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RELATÓRIO DE TUTORIA Aluna: Ana Letícia Fiscina Reis Turma: Tutoria 07. Data: 12/06/2022 Professora: Décio Fragata da Silva. Tema: Acidentes Ofídicos. Objetivos: 1- Compreender os gêneros (peçonhentos) mais frequentes do Brasil (epidemiologia, quadro clínico). 2- Entender a conduta (primeiros-socorros, soroterapia, exames, notificação compulsória). 3- Estabelecer a prevenção. 4- Conhecer os efeitos neurotóxicos e cardiotóxicos. Objetivo 1: Compreender os gêneros (peçonhentos) mais frequentes do Brasil (epidemiologia, quadro clínico). - Acidentes ofídicos, ou simplesmente ofidismo, é o quadro clínico decorrente da mordedura de serpentes (cobras). - Este nome é mais corretamente empregado para se referir às serpentes da Família Elapidae, no Brasil representada pelas cobras corais verdadeiras. - Algumas espécies de serpentes produzem uma peçonha em suas glândulas viníferas capazes de perturbar os processos fisiológicos e bioquímicos normais de uma possível vítima, causando alterações do tipo colinérgicas, hemorrágicas, anticoagulantes, necróticas, miotóxicas, citolíticas e inflamatórias. - O acidente botrópico corresponde a 90% de todos os acidentes ofídicos. É o envenenamento causado pela inoculação de toxinas, através das presas de serpentes. - Classificação dos acidentes: - Leve - forma mais comum do envenenamento, caracterizada por dor e edema local pouco intenso ou ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do Tempo de Coagulação. O Tempo de Coagulação alterado pode ser o único elemento que possibilite o diagnóstico, principalmente em acidentes causados por filhotes de Bothrops (<40cm de comprimento). - Moderado - caracterizado por dor intensa e edema local evidente, que ultrapassa o segmento anatômico picado, acompanhados ou não de alterações hemorrágicas locais ou sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hematúria. - Grave - caracterizado por edema local endurado, podendo atingir todo o segmento picado, eventualmente com presença de equimoses e bolhas. Em decorrência de edema podem aparecer sinais de isquemia local devido a compressão dos feixes vasculo-nervosos. Manifestações sistêmicas importantes como hipotensão arterial, choque, oligúria ou hemorragias intensas definem o caso como grave, independentemente do quadro local. -As cobras de interesse público são das famílias: Viperidae e Elapidae. - Os acidentes causados por estas serpentes são divididos em quatro grupos, de acordo com o gênero da serpente causadora: ➔ Acidente botrópico: É causado por serpentes da família Viperidae, dos gêneros Bothrops e Bothrocophias (jararacuçu, jararaca, urutu, caiçaca, combóia).t É o grupo mais importante, com cerca de 30 espécies em todo o território brasileiro, encontradas em ambientes diversos, desde beiras de rios e igarapés, áreas litorâneas e úmidas, agrícolas e periurbanas, cerrados, e áreas abertas. Causam a grande maioria dos acidentes ofídicos no Brasil. ➔ Acidente crótico: É causado pelas cascavéis (Família Viperidae, espécie Crotalus durissus). As cascavéis são identificadas pela presença de guizo, chocalho ou maracá na cauda e têm ampla distribuição em cerrados, regiões áridas e semiáridas, campos e áreas abertas; ➔ Acidente laquético: Também é causado por serpentes da família Viperidae, no caso a espécie Lachesis muta (surucucu-pico-de-jaca). A surucucu é a maior serpente peçonhenta do Brasil. Seu habitat é a floresta Amazônica e os remanescentes da Mata Atlântica; ➔ Acidente elapídico: É causado pelas corais-verdadeiras (família Elapidae, gêneros Micrurus e Leptomicrurus). São amplamente distribuídos no país, com várias espécies que apresentam padrão característico com anéis coloridos. - Gêneros de ofídicos: 1- Família Viperidae: - Gênero Bothrops: - São conhecidas como jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, malhade-sapo, patrona, surucucurana, combóia, caiçara. - Estas serpentes habitam principalmente zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). - Têm hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares. Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçados, desferindo botes sem produzir ruídos. - Gênero Crotalus - Agrupa várias subespécies, pertencentes à espécie Crotalus durissus. Popularmente são conhecidas por cascavel, cascavel-quatro-ventas, boicininga, maracambóia, maracá e outras denominações populares. - São encontradas em campos abertos, áreas secas, arenosas e pedregosas e raramente na faixa litorânea. - Não ocorrem em florestas e no Pantanal. - Não têm por hábito atacar e, quando excitadas, denunciam sua presença pelo ruído característico do guizo ou chocalho. - Gênero Lachesis - Compreende a espécie Lachesis muta com duas subespécies. São popularmente conhecidas por: surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga, malha-de-fogo. - É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m. Habitam áreas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e alguns enclaves de matas úmidas do Nordeste. 2- Família elapidae - Gênero Micrurus O gênero Micrurus compreende 18 espécies, distribuídas por todo o território nacional. São animais de pequeno e médio porte com tamanho em torno de 1,0 m, conhecidos popularmente por coral, coral verdadeira ou boicorá. Apresentam anéis vermelhos, pretos e brancos em qualquer tipo de combinação. Na Região Amazônica e áreas limítrofes, são encontradas corais de cor marrom-escura (quase negra), com manchas avermelhadas na região ventral. Em todo o país, existem serpentes não peçonhentas com o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras, porém desprovidas de dentes inoculadores. Diferem ainda na configuração dos anéis que, em alguns casos, não envolvem toda a circunferência do corpo. São denominadas falsas-corais. 3- Família Colubridae: Algumas espécies do gênero Philodryas (P. olfersii, P. viridissimus e P. patogoniensis) e Clelia (C. clelia plumbea) têm interesse médico, pois há relatos de quadro clínico de envenenamento. São conhecidas popularmente por cobra-cipó ou cobra-verde (Philodryas) e muçurana ou cobra-preta (Clelia). Possuem dentes inoculadores na porção posterior da boca e não apresentam fosseta loreal. Para injetar o veneno, mordem e se prendem ao local EPIDEMIOLOGIA: . - Foram notificados à FUNASA, no período de janeiro de 1990 a dezembro de 1993, 81.611 acidentes, o que representa uma média de 20.000 casos/ano para o país. A maioria das notificações procedem das regiões Sudeste e Sul, como mostra o gráfico 1, as mais populosas do país e que contam com melhor organização de serviços de saúde e sistema de informação. - Em 2018, houve 259.553 casos (123,9 casos/100.000 hab.), dos quais 292 foram óbitos, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do DataSus (Brasil, 2020). - Os envenenamentos ofídicos, por sua vez, ocuparam o 3º lugar em número de ocorrências, e representaram a maior parte dos óbitos (38,6%) (Brasil, 2020). OBS!: Quem são os trabalhadores internados por acidentes de trabalho por Ofidismo? -> fator de risco. - homens (78%), pardos (54%) e com idade entre 18 e 37 anos (49%). - Agricultores. A maioria são trabalhadores informais, agricultores familiares sem registro em carteira de trabalho e não contribuintes da previdência social. - Dados provavelmente errados, pois muitos agricultores não possuem formalidade em seu vínculo empregatício. - Centro-Oeste (11,9%), Sudeste (11,1%), seguidas pelo Nordeste (9,4%) e Sul (8,8%), sendo a menor na região Norte (5,8%). - FONTE: http://www.ccvisat.ufba.br/wp-content/uploads/2020/11/boletim-ofidismo-1.pdf - Outras serpentes também podem causar acidentes, ou mesmo envenenamento, mas sem gravidade. Algumas serpentes da família Colubridae podem mimetizar a coloraçãodas corais-verdadeiras. Estas são conhecidas como falsas corais. Embora possuam glândulas de veneno, os envenenamentos causados pelas falsas corais não são importantes em saúde. Quadro clínico: . - São caracterizadas pela dor e edema endurado no local da picada, de intensidade variável e, em geral, de instalação precoce e caráter progressivo. Equimoses e sangramentos no ponto da picada são frequentes. Infartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na evolução, acompanhados ou não de necrose. - Manifestações sistêmicas: - Além de sangramentos em ferimentos cutâneos preexistentes, podem ser observadas hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxis, hematêmese e hematúria. Em gestantes, há risco de hemorragia uterina. - Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial e, mais raramente, choque. - Com base nas manifestações clínicas e visando orientar a terapêutica a ser empregada, os acidentes botrópicos são classificados em: a) Leve: forma mais comum do envenenamento, caracterizada por dor e edema local pouco intenso ou ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do tempo de coagulação. Os acidentes causados por filhotes de Bothrops (< 40 cm de comprimento) podem apresentar como único elemento de diagnóstico alteração do tempo de coagulação. b) Moderado: caracterizado por dor e edema evidente que ultrapassa o segmento anatômico picado, acompanhados ou não de alterações hemorrágicas locais ou sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hematúria. c) Grave: caracterizado por edema local endurado intenso e extenso, podendo atingir todo o membro picado, geralmente acompanhado de dor intensa e, eventualmente, com presença de bolhas. Em decorrência do edema, podem aparecer sinais de isquemia local devido à compressão dos feixes vasculo-nervosos. - Manifestações sistêmicas como hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas definem o caso como grave, independentemente do quadro local. Complicações: . - Locais: a) Síndrome Compartimental: é rara, caracteriza casos graves, sendo de difícil manejo. Decorre da compressão do feixe vásculo-nervoso consequente ao grande edema que se desenvolve no membro atingido, produzindo isquemia de extremidades. As manifestações mais importantes são a dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do segmento distal, cianose e déficit motor. b) Abscesso: sua ocorrência tem variado de 10 a 20%. A ação “proteolítica” do veneno botrópico favorece o aparecimento de infecções locais. Os germes patogênicos podem provir da boca do animal, da pele do acidentado ou do uso de contaminantes sobre o ferimento. As bactérias isoladas desses abscessos são bacilos Gram Negativos, anaeróbios e, mais raramente, cocos Gram-positivos. c) Necrose: é devida principalmente à ação “proteolítica” do veneno, associada à isquemia local decorrente de lesão vascular e de outros fatores como infecção, trombose arterial, síndrome de compartimento ou uso indevido de torniquetes. O risco é maior nas picadas em extremidades (dedos) podendo evoluir para gangrena. - Sistêmicas: a) Choque: é raro e aparece nos casos graves. Sua patogênese é multifatorial, podendo decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do sequestro de líquido na área do edema e de perdas por hemorragias. b) Insuficiência Renal Aguda (IRA): também de patogênese multifatorial, pode decorrer da ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque. Objetivo 2: Entender a conduta (primeiros-socorros, soroterapia, exames, notificação compulsória). Primeiros-socorros: . - Lavar o local da picada apenas com água ou com água e sabão. - Manter o paciente deitado. - Manter o paciente hidratado. - Procurar o serviço médico mais próximo. - Se possível, levar o animal para identificação - O que não fazer: - Não fazer torniquete ou garrote: Torniquetes não impedem a circulação do veneno e ainda aumentam o risco de necrose na região; Fazer cortes ou furos no local da picada para drenar o veneno também não tem nenhum efeito, assim como tentar sugar o veneno. - Não cortar o local da picada. - Não perfurar ao redor do local da picada. - Não colocar folhas, pó de café ou outros contaminantes. - Não beber bebidas alcoólicas, querosene ou outros tóxicos. Exames: . a) Tempo de Coagulação (TC): de fácil execução, sua determinação é importante para elucidação diagnóstica e para o acompanhamento dos casos. b) Hemograma: geralmente revela leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, hemossedimentação elevada nas primeiras horas do acidente e plaquetopenia de intensidade variável. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/prevencao_medidas_acidentes_serpentes_peconhentas.pdf c) Exame sumário de urina: pode haver proteinúria, hematúria e leucocitúria. d) Outros exames laboratoriais: poderão ser solicitados, dependendo da evolução clínica do paciente, com especial atenção aos eletrólitos, uréia e creatinina, visando à possibilidade de detecção da insuficiência renal aguda. e) Métodos de imunodiagnóstico: antígenos do veneno botrópico podem ser detectados no sangue ou outros líquidos corporais por meio da técnica de ELISA. Tratamento: . - Tratamento específico - consiste no emprego, o mais precocemente possível do Soro Antibotrópico (SAB) ou, na falta deste, das associações antibotrópico-crotálico (SABC). Se TC permanecer alterado 24 horas após soroterapia, está indicado dose adicional de antiveneno. A posologia está indicada no Quadro Resumo no decorrer do capítulo. - Tratamento geral - drenagem postural do segmento picado, analgesia, hidratação, antibioticoterapia quando evidências de infecção. Notificação compulsória: . - É de notificação compulsória somente para casos confirmados atendidos nas unidades de saúde, independentemente do paciente ter sido ou não submetido à soroterapia. - O sistema de notificação é o SINAN- Sistema de Notificação de Agravo de Notificação, que contém uma ficha específica de notificação e investigação, que deve ser totalmente preenchida preferencialmente pelo médico com prazo de encerramento oportuno de 60 dias. Os casos sem complicações (leves e moderados) podem ser encerrados em até 10 dias. - Nos casos complicados (graves), a evolução clínica indica o momento da alta definitiva e encerramento do mesmo. Se ultrapassar 60 dias, encerrar o caso e anotar no campo “informações complementares e observações” que o paciente ainda permanece em recuperação e detalhar informações não contidas na ficha. - Nos casos de reações adversas ao soro, deve-se informar a ocorrência do caso no campo “informações complementares e observações”, bem como descrever detalhadamente o episódio. Objetivo 3: Estabelecer a prevenção. – Usar calçados e luvas nas atividades rurais e de jardinagem; – Examinar calçados, roupas pessoais, de cama e banho, antes de usá-las; – Afastar camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários; – Não acumular entulhos e materiais de construção; – Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede; – Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés; – Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos; – Manter limpos os locais próximos das casas, jardins, quintais, paióis e celeiros; – Evitar plantas tipo trepadeiras e bananeiras junto às casas e manter a grama sempre cortada; – Limpar terrenos baldios, pelo menos na faixa de um a dois metros junto ao muro ou cercas; – No amanhecer e no entardecer, evitar a aproximação da vegetação muito próxima ao chão, gramados ou até mesmo jardins, pois é nesse momento que serpentes estão em maior atividade; - Não mexer em colmeiase vespeiros. Caso estejam em áreas de risco de acidente, contatar a autoridade local para a remoção. - Panfleto do Ministério da Saúde: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/prevencao_medidas_acidentes_serpentes_ peconhentas.pdf. https://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/AAP/Animais_Peconhentos_v5.pdf Objetivo 4: Conhecer os efeitos neurotóxicos e cardiotóxicos: - Dentre os efeitos neurotóxicos, é possível afirmar: - Espécie laquética possui atuação nas fibras nervosas. Evolução craniocaudal de seus efeitos. - Espécie Elapídica gera estímulos vagais. Isso pode fazer com que provoque a chamada síncope vasovagal, em que a pessoa pode ter uma intensa tontura ou desmaio, pois este nervo pode provocar queda dos batimentos cardíacos e da pressão. - Dentre os efeitos cardiotóxicos, podemos afirmar: - As espécies botrópica, Laquético e Crotálico geram distúrbio de coagulação através do consumo de fatores de coagulação. Exterioriza-se clinicamente por sangramentos distantes dos ferimentos causados pelos dentes inoculadores. O óbito ocorre em casos de envenenamentos graves em pacientes que apresentam insuficiência renal, respiratória e choque. A maioria, entretanto, evolui para a cura sem sequelas. - As espécies botrópica e Laquético geram lesões das membranas basais dos capilares sanguíneos. REFERÊNCIAS: 1- Acidentes Ofídicos - Ministério da Saúde (https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/animais-peconhentos/aci dentes-ofidicos) 2- Manual de diagnóstico e tratamento por animais peçonhentos - Ministério da Saúde, FUNASA. 3- OLIVEIRA, Ricardo Borges de; RIBEIRO, Lindioneza Adriano; JORGE, Miguel Tanús. Fatores associados à incoagulabilidade sanguínea no envenenamento por serpentes do gênero Bothrops. Revista da sociedade brasileira de medicina tropical, v. 36, p. 657-663, 2003. 4- ALBUQUERQUE, Polianna Lemos Moura Moreira. Novos biomarcadores de lesão renal aguda em envenenamento humano por serpentes do gênero bothrops. 2019. 5- Acidentes por animais perçonhentos - Secretaria da Saúde do estado do Paraná https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Acidentes-por-animais-peconhentos 6- SINAN- Sistema de informações de Agravos de Notificações http://www.portalsinan.saude.gov.br/acidente-por-animais-peconhentos https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Acidentes-por-animais-peconhentos
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