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LETHICIA BEATRIZ Câncer de Pâncreas Caso clínico: Uma paciente do sexo masculino, 75 anos, branco, natural de SP procura o serviço de emergência devido a um quadro de icterícia, colúria e acolia fecal iniciado há uma semana. O paciente relata dor lombar, inapetência e perda ponderal de 20 kg nos últimos seis meses. Ele afirma não ter apresentado doenças prévias. Nega história familiar. Ao realizar exame, verifica-se que o paciente está emagrecido, ictérico (+++/4+) e com sinais vitais normais. Os exames cardiovascular e pulmonar evidenciam normalidade. Abdome: globoso, ruídos hidroaéreos aumentados, com fígado palpável a 2 cm do rebordo costal, baço palpável à inspiração profunda e presença de macicez móvel. Na investigação complementar, não são constatadas alterações no raio X de abdome agudo; o hemograma evidenciou anemia microcítica e hipocrômica; colestase extra- hepática significativa (bilirrubina total de 28,6 mg/dL; bilirrubina direta 20,0 mg/dL; gama-glutamil-transferase [GGT] 1230 U/L; fosfatase alcalina de 300 U/L; alanino- aminotransferase [ALT] de 95 UI/L; aspartato-aminotransferase [AST] de 100 UI/L). Na ultrassonografia de abdome, há dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas, e, na topografia da cabeça do pâncreas, observa-se grande massa, além de trombose das veias esplênica e mesentérica superior. Pede-se ultrassom para ver dilatação de via biliar; OBS: Na ultrassonografia de abdome para ver vias biliares e definir se a icterícia é clínica ou cirúrgica, porque se não tem dilatação de via biliar provavelmente se está diante de icterícia clinica como cirrose, hepatite, insuficiência hepática e anemia hemolítica; e quando tem dilatação de vias biliares tem como hipóteses coledocolitiase, câncer de vias biliares, câncer de pâncreas; Histórico oncológico: - Julho/2017 1°consulta (outra instituição) – icterícia obstrutiva a/e -SO 19/07/17 – achados: -> Lesão irressecável por invasão vascular -> Ausência de ascite ou carcinomatose -> Bx cirúrgica do pâncreas - Neoplasia maligna -> Realizada derivação bilio-digestiva (quando tem um tumor irressecável já faz derivação bilio-digestiva) -> Evoluiu com fístula biliar e coleção abdominal que foi tratado com drenagem percutânea - -1 consulta no ACC dia 16/08/2017 - Estadiamento ACC: Tomografia de Tórax/Abdome/Pelve 21/08/17: -Formação expansiva hipodensa, irregular na cabeça do pâncreas, determinando dilatação do ducto pancreático principal, medindo até 10mm, bem como do colédoco e das vias viliareas intra hepáticas. Tal lesão se encontra em íntimo contato com a veia e artéria mesentérica superior, em menos de 180°. Nota-se também atrofia LETHICIA BEATRIZ parenquimatosa corpo-caudal. -Nódulo pulmonar sólido, podendo corresponder a acometimento neoplásico secundário. -Aerobilia e dilatação das vias biliares intra-hepáticas, colédoco e ducto pancreático principal - PET CT 24/08/17: Observei a presença de área de concentração anômala do 18FDG na topografia abdominal, correspondendo à lesão heterogênea na cabeça do pâncreas, com SUV de 3,1. - Biópsia de nódulo pulmonar: Hamartoma condróide (benigno) – sem metástase - Marcadores Agosto/17: CEA 0,9 CA 19-9 8,9 (marcadores normais) Logo, doença avançada localmente sem metástase TC: - Aerobilia (ar nas vias biliares, isso acontece quando alguma víscera oca está drenando para o fígado, exemplo cálculo na vesícula e se rompe no colo vai ter ar na via biliar; nesse caso tem um motivo de ter ar na via biliar pois fez derivação bilio-digestiva – é feita entre uma alça jejunal e a vesícula biliar ou entre o jejuno e o colédoco) Obs: três troncos que saem na aorta: tronco celíaco, mesentérica superior e mesentérica inferior. OBS: Tronco celíaco: hepática comum, gástrica esquerda e esplênica; Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ - Tumor em cabeça de pâncreas pegando menos de 180° da veia mesentérica superior CÂNCER DE PÂNCREA - Introdução: ● Câncer de Pâncreas, um dos tumores periampulares (CA de pâncreas, vias biliares distais, duodeno e papila - ampola de Vater – icterícia sem dor). Adenocarcinoma da cabeça do pâncreas, geralmente ● Nono mais comum, porém é o terceiro mais fatal (1° pulmão, 2° colón, 3° pâncreas). ● Mais comum em homens - 1,3: 1 ● Prognóstico ruim ● Menos de 5% vivos em 5 anos. E não tem rastreamento eficaz; Obs: Geralmente, quando tira a cauda do pâncreas, tira o baço Obs; Pegou artéria é irressecável obs: dos tumores periampulares o câncer de pâncreas é o pior prognostico, e o de duodeno e ampola é o melhor prognostico. - Pâncreas é um órgão retroperitoneal, ao lado do rim, a cauda do pâncreas fica ao lado do baço (de forma geral se retirar a cauda retira-se também o baço), abraça a artéria e veia mesentérica superior (em relação ao pâncreas a veia é mais medial e arterial mais lateral) LETHICIA BEATRIZ - porção caudal, corpo, colo e cabeça, processo uncinado; e a incisura pancreática (onde estar os vasos – veia e artéria mesentérica) - O ducto pancreático principal se junta com o colédoco e forma a papila maior do duodeno (ampola de vater) Ducto de wirsung (ducto pancreático principal) e existe o ducto de Santorini (desemboca na papila menor) LETHICIA BEATRIZ - veia porta é formada pela união da veia esplênica, veia mesentérica superior e veia mesentérica inferior; se o tumor pegar alguma dessa estrutura é um tumor irressecável Fatores de risco: • Idade • Tabagismo (princ. fator de risco) • Etilismo (etilismo crônico pode dar pancreatite crônica) • Pancreatite crônica • Diabetes *: relação com o CA de pâncreas, ainda não se sabe se é causa ou consequência. Ex. idoso magro e desenvolve diabetes – pode ter neoplasia de pâncreas. • Genético • Síndrome genéticas: ✓ Câncer pancreático familial (do pâncreas mesmo) ✓ Síndrome de Lynch (defeito no reparo do DNA): aumentam a chance de CA de cólon ✓ Polipose adenomatosa familiar: 100% de chance de desenvolver CA de cólon ✓ BRCA 2: síndrome da mama, e tem um pouco mais de chance de desenvolver câncer de pâncreas ✓ Síndrome do melanoma múltiplo familial (paciente tem múltiplos melanomas) ✓ Síndrome de Peutz-Jeghers (síndrome de colón retal, pacientes tem vários harmatomas no intestino) ✓ Pancreatitis hereditária ✓ Fibrose cística: defeito genético, não produz secreção, pacientes com várias pneumonias e pancreatite durante a vida Etiopatogenia: Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ • Oncogene (genes que favorecem o surgimento do câncer) • Gene supressor de câncer: p53 (guardião do genoma) • Síndrome Li-fraumeni: não tem a p53, paciente que tem durante a vida 5-6 canceres; • No câncer o oncogene mudam as células (que eram células ductais viram colunares e depois mandam várias mutações) • Epitélio colunar →Metaplasia colunar →carcinoma in situ • Progressão (genética molecular) • Lesões precursoras (PaIN) até adenocarcinoma ductal invasivo (glândula) QUADRO CLÍNICO: • Icterícia colestática verdínica: mais comum, só vai ter se for na cabeça do pâncreas, pois comprime progressivamente o colédoco • Perda de peso • Dor abdominal: estágio avançado de Ca de corpo ou cauda • Ascite (pois pode dá carcinomatose que leva a ascite) Massa abdominal OBS: tríade clássica do CA de cabeça de pâncreas: icterícia obstrutiva, dor abdominal e perda de peso Exame físico: • Vesícula de Courvoisier: palpa vesícula biliar e indolor • Linfonodo de Virchow: linfonodo supraclavicular aumentado, não é específico do câncer de pâncreas Prateleira de Blumer: nódulos peritoneais pelo toque retal Linfonodo da irmã Maria José: linfonodo periumbilical • Laboratório: • Aumento de bilirrubinas Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ • Aumento da fosfatase alcalina e Gama GT • Aumento dos marcadores tumorais - CEA e CA19-9 (exame de seguimentooncológico, não é diagnostico, não pedir em paciente que não tenha diagnostico oncológico, aumenta em doença benigna também) • CA 19-9: aumenta em dilatação da via biliar, benigna, tem baixa especificidade e sensibilidade Exames de imagem: • Ultrassom abdominal→ primeiro para ver vias biliares, paciente ictérico pede-se 1° USG, se veio dilatação pede-se TC (estadiamento, diagnostico); • TC de abdome/tórax (exame definitivo) • RM de abdômen • Colangiorressonância – ver bem a via biliar, diagnostico • CPRE→deixar para quando for tratar, e em oncológico pode colocar prótese biliar, e consegue fazer biopsia também • USG endoscópico: melhor para ver o tumor no começo, pode fazer biópsia transduodenal • PET-CT (opcional, exame a mais para rastrear, marcador de glicose) TC de abdome total: OBS: Artéria é mais lateral e a veia é mais medial em relação ao tumor RM de abdômen – usa gadolíneo: US endoscópico: Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ - Tumor em cabeça de pâncreas Biópsia: • Percutânea • Transduodenal: faz no momento do tratamento. É uma biópsia por congelação • Via TC ou endoscopia • OBS: faz percutânea em pacientes com terapia paliativa. Deve-se evitar esse tipo de biópsia, pois, na retirada da agulha, pode deixar implantes metastáticos Estadiamento: T: • T1 < 2cm • T2 entre 2-4 cm • T3 > 4 cm. Pode ter invasão de estruturas adjacentes, como estômago, colédoco • T4: pegando órgãos, vasos, tornando irressecável; invadindo eixo celíaco, artéria mesentérica superior e/ou artéria hepática. Paliativo. N: • N1 entre 1-3 • N2 > 4 M: • M0: sem metástase • M1: metástase. Paliativo. Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ Estadiamento 0: in situ Estadiamento 3: linfonodo positivo (N2) Estadiamento 4: metástase Ressecável: é quando não tem nenhuma invasão arterial Bordeline: meio termo, quando pega menor ou igual a 180; Irressecável: pega algum vaso importante Tratamento: Curativo (20% dos casos): T3/N/M0 Paliativo (80% dos casos): T4/N/M1 ● Tumor ressecável: Cirurgia + tratamento adjuvante ● Tumor borderline: Tratamento neoadjuvante + cirurgia ● Tumor irressecável ou metástase ou paciente inoperável (ex. risco cardíaco grave, DPOC grave): ✓ Quimioterapia paliativa: aumentar a expectativa de vida, o objetivo não é curar ✓ Derivação biliar: coloca um dreno, melhora a qualidade de vida. A icterícia por muito tempo pode dar colangite, insuficiência renal e pode dá prurido. 3 tipos: bilio-digestivo (feita entre uma alça jejunal e a vesícula ou entre o jejuno e o colédoco, para diminuir a icterícia), outra é por CPRE, e outra é transparieto (percutânea pelo fígado). LETHICIA BEATRIZ ✓ Dupla derivação: uma hora o tumor vai obstruir o duodeno e o paciente não vai conseguir comer, dupla derivação é deriva a via biliar e a via digestiva colocar uma anastomose gastrojejunal (a comida vai cair direto no jejuno não vai ter que passar pelo duodeno). Faz uma gastrojejunostomia, para diminuir a obstrução duodenal. OBS: linfadenectomia: não parece melhorar sobrevida TUMOR BORDERLINE: • Alto risco de doença residual após cirurgia (R1 ou M1) • Tumor Borderline: alto risco de doença residual após a Cirurgia (R1 ou M1) • Borderline Anatômico: pegar menos de 180 dos vasos, bordeline bioquímico tudo é bom mais o marcador é alto, e o clínico (será que aguenta a cirurgia). Todos esses, faz quimioterapia neoadjuvante e depois cirurgia • Heterogeneidade de definições • MD Anderson / AHPBA / SSAT / SSO • NCCN • Alliance Intergroup • JPS • Tradução de comportamento biológico agressivo De forma geral, o borderline é quando pega menos 180; Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ • Tumor irressecável é o paciente que tem: metástases, comprometimento arterial (tronco celíaco, mesentérica superior ou artéria hepática) • Paciente sem comprometimento arterial ou venoso: tumor ressecável Obs: quando um tumor pegar mais de 180 já é irressecável. obs: se pegar a veia ainda existe a possibilidade de ressecar e fazer reconstrução. Tratamento cirúrgico: • Depende do Estadiamento e do local do tumor • Corpo e cauda do pâncreas - Pancreatectomia corpocaudal + esplenectomia • Cabeça do pâncreas – Duodenopancreatectomia • Definir drenagem de via biliar pré-operatória (paciente de cabeça do pâncreas) Obs: baço não é um órgão vital, órgão de defesa, pode ser removido, o paciente que retirar tem que ficar fazendo vacina do pneumococo, meningococo, haemophilus; se preservar o baço existe uma grande chance da veia esplênica trombosar (paciente vai ter varizes gástricas que podem sangrar e matar paciente) Duodenopancreactectomia: Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ Retira-se parte do estomago, duodeno e parte do pâncreas; Liga a artéria gastroduodenal e gástrica direita; Preserva o jejuno; Faz anastomose pancreática, biliar e gástrica Avaliação de ressecabilidade: • Palpa o tumor (sentir se separa o tumor da veia) • Passa uma pinça para separar o tumor da veia porta - Tumor pegando o vaso Tumor pegando os 2 vasos→ LETHICIA BEATRIZ Comprometimento dos dois vasos→ Margem da SMA: - Ver se a margem foi boa (ver se ficou doença) Anastomoses: pâncreas, estomago e via biliar: LETHICIA BEATRIZ - Reconstrução em alça única, se abrir anastomose leva a fistula pancreática; Pancreatectomia corpocaudal: - Liga a veia e artéria esplênica, retira o baço. Retira-se parte do pâncreas, e sutura, pode dar fístula pancreática; mas não tem anastomose. Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ Tratamento adjuvante e neoadjuvante: Folfirinox modificado (melhor tratamento, é agressivo) Gencitabina + capecitabina (segunda escolha) Opção – quimiorradioterapia Continuação do caso clínico: - Revisão de lâminas ACC: AP: Infiltração por Adenocarinoma pouco diferenciado, com células em anel de sinete IHQ: CK20+, CEA+, CK AE1/AE3+, CK 19+ O perfil imunohistoquímico favorece diagnostico de Adenocarcinoma pouco diferenciado com células em anel de sinete de próvável origem em trato gastrointestinal - Estadiamento - cT3?4?cN0cM0 - Borderline ou Irressecável? Classificado como T3 ●Borderline anatômico ●Cirurgia up front x tratamento neoadjuvante - Proposto Quimioterapia Neoadjuvante com esquema: FOLFIRINOX x6 (realizou apenas 1°ciclo sem Irinotecano) - QT D1C1 Set/17 à Nov/2017 (RP após 6 ciclos)- ATRASO NO TRATAMENTO DE 3 MESES!! - Xeloda concomitante a Radioterapia – término Jan/2018 Após término da neoadjuvancia (foi reestadiado): - TC 19/02/18 Tórax/Abdome/Pelve: Formação expansiva hipodensa, irregular na cabeça do pâncreas, medindo cerca de Maxwell Messias Destacar Maxwell Messias Destacar LETHICIA BEATRIZ 26x25mm, determinando dilatação do ducto pancreático principal, medindo até 8mm, bem como do colédoco e das vias biliares intra-hepáticas. Tal lesão se encontra em intimo contato com a veia mesentérica superior, em menos de 180°. Atrofia parenquimatosa de corpo e cauda do pâncreas. - PO 27/03/2018 – Gastroduodenopancreatectomia, sem ressecção vascular AP: - Neoplasia intraepitelial pancreática grau 2 (lesão pré maligna, a doença regrediu), multifocal associada a pancreatite crônica com áreas de fibrose cicatricial compatível com área de resposta à terapia prévia. Ausência de neoplasia invasiva residual -Margem cirúrgica pancreática, gástrica e duodenal: livres -Foram dissecados 14 linfonodos do tecido adiposo adjacente, todos livres de neoplasia -Linfadenectomia retroperitoneal: foi examinado um linfonodo, livre de neoplasia ypT0ypN0Tratamento cirúrgico do CA de pâncreas – fatores prognósticos • Margens cirúrgicas (R0 prognostico melhor) • Comprometimento linfonodal (prognostico pior com linfonodo positivo) RESUMO: Maxwell Messias Destacar
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