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. 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SEE-BA 
Professor – Língua Portuguesa 
 
I. LITERATURA BRASILEIRA E BAIANA. 
A linguagem literária. ........................................................................................................................... 1 
O Barroco no Brasil. ........................................................................................................................... 19 
O Arcadismo no Brasil. ...................................................................................................................... 23 
O Romantismo – a poesia e a prosa no Brasil. .................................................................................. 28 
O Realismo-Naturalismo no Brasil. .................................................................................................... 34 
O Parnasianismo no Brasil. ................................................................................................................ 38 
O Simbolismo no Brasil. ..................................................................................................................... 40 
A revolução artística do início do século XX....................................................................................... 42 
O Pré-Modernismo no Brasil. ............................................................................................................. 44 
Modernismo no Brasil – poesia e prosa. ............................................................................................ 46 
O Pós-Modernismo. ........................................................................................................................... 52 
Autores Baianos: Gregório de Matos, Frei Francisco Xavier, Luís Gama, Castro Alves, Xavier Marques, 
Jorge Amado, Camilo de Jesus Lima, Adonias Filho, Deoscóredes Maximiliano (Mestre Didi), Herberto 
Sales, Dias Gomes, Ildásio Tavares, João Ubaldo, Antonio Torres, Aleiton Fonseca. ............................ 55 
II. LINGUAGEM E INTERAÇÃO: comunicação e mensagem; código, língua e linguagem; a 
intencionalidade do discurso; ................................................................................................................. 75 
funções da linguagem; ....................................................................................................................... 90 
figuras de linguagem. ......................................................................................................................... 96 
III. LEITURA: Compreensão literal ................................................................................................... 106 
– relações de coerência: ideia de coerência; ideia principal; detalhes de apoio, relações de causa e 
efeito, sequência temporal, sequência espacial, relações de comparação e contraste. ........................ 109 
O processo de letramento. ............................................................................................................... 124 
Relações coesivas: referência, substituição, elipse, repetição. ........................................................ 126 
Indícios contextuais: definição, exemplo modificadores, recolocação, estruturas paralelas, conectivos, 
repetição de palavras chave. ................................................................................................................ 129 
Relações de sentido entre palavras: sinonímia/antonímia/hiperonímia/hiponímia/campo 
semântico. ............................................................................................................................................ 135 
Compreensão interpretativa: propósito do autor, informações implícitas, distinção entre fato e 
opinião.................................................................................................................................................. 143 
Organização retórica: generalização, exemplificação, descrição, definição, 
exemplificação/especificação, explanação, classificação, elaboração. ................................................. 147 
Seleção de inferência: compreensão crítica. .................................................................................... 157 
1378578 E-book gerado especialmente para ANDREA DA SILVA MACHADO MORAIS
 
. 2 
 
IV. PRODUÇÃO DE TEXTOS: Gêneros textuais; tipologia textual; .................................................. 163 
novo acordo ortográfico; .................................................................................................................. 189 
recursos estilísticos e estruturais (aspectos textuais, gramaticais e convenções da escrita). ........... 192 
Fatores constitutivos de relevância – coerência e coesão. ............................................................... 209 
V. ANÁLISE LINGUÍSTICA: norma culta e variedades linguísticas; ................................................. 224 
a relação entre a oralidade e a escrita; a linguagem da Internet. ..................................................... 234 
Aspectos gramaticais: Estrutura da frase: modos de construção de orações segundo diferentes 
perspectivas de ordenação. .................................................................................................................. 246 
Estrutura do vocábulo: flexão dos vocábulos, seu valor e significação dentro de frases. ................. 257 
Aspectos normativos: regras padrão de concordância, regência e colocação. ................................. 270 
Emprego de certas formas e palavras: modos verbais, aspectos verbais, ....................................... 312 
pronome relativo, ............................................................................................................................. 329 
conjunção, ....................................................................................................................................... 331 
pronome de tratamento, ................................................................................................................... 336 
pontuação, ....................................................................................................................................... 340 
ortografia. ........................................................................................................................................ 350 
Descrição linguística: unidades linguísticas: orações, sintagmas, palavras, morfemas. ................... 364 
Categorias semânticas: gênero, número, tempo, modo aspectos, classificação dos vocábulos,...... 379 
processos de coordenação e subordinação, .................................................................................... 432 
funções sintáticas e papéis semânticos. .......................................................................................... 442 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Candidatos ao Concurso Público, 
O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas 
relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom 
desempenho na prova. 
As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar 
em contato, informe: 
- Apostila (concurso e cargo); 
- Disciplina (matéria); 
- Número da página onde se encontra a dúvida; e 
- Qual a dúvida. 
Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O 
professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. 
Bons estudos! 
1378578 E-book gerado especialmente para ANDREA DA SILVA MACHADO MORAIS
 
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Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante 
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica 
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida 
conceitual. Em qualquer situação, solicitamosa comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente 
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores@maxieduca.com.br 
 
Obra Literária 
 
Uma obra literária apresenta-se a nós, em princípio, como uma realidade concreta. Essa realidade 
concreta é apenas a forma da obra, sua expressão, porque seu conteúdo, ou aquilo que ela expressa, é 
uma realidade abstrata, que existiu no espírito do autor e passará a existir no espírito dos seus leitores, 
auditores ou espectadores. Os elementos fundamentais da obra literária: forma e conteúdo. A forma, 
expressão ou linguagem, é um elemento concreto e estruturado. Concreto porque podemos ler, ouvir ou 
ver e podemos analisar objetivamente. A forma é o elemento que fixa o conteúdo e o transmite do espírito 
do escritor ao do leitor, auditor ou espectador. O conteúdo fixado e carregado pela forma é uma realidade 
imaterial; por exemplo: as personagens de um romance e suas ações são criadas pela imaginação do 
escritor, e passam a existir para o leitor apenas na sua imaginação. 
 
O conteúdo e a forma de uma palavra, de uma frase e de uma obra surgem concomitantemente no ato 
criador do artista e concomitantemente se impõem à consciência do leitor, auditor e espectador. Daí dizer-
se que formam uma unidade. Conteúdo e forma são, portanto, realidades concomitantes no espírito e, de 
tal modo inter-relacionadas e interativas, que a Teoria da Literatura as vê como unidade perfeita. Se 
penetrarmos profundamente no espírito do escritor chegaremos à conclusão de que um escritor, apesar 
do empenho que põe em expressar o máximo de estado emocional que o domina, o máximo de sua 
intuição da realidade e o máximo de seu pensamento, depois de realizada sua obra ainda fica dentro de 
si muita coisa que ele não conseguiu dizer. No ato criador do artista há um fundo indizível que é um 
conteúdo sem forma. 
 
A Obra Literária: suas formas 
 
Na música a forma é o som, a frase musical, o ritmo, a harmonia e a melodia; na pintura é a linha, o 
desenho, a composição, a perspectiva e a cor; na escultura e na arquitetura são os volumes, suas formas 
e sua composição; na coreografia são as posições e os movimentos rítmicos; e na literatura é fácil 
compreender, a forma é a linguagem, composta de fonemas, palavras, frases e, quando escrita, 
transformada em imagem visual. A linguagem falada e escrita não é apenas o processo usado para nos 
comunicarmos com os nossos semelhantes, mas também a forma ou “material” que os escritores 
trabalham para conseguir expressar, da melhor maneira, o que conscientizam de seus estados criativos. 
 
Tipos de Forma ou Linguagem 
 
Um escritor não é apenas um homem que pensa e sente de modo diferente do comum dos homens; é 
também um artista, que se empenha, tecnicamente, na expressão estrutural da obra, para que a estrutura 
obtida seja a mais adequada ao conteúdo que deseja expressar e a mais eficaz para levar o leitor a 
compreender e sentir sua obra. 
 
A Arte de Escrever 
 
A arte de escrever não consiste em saber a gramática da língua em que se escreve; é infinitamente 
mais: é saber obter todos os efeitos nocionais, sonoros e visuais da expressão linguística; e quando os 
materiais linguísticos manipulados não satisfazem às necessidades expressivas do estado criativo ou 
artístico, a arte de escrever passa a ser também criadora de expressão. 
 
 
 
I. LITERATURA BRASILEIRA E BAIANA. 
A linguagem literária. 
1378578 E-book gerado especialmente para ANDREA DA SILVA MACHADO MORAIS
 
. 2 
A Obra Literária: sua forma poemática 
 
Quem pensa em estabelecer a diferença entre prosa e verso ou, entre forma prosaica e forma 
poemática, parte do princípio de que a prosa é a linguagem natural, enquanto que a linguagem da poesia 
é artificial. 
 
- A prosa literária, se bem semelhante à linguagem comum, não é, evidentemente, uma linguagem 
comum, pois é sempre o resultado de um trabalho estético do escritor. 
- A linguagem poemática é também trabalhada estilisticamente pelo escritor. 
- Poesia é o conteúdo do poema; e nesse caso o poema resulta em ser a expressão ou a forma da 
poesia (distinção que de pronto percebemos quando verificamos que poesia só os poetas são capazes 
de criar; ao passo que poema qualquer pessoa aprende a construir). 
 
Relação entre conteúdo da obra literária e a realidade 
 
Realidade é tudo aquilo de que temos consciência. Todos os seres, concretos e abstratos, verdadeiros 
ou imaginados, e todos os fatos ou fenômenos passam a ser, para nós, realidade, desde que sejam objeto 
de nossa consciência. Ao conscientizarmos uma realidade, criamos, no espírito, uma ideia (noção 
abstrata) ou uma imagem (figuração) dessa realidade. O conteúdo de uma obra literária é um conjunto 
de ideias e imagens da realidade ou supra realidade. 
 
Os dois Mundos da Realidade: o Natural e o Sobrenatural 
 
A realidade física chega a esse psiquismo por intermédio de nossas percepções sensoriais (vista, 
olfato, audição, paladar, tato, etc.) a realidade psíquica é esse mesmo psiquismo, de cujos fenômenos 
extremamente complexos temos consciência (os sentimentos; as manifestações do inconsciente; o 
raciocínio). O mundo sobrenatural – mundo sem as limitações impostas ao nosso mundo pelas leis da 
natureza física e psíquica. No conteúdo das obras literárias podem ser tanto uma imagem do mundo 
natural (físico e psicológico) como do sobrenatural. A arte literária é um tipo de conhecimento da realidade. 
 
Os Gêneros Literários 
 
Gênero Lírico 
 
É certo tipo de texto no qual um eu lírico exprime suas emoções, ideias e impressões ante o mundo 
exterior. Normalmente os pronomes e os verbos estão em 1ª pessoa e há predomínio da função emotiva 
da linguagem. 
 
Ardo em desejo na tarde que arde! Oh, como é belo dentro de mim Teu corpo de ouro no fim da tarde: 
Teu corpo que arde dentro de mim Que ardo contigo no fim da tarde. 
 
Manuel Bandeira 
 
Olhei até ficar cansado 
De ver os meus olhos no espelho 
Chorei por ter despedaçado 
As flores que estão no canteiro 
 
Os pulsos e os punhos que estão cortados 
E o resto do meu corpo inteiro 
 
Titãs 
 
Gênero Épico: Nesse gênero há a presença de um narrador, que quase sempre conta uma história 
que envolve terceiros. Isso implica certo distanciamento entre o narrador e o assunto tratado, o que não 
ocorre no gênero lírico. Os verbos e os pronomes quase sempre estão na 3ª pessoa, porque se trata 
“dele” ou “deles”. Além disso, os textos épicos pressupõem a presença de um ouvinte ou de uma plateia. 
Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias de um povo ou uma nação. Envolvem 
1378578 E-book gerado especialmente para ANDREA DA SILVA MACHADO MORAIS
 
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aventuras, guerras, viagens, gestos heroicos e apresentam um tom de exaltação, isto é, de valorização 
de heróis e seus feitos. 
 
e) O pai aludiu da época: Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, 
não há um narrador contando a história. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada por atores, que 
assumem os papeis das personagens. Todo o texto se desenrola a partir de diálogos, obrigando a uma 
sequência rigorosa das cenas e de suas relações de causa e consequência. 
 
Estilos de Época 
 
O homem se modifica através dos tempos e, com ele, mudam também as formas de expressão 
acústica. 
 
ERA MEDIEVAL 
Primeira Época (Trovadorismo) Segunda Época 
1189(?)1198 1434 
“Cantiga da Ribeirinha” de Paio Soares de 
Taveirós 
Criação do cargo cronista-mor do reino 
D. Dinis 
Martim Codax 
João Garcia de Guilhade 
Peri da Ponte 
Fernão Lopes 
Gil Vicente 
Garcia de Resende 
 
A Plurissignificação da Linguagem Literária 
 
Denotação: 
- palavra com significação restrita; 
- palavra com sentido comum, aquele encontrado no dicionário; 
- palavra utilizada de modo objetivo; 
- linguagem exata e precisa. 
 
Conotação: 
- palavra com significação ampla, criada pelo contexto; 
- palavra com sentidos que carregam valores culturais e sociais;- palavra utilizada de modo criativo, artístico; 
- linguagem expressiva, rica em sentimentos. 
 
Texto Literário e Não Literário 
 
Texto literário: 
- linguagem pessoal, contaminada pelas emoções e valores; 
- linguagem plurissignificativa, conotativa; 
- função poética da linguagem; 
- recriação da realidade, intenção estética; 
- ênfase na expressão. 
 
Texto não literário: 
- linguagem impessoal, objetiva, informativa; 
- linguagem que tende à denotação; 
- função referencial da linguagem; 
- informações sobre a realidade. 
 
Funções da Linguagem 
 
Diálogo das funções: numa mesma mensagem, porém, várias funções podem ocorrer, uma vez que, 
atualizando concretamente possibilidades de uso do código, entrecruzam-se diferentes níveis de 
linguagem. 
 
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Função Referencial da Linguagem 
 
- Função cognitiva, ou referencial ou denotativa é a função que ocorre quando o destaque é dado ao 
referente, ou seja, ao contexto, ao assunto. A intenção principal do autor é informar o leitor. As principais 
características desse tipo de texto são: 
- Objetividade: linguagem direta, precisa, denotativa. 
- Clareza nas ideias; 
- Finalidade é traduzir a realidade, tal como ela é; 
- Presença predominante em textos informativos, jornalísticos, textos didáticos, científicos. 
 
Função Poética da Linguagem 
 
- Ocorre quando a própria mensagem é posta em destaque, ou seja, chama-se a atenção para o modo 
como foi organizada a mensagem; 
- Centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, 
sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. 
- Exemplos de textos poéticos: além dos provérbios e letras de música, conforme citado, encontramos 
esse tipo de função em textos escritos em prosa, em slogans, ditos populares. Logo, não se trata de uma 
função exclusivamente encontrada em poesias. 
 
O que é literatura? Literatura é a arte da palavra. Recria a realidade, dando origem a uma supra 
realidade ou realidade ficcional. 
 
Os Gêneros Literários 
 
- Gênero Lírico: é certo tipo de texto no qual um eu-lírico (a voz que fala no poema, que nem sempre 
corresponde à do autor) exprime suas emoções, ideias e impressões ante o mundo exterior. 
- Gênero Épico: Nesse gênero há a presença de um narrador, que quase sempre conta uma história 
que envolve terceiros. Isso implica certo distanciamento entre o narrador e o assunto tratado, o que não 
ocorre no gênero lírico. Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias de um povo ou uma 
nação. Envolvem aventuras, guerras, viagens, gestos heroicos e apresentam um tom de exaltação, isto 
é, de valorização de heróis e seus feitos. 
- Gênero Dramático: Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, não 
há um narrador contando a história. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada por autores, que 
assumem os papéis das personagens. 
 
Trovadorismo (Século XII –XIV) 
 
- Trovador: membro da nobreza ou do clero; era o autor da letra e da música das composições que 
executava para o seleto público das cortes. 
- Jogral: cantor de origem popular, raramente compunha, limitando-se a executar composições dos 
trovadores. 
- no Trovadorismo: os poemas eram sempre cantados e acompanhados de instrumentos musicais e 
de dança – por isso o nome das produções poéticas é Cantiga. 
- as cantigas: foram reunidas em cancioneiros (coleções de cantigas), merecendo destaque: 
- O Cancioneiro da Ajuda; 
- O Cancioneiro da Vaticana; 
- O Cancioneiro da Biblioteca Nacional. 
- o primeiro texto literário em galego-português de que se tem registro data do final do século XII – 
Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga da Guarvaia (Garvaia) do escritor Paio Soares de Taveirós. 
 
Características Gerais da Linguagem das Cantigas 
 
Quanto à forma: 
- estrutura simples, de fácil memorização; 
- repetição de palavras e versos inteiros; 
- presença constante de refrãos; 
- escrito em galego-português. 
 
1378578 E-book gerado especialmente para ANDREA DA SILVA MACHADO MORAIS
 
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Quanto ao conteúdo: 
- lírica – temas de amor e saudade. 
- satírica – crítica aos costumes. 
 
A Lírica 
 
Cantigas de Amigo: 
- ambientação rural; 
- linguagem e estrutura simples; 
- tema frequente: lamento amoroso da moça cujo namorado partiu para a guerra. 
 
Cantigas de Amor: 
- amor cortês; 
-coita amorosa (sofrimento); 
- o homem é submisso à amada, sendo o homem um vassalo e a amada uma suserana. 
 
A Satírica 
 
Cantigas de Escárnio: 
-crítica indireta; 
-linguagem trabalhada, com sutilezas; 
-ironia. 
 
Cantigas de Maldizer: 
- crítica direta; 
- linguagem agressiva, obscena; 
- zombaria. 
 
- os poemas eram sempre cantados e acompanhados de instrumentos musicais e de dança. Por esse 
motivo foram denominados cantigas. 
- criadas por um trovador (alguém que fazia Trovas, Rimas), as cantigas deram origem ao 
Trovadorismo, período na Literatura Portuguesa que se entendeu do século XII a meados do século XIV. 
 
Características da Cantiga Trovadoresca 
 
Os paralelismos têm um papel importante na construção das cantigas, pois facilitam a memorização 
do texto e assim, sua transmissão oral. Além de refrão, outros dois tipos de paralelismos são frequentes 
nas cantigas: o paralelismo de par de estrofes e o leixa-pren (deixa-toma) Observe: 
 
 
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. 6 
Apesar de algumas diferenças, as cantigas trovadorescas que se enquadram no gênero lírico 
geralmente tratam de temas como amor e saudade. As que se enquadram no gênero satírico se voltam 
à crítica de costumes. 
 
Cantiga da Ribeirinha 
 
No mundo non me sei parelha, 
Mentre me for como me vay, Ca já moiro por vos – e ay! 
Mia senhor branca e vermelha, 
Queredes que vos retraya Quando vus eu vi en saya! 
Mao dia me levantei, 
Que vus enton non vi fea! 
E mia senhor, dês aquel di’ay! Me foi a mi muyn mal, 
E vos, filha de Don Paay 
Moniz, e bem vus semelha D’aver eu por vos guarvaya, Pois eu, mia senhor, d’alfaya Nunca de nos 
ouve nen ei Valia d’ua Correa. 
 
Tradução para a Língua Portuguesa 
 
No mundo não conheço Ninguém igual a mim, 
Enquanto acontecer o Que me aconteceu, 
Pois eu morro por vós e ai! Minha senhora alva e rosada, 
Quereis que vos lembre 
Que já vos vi na intimidade! Em mau dia eu me levantei 
Pois vi que não sois feia! E, minha senhora 
Desde aquele dia, ai! 
Venho sofrendo de um grande mal 
Enquanto vós, filha de Dom Paio Muniz, a julgar forçoso 
Que eu lhe cubra com o manto 
Pois eu, minha senhora 
Nunca recebi de vós 
A coisa mais insignificante. 
 
O Trovadorismo: foi a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Surgiu no século XII, em 
plena Idade Média, período em que Portugal estava no processo de formação nacional. 
 
Humanismo 
 
- Humanismo é o nome que se dá à produção escrita do final da Idade Média e início da Idade Moderna, 
ou seja, parte do século XV e início do século XVI, mais precisamente, de 1434 a 1527. 
- Há três tipos de atividades literárias que mais se destacam nesse período: a produção historiográfica 
de 
- Fernão Lopes, a produção poética dos nobres, por isso dita Poesia Palaciana e a atividade teatral de 
Gil Vicente. 
- no final do século XV, a Europa passava por grandes mudanças, provocadas por invenções como a 
bússola (China), pela expansão marítima que incrementou a indústria naval e o desenvolvimento do 
comércio com a substituição da economia de subsistência, levando a agricultura a se tornar mais intensiva 
e regular. 
- deu-se o crescimento urbano, especialmente das cidades portuárias, o florescimento de pequenas 
indústrias e todas as demais mudanças econômicas provenientes do Mercantilismo, inclusive o 
surgimento da burguesia. 
- todas essas alterações foram agilizadas com o surgimento dos humanistas, estudiosos da cultura 
clássica antiga. Alguns eram ligados à Igreja; outros, artistas ou historiadores,independentes ou 
protegidos por mecenas. 
- esses estudiosos tiveram uma importância muito grande porque divulgaram, de forma mais 
sistemática os novos conceitos, além de identificarem e valorizarem os direitos dos cidadãos. 
- acabaram por situar o homem como senhor de seu próprio destino e elegeram-no como a razão de 
todo conhecimento, estabelecendo, para ele, um papel de destaque no processo universal e histórico. 
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. 7 
- essas mudanças na consciência popular, aliados ao fortalecimento da burguesia, graças à 
intensificação das atividades agrícolas, industriais e comerciais, foram, lenta e gradativamente, minando 
a estrutura e o espírito medieval. 
- Em Portugal, todas essas alterações se fizeram sentir, evidentemente, ainda que algumas pudessem 
chegar ali com menor força ou, talvez, difusas, sobretudo porque o impacto maior vivido pelos 
portugueses foi proporcionado pela Revolução de Avis (1383-1385), na qual D. João, mestre de Avis, foi 
ungido rei, após liderar o povo contra injunções de Castela. 
- alguns fatores ligados a esse quadro histórico indicam sua influência no rumo que as manifestações 
artísticas tomaram em Portugal. 
 
São eles: 
- as mudanças processadas pelo país pela Revolução de Avis; 
- os efeitos mercantilistas; 
- a conquista de Ceuta (1415) fato que daria início a um século de expansionismo lusitano; 
- o envolvimento do homem comum com uma vida mais prática e menos lirismo cortês, morto em 1325; 
- o interesse de novos nobres e reis por produções literárias diferentes do lirismo; 
 
Tudo isso explica a restrição do espaço para o exercício e a manifestação da imaginação poética, a 
marginalização da arte lírica e o fim do Trovadorismo. A partir daí, o ambiente se tornou mais propício à 
crônica e à prosa histórica, ao menos nas primeiras décadas do período. 
 
Características do Humanismo 
 
Culturalmente, a melhoria técnica da imprensa propiciou uma divulgação mais ampla e rápida do livro, 
democratizando um pouco o acesso a ele. O homem desse período passa a se interessar mais pelo 
saber, convivendo com a palavra escrita. Adquire novas ideias e outras culturas como a Greco-latina. O 
homem, sobretudo, percebeu-se capaz, importante, agente. Acreditando-se dotado de “livre arbítrio”, isto 
é, capacidade de decisão sobre a própria vida, não mais determinada por Deus, afasta-se do 
teocentrismo, assumindo, lentamente, um comportamento baseado no antropocentrismo. 
Isso implica profundas transformações culturais, de uma postura religiosa e mística, o homem passa 
gradativamente a uma posição racionalista. O Humanismo funcionará como um período de transição entre 
duas posturas. Por isso, a arte da época é marcada pela convivência de elementos espiritualistas 
(teocêntricas) e terrenos (antropocêntricos). A Historiografia, a poesia, a prosa doutrinária e o teatro 
apresentaram características específicas. 
 
Prosa Doutrinária: Com o aumento de interesse pela leitura, houve um significativo e rápido 
crescimento da cultura com o surgimento de bibliotecas e a intensificação de traduções de obras religiosas 
e profanas, além de atualização de escritos antigos. Esse envolvimento com o saber atingiu também a 
nobreza, a ponto de as crônicas históricas passarem a ser escritas pelos próprios reis, especificamente 
da dinastia de Avis, com os exemplos de D. João I, D. Duarte e D. Pedro. Essa produção recebeu o nome 
de doutrinária, porque incluíam a atitude de transmitir ensinamentos sobre certas práticas diárias, e sobre 
a vida. 
 
Poesia Palaciana: O Mercantilismo e outros acontecimentos de âmbito português modificaram o gosto 
literário do público, diminuindo-o quanto à produção lírica, o que manteve a poesia enfraquecida durante 
um século (mais ou menos de 1350 a 1450). No entanto, em Portugal, graças à preferência do rei D. 
Afonso V (1438-1481), abriu-se um espaço na corte lusitana para a prática lírica e poética. Assim, essa 
atividade literária sobreviveu em Portugal, ainda que num espaço restrito, e recebeu o nome de Poesia 
Palaciana, também identificada por quatrocentista. Essa produção poética tem certa limitação quanto aos 
conteúdos, temas e visão de mundo, porque seus autores, nobres e fidalgos, abordavam apenas 
realidades palacianas, como assunto de montaria, festas, comportamentos em palácios, modas, trajes e 
outras banalidades sem implicação história abrangente. O amor era tratado de forma mais sensual do 
que no Trovadorismo, sendo menos intensa a idealização da mulher. Também neste gênero poético, 
ocorre a sátira. 
Formalmente são superiores à poesia trovadoresca, seja pela extensão dos poemas graças à cultura 
dos autores, seja pelo grau de inspiração, seja pela musicalidade ou mesmo pela variedade do metro 
estes dois últimos recursos conferiam a cada poema a chance de possuírem ritmo próprio. A diferença 
mais significativa em relação às cantigas do Trovadorismo é que as poesias palacianas foram desligadas 
da música, ou seja, o texto poético passou a ser feito para a leitura e declamação, não mais para o canto. 
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O Teatro Vicentino 
 
O teatro vicentino tem como característica principal a sátira. Por meio dela Gil Vicente criticou todas 
as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo. Apesar de sua extrema religiosidade o alvo das sátiras 
de Gil era o frade que se entregava enlouquecidamente aos amores proibidos, a venda de indulgências, 
ao misticismo, ao mundanismo, à depravação dos costumes. Gil não fez exceção à hierarquia clerical; 
criticou desde o frade de aldeia até o papa. No âmbito dos fiéis, criticou aqueles que rezavam 
mecanicamente; os que solicitavam, a Deus, favores pessoais e os que assistiam à missas por obrigação 
social: 
Sapateiro: Quantas missas eu ouvi, / nom me hão elas de prestar? Diabo: Ouvir missa, então roubar 
– / é caminho para aqui. (diálogo entre um sapateiro e o Diabo; enxerto do Auto da Barca do Inferno). 
Digno de observação é que, no teatro de Gil Vicente, o diabo nunca força ninguém ao pecado. As próprias 
pessoas o cometem por si só. Por exemplo: na peça Auto da Feira, o Diabo, do mesmo modo que um 
camelô, monta sua banca para oferecer os pecados, quando é interpelado por um anjo que assim 
argumenta o Diabo: 
 
[...] 
Mas cada um veja o que faz, porque eu não forço ninguém. Se me vem comprar qualquer clérigo, ou 
leigo, ou frade falsas manhas de viver, muito por sua vontade, senhor, que lhe hei-de-fazer? 
Outra classe social muito criticada por Gil foi a baixa nobreza, representada pelo fidalgo decadente. 
Por outro lado, ele tinha especial carinho pelo "lavrador", que considerava o "verdadeiro povo", vítima da 
exploração de toda a estrutura social: 
Sempre é morto quem do arado há - de viver. 
Nos somos a vida das gentes, E morte de nossas; 
A tiranos – pacientes 
Que a unhas e a dentes nos tem as almas roídas. 
[...] 
(excerto do Auto da Barca do Purgatório) 
 
Dos outros tipos humanos que povoaram os textos de Gil Vicente temos: O judeu ganancioso; a velha 
beata, o médico incompetente, a mulher adúltera, o padre corrupto, o sapateiro que rouba o povo, a 
alcoviteira, o velho apaixonado que se deixa roubar. Gil Vicente não tem a preocupação de fixar tipos 
psicológicos, e sim sociais; pondo em relevo os vícios da época. Ridiculariza a imperícia dos médicos 
(físicos) na Farsa dos Físicos; as práticas da feitiçaria, no Auto das Fadas, o relaxamento dos costumes 
clericais, no Clérigo da Beira, no Auto da Barca do Inferno e na Farsa de Inês Pereira. Porém, a maior 
parte das personagens de seu teatro, não tem nome de batismo; são designados pela profissão ou pelo 
tipo humano que representam. 
Quanto à forma (cenários e montagens) o teatro de Gil é extremamente simples. O texto apresenta 
estrutura poética, com predomínio da redondilha maior, havendo varias cantigas populares no corpo de 
sua peça, promovendo a participaçãoda plateia. A produção completa de Gil Vicente constitui-se de 44 
peças, sendo 17 escritas em português, 11 em castelhano e 16 bilíngues. 
 
O Auto da Barca do Inferno 
 
Antes de mais nada, "auto" é uma designação genérica para peça, pequena representação teatral. 
Originário na Idade Média, tinha de início caráter religioso; depois tornou-se popular, para distração do 
povo. Foi Gil Vicente (1465-c. 1537) que introduziu esse tipo de teatro em Portugal. O "Auto da Barca do 
Inferno" (1517) representa o juízo final católico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário é 
uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada pelo 
diabo, e a outra, com destino ao paraíso, comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguardam os 
mortos, que são as almas que seguirão ao paraíso ou ao inferno. 
 
Chegam os mortos 
 
Os mortos começam a chegar. Um fidalgo é o primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao 
inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao fidalgo que embarque. Este, arrogante, 
julga-se merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-
se, frustrado, para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a deixá-lo rever sua amada, pois esta 
"sente muito" sua falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela o estava enganando. 
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Um agiota chega a seguir. Ele também é condenado ao inferno por ganância e avareza. Tenta 
convencer o anjo a ir para o céu, mas não consegue. Também pede ao diabo que o deixe voltar para 
pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba na barca do inferno. O terceiro indivíduo a chegar 
é o parvo (um tolo, ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca do inferno; quando o parvo 
descobre qual é o destino dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua humildade, permite-lhe 
entrar na barca do céu. 
 
O frade e a alcoviteira 
 
A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida 
enganou muitas pessoas, e tenta enganar também o diabo. Como não consegue, recorre ao anjo, que o 
condena como alguém que roubou do povo. O frade é o quinto a chegar... com sua amante. Chega 
cantarolando. Sente-se ofendido quando o diabo o convida a entrar na barca do inferno, pois, sendo 
representante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, condenado ao inferno por falso moralismo 
religioso. 
Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são 
"seiscentos virgos postiços". Virgo é hímen, representa a virgindade. Compreendemos que essa mulher 
prostituiu muitas meninas virgens, e "postiço" nos faz acreditar que enganara seiscentos homens, dizendo 
que tais meninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o anjo a levá-la na barca do céu inutilmente. 
Ela é condenada por prostituição e feitiçaria. 
 
De judeus e "cristãos novos" 
 
A seguir, é a vez do judeu, que chega acompanhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo, 
pedindo para embarcar, mas até o diabo recusa-se a levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com 
a desculpa de não transportar bodes, o aconselha a procurar outra barca. O judeu fala então com o anjo, 
porém não consegue aproximar- se dele: é impedido, acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o 
diabo aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua barca, e, sim, rebocados. Tal trecho faz-
nos pensar em preconceito antissemita do autor, porém, para entendermos por que Gil Vicente deu tal 
tratamento a esse personagem, precisamos contextualizar a época em que o auto foi escrito. Durante o 
reinado de dom Manuel, de 1495-1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os que ficaram, 
tiveram que se converter ao cristianismo, sendo perseguidos e chamados de "cristãos novos". Ou seja, 
Gil Vicente segue, nesta obra, o espírito da época. 
 
Representantes do judiciário 
 
O corregedor e o procurador, representantes do judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e 
processos. Quando convidados pelo diabo para embarcarem, começam a tecer suas defesas e 
encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, o anjo os impede de entrar: são condenados à barca do inferno 
por manipularem a justiça em benefício próprio. Ambos farão companhia à Brísida Vaz, revelando certa 
familiaridade com a cafetina - o que nos faz crer em trocas de serviços entre eles e ela... 
O próximo a chegar é o enforcado, que acredita ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado 
e enforcado. Mas também é condenado a ir ao inferno por corrupção. Por fim, chegam à barca quatro 
cavaleiros que lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes são recebidos pelo anjo e perdoados 
imediatamente. 
 
O bem e o mal 
 
Como você percebeu, todos os personagens que têm como destino o inferno possuem algumas 
características comuns, chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu apego à vida; por 
isso, tentam voltar. E os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e puros. Você pode perceber 
que o mundo aqui ironizado pelo autor é maniqueísta: o bem e o mal, o bom e o ruim são metades de um 
mundo moral simplificado. O "Auto da Barca do Inferno" faz parte de uma trilogia (Autos da Barca "da 
Glória", "do Inferno" e "do Purgatório"). Escrito em versos de sete sílabas poéticas, possui apenas um 
ato, dividido em várias cenas. A linguagem entre os personagens é coloquial - e é através das falas que 
podemos classificar a condição social de cada um dos personagens. 
 
 
 
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Valores de duas épocas 
 
Escrita na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a obra oscila entre os valores morais de 
duas épocas: ao mesmo tempo em que há uma severa crítica à sociedade, típica da Idade Moderna, a 
obra também está religiosamente voltada para a figura de Deus, o que é uma característica medieval. A 
sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é "rindo, corrigem-se os defeitos da 
sociedade". A obra tem, portanto, valor educativo muito forte. A sátira vicentina serve para nos mostrar, 
tocando nas feridas sociais de seu tempo, que havia um mundo melhor, em que todos eram melhores. 
Mas é um mundo perdido, infelizmente. Ou seja, a mensagem final, por trás dos risos, é um tanto 
pessimista. 
 
O Renascimento Cultural 
 
Como já sabemos anteriormente que a intensificação do comércio e da produção artesanal resultou 
no desenvolvimento das cidades, no surgimento de uma nova classe social a burguesia e na posterior 
formação das monarquias nacionais. Estas transformações vieram acompanhadas de uma nova visão de 
mundo, que se manifestou na arte e na cultura de maneira de geral. A cultura medieval se caracterizava 
pela religiosidade. A Igreja Católica, como vimos, controlava as manifestações culturais e dava uma 
interpretação religiosa para os fenômenos da natureza, da sociedade e da economia. A esta cultura deu-
se o nome de teocêntrica (Deus no centro). A miséria, as tempestades, as pragas, as enchentes, as 
doenças e as más colheitas eram vistas como castigos de Deus. Assim como a riqueza, a saúde, as boas 
colheitas, o tempo bom, a fortuna eram bênçãos divinas. A própria posição que o indivíduo ocupava na 
sociedade (nobre, clérigo ou servo) tinha uma explicação religiosa. 
A arte medieval, feita normalmente no interior das Igrejas, espelhava esta mentalidade. Pinturas e 
esculturas não tinham preocupações estéticas e sim pedagógicas: mostrar a miséria do mundo e a 
grandiosidade de Deus. As figuras eram rústicas, desproporcionais e acanhadas. Os quadros não tinham 
perspectiva. Como as obras de arte eram de autoria coletiva, o artista medieval é anônimo. A literatura 
medieval era composta de textos teológicos, biografias de santos e histórias de cavalaria. Isto refletia o 
domínio da Igreja e da nobreza sobre a sociedade. Essa visão de mundonão combinava com a 
experiência burguesa. Essa nova classe devia a sua posição social e econômica ao seu próprio esforço 
e não à vontade divina, como o nobre. 
O sucesso nos negócios dependia da observação, do raciocínio e do cálculo. Características que se 
opunham às explicações sobrenaturais, próprias da mentalidade medieval. Por outro lado, era uma classe 
social em ascensão, portanto otimista. Sua concepção de mundo era mais materialista. Queria usufruir 
na terra o resultado de seus esforços. E também claro que o comerciante burguês era essencialmente 
individualista. Quase sempre, o seu lucro implicava que outros tivessem prejuízo. A visão de mundo da 
burguesia estará sintonizada com a renovação cultural ocorrida nos fins da Idade Média e no começo da 
Idade Moderna. A essa renovação denominamos Renascimento. 
 
Características do Renascimento Cultural 
 
O Renascimento significou uma nova arte, o advento do pensamento científico e uma nova literatura. 
Nelas estão presentes as seguintes características: 
- antropocentrismo (o homem no centro): valorização do homem como ser racional. Para os 
renascentistas o homem era visto como a mais bela e perfeita obra da natureza. Tem capacidade criadora 
e pode explicar os fenômenos à sua volta. 
- otimismo: os renascentistas acreditavam no progresso e na capacidade do homem de resolver 
problemas. Por essa razão apreciavam a beleza do mundo e tentavam captá-la em suas obras de arte. 
- racionalismo: tentativa de descobrir pela observação e pela experiência as leis que governam o 
mundo. A razão humana é a base do conhecimento. Isto se contrapunha ao conhecimento baseado na 
autoridade, na tradição e na inspiração de origem divina que marcou a cultura medieval. 
- humanismo: o humanista era o indivíduo que traduzia e estudava os textos antigos, principalmente 
gregos e romanos. Foi dessa inspiração clássica que nasceu a valorização do ser humano. Uma das 
características desses humanistas era a não especialização. Seus conhecimentos eram abrangentes. 
- hedonismo: valorização dos prazeres sensoriais. Esta visão se opunha à ideia medieval de associar 
o pecado aos bens e prazeres materiais. 
- individualismo: a afirmação do artista como criador individual da obra de arte se deu no 
Renascimento. O artista renascentista assinava suas obras, tomando-se famoso. 
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- inspiração na antiguidade clássica: os artistas renascentistas procuraram imitar a estética dos antigos 
gregos e romanos. O próprio termo Renascimento foi cunhado pelos contemporâneos do movimento, que 
pretendiam estar fazendo renascer aquela cultura, desaparecida durante a “Idade das Trevas” (Média). 
 
Itália: o Berço do Renascimento 
 
O Renascimento teve início e atingiu o seu maior brilho na Itália. Daí irradiou-se para outras partes da 
Europa. O pioneirismo italiano se explica por diversos fatores: 
- a vida urbana e as atividades comerciais, mesmo durante a Idade Média, sempre foram mais intensas 
na Itália do que no resto da Europa. Como vimos, o Renascimento está ligado à vida urbana e à burguesia. 
Basta lembrar que Veneza e Gênova foram duas importantes cidades portuárias italianas, ambas com 
uma poderosa classe de ricos mercadores. 
- a Itália foi o centro do Império Romano e por isso tinha mais presente a memória da cultura clássica. 
Como vimos, o Renascimento inspirou-se na cultura greco-romana. 
- o contato com árabes e bizantinos, por meio do comércio, deu condições para que os italianos 
tivessem acesso às obras clássicas preservadas por esses povos. Quando Constantinopla foi 
conquistada pelos turcos, em 1453, vários sábios bizantinos fugiram para Itália levando manuscritos e 
obras de arte. 
- O grande acúmulo de riquezas obtidas no comércio com o Oriente, formou uma poderosa classe de 
ricos mercadores, banqueiros e poderosos senhores. Esse grupo representava um mercado para as 
obras de arte, estimulando a produção intelectual. Muitos pensadores, pintores, escultores e arquitetos 
se tomaram protegidos dessa poderosa classe. À essa prática de proteger artistas e pensadores deu-se 
o nome de mecenato. Entre os principais mecenas podermos destacar os papas Alexandre II, Júlio II e 
Leão X. Também ricos mercadores e políticos foram importantes mecenas, como, por exemplo, a família 
Médici. 
Já no século XIV surgiram as primeiras figuras do Renascimento, como, por exemplo, Giotto (na 
pintura), Dante Allighieri, Boccaccio e Francesco Petrarca (na literatura). No século XV a produção cultural 
atingiu uma grande intensidade. Mas foi no século XVI que o Renascimento atingiu o auge. 
 
A Decadência do Renascimento Italiano 
 
A decadência do Renascimento italiano pode ser explicada por diversos fatores. As lutas políticas 
internas entre as diversas cidades-estados e a intervenção das potências políticas da época (França, 
Espanha e Sacro Império Germânico), consumiram as riquezas da Itália. Ao mesmo tempo, o comércio 
das cidades italianas entrou em franca decadência depois que a Espanha e Portugal passaram a liderar, 
através da rota do Atlântico, o comércio com o Oriente. 
 
O Renascimento em outras partes da Europa 
 
O renascimento comercial e urbano ocorreu em várias partes da Europa. Desta forma, criaram-se as 
condições para a renovação cultural, assim como ocorreu na Itália. Nos Países Baixos, uma classe de 
ricos comerciantes e banqueiros estava ligada ao consumo e à produção de obras de arte e literatura. 
Um dos grandes pintores flamengos foi Brueghel, que viveu em Antuérpia. Ele pintou, principalmente, 
cenas da vida cotidiana, retratando o estilo de vida da classe burguesa em ascensão (A Dança do 
Casamento, de 1565). Destacaram-se ainda os irmãos pintores Hubert e Jan van Eyck (A Virgem e o 
Chanceler Rolin). A crítica à intolerância do pensamento religioso medieval foi feita por Erasmo de 
Roterdan (1466-1529) com sua obra Elogio da Loucura. 
 
Na França, o Renascimento teve importantes expoentes: 
- na literatura e filosofia, Rabelais (1490-1 553), autor de Gargantua e Pantagruel, obra na qual critica 
a educação e as táticas militares medievais. Montaigne (1533-1592), autor de estudos filosóficos céticos 
intitulados Ensaios, nos quais o principal objeto de crítica é o clero. 
- nas ciências, Ambroise Pare (1517-1590) destacou-se com estudos de medicina. Inventou uma nova 
técnica para sutura das veias. 
 
Na Espanha, a forte influência da Igreja Católica e o clima repressivo da Contra-Reforma, dificultaram 
as inovações. Desta forma, as realizações culturais marcadamente renascentistas foram reduzidas. Nas 
artes plásticas destacou-se El Greco (1575-1614), o grande pintor espanhol do Renascimento (O Enterro 
do Conde de Orgaz e A Visão Apocalíptica). Na literatura, a Espanha produziu um dos maiores clássicos 
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da humanidade. Trata-se de D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, obra na qual o 
personagem principal (D.Quixote) é um cavaleiro romântico que imagina estar vivendo em plena Idade 
Média. A metáfora é referente à decadência da cavalaria e ao conflito entre a mentalidade moderna e a 
medieval. Na ciência, a Espanha contribuiu com Miguel de Servet, que se destacou pelo seus estudos da 
circulação do sangue. 
 
Na Inglaterra, um dos principais expoentes do Renascimento foi Tomas Morus (1475-1535), autor de 
Utopia, obra que descreve as condições de vida da população de uma ilha imaginária, onde não havia 
classes sociais, pobreza e propriedade privada. É também inglês o maior dramaturgo de todos os tempos, 
William Shakspeare (1564-1616). Foi sob o reinado de Isabel 1 que Shakspeare produziu a maioria de 
suas obras, dentre as quais destacam-se Hamlet, Ricardo III, Macbeth, Otelo e Romeu e Julieta. Destaca-
se ainda no Renascimento inglês, o filósofo Francis Bacon (1561-1626), autor de Novun Organun. Esse 
autor pode ser considerado um dos precursõesdo Iluminismo. 
 
Em Portugal, o grande representante do renascimento literário foi Luís Vaz de Camões (1525-1580), 
autor de Os Lusíadas, poema épico que narra os grandes feitos da navegação portuguesa. O teatro 
português renascentista foi imortalizado por Gil Vicente, autor das obras Trilogia das Barcas e a Farsa de 
Inês Pereira. 
 
Na Alemanha, a pintura renascentista consagrou os nomes de Hans Holbein (1497-1553) e Albert 
Durer (1471-1528). Podemos destacar ainda, como representantes do Renascimento científico, o monge 
polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), que formulou, antes de Galileu, a teoria heliocêntrica (sol no 
centro do sistema planetário); e Kepler (1571-1630), inventor do telescópio e estudioso das leis da 
mecânica celeste. Demonstrou que a órbita que os planetas descrevem em torno do sol é elíptica. 
 
A Reforma Religiosa 
 
Podemos definir a Reforma Religiosa como o movimento que rompeu a unidade religiosa da Europa 
ocidental, dando origem a novas igrejas cristãs. Com ela a Igreja Católica perdeu o monopólio religioso 
que mantivera durante a Idade Média. A Reforma Religiosa foi contemporânea do Renascimento, e 
também pode ser explicada pelas transformações econômicas e sociais ocorridas na Europa na transição 
da Idade Média para os tempos modernos. Todavia, enquanto o Renascimento foi um movimento de elite, 
a Reforma envolveu todas as camadas sociais europeias. 
 
Fatores que explicam a Reforma 
 
Os fatores que explicam a Reforma Religiosa são de ordem cultural, econômica e política. 
- Cultural. O racionalismo e a valorização do homem, próprios do Renascimento, deram origem a uma 
mentalidade que se opunha a religiosidade católica medieval. O espírito crítico do Renascimento colocou 
em xeque os tradicionais ensinamentos da Igreja. A divulgação e a leitura dos textos bíblicos, dos escritos 
dos sábios da antiguidade e dos santos da Igreja criaram um clima de debate e questionamento das 
verdades estabelecidas. Tanto que os primeiros movimentos que questionaram a autoridade da Igreja 
surgiram no interior das Universidades. O homem renascentista exigia uma religião mais adequada aos 
novos tempos. 
- Econômico. O renascimento comercial criou uma nova realidade econômica na Europa. A Igreja teve 
dificuldade em adequar os seus ensinamentos a essa nova realidade. Os dogmas católicos tradicionais 
combinavam com a economia de subsistência da Idade Média. No entanto, o lucro e a cobrança de juros, 
estranhos a essa economia, passaram a ser essenciais depois do renascimento comercial. De modo que 
a burguesia tendia a não aceitar aqueles dogmas religiosos. 
- Político. Como vimos em capítulo anterior, o poder nacional do rei, surgido com a centralização 
política, se contrapunha ao poder supranacional da Igreja. Os conflitos entre os interesses das 
monarquias nacionais e os de Roma se manifestavam nos direitos de cobrar impostos, na administração 
da justiça e na nomeação dos bispos. Os reis não podiam admitir que as rendas obtidas pela Igreja em 
seus domínios fossem enviadas para Roma. Por outro lado, precisavam impor sua justiça em todo o 
território nacional, e isto significava a supressão dos tribunais eclesiásticos. 
 
Além disso, os reis disputavam com os papas o direito de nomear os bispos, pois estes tinham um 
grande poder político. Portanto, o rompimento dos Estados Nacionais com a Igreja Católica, foi uma 
decorrência natural desses conflitos de interesses. Foram ainda fatores importantes para a Reforma a 
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crise e a decadência da Igreja Católica. O luxo do clero, a compra de cargos eclesiásticos, o envolvimento 
da Igreja nas questões políticas, a má formação teológica dos padres, a venda de indulgências (perdão 
da Igreja aos pecados) e de falsas relíquias religiosas contribuíam para o desprestígio da instituição diante 
dos fiéis. 
 
Antecedentes da Reforma - As Heresias 
 
A Igreja Católica considerava como herética toda e qualquer manifestação religiosa (ou não) que não 
estivesse conforme a sua doutrina e submetida a sua autoridade. Uma das heresias que floresceram 
durante a Baixa Idade Média foi a de John Wycliffe (1320-1384), professor de Oxford (Inglaterra). Ele 
achava que a Igreja deveria ser subordinada ao Estado. Não admitia a veneração de imagens, nem a 
confissão e o perdão que a Igreja dava aos pecados. A salvação dos homens era uma questão direta 
entre estes e Deus. Estes ensinamentos foram suficientes para transformar Wycliffe em um herético. 
Também em Praga, na Boêmia, Jan Huss (1369-1415), reitor da universidade local, atacou os abusos 
da Igreja e defendeu princípios semelhantes aos de Wycliffe. Sua influência foi tão grande que o papa 
decidiu pela sua excomunhão. Huss foi queimado por heresia. Wycliffe e Huss foram precursores do 
movimento reformista do século XVI. Muitas revoltas populares tiveram inspiração religiosa. Os 
ensinamentos de Wycliffe inspiraram propostas radicais, como as do monge John Baíl. Elas acabaram 
desencadeando uma revolta camponesa liderada por Watt Tyler (1381). Por meio de uma nova 
interpretação do cristianismo, tentava-se também criar formas alternativas de organização social. Este foi 
o caso dos cátaros (albigenses) e dos valdenses, movimentos heréticos aniquilados com extrema 
violência pela Igreja. 
 
A Reforma Luterana 
 
Martinho Lutero (1483-1546), era um monge agostiniano alemão de sagaz inteligência e estudioso da 
bíblia. Com base nos seus estudos começou a criticar os abusos da Igreja. Depois de uma viagem à 
Roma voltou abalado com o luxo, a decadência de costumes e a corrupção do alto clero. O conflito de 
Lutero com a Igreja começou com suas críticas à venda de indulgências na Alemanha. Lutero criticou não 
só o fato de serem vendidas, mas o próprio valor espiritual dessas indulgências. Segundo ele, a Igreja 
não tinha o poder de conceder perdão aos pecados. Isto só caberia a Deus. A polêmica acabou levando 
à excomunhão de Lutero. O monge rebelde rasgou a bula da excomunhão e afixou na porta da catedral 
de Wittemberg as famosas 95 teses. Neste documento já estão presentes as linhas mestras de sua 
doutrina. Basicamente, a doutrina luterana divergia do catolicismo nos seguintes pontos: 
- Livre-exame. O crente teria direito de ler a bíblia e tirar suas próprias conclusões. Desta forma, Lutero 
negava à Igreja o direito de ser a intérprete da palavra divina. 
- Salvação pela fé. Com base em São Paulo, Lutero afirmava que o homem está destinado a pecar. 
Para São Paulo o homem não é capaz de fazer o bem que quer mas faz o mal que não quer. Assim não 
se salvará pelas obras, mas sim pelo arrependimento e pela fé. 
- Condenação do celibato. Para Lutero não havia fundamento bíblico para o celibato do clero. Sendo 
assim, os ministros da Igreja deveriam se casar. 
- Condenação da veneração ou culto aos santos. A veneração e culto deveriam ser prestados somente 
a Deus. As imagens que enchiam as Igrejas católicas eram vistas por Lutero como pura idolatria. 
- Negação do dogma da transubstanciação. O vinho e o pão não se transformariam no sangue e no 
corpo de Cristo. A comunhão seria apenas uma reafirmação da fé na ressurreição de Cristo e na sua 
promessa de resgatar os pecados. 
- Negação da infalibilidade papal. Para Lutero os papas estavam sujeitos ao erro como qualquer ser 
humano. Um dos fatores principais da vitória da Reforma Luterana foi o apoio que o ex-monge recebeu 
dos nobres alemães. Como a Igreja era a maior proprietária de terras na Alemanha, os príncipes viram 
no conflito religioso uma oportunidade de se apossarem destas terras. 
 
Os camponeses alemães, oprimidos pela miséria, viram na pregação reformista uma esperança para 
seus males. Eles também queriam as terras eclesiásticas. Todavia, Lutero não endossou as pretensões 
camponesas, pois estava identificado com os interesses da nobreza. O reformador que apoiou e liderou 
as revoltas camponesas foi Tomas Mtinzer, oteólogo da revolução. Segundo Miinzer, o reino de Deus 
deveria ser implantado neste mundo. O conflito entre nobres e camponeses deu origem a uma guerra 
civil na Alemanha. Os camponeses foram massacrados pelos nobres, em 1523, com pleno apoio de 
Lutero. 
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Na época, o Sacro Império Germânico era composto por vários estados semi-independentes. A 
rebeldia e a ambição dos príncipes alemães ameaçava mais ainda a pouca autoridade do imperador. 
Dessa forma, o imperador condenou a Reforma e apoiou a Igreja. A oposição entre o Imperador (apoiado 
pela Igreja) e os nobres alemães (apoiados por Lutero), resultou em uma prolongada guerra político-
religiosa. Depois dessa guerra, a Alemanha ficou dividida em estados católicos e luteranos. Uma das 
características do luteranismo, certamente em virtude da vinculação entre Lutero e os príncipes alemães, 
é a defesa da união Estado-Igreja. A Igreja Luterana já nasceu vinculada ao Estado. 
 
A Reforma Calvinista 
 
João Calvino (1509-1564), francês e seguidor das ideias luteranas, se estabeleceu em Genebra 
(Suíça), onde escreveu As Instituições Cristãs. Nessa cidade começou a pregar a sua doutrina, que tinha 
muitos pontos em comum com o luteranismo. A diferença mais importante se refere à doutrina da 
salvação. Para Lutero, como vimos, a salvação se dá pela fé e para Calvino pela predestinação. 
Baseando-se em Santo Agostinho, Calvino diz que nós viemos ao mundo predestinados por Deus a 
sermos salvos ou condenados. Desta forma, a nossa salvação não depende da fé e nem das boas obras, 
mas sim da escolha divina. 
Os sinais da escolha divina se manifestariam na vida dos indivíduos. O trabalho, a pureza de costumes, 
o cumprimento dos deveres para com a sociedade e a família seriam alguns desses sinais. Esse cidadão 
teria também a sua vida abençoada por Deus, resultando no progresso econômico. O estudioso alemão 
Max Weber, na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, mostrou a relação existente entre o 
calvinismo e o desenvolvimento do capitalismo. Segundo esse autor, o calvinismo favorece a acumulação 
capitalista, prescrevendo uma vida dedicada ao trabalho e à poupança. Coincidência ou não, os países 
do norte da Europa, onde o capitalismo mais se desenvolveu, localizam-se exatamente nas áreas onde 
a reforma calvinista mais se implantou. 
 
A Expansão do Calvinismo 
 
A partir da Suíça, os pregadores calvinistas conseguiram difundir sua doutrina em várias partes da 
Europa. Na Inglaterra os calvinistas ficaram conhecidos como puritanos. Foram perseguidos e imigraram 
em grande número para a América. Na Escócia, ficaram conhecidos como presbiterianos, e na França 
como huguenotes. A burguesia encontrou no calvinismo a doutrina adequada à seus interesses e ao seu 
modo de vida. Incompatibilizada com o princípio católico do justo preço e da proibição da usura, a 
burguesia abraçou a nova doutrina. 
 
A Reforma Anglicana 
 
De todos os movimentos reformistas, a Reforma Anglicana foi a que mais claramente revelou motivos 
políticos. Ela teve origem no conflito entre o rei Henrique VIII (1509-1547) da Inglaterra e o papa Clemente 
VII, que não concordou em conceder ao rei o divórcio de sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Esse 
conflito, aparentemente simples, escondia divergências mais profundas. Vimos que a centralização 
política opunha os monarcas nacionais à Igreja. Além disso, Henrique VIII pretendia confiscar as terras 
da Igreja em solo inglês. A questão do divórcio serviu como pretexto para o rompimento definitivo. Por 
meio do Ato de Supremacia, Henrique VIII tornou-se o chefe da Igreja inglesa. Os membros do clero 
inglês tiveram que jurar fidelidade ao rei e romper com o papa. Os que se recusaram, foram destituídos 
e perseguidos. As terras confiscadas da Igreja foram vendidas à nobreza inglesa, que, desta forma, se 
tornou fiel partidária da Igreja Anglicana. 
Como se pode perceber, esta reforma não se deu por motivos doutrinários e sim claramente políticos. 
Por isso, inicialmente, a religião anglicana pouco diferia da católica. Se diferenciava apenas pelo uso do 
inglês em lugar do latim e pela obediência ao rei e não ao papa. Mais tarde, sofreu algumas mudanças 
introduzidas pela rainha Isabel 1, filha de Henrique VIII. 
 
A Contra-Reforma 
 
Podemos definir a Contra-Reforma como o conjunto de medidas tomadas pela Igreja Católica para 
deter o avanço das igrejas reformadas. A principal providência tomada foi a convocação do Concílio de 
Trento (1545-1563). Neste Concílio foram reafirmados os dogmas e os princípios católicos negados pelos 
reformadores. Foram criados o Index Libro rum Prohibitorum (relação de livros proibidos); o Catecismo, 
para dar educação religiosa, principalmente às crianças, e Seminários, para formar melhor o clero. O 
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Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) foi remodelado e reativado para perseguir os que se desviassem 
dos princípios católicos. A Contra-Reforma reafirmava ainda que só à Igreja era permitida a interpretação 
da bíblia. 
Nesta época, a ordem religiosa fundada por Inácio de Loiola, Companhia de Jesus, foi reconhecida 
pela Igreja. Esta ordem teria importante papel da difusão do catolicismo na América. Os jesuítas, 
submetidos a uma rigorosa disciplina, se dedicavam à educação e à catequese. A Contra-Reforma 
conseguiu afastar a ameaça reformista do sul da Europa. Até hoje, Itália, Espanha e Portugal são países 
essencialmente católicos. Mas, muitos estudiosos atribuem o relativo atraso cultural e científico dos 
países católicos à atuação repressiva da Igreja. 
 
Classicismo (Século XVI) 
 
A história da cultura renascentista nos ilustra com clareza todo o processo de construção do homem e 
da sociedade contemporânea. Nela se manifestam os germes do individualismo, do racionalismo e da 
ambição ilimitada, típicos de comportamentos mais imperativos e representativos do nosso tempo. Ela 
consagra a vitória da razão abstrata, que é a instância suprema de toda a cultura moderna, versada no 
rigor das matemáticas, que passarão a reger os sistemas de controles do tempo, do espaço, do trabalho 
e do domínio da natureza. 
A literatura renascentista caracteriza-se por imitar as obras de escritores da Antiguidade Clássica 
Greco- Latina; por isso, é chamada Classicismo. Portanto, o Classicismo do século XVI é a expressão 
literária de um movimento mais amplo, o Renascimento, que envolveu as artes, a ciência e a cultura em 
geral. O interesse pela cultura Greco-Latina e a imitação de seus autores, porém, não se restringem ao 
século XVI. Estendem-se até o final do século XVIII, formando uma verdadeira Era Clássica, introduzida 
pelo Classicismo e seguida pelo Barroco e pelo Arcadismo (ou Neoclassicismo). 
 
ANTIGUIDADE IDADE MÉDIA ERA CLÁSSICA 
Cultura Greco-Latina Alta Idade Média Baixa Idade 
Média 
Classicismo Barroco Arcadismo 
Século XII a.C. – II a.C Século V – XI 
Século XII 
Século XII - XV Século XVI Século XVII Século XVIII 
 
Classicismo e Humanismo 
 
- a literatura renascentista portuguesa do século XVI resultou das inovações que vinham ocorrendo na 
Europa, particularmente na Itália, desde o final do século XIII. 
- bem mais adiantados do que os escritores de outros países – ainda mergulhados no espírito religioso 
da Idade 
Média – os artistas e intelectuais italianos, desde aquela época, já se empenhavam em traduzir para 
o italiano e imitar as obras da Antiguidade Greco-Latina, além de difundir suas ideias. 
- esse grupo de artistas, chamados humanistas, defendia que a cultura pagã, anterior ao aparecimento 
do cristianismo, era mais rica e expressiva, pois valorizava o indivíduo, seus feitos heroicos e sua 
capacidade de dominar e transformar o mundo. 
- a atitude de valorização das capacidades físicas e espirituais do homem foi chamada de 
antropocentrismo e, naturalmente, contrapunha-seà visão teocêntrica do mundo imposto pela Igreja. 
 
Texto I 
 
Neste fragmento do Canto I da Divina Comédia, Dante desce ao inferno e, perdido, encontra um vulto. 
Pede- lhe ajuda e, pela resposta recebida, percebe se tratar do espectro de Virgílio, poeta latino. 
 
“Então, tu és Virgílio, aquela fonte 
Que expande de eloquência num largo rio?” 
- perguntei-lhe, baixando humilde a fronte. 
“Dos outros poetas honra e desafio, Valham-me o longo esforço e o fundo amor Que ao teu poema 
voltei anos a fio. 
Na verdade, és meu mestre e meu autor; Ao teu exemplo devo, deslumbrado, 
O belo estilo que é meu só valor.” 
 
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O Renascimento foi um amplo movimento cultural que aconteceu na Europa ocidental nos séculos XV 
e XVI, que conheceu seu apogeu entre 1490 e 1560, embora se possam considerar antecedentes e 
prolongamentos isolados. Apesar de o termo Renascimento ser normalmente empregado para designar 
as transformações desses séculos ocorridas no campo da cultura, suas ligações com outros domínios da 
sociedade europeia são evidentes. Alguns historiadores chegam a falar também em renascimento 
comercial, político e religioso. Pode-se afirmar que o Renascimento é a expressão artística dos 
sentimentos e anseios do homem dos séculos XV e XVI, uma época de profundas transformações sociais 
e ideológicas. 
Marcada por um espírito de euforia econômica, de coragem e ousadia decorrente das navegações e 
por uma profunda revisão de valores provocada pelas descobertas científicas e pela Reforma, essa foi 
uma época em que o homem, acreditando em sua capacidade de explorar e dominar o mundo substitui 
a visão terrestre, fechada pelos limites do feudo medieval, por uma visão marítima, aberta, em 
consequência das navegações e das conquistas. Sendo o resultado dos esforços empreendidos pelos 
primeiros humanistas do século XIV e das transformações que se operaram nos séculos XV e XVI, a arte 
renascentista está voltada para dois horizontes: de um lado, a cultura clássica Greco-latina, fonte de 
inspiração e modelo para humanistas e renascentistas; de outro, o seu próprio tempo, um tempo em que 
o homem desafiou os limites do mundo conhecido e se lançou na conquista do globo terrestre. 
Entre os séculos XV e XVI, Portugal tornou-se um dos países mais importantes da Europa, em virtude 
de seu papel decisivo no processo de expansão marítima e comercial. O país amadurecia como Estado, 
povo, língua e cultura; contudo, faltava aos portugueses uma grande obra literária que consagrasse a 
euforia que viviam. O poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, é a resposta concreta a esse 
desejo, projetando a literatura portuguesa entre as mais significativas do cenário europeu nesse momento 
histórico. 
 
Quinhentismo – Classicismo 
 
Medida Nova – decassílabos heroicos e sáficos, oitava-rima... 
 
Características Gerais da Estética 
 
As armas e os barões assinalados, 
Que da ocidental praia Lusitana, 
Por mares nunca de antes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, 
Em perigos e guerras esforçados, 
Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram 
Novo Reino, que tanto sublimaram; 
E também as memórias gloriosas Daqueles Reis, que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras 
viciosas 
De África e de Ásia andaram devastando; E aqueles, que por obras valerosas, 
Se vão da lei da morte libertando; Cantando espalharei por toda parte, 
Se a tanto me ajudar o engenho e arte. 
Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e 
de Trajano 
A fama das vitórias que tiveram; 
Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram: 
Cesse tudo o que a Musa Antígua canta, Que outro valor mais alto se alevanta. 
 
Características: 
 
- Comedimento racional; 
-Valorização do homem, colocado no centro do universo (antropocentrismo); 
- Superioridade humana ante a natureza e os deuses; 
- A universalidade; 
- A retomada dos ideais Greco-romanos e a busca da perfeição, do rigor métrico, do equilíbrio e da 
harmonia. 
 
Poesia Lírica - composta utilizando-se da forma poética tradicional (a medida velha, utilizada no 
Período Medieval) e da forma renascentista (medida nova) e tem como base a angústia interior que o “eu” 
sente ao sondar seu próprio mundo e o de sua amada, irmanando-se a todos os homens pelo sofrimento 
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universal causado pelo amor. Além disso, também se preocupa com o propósito da existência humana, 
tentando analisar o porquê dos atos humanos, buscando justificativas para a existência humana. 
 
Sonetos 
 
I 
Sete anos de pastor Jacó servia 
Labão, pai de Raquel serrana bela, Mas não servia ao pai, servia a ela, 
Que a ela só por prêmio pertencia. 
Os dias na esperança de um só dia Passava, contentando-se com vê-la: Porém o pai usando de 
cautela, 
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia. 
Vendo o triste pastor que com enganos Assim lhe era negada a sua pastora, Como se a não tivera 
merecida, 
Começou a servir outros sete anos, Dizendo: Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta 
a vida! 
 
II 
Um mover de olhos, brando e piedoso, Sem ver de quê; um riso brando e honesto, 
Quase forçado; um doce e humilde gesto, 
De qualquer alegria duvidoso; 
Um despejo quieto e vergonhoso; Um repouso gravíssimo e modesto; 
Uma pura bondade, manifesto 
Indício da alma, limpo e gracioso; 
Um encolhido ousar; uma brandura; Um medo sem ter culpa; um ar sereno; 
Um longo e obediente sofrimento: 
Esta foi a celeste formosura 
Da minha Circe, e o mágico veneno 
Que pôde transformar meu pensamento. 
Medida Nova – influência de Petrarca – surge a idealização da mulher e do amor, a revelação do 
microcosmo e do macrocosmo do escritor – o particular e o universal – dor / Dor; amor / Amor. 
 
III 
Alma minha gentil, que te partiste 
Tão cedo desta vida descontente, Repousa lá no Céu eternamente, 
E viva eu cá na terra sempre triste. 
Se lá no assento etério, onde subiste, Memória desta vida se consente, 
Não te esqueças daquele amor ardente 
Que já nos olhos meus tão puro viste. 
E se vires que pode merecer-te 
Alguma cousa a dor que me ficou 
Da mágoa, sem remédio, de perder-te; 
Roga a Deus que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a verte, 
Quão cedo de meus olhos te levou. 
 
IV 
Busque Amor novas artes, novo engenho, Para matar-me, e novas esquivanças; 
Que não pode tirar-me as esperanças, 
Que mal me tirará o que eu não tenho. 
Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas seguranças! 
Que não temo contrastes nem mudanças, Andando em bravo mar, perdido o lenho. 
Mas, conquanto não pode haver desgosto 
Onde esperança falta, lá me esconde 
Amor um mal, que mata e não se vê. 
Que dias há que n'alma me tem posto 
Um não sei quê, que nasce não sei onde, Vem não sei como, e dói não sei porquê. 
 
 
 
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V 
Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar; 
Não tenho logo mais que desejar, 
Pois em mim tenho a parte desejada. 
Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode 
descansar, 
Pois consigo tal alma está liada. 
Mas esta linda e pura semideia, 
Que, como o acidente em seu sujeito, Assim co'a alma minha se conforma, 
Está no pensamento como ideia; 
E o vivo e puro amor de que sou feito, Como matéria simples busca a forma. 
Ambiguidades e paradoxos em que o autor revela a profunda contradição em que se encontra e, ao 
mesmo tempo, aponta as características do próximo movimento literário – o Barroco. 
 
VI 
Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; 
é um contentamento descontente, 
é dor que desatina sem doer. 
 
É um não querer mais que bem querer; 
é um andar solitário entre a gente; 
é nunca contentar-se de contente; 
é um cuidar que ganha em se perder. 
 
É querer estarpreso por vontade; 
é servir a quem vence, o vencedor; 
é ter com quem nos mata, lealdade. 
 
Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, 
se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
Epopeia; 
 
Os Lusíadas 
 
Divisão das partes: 
 
INTRODUÇÃO – proposição, invocação, dedicatória. 
NARRAÇÃO; 
EPÍLOGO. 
 
Carga mágica dada pela fábula mitológica, pela intriga dos deuses e o equilíbrio racional, o herói 
representado pelo povo português – toda a coletividade é heroica. 
 
Outros Gêneros do Classicismo Português 
 
Historiografia 
Literatura de viagens; Prosa doutrinária. 
 
Autores menores: João de Barros. 
Frei Amador Arrais. 
 
 
 
 
 
 
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Barroco no Brasil 
 
O Barroco foi introduzido no Brasil por intermédio dos jesuítas. Inicialmente, no final do século XVI, 
tratava-se de um movimento apenas destinado à catequização. A partir do século XVII, o Barroco passa 
a se expandir para os centros de produção açucareira, especialmente na Bahia, por meio das igrejas. 
Assim, a função da igreja era ensinar o caminho da religiosidade e da moral a uma população que vivia 
desregradamente. 
Nos séculos XVII e XVIII não havia ainda condições para a formação de uma consciência literária 
brasileira. A vida social no país era organizada em função de pequenos núcleos econômicos, não 
existindo efetivamente um público leitor para as obras literárias, o que só viria a ocorrer no século XIX. 
Por esse motivo, fala-se apenas em autores brasileiros com características barrocas, influenciados por 
fontes estrangeiras (portuguesa e espanhola), mas que não chegaram a constituir um movimento 
propriamente dito. Nesse contexto, merecem destaque a poesia de Gregório de Matos Guerra e a prosa 
do padre Antônio Vieira representada pelos seus sermões. 
Didaticamente, o Barroco brasileiro tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema épico 
Prosopopeia, de Bento Teixeira. 
 
Conheça a seguir os trechos selecionados: 
 
Prosopopeia 
 
I 
 
Cantem Poetas o Poder Romano, 
Sobmetendo Nações ao jugo duro; 
O Mantuano pinte o Rei Troiano, 
Descendo à confusão do Reino escuro; 
Que eu canto um Albuquerque 
soberano, 
Da Fé, da cara Pátria firme muro, 
Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira, 
Pode estancar a Lácia e Grega lira. 
 
II 
 
As Délficas irmãs chamar não quero, 
que tal invocação é vão estudo; 
Aquele chamo só, de quem espero 
A vida que se espera em fim de tudo. 
Ele fará meu Verso tão sincero, 
Quanto fora sem ele tosco e rudo, 
Que per rezão negar não deve o menos 
Quem deu o mais a míseros terrenos. 
 
Esse poema, além de traçar elogios aos primeiros donatários da capitania de Pernambuco, narra o 
naufrágio sofrido por um deles, o donatário Jorge Albuquerque Coelho. Apesar de os críticos o 
considerarem de pouco valor literário, o texto tem seu valor histórico pois foi a primeira obra do Barroco 
brasileiro e o marco inicial do primeiro estilo de época a surgir no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
O Barroco no Brasil. 
 
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Gregório de Matos Guerra: o Boca do Inferno 
 
 
Gregório de Matos Guerra nasceu em 
Salvador (BA) e morreu em Recife (PE). 
Estudou no colégio dos jesuítas e formou-se 
em Direito em Coimbra (Portugal). Recebeu o 
apelido de Boca do Inferno, graças a sua 
irreverente obra satírica. 
 
Gregório de Matos firmou-se como o primeiro poeta brasileiro: cultivou a poesia lírica, satírica, erótica 
e religiosa. O que se conhece de sua obra é fruto de inúmeras pesquisas, pois Gregório não publicou 
seus poemas em vida. Por essa razão, há dúvidas quanto à autenticidade de muitos textos que lhe são 
atribuídos. 
 
O poeta religioso 
A preocupação religiosa do escritor revela-se no grande número de textos que tratam do tema da 
salvação espiritual do homem. No soneto a seguir, o poeta ajoelha-se diante de Deus, com um forte 
sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Observe: 
 
Soneto a Nosso Senhor 
 
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido; 
Porque quanto mais tenho delinquido 
Vos tem a perdoar mais empenhado. 
Se basta a voz irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um só gemido: 
Que a mesma culpa que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado. 
Se uma ovelha perdida e já cobrada 
Glória tal e prazer tão repentino 
Vos deu, como afirmais na sacra história. 
Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada, 
Recobrai-a; e não queirais, pastor divino, 
Perder na vossa ovelha a vossa glória. 
 
O poeta satírico 
Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas críticas à situação econômica da Bahia, 
especialmente de Salvador, graças à expansão econômica chegando a fazer, inclusive, uma crítica ao 
então governador da Bahia Antonio Luis da Camara Coutinho. Além disso, suas críticas à Igreja e a 
religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subversão por meio das palavras rendeu-lhe o 
apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetos 
 
Triste Bahia 
 
Triste Bahia! 
ó quão dessemelhante 
Estás e estou do nosso antigo estado! 
Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante. 
A ti tricou-te a máquina mercante, 
Que em tua larga barra tem entrado, 
A mim foi-me trocando e, tem trocado, 
Tanto negócio e tanto negociante. 
 
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. 21 
O poeta lírico 
Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra um poeta angustiado em face à vida, à religião 
e ao amor. Na poesia lírico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que é constantemente 
comparada aos elementos da natureza. Além disso, ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos 
corporais, o poeta é assaltado pela culpa e pela angústia do pecado. 
 
À mesma d. Ângela 
 
Anjo no nome, Angélica na cara! 
Isso é ser flor, e Anjo juntamente: 
Ser Angélica flor, e Anjo florente, 
Em quem, senão em vós, se uniformara: 
Quem vira uma tal flor, que a não cortara, 
De verde pé, da rama fluorescente; 
E quem um Anjo vira tão luzente, 
Que por seu Deus o não idolatrara? 
Se pois como Anjo sois dos meus altares, 
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda, 
Livrara eu de diabólicos azares. 
Mas vejo, que por bela, e por galharda, 
Posto que os Anjos nunca dão pesares, 
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. 
 
O poeta erótico 
Também alcunhado de profano, o poeta exalta a sensualidade e a volúpia das amantes que conquistou 
na Bahia, além dos escândalos sexuais envolvendo os conventos da cidade. 
 
Necessidades Forçosas da Natureza Humana 
 
Descarto-me da tronga, que me chupa, 
Corro por um conchego todo o mapa, 
O ar da feia me arrebata a capa, 
O gadanho da limpa até a garupa. 
Busco uma freira, que me desemtupa 
A via, que o desuso às vezes tapa, 
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa, 
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa. 
Que hei de fazer, se sou de boa cepa, 
E na hora de ver repleta a tripa, 
Darei por quem mo vase toda Europa? 
Amigo, quem se alimpa da carepa, 
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa, 
Ou faz da mão sua cachopa. 
 
Padre Antônio Vieira 
 
 
Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, 
em 1608, e morreu na Bahia, em 1697. Com 
sete anos de idade, veio para o Brasil e entrou 
para a Companhia de Jesus. Por defender 
posições favoráveis aos índios e aos judeus, 
foi condenado à prisão pela Inquisição, onde 
ficou por dois anos. 
 
Padre Antônio Vieira, por Arnold van 
Westerhout (1651-1725) 
 
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. 22 
Responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do barroco, Padre Antônio Vieira é conhecido 
por seus sermões polêmicos em que critica, entre outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, 
a influência negativa que o Protestantismo exerceria na colônia, os pregadores que não cumpriam com 
seu ofício de catequizar e evangelizar (seus adversários católicos) e a própria Inquisição. Além

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