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Água: PROFª. ESP. JAMYLA CRUZ IBIAPINA Em função da natureza química de sua molécula, as propriedades físicas e químicas da água diferem muito das de qualquer outra substância, o que a caracteriza como constituinte fundamental da matéria viva e do meio que a condiciona. Água – interação Capacidade das moléculas de interagir com a água * Substâncias hidrofílicas afinidade pela água * Substâncias hidrofóbicas aversão pela água Introdução: Ao estudar as transformações químicas e físicas associadas às condições inerentes ao processamento e armazenamento dos alimentos, devemos ter presente que tais transformações ocorrem em sistemas extremamente complexos de componentes celulares, formados por um grande número de reagentes diferentes. Esses reagentes podem ser genericamente classificados como: lipídios, carboidratos, proteínas e sais e o mais abundante dos componentes maiores: a água. A seu lado, temos componentes menores: vitaminas, ácidos, sais, bases, óleos essenciais, pigmentos. Estrutura Química da Água: A molécula de água: Formada por dois átomos de hidrogênio unidos por orbitais moleculares sp³ ao átomo de oxigênio, é uma molécula triatômica angular que contém dois orbitais não-ligantes ocupados por dois elétrons cada, provenientes do oxigênio. Estes pares terão maior repulsão entre si do que os pares ligantes, ocasionando uma diminuição do ângulo H-O-H, que deveria ser de 109°, para 105°. Os elétrons em orbitais ligantes estão colocados para o lado do oxigênio pela sua maior eletronegatividade, produzindo uma carga positiva nos hidrogênios e negativa no oxigênio, reforçada pelos dois pares de elétrons ligantes. Estrutura Química da Água: A molécula da água com estrutura tetraédica tem baixo peso molecular, pequeno volume e é diamagnética e pode ser representada por: Interação entre as moléculas: • Forças de atração; • Átomo de hidrogênio - carga positiva; • Átomo de oxigênio - carga negativa; • A molécula tem um lado com predomínio de cargas positivas (H+) e outro com predomínio de cargas negativas (O-). Moléculas assim são chamadas polares. DIPOLO ELÉTRICO A molécula de água Pontes de Hidrogênio: Atração eletrostática entre o átomo de oxigênio e o átomo de hidrogênio de outra molécula; As pontes de hidrogênio são mais fracas que as ligações covalentes; A água é única porque ocorre nos três estados da matéria – sólido, líquido e gasoso – sob condições atmosféricas bastante restritas. Propriedades da Água: DISSOLUÇÃO Capacidade de dissolver substâncias polares ou iônicas para formar soluções aquosas. Confere grande estabilidade à solução. Íon positivo Íon negativo Propriedades da água DISSOLUÇÃO A água pode separar o material dissolvido em íons carregados eletronicamente. Como conseqüência, o material dissolvido aumenta bastante a condutividade da água. A condutividade elétrica de uma solução é uma medida da quantidade de carga transportada pelos íons. Quanto menor a condutividade, mais pura é a solução. Propriedades da água TENSÃO SUPERFICIAL Ocorre devido às forças de atração que as moléculas internas do líquido exercem junto às da superfície. As moléculas situadas no interior de um líquido são atraídas em todas as direções pelas moléculas vizinhas e, por isso, a resultante das forças que atuam sobre cada molécula é praticamente nula. Propriedades da água As moléculas da superfície do líquido, entretanto, sofrem apenas atração lateral e inferior. Esta força para o lado e para baixo cria a tensão na superfície, que faz a mesma comportar-se como uma película elástica. TENSÃO SUPERFICIAL Propriedades da água DENSIDADE D = MASSA / VOLUME Quantidade de matéria que ocupa determinado volume; Com o aumento da temperatura da substância, a sua densidade decresce, em geral; A água é a única substância que apresenta uma densidade maior quando se encontra no seu estado líquido (pontes de hidrogênio). O seu valor máximo obtém-se a 4 ºC. Propriedades da água Capacidade térmica (calor específico) É definida pela quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de 1g de uma determinada substância, e a unidade de medida utilizada é a caloria. A capacidade térmica da água é bem elevada (1cal/ºC) A água é capaz de adquirir ou perder muito mais calor que outras substâncias comuns, quando submetida à mesma temperatura. Propriedades da água Viscosidade É uma medida da resistência ao fluxo; Em um líquido, as moléculas estão em média muito perto umas das outras e as forças de atração são efetivas. Assim, a viscosidade vem do atrito entre camadas adjacentes, nas quais o líquido se divide ao escoar. Baixa viscosidade solvente O conjunto formado pelo reduzido volume, alto momento dipolar e elevada constante dielétrica é o principal responsável pelas propriedades especiais da molécula de água como solvente. Algumas propriedades da água estão resumidas na tabela a seguir: Propriedades da água: Propriedade H²O Peso molecular 18 densidade 1,000 viscosidade 1,002 Ponto de ebulição ºC 100 Ponto de fusão 0 Calor lat. Vaporização (cal/mol) 9.750 Calor lat. Liquefação (cal/mol) 80 Constante dielétrica 80,4 (20ºC) Momento dipolar 1,84 Seu pequeno volume permite a penetração nas estruturas cristalinas e entre as moléculas de grandes dimensões como hidrocolóides, solvatando os íons ou as moléculas. Suas características elétricas e momento dipolar permitem a sua participação em ligações covalescentes, dipolo-dipolo e íon-dipolo e a sua alta constante dielétrica é fator importante na solvatação e separação de íons: figura Ligação de hidrogênio: Ligação de hidrogênio: as ligações de hidrogênio ou pontes de hidrogênio são um caso particular das ligações de Van der Waals: são ligações eletrostáticas dipolo-dipolo com um nível energético baixo (entre 1 – 10 kcal/mol), quando comparadas com ligações covalentes como a ligação O – H na água com 118 kcal/mol. Ligações de hidrogênio ocorrem entre hidrogênio e átomos eletronegativos como F, O, N e as mais fortes ligações ocorrem com átomos fortemente eletronegativos como F e O. Quanto maior a diferença de eletronegatividade entre o hidrogênio e outro átomo, mais estáveis serão as ligações e menor será a distância entre outros átomos. Água líquida: Água líquida: cada molécula de água pode ser ligada a outras 4 moléculas, formando um agregado ao qual moléculas de água poderão se unir. O agregado com quatro moléculas pode ser representado como: Figura Na água líquida, tais agregados estão em permanente formação e ruptura e em permanente movimento, de tal forma que, em qualquer instante, nenhuma das moléculas de água é distinguível das demais, devido às suas ligações de hidrogênio. A água seria então formada por agregados de diferentes tamanhos e em contínua variação, tendo moléculas temporariamente livres, circulando entre os agregados. Água no estado vapor: Água no estado vapor: se aquecermos a água, isto é, se aumentarmos a sua energia, estaremos aumentando a energia das moléculas, o que permitirá que elas possam se afastar mais e aumentar a velocidade de ruptura e formação de pontes de hidrogênio. Quando a quantidade de energia cedida à água for suficiente, as moléculas na superfície poderão passar em grande número para a fase vapor (temperatura de ebulição). A energia necessária será correspondente ao calor latente de vaporização da água e correspondente à energia necessária para romper as pontes de hidrogênio. No estado de vapor,as moléculas não formam os mesmos sistemas de agregados unidas por pontes de hidrogênio, elas estão agora, em maioria, muito afastadas entre si, isto é, houve um grande aumento do volume ocupado por essas moléculas. Água no estado sólido: Àgua no estado sólido: quando resfriamos uma massa de água, estamos diminuindo gradativamente a energia do sistema e assim também os movimentos moleculares. Menos pontes de hidrogênio serão rompidas por unidades de tempo e mais formadas. Isto significa que estamos indo para um sistema cada vez mais ordenado, com cada vez menos moléculas livres circulando entre os agregados, até chegar ao estado cristalino em que todas as moléculas ocupam posições fixas, formando o retcíulo cristalino com as distâncias entre as moléculas, sendo maior do que no estado líquido. Diferenças da água entre seus 3 estados: Água vapor Agua líquida Àgua sólida Moléculas afastadas, raras ligações de H; conteúdo de energia alto, praticamente todas as moléculas estão livres. Formação de agregados com moléculas livres entre os mesmos, grande número de ligações de H, conteúdo de energia mais baixo. Moléculas fixas no retículo cristalino; todas as ligações de H possíveis estão formadas. Conteúdo de baixa energia. Nenhuma molécula livre. Interação água-soluto: Interação água-soluto: em presença de íons ou presença de moléculas com grupos hidrofílicos, há formação de diversos tipos de ligações entre as moléculas de soluto e da água. A presença dessas ligações altera a formação de agregados de moléculas de água e a proporção de moléculas de água livre. Quando o soluto possui grupos hidrofóbicos, há um decréscimo da entropia da água causado pelo aumento do número de agregados e ou de moléculas de água em cada agregado, provocado pela repulsão entre moléculas de água e os grupos hidrofóbicos. Esta estrutura é importante na formação dos clatratos, que são formados por moléculas de água unidas por pontes de hidrogênio em estruturas capazes de aprisionar as moléculas com grupos hidrofóbicos. Tais estruturas cristalinas (também chamadas de hidratos clatratos semelhantes aos cristais de gelo) são a base para métodos de separação e purificação de compostos orgânicos sob condições de operação não-destrutivas. Água nos alimentos: Usualmente o conteúdo de água de um alimento é expresso pelo valor obitido na determinação da água total contida no alimento. Entretanto, esse valor não nos fornece indicações de como está distribuída a água nesse alimento, como também não permite saber se toda a água está ligada do mesmo modo ao alimento. Conteúdo de Água em alguns alimentos: Alimentos % de H²O Laranja 90 Melancia 95 Banana 75 Morango 90 Abacate 70 Brócolis 85 Cenoura 85 Alface 95 Repolho 90 Batata 80 Carne 50 – 75 Peixe 70 – 80 Leite 85 – 90 Ovo 70 - 75 Água nos alimentos: Água livre: a água fracamente ligada ao substrato, e que funciona como solvente, permitindo o crescimento dos microorganismos e reações químicas e que é eliminada com relativa facilidade; Água combinada: fortemente ligada ao substrato, mais difícil de ser eliminada e que não é utilizável como solvente e, portanto, não permite o desenvolvimento de microorganismos e retarda as reações químicas. Atividade de água: O teor de água livre é expresso como atividade de água, que é dada pela relação entre a pressão de vapor de água em equilíbrio sobre o alimento, e a pressão de vapor da água pura, à mesma temperatura. Atividade da água e conservação dos alimentos: O valor máximo da atividade da água é 1, na água pura. Nos alimentos ricos em água com valores da Aa acima de 0,90 poderão se formar soluções diluídas com componentes do alimento que servirão de substrato para os microrganismos poderem crescer. Quando a atividade da água baixar para 0,40-0,80 haverá possibilidade de reações químicas e enzimáticas rápidas pelo aumento das concentrações dos reagentes, enquanto com a Aa próxima de 0,6 teremos pequeno ou nenhum crescimento de microorganismos. Em regiões de Aa inferiores a 0,3 estaremos atingindo a zona de absorção primária, onde as moléculas de água poderão estar ligadas a pontos de absorção primários e por sua vez se ligar a outras moléculas de água por pontos de hidrogênio. Essa água está fortemente ligada ao alimento, formando a monocamada, isto é, a água estaria recobrindo o alimento como uma camada, de poucos Angstron de espessura, não utilizável para dissolver componentes do alimento, o que leva as reações a terem velocidade tendente a zero, com exceção da oxidação de lipídios que é consideravelmente mais rápida, e ao não-desenvolvimento de microorganismos. Atividade da água e conservação dos alimentos: Os efeitos da variação da Aa num alimento não só estão ligados ao crescimento de microorganismos ou à deterioração química, mas também à deterioração da sua consistência. Além dos efeitos texturais e modificações químicas, o aumento da atividade da água acima de limites críticos pode ter como consequência um rápido crescimento de microorganismos que, por sua vez, obriga ao uso de preservativos químicos para evitar a deterioração do alimento. Mobilidade Molecular (Mm): A secagem ou congelamento de um alimento, visando sua preservação, visa basicamente diminuir a água que pode servir de solvente ou de reagente nesse alimento. Nos dois casos, entretanto, ainda sobrará água líquida suficiente para criar zonas em que se formarão soluções altamente concentradas e com elevada viscosidade. Congelamento Liofilização Secagem Isotermas da água Umidade do alimento Umidade do ambiente O alimento ABSORVE água Umidade do ambiente Umidade do alimento O alimento CEDE água - DESSORÇÃO Isotermas de sorção (ISU) A curva do conteúdo de água do alimento (expressa como massa de água por unidade de massa de matéria seca) versus a Aw. Teor de umidade (g/g de matéria seca) Atividade de água Teor de umidade (g/g de matéria seca) Atividade de água Isotermas de Sorção (ISU): Fornecem informações: - Secagem - Hidratação Facilidade de retirar ou adicionar água está relacionada com a atividade de água do alimento e, ainda para verificar e acompanhar a estabilidade de produtos alimentícios, principalmente durante armazenamento. Tipos de Isotermas: De ADSORÇÃO – adição de água à amostra seca; Se a um alimento totalmente seco for gradualmente adicionado água, e efetuada medidas de atividade água, OBTÉM-SE UMA ISOTERMA DE ADSORÇÃO Tipos de Isotermas: De DESSORÇÃO – acompanhamento de processos de secagem. Se a mesma amostra que foi totalmente hidratada for desidratada e efetuar-se medidas de atividade de água, na mesma temperatura, OBTÉM-SE UMA ISOTERMA DE DESORÇÃO Aplicação dos Isotermas: Mudanças Físicas: Alteração na textura; Aglomeração e aglutinação de pós; Aw que o produto não pode atingir no armazenamento; Requisitos para embalagem; Mistura de ingredientes secos; Estimar vida de prateleira; Determinação da umidade e seleção de umectantes; Água e indústria de alimentos Consumo humano – higiene pessoal; Processamento Limpeza geral e de matéria-prima – incorporação no produto; Lavagem; Cozimento; Resfriamento; Geração de energia etc. Água e indústria de alimentos O fornecimento de água de boa qualidade é essencial ao funcionamento da indústria e, portanto, a água deve ter certas características como: potabilidade (própriapara consumo humano), dureza, teor de metais tóxicos, contagem microbiológica dentro de certos padrões estabelecidos por legislação vigente, ausência de odor e sabor indesejáveis, entre outras. Água e indústria de alimentos A contaminação pode ter conseqüências muito importantes, desde a simples alteração do produto como a perda total das características organolépticas nutricionais ou do valor comercial, até mesmo a produção de intoxicações e infecções alimentares, com variados graus de severidade para o consumidor. Do ponto de vista da saúde pública, a água utilizada nos alimentos deve estar isenta de microrganismos de origem fecal, o que representa uma garantia da qualidade microbiológica da água. Água e indústria de alimentos Do ponto de vista econômico, a quantidade e a vida de prateleira do produto dependem diretamente da qualidade microbiológica da água utilizada em sua produção, visto que, quando se utiliza água contaminada por microrganismos deterioradores, existem grandes possibilidades deste alimento deteriorar-se antes mesmo de sair do local de produção. Água e indústria de alimentos A legislação federal estabelece que: Na manipulação de alimentos somente deve ser utilizada água potável; Para os alimentos prontos para o consumo métodos APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle); Deve ser elaborado um plano de controle microbiológico da água fazer higiene periódica da caixa de água e controle dos bebedouros. Conclusão: Sendo assim, o controle de qualidade da água garante melhor rendimento na produção, durabilidade de produtos nas prateleiras, qualidade de vida e saúde aos consumidores. Trabalhando-se com a água dentro dos padrões de recomendações legais vigentes, a qualidade dos produtos da indústria alimentícia é preservada, tornando o estabelecimento capacitado para a produção de alimentos. Bibliografia: BOBBIO, P.A. Química do processamento de Alimentos. Ed. Varela, 3ª ed., São Paulo, 2001. 641.1 B663q
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