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Direito das Sucessões - As hipóteses e formas de sucessão do companheiro na união estável homoafetiva

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Inicialmente, convém relembrar o conceito mais simplificado e primitivo de sucessões que tem por base um conjunto de normas das quais tratam sobre a transferência de patrimônio, seja ele ativo ou passivo, de alguém após a sua morte, em virtude de lei ou testamento. Sendo a propriedade, portanto, o fundamento do direito sucessório, tratada nos diplomas legais nos arts. 1.784 a 2.027 do Código Civil.
Nesse sentido, a sucessão pode então ocorrer de duas formas conforme previsão do art. 1.786 do CC. A primeira, que se dá em virtude da lei, denominada de sucessão legítima, prevista no art. 1.829, decorre da não manifestação do de cujus quanto ao destino dos seus bens, ou quando essa manifestação ocorre de maneira viciada, ou ainda se limitada pelo fato de haver herdeiros necessários (ascendentes, descendentes e o cônjuge). A segunda é a chamada sucessão testamentária, prevista nos arts. 1.788 e 1857, que decorre de manifestação de última vontade, expressa em testamento ou codicilo. 
De acordo com o art. 1.788 do Código Civil: “Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorre quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo”. No azo da sucessão legítima, o chamamento dos sucessores é feito de acordo com uma sequência denominada ordem de vocação hereditária, que é uma relação preferencial, estabelecida pela lei, das pessoas que são chamadas para suceder o de cujus.
A sequência de vocação hereditária reflete uma preocupação social em manter a unidade familiar, estabelecendo a ordem baseada nos vínculos de sangue e de afinidade, como é possível perceber ao analisar o disposto no art. 1829 do CC, no qual a sucessão legítima defere-se na ordem: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais.
Nesse meio essencialmente legal, como não há que se falar em chamar à sucessão, salvo disposto em testamento, herdeiros que não estejam arrolados na ordem de vocação hereditária do art. 1829, a figura do companheiro na união estável, incluindo a homoafetiva, terminava por não ser contemplada ou até posta em desvantagem, haja vista a diferenciação que existia quanto ao regime sucessório do cônjuge e do companheiro no art. 1790 do CC declarado inconstitucional no Recurso Extraordinário nº 646.721 do relator Ministro Marco Aurélio:
DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. APLICABILIDADE DO ART. 1.845 DO CÓDIGO CIVIL ÀS UNIÕES ESTÁVEIS HOMOAFETIVAS. AUSÊNCIA DE OMISSÃO OU CONTRADIÇÃO. 1. Embargos de declaração em que se questiona (i) a aplicabilidade do art. 1.845 do Código Civil às uniões estáveis homoafetivas e (ii) o marco temporal de aplicabilidade do art. 1.829 do Código Civil às uniões estáveis homoafetivas. 2. A repercussão geral que foi reconhecida pelo Plenário do STF diz respeito apenas à aplicabilidade do art. 1.829 do Código Civil às uniões estáveis homoafetivas. Não há omissão a respeito da aplicabilidade do art. 1.845 do Código Civil a tais casos. 3. A decisão recorrida é clara em estabelecer que “o entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha havido trânsito em julgado da sentença de partilha e às partilhas extrajudiciais em que ainda não haja escritura pública”. Ausência de contradição. 4. Embargos de declaração rejeitados. (STF – RE 646.721 RS, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 10/05/2017, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 11/09/2017)
Embora não faça expressamente parte do rol exemplificativo trazido pela Constituição Federal para modelos de família, e considerando o longo histórico de discriminações e preconceitos ainda sofridos por essas pessoas, o reconhecimento da união estável homoafetiva como entidade familiar que possui seus efeitos jurídicos equiparados ao da união estável heteroafetiva é a efetivação de Princípios básicos para condição humana, como da Dignidade da Pessoa Humana e da igualdade no tratamento.
Ademais, a equiparação do cônjuge ao companheiro, igualou-os também na condição de sucessor legítimo. Destarte, o companheiro homoafetivo que sobrevive também pode ser herdeiro e concorrer junto aos ascendentes e descendentes à herança, sendo, para além, herdeiro universal da legítima na hipótese, por exemplo, em que não exista outros herdeiros necessários ou eventuais terceiros testamentários.
	Dessa forma, com a abertura da sucessão, pela morte do de cujus, nasce o direito de herdar. Dispõe o art. 1.784 do Código Civil: “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. Para isso, estes precisam ter capacidade ou legitimação sucessória e não serem excluídos da sucessão, por indignidade ou deserdação (para o caso dos herdeiros necessários).
	Com as regras aplicadas ao casamento passando a serem atribuídas também ao companheiro na união estável, o direito à herança passou a estar relacionado ao regime de bens aplicado à união estável nas ocasiões que envolvem descendentes do de cujus. 
	Com isso, no caso de existirem descendentes do falecido, nos termos do art. 1829, I, defere-se a herança aos descendentes em concorrência com o companheiro exceto se o regime de comunhão de bens adotados para união estável for o da comunhão universal, o de separação obrigatória ou ainda o da comunhão parcial de bens sem bens particulares, uma vez que, em concorrência com os descendentes, o companheiro só herda se o autor da herança houver deixado bens particulares.
No tocante aos bens comuns, apenas os filhos ou outros descendentes herdarão da meação que era cabida ao de cujus. O companheiro irá receber apenas a sua meação referente aos bens comuns e não herdará da meação do falecido, pois não vai herdar parte daquilo que já tem metade, isto porque meação e herança são conceitos distintos e não se confundem, devendo a primeira ser realizada antes da partilha porque é consequência lógica da dissolução da sociedade conjugal.
Assim, a comunhão parcial sem bens particulares assemelha-se bastante a comunhão universal em relação ao meeiro, pois este, nos dois casos, receberá cinquenta por cento do importe total. Já no caso de existirem bens particulares em regime de comunhão parcial, concorrerão, descendentes e companheiro, apenas em relação aos bens particulares do de cujus.
Na separação obrigatória de bens, por sua vez, em que a lei também exclui expressamente o direito de herança ou companheiro quando houver filhos, a totalidade dos bens particulares daquele que morreu serão divididos pelos descendentes bem como, em situação excepcional, quando houver bens comuns, dividirão a meação que era devida ao de cujus, sendo resguardado ao companheiro sobrevivente o direito à meação nos bens comuns, se houver.
Por oportuno, na separação total, os bens particulares do autor da herança serão divididos entre os filhos e o companheiro sobrevivente pois, nesse caso, só há bens particulares e, portanto, o companheiro que sobreviveu vai ter direito a partilhar a totalidade da herança com os descendentes.
Ademais, a sucessão poderá ser por direito próprio (por cabeça) ou ainda por direito de representação (por estirpe). Na sucessão por cabeça, por exemplo, se uma pessoa deixa companheiro e três filhos, cada um receberá um quarto da herança. É importante destacar que o companheiro, se ascendente dos herdeiros, não receberá nunca o importe inferior a quarta parte da herança conforme disposto no art. 1.832 do CC. Essa regra, porém, não se aplica no caso de existir ao menos um herdeiro exclusivo do de cujus, nesse caso divide-se por cabeça. 
A sucessão por estirpe ou direito de representação surgequando o parente de grau inferior compõe a mesma linha de sucessão com outro degrau superior. Assim, o parente mais próximo representa aquele que faleceu antes do de cujus, observando-se sempre a ordem de vocação hereditária. Por exemplo, se o falecido deixou companheiro e três filhos, sendo um desses filhos pré-morto com dois descendentes, companheiro e os filhos recebem um quarto ao passo que, cada um dos dois netos receberá um oitavo, ou seja, metade de um quarto que seria devido ao filho pré-morto. 
Em não havendo descendentes, o Código Civil, em sua lista de ordem de vocação hereditária, no inciso II do art. 1829, traz que a sucessão legítima se defere aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge ou companheiro. Nesse caso, não importa qual foi o regime de bens adotado na união estável, basta apenas que haja bens para serem partilhados.
Todos os bens do de cujus irão compor a sua herança, qual sejam, os bens particulares e o patrimônio que foi adquirido durante a união estável junto ao companheiro. Nesse sentido, em razão do regime de bens adotado, o bem comum será dividido por conta da meação, reservando a parte que couber ao companheiro sobrevivente, uma vez que ela não é herança. Para a hipótese de não haver ascendentes diretos (pai e mãe), a parte da herança devida a eles passará aos avós vivos, recebendo, cada um, partes iguais.
Assim, no tocante ao bem comum devido a ambos os companheiros durante a união, exclui-se a meação cabida ao companheiro sobrevivente, em razão do regime da comunhão adotado ter sido parcial ou universal de bens, e o restante será dividido em duas quotas iguais, cabendo uma ao companheiro sobrevivente e a outra aos ascendentes. Já no caso de haver patrimônio particular do de cujus, em razão do regime adotado ter sido o parcial ou separação de bens, a herança será dividida em quotas iguais, cabendo uma ao companheiro e duas para os ascendentes (uma para o pai e outra para a mãe).
Para além da hipótese trazida no art. 1829, II, do CC, a lei prevê nos incisos seguintes que, não havendo descendentes ou ascendentes, mas sim cônjuge ou companheiro, este herdará exclusivamente o patrimônio total do de cujus. Por fim, caso também não haja cônjuge ou companheiro, a herança caberá aos parentes colaterais.
No que se refere à sucessão testamentária do companheiro na união estável homoafetiva, convém reiterar que, hodiernamente, com a equiparação da sucessão do cônjuge com o companheiro, ambos são herdeiros legítimos de forma igualitária ambos regidos pelo art. 1.829 do CC. 
Para além, nos termos no Código Civil, no art. 1.845: “São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge”, portanto, seguindo a mesma lógica da equiparação com o cônjuge, o companheiro é também um herdeiro necessário a quem é a assegurado metade da legítima, nos termos do art. 1.789.
Legítima é um termo jurídico que significa a metade dos bens da herança e assegurada aos herdeiros necessários com o objetivo de protegê-los, a fim de que estes não fiquem sem nada quando o óbito do autor da herança ocorrer.
Dessa forma, sendo o companheiro sobrevivente um herdeiro necessário, fica assegurado, por lei, cinquenta por cento do patrimônio do de cujus. Nesse sentido, o testador não poderá dispor da legítima dos herdeiros necessários de forma a incluí-la no testamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em 25 de mar de 2022.
MARDIROSSIAN, Aram. Sucessão de Companheiro Homoafetivo: equiparação ao casamento para efeitos sucessórios. WPMG Advogados. Disponível em: < https://www.wpmg.adv.br/single-post/2018/06/28/sucessão-de-companheiro-homoafetivo-equiparação-ao-casamento-para-efeitos-sucessórios >. Acesso em 25 de mar de 2022.
MOREIRA, Bruno. Sucessão na união estável: aplicação prática e controvérsias. Jus, 2019. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/77971/sucessao-na-uniao-estavel-aplicacao-pratica-e-controversias>. Acesso em 25 de mar de 2022.

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