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Thais Alves Fagundes ENDOCARDITE INFECCIOSA Processo infeccioso que acomete o endocárdio: • Geralmente envolve a superfície valvular. • Pode ocorrer no endocárdio que reveste uma comunicação interatrial (CIA) ou interventricular (CIV), em uma anormalidade cardíaca, corda tendínea ou endocárdio mural. Classificação: • Etiologia: bacterianas, fúngicas, virais o Estafilococos (Staphylococcus aureus) o Estreptococos (Streptococcus pneumoniae, grupo Viridans) o Enterococos • Evolução clínica: aguda ou subaguda o Aguda: evolução rápida com lesão valvular importante. Agentes mais virulentos, estafilococos. Pode evoluir para sepse e insuficiência valvular. o Subaguda: evolução insidiosa. Agentes menos virulentos, estreptococos grupo viridans e enterococos. • Origem do paciente: EI comunitária ou hospitalar • Doença valvular: EI de válvulas naturais, EI em próteses valvulares • Condição predisponente: EI em usuários de drogas, EI pós-inserção de DIU, pós-cateter urinário • Resultado das hemoculturas: EI com culturas positivas, EI com culturas negativas por uso prévio de antibióticos, EI com culturas frequentemente negativas, EI com culturas sempre negativas. EPIDEMIOLOGIA • Mais prevalente no meio urbano comparado ao rural. • Metade dos casos ocorre em pacientes maiores de 60 anos. o 1. queda de casos de doença cardíaca reumática infantil, por uso antimicrobianos antiestreptocócicos. o 2. longevidade dos pacientes com doenças cardíacas ou reumáticas. o 3. aumento dos casos de doenças degenerativas cardíacas (visto principalmente em pacientes idosos). o 4. uso de intervenções terapêuticas invasivas (cateteres, marca-passos cardíacos, hemodiálises) que acometem pacientes mais idosos, aumentando os riscos de bacteriemia. o 5. trocas valvulares por próteses, o que ocorre mais frequentemente em idosos. • No caso de válvulas normais, os homens são mais acometidos do que as mulheres. FATORES DE RISCO • Alto risco: o Presença de prótese cardíaca valvular o Endocardite prévia o Doenças cardíacas congênitas cianóticas o Shunts pulmonares sistêmicos realizados cirurgicamente • Risco moderado: o Outras malformações cardíacas congênitas o Disfunção valvular adquirida o Cardiomiopatia hipertrófica o Prolapso de válvula mitral com valvular regurgitação ou espessamento de folheto. o Condições cardíacas subjacentes e em grupos de usuários de drogas injetáveis. OBS.: condições associadas a bacteriemia (procedimentos respiratórios, gastrintestinais e geniturinários) não são consideradas importantes fontes microbianas, exceto se houverem condições cardíacas preexistentes de alto risco. Thais Alves Fagundes FISIOPATOGENIA Lesão característica: • Vegetação composta por deposição de plaquetas, fibrina, microrganismos e células inflamatórias. • Bactérias fazem parte do núcleo da vegetação e são recobertas por camadas de fibrina, dificultando a fagocitose dos neutrófilos. Quadro clínico: • Processo infeccioso existente. • Alterações mecânicas decorrentes do crescimento local da vegetação. • Embolização originada das vegetações e da circulação de complexos imunes. Formação da vegetação: • Lesão endotelial em decorrência de: o Fluxo turbulento, ocasionando aumento do gradiente de pressão entre dois compartimentos. ▪ Exemplo: comunicação interventricular (CIV), insuficiência mitral e aórtica, estenoses valvulares e coartação da aorta, próteses valvares, eletrodos ou cateteres instalados. o Repetidas lesões. ▪ Decorrentes de injeções intravenosas com partículas, em usuários de drogas injetáveis. • Deposição de fibrina no local. • Ativação da cascata da coagulação, com aumento progressivo do trombo. o Vegetações ocorrem geralmente à jusante da lesão na face valvar da câmara de menor pressão. ▪ Face atrial das válvulas mitral e tricúspide. ▪ Face ventricular da válvula aórtica. ▪ Ventrículo direito na CIV. • Formação do trombo. • Aderência dos microrganismos. Ocasionada por bacteremias de processos traumáticos (escovação dentária, cateterismos ou partos vaginais). • Bactérias possuem fatores de adesão que contribuem na gênese da EI e causam maior lesão endotelial. • Criação de um ciclo de inflamação: o Mediado por monócitos aderentes e células endoteliais ativadas. o Liberam uma variedade de citocinas e fator tecidual. o Promovendo maior deposição local de fibronectina. o Facilita mais a ligação com os fatores de adesão bacterianos, como dos Staphylococcus aureus. o Bactérias infectam células endoteliais, lisando-as ou persiste no interior, mantém estado inflamatório. • Ciclo inflamatório persistente favorece a coagulação local do sangue. o Atraindo e ativando mais plaquetas. o Provoca o crescimento da vegetação. • Complicações das vegetações: o Destruição valvular, cordoalhas e músculos papilares. o Formação de abscessos miocárdicos com posterior ruptura e pericardite. o Fenômenos embólicos, decorrentes da fragmentação da vegetação. ▪ Acometem principalmente rins, baço, pulmões, cérebro e vasos sanguíneos. Thais Alves Fagundes EVOLUÇÃO CLÍNICA Forma aguda: • Infecção de valvas cardíacas por microrganismos de elevada virulência, alta letalidade. o Staphylococcus aureus o Streptococcus pneumoniae • Destruição rápida das valvas, septicemia e embolizações sistêmicas. • Doença febril consumptiva, que lesiona rapidamente as estruturas cardíacas. • Dissemina por via hematogênica para locais extra-cardíacos → fígado e baço (visceromegalias) Forma subaguda: • Acometimento de valvas previamente danificadas. • Infecção por microrganismos de baixa virulência, como os estreptococos do grupo viridans. • Evolui gradualmente, com lesões cardíacas estruturais de lento surgimento. • Raramente dissemina por via hematogênica e causa metástases. DOENÇA VALVULAR Endocardite de valas nativas: • 60-80% dos pacientes com endocardite que não usam drogas intravenosas apresentam lesões valvares. • Doença reumática: principal fator predisponente para endocardite. o Valva mitral é a mais frequentemente afetada. o Valva aórtica é a segunda mais afetada. o Acometimento simultâneo das valvas mitral e aórtica (menos de 5% dos casos). o Valva tricúspide é raramente afetada. Endocardite em prótese valvar: • 10 a 20% dos casos de endocardite. • Dividem-se as endocardites em próteses valvares em precoces (12meses) e tardias (>12meses) o Precoces: ▪ Resultam de contaminação da prótese durante o ato cirúrgico, ou logo após a cirurgia. ▪ Em decorrência de bacteremias do período pós-operatório precoce. o Tardia: ▪ Resultam de bacteremias transitórias que infectam a prótese valvar. ▪ Tem uma maior semelhança em seu curso e microbiologia à endocardite de valvas nativas QUADRO CLÍNICO Dispneia: indicativo de lesão hemodinamicamente grave, como uma insuficiência valvar do coração esquerdo. Sintomas associados de ortopneia e de dispneia paroxística noturna prenunciam o desenvolvimento de insuficiência cardíaca. Insuficiência cardíaca: complicação mais frequente da EI, preditor mais importante do mau prognóstico. Pode explicar a esplenomegalia Dor torácica pleurítica: pode resultar da embolização séptica com consequente infarto pulmonar, com origem em uma EI tricúspide complicada. Angina de peito: relacionada com a embolização de fragmentos de vegetações para a circulação coronária. Thais Alves Fagundes Sintomas torácicos musculoesqueléticos: relacionados com infecção sistêmica ou resultantes de uma pneumonite infecciosa sobreposta. Edema de articulação Manifestações pulmonares: comuns em acometimento da válvula tricúspide. Incluem tosse, dor torácica e hemoptise. Febre: sintoma mais comum e geralmente é baixa, mas pode estar ausente em idosos ou imunocomprometidos. Sopro cardíaco: em decorrência da destruição valvar (sopro holossistólico). Taquicardia: AVC é com maisfrequência cardioembólico, mas pode acontecer de forma mais rara devido a complicações de um aneurisma micótico cerebrovascular intracraniano, como por exemplo à sua ruptura com hemorragia cerebral associada. Desconforto e dor à palpação: sugestivo de embolização e infarto esplênico (quadrante superior esquerdo), especialmente se complicado de abcesso esplênico. Lesões cutâneas: decorrentes de embolias ou vasculite por imunocomplexos. • Petéquias: conjuntivais, palatinas e bucais ou nas extremidades. • Manchas de Janeway: máculas hemorrágicas indolores, predileção pelas plantas dos pés e pelas palmas das mãos, sequelas de embolizações sépticas periféricas, particularmente na EI de origem estafilocócica. • Hemorragias subungueais em estilha: lesões lineares vermelho-escuras indolores, localizadas na parte proximal do leito ungueal e que podem coalescer. • Nódulos de Osler: lesões nodulares eritematosas, indolores e geralmente localizadas na polpa dos dedos das mãos e dos pés e resultam da deposição de complexos imunes circulantes e de fenômenos de vasculite focal. • Manchas/pontos de Roth: hemorragias retinianas com um centro pálido de fibrina coagulada, relacionados com uma vasculite secundária à EI mediada por imunocomplexos. COMPLICAÇÕES • Estenose valvar • Pericardite • ICC (devido à destruição valvar) • Fenômenos embólicos (territórios renal, cerebral, coronário e esplênico) • Glomerulonefrite (devido à deposição de imunocomplexos) • Meningite asséptica • Poliartrite (devido à deposição de imunocomplexos) DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS DE DUKE Critérios maiores: • Hemocultura positiva: o Microrganismo típico (2 amostras separadas). o Bacteremia persistente com qualquer microrganismo (hemoculturas persistentemente positivas). • Evidência de envolvimento endocárdico: o Achados ecocardiográficos: massa móvel fixada na valva ou aparelho valvular, ou abscesso, ou deiscência parcial nova de valva protética. o Regurgitação valvar nova. Thais Alves Fagundes Critérios menores: • Condição cardíaca predisponente ou uso de drogas intravenosas. • Febre ≥ 38ºC • Fenômenos vasculares (embolia arterial, infartos pulmonares, aneurisma micótico, lesões de Janeway, hemorragia conjuntival). • Fenômenos imunes (glomerulonefrite, nódulos de Osler, manchas de Roth e fator reumatoide). • Evidência microbiológica (uma hemocultura positiva). Endocardite infecciosa: • Definitiva: o 2 maiores ou o 1 maior e 3 menores ou o 5 menores • Provável: o 1 maior e 1 menor ou o 3 menores • Refutado: o Não cumpre os critérios de Duke. o Revela resolução completa de uma suspeita de síndrome de EI não confirmada ou a ausência de evidência anatômica de EI no curso de uma antibioterapia com quatro ou menos dias de duração. o Diagnóstico alternativo que explique a apresentação inicial for confirmado. EXAMES COMPLEMENTARES Hemoculturas: colhidas 12 a 24 horas antes de iniciada a antibioticoterapia, três amostras em locais diferentes, com intervalo mínimo de 1 hora. Positiva em 85% dos casos. Hemograma completo: • EI subaguda: o Anemia normocítica normocrômica. o Valores baixos de ferro sérico e de capacidade total de ligação ao ferro. o Leucopenia associada a esplenomegalia (raro). • EI aguda: o Leucocitose com um desvio para a esquerda. o Trombocitopenia. Ecocardiografia: vegetações, abcessos, aneurismas, fístulas, perfuração de folheto e deiscência de próteses. Thais Alves Fagundes Urina rotina: hematúria microscópica, proteinúria. Nos casos de glomerulonefrite mediada por imunocomplexos, os cilindros de eritrócitos são encontrados com frequência, associados a níveis séricos de complemento reduzidos. ECG: apresenta em geral alterações inespecíficas em pacientes com EI não complicada. Sorologia: identificação de agentes etiológicos em cultivo. Positividade demonstrada pela elevação dos títulos de IgG. Exame patológico valvular: estudo histológico e cultura. Pouco usado. Reação em cadeira de polimerase (PCR): identificação de microrganismos quando hemoculturas são negativas, uso anterior de antibiótico ou causado por organismos fastigiosos ou não cultivados. Pouco usado. TRATAMENTO • Combinação de agentes bactericidas com prolongada terapia parenteral. o Preferência por bactericidas. o Aminoglicosídeos e inibidores de parede celular (beta lactâmicos) têm efeito sinérgico. • Tratamento (4 a 6 semanas) prolongado, para eliminar bactérias dormentes agrupadas em focos infectados. • Considerando os prováveis agentes infectantes, utilizamos a terapia empírica da EI. o Escolha inicial do tratamento empírico depende de: ▪ Paciente recebeu tratamento com antibióticos antes ou não. ▪ Infecção de valva natural ou protética, se sim, quando foi a cirurgia (precoce ou tardia). ▪ Resistência aos antibióticos específicos e de organismos de difícil isolamento em cultivo. • Tratamento deve ser ajustado logo após o diagnóstico do patógeno. PROFILAXIA • Procedimentos na orofaringe, nasofaringe e esôfago que possam causar sangramento (dentários, amigdalectomia, broncoscopia, dilatação de estenoses esofágicas, colocação de stents esofágicos). • Cirurgias da próstata, cistoscopia e dilatação uretral. • Cirurgias cardíacas. o Procedimentos orais: profilaxia para estreptococos do grupo Viridans. o Procedimentos dos tratos gastrointestinal e geniturinário: profilaxia para enterococos. o Cirurgias cardíacas: profilaxia para estafilococos.
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