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RESUMO AULA 3

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Aula 3
O biológico e o social: dois conceitos, uma natureza
(...) os cientistas naturais desenvolverem parte de seu trabalho dentro de laboratórios, pois a Natureza é levada para esses laboratórios e examinada por eles. As plantas, por exemplo, são estudadas por biólogos, botânicos, fisiologistas vegetais, sistematas, biotecnólogos vegetais sob enfoques próprios que privilegiam partes específicas do seu corpo e do seu funcionamento. O objetivo de cada um desses grupos de cientistas é conseguir explicar a menor parte possível para compreender a planta. Os cientistas sociais, por sua vez, pretendem explicar a sociedade — formada pelos “homens-entre-eles” — como se ela não mantivesse estreita relação com a Natureza, como se os fenômenos naturais que a afetam não fossem, em parte, sociais, já que são examinados e explicados pelos cientistas dentro dos laboratórios e capazes de provocar controvérsias e alterações na vida de cada um de nós.
(...) a indissociabilidade entre o que é considerado puramente ‘biológico’ e o que entendemos como ‘social’ e as consequências da admissão desta ideia para melhor compreensão das relações entre o homem e a Natureza.
Concepção sobre o mundo e a interpretação dos fenômenos naturais
As sociedades modernas acreditam que conseguem separar suas representações do mundo subjetivo, mítico, enfim, os valores, do mundo que a Ciência, a técnica e a economia lhes permitem conhecer, isto é, os fatos. 
(...) a sociedade científica se pensa diferente das outras que não têm a Ciência como instrumento de leitura de mundo, construindo, assim, uma segunda separação, dessa vez entre nós e eles (LATOUR, 1991). Não haveria, contudo, nessa dupla separação um equívoco?
Em outras palavras, por esse critério, tem-se, de um lado, as sociedades que possuem a Ciência e que, por isso, separam as coisas-em-si (Natureza) dos homens-entre-eles (sociedade) e, de outro, as sociedades que não possuem esse instrumento de leitura do mundo e, por isso, são consideradas primitivas ou pré-científicas,
Latour sugere que façamos um experimento mental bastante elucidativo sobre como o trabalho do antropólogo traduz a influência dessa dupla separação. Convida-nos a imaginar uma antropóloga estudando um grupo, imbuída da ideia segundo a qual somos os únicos realmente capazes de diferenciar de maneira absoluta a Natureza e a cultura, a Ciência e a sociedade, enquanto todos os outros não podem separar o que é conhecimento do que é sociedade, o que é signo do que é coisa, aquilo que vem da Natureza como ela realmente é do que suas culturas acreditam ser. A seus olhos, o grupo que a acolhe confunde o conhecimento do mundo – que a pesquisadora considera como Ciência inata – e as necessidades do funcionamento social, possuindo, portanto, apenas uma visão do mundo, uma representação da Natureza.
A antropóloga chegou à conclusão que esta incompreensão é a prova de que eles são realmente pré-científicos, primitivos.
Latour (1994, p. 96) diz: 
Quando a antropóloga explica a seus informantes que eles não podem separar a natureza da representação social que dão a ela, fi cam chocados e não a compreendem.
A antropóloga concluiu que esta incompreensão é a prova de que eles são “obcecados” pela Ciência, acreditam incondicionalmente em seus procedimentos e resultados.
Concepção de Ciência, visão de mundo e fenômenos naturais
O argumento de Latour nos instiga, assim, a considerar que as duas separações que instituímos não são tão evidentes como nos acostumamos a pensar, uma vez que nossas sociedades modernas relacionam, de um modo bastante elaborado e íntimo, o DNA à paternidade, o átomo às guerras, as plantas medicinais à biopirataria e ao direito de patentes (...)
Diariamente, os jornais (impressos ou falados) veiculam temas e problemas relacionados ao desenvolvimento científico e técnico (...) que nos instigam a tomar posição, emitir opinião ou mesmo agir, organizando ou participando de movimentos sociais em curso.
O que nos parece evidente é que Ciência, Geopolítica, política ambiental e de saúde, economia, interesses e valores estão irremediavelmente ligados entre si há muitos anos, aliás, há séculos, tendo a(s) História(s) da(s) Ciência(s) como testemunha (...) continuamos a acreditar que a Ciência é capaz de estudar as “coisas - em- si” (a Natureza), e que, assim, separamos Natureza e sociedade (dos “homens-entre-eles”). Em outras palavras, acreditamos estar separando humanos e não-humanos.
(...) a contribuição da Antropologia da Ciência à compreensão de uma lista quase interminável de notícias, fatos e situações emaranhadas do cotidiano de nossa sociedade é clara: a Ciência busca “purificar” os objetos, mas o produto do processo de purificação cria objetos que inter-relacionam Natureza e cultura, biológico e social tanto quanto os objetos das sociedades não-científicas, consideradas pré-modernas.
(...) a separação entre os seres humanos e essas entidades é idealizada e, na verdade, segundo Latour, não ocorre do modo como pensamos. De acordo com seus estudos, no esforço de “purificar” os objetos, os cientistas terminam criando objetos que relacionam Natureza e cultura, tal como as sociedades não-científicas.

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