Buscar

Livro Texto - Unidade IV

Prévia do material em texto

127
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
Unidade IV
7 DA SUCESSÃO
É a substituição de outrem, em direitos e obrigações. Um dos modos de aquisição de propriedade de 
modo derivado é o direito sucessório. Trata‑se de aquisição causa mortis.
A sucessão pode ser: a título gratuito ou oneroso, inter vivos ou causa mortis. O direito das sucessões 
cuida da transmissão em decorrência da morte, excluindo‑se a transmissão de bens por ato entre vivos.
Direito das sucessões é conjunto de princípios a disciplinar a transmissão do patrimônio de uma 
pessoa que morreu a seus herdeiros e legatários.
No sentido subjetivo, direito de sucessão (ou de suceder) é o direito de receber o acervo hereditário 
do de cujus. É modo de aquisição de direito de propriedade.
7.1 Evolução histórica e fundamento do direito sucessório
A possibilidade de alguém transmitir seus bens por sua morte é antiga. O direito egípcio, hindu e 
babilônico, dezenas de séculos antes da Era Cristã, a consagrava.
No Código de Hamurabi, criado cerca de 2.000 anos a.C., era previsto o direito sucessório, mas com 
desigualdade entre os descendentes. Era permitida a distinção dos quinhões hereditários.
A herança era direito dos filhos do sexo masculino; as mulheres a recebiam indiretamente, por 
doações. Os filhos eram tratados de forma diferente, de acordo com a sua origem (filhos da primeira 
mulher, da segunda mulher, da serva).
Figura 1 – O Código de Hamurabi, no Museu do Louvre, em Paris, França
128
Unidade IV
O direito hereditário evoluiu. A sucessão legítima, na maioria dos países, se processa entre os herdeiros 
que se encontram no mesmo grau, e estes recebem quinhões idênticos.
O direito de propriedade é direito fundamental, assim como o direito sucessório. Se não fosse 
admitida a sucessão hereditária, o indivíduo não teria incentivo para amealhar e conservar a riqueza. Tal 
comportamento prejudicaria a sociedade. Isso pode ser visto no art. 5º, XXII e XXX da CF/88 (BRASIL, 1988).
• A sucessão em geral cuida da sucessão legítima e testamentária. São regras sobre a administração 
da herança, sua aceitação e renúncia, sobre a vocação hereditária e dos legitimados a suceder, da 
herança jacente, da petição de herança e da indignidade.
• A sucessão legítima ocorre por força da lei, que determina a transmissão da herança às pessoas 
constantes da ordem de vocação hereditária, no art. 1.829 do CC (BRASIL, 2002), mencionando os 
herdeiros necessários e consagrando o direito de representação.
• A sucessão testamentária diz respeito à transmissão de bens por ato de última vontade. A lei 
traz regras interpretativas da vontade do testador.
• Ao disciplinar o inventário e a partilha, os dispositivos trazem ainda regras sobre colações e 
dos sonegados.
7.2 Da sucessão em geral
No que se refere à abertura da sucessão, conforme o art. 1.784 do CC (BRASIL, 2002), a sucessão 
causa mortis se abre com a morte do autor da herança.
O instante do falecimento é o exato momento da transmissão da herança aos herdeiros legítimos 
e testamentários do de cujus (de cujus sucessione agitur – pessoa de cuja sucessão se trata). Quer os 
sucessores tenham ou não ciência da morte do autor da herança, a personalidade civil (capacidade da 
pessoa de ser titular de direitos e obrigações na órbita do direito) se extingue com sua morte.
A capacidade para suceder é averiguada ao tempo da abertura da sucessão. O herdeiro deve 
estar vivo ao tempo da morte do autor da herança. Pode o herdeiro sobreviver ao de cujus apenas 
por um instante.
A lei aplicável à sucessão é a que está em vigor no instante do falecimento, pois nesse momento 
ocorre a transmissão patrimonial, conforme o art. 1.787 do CC (BRASIL, 2002).
7.2.1 Transmissão da posse: o princípio da saisine
Saisine é o direito de os herdeiros se tornarem possuidores dos bens que constituem a herança, a 
partir do falecimento do autor da herança. Essa posse não depende da apreensão material da coisa. 
Ainda que a herança se encontre na detenção de terceiros, o herdeiro adquire a qualidade de possuidor. 
Ele obtém a posse indireta, a posse de direito.
129
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
É importante a atribuição da qualidade de possuidor ao herdeiro, por seus efeitos: os herdeiros 
podem defender a posse dos bens, diretamente, conforme o art. 1.210, parágrafo 1º do CC (BRASIL, 
2002) e através dos interditos possessórios.
Enquanto é facilmente entendida a transmissão automática do domínio, pois o herdeiro toma a 
posição do autor da herança, substituindo‑o em todas as relações jurídicas patrimoniais, a posse, fato, 
envolve, na concepção tradicional, um ato externo de apreensão da coisa (publicidade).
O inventariante tem a posse direta dos bens do espólio, e os herdeiros adquirem a sua posse indireta.
7.2.2 Espécies de sucessão: legítima e testamentária
A sucessão se dá por lei (sucessão legítima) ou por disposição de última vontade, expressa em 
testamento (sucessão testamentária), consoante art. 1.786 do CC (BRASIL, 2002).
No que se refere à sucessão legítima, se não há testamento, ou se este é caduco ou nulo, o 
patrimônio por força de lei irá aos descendentes e, dependendo do regime de bens, aos descendentes em 
concorrência com o cônjuge ou convivente. Inexistindo descendentes, aos seus ascendentes e cônjuge 
ou convivente; não havendo nem descendentes e nem ascendentes, ao seu cônjuge ou convivente. Não 
havendo nem aqueles parentes e nem cônjuge ou convivente, aos colaterais até o 4º grau.
Ocorre sucessão simultaneamente legítima e testamentária quando o testamento não abrange todos 
os seus bens. Nesse caso, os bens referidos no testamento se transmitem aos herdeiros testamentários e 
aos legatários, enquanto os bens não alcançados pelas disposições testamentárias seguem aos herdeiros 
legítimos, na ordem de vocação hereditária.
7.2.3 Sucessão a título universal e a título singular
A sucessão a título universal se dá quando o herdeiro é chamado a suceder na totalidade dos bens do 
de cujus, ou em uma parte alíquota deles (abstrata e ideal), ou seja: o sucessor se sub‑roga na posição 
do finado, como titular da totalidade ou de parte da universitas iuris, que é o seu patrimônio, de modo 
que, da mesma maneira que se investe na titularidade de seu ativo, assume a responsabilidade por seu 
passivo. O herdeiro pode ser legítimo ou testamentário.
Já a sucessão a título singular ocorre quando o testador se dispõe a transferir ao beneficiário 
bens individuados, determinados. O sucessor a título singular é chamado de legatário, e não de 
herdeiro. E o legatário não assume obrigações do de cujus, salvo as obrigações propter rem, que 
acompanham o dono.
7.2.4 Liberdade de testar
De acordo com o art. 1.789 do CC (BRASIL, 2002), havendo herdeiros necessários, o testador só 
poderá dispor da metade dos seus bens, pois a outra metade constitui a legítima.
130
Unidade IV
Herdeiros necessários, consoante art. 1.845 da mesma Lei, são descendentes, ascendentes e cônjuge. 
Mas o convivente é equiparado ao cônjuge, podendo ser considerado herdeiro necessário também.
O lugar em que se abre a sucessão, conforme o art. 1.785 da mesma Lei, é o último domicílio do 
falecido. A competência para a ação de inventário é do juiz do último domicílio do de cujus.
No juízo do inventário, serão decididas todas as questões relativas à sucessão, conforme o art. 48 
do CPC (BRASIL, 2015). É competente, para o inventário e a partilha, o foro do domicílio do de cujus, 
bem como para todas as ações relativas à herança. Se o de cujus tinha vários domicílios, requerido o 
processamento de seu inventário em um deles, fixa‑se a competência do juiz requerido, para processá‑lo.
Se o cônjuge do de cujus falece no curso do processo, o inventário deste último se processará 
conjuntamente com o do anteriormente falecido, em obediência ao princípio da conexão. A conexão 
ainda prevenirá a competência, em caso de falecimento de herdeiro sem outro bem além da quota 
hereditária no primitivo inventário. Haverá um só inventariantepara os dois inventários. O segundo 
inventário será distribuído por dependência, processando‑se em apenso ao primeiro.
Na falta de domicílio certo, será competente o foro da situação do imóvel deixado pelo de cujus; 
havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; e não havendo bens imóveis, o foro do local 
de qualquer dos bens do espólio, conforme o art. 48, parágrafo único do CPC (BRASIL, 2015).
7.2.5 Da herança e de sua administração
A morte ocasiona a abertura da sucessão e a transmissão da herança.
Entre coerdeiros, a situação é de condomínio: a propriedade e a posse da herança serão indivisíveis, 
conforme art. 1.791 do CC (BRASIL, 2002). Como condômino, respeitando o direito de preferência, pode 
alienar a terceiro sua parte indivisa – a fração ideal de que é titular (pode até alienar uma alíquota de 
sua parte), mas não pode alienar um bem do acervo (isso só pode ocorrer com o consentimento dos 
demais herdeiros).
Até que haja a partilha, nenhum herdeiro tem a propriedade ou a posse exclusiva sobre um bem 
certo e determinado do acervo. A partilha é que individualiza o que cabe a cada herdeiro.
Até a partilha, então, cada herdeiro tem a prerrogativa de reclamar a herança inteira, de quem 
quer que injustamente a possua, sem que essa pessoa possa defender‑se alegando o caráter 
parcial do direito do reivindicante. O herdeiro tem tal legitimidade porque é indivisível o direito de 
domínio e a posse da herança, de acordo com o art. 1.825 da mesma Lei.
7.2.6 Das dívidas do de cujus
De acordo com o art. 1.792 do CC (BRASIL, 2002), a responsabilidade do herdeiro não excede as 
forças da herança. O inventário é para fazer o levantamento do patrimônio do falecido; das suas 
vantagens e débitos. Antes de dividirem os bens, as dívidas devem ser pagas. Essas dívidas são da 
131
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
herança; é a herança que por elas responde, conforme o art. 1.997 da mesma Lei. Separam‑se o 
patrimônio da herança e o patrimônio do herdeiro.
Quando os encargos excederem o valor dos bens que integram o espólio, ocorre a insolvência da 
herança, incumbindo ao inventariante requerer a declaração de insolvência.
7.2.7 Cessão de direitos hereditários
Os direitos de herdeiro à sucessão aberta podem ser transmitidos gratuita ou onerosamente. A cessão 
é negócio jurídico inter vivos. Pode ocorrer com a morte do autor da herança e abertura da sucessão. 
Antes, a cessão seria pacto sucessório, contrato que tem por objeto a herança de pessoa viva, que a lei 
proíbe (art. 426 do CC) e é negócio nulo de pleno direito (art. 166, II e VII do CC) (BRASIL, 2002).
Aberta a sucessão, é lícita a cessão, mesmo feita antes da abertura do inventário.
Com a partilha e finda a indivisão, não há cessão de direitos hereditários, pois cada herdeiro já é 
dono dos seus bens e o que ocorre então é permuta, doação, venda, dação em pagamento etc.
Conforme o CC (BRASIL, 2002), ainda que só haja coisas móveis no espólio, a herança é considerada 
bem imóvel para efeitos legais (art. 80, II). Exige‑se forma solene para a cessão: escritura pública 
(art. 1.793, caput). Não se cumprindo a forma, há nulidade (art. 166, IV). E se o herdeiro é casado, 
é necessária a anuência do outro cônjuge, salvo regime de separação absoluta de bens (art. 1.647, 
caput e I). Sem autorização do outro cônjuge, o ato é anulável (art. 1.649).
A cessão pode ser de toda a herança, se o cedente é herdeiro único, ou de parte da herança; pode 
ter por objeto todo o quinhão hereditário ou parte deste. O cessionário se sub‑roga em todos os direitos 
e obrigações do herdeiro cedente, podendo defender posse e propriedade da herança. A venda de bem 
individuado da herança, por um dos herdeiros, depende de acordo dos interessados e autorização do juiz 
da sucessão, conforme art. 1.793, §3º da mesma Lei.
Salvo deliberação expressa das partes, se o herdeiro adquiriu direitos em consequência de substituição, 
conforme art. 1.947 da mesma Lei, ou de direito de acrescer (art. 1.941), esses direitos presumem‑se não 
abrangidos pela cessão feita anteriormente (art. 1.793, §1º).
Há também a venda realizada pelo espólio, por hastas públicas ou mediante alvará judicial. O preço 
vai para o acervo e será dividido, no lugar da coisa, entre todos os herdeiros, na proporção de suas 
quotas. A venda ocorre para pagar dívidas da herança, custas, impostos etc., para atender necessidade 
urgente dos herdeiros. O inventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz, pode alienar 
bens de qualquer espécie.
O CC (BRASIL, 2002), no art. 1.794, firmou o direito de preferência. A preferência só existe na cessão 
onerosa. E não há preferência se o coerdeiro cede o seu quinhão a outro coerdeiro, que não é pessoa 
estranha à sucessão. Se não for dada a preferência, o coerdeiro interessado pode depositar o preço e 
haver para si a quota cedida a estranho, até 180 dias após a transmissão, consoante art. 1.795 da mesma 
132
Unidade IV
Lei. Se mais de um coerdeiro quiser a preferência, dividir‑se‑á entre eles o quinhão cedido, na proporção 
de suas respectivas quotas hereditárias (conforme art. 1.795, parágrafo único).
7.2.8 Abertura do inventário
O CPC (BRASIL, 2015), em seu art. 611, determina que o processo de inventário e partilha deve ser 
aberto dentro de 2 (dois) meses a contar da abertura da sucessão.
Desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a administração da herança 
será exercida pelo inventariante, que representa o espólio, ativa e passivamente, em juízo e fora dele, 
conforme o art. 618 da mesma Lei.
Já conforme o art. 617, o juiz nomeará inventariante na seguinte ordem: o cônjuge ou companheiro 
sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste; o herdeiro que 
se ache na posse e administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou 
que possa ser nomeado; qualquer herdeiro, se nenhum estiver na posse e administração do espólio; o 
herdeiro menor, por seu representante legal; o testamenteiro; o cessionário do herdeiro ou legatário; 
o inventariante judicial, se houver; pessoa estranha e idônea, se não houver inventariante judicial. O juiz 
pode deixar de seguir a ordem supra por razões relevantes.
O art. 226, §3º da CF/88 (BRASIL, 1988) reconhece a união estável entre homem e mulher como 
entidade familiar, de modo que o companheiro sobrevivente pode requerer a abertura do inventário do 
de cujus e pode ser nomeado inventariante.
7.2.9 Administração provisória da herança
Até a nomeação do inventariante, que presta compromisso assinando‑o, até a homologação da 
partilha, o espólio fica na posse do administrador provisório, que representa ativa e passivamente o 
espólio, conforme arts. 613 e 614 do CPC (BRASIL, 2015).
A administração provisória é conferida pelo juiz às pessoas do art. 1.797 do CC (BRASIL, 2002): 
cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão; herdeiro que 
estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um nessas condições, o mais velho; 
testamenteiro; pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos antecedentes, 
ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao conhecimento do juiz.
O administrador provisório pode ser mantido na administração do espólio se, em seguida, conforme 
o caso, for nomeado inventariante.
7.2.10 Da vocação hereditária
De acordo com o art. 1.798 do CC (BRASIL, 2002), estão legitimadas a suceder as pessoas nascidas 
ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
133
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
Na realidade, não se trata de legitimação, mas de personalidade civil. Pelo princípio da coexistência, 
deve o herdeiro ou o legatário sobreviver ao de cujus, para ser sucessor. Há exceções, como o caso do 
nascituro. Tal regra geral (supra) se aplica tanto à sucessão legítima como à sucessão testamentária.
Afirma Silvio de Salvo Venosa (2013, p. 2.091):
A legitimação é uma característica maisrestrita que a capacidade. A 
legitimação é a capacidade que se apura em cada caso concreto. Assim, 
toda pessoa viva ou concebida ao tempo da morte pode ter capacidade para 
ser herdeiro ou legatário, mas poderá não ter legitimidade para concorrer 
em determinada herança [...].
A existência do herdeiro sucessível é um pressuposto da sucessão hereditária (não é causa de 
incapacidade ou de falta de legitimação, mas sim falta de personalidade, ou falta de capacidade de direito). 
Se o testador nomeou herdeiro que morreu no intervalo entre o testamento e a abertura da sucessão, a 
instituição é inválida. Se o legatário falecer antes do testador, caducará o legado. E os herdeiros legítimos 
do testador ficam com os bens que constituíam a deixa testamentária.
A deixa testamentária, quer a título universal (nomeação de herdeiro), quer a título singular 
(instituição de legatário), é intuitu personae. O testador quer gratificar a pessoa do herdeiro ou do 
legatário, e não os seus sucessores.
É possível que o testador, prevendo a pré‑morte do herdeiro instituído, declare que, nesse caso, o 
direito à sucessão passará aos descendentes daquele.
A lei somente prevê o direito de representação na sucessão legítima.
Podem receber por testamento pessoa física ou jurídica; ambas têm capacidade para ser titulares de 
direitos e obrigações na ordem civil.
Conforme art. 45 do CC (BRASIL, 2002), a existência da pessoa jurídica de direito privado começa do 
registro. Exceção: consoante art. 1.799, III da mesma Lei, vale disposição testamentária para fundação 
não formalizada.
7.2.11 Nascituros
O nascituro (conforme art. 1.798 da mesma Lei), que não tem personalidade, tem legitimação para 
suceder, quer se trate de sucessão legítima, quer de testamentária.
Embriões excedentários não têm direito à sucessão. Afirma Roberto Senise Lisboa (2008, p. 320, 
grifos do autor) que o fato de nascituro ter direito à sucessão legítima e testamentária
[...] não significa, entretanto, que embriões excedentários tenham direito 
à sucessão (o que até seria bastante estranho e inviável na prática, com a 
realização de reserva de bens no processo de inventário ou de arrolamento 
do de cujus, por tempo indeterminado, até que eventualmente seja utilizado 
o embrião para os fins de desenvolvimento e nascimento com vida.
134
Unidade IV
Morto o de cujus antes do nascimento do herdeiro ou legatário, a titularidade da herança ou legado 
fica, provisoriamente, em suspenso (condição suspensiva).
A personalidade civil começa do nascimento com vida, conforme art. 1º do CC (BRASIL, 2002), mas 
os direitos (potenciais) do nascituro aguardam o nascimento com vida daquele que será o titular deles, 
de acordo com o art. 2º da mesma Lei. Com o nascimento, os direitos se concretizam e são efetivamente 
adquiridos, retroativamente.
Ocorrendo o nascimento, a propriedade da herança não se dá a partir desse instante, mas desde a 
abertura da sucessão (retroatividade da condição), tendo direito aos bens hereditários e a seus frutos, 
rendimentos, acréscimos.
Se o nascituro não alcançar personalidade civil, referidos bens são devolvidos aos herdeiros legítimos 
do de cujus, ou ao substituto testamentário, se tiver sido indicado, retroagindo a devolução à data da 
abertura da sucessão.
Se o nascituro alcançar personalidade civil e morrer em seguida, houve uma pessoa, que adquiriu a 
herança, e esta se transmite a seus sucessores.
7.2.12 Legitimação para suceder por testamento (sucessão testamentária)
O sucessor deve estar vivo quando da morte do hereditando (ressalva: admite‑se a vocação do nascituro).
Consoante art. 1.799 do CC (BRASIL, 2002), na sucessão testamentária, ainda podem ser chamados 
a suceder:
• Os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao 
abrir‑se a sucessão.
• As pessoas jurídicas. Com personalidade jurídica, podem ser nomeadas herdeiras ou legatárias.
• As pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação.
No que se refere ao primeiro caso, se as pessoas designadas pelo testador (que ainda iriam gerar ou 
conceber filhos) não tiveram os filhos, nem mais podem tê‑los, porque morreram antes da abertura da 
sucessão, por exemplo, a disposição testamentária é ineficaz.
O art. 1.800, caput do CC estabelece que no caso de serem beneficiados os filhos, ainda não 
concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, de acordo com o art. 1.799, I do CC (BRASIL, 
2002), os bens da herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado 
pelo juiz.
O curador, salvo disposição testamentária em contrário, será a própria pessoa cujo filho o testador 
esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, as pessoas indicadas no art. 1.797 (art. 1.800, §1º do CC 
135
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
– que, por engano, faz remissão ao art. 1.775, e não ao art. 1.797). Essas pessoas são as que, em ordem 
sucessiva, estão autorizadas a administrar a herança, até o compromisso do inventariante.
Os poderes, deveres e responsabilidades desse curador regem‑se pelas disposições concernentes à 
curatela, no que couber, de acordo com o art. 1.800, §2º da mesma Lei.
Nascendo o herdeiro esperado, ser‑lhe‑á deferida a sucessão, com os frutos e rendimentos relativos 
à deixa, a partir da morte do testador (art. 1.800, §3º). Mas se o curador for a pessoa cujo filho o testador 
esperava ter por herdeiro (art. 1.800, §1º), aplica‑se o art. 1.689, I: tal curador, por ser pai ou mãe, no 
exercício pleno do poder familiar, é usufrutuário (BRASIL, 2002).
Conforme §4º do art. 1.800 dessa Lei, “se decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for 
concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão 
aos herdeiros legítimos”.
Nesse caso, os bens reservados caberão aos herdeiros legítimos, com frutos e rendimentos. Mas o 
testador pode prever a situação e determinar que os bens reservados caibam a outras pessoas, e não aos 
herdeiros legítimos.
Pessoas sem legitimação na sucessão testamentária, conforme art. 1.801 da referida Lei:
• A pessoa que a rogo do testador escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, 
ou os seus ascendentes e irmãos.
Não podem ser herdeiros ou legatários pessoas ligadas a quem escreve o testamento, para se 
evitar que se indique, por fraude, beneficiários de liberalidades.
No art. 1.801, I do CC (BRASIL, 2002) faltou proibir o descendente da pessoa que escreve o 
testamento. O art. 1.802 dessa Lei corrige o erro: são nulas as disposições testamentárias em favor 
de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, 
ou feitas mediante interposta pessoa. E o parágrafo único presume pessoas interpostas, dentre 
outros, os descendentes do não legitimado a suceder.
• As testemunhas do testamento, para não haver influência na vontade do testador.
• O concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato 
do cônjuge há mais de cinco anos, para proteger a família. Conforme art. 550 do CC, a doação 
do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros 
necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal (BRASIL, 2002).
O CC admite o testamento se há separação de fato sem culpa do testador e há mais de cinco anos. 
A proibição do art. 1.801, III não se aplica ao(à) companheiro(a) do testador(a) na união estável, 
de acordo com o art. 226, §3º da CF/88 (BRASIL, 1988) e o art. 1.723 do CC (BRASIL, 2002). O art. 
1.723, §1º do CC admite que constitua união estável a pessoa casada que se achar separada de 
136
Unidade IV
fato ou judicialmente. Já o art. 1.727 da mesma Lei distingue entidade familiar formada por união 
estável e concubinato: as relações entre o homem e a mulher impedidos de casar constituem 
concubinato.
É excessivo o prazo de cinco anos de separação de fato para que o companheiro receba legado 
ou herança. Se a separaçãode fato dura mais de dois anos, pelo art. 1.830 do CC (BRASIL, 2002), 
o cônjuge nem tem legitimação para suceder. O próprio divórcio direto pode ser requerido por 
um ou por ambos os cônjuges, independentemente de separação prévia, conforme a Emenda 
Constitucional nº 66 (BRASIL, 2010).
• O tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim 
como o que fizer, ou aprovar o testamento.
A razão é evitar de se beneficiar quem poderia atuar sobre a vontade do testador. Não se permite 
conduzir o testador a testar de modo diferente.
A proibição de ser nomeado herdeiro ou legatário é para o tabelião, nos testamentos ordinários, 
ou para o que faz às vezes de tabelião, assumindo função notarial, nos testamentos especiais.
7.2.13 Interposição de pessoas
Ocorre quando a deixa testamentária beneficia diretamente um terceiro e indiretamente o não 
legitimado. É simulação: legado a pessoa interposta, que esconde um negócio real e dissimulado (legado 
a não legitimado). Sempre que provada a interposição de pessoas para esconder a gratificação, é nula a 
cláusula testamentária, conforme art. 1.802 do CC (BRASIL, 2002).
De acordo com esse mesmo artigo, reputam‑se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, 
os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.
Já o art. 1.803 da mesma Lei prescreve: é lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for 
do testador (antes, a Súmula 447 do STF já estabelecia dessa forma).
7.2.14 Aceitação da herança
É ato irrevogável pelo qual o herdeiro manifesta interesse em receber a herança. É uma confirmação, 
pois o domínio da herança é adquirido pelo herdeiro no momento exato da morte do de cujus.
De acordo com o art. 1.804, caput do CC (BRASIL, 2002), aceita a herança, torna‑se definitiva a sua 
transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão.
Se o herdeiro falecer antes de declarar se aceita a herança, esse poder de aceitar passa aos seus 
herdeiros, salvo se se tratar de vocação adstrita a uma condição suspensiva ainda não verificada, 
conforme art. 1.809, caput da mesma Lei.
137
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
São espécies de aceitação, de acordo com o CC (BRASIL, 2002):
• Expressa: por escrito. Não é comum, porque hoje não é mais necessário dizer que aceita a sucessão 
a benefício de inventário. Antes do CC/1916, era preciso fazer essa ressalva (aceitar em benefício 
de inventário), caso contrário o herdeiro arcava com responsabilidade por todo o passivo do 
morto.
• Tácita: resulta de atos somente compatíveis com o caráter de herdeiro de quem os pratica, ou 
tão somente de atos próprios da qualidade de herdeiro, conforme o art. 1.805, 2ª parte. Exemplo: 
o herdeiro cede seus direitos hereditários, paga credores, nomeia advogado para acompanhar o 
inventário etc.
Não são considerados aceitação atos como o funeral, os de administração e guarda provisória 
dos bens etc., conforme art. 1.805, §1º. E também conforme o art. 1.805, §2º, não é aceitação 
a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais coerdeiros, porque tal ato equivale a 
uma renúncia.
• Presumida: de acordo com o art. 1.807, pode haver alguém interessado em saber se o herdeiro 
aceita ou não a herança, por ser credor do herdeiro, ou, por exemplo, por se tratar de pessoa que 
será promovida à condição de sucessor, caso o mesmo herdeiro renuncie. Assim, a lei permite 
ao interessado requerer a notificação do herdeiro silente, para que este declare, dentro de prazo 
razoável, não superior a trinta dias, se aceita ou recusa a herança, sob a cominação de se presumir 
aceitação, em caso de persistir em seu silêncio.
Ao aceitar a herança, universalidade, o herdeiro se sub‑roga nos direitos e obrigações do de cujus. 
Não se admite a aceitação parcial, condicional ou a termo. Se a aceitação parcial da herança fosse 
permitida, o herdeiro só tomaria o lugar do de cujus aceitando o seu ativo e renunciando ao seu passivo.
Exceção: o art. 1.808, §1º do CC permite ao herdeiro renunciante aceitar legados e confere ao 
legatário renunciante o direito de aceitar a herança.
Nos termos do art. 1.808, §2º da mesma Lei, o herdeiro, chamado na mesma sucessão, a mais de um 
quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões 
que aceita e aos que renuncia.
7.2.15 Renúncia da herança
É negócio jurídico unilateral, solene e de interpretação restritiva, pelo qual abre‑se mão do direito à 
sucessão aberta. Não pode conter condição ou termo.
Se o filho renuncia à herança do pai, a lei o considera como se nunca tivesse sido herdeiro (ele 
não paga imposto). Seus filhos, netos do morto, são chamados à sucessão e herdam diretamente do 
avô, pagando imposto.
138
Unidade IV
Mas se o filho declara que renuncia à herança paterna em favor de seus filhos, de modo que um receba 
o dobro do outro, teremos renúncia translativa, ou renúncia imprópria, que, na verdade, não é renúncia, 
mas cessão de direitos. Há impostos sobre duas transmissões: uma causa mortis, do de cujus a seu 
filho, e outra, deste aos donatários. É verdadeira aceitação e subsequente benefício ao terceiro.
A renúncia é feita por instrumento público (escritura pública) ou por termo nos autos, conforme art. 
1.806 do CC (BRASIL, 2002). A solenidade assegura a liberdade do renunciante e a autenticidade de sua 
declaração e também ressalta a relevância do ato.
Quanto à vênia conjugal, conforme o CC (BRASIL, 2002), o direito à sucessão aberta é bem imóvel 
(art. 80, II), portanto a renúncia depende de vênia conjugal (art. 1.647, I), salvo no regime de separação 
absoluta de bens (art. 1.647, caput, parte final e art. 1.687).
No que se refere aos credores do renunciante, há restrição à liberdade de renunciar (art. 1.813 da 
mesma Lei) se a renúncia prejudicar credores. Esses poderão, com autorização do juiz, aceitar herança 
em nome do renunciante.
O domínio da herança passou ao herdeiro no momento exato da morte do de cujus, conforme art. 
1.784 da referida Lei. Então a renúncia da herança pode representar fraude aos seus credores. O herdeiro 
renunciante é considerado como se jamais houvesse sido herdeiro, visto que a renúncia retroage ao 
momento da abertura da sucessão (art. 1.804, parágrafo único dessa Lei). Por essa regra, a renúncia não 
poderia ser suspensa pelos credores, visto que, ultimada aquela, entende‑se que o patrimônio do finado 
não chegou a incorporar‑se ao patrimônio do renunciante.
Mas a lei atende ao interesse dos credores, permitindo que estes aceitem a sucessão em nome 
do herdeiro, para efeito de se cobrarem, devendo habilitar‑se no prazo de trinta dias seguintes ao 
conhecimento do fato (art. 1.813, §1º da referida Lei). Mas, pagas as dívidas do renunciante, a renúncia 
prevalece para os demais efeitos, sendo devolvida aos outros herdeiros, conforme o mesmo artigo, §2º.
Os credores não precisam pleitear a revogação da renúncia por meio de ação revocatória, mesmo porque a 
renúncia, em rigor por força de seu efeito retroativo, não equivale a uma transmissão gratuita de bens. O que 
os credores pedem ao juiz é que a suspendam temporariamente os efeitos da renúncia. Após o pagamento 
das dívidas, a renúncia volta a prevalecer, para serem chamados à sucessão os herdeiros por ela beneficiados.
O pedido dos credores não depende de prova de má‑fé do herdeiro. O juiz deverá admitir a aceitação 
da herança por parte dos credores. A estes só cabe provar sua condição de credores e que ao herdeiro 
renunciante não sobravam recursos para pagá‑los. Caso o herdeiro possa saldar suas dívidas com outros 
bens, sua liberdade de renunciar à herança é ilimitada, não se aplicando a regra do art. 1.813 da referida Lei.
7.2.15.1 Efeitos da renúncia
O renunciante é afastado da sucessão. Com a abertura da sucessão, a herança se transmite, desde 
logo, ao herdeiro, conforme o art. 1.784 do CC (BRASIL, 2002). Mas se o herdeiro renunciar a herança, a 
transmissão não acontece.
139
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕESA renúncia retroage ao momento da abertura da sucessão: o herdeiro renunciante é considerado 
como se nunca houvesse sido herdeiro, então seus descendentes não podem representá‑lo na sucessão 
do ascendente. Os descendentes do renunciante podem vir a herdar por direito próprio e por cabeça se 
o renunciante for o único de sua classe, ou se todos os da mesma classe renunciarem, de acordo com o 
art. 1.811, 2ª parte da referida Lei.
Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, 
sendo ele o único dessa classe, a sucessão devolve‑se aos herdeiros da classe subsequente (art. 1.810).
Na sucessão testamentária, a renúncia do herdeiro torna caduca a disposição que o beneficia, a 
menos que o testador tenha indicado substituto (art. 1.947) ou haja direito de acrescer entre os herdeiros 
(art. 1.943).
Quanto à irrevogabilidade, a renúncia retroage ao tempo da abertura da sucessão. Se fosse possível a 
retratação da renúncia ou sua revogação, estar‑se‑ia admitindo a perda da propriedade adquirida pelos 
herdeiros, causando insegurança e instabilidade.
A renúncia, como todo negócio jurídico, é anulável se a vontade foi viciada por erro, dolo, estado de 
perigo ou coação. Não é retratação da renúncia, mas sua anulação por vício do consentimento.
O CC (BRASIL, 2002), no art. 1.812, dispõe: são irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança.
7.2.16 Da exclusão por indignidade
Indignidade é a perda do direito à sucessão legítima ou testamentária por causa da prática de algum 
dos atos previstos em rol taxativo do art. 1.814 do CC (BRASIL, 2002). Afasta da sucessão o ingrato.
Indignidade é diferente de deserdação. Esta é instituto exclusivo da sucessão testamentária, para 
afastar da legítima os herdeiros necessários. Já a indignidade atinge tanto a sucessão legítima como a 
derivada de testamento.
Por isso, a matéria é disciplinada pela referida Lei no Título I do Livro V, título que trata da sucessão 
em geral, e não dentro da sucessão testamentária.
Há ainda diferença entre incapacidade para suceder (inaptidão de alguém para receber uma 
herança, por razões de ordem geral que independem de seu mérito ou demérito) e indignidade (perda 
da herança como pena imposta ao sucessor capaz, em virtude de atos de ingratidão por ele praticados 
contra o morto – ou seus parentes, em certas circunstâncias).
A lei permite a exclusão por indignidade apenas nos casos estritos que relaciona, no art. 1.814 do 
CC (BRASIL, 2002):
• Autor, coautor, partícipe de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão 
se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente. A norma não alcança o homicídio 
140
Unidade IV
culposo, em legítima defesa, em estado de necessidade e no exercício regular de um direito. A lei 
não exige, para a exclusão por indignidade, a condenação do culpado.
• Acusar caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrer em crime contra a sua honra, 
ou de seu cônjuge ou companheiro. O crime só ficará apurado se houver prévia condenação do 
indigno no juízo criminal.
• Quem, por violência ou meios fraudulentos, inibir ou obstar o autor da herança de dispor livremente 
de seus bens por ato de última vontade.
7.2.16.1 Da ação de exclusão por indignidade
A indignidade só será declarada após o trânsito em julgado da decisão judicial que a reconhecer. 
Extingue‑se em quatro anos, contados da abertura da sucessão, o direito de propor a exclusão do 
herdeiro ou legatário, conforme art. 1.815, parágrafo 1º do CC (BRASIL, 2002).
Valem as regras processuais sobre legitimidade processual em geral. De acordo com o art. 17 do 
CPC (BRASIL, 2015), para postular em juízo, é necessário ter interesse e legitimidade, valendo notar 
que o juiz indeferirá a petição inicial quando a parte for manifestamente ilegítima ou faltar ao autor 
interesse processual.
A Lei nº 13.532 (BRASIL, 2017b), acrescentou parágrafo 2° ao art. 1.815, atribuindo legitimidade 
ao Ministério Público na hipótese do inciso I do art. 1.814: “§ 2o Na hipótese do inciso I do art. 1.814, 
o Ministério Público tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário.” Essa lei 
entrou em vigor na data de sua publicação (8 de dezembro de 2017).
7.2.16.2 Perdão do indigno
A vítima pode perdoar o autor da ingratidão, por ato solene, ou por testamento, conforme 
art. 1.818 do CC (BRASIL, 2002). Pode ocorrer perdão não expresso quando o indigno é contemplado em 
testamento do ofendido, quando o testador já conhecia a indignidade. O indigno sucederá no limite da 
disposição testamentária.
Efeitos da exclusão:
• Sanção personalíssima: os descendentes do excluído não ficam prejudicados pela indignidade e 
o sucedem, por representação.
• Retroatividade da sentença: é declaratória, quanto aos frutos e rendimentos; retroage ao 
momento da abertura da sucessão. Só excepcionalmente não alcançam os atos de disposição, por 
colidirem com um princípio de maior eficácia, o princípio de respeito à boa‑fé.
141
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
 Observação
Se os atos de disposição não forem onerosos, ou não houver boa‑fé do 
terceiro, são nulos. Conforme o art. 1.827, parágrafo único do CC (BRASIL, 
2002): são eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro 
aparente a terceiro de boa‑fé.
São efeitos subsidiários o reembolso dos gastos e a perda do usufruto e do direito à sucessão em 
tais bens.
7.2.17 Herança jacente
É jacente a herança cujos herdeiros ainda não são conhecidos ou que aguarda condição suspensiva 
para ser entregue aos herdeiros. O Estado, para impedir o perecimento dos bens, ordena a sua 
arrecadação, para entregá‑los aos herdeiros que aparecerem e demonstrarem tal condição. Somente 
quando, após diligências legais, não aparecerem herdeiros, é que a herança, até agora jacente, é 
declarada vacante, para o fim de incorporar‑se ao patrimônio do Poder Público.
A jacência é uma fase no processo para a declaração da vacância da herança. A herança pode ser 
jacente mesmo tendo herdeiro sucessível. Jaz enquanto tal herdeiro não se apresenta e sua existência 
permanece ignorada.
O art. 1.823 do CC (BRASIL, 2002), no caso de repúdio por parte de todos os chamados a suceder, 
considera a herança vacante, desde logo.
A jacência se extingue pela sentença de vacância. Aos credores da herança jacente, é assegurado 
o direito de pedir o pagamento das dívidas, nos limites das forças da herança, conforme art. 1.821 da 
mesma Lei.
7.2.18 Da vacância da herança
Arrecadada a herança jacente e entregues os bens ao curador, o juiz mandará publicar editais com 
o prazo de seis meses, reproduzidos três vezes, com o intervalo de trinta dias, convocando os eventuais 
herdeiros do finado para que venham se habilitar. O CC (BRASIL, 2002), em seu art. 1.820, regula a 
matéria: praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais 
na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro 
habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante.
Herança vacante é a que não foi atribuída a herdeiro e que, judicialmente, foi proclamada de ninguém.
O CC (BRASIL, 2002), em seu art. 1.823, admite a declaração de vacância sem a fase da jacência 
quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo declarada vacante.
142
Unidade IV
A sentença de vacância afasta da sucessão legítima os colaterais. Esses parentes ficarão excluídos da 
sucessão legítima após a declaração da vacância.
Cinco anos após a abertura da sucessão, desde que declarada vacante a herança, os bens vagos 
passam, definitivamente, para o domínio do município ou ao do DF, se localizados nas respectivas 
circunscrições, ou ao da União, quando situados em território federal, conforme art. 1.822 do CC 
(BRASIL, 2002).
A sentença de vacância não confere o domínio dos bens vagos ao Poder Público. Tais bens são 
entregues à Fazenda Pública, que fica como depositária.Roberto Senise Lisboa (2008, p. 354) considera 
que a Fazenda Pública tem o domínio resolúvel dos bens, transformando‑se em definitiva a propriedade 
após o prazo quinquenal. A Fazenda poderá ter de devolvê‑los aos herdeiros que legalmente se 
habilitarem, dentro de cinco anos a contar da abertura da sucessão. Esse é um período de carência, em 
que tais bens continuam vagos. Transcorrido tal prazo, a herança se incorpora ao patrimônio do Poder 
Público, cessando, para o herdeiro, o direito de pleiteá‑la.
7.2.19 Da petição de herança
Para Lisboa (2008, p. 314), “petição de herança é o requerimento judicial formulado pelo interessado 
objetivando o reconhecimento de sua qualidade de herdeiro e a defesa dos seus direitos sucessórios”.
Tal ação prescreve em 10 (dez) anos, regra geral que estabelece o prazo máximo no CC (BRASIL, 
2002): “Como a lei não prevê expressamente, o prazo de prescrição para o exercício da pretensão de 
petição de herança é de dez anos (CC 205)” (NERY; NERY JUNIOR, 2002, p. 611).
Conforme o art. 1.784 do CC (BRASIL, 2002), o herdeiro é dono e possuidor da herança 
desde a abertura da sucessão. Então, a ação de petição de herança (antiga, chamada de petitio 
hereditatis no direito romano) pode ser intentada por herdeiro para reconhecimento do seu 
direito sucessório e obtenção (consequentemente) da restituição da herança – no todo ou em 
parte – de quem a possua, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, de acordo com o art. 
1.824 da mesma Lei.
Réu é quem está na posse da herança como se fosse herdeiro, aparentando a qualidade e assumindo 
a posição de herdeiro, sem o ser. Pode se tratar, por exemplo, de parente mais afastado do falecido, e 
o interessado é parente mais próximo, que se acha em classe preferencial. Ocorre também quando a 
herança é distribuída entre os herdeiros legítimos, e aparece testamento do de cujus, em que outra pessoa 
é nomeada herdeira, ou quando filho não reconhecido do sucedido ingressa com ação investigatória 
cumulada com a petição de herança.
7.2.19.1 Natureza da ação
É ação petitória, real e, além disso, universal, porque, ainda que o objeto da restituição seja uma 
parte do acervo, a herança é uma universalidade de direito (universitas juris).
143
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
A partir da morte do autor da sucessão, coerdeiros são condôminos. Qualquer herdeiro, isoladamente, 
pode ingressar com a petição de herança em face do falso herdeiro ou possuidor sem título, mesmo que 
o objetivo seja a restituição de todos os bens hereditários, conforme art. 1.825 do CC (BRASIL, 2002).
7.2.19.2 Efeitos da sentença
O réu vencido na ação de petição de herança fica obrigado a devolver os bens com os frutos 
e rendimentos.
Para o CC (BRASIL), em seu art. 1.826, a responsabilidade do possuidor da herança será fixada 
conforme a sua posse, observados os arts. 1.214 a 1.222, distinguindo as situações do possuidor de 
boa‑fé e de má‑fé. O parágrafo único do art. 1.826 prevê que, a partir da citação, a responsabilidade do 
possuidor se há de aferir pelas regras concernentes à posse de má‑fé e à mora.
A citação inicial produz efeitos materiais e processuais: induz litispendência, faz litigiosa a coisa, 
torna prevento o juízo, constitui em mora o devedor, interrompe a prescrição e obsta a decadência.
7.2.19.3 Dos atos praticados por herdeiro aparente
Consoante o art. 1.827 do CC (BRASIL, 2002), o herdeiro verdadeiro pode demandar os bens da 
herança, mesmo em poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário (falso 
herdeiro, ou possuidor sem título algum) pelo valor dos bens alienados.
O parágrafo único desse artigo prescreve: são eficazes as alienações a título oneroso, pelo herdeiro 
aparente, a terceiro de boa‑fé.
Se o herdeiro aparente agiu de má‑fé ao pagar legado (ciente, por exemplo, de que o testamento era 
nulo ou tinha sido revogado pelo de cujus), responde pelo seu ato.
7.3 Da sucessão legítima: da vocação dos herdeiros legítimos
Ocorre quando não há testamento, ou quando o testamento caducou, ou foi julgado ineficaz. 
Legítima é a sucessão que se processa pela lei em vigor na data da morte do de cujus. No instante 
em que falece o hereditando, o patrimônio se transmite, automaticamente, aos herdeiros legítimos e 
testamentários, ou seja, àqueles que, no referido momento, tenham legitimação para suceder.
7.3.1 Ordem de vocação hereditária
O legislador presume a vontade do de cujus. De acordo com o art. 1.829 do CC (BRASIL, 2002): a 
sucessão legítima defere‑se na ordem seguinte:
I. Aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo 
se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no 
da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único, CC); ou se, 
144
Unidade IV
no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado 
bens particulares.
II. Aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III. Ao cônjuge sobrevivente.
IV. Aos colaterais.
A relação é preferencial porque os herdeiros de uma classe excluem os herdeiros da classe 
subsequente. As exceções consistem na situação do cônjuge e do companheiro, que concorrem com 
os descendentes e com os ascendentes; e no direito de representação, quando herdeiros de classes 
diferentes concorrem pela herança.
7.3.2 Da lei estrangeira e seu efeito na ordem de vocação hereditária
A ordem de vocação hereditária do art. 1.829 do CC (BRASIL, 2002) pode ser alterada quando 
se tratar de bens de estrangeiro existentes no Brasil, for o hereditando casado com brasileira(o) ou 
tiver filhos brasileiros, e a lei nacional do de cujus se apresentar mais favorável àquelas pessoas do 
que o seria a lei brasileira. Conforme o art. 5º, XXXI da CF/88 (BRASIL, 1988), que repete o art. 10, §1º 
da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, “A sucessão de bens de estrangeiros situados 
no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre 
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus”.
7.3.3 Da sucessão dos descendentes
São os primeiros na ordem de vocação hereditária. Se o falecido era casado, ou convivia em união 
estável, o cônjuge ou convivente concorre com os descendentes, a depender do regime de bens.
Conforme o CC, em seu art. 1.829, I, não haverá tal concorrência se o cônjuge tiver sido casado com 
o falecido no regime da comunhão universal (art. 1.667) ou da separação obrigatória (art. 1.641), ou se 
no regime da comunhão parcial (art. 1.658), o autor da herança não houver deixado bens particulares.
O direito sucessório do cônjuge só existe se ao tempo da morte não estavam separados judicialmente 
e nem separados de fato há mais de dois anos. No caso da separação de fato, o cônjuge sobrevivente 
será chamado à sucessão só se provar que a convivência se tornara impossível sem culpa sua (art. 1.830).
Sendo possível a concorrência dos descendentes com o cônjuge, observadas as ressalvas supra 
(art. 1.829, I) e os requisitos do art. 1.830, caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederam por 
cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros 
com que concorrer (art. 1.832).
145
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
 Saiba mais
Para se aprofundar nesse tema, leia o Enunciado 270 da III Jornada de 
Direito Civil, organizada pelo Conselho da Justiça Federal (CJF). Se o regime 
de bens era o da comunhão parcial e o de cujus deixa bens particulares, o 
cônjuge concorre com os descendentes do de cujus, mas apenas com relação 
aos bens particulares (isto porque quanto aos aquestos, bens adquiridos 
a título oneroso durante o casamento, já há a meação). Há autores que 
defendem a concorrência em relação ao todo unitário da herança.
CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL (CJF). Enunciado 270 da III Jornada 
de Direito Civil. Brasília, 2004. Disponível em: <https://www.cjf.jus.br/
enunciados/enunciado/531>. Acesso em: 24 abr. 2019.
Se todos os descendentes estão no mesmo grau, a sucessãose processa por cabeça, isto é, a herança 
se divide em tantas partes quantas forem os herdeiros, independentemente do sexo ou da ordem de 
nascimento. Havendo descendentes de graus diversos, a sucessão se processa por estirpe.
O CC (BRASIL, 2002), no art. 1.883, proclama o princípio da igualdade. A igualdade entre os filhos 
foi consolidada, nos termos do art. 227, §6º da CF/88 (BRASIL, 1988). Para o art. 1.834 da mesma Lei, os 
descendentes da mesma classe têm os mesmo direitos à sucessão de seus ascendentes.
 Observação
Em 11 de maio de 2017, o STF declarou inconstitucional a distinção 
entre convivente e cônjuge, estabelecida pelo art. 1.790 do CC, e equiparou 
direitos sucessórios de cônjuge e convivente.
7.3.4 Da sucessão do ascendente
Sem herdeiro descendente, sucedem os ascendentes em concorrência com o cônjuge (ou convivente) 
sobrevivente, conforme o art. 1.836 do CC (BRASIL, 2002).
Na sucessão dos ascendentes, não há o direito de representação. Assim, o ascendente de grau mais 
próximo exclui o de grau mais remoto, sem distinção de linhas.
Se há ascendentes em igualdade de graus (avós) e diversidade de linhas (avós maternos e paternos), 
a herança se divide ao meio, cabendo metade aos ascendentes de cada linha, de acordo com o art. 1.836, 
§2º da mesma Lei: “havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha paterna 
herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.” Mas, tendo os ascendentes o mesmo grau de 
parentesco, pode ter mais pessoas em uma linha que na outra. É exceção ao princípio de que parentes 
146
Unidade IV
(de cada classe) de mesmo grau sucedem por cabeça, em partes iguais (como ocorre com os netos). Aqui, 
cada metade vai para um lado.
Os ascendentes ocupam a segunda classe dos sucessíveis. Na falta de descendentes, é que são 
chamados à sucessão, mas em concorrência com o cônjuge, conforme art. 1.836, caput da mesma Lei.
Enquanto a concorrência do cônjuge com os descendentes depende do regime de bens do casamento, 
conforme art. 1.829, I dessa Lei, na concorrência com os ascendentes, a lei não traz limitação. Qualquer 
que tenha sido o regime de bens, o cônjuge concorre com os ascendentes do falecido.
Já o art. 1.837 estabelece a repartição da herança entre os ascendentes e o cônjuge: concorrendo 
com ascendentes em primeiro grau, o cônjuge (ou convivente) fica com um terço da herança. Mas se só 
tiver um ascendente, o cônjuge fica com a metade da herança. Também o cônjuge fica com a metade 
da herança se maior for aquele grau.
 Observação
O STF, em 10 de maio de 2017, decidiu equiparar cônjuge e convivente 
quanto aos direitos sucessórios. Antes, se o morto deixasse ascendentes e 
companheiro, este só teria direito a 1/3 da herança, conforme o art. 1.790, 
III do CC (BRASIL, 2002).
7.3.5 Sucessão do cônjuge
Conforme o CC (BRASIL, 2002), se o morto não deixa descendente ou ascendente, fica tudo para o 
cônjuge (art. 1.838). O cônjuge é herdeiro necessário, protegido em relação à legítima contra disposição 
testamentária (art. 1.845).
Conforme o art. 1.830 da mesma Lei, só é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente 
se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há 
mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa 
do sobrevivente.
O cônjuge tem direito real de habitação, desde que seja, o imóvel, o único dessa natureza a inventariar.
7.3.6 Da sucessão da(o) companheira(o)
Conforme a CF/88 (BRASIL, 1988), a união estável é entidade familiar, sob a proteção do Estado, 
devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento. O companheiro tem direito hereditário se a união 
estável ainda existe no momento do óbito.
O CC tratou do assunto estabelecendo diferenças em relação aos direitos sucessórios do cônjuge. 
Assim, em 11 de maio de 2017, o STF declarou inconstitucional a distinção entre convivente e 
147
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
cônjuge, estabelecida pelo art. 1.790, do CC (BRASIL, 2002), e equiparou direitos sucessórios 
de cônjuge e convivente.
 Saiba mais
Para conhecer mais sobre a equiparação de direitos sucessórios de 
cônjuge e convivente, leia na íntegra o documento a seguir:
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Recurso Extraordinário 
nº 878.694, de 16 de abril de 2015. Relator: Ministro Roberto Barroso. Disponível 
em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID 
=8493791>. Acesso em: 5 abr. 2019.
7.3.7 Da sucessão dos colaterais
Se não houver descendentes ou ascendentes, nem cônjuge ou convivente, conforme arts. 1.830 e 
1.839 do CC (BRASIL, 2002), recebem os colaterais até o 4º grau.
Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos. Há direito de representação (na 
linha colateral) somente em favor de filhos de irmãos, que concorrem com seus tios.
A lei distingue irmão germano (bilateral), filho do mesmo pai e mesma mãe, e irmão unilateral (só 
um dos pais é o mesmo): a herança do unilateral é a metade do que couber ao irmão germano, de 
acordo com o art. 1.841 da mesma Lei.
Se com tios concorrerem filhos de irmão unilateral, estes só receberão metade do quinhão cabível 
aos tios, pois, como aqueles herdam por direito de representação, só recebem o que seu pai receberia, 
se fosse vivo.
O CC (BRASIL, 2002) determina que quando na sucessão só concorrerem sobrinhos, e houver filhos de 
irmãos unilaterais e bilaterais, estes herdarão o dobro do que herdarem aqueles (art. 1.843, §2º). Se todos os 
sobrinhos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão por igual (art. 1.843, §3º).
O art. 1.843, caput da mesma Lei define que na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não 
os havendo, os tios. Então, se o morto deixa parentes do mesmo grau, tios e sobrinhos (3º grau), os 
sobrinhos (por lei) têm preferência. A lei presume que a afeição é maior em relação aos sobrinhos que 
em relação aos tios.
Os colaterais até 4º grau (irmãos, tios, sobrinhos, primos) são herdeiros legítimos, conforme o art. 
1.829, IV dessa Lei, mas não são herdeiros necessários, consoante o art. 1.845. O autor da herança pode 
excluí‑los da sucessão, com testamento dispondo de todo o patrimônio, sem os contemplar, de acordo 
com o art. 1.850.
148
Unidade IV
Se o falecido não tem descendentes e ascendentes, mas tem companheiro sobrevivente, este recolhe 
toda a herança. O STF, em 10 de maio de 2017, decidiu equiparar cônjuge e convivente quanto aos 
direitos sucessórios.
7.3.8 Da sucessão do poder público
Se não se apresentarem herdeiros das classes referidas para disputar a herança do de cujus, é ela 
arrecadada como jacente, iniciando‑se o processo para proclamá‑la vacante. Transitada em julgado a 
sentença que declara a vacância, os bens são incorporados ao patrimônio do município, ou do DF, se 
localizados nas respectivas circunscrições, ou ao da União, se situados em território federal.
7.3.9 Dos herdeiros necessários, conforme art. 1.845 do CC: descendentes, ascendentes 
e cônjuge (ou convivente)
Não podem ser afastados inteiramente da sucessão, salvo nas hipóteses excepcionais de deserdação 
ou indignidade.
Nesse caso o testador não pode dispor de mais da metade de seus bens. A lei reserva a legítima.
7.3.10 Cálculo da legítima
Quando o falecido houver deixado herdeiro necessário, seu patrimônio se divide em quota disponível 
e parte legítima de seus herdeiros necessários.
Somente o patrimônio do de cujus é transmitido a seus herdeiros necessários. Portanto, se o morto 
era casado pelo regime da comunhão, separa‑se, antes da partilha, a meação do cônjuge sobrevivente.
Para calcular a metade disponível, abatem‑se as dívidas do de cujus e as despesas do funeral (o 
passivo da herança deve ser deduzido). Depois, reparte‑se ao meio o espólio, e a metade encontrada é a 
quota disponível (parte do patrimônio do morto de que ele pode dispor, por testamento, sem restrição). 
A outra metade é a reserva dos herdeiros necessários.Caso o testador em vida tenha gratificado alguns descendentes com liberalidades, a lei impõe o 
dever de conferir tais liberalidades aos descendentes que houverem recebido doações do de cujus 
durante sua vida. Esse ato de conferência é a colação. Calculam‑se as legítimas adicionando‑se à 
metade dos bens do testador a importância das liberalidades por ele feitas aos seus descendentes e 
que estes devam conferir.
7.3.11 Da clausulação da legítima
Conforme o art. 1.848 do CC (BRASIL, 2002), salvo se houver justa causa, declarada no testamento, 
não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade e de incomunicabilidade 
sobre os bens da legítima. O § 1º não permite que o testador estabeleça a conversão dos bens da legítima 
em outros de espécie diversa, o que era admitido pelo art. 1.723 do CC/1916.
149
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
As restrições legais para a imposição das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e 
incomunicabilidade só dizem respeito aos bens da legítima.
Cláusulas do art. 1.848:
• Cláusula de incomunicabilidade: é a disposição pela qual o testador determina que a legítima 
do herdeiro necessário, qualquer que seja o regime de bens convencionado, não entrará na 
comunhão, em virtude do casamento.
• Cláusula de impenhorabilidade: temporária ou vitalícia, pode ser estabelecida pelo testador 
sobre os bens da legítima do herdeiro necessário, se houver justa causa, declarada no testamento. 
O testador pode estender a impenhorabilidade aos frutos e rendimentos dos bens gravados.
• Cláusula de inalienabilidade temporária ou vitalícia sobre a legítima de seus herdeiros 
necessários: vale por certo período, ou durante a vida inteira do legatário ou herdeiro.
A cláusula de inalienabilidade de bens implica impenhorabilidade e incomunicabilidade, conforme 
art. 1.911, caput da referida Lei.
7.3.11.1 Sub‑rogação do vínculo
O art. 1.848, §2º do CC (BRASIL, 2002) permite a alienação de bens gravados, mediante 
autorização judicial, havendo justa causa. Bens adquiridos com o produto da alienação são objeto 
de sub‑rogação real, com as mesmas restrições.
O herdeiro necessário pode ser beneficiado com parte disponível (herança ou legado), e não 
perderá o direito à legítima, de acordo com o art. 1.849 dessa Lei.
Quanto ao afastamento da sucessão dos herdeiros legítimos não necessários, de acordo com o art. 
1.850 do CC (BRASIL, 2002), para o testador excluir da sucessão os colaterais, basta‑lhe dispor do seu 
patrimônio sem os contemplar.
7.3.12 Do direito de representação
O art. 1.854 do CC (BRASIL, 2002) determina que os representantes só podem herdar, como tais, o 
que herdaria o representado, se vivo fosse.
A renúncia do herdeiro não permite que os herdeiros do renunciante herdem por representação.
A sucessão se dá por:
• Parentesco (ou pelo fato de ser cônjuge ou companheiro): sucessão por direito próprio.
150
Unidade IV
• Estirpe ou representação: substituição a um ascendente pré‑morto, ou deserdado, ou declarado 
indigno, que sucederia por direito próprio, se vivesse.
O representante é posto pela lei no lugar que seria do representado (substituição legal) e vai herdar 
de quem o representado herdaria.
O representado por morte, deserdação ou indignidade não foi herdeiro; então, o parente da classe 
seguinte será o representante. Os netos que representam o pai ocupam o seu lugar, concorrem à herança 
do avô, e não do pai.
O direito de representação evita que um descendente mais remoto seja afastado da sucessão.
A sucessão testamentária se faz intuitu personae. O testador quis beneficiar o legatário ou herdeiro 
testamentário, e não seus parentes. Na falta do herdeiro testamentário, quem recebe não são os herdeiros 
deste, mas os herdeiros do testador, salvo disposição de última vontade em sentido contrário.
O direito de representação ocorre na linha reta descendente e, em um caso, na colateral. Não há 
direito de representação na linha ascendente. Na linha ascendente, o parente mais próximo exclui o 
mais remoto, conforme arts. 1.852 e 1.853 do CC (BRASIL, 2002).
Requisitos do direito de representação:
• Haver o representado falecido antes do de cujus, ou ser o representado declarado indigno 
ou deserdado. Os efeitos da exclusão por indignidade e da deserdação são pessoais. Com o 
herdeiro renunciante é diferente: ocorre como se nunca tivesse sido herdeiro. Os herdeiros do 
renunciante não podem representá‑lo, conforme o art. 1.811 do CC (BRASIL, 2002).
• Descender o representante do representado. Quando a representação é na linha reta, o filho 
substitui o pai na sucessão do avô, e assim por diante. Na representação na linha colateral, o 
filho substitui seu pai na sucessão de um tio, em concorrência com outros tios.
• Ter o representante aptidão para herdar do morto, no momento da abertura da sucessão.
O representante é descendente do representado e herda por causa da morte, deserdação ou 
indignidade do representado. Mas não é herdeiro do representado, e sim do de cujus – por isso, 
deve ter legitimação sucessória para tal. Não pode ter sido deserdado e nem julgado indigno 
para suceder o autor da herança (embora possa ter sido deserdado ou julgado indigno para receber 
do representado). Exemplo: filho que renunciou à herança do seu pai ou que foi julgado indigno 
de recebê‑la pode representar o pai para receber a herança do avô.
A sucessão por estirpe ocorre quando se exerce o direito de representação. E o quinhão cabível à 
estirpe se divide entre os representantes, de acordo com o art. 1.855 do CC (BRASIL, 2002).
151
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
Quanto aos efeitos da representação, o representante recebe herança da qual seria afastado, pois 
o parente mais próximo exclui o mais remoto. O representante herda o que caberia ao representado, 
conforme o art. 1.854 da mesma Lei.
No que se refere à obrigação de os netos levarem à colação o que os pais receberam do avô, 
de cuja sucessão se trata (conforme o art. 2.009 da referida Lei), há uma distinção: se os netos 
herdaram por direito próprio, é irrelevante que seus pais tenham ou não recebido doações do autor 
da herança. Mas, se herdarem por direito de representação, devem conferir as doações recebidas 
pelo ascendente que representa.
7.3.12.1 Representação de quem renuncia
De acordo com o art. 1.856 do CC (BRASIL, 2002), o renunciante à herança de uma pessoa poderá 
representá‑la na sucessão de outra.
São duas sucessões diferentes: o filho renunciou à herança do pai, mas pode representar o pai na 
sucessão do avô, se o pai morreu antes do avô ou foi indigno (ou deserdado). Na representação, recebe 
não por direito próprio, mas por representação (a essa sucessão não houve renúncia).
7.4 Da sucessão testamentária
Testamento é negócio jurídico revogável, com efeito causa mortis, personalíssimo, unilateral, 
gratuito e solene pelo qual o testador, em conformidade com a lei, estabelece disposições patrimoniais 
e/ou extrapatrimoniais (como o reconhecimento de filho, a deserdação etc.).
Figura 2 – Testamento de Luís XVI, no Museu do Louvre, em Paris, França
152
Unidade IV
A disposição de bens por testamento é limitada para quem tem herdeiros necessários (descendentes, 
ascendentes, cônjuge ou convivente): o testador pode dispor somente da metade de seus bens. A outra 
metade é reserva (legítima), salvo os casos de deserdação ou exclusão por indignidade.
7.4.1 Da natureza jurídica do testamento
O testamento tem natureza jurídica de negócio jurídico personalíssimo, solene, revogável, unilateral 
– não depende da receptividade dos sucessores para se reputar válido, conforme Lisboa (2013, p. 373) –, 
causa mortis e gratuito (embora possa ser estabelecido o encargo).
7.4.2 Do testador
Conforme o CC (BRASIL, 2002), o testamento é negócio jurídico, cujos requisitos de validade 
estão no art. 104. Não podem testar (art. 1.860), além dos incapazes, os que, no ato de fazê‑lo, não 
tiverem pleno discernimento. Consoante parágrafo único do art. 1.860,podem testar os maiores 
de dezesseis anos.
O art. 1.782 da mesma Lei, quando trata dos atos que o pródigo não pode praticar, após a interdição, 
não fala do testamento.
Deve ser feito sem assistência do representante legal, por ser o testamento ato personalíssimo, 
conforme o art. 1.858 dessa Lei. Não pode haver assistência ou anuência de terceiro.
A capacidade para testar deve ser aferida no momento em que o testamento é elaborado, pois a 
incapacidade superveniente não invalida o testamento eficaz, nem o testamento feito por alguém, 
enquanto incapaz, valida‑se com a superveniência da capacidade, de acordo com o art. 1.861 da 
referida Lei.
No que se refere à nulidade do testamento: extingue‑se em cinco anos o direito de impugnar a 
validade dele, contado o prazo da data do seu registro (art. 1859). Pode ocorrer a invalidade por causa de 
nulidade (art. 166) ou de anulabilidade (art. 171). Impugnar a validade é pedir a declaração de nulidade 
ou requerer a anulação do testamento.
O registro do testamento após a morte do testador será feito por mandado do juiz, observados os 
requisitos processuais.
7.4.3 Causas de anulabilidade do testamento
De acordo com o art. 1.909 do CC (BRASIL, 2002), são anuláveis as disposições testamentárias com 
erro, dolo ou coação.
Prazo: quatro anos para anular, contados de quando o interessado tiver conhecimento do vício (ou 
do momento em que cessar a coação).
153
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
7.4.4 Das formas de testamento
Testamento é negócio jurídico solene (para garantir autenticidade do ato e liberdade do testador), 
com pluralidade de formas.
Se não respeitar a solenidade prescrita em lei, ocorre nulidade. A nulidade pode ser decretada de 
ofício, porque é absoluta.
Proíbe‑se expressamente testamento conjuntivo (seja simultâneo, recíproco ou correspectivo, 
conforme art. 1.863 do CC (BRASIL, 2002). Tais testamentos são modalidades de pactos sucessórios 
(cujo objeto é herança de pessoa viva). Além disso, deve sempre haver a possibilidade de revogação, o 
que somente se assegura no ato praticado individualmente.
7.4.4.1 Do testamento público, conforme o art. 1.864 do CC
É escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, conforme as declarações 
do testador, feitas em língua nacional, podendo este servir‑se de minuta, notas ou apontamentos, na 
presença de duas testemunhas.
O instrumento será lido em voz alta pelo tabelião, ou pelo testador, para que este (testador) e as 
testemunhas confiram se a vontade do testador foi lançada realmente no livro. Depois, o testamento 
é assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião. As testemunhas devem ouvir a leitura do 
instrumento e assinar o testamento, conforme art. 1.864, I e II do CC (BRASIL, 2002).
O tabelião pode escrever o testamento público manualmente ou no computador. Também pode ser 
feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas 
todas as páginas pelo testador, se mais de uma.
Pode testar por forma pública aquele que puder fazer as suas declarações e verificar, pela leitura 
posterior, haverem sido fielmente exaradas.
Pessoas com deficiência visual ou auditiva podem fazer testamento público. O analfabeto também 
pode testar por essa forma.
O art. 1.866 do CC (BRASIL, 2002) afirma que o surdo, sabendo ler, lerá seu testamento; se não 
souber, designa quem o leia em seu lugar, na presença das testemunhas, para verificação de fidelidade. 
Ao cego, só se permite o testamento público. Seu testamento será lido para ele em voz alta, duas vezes, 
uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e outra por uma das testemunhas por ele designada, 
fazendo‑se de tudo circunstanciada menção no instrumento, conforme art. 1.867 da mesma Lei. Quem 
não souber ou não puder assinar pede que uma das testemunhas assine a seu rogo, declarando‑se a 
circunstância no testamento, de acordo com o art. 1.865 da referida Lei.
Conforme o art. 22 da Lei nº 8.935 (BRASIL, 1994), os tabeliães respondem por danos que causem a 
terceiros, na prática de atos próprios da serventia.
154
Unidade IV
O prazo é de três anos para a ação de reparação civil, contado o prazo da data da lavratura do ato 
registral ou notarial, conforme parágrafo único do art. 22 da referida Lei. Por sua vez, o art. 23 dessa Lei 
afirma que a responsabilidade civil independe da criminal.
Vantagens do testamento público: a experiência do tabelião faz com que o instrumento não tenha 
vícios, sendo então capaz de gerar os efeitos almejados pelo testador, e não ocorre extravio, porque o 
testamento público consta das notas de um tabelião e fica ao alcance de todos, que podem a qualquer 
momento obter certidão (não poderá ser destruído por interessados em seu desaparecimento).
Já a sua desvantagem é a publicidade, que pode colocar em risco a privacidade, pois livros de notas 
são públicos e qualquer pessoa pode obter certidão de seu conteúdo.
7.4.4.2 Do testamento cerrado (secreto), conforme art. 1.868 e s. do CC
O testamento cerrado deve ser assinado pelo testador, quer ele mesmo o escreva, quer tenha a 
cédula sido escrita por outra pessoa, a rogo do testador.
A privacidade é a sua vantagem, pois o conteúdo só é conhecido pelo testador. Sua desvantagem: 
pode se extraviar. Apresentando‑se aberto ou dilacerado, nem sempre é fácil demonstrar que não foi 
aberto ou dilacerado pelo testador, ou com seu consentimento, resultando daí sua revogação.
Tem eficácia após o auto de aprovação, o que garante a sua autenticidade.
O testador entrega ao tabelião, na presença de duas testemunhas, o testamento já elaborado, 
declarando ser aquele o seu testamento, que deseja ver aprovado. O auto de aprovação é ato do 
tabelião, que se inicia imediatamente após a última palavra do testamento e declara que o testador, 
na presença das testemunhas, entregou‑lhe aquele testamento para ser aprovado. O instrumento de 
aprovação, lido pelo tabelião, será assinado por este, pelas testemunhas e pelo testador.
O tabelião cerra e cose o instrumento aprovado, entregando‑o ao testador, ao mesmo tempo em que 
lança, em seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue.
O art. 1.868, parágrafo único do CC (BRASIL, 2002) admite expressamente que o testamento cerrado 
seja escrito mecanicamente. Nesse caso, o testador deve enumerar e autenticar, com a sua assinatura, 
todas as páginas.
O testador pode pedir ao tabelião que escreva o testamento. Mas se o tabelião escreveu, a rogo, 
o testamento, está autorizado a aprová‑lo, atuando, nesse momento, como notário, delegado do 
Poder Público.
Pode ser escrito em português ou em língua estrangeira, pelo próprio testador ou por outrem, a seu 
rogo, conforme o art. 1.871 da mesma Lei. O auto ou instrumento de aprovação, lavrado pelo tabelião, 
por ser instrumento público, deve ser escrito em português (idioma oficial).
155
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
Quem não sabe ou não pode ler está proibido de dispor de seus bens em testamento cerrado, de 
acordo com o art. 1.872 dessa Lei. Eles não podem se certificar, com segurança, se o escrito corresponde 
à sua vontade.
O surdo pode fazer testamento cerrado, desde que o escreva todo e o assine. Não pode usar meios 
mecânicos, nesse caso.
Ao entregar o testamento ao tabelião, ante as duas testemunhas, como o testador não pode declarar 
oralmente que aquele é o seu testamento, escreverá isso na face externa do papel ou do envoltório, 
pedindo a sua aprovação.
Aspectos processuais: apresentação, abertura, registro e cumprimento do testamento cerrado
A principal questão do testamento cerrado é a sua conservação. Apenas o juiz pode abri‑lo, de 
acordo com o art. 1.875 do CC (BRASIL, 2002). Com a abertura da sucessão, esse testamento será 
apresentado ao juiz.
O juiz, na presença do apresentante e do escrivão, examinará o instrumento para verificar se está 
intacto. Nesse caso, ordenará a sua abertura. Caso o juiz suspeite de abertura, determinaa perícia, para 
que, apensa ao termo de abertura, se registre o estado do testamento. Sem suspeita de revogação, o juiz 
abrirá o testamento, ordenando que se lavre auto em que fará constar o estado em que se encontrava 
o instrumento, apensando‑se, caso ocorra a hipótese, o laudo do perito.
Esse termo servirá de base para os debates futuros sobre a violação do testamento e sua autoria.
Aberto o testamento, serão os autos conclusos ao juiz, depois de ouvido o MP, que o mandará 
registrar, inscrever e cumprir, se revestido das formalidades legais. Desses autos se extrai cópia autêntica 
do testamento, que será entregue ao testamenteiro, para juntada ao inventário.
7.4.4.3 Do testamento particular, conforme art. 1.876 do CC
É o testamento feito por instrumento particular escrito e assinado pelo testador, na presença de três 
testemunhas, e ainda lido na presença dessas testemunhas.
Conforme o CC (BRASIL, 2002), em seu art. 1.876, §1º, se escrito de próprio punho, é requisito 
essencial à sua validade que seja lido e assinado por quem o escreveu (que é o próprio testador, pois a 
lei não admite a escrita a rogo), na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever. 
No mesmo artigo, §2º, se o testamento foi feito por processo mecânico, não pode ter rasuras ou espaços 
em branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três 
testemunhas, que o subscreverão.
Testamento particular manuscrito ou elaborado por processo mecânico pode ser redigido em língua 
estrangeira, desde que as testemunhas a compreendam, conforme art. 1.880 da mesma Lei.
156
Unidade IV
Suas vantagens são menos custo, menor burocracia e celeridade, pois não é necessária a presença 
do tabelião. O ato tem validade desde que presentes os requisitos, o testador e as testemunhas. Já sua 
desvantagem é o fato de que pode se extraviar, porque não há registro da sua existência em ofício 
público. A existência só será atestada pelas testemunhas. Mas se o testamento não for encontrado, não 
pode ser cumprido, ainda que todas as testemunhas confirmem a sua elaboração e atestem o seu teor.
Com a abertura da sucessão, publica‑se em juízo o testamento, apresentado pelo herdeiro instituído, 
pelo legatário ou pelo testamenteiro. Estes devem requerer a notificação das pessoas a quem caberia 
a sucessão legítima para virem, em dia, lugar e hora designados, assistir à inquirição das testemunhas 
instrumentais, que deverão ser intimadas a depor.
Presentes as pessoas notificadas ou à sua revelia, faz‑se a inquirição das testemunhas sobre a 
autenticidade de suas assinaturas, o teor das disposições testamentárias, o fato de o testamento lhes 
haver sido lido, por ocasião de sua elaboração, e encontrar‑se o testador em perfeito juízo, no momento 
de testar.
Se pelo menos uma das testemunhas estiver viva e comparecer para depor, e se o seu depoimento 
confirmar a autenticidade do instrumento, o juiz mandará cumprir o testamento.
Outra desvantagem desse tipo de testamento: se as testemunhas faleceram ou se o seu domicílio 
for incerto ou desconhecido, de modo que elas não podem ser encontradas, o testamento não será nem 
poderá ser cumprido.
Isso ainda que não haja impugnação, porque a autenticidade do instrumento, que no testamento 
público e no cerrado deriva da fé pública do notário, decorre do depoimento das testemunhas, ou de 
pelo menos uma delas, conforme o art. 1.878, parágrafo único do CC (BRASIL, 2002).
Havendo impugnação, o juiz remeterá as partes a processo próprio, para a devida apuração.
Quanto a testamento particular feito em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o 
testamento particular de próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser 
confirmado, a critério do juiz, conforme o art. 1.879 do CC (BRASIL, 2002), sem testemunhas.
7.4.4.4 Dos codicilos
Lisboa (2008, p. 386) trata do codicilo como uma das formas ordinárias de testamento. O codicilo 
parece com testamento, mas não é (RODRIGUES, 2007, p. 168).
É disposição de última vontade sobre o funeral e o destino de bens móveis de pouco valor. Pode 
ainda o autor do codicilo nomear ou substituir testamenteiros (arts. 1.881, 1.883 e 1.998 do CC) (BRASIL, 
2002). O seu objeto é restrito. Não se pode por codicilo deserdar herdeiros, legar imóveis, ou fazer 
disposições de valor alto.
157
DIREITO DE PROPRIEDADE E SUCESSÕES
 Observação
O codicilo pode ser fechado, sujeitando‑se às normas do testamento 
cerrado, conforme o art. 1.885 do CC (BRASIL, 2002).
Pode fazer codicilo quem pode testar. O autor do codicilo tem que saber e poder escrever. O codicilo 
deve ser inteiramente escrito, datado e assinado pelo disponente.
É ato com menos solenidades, apresentando os requisitos do testamento particular simplificado, 
conforme art. 1.879 do CC (BRASIL, 2002), exceto a data que naquele não foi mencionada. Não se 
admite escrita ou assinatura a rogo no codicilo.
O codicilo pode ser revogado por outro codicilo. Havendo testamento posterior, de qualquer espécie, se este 
não confirmar ou modificar o codicilo, considera‑se ele revogado, de acordo com o art. 1.884 da mesma Lei.
7.4.4.5 Formas extraordinárias (testamentos especiais), conforme art. 1.886 do CC
São testamentos com menos formalidades, se comparados com as formas ordinárias. Daí a crítica: o 
negligente que não fez testamento, pode fazê‑lo sem as solenidades, que são de interesse social.
São provisórios, feitos para uma emergência, pois caducam se o testador não falecer na viagem ou 
em campanha e, ao depois, estiver noventa dias em lugar em que possa testar.
Testamento marítimo
Conforme o art. 1.888 do CC (BRASIL, 2002), quem está em viagem, em navio nacional, de guerra 
ou mercante, pode testar perante o comandante, em presença de duas testemunhas, por forma que 
corresponda ao testamento público ou ao cerrado. O registro do testamento será feito no diário de bordo.
O art. 1.890 da mesma Lei determina que o testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob a 
guarda do comandante, que o entregará às autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto 
nacional, contra recibo averbado no diário de bordo.
Testamento aeronáutico
Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode testar perante pessoa 
designada pelo comandante, em presença de duas testemunhas e por forma que corresponda ao 
testamento público ou ao cerrado.
Ainda que feito em viagem, não valerá o testamento marítimo se, ao tempo em que se fez, o navio 
estava em porto onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária, segundo art. 1.892 
do CC (BRASIL, 2002).
158
Unidade IV
A lei não trata dos requisitos dos testamentos marítimo e aeronáutico, apenas dispõe que devem ser 
feitos na forma do testamento público ou cerrado.
Testamento militar
Conforme arts. 1.893, 1894 e 1896 do CC (BRASIL, 2002), ele existe desde as Ordenações. Pode ser 
usado por militares e demais pessoas, a serviço das Forças Armadas, em campanha, dentro do País ou 
fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja com as comunicações cortadas.
É escrito pelo comandante do corpo ou seção de corpo destacado, ou pelo oficial de saúde ou 
pelo diretor do estabelecimento (se o testador estiver em tratamento em hospital), ante duas ou três 
testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma delas. Se 
o testador for o oficial mais graduado, o testamento será escrito por aquele que o substituir, de acordo 
com art. 1.893, caput e §§1º, 2º e 3º da mesma Lei.
O art. 1.894 do CC regula espécie de testamento cerrado:
Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de seu 
punho, contanto que o date e o assine por extenso, e o apresente aberto 
ou cerrado, na presença de duas testemunhas, ao auditor, ou ao oficial de 
patente, que lhe faça às vezes neste mister.
Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o testamento se apresente 
notará, em qualquer parte dele, lugar, dia,

Mais conteúdos dessa disciplina