram a expressão “serendipidade” (serendipity) e
conhecem a sua aplicação ao Processo Penal?
Não? Então vamos aproveitar o nosso texto de hoje para compreender
a aplicação do princípio da serendipidade ao processo criminal, ok?
O fenômeno da serendipidade relaciona-se à descoberta de coisas por
acaso. Na doutrina também se fala de "encontro fortuito",
"descobrimento casual" ou "descobrimento acidental".
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Quando falamos em serendipidade, a questão central discutida é a
validade da prova encontrada fortuitamente: no exemplo acima, será
que a prova produzida pela interceptação telefônica vale também para
os fatos ou pessoas encontradas fortuitamente?
Na doutrina fala-se em serendipidade de primeiro e segundo graus.
Aquela verificada quando há o encontro fortuito de fatos conexos ou
em continência. Aqui, o fato fortuito está na mesma situação histórica
de vida do delito investigado.
Cite-se como exemplo a autorização dada para a investigação de um
tráfico de entorpecente, que no desenrolar das investigações, descobre-
se fortuitamente um homicídio, em conexão teleológica; ou o
envolvimento de outra pessoa no crime investigado, sendo
caracterizada a continência. Nessas duas hipóteses, a transcrição final
da captação feita vale legitimamente como meio probatório e serve
para afetar o princípio da presunção de inocência.
De outro modo, falamos em serendipidade de segundo grau quando a
descoberta diz respeito a fatos não conexos ou sem continência. Aqui,
os fatos acidentalmente descobertos não estão na mesma situação
histórica de vida do delito investigado. Essa é a posição dominante na
doutrina e jurisprudência pátrias.
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E
PROCESSO PENAL. CRIMES DE TRÁFICO ILÍCITO DE
ENTORPECENTES E DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO.
ARTIGOS 33 E 35 DA LEI 11.343/06. (...) INTERCEPTAÇÃO
TELEFÔNICA. APLICABILIDADE DA TEORIA DO JUÍZO
APARENTE. ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS.
ADMISSIBILIDADE. (...) 2. Nas interceptações telefônicas
validamente determinadas é passível a ocorrência da
serendipidade, pela qual, de forma fortuita, são descobertos
delitos que não eram objetos da investigação originária. (...)
(STF, HC 137.438 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma,
julgado em 26/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-133
DIVULG 19/06/2017 PUBLIC 20/06/2017)
 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10867208/artigo-33-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10866905/artigo-35-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/18255157/habeas-corpus-hc-137438
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIMES EM LICITAÇÃO
E CONTRATO ADMINISTRATIVO. (...) VALIDADE DA
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, ORIGINALMENTE
DEFERIDA PARA APURAR CRIMES PUNIDOS COM
RECLUSÃO. ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS DE
DELITOS APENADOS COM DETENÇÃO. PRINCÍPIO DA
SERENDIPIDADE. (...) 4. Durante a interceptação telefônica
deferida para investigar crimes punidos com reclusão, se
forem encontrados fortuitamente elementos comprobatórios
da prática de delitos apenados com detenção, é válido o uso
das provas na ação penal referente a estes últimos, ainda que
não haja conexão entre os fatos. Inteligência do princípio da
serendipidade. Precedente desta Quinta Turma. (...) (STJ,
AgRg no AREsp n. 2.035.619/SP, relator Ministro Ribeiro
Dantas, Quinta Turma, julgado em 26/4/2022, DJe de
29/4/2022)
Renato Marcão exemplifica a serendipidade secundária quando
autorizada judicialmente uma interceptação telefônica, para
investigação de tráfico de drogas, mas durante as gravações descobre-
se a prática de outros delitos não conexos ao tráfico.
Abraços e até a próxima!
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Referências:
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Agravo Regimental no
Agravo em Recurso Especial nº 2.035.619/SP, Relator Ministro
Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 26/4/2022, DJe de
29/4/2022. Disponível em <
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?
num_registro=202103998815&dt_publicacao=29/... >
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1484289668/agravo-regimental-no-agravo-em-recurso-especial-agrg-no-aresp-2035619-sp-2021-0399881-5
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1484289668/agravo-regimental-no-agravo-em-recurso-especial-agrg-no-aresp-2035619-sp-2021-0399881-5
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=202103998815&dt_publicacao=29/04/2022
________. Supremo Tribunal Federal, Agravo Regimental no
Habeas Corpus nº 137.438/SP, Relator Ministro Luiz Fux,
Primeira Turma, julgado em 26/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-133 DIVULG 19/06/2017 PUBLIC 20/06/2017. Disponível em <
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?
docTP=TP&docID=13060051 >
CAPEZ, Fernando. Opinião - Serendipidade: o encontro
fortuito de prova. Disponível em <
https://www.conjur.com.br/2021-mai-20/fernando-capez-
serendipidade-encontro-fortuito-prova >
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 29. ed. São Paulo:
Saraiva, 2022.
MARCÃO, Renato. Curso de processo penal. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2021.
____________________
Disponível em: https://annapaulacavalcante.jusbrasil.com.br/artigos/1584565049/pensar-
criminalista-a-serendipidade-no-processo-penal
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/769815983/agreg-no-habeas-corpus-agr-hc-137438-sp-sao-paulo-0057583-9220161000000
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13060051
https://www.conjur.com.br/2021-mai-20/fernando-capez-serendipidade-encontro-fortuito-prova
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