Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Disciplina de Nefrologia FACULDADE SANTA MARCELINA MAYARA SUZANO DOS SANTOS TURMA XIV A 7º Semestre – 2022.1 Assistência e Patologias Nefrológicas NEFROLOGIA Mayara Suzano dos Santos – T XIV A 7º Semestre – 2022.1 2 INFECÇÃ O DO TRÃTO URINÃ RIO (ITU) EPIDEMIOLOGIA ETIOLOGIA FATORES FISIOPATOLOGIA Um dos sítios de infecção + comuns ▪ 8,3 milhões de consultas médicas e 40% das infecções nosocomiais ▪ Atinge 11% das mulheres/ano No 1º ano de vida é + comum em meninos, a partir dos 2 anos, é + frequente em mulheres. ▪ M >>>> H ▪ 40% terão 1 episódio de ITU sintomático ▪ Pico com início da vida sexual ▪ Incidência em homens após 65 anos 5-10% e 35-40%, se institucionalizado Gestação: ↑ PT, RNBP e mortalidade materna Bacteriana: ▪ E. coli (80%) → enterobactéria Gram –, uropatogênica (ECUP) ▪ Staphylococcus saprophyticus, ▪ Recorrente e complicada → Klebsiela sp., Enterococcus sp, Proteus, Providencia, Morganella ▪ Resistente → Enterobacter ▪ Hospitalar → Psudomonas aeruginosa, Acinetobacter, Serratia ▪ Fungos → Candida Risco1: ▪ Sexo feminino ▪ Mulheres com vida sexual ativa ▪ Idade avançada ▪ Gestação ▪ HPB e obstruções do trato (TU, cistite) ▪ Neurológico: esvaziamento vesical incompleto ou perda de controle esfincteriano ▪ Cateterismo vesical (biofilme) ▪ RVU ▪ Uso de espermicida ▪ Litíase ▪ Repetição → mulheres, menopausa, relaçã sexual, anatomia pélvica Proteção: ▪ Lactobacilos da flora vaginal → mantém pH ácido (conteúdo ejaculatório destrói esta proteção) ▪ Fluxo urinário ▪ Uréia ▪ Antígeno ABH O sistema urinário tem poucos patógenos e a urina é estéril, mas, devido a anatomia pélvica, as mulheres tem maior propensão à infecção. Via ascendente: as bactérias que causam ITU, geralmente, são provenientes do TGI, devido a proximidade existente entre o ânus e o intróito vaginal ▪ Vagina → local quente, úmido e ↑ nutriente → ambiente propício proliferação bacteriana ▪ E. coli → enterobactéria que possui fímbrias que aderem ao epitélio uretral e flagelo que auxilia na ascensão, além disso produz enzimas que digerem o epitélio e permitem a invasão → ativação da resposta imune inata → inflamação - Fímbrias tipo I → manose ou proteína Tamm-Horsfall (receptores) - Fímbrias tipo II → glicoesfingolípide tem receptor que aderem ao urotélio e a antígenos do grupo sanguíneo B, especificamente, presentes no urotélio - Enzimas → hemolisinas e proteases (toxinas) ▪ Nas mulheres, durante a relação sexual, a penetração carrega a bactéria para a uretra ▪ Espermicida suprimem os lactobacilos intestinais → ↑ riscoITU Gestação: ▪ Dilatação fisiológica do ureter e pelve renal → favorecem o refluxo ▪ ↑ produção urinária, porém ↑ complacência da bexiga (suporta maior armazenamento) → urina mais ▪ Mudança de posição da bexiga Bacteriúria assintomática: bactéria presente na urina em grande quantidade, porém sem causa lesão tecidual QUADRO CLÍNICO Cistite: início rápido (< 24h) ▪ Disúria e estrangúria ▪ Polaciúria ▪ Sensação de esvaziamento vesical incompleto - Mulheres pós-menopausa ou com alterações do TGU podem referir este como único sintoma indicativo da dça ▪ Urgência miccional ou incontinência urinária ▪ Dor suprapúbica e ardência ao final da micção ▪ Urina turva e de odor fétido ▪ Hematúria Pielonefrite aguda: ▪ Pode ou não apresentar sintomas de cistite ▪ Febre > 38° (marcador importante) ▪ Calafrios e bacteremia ▪ Dor em flanco ipsilateral ▪ Náuseas e vômitos ▪ Giordano + ▪ Dor à palpação profunda dos pontos ureterais NEFROLOGIA Mayara Suzano dos Santos – T XIV A 7º Semestre – 2022.1 3 DIAGNÓSTICO TRATAMENTO PREVENÇÃO ITU: Invasão e multiplicação microbiana em qualquer tecido do trato urinário, desde a uretra até o rim, determinando inflamação dos tecidos. Classificação3: é clinicamente importante classificar para direcionamento do tto ▪ Quanto à localização - ITU baixa → uretrites e cistites - ITU alta → ureterite e pielonefrite aguda ▪ Quanto à presença ou não de sintomas - Sintomática → presença de sintomas característicos, sem necessidade de diferenciação pela urocultura - Ãssintomática = bacteriúria assintomática → diferencia-se de contaminação pela urocultura (2 uroculturas + com o mesmo germe ou crescimento > 100.000 unidades formadoras de colônias) sem sintomas ▪ Quanto à gravidade - Não complicada → cistites ou pielonefrite sem sinais de sepse em mulheres jovens - Complicada → qualquer ITU em homens e gestantes, pielonefrite com sepse/IRA, imunocomprometimento, hospitalar e presença de catéteres, alterações anatômicas Clínico: história e exame físico fornecem dados suficientes na maioria das vezes ▪ Mulheres jovens com a vida sexual ativa com sintomas de disúria + polaciúria, na ausência de irritação ou corrimento vaginal, prediz cistite em mais de 90% dos casos → nestes casos, pode-se realizar o tto sem necessidade de exames complementares ▪ Exame físico → medida da temperatura, exame abdominal minucioso e ginecológico, Giordano Exames complementares: ▪ Urina I4 → leucocitúria > 10.000/ml ou > 10/campo, nitrito +, hematúria, pH alcalino, bacteriúria, cilindros leucocitários (sugere pielonefrite) ▪ Urocultura com antibiograma (todos exceto cistite não complicada) → bacteriúria significativa > 105 UFC - Contaminação → baixa contagem bacteriana ou crescimento de + de um microrganismo - NÃO é necessário urocultura em caso de cistite não complicada, exceto mulheres com ITU recente ou alterações anatômicas ▪ Fitas reagentes (triagem ambulatorial) → permite avaliação da esterase leucocitária, nitrito, hematúria e corpos cetônicos → ↑ VPN = exclusão de ITU ▪ Hemograma completo ▪ USG de rim e vias urinárias + próstata, se suspeita de ITU complicada, litíase, resposta lenta, inadequada a ATB após cultura ou recidiva precoce de pielonefrite ▪ Uretrocistografia miccional → diagnóstico de RVU ▪ TC (raro) → história de litíase Diagnóstico diferencial5: ▪ Vaginites e vulvites → ardência no início da micção ▪ Uretrites, IST, orquite e epididimite ▪ TU de bexiga, quimioterapia (Ciclofosfamida) e radiação (cistite actínica) da bexiga ▪ TB → sintomas recorrentes de cistite com piúria/leucocitúria As ITUs sintomáticas devem ser tratadas com ÃTB para melhorar sintomas e ↓ danos, para tal eles devem ser excretados por via renal, de forma a alcançar ↑ concentrações na urina. Bacteriúria assintomática: o tto é indicado somente em gestantes e antes de procedimentos urológicos por 7 dias ▪ Nitrofurantoína 100 mg 12/12h (1ª escolha em gestante) ▪ Cefalexina 500mg 6/6h por 7 dias ▪ Cefuroxima 250mg 8/8h por 7 dias ▪ Ampicilina (quase não usa) ▪ Ácido Pipemídico 400mg 12/12h ▪ Após tto colher urocultura de controle Cistite não complicada6,7: ambulatorial, início precoce e curta duração ▪ Sintomáticos → Buscopan; Fenazopiridina (Pyridium®) 200 mg/dia 8/8h (mascara a urocultura) ▪ ÃTB empírico → Nitrofurantoína 100 mg 6/6h durante 5-7 dias; Sulfametoxazol + Trimetoprim 3 dias; Fosfomicina Trometamol 8 g dose única (reservado para Pseudomonas; diarreia e altera flora); Levofloxacino 500 mg/dia por 3 dias; Norfloxacino 400 mg 12/12h por 3 dias - Tempo ÃTB → 3-5 dias ITU complicada8: hospitalização ▪ Tempo ÃTB → 7-14 dias ▪ Sempre pensar em fármacos EV que podem ser administrado VO posteriormente - Ceftriaxona EV 2g/dia - Cefuroxima EV 250 mg 12/12h - Ciprofloxacino 500 mg 12/12h (tem ↑ o perfil de resistência) Cirúrgico: ▪ Indicação → obstrução, pielonefrose, abscesso renal Mulheres pré-menopausa: ▪ Higienizar genitais e urinar imediatamente após relação sexual ▪ Aumentar ingesta hídrica ▪ Evitar uso de espermicida ou diafragma ITU repetição: ▪ Atentar fatores de risco9 ▪ ATB baixa dose 6-12 meses (mulheres que se relacionam todos os dias ou mulheres com outrasalterações) → Nitrofurantoína 100 mg/dia ou SMT-TMP 400/80 mg/dia - Se relacionado com a relação sexual, ATB 1 cp após relação - Na gestante, após 2 episódio ▪ Estrógeno vaginal ▪ Sem evidência científica → Probióticos, Cramberry, lisado bacteriano de E. coli NEFROLOGIA Mayara Suzano dos Santos – T XIV A 7º Semestre – 2022.1 4 INFECÇÃ O DO TRÃTO URINÃ RIO (ITU) CASO CLÍNICO: JRO, 56 anos, feminino, natural e procedente de São Paulo, raça branca, professora. QPD: calafrios e tremores incontroláveis há 1h (bacteremia) HPMA: paciente relata que há 1h iniciou com calafrios que evoluíram com piora progresiva e aparecimento de tremores incontroláveis. Relata que há aproximadamente 1 semana, está evoluindo com disúria e que houve melhora parcial após uso de Pyridium (orientado pela prima) há 2 dias. Relata que há 2 dias vem apresentando dor em região lombar direita e hoje também em flanco direito e relacionou como fator desencadeante uma faxina feita em casa. Nega outros sintomas. AP: DM2 desde a última gestação há 20 anos. Nega HAS. Mãe diabética falecida aos 68 anos e fazia hemodiálise. MUC: Glicazida 60 mg 2x/dia, Metformina 500 mg 3x/dia, Insulina NPH 20 UI cdo e 10 UI a noite (iniciado há 2 anos quando começou a fazer acompanhamento mais regular). Início rente (2 meses) de Dapaglifazona 10 mg/dia. HD: ITU alta complicada (Pielonefrite) e sepse CD: ▪ Reposição volêmica ▪ Solicito hemograma, hemocultura, urina I, urocultura, função renal, eletrólitos ▪ Prescrevo antibioticoterapia EV ▪ Suspender uso de inibidor de inibidores da SGLT2 e medicações nefrotóxicas Esta paciente tem fator de risco para Nefropatia Diabética, devido ao tempo prolongado de doença e a predisposição genética. Além disso, pode desenvolver IRA, pois apresenta hipoperfusão (pela hipotensão) e inflamação do parênquima renal (Pielonefrite). Por estas razões esta paciente não pode ser submetida a exames com contraste iodado, por serem nefrotóxicos e aumento do risco de lesão renal. NEFROLOGIA Mayara Suzano dos Santos – T XIV A 7º Semestre – 2022.1 5 INFECÇÃ O DO TRÃTO URINÃ RIO (ITU) DETALHES IMPORTANTES: QUADRO 3. Conceitos importantes para tratamento Infecção persistente = falha terapêutica Recaída (recidiva) = infecção pelo mesmo germe < 1 mês de tratamento Reinfecção (recorrente) = nova infecção por um NOVO patógeno ITU de repetição = ≥ 3 ITU em 1 ano ou ≥ 2 ITU comprovadas em 6 meses QUADRO 2. Fatores hospedeiro que facilitam o estabelecimento e persistência de bacteriúria ou infecção do trato urinário complicada TIPO EXEMPLO Obstrutiva Estenose uretral, uretereal ou JUP, TU, divertículos, HBP, urolitíase, compressão extrínseca Funcional Bexiga neurogênica, RVU, defeitos anatômicos, gestação, cistocele, fluxo urinário uretral turbulento Urológica Cateterismo uretral e suprapúbico, cirurgia endourológica, Stents uretéricos, nefrostomia, cistoscopia, neobexiga Metabólica Nefrocalcinose Congênita Válvular uretrais, rins policísticos Imunológica Transplante renal, imunocomprometimento QUADRO 1. Etiologia microbiana de ITU QUADRO 4. Interpretação do exame de urina I Piúria está presente na maioria dos pacientes com ITU sintomática ou bacteriúria assintomática. Muitas outras alterações estão, no entanto, associadas à piúria, e a presença de piúria não faz o diagnóstico de infecção, nem diferencia infecção sintomática de assintomática. A ausência de piúria tem elevado valor preditivo negativo para excluir ITU na maioria dos pacientes. No entanto, a ausência de piúria em espécimes de urina de uma mulher com sintomas compatíveis com cistite não é indicação para suspender a antibioterapia empírica. Para o rastreamento de bacteriúria, a identificação de nitritos na urina pode ser útil. As bactérias Gram- negativas, com exceção de P. aeruginosa, vão metabolizar o nitrato a nitrito, que pode ser demonstrado através de uma reação de cor numa tira de teste. As bactérias Gram-positivas e fungos não metabolizam o nitrato. A técnica é rápida (<1 minuto) e de baixo custo. Tem um elevado grau de especificidade, mas não é sensível, pois não detecta infecções causadas por organismos Gram-positivos. QUADRO 6. Considerações acerca da antibioticoterapia nas ITUs Trimetoprim isolodo ou com Sulfametoxazol, Nitrofurantoína e Fosfomicina são tto de 1ª linha, pois são eficazes em cursos relativamente curtos de dça e, como existe impacto limitado na flora, a eclosão de resistência não é uma preocupação. Trimetoprim-Sulfametoxazol → deve ser utilizado apenas se evidência de não resistência, atualmente as taxas de resistência a esse ATB estão em queda Fluorquinolonas → não indicado como 1ª linha, pois seu uso tem gerado ↑ resistência β-lactâmicos são 10% menos eficientes que os agentes de 1ª linha NEFROLOGIA Mayara Suzano dos Santos – T XIV A 7º Semestre – 2022.1 6 INFECÇÃ O DO TRÃTO URINÃ RIO (ITU) DETALHES IMPORTANTES: QUADRO 5. Diagnóstico diferencial de ITU QUADRO 7. Tratamento antimicrobiano na Cistite não complicada QUADRO 8. ITU complicada Pielonefrite → inicialmente é necessário decidir a necessidade de ÃTB VO ou EV, geralmente o tto EV é necessário somente por 24-48h. Na maioria dos casos, utiliza-se uma cefalosporina EV/VO, mas também é possível utilizar fluorquinolona EV/VO ou aminoglicosídeo EV. Nitrofurantoína → utilizada em cistites, porém contraindicada em indivíduos com insuficiência renal QUADRO 9. Fatores de risco para ITU de repetição É comum em mulheres mesmo com trato urinário normal, por isso, não é necessário uma investigação de rotina ▪ Mulheres “non-secretor” de antígenos do grupo ÃBH → ↑ aderência das bactéria às células uroteliais ▪ Fatores comportamentais → relação sexual (profissionais do sexo, relações muitas vezes na semana), novo parceiro no último anos, uso de espermicida, ITU antes dos 15 anos, HF materna de ITU ▪ Ãnatomia → ↓ da distância entre a uretra e o ânus NEFROLOGIA Mayara Suzano dos Santos – T XIV A 7º Semestre – 2022.1 7 REFERÊNCIAS: Goldman, Lee. Goldman-Cecil Medicina. Disponível em: Minha Biblioteca, (25ª edição). Grupo GEN, 2018. Riella, Miguel Carlos. Princípios de Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolíticos, (6ª edição. Grupo GEN, 2018.
Compartilhar