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História Medieval

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Prévia do material em texto

2013
História Medieval
Prof. Fabiano Dauwe
Prof. Thiago Juliano Sayão
Prof. Itamar Siebert
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof. Fabiano Dauwe
Prof. Thiago Juliano Sayão
Prof. Itamar Siebert
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
 930
 D244h Dauwe, Fabiano
 História medieval / Fabiano Dauwe; Thiago Juliano Sayão; 
 Itamar Siebert. Indaial : Uniasselvi, 2013.
 
 284 p. : il
 
 ISBN 978-85-7830- 717-2
1. História do mundo antigo. 2. História medieval.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
III
apresentação
Prezado(a) acadêmico(a)!
Nesta disciplina, vamos estudar a Idade Média. É um período histórico 
fascinante, que nos “transporta” facilmente a um mundo fantástico, repleto 
de guerreiros bárbaros, servos feudais, cavaleiros em armaduras, cruzados 
e sarracenos. Esse parece ser um mundo tão distante do nosso e, ao mesmo 
tempo, tão familiar que mexe profundamente com a nossa imaginação, 
como comprova a enorme quantidade de livros, seriados, contos de fadas 
e filmes que existem sobre a Idade Média; para completar, o período parece 
(especialmente há alguns anos) “estar na moda”.
O objetivo deste Caderno de Estudos, além de transmitir a você alguns 
conhecimentos sobre os acontecimentos que são tradicionalmente estudados 
nesse período - e que realmente são importantes -, é quebrar em parte a visão 
tradicional e limitada sobre esse período de mil anos. Ao contrário do que 
acredita o senso comum, a Idade Média foi um período repleto de inovações 
tecnológicas, mudanças sociais, econômicas e demográficas profundas e 
constantes, intensas trocas culturais e uma economia comercial fortemente 
globalizada, em que a cultura letrada foi preservada e, em determinadas 
partes do mundo, floresceu como nunca havia acontecido antes.
Se toda essa imagem nova parece estranha, considerando o que 
sabemos sobre a Idade Média na Europa, isso ficará claro quando observarmos 
esse período a partir de uma perspectiva diferente. Não apenas vamos repensar 
o que ocorreu na própria Europa (e como isso ocorreu), mas também veremos 
a história de outras regiões muito mais dinâmicas, naquela época, do que a 
sociedade agrária, fechada e beligerante que surgiu com o fim do Império 
Romano do Ocidente. Há muito mais na Idade Média do que a Europa, e 
desfazer essa imagem eurocêntrica é fundamental para entendermos não 
apenas o período que desejamos estudar como o próprio período histórico em 
que vivemos. Hoje, não é mais possível olharmos para o mundo simplesmente a 
partir de um predomínio dos países tradicionalmente poderosos: o mundo está 
fragmentado demais, geopoliticamente falando, para que isso seja suficiente.
O caderno que você tem em mãos é uma reformulação da edição 
original. Nesta versão, algumas discussões foram ampliadas, outras foram 
inseridas. A estrutura do caderno foi ligeiramente alterada, mas manteve-se 
uma organização baseada, na medida do possível, em critérios cronológicos.
A primeira unidade deste caderno trata dos primórdios da Idade 
Média; inicialmente, uma discussão teórica e historiográfica sobre o seu 
significado, seguida dos eventos fundantes desse período: a queda do Império 
IV
Romano, a política e a religião nos primeiros séculos, tanto na Europa quanto 
no novo mundo muçulmano.
 A segunda unidade concentra-se nas grandes civilizações da época e 
suas realizações: Império Romano do Oriente (Bizantino), mundo islâmico e 
Europa feudal. 
A terceira unidade trata dos eventos que transformaram a sociedade 
feudal e deram origem ao mundo moderno que será objeto de estudos futuros: 
as Cruzadas, o avanço mongólico e a chamada Baixa Idade Média.
A intenção deste caderno não é esgotar o tema, mas dar a você uma 
visão muito resumida do que um professor de História precisa saber para 
ensinar Idade Média aos seus alunos em sala de aula.
 Alguns dos temas aqui abordados talvez não estejam no currículo 
tradicional das escolas. No entanto, é fundamental que você tenha em mente, 
o tempo todo, que, se deseja ser um bom professor, terá que conhecer muito 
bem o assunto que ensinará, o que significa, no mínimo, conhecer mais do que 
o material que utilizará em sala de aula. Este caderno não pode, nem pretende 
apresentar tudo: em vez disso, o objetivo é trazer uma visão diferente sobre 
aquela história contada, para que você possa observar os livros de História 
com um olhar mais crítico. 
Portanto, não cometa o erro de ler pouco sobre algum tema ou de 
achar que algumas páginas (ou alguns tópicos resumidos) dirão tudo o que 
você precisa saber sobre um assunto. 
Não pare e tenha sempre em mente as razões que levaram você a 
desejar saber o suficiente sobre isso para ser capaz de ensinar outras pessoas.
Bons estudos!
Fabiano Dauwe
Thiago Juliano Sayão
Itamar Siebert
V
UNI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, 
há novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o 
material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato 
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação 
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir 
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
UNIDADE 1 - AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA ........................................................................... 1
TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A IDADE MÉDIA ................................. 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 SOBRE O CONCEITO DE IDADE MÉDIA ................................................................................... 4
 2.1 A IDADE MÉDIA E O SENSO COMUM .................................................................................... 4
 2.2 OS SIGNIFICADOS DA IDADE MÉDIA .................................................................................... 6
 2.2.1 Imaginando ................................................................................................................................6
 2.2.2 O problema em julgar o passado ............................................................................................ 6
 2.2.3 Evitando o anacronismo .......................................................................................................... 7
 2.2.4 O conceito de “idade média” é anacrônico! .......................................................................... 8
3 O CONCEITO DE IDADE MÉDIA APÓS O RENASCIMENTO .............................................. 9
 3.1 NA REFORMA RELIGIOSA ......................................................................................................... 9
 3.2 NO ILUMINISMO .......................................................................................................................... 9
 3.3 O ROMANTISMO E A IDADE MÉDIA ..................................................................................... 10
 3.4 A PERSPECTIVA LIBERAL ........................................................................................................... 11
 3.5 A PERSPECTIVA MARXISTA ....................................................................................................... 12
4 CONCEITOS MODERNOS ............................................................................................................... 12
5 FAZ SENTIDO FALAR EM “UMA” IDADE MÉDIA? ................................................................. 13
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 15
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 18
TÓPICO 2 - A IDADE MÉDIA NA HISTORIOGRAFIA .............................................................. 19
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 19
2 TEORIAS SOBRE O INÍCIO DA IDADE MÉDIA ....................................................................... 20
 2.1 A IDADE MÉDIA E A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO ....................................................... 20
 2.1.1 Os contemporâneos: Vegécio e Salviano ............................................................................... 20
 2.1.2 Uma visão Iluminista: Gibbon e a “decadência moral” ...................................................... 21
 2.1.3 Os grandes sistemas civilizadores: Toynbee ......................................................................... 22
 2.2 A TEORIA DOS MÚLTIPLOS FATORES .................................................................................... 22
 2.3 TEORIAS DO COLAPSO AMBIENTAL ...................................................................................... 24
 2.4 TEORIAS DA TRANSFORMAÇÃO ............................................................................................ 25
3 TEORIAS SOBRE O FINAL DA IDADE MÉDIA ......................................................................... 27
 3.1 A TEORIA CLÁSSICA ................................................................................................................... 27
 3.2 A EXPLICAÇÃO A PARTIR DAS PERIODIZAÇÕES ............................................................... 28
 3.3 JACQUES LE GOFF E A “LONGUÍSSIMA IDADE MÉDIA” .................................................. 29
 3.4 QUAL PERIODIZAÇÃO ADOTAR? .......................................................................................... 30
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 31
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 34
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 35
TÓPICO 3 - ANTECEDENTES: A ANTIGUIDADE TARDIA ....................................................... 37
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 37
suMário
VIII
2 O AUGE E A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO ROMANO ............................................................. 37
 2.1 POR QUE A DECADÊNCIA? ....................................................................................................... 39
 2.1.1 O fim das conquistas militares ................................................................................................ 39
 2.1.2 A crise do século III .................................................................................................................. 40
 2.2 OS REFORMADORES: DIOCLECIANO E CONSTANTINO .................................................. 43
 2.3 AS ORIGENS REMOTAS DO FEUDALISMO ............................................................................ 45
3 OS BÁRBAROS NO IMPÉRIO DO OCIDENTE .......................................................................... 47
 3.1 OS HUNOS ...................................................................................................................................... 48
 3.2 A QUEDA DE ROMA .................................................................................................................... 50
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 51
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 54
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 55
TÓPICO 4 - O ESTADO E A IGREJA NA IDADE MÉDIA ............................................................ 57
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 57
2 OS REINOS BÁRBAROS ................................................................................................................... 57
3 O REINO FRANCO ............................................................................................................................. 60
 3.1 O REINADO DE CARLOS MAGNO ........................................................................................... 62
 3.1.1 O Renascimento Carolíngio ..................................................................................................... 63
 3.1.2 A divisão do Império ................................................................................................................ 63
 3.2 NOVOS INVASORES ..................................................................................................................... 64
4 A IGREJA NA ALTA IDADE MÉDIA ............................................................................................. 65
 4.1 SANTO AGOSTINHO .................................................................................................................. 65
 4.2 O ARIANISMO ............................................................................................................................... 66
 4.3 OS BÁRBAROS E A IGREJA ......................................................................................................... 67
 4.4 A REGRA DE SÃO BENTO ........................................................................................................... 68
LEITURA COMPLEMENTAR ..............................................................................................................70
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 73
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 74
TÓPICO 5 - AS ORIGENS DO ISLAMISMO ................................................................................... 75
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 75
2 UMA NOVA FÉ: O ISLAMISMO ..................................................................................................... 76
 2.1 OS PRIMÓRDIOS: A ARÁBIA DO SÉCULO VII ....................................................................... 77
 2.2 MAOMÉ E A CRIAÇÃO DO ISLAMISMO ................................................................................ 78
 2.3 MORTE E SUCESSÃO DE MAOMÉ ............................................................................................ 79
3 OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ISLAMISMO ............................................................................. 80
 3.1 OS CINCO PILARES DO ISLÃ ..................................................................................................... 82
 3.2 O ALCORÃO ................................................................................................................................... 83
 3.3 O DIREITO ISLÂMICO: OS HADITHS, AS SUNAS E A SHARIA ......................................... 85
 3.3.1 As escolas de interpretação da lei ........................................................................................... 86
 3.4 O MODELO DE CONDUTA DO PROFETA .............................................................................. 87
 3.5 O MISTICISMO ISLÂMICO: O SUFISMO .................................................................................. 87
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 89
RESUMO DO TÓPICO 5 ....................................................................................................................... 92
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 93
UNIDADE 2 - O MUNDO DAS SOCIEDADES TEOCRÁTICAS ............................................... 95
TÓPICO 1 - A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO ORIENTAL ........................................... 97
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 97
2 AS ORIGENS DO IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE ............................................................. 98
 2.1 A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO NA PERSPECTIVA ORIENTAL .................................. 98
IX
 2.2 A PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA BIZANTINA .................................................................... 99
 2.3 O REINADO DE JUSTINIANO .................................................................................................... 100
 2.3.1 A revolta de Nika ...................................................................................................................... 101
 2.3.2 As reformas de Justiniano ........................................................................................................ 102
 2.4 A TRANSFORMAÇÃO DO IMPÉRIO ........................................................................................ 103
 2.5 AS PERDAS BIZANTINAS NA ÁFRICA .................................................................................... 104
3 CONSTANTINOPLA .......................................................................................................................... 105
 3.1 A CIDADE ........................................................................................................................................ 107
 3.2 MÉSIA, A PRINCIPAL AVENIDA DE CONSTANTINOPLA ................................................. 108
 3.3 O HIPÓDROMO ............................................................................................................................. 111
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 113
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 115
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 116
TÓPICO 2 - RELIGIÃO E OPULÊNCIA NO IMPÉRIO ROMANO ORIENTAL ...................... 117
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 117
2 AS CONTROVÉRSIAS RELIGIOSAS BIZANTINAS ................................................................. 117
 2.1 O NESTORIANISMO ..................................................................................................................... 117
 2.2 A ICONOCLASTIA ........................................................................................................................ 118
 2.2.1 A justificativa teológica do conflito ........................................................................................ 119
 2.2.2 As motivações sociais do conflito ........................................................................................... 121
 2.3 O GRANDE CISMA ....................................................................................................................... 122
3 O AUGE DO IMPÉRIO DO ORIENTE: A DINASTIA MACEDÔNICA ................................. 125
 3.1 A CRISTIANIZAÇÃO DA RÚSSIA ............................................................................................. 126
4 A DECADÊNCIA ................................................................................................................................. 128
 4.1 MOTIVOS ECONÔMICOS E POLÍTICOS DO DECLÍNIO DE 
 CONSTANTINOPLA ..................................................................................................................... 128
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 132
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 135
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 136
TÓPICO 3 - A EXPANSÃO MUÇULMANA E A “ERA DE OURO” DO 
 ISLAMISMO ..................................................................................................................... 137
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 137
2 O AVANÇO MUÇULMANO ............................................................................................................. 137
 2.1 O CALIFADO RASHIDUN ........................................................................................................... 139
 2.2 O CALIFADO OMÍADA ................................................................................................................ 140
 2.3 O CALIFADO ABÁSSIDA ............................................................................................................. 142
 2.4 A PAX ISLAMICA E A QUEBRA DA UNIDADE ...................................................................... 143
3 MAIS POVOS SE UNEM AO ISLÃ .................................................................................................144
 3.1 A CONQUISTA DO MAGREBE E DE AL- ANDALUS ............................................................ 144
 3.2 OS TURCOS E OS MONGÓIS ...................................................................................................... 146
 3.3 A AMPLITUDE DOS DOMÍNIOS MUÇULMANOS: DA ÁFRICA À CHINA .................... 147
4 A CULTURA MUÇULMANA ............................................................................................................ 148
 4.1 AS ARTES ........................................................................................................................................ 148
 4.1.1 Os arabescos .............................................................................................................................. 148
 4.1.2 A caligrafia ................................................................................................................................. 149
 4.1.3 A arquitetura ............................................................................................................................. 150
 4.1.4 Literatura .................................................................................................................................... 151
 4.1.5 Outras artes ................................................................................................................................ 152
 4.2 A FILOSOFIA E AS CIÊNCIAS ..................................................................................................... 152
 4.2.1 A Educação ................................................................................................................................ 152
X
 4.2.2 A Filosofia .................................................................................................................................. 152
 4.2.3 As ciências ................................................................................................................................. 153
 4.3 AS MULHERES E O ISLAMISMO ............................................................................................... 154
 4.4 O ISLÃ E OS “INFIÉIS” ................................................................................................................. 156
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 157
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 159
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 160
TÓPICO 4 - O FEUDALISMO .............................................................................................................. 161
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 161
2 SOBRE O CONCEITO DE FEUDALISMO .................................................................................... 161
 2.1 AS ORIGENS DO CONCEITO DE FEUDALISMO ................................................................... 162
 2.2 CRÍTICAS AO CONCEITO DE FEUDALISMO ......................................................................... 163
 2.3 OS FEUDALISMOS: LOMBARDIA, GRÃ-BRETANHA E OUTROS 
 LUGARES ........................................................................................................................................ 164
3 OS MODELOS DE FEUDALISMO .................................................................................................. 165
 3.1 O MODELO CLÁSSICO DE FEUDALISMO .............................................................................. 165
 3.1.1 A homenagem ........................................................................................................................... 165
 3.1.2 O feudo ....................................................................................................................................... 166
 3.1.3 As obrigações servis ................................................................................................................. 167
 3.2 A PERSPECTIVA MARXISTA ....................................................................................................... 167
4 AS ORIGENS DO FEUDALISMO ................................................................................................... 169
 4.1 A FRAGMENTAÇÃO DO IMPÉRIO CAROLÍNGIO ................................................................ 169
 4.2 OUTROS FATORES ........................................................................................................................ 169
 4.3 EM RESUMO ................................................................................................................................... 171
5 FUGINDO AO ESQUEMA ................................................................................................................ 171
 5.1 REVENDO CONCEITOS ............................................................................................................... 172
 5.2 AS COMUNICAÇÕES ................................................................................................................... 172
 5.3 A ECONOMIA ................................................................................................................................ 173
 5.4 A NATUREZA E O TEMPO MEDIEVAIS ................................................................................... 174
6 O AUGE DO FEUDALISMO ............................................................................................................. 174
 6.1 O FIM DAS INVASÕES BÁRBARAS ........................................................................................... 176
 6.2 A PRIMOGENITURA ..................................................................................................................... 176
 6.3 A PRESSÃO ECONÔMICA ........................................................................................................... 178
 6.4 A EXPANSÃO INTERNA DA SOCIEDADE .............................................................................. 178
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 180
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 182
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 184
UNIDADE 3 - A ERA DAS GRANDES TRANSFORMAÇÕES .................................................... 185
TÓPICO 1 - AS TRANSFORMAÇÕES DO SÉCULO XI E AS CRUZADAS .............................. 187
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 187
2 AS ORIGENS HISTÓRICAS DAS CRUZADAS .......................................................................... 187
 2.1 O SÉCULO XI, PERÍODO DE CONQUISTAS ............................................................................ 187
 2.1.1 Os turcos seljúcidas .................................................................................................................. 187
 2.1.2 Os primeiros tempos da reconquista ibérica ........................................................................ 188
 2.1.3 As conquistas normandas ........................................................................................................ 189
 2.2 A CRISE NA IGREJA NO SÉCULO XI ........................................................................................ 190
 2.3 A ECONOMIA EUROPEIA NO SÉCULOXI ............................................................................. 191
 2.4 O CONCÍLIO DE CLERMONT .................................................................................................... 191
3 AS MOTIVAÇÕES PARA AS CRUZADAS ................................................................................... 191
XI
 3.1 MOTIVAÇÕES ECONÔMICAS ................................................................................................... 191
 3.2 MOTIVAÇÕES RELIGIOSAS ........................................................................................................ 192
 3.3 MOTIVAÇÕES POLÍTICAS .......................................................................................................... 192
4 AS CRUZADAS .................................................................................................................................... 193
 4.1 OUTRAS CRUZADAS ................................................................................................................... 195
 4.2 O FIM DAS CRUZADAS ............................................................................................................... 195
 4.3 AS CRUZADAS VISTAS PELOS ÁRABES ................................................................................. 196
 4.4 AS PERSEGUIÇÕES AOS JUDEUS NAS CRUZADAS ............................................................. 200
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 201
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 203
TÓPICO 2 - AS CONQUISTAS MONGÓLICAS ............................................................................. 205
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 205
2 A ÁSIA CENTRAL ANTES DE GENGIS KHAN .......................................................................... 206
 2.1 A CHINA DA DINASTIA TANG ................................................................................................. 206
 2.2 A ROTA DA SEDA ......................................................................................................................... 208
3 GENGIS KHAN E AS CONQUISTAS MONGÓLICAS .............................................................. 210
 3.1 A EXPANSÃO MONGOL .............................................................................................................. 211
 3.2 SOB DOMÍNIO MONGÓLICO ................................................................................................... 212
 3.3 A PAX MONGOLICA .................................................................................................................... 213
4 CONSEQUÊNCIAS DAS INVASÕES MONGÓLICAS .............................................................. 214
 4.1 NA CHINA ...................................................................................................................................... 214
 4.2 NO MUNDO MUÇULMANO ...................................................................................................... 215
 4.3 NA EUROPA ................................................................................................................................... 216
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 218
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 219
TÓPICO 3 - A IGREJA E A CULTURA NA IDADE MÉDIA ......................................................... 221
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 221
2 A REFORMA ECLESIÁSTICA DO SÉCULO XI ........................................................................... 221
 2.1 O QUE SIGNIFICAVAM “REFORMA” E “IGREJA”? ............................................................... 222
 2.2 A IGREJA NO SÉCULO XI ............................................................................................................ 222
 2.3 O MOVIMENTO REFORMISTA .................................................................................................. 223
 2.3.1 O celibato clerical ...................................................................................................................... 223
 2.3.2 O Monasticismo ........................................................................................................................ 224
 2.3.3 Os cátaros e a Inquisição .......................................................................................................... 226
3 AS UNIVERSIDADES ........................................................................................................................ 227
4 O RENASCIMENTO DO SÉCULO XII ........................................................................................... 231
 4.1 A CONTRIBUIÇÃO GRECO-ÁRABE ......................................................................................... 231
 4.2 A REDESCOBERTA DOS CLÁSSICOS NOS ÁRABES ............................................................. 232
 4.3 A ESCOLÁSTICA ............................................................................................................................ 234
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ........................................................................................................... 236
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ........................................................................................................... 237
LEITURA COMPLEMENTAR 3 ........................................................................................................... 237
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 239
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 240
TÓPICO 4 - O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO ...................................................... 241
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 241
2 A ERA DO PREDOMÍNIO ISLÂMICO DO COMÉRCIO .......................................................... 241
 2.1 O EFEITO DAS CONQUISTAS MONGÓLICAS ....................................................................... 243
3 O COMÉRCIO NA EUROPA ............................................................................................................ 244
XII
 3.1 AS FEIRAS MEDIEVAIS ................................................................................................................ 245
 3.2 A FORMAÇÃO DOS BURGOS ..................................................................................................... 246
4 A VIDA URBANA NA BAIXA IDADE MÉDIA ............................................................................ 247
 4.1 DEMOGRAFIA E URBANISMO .................................................................................................. 247
 4.2 O SISTEMA CORPORATIVO ....................................................................................................... 249
 4.3 A FORMAÇÃO DA BURGUESIA ................................................................................................ 251
5 O MOVIMENTO COMUNAL E AS CIDADES LIVRES ............................................................. 253
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ...........................................................................................................256
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ........................................................................................................... 257
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 259
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 261
TÓPICO 5 - AS CORTES MEDIEVAIS .............................................................................................. 263
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 263
2 AS PRIMEIRAS FORMAS DE REINTEGRAÇÃO POLÍTICA .................................................. 263
 2.1 OS EFEITOS DO COMÉRCIO ....................................................................................................... 264
 2.2 OS TIPOS DE NOBREZA FEUDAL ............................................................................................. 264
3 AS DISPUTAS ENTRE PODERES PARTICULARES E UNIVERSAIS .................................... 266
4 A GUERRA DOS CEM ANOS E O NASCIMENTO DA MONARQUIA 
 ABSOLUTISTA .................................................................................................................................... 268
5 AS MULHERES E A SOCIEDADE ................................................................................................... 270
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 271
RESUMO DO TÓPICO 5 ....................................................................................................................... 272
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 273
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 275
1
UNIDADE 1
AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• compreender os conceitos de Idade Média formulados por historiadores 
ao longo dos tempos;
• identificar os principais fatores que levaram à queda do Império Romano 
do Ocidente;
• conhecer o processo de formação dos reinos bárbaros;
• perceber o papel que a religião desempenhou na constituição do mundo 
feudal;
• caracterizar a religião e a sociedade muçulmanas, compreendendo sua 
formação histórica.
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. Ao final de cada um deles você 
encontrará atividades que o(a) ajudarão a refletir e fixar os conhecimentos 
abordados.
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A IDADE MÉDIA
TÓPICO 2 – A IDADE MÉDIA NA HISTORIOGRAFIA
TÓPICO 3 – ANTECEDENTES: A ANTIGUIDADE TARDIA
TÓPICO 4 – O ESTADO E A IGREJA NA IDADE MÉDIA
TÓPICO 5 – AS ORIGENS DO ISLAMISMO
Assista ao vídeo 
desta unidade.
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A 
IDADE MÉDIA
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), estamos iniciando nossos estudos sobre a Idade 
Média. É um período que você certamente já viu, muitas vezes, representado no 
cinema, em livros, na televisão e na imaginação das pessoas. Os contos de fadas, 
as histórias do Rei Arthur, os filmes e seriados sobre cavaleiros, todos parecem 
representar uma época com características muito particulares e sobre a qual 
pensamos que sabemos muito.
No entanto, essa é uma sensação perigosa. Estamos tão acostumados a ver 
uma certa representação da Idade Média e tão acostumados a pensar o período 
como a era do feudalismo, do predomínio da Igreja e dos cavaleiros, que nem nos 
damos conta de que pode haver muito mais para observar. 
Até mesmo em nossos estudos no colégio, quando estudamos alguma coisa 
sobre as invasões bárbaras, o feudalismo, as Cruzadas e o renascimento urbano, 
acreditamos que isso dá conta de explicar o início, o desenvolvimento e o final 
da Idade Média. Isso, claro, para não falar do rótulo “medieval” que as piores 
coisas recebem: fala-se em “condições de tratamento medievais”, “instrumentos 
de tortura medievais”, “mentalidades medievais” e “técnicas de produção 
medievais”. Nesses casos, a palavra medieval significa, respectivamente: “atroz”, 
“cruéis”, “retrógradas” e “rudimentares”. Essas descrições, além de historicamente 
incorretas, traduzem uma falta de cuidado tremenda com as palavras e reforçam 
estereótipos absurdos.
Ao mesmo tempo, existe outra questão fundamental que precisa ser levada 
em consideração. A história da Idade Média, como a estudamos, padece de um vício 
muito grave de eurocentrismo. Ou seja, está completamente focada na história da 
Europa,- mais especificamente da Europa Ocidental: França, Alemanha, Inglaterra 
-, e ignora completamente outras regiões, como o mundo muçulmano, onde uma 
cultura, muito distinta, estava em seu auge.
Este Caderno de Estudos tem uma dupla finalidade: ao mesmo tempo 
pretende transmitir a você informações essenciais sobre essas características da 
Idade Média e provocar em você o questionamento dessa visão tão unilateral e 
eurocêntrica.
UNIDADE 1 | AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
4
Quando isso acontecer, você verá uma época completamente diferente: 
dinâmica, inovadora e vibrante, simplesmente o oposto da tradicional e injusta 
imagem de “Idade das Trevas”.
2 SOBRE O CONCEITO DE IDADE MÉDIA
Antes de iniciarmos os estudos sobre a Idade Média, é importante discutir 
os significados desse conceito. Como você vai perceber, não falaremos ainda neste 
tópico o que a Idade Média foi, nem como surgiu, caracterizou-se ou terminou. 
Teremos muito tempo para isso neste caderno. Este tópico servirá para discutirmos 
o próprio sentido do termo Idade Média e os cuidados que devemos ter ao analisá-
lo. 
Vamos, por enquanto, apenas supor que você tem uma noção do que 
signifique Idade Média, que você aprendeu no Ensino Médio e talvez tenha 
complementado com algumas leituras próprias. É exatamente essa visão que nos 
interessa por enquanto, porque essa é, provavelmente, a visão que seus futuros 
alunos terão quando começarem a ter aulas sobre o assunto.
2.1 A IDADE MÉDIA E O SENSO COMUM
Dificilmente vamos encontrar algum período histórico tão carregado de 
imagens errôneas e caricaturais quanto a Idade Média. Você conhece muito bem 
várias delas: encontra essas imagens com frequência na televisão, no cinema e em 
outros meios de comunicação e na fala das pessoas. É muito provável que você 
mesmo carregue vários desses preconceitos e nem saiba. Mas, para estudarmos 
adequadamente a Idade Média, precisamos antes tomar consciência disso.
AUTOATIVIDADE
Prezado(a) acadêmico(a), vamos fazer uma pesquisa? Entreviste dez ou 
mais pessoas que você conhece, de preferência de diferentes idades e origens 
sociais, fazendo-lhes as seguintes perguntas: “O que você sabe sobre a Idade 
Média?” e “Como você sabe disso?” Ah! Não se esqueça de também responder 
às perguntas VOCÊ MESMO, de preferência ANTES de seguir adiante em suas 
leituras e de entrevistar os seus conhecidos!
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A IDADE MÉDIA
5
As respostas provavelmente vão girar em torno de diversas ideias 
preconcebidas e clichês, como o cavaleiro andante salvando uma donzela presa 
na torre do castelo, matando dragões ou derrubando os adversários com sua 
lança nos torneios; a Inquisição e seus cruéis métodos de tortura, Rei Arthur e 
os cavaleiros da Távola Redonda, os servos explorados pelos senhores feudais e 
pela Igreja; bárbaros saqueando tudo o que viam pela frente, nobres vestidos em 
roupas de couro rudimentar e armaduras de metal prestando homenagens uns aos 
outros e forjando alianças militares,padres obesos e beberrões e dezenas de outros 
estereótipos.
Provavelmente, ninguém (a menos que você entreviste um estudioso do 
assunto) descreverá a Idade Média como uma época de inovações tecnológicas e 
filosóficas; do surgimento de culturas inovadoras, da invenção do amor cortês e de 
alguns dos nossos costumes de higiene mais básicos.
 No entanto, a Idade Média real geralmente está mais próxima disso do que 
dos clichês do senso comum, que, às vezes, são pura ficção, como no caso do Rei 
Arthur e seus cavaleiros, dos dragões e, também, das donzelas nas torres.
Prezado(a) acadêmico(a), se você já é, ou quando se tornar professor, que tal 
solicitar aos alunos uma pesquisa sobre algum evento histórico da época ocorrido fora da 
Europa durante esse período.
Mas, provavelmente, o clichê (ou, antes, o chavão) mais comum será o apelido 
de Idade das Trevas, que esse período histórico ganhou há muito tempo e do qual 
ainda não foi possível livrá-lo. 
Cabe a nós, como historiadores e professores de História, tentar mudar a ideia 
que as pessoas têm sobre a Idade Média, criticando as imagens que são difundidas 
por nossa cultura e demonstrando a importância crucial desses mil anos, para que 
nos tornássemos o que somos hoje.
SUGESTÃO DE LEITURAS
Caro(a) acadêmico(a), veja aqui uma lista de livros dedicados a desmistificar a Idade Média:
PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média. Lisboa: Europa-América, 1977.
DUBY, Georges. A Europa e a Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no 
Ocidente. Lisboa: Estampa, 1980.
UNI
DICAS
UNIDADE 1 | AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
6
2.2 OS SIGNIFICADOS DA IDADE MÉDIA
Agora que já tomamos consciência do nosso desconhecimento sobre a 
Idade Média, trataremos de entender o seu significado.
2.2.1 Imaginando
IMAGINE!
Prezado(a) acadêmco(a)! Antes de começar, vamos fazer um exercício de ficção!
Vamos imaginar que, por algum fenômeno misterioso, chegasse às nossas 
mãos um livro de História escrito daqui a mil anos. Esse livro contaria toda a 
história do III Milênio, desde o ano 2000 até o final do século XXX. E vamos 
imaginar que o mundo em que ele foi escrito fosse completamente diferente do 
nosso. 
Talvez uma grande crise, uma catástrofe ambiental ou mesmo uma 
transformação gradual do mundo que conhecemos criasse uma sociedade 
completamente diferente da atual. Imaginemos que a maioria das coisas que hoje 
nos parecem importantes não exista mais daqui a mil anos, ou não sejam mais 
úteis, ou tenham mudado completamente de sentido.
Neste nosso exercício de ficção, vamos imaginar, também, que os estudiosos 
do século XXXI considerem que nós vivemos hoje o momento em que a sociedade 
anterior, que eles entenderiam como organizada, começou a entrar em decadência, 
e que muita coisa ruim teria acontecido nos séculos seguintes por causa dos nossos 
preconceitos, nossos defeitos morais, das nossas escolhas erradas, ou da nossa 
inexperiência. Para completar, vamos imaginar que muitas invenções essenciais à vida 
nesse futuro só teriam sido inventadas lá pela metade do III Milênio.
2.2.2 O problema em julgar o passado
Agora, pense sobre o que você acharia de um historiador do futuro que 
descrevesse a época em que vivemos como uma era de ignorância, porque 
acreditávamos em coisas que ele considerava absurdas, fazíamos coisas que 
ele considerava ridículas, submetíamos-nos a autoridades que ele considera 
inaceitáveis, não conhecíamos muitas coisas essenciais à vida no ano 3000 e 
nos preocupávamos com coisas que, na opinião dele, eram erradas ou pouco 
importantes. E que isso tudo, para ele, é prova de que os homens do início do 
século XXI eram primitivos, ignorantes e supersticiosos, estúpidos, e que vivíamos 
em uma época de decadência. Que a época em que ele estivesse escrevendo deixou 
UNI
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A IDADE MÉDIA
7
2.2 OS SIGNIFICADOS DA IDADE MÉDIA para trás. E que, por isso, ele resolvesse chamar a nossa época de Idade das Trevas, 
um longo período de ignorância, superstição, estupidez generalizada e decadência.
A principal queixa que poderíamos fazer seria: 
Ei, não é justo você nos julgar por coisas que nós não podemos saber como serão 
um dia! Nós vivemos agora, não no futuro, e nossas preocupações são as que fazem sentido 
para nós hoje. Se você se preocupasse em entender como vivemos, compreenderia por que 
pensamos dessa forma e por que fazemos essas coisas. Você não está nos estudando, está só 
nos chamando de ignorantes por não sermos como você!
AUTOATIVIDADE
ANÁLISE
Tente pensar em outras argumentações que poderíamos fazer para discordar 
de uma visão tão parcial e tão inadequada sobre nós e nosso tempo. Em sua 
opinião, esse tipo de perspectiva revela mais sobre o período que está sendo 
discutido ou sobre quem está criticando? O que levaria alguém a tratar dessa 
forma uma cultura passada?
Foi exatamente isso o que fizeram os primeiros estudiosos que se 
preocuparam em descrever o período que hoje conhecemos por Idade Média! 
Entusiasmados por um enorme otimismo em relação ao mundo em que viviam, 
olharam para o milênio anterior e só conseguiram ver ignorância, superstição, 
decadência. Não que esse período que estudavam de fato fosse assim; simplesmente 
foi assim que esses estudiosos o entenderam. Tratando com desprezo essa “longa 
noite de mil anos”, chamaram-na de Idade das Trevas ou de Idade Média, um 
longo hiato entre a Idade Antiga (a época de glória de uma cultura que eles 
consideravam superior) e a sua própria, que chamaram de Renascimento, quando 
aqueles valores antigos, supostamente perdidos na ignorância anterior, foram 
recuperados
2.2.3 Evitando o anacronismo
De volta ao nosso historiador do futuro: se você fosse descrever a nossa 
época, você diria que nós vivemos hoje em um período de decadência e ignorância? 
Pode ser até que você discorde de muita coisa que existe hoje, mas 
provavelmente não chamaria o século XXI de Idade das Trevas. Muito menos diria 
que esse período é simplesmente uma preparação para um tempo no futuro em 
que as pessoas serão realmente felizes, por pensarem de uma maneira que nós nem 
sabemos ainda qual é, ou por terem tecnologias que ainda nem foram inventadas. 
Como você poderia saber o que vai acontecer no futuro?
UNIDADE 1 | AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
8
É como imaginar alguém reclamando, lá por 1820: “Puxa vida! Seria 
muito mais fácil descobrir informações se já tivessem inventado o computador!” 
Antes de alguma coisa como essa ter sido inventada, dá para imaginar alguém se 
lamentando que ela não existisse?
Prezado(a) acadêmico(a)! Esse tipo de atitude é um anacronismo: é atribuir a uma 
certa época características de outra diferente. Nesse caso, uma retroprojeção: supor que o 
passado tem, ou deveria ter, características parecidas com o presente. Isso é uma característica 
das histórias ou das ficções históricas mal escritas, e é muito mais comum do que se imagina. 
Tente perceber alguns exemplos disso em livros de História, filmes e no senso comum! Quem 
sabe, até em frases que você mesmo já tenha ouvido ou dito...
Essa retroprojeção traz, ainda, um esnobismo cronológico: achar que, uma vez que no 
passado não existiam algumas coisas que consideramos óbvias (porque são soluções que hoje 
nós conhecemos), as pessoas que viviam naquela época seriam estúpidas. Por esse motivo, 
fizemos a brincadeira com uma era que veria a nossa época como de ignorância...
2.2.4 O conceito de “idade média” é anacrônico!
É claro que as pessoas que viveram na Idade Média não se referiam ao seu 
próprio tempo como “Idade Média”, muito menos como “Idade das Trevas”! 
Acredita-se que o termo Idade das Trevas tenha sido criado por Francesco 
Petrarca (1304-1374) por volta da década de 1330, ou seja, nos primeirosinstantes 
da renovação cultural renascentista. Por ser da região da Toscana, na atual Itália, e 
um representante do período florentino do Renascimento, Petrarca entendia que a 
queda de Roma teria trazido a decadência da cultura clássica, com o surgimento de 
uma nova raça de homens violentos, analfabetos e incultos: os bárbaros. 
Assim, do ponto de vista da cultura, um véu de escuridão teria se colocado 
sobre o mundo neste período, o que justificaria entender o período anterior como 
uma Idade das Trevas.
Perceba que Petrarca viveu no século XIV – durante, portanto, o período histórico 
tradicionalmente considerado como Idade Média, que só se encerraria em 1453. De acordo 
com as periodizações históricas mais comuns, portanto, Petrarca era um ‘homem medieval’. 
Ora, se um “homem medieval” critica os “tempos medievais” anteriores e louva a sua própria 
época como diferente disso, não lhe parece que a divisão tradicional é, pelo menos, uma 
simplificação exagerada?
NOTA
UNI
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A IDADE MÉDIA
9
Prezado(a) acadêmico(a), ficou claro por que não devemos julgar o passado? 
Mesmo quando dispomos de muitas fontes, sabemos tão pouco sobre o passado que não 
somos capazes de compreendê-lo razoavelmente. E mesmo se pudéssemos, que direito 
teríamos de supor que somos melhores do que os que vieram antes de nós?
Lembre-se sempre disso, pois é tentador criticar os hábitos e as decisões das pessoas do 
passado. Os historiadores não têm o direito de fazer isso e têm o dever de chamar a atenção 
de quem faz.
3 O CONCEITO DE IDADE MÉDIA APÓS O RENASCIMENTO
3.1 NA REFORMA RELIGIOSA
Durante a Reforma Religiosa (século XVI), a Idade Média foi vista como 
um momento de corrupção da Igreja Católica, quando a Igreja detinha um poder 
político e econômico enorme e os padres eram pecadores. Sendo assim, os 
reformadores podiam se apresentar como restauradores da moralidade na religião, 
como representantes de uma fé mais pura e mais simples, mais semelhante à Igreja 
primitiva. Inversamente, a Reforma Católica difundiu uma imagem da Idade 
Média como um período de harmonia religiosa, como seria de se esperar em um 
momento em que a Europa inteira seguia a “única verdadeira fé”.
Não lhe parece que a visão de Idade Média que os reformadores protestantes e 
católicos criaram dizia muito mais sobre o que eles próprios pensavam a respeito da Igreja 
Católica da época em que viviam do que sobre a Idade Média em si?
3.2 NO ILUMINISMO
Durante o Iluminismo (século XVIII), a Razão passou a ser entendida como 
a única forma de se alcançar um conhecimento verdadeiro. A Fé, nesse momento, 
passou a ser entendida como um sinal de tudo o que era atrasado e que deveria 
ser destruído, o que incluía o poder político da Igreja. Entendendo a Idade Média 
como a Idade da Fé, os iluministas tinham uma visão bastante negativa do período, 
reforçando as visões anteriores de decadência. 
O historiador inglês Edward Gibbon, um dos grandes representantes dessa 
perspectiva, foi categórico em atribuir o “declínio e queda do Império Romano” 
(título de sua grande obra) ao “triunfo da barbárie e da religião”.
NOTA
IMPORTANT
E
UNIDADE 1 | AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
10
3.3 O ROMANTISMO E A IDADE MÉDIA
O Romantismo surgiu no final do século XVIII e ganhou força no século 
seguinte como um movimento ideologicamente oposto ao Iluminismo. 
Os românticos inverteram o sentido que os iluministas haviam dado 
para a Idade Média. Passaram a vê-la como um momento idílico, do auge da 
religiosidade, de grandes feitos de cavalaria e de exaltação dos sentimentos mais 
puros da humanidade, em oposição ao frio racionalismo e anticlericalismo dos 
iluministas e dos excessos da Revolução Francesa. 
Os nacionalistas foram buscar na Idade Média, especialmente nos últimos 
séculos, a origem de seus países, e os burgueses viam no período as origens de seu 
poder. 
Ao fazerem isso, criaram “ficções históricas” perigosas, como a ideia 
de que os países europeus foram formados por grupos étnicos coesos e que 
habitavam aquelas regiões havia muitos séculos: ideia que, no início do século XX, 
descambaria para a ideologia nazifascista. Dentre os principais “ideólogos” dessa 
verdadeira “Era de Ouro Medieval” encontram-se: o francês Jules Michelet e o 
holandês Jacob Burckhardt.
Perceba como, em todas as visões da Idade Média, do Renascimento ao 
Romantismo, o período foi analisado a partir de preconceitos dos estudiosos, motivados 
pelo momento histórico em que viviam, com isso servindo a propósitos políticos muito bem 
determinados. Ou seja, os estudiosos ‘usaram’ a Idade Média como arma política ou ideológica 
para demonstrar que seus próprios objetivos mereciam ser perseguidos.
 LEITURA!
Caro(a) acadêmico(a), para saber mais sobre a evolução do conceito de Idade Média, leia o 
texto “A Idade Média de Jacques Le Goff”, publicado em: LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade 
Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
IMPORTANT
E
DICAS
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A IDADE MÉDIA
11
3.3 O ROMANTISMO E A IDADE MÉDIA 3.4 A PERSPECTIVA LIBERAL
Há uma corrente historiográfica bastante influente, de caráter liberal, que 
pautou grande parte das interpretações sobre a Idade Média que surgiram no 
século XIX e século XX. 
Essa historiografia, surgida entre os intelectuais ligados ao partido Whig 
(Liberal) inglês, entende a História como a narrativa dos eventos e circunstâncias 
que levaram a sociedade a atingir, na época atual, o que se considera o ponto 
culminante da civilização. 
Essa visão histórica extremamente otimista tem, contudo, graves problemas 
metodológicos: 
	É teleológica: considera que existe um “caminho” a ser percorrido pela 
“civilização”, e cada cultura está em um ponto determinado dele e deverá seguir 
atingindo os demais um por um.
 É unívoca: considera que o caminho que foi percorrido pela civilização ocidental 
é o único possível e que todas as “civilizações” um dia trilharão esse mesmo 
caminho. Portanto, despreza tudo o que não tiver perdurado até hoje como 
sendo uma “relíquia” sem utilidade.
 É naturalizante: considera que existem noções inquestionáveis, como se surgidas 
da natureza – “progresso”, “civilização” etc.
 É eurocêntrica – ou, antes, anglocêntrica ou francocêntrica: considera que a 
Europa é o grande centro de civilização e, como tal, a única região digna de ser 
estudada, ou concentra-se ainda mais, conforme o estudioso, na Idade Média 
inglesa ou francesa.
 É personalista: considera que os “grandes homens”, e muito raramente 
grandes mulheres, são os responsáveis, com sua iniciativa e habilidade, pela 
movimentação da História, sempre na direção “correta”, a do “progresso”. Isto 
é, para eles, o triunfo do liberalismo, ou então, com sua resiliência, tentam barrar 
esse avanço.
 É maniqueísta: identifica com o “lado certo” os “grandes homens” que 
contribuíram para tornar a civilização o que ela é hoje, e com o “lado errado” 
aqueles que supostamente tentaram opor-se a essa “torrente irresistível”.
Uma análise liberal da Idade Média perceberia, então, as mudanças 
ocorrendo pela iniciativa de pessoas como: Constantino, Justiniano, Carlos Magno, 
as Cruzadas, o Rei Ricardo Coração de Leão, dentre outros. E, sobretudo, pelos 
“burgueses”, que promoveram, com seus interesses particulares, a quebra do 
sistema feudal e sua substituição pelo sistema capitalista.
 
UNIDADE 1 | AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
12
Em oposição a essas mudanças estariam perfilados os sarracenos, os 
senhores feudais resistentes ao capitalismo e a Igreja Católica, entre outros.
Prezado(a) acadêmico(a), essa perspectiva liberal não lhe parece, ao mesmo 
tempo, excessivamente simplista (além de preconceituosa) e perturbadoramente familiar? 
Esta é, a grosso modo, a interpretação da história quese apresenta em grande parte dos 
livros de História de nível escolar! Fora dessa perspectiva, os livros costumam trazer apenas 
breves descrições sobre os modos de produção feudal e capitalista, baseadas no pensamento 
marxista (ver a seguir), sem, contudo, tecer qualquer consideração sobre os aspectos críticos 
do marxismo.
3.5 A PERSPECTIVA MARXISTA
O marxismo entende a luta de classes como sendo a força que movimenta 
a História. Para esta perspectiva, é - a partir da tomada de consciência das classes 
sociais desfavorecidas que as revoluções acontecem e que os modos de produção 
são transformados.
 Os estudos marxistas sobre a Idade Média concentram-se, geralmente, na 
análise do feudalismo como modo de produção com características específicas e, 
em certa medida, opostas às do capitalismo que o sucedeu. 
A análise marxista tradicional não se aprofunda nas origens do feudalismo, 
tomando-o como uma realidade unívoca. Estudos marxistas mais recentes fogem 
a essa simplificação.
4 CONCEITOS MODERNOS
Você se lembra do nosso historiador do futuro, aquele que falou tão mal 
da época em que vivemos? Já reclamamos de sua parcialidade. Outra objeção a 
ele poderia ser: Além do mais, nós e você não somos assim tão diferentes. Somos todos 
seres humanos e temos as mesmas necessidades. O que muda é a forma de satisfazer essas 
necessidades e as complicações que nós inventamos para satisfazê-las ou impedir que isso 
aconteça. Sem falar que você é nosso descendente, o seu mundo surgiu a partir do nosso, e 
tudo o que você considera importante apareceu, um dia, a partir do que nós tínhamos em 
nossa época.
É em uma linha de argumentação mais próxima a essa que a historiografia 
entende a Idade Média atualmente: em vez de tentarem fazer juízos de valor ou 
“romantizar” o período, colocando os seus preconceitos e a sua visão de mundo 
nos estudos sobre a época, os historiadores preferem, hoje em dia, entender a Idade 
Média a partir do que ela realmente teria sido. 
NOTA
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A IDADE MÉDIA
13
Ou, então, do que podemos descobrir a partir das fontes disponíveis, 
desvendando as práticas, as mentalidades e a visão de mundo dos homens e 
mulheres medievais. Isso permite um entendimento mais adequado e mais fiel 
sobre o período, em vez de simplesmente ‘usar-se’ a Idade Média para finalidades 
indevidas, como uma propaganda política ou ideológica.
Ao fazerem isso, os historiadores vêm descobrindo uma Idade Média 
extremamente complexa, original e carregada de inovações tecnológicas e culturais, 
em uma imagem muito diferente daquela que a maioria das pessoas tem como 
verdadeira. Cabe a nós, historiadores e professores de História, a transmissão dessa 
nova ideia e, aos poucos, a mudança do senso comum a respeito deste período tão 
longo, tão importante e tão fascinante da história do Ocidente. 
Jacques Le Goff é um historiador filiado à chamada Ecole des Annales, movimento 
historiográfico francês surgido no início do século XX a partir das obras de Marc Bloch e Lucien 
Febvre, que contou com os trabalhos de historiadores como Fernand Braudel, Georges Duby e 
outros. Na perspectiva dos Annales, o historiador deve buscar fazer uma “história total”. Ou seja, 
compreender a história da forma mais ampla possível, levando em consideração muito mais 
do que a economia ou a política: categorias como mentalidades, imaginário e representações 
tornam-se importantes. A perspectiva de Le Goff sobre a Idade Média é tributária dessa 
abordagem.
A Idade Média foi uma época de inúmeras inovações tecnológicas. Para saber 
mais a respeito, sugerimos a leitura de:
BARK, William Carroll. Origens da Idade Média. Riao de Janeiro: Zahar, 1979, p. 125-140, ou o 
artigo de Ênio José Toniolo, “O progresso técnico na Idade Média”, disponível em:<http://www.
lepanto.com.br/EstPrgIdM.html>.
5 FAZ SENTIDO FALAR EM “UMA” IDADE MÉDIA?
A imagem simplista que temos da Idade Média não consegue dar conta de 
descrever praticamente nada desse período. Na verdade, a imagem de cavaleiros 
andantes e senhores feudais, além de ser uma ficção que simplifica exageradamente 
essa época - só corresponderia ao período final da Idade Média da Europa Ocidental, 
e, mesmo assim, representa melhor algumas regiões europeias do que outras. Todo 
o período inicial, entre a queda de Roma e a consolidação do feudalismo – que é o 
período tratado nesta Unidade 1 –, exige uma descrição muito diferente dessa. Da 
mesma forma, o sistema feudal que vai existir nessa região (e só entre os séculos 
NOTA
DICAS
UNIDADE 1 | AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
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X a XIII, aproximadamente) é muito diferente do formato muito mais brando, 
que vigorou no Império Bizantino, e absolutamente distinto do modo de vida dos 
muçulmanos nos primeiros séculos do Islã – que serão vistos na Unidade 2. 
Além disso, o feudalismo da Europa Ocidental muito diferente em cada 
região. Foi mais “típico”, digamos assim, na França e na Alemanha do que na Itália 
e em Portugal. E como teria sido na Rússia? Na Suécia? No norte da Espanha? Na 
Polônia? E isso para nem mencionarmos o Egito, a África ao sul do Saara, a China, 
as estepes da Mongólia, o Sudeste Asiático, o Japão... Muito menos o continente 
americano!
Como você pôde perceber, o conceito de Idade Média foi criado por estudiosos 
europeus para explicar a história de suas regiões de origem – sem levar em consideração se 
as características de outras regiões, como o mundo islâmico ou o Império Bizantino, eram 
ou não semelhantes a essas. Ou seja, o conceito de Idade Média é eurocêntrico! Precisamos 
questionar esse eurocentrismo e buscar interpretações sobre o mundo mais globais. Por que 
é que nós, no Brasil do século XXI, contamos a história da forma como os europeus a viam no 
século XIX e esquecemos que existia muita coisa no mundo fora de lá?
Em resumo, temos que ter cuidado ao estudar a Idade Média, para não 
cairmos numa simplificação exagerada, que termina por prejudicar a nossa 
compreensão sobre o período. Pior ainda, se generalizarmos as características 
da Idade Média, transformando-a em uma “idade do feudalismo”, estaremos 
falseando a verdade, ignorando aspectos essenciais dessa própria história ou, 
mesmo, apresentando os elementos “externos” a ela (como os muçulmanos) sob um 
ponto de vista maniqueísta, como as grandes ameaças (felizmente malsucedidas) 
à “nossa” cultura. Ou seja, estaremos recaindo nos mesmos preconceitos e 
supersimplificações que desejamos e precisamos combater.
Maniqueísmo é quando se pressupõe que existem apenas dois lados possíveis em 
uma determinada questão, um deles identificado com o “bem” e o outro com o “mal”.
Caro(a) acadêmico(a)! Régine Pernoud (1909-1998), historiadora e 
arquivista francesa, foi uma grande especialista em Idade Média, e deu muito 
destaque à presença feminina nesse período. Apresentamos aqui um trecho de seu 
livro Pour en finir avec le Moyen Age (traduzido em Portugal como “O mito da Idade 
UNI
NOTA
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOBRE A IDADE MÉDIA
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Média”), no qual ela se dedica a atacar os preconceitos comuns sobre o tema. Neste 
trecho, Pernoud fala sobre as origens do feudalismo e sobre o choque de culturas 
na época.
Um poder centralizado ao último ponto, o do Império Romano, desmorona-
se no decurso do século V. Na confusão que se segue, os poderes locais manifestam-
se; é por vezes um chefe de grupo que reúne à sua volta os seus companheiros de 
aventuras; outras vezes, também o senhor dum domínio que tenta assegurar à sua 
sociedade e a si próprio uma segurança que o Estado já não garante. 
Com efeito, as trocas tornam-se difíceis, pois o exército já lá não está para 
conservar nem fiscalizar as estradas; por isso, mais do que nunca, a terra é a única 
fonte de riqueza. Essa terra é preciso protegê-la. Não se vê nascer hoje em alguns 
países,onde os pacíficos habitantes se consideram ameaçados pelo aumento da 
delinquência, polícias semelhantes? Isso pode fazer compreender o que se produziu 
então; um pequeno cultivador, impotente para assegurar sozinho a sua segurança 
e a da sua família, dirige-se a um vizinho poderoso que tem a possibilidade de 
manter homens armados, este consente em defendê-lo, em troca do que este lhe 
dará uma parte das suas colheitas. 
Um beneficiará duma garantia, o outro, o senhor, senior, o ancião, o patrão 
ao qual se dirigiu, achar-se-á mais rico, mais poderoso e, portanto, mais capaz 
de exercer a proteção que se espera dele. Finalmente, mesmo que se trate da pior 
das hipóteses, imposta pelas circunstâncias difíceis, em princípio, o mercado 
aproveitará tanto de um como de outro. É um acto de homem para homem, um 
contrato mútuo que a autoridade superior não sanciona, e não sem motivo, mas 
que se conclui sob juramento, numa altura em que o juramento, sacramentum, acto 
sagrado, tem um valor religioso.
Tal é, em geral, o esquema das relações que se criam nos séculos V e VI; 
certamente que as modalidades são muito diversas, segundo as circunstâncias 
de tempo e de lugar; elas conduzem, em definitivo, a esse estado que se chama, 
muito justamente, feudal. Baseia-se, com efeito, no fief, feodum. O termo, de 
origem germânica ou celta, designa o direito que se desfruta sobre qualquer bem, 
geralmente uma terra: não se trata duma propriedade, mas dum usufruto, dum 
direito de uso.
A evolução precipita-se devido à mistura de populações que se faz na 
época. O movimento de migração, que se chama as grandes invasões, nos séculos 
V e VI, nem sempre teve o aspecto de conquista violenta que lhe supõem; muitos 
povos — pensemos, por exemplo, no dos Burgúndios — instalaram-se nas terras 
na qualidade de trabalhadores agrícolas. 
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE 1 | AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
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Dentro de um milhar de anos, com o recuo do tempo, o historiador que 
estudar o século XX não deixará de estabelecer comparações com a Alta Idade 
Média. Não conhece o nosso século movimentos de migração que fazem que, 
em França, por exemplo, mais de três milhões e meio de trabalhadores sejam 
algerianos, marroquinos, espanhóis e portugueses, que se encontrem na Holanda 
e na Alemanha turcos, jugoslavos?... A única diferença está nas facilidades de 
transporte, que a Alta Idade Média não conheceu. Em consequência disso, uma 
vez fixado, era, em princípio, para toda a vida que o trabalhador estrangeiro se 
estabelecia com a mulher e os filhos na quinta que o proprietário, que se chamava 
«galo-romano», não queria trabalhar.
O movimento não se processava sem trazer problemas, que foram 
resolvidos de forma muito mais liberal da que se seria levado a crer. Assim, a 
primeira pergunta a fazer àquele que, perseguido por um delito, comparecia 
perante um tribunal é: «Qual é a tua lei?» Com efeito, ele é julgado segundo a sua 
lei, e não sob a da região em que se encontra. Daí a extrema complexidade desse 
Estado feudal e a diversidade dos costumes que aí se instauram. 
Aos historiadores instruídos no direito romano, com as suas bases 
uniformes e uniformemente aplicáveis, isso pode parecer o cúmulo do arbitrário; 
na época as distorções são certamente muito grandes duma região para a outra, 
mas, aí ainda, nós aproximamo-nos dessas concepções, pois hoje compreendemos 
melhor que a justiça, a verdade, consiste em julgar cada um segundo a sua lei.
FONTE: PERNOUD, Régine. O mito da Idade Média. Lisboa: Europa-América, 1979, p. 58-60.
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Neste tópico, você viu que:
 O conceito de Idade Média continua sujeito a uma série de preconceitos e 
simplificações que nos impedem de compreender a importância deste período.
 Durante muito tempo, as interpretações que se fizeram sobre a Idade Média 
eram parciais e serviam de arma política ou ideológica para os seus criadores. 
Foi assim, no Renascimento e no Iluminismo, que a viam como uma Idade das 
Trevas, e no Romantismo, que inverteu essa visão.
 O termo “Idade Média” é uma simplificação exagerada, que esconde as variações 
regionais e as transformações sociais ao longo de todo esse tempo.
 Para estudar a Idade Média ou qualquer outro período histórico, devemos evitar 
os perigos do julgamento do passado, do anacronismo e do eurocentrismo.
 Atualmente, a preocupação dos historiadores é compreender a Idade Média a 
partir dos registros da própria época, que revelam uma Idade Média muito rica 
e muito complexa, totalmente afastada da ideia de “Idade das Trevas”.
RESUMO DO TÓPICO 1
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1 Identifique, em um livro didático qualquer de Ensino Médio, no capítulo (ou 
capítulos) correspondente(s) à Idade Média:
a) Qual é a perspectiva, dentre as que analisamos nos itens 3 e 4 deste tópico, 
que melhor descreve a forma como a Idade Média é tratada pelo(s) autor(es) 
do livro?
b) Qual o nível de profundidade com que civilizações como a bizantina e a 
muçulmana são tratados?
c) Pelo que você pôde perceber, o tema da Idade Média foi tratado de forma 
adequada? Que complementações você sente que precisaria fazer em sala de 
aula para melhorá-lo?
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 2
 A IDADE MÉDIA NA HISTORIOGRAFIA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Se desejarmos estudar e ensinar Idade Média de forma adequada, 
precisaremos ir além do que o senso comum fala a respeito desse período e estudar 
as interpretações feitas pelos historiadores do assunto. Mas isso não significa, 
apenas, conhecer os “fatos” que contribuíram para a transição da Antiguidade 
para o mundo medieval. Estudar História é interpretar, é questionar a validade 
das teorias, dos conceitos e das interpretações, tentando sempre compreender 
como surgiram, ou seja, situá-las em um contexto histórico.
Para um historiador, esse procedimento é ainda mais importante do que 
o conhecimento dos “fatos” ou “eventos” históricos. Afinal, fatos e eventos não 
existem soltos por aí. Só existem quando um historiador estabelece a sua validade.
 Por isso, antes de determinarmos que “acontecimentos” levaram à 
dissolução do Império Romano e ao surgimento do período medieval, precisamos 
saber o que foi essa transição, se houve efetivamente uma transição (até mesmo, 
em alguns casos, o que se entende por “transição”) e que características teve. 
Só assim seremos capazes de selecionar adequadamente os “fatos” que 
compõem a história que vamos contar. É por esse motivo que discutiremos as 
interpretações dos estudiosos (a historiografia) neste tópico. Antes, portanto, 
dos “fatos” que são tradicionalmente considerados como explicativos da crise do 
mundo antigo.
No tópico anterior discutimos algumas questões teóricas relevantes quando 
se tenta compreender um período histórico tão complexo como a Idade Média. 
Este tópico aprofundará algumas questões, discutindo-as mais diretamente do 
ponto de vista da produção dos historiadores sobre o período. Em resumo, no 
tópico anterior aprendemos a questionar as “verdades recebidas” sobre a Idade 
Média. Neste tópico vamos aprender como fazer isso!
UNIDADE 1 | AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
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2 TEORIAS SOBRE O INÍCIO DA IDADE MÉDIA
Diversas teorias foram propostas por estudiosos, ao longo do tempo, 
para explicar as origens desse período histórico que se denomina Idade Média. 
Alguns estudiosos formularam teorias elaboradas a respeito, de caráter moral ou 
econômico, e outros procuraram manter-se mais atentos à enorme complexidade 
do processo. É importante conhecermos algumas delas, sempre considerando que 
essas teorias carregam elementos da época em que foram criadas.
Inicialmente, porém, é interessante nos questionarmos até que ponto existe 
uma vinculação automática entre os fenômenos históricos que denominamos a 
“queda do Império Romano” e o “surgimento da Idade Média”. Essa vinculação 
nos parece óbvia, por estarmos habituados

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