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Linguística e ensino de Letras aula 2

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28/08/2022 19:20 Linguística Aplicada ao Ensino
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03415/index.html#imprimir 1/43
Linguística Aplicada ao Ensino
Prof. Nataniel Gomes
Descrição
Descrição linguística, diversidade linguística e linguística aplicada ao ensino de língua.
Propósito
Compreender as contribuições e implicações da Linguística Aplicada no ensino de língua a fim de
desenvolver as competências para a atuação como professor de língua portuguesa na educação básica.
Objetivos
Módulo 1
Descrição Linguística e Ensino
Identificar a relação entre descrição linguística e ensino.
Módulo 2
O Professor e a Diversidade Linguística
Identificar as implicações da diversidade linguística em sala de aula.
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Módulo 3
Linguística Aplicada ao Ensino de Leitura e Escrita
Identificar as contribuições da Linguística Aplicada para o ensino de leitura e escrita.
A Linguística Aplicada, como uma subárea da Linguística, tem feito diferença nos estudos da língua
em situações reais de uso, incluindo aspectos relacionados com identidade, valores e crenças, entre
outros. Desde seu surgimento, a Linguística Aplicada também traz seus aportes teóricos para o tema
do ensino de língua.
A contribuição da Linguística Aplicada ao ensino-aprendizagem de língua pode ser reconhecida em
diferentes elaborações teóricas, propostas metodológicas e até mesmo por meio de críticas a
procedimentos tradicionais e equivocados de se abordar a língua.
Assim, é muito importante conhecer as contribuições da Linguística Aplicada para as questões
relacionadas com o ensino de língua, seja a língua materna (L1) ou uma língua estrangeira (L2).
Tudo isso, afinal, pode ajudar a escola a se transformar em um espaço mais motivador, inclusivo e
democrático de aprendizagem da língua, tornando a sala de aula uma experiência voltada para a
cidadania exercida por meio da linguagem.
Introdução
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1 - Descrição Linguística e Ensino
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a relação entre descrição linguística e
ensino.
Teoria e prática nos estudos linguísticos
Linguística e a Relação Teoria-Prática
Para começar nossa discussão sobre a relação entre descrição linguística e ensino, é preciso,
primeiramente, chamar sua atenção para a falsa dicotomia entre a linguística e a prática cotidiana.
Muitos estudantes acabam tendo a impressão de que as elaborações teóricas da linguística se opõem à
prática, às situações reais e às necessidades do uso da língua. Por isso, é preciso reconhecer que os
estudos linguísticos partem da prática e voltam para a prática.
O professor e linguista indiano Kanavillil Rajagopalan é bastante enfático ao comentar essa situação de
separação entre os estudos linguísticos e a prática ou uso da língua.
Eu acho que a maior desgraça que poderia ter acontecido com a nossa
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disciplina, e qualquer outra, é a divisão de bolo entre teoria e prática. Foi um
desastre, é um desastre! Eu me recuso a aceitar essa distinção simplesmente!
Um teórico que não pensa na prática é um teórico inútil.
(RAJAGOPALAN, 2003, p. 180)
A linguística pode ter inúmeros desdobramentos para a educação, indo da qualificação profissional até o
ensino propriamente dito, servindo como recurso importante para se trabalhar a interação, a comunicação e
a expressão em diversas áreas.
Cada área da linguística tem uma abordagem bastante específica para o fenômeno da linguagem. Todas
elas têm dado a sua contribuição para investigação da linguagem, cada uma a seu modo.
É preciso estarmos cientes de que o professor, ao fazer a opção por uma certa corrente teórica, o que inclui
uma metodologia específica, uma abordagem particular e um objeto a ser descortinado, acaba assumindo
uma determinada perspectiva teórico-metodológica que pode ser misturar também a crenças e valores que
o professor carrega consigo.
Se alguém adota uma perspectiva da língua a partir do linguista suíço Ferdinand de Saussure, de viés
estruturalista, assumirá uma abordagem que prevê que a língua é um sistema.

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Já quem tem uma análise da língua a partir do linguista norte-americano Noam Chomsky, teórico da
visão gerativista, entenderá que a gramática é inata e marcada por princípios e parâmetros.
Outra abordagem poderia ser feita a partir do linguista russo Roman Jakobson, teórico formalista, que via a
língua como um sistema que tem propósito comunicativo e estruturado a partir dos Seis elementos da
comunicação, com os respectivos enfoques nas funções emotiva, conativa, metalinguística, poética, fática e
referencial da linguagem.
Seis elementos da comunicação
Emissor, receptor, código, mensagem, canal e contexto.
Ao adotarmos uma abordagem do linguista norte-americano William Labov, da sociolinguística
variacionista, assumiremos que a língua é marcada por fatores sociais, como classe social, escolaridade,
sexo, idade, que revelam a diversidade linguística exercida pelos falantes dentro da comunidade.
O linguista William Labov.
Vamos considerar um pouco mais a última abordagem que mencionamos, o enfoque sociolinguístico com
ênfase na variação linguística.
A abordagem da sociolinguística
A perspectiva da sociolinguística ainda é muito recorrente nas salas de aula e relaciona as variantes
linguísticas com elementos sociais que rodeiam os falantes.
Esse tipo de abordagem no ensino de língua materna ajudou a diminuir o
preconceito em relação ao uso de variantes linguísticas, afinal, todas as
manifestações apresentam uma motivação e uma justificativa a partir do contexto
social em que o falante está inserido.
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Desse modo, a própria norma culta passa a ser vista como mais uma variante entre tantas outras, que, por
razões sociais, políticas e culturais, passou a ter mais prestígio e uma marca de status, servindo como
instrumento de ascensão social.
Ao descrever a língua a partir de um olhar sociolinguístico, o docente pode valorizar, incorporar e ainda usar
em sala de aula outras variantes, não apenas a norma culta, de modo a expressar marcas linguísticas que
são eficientes na comunicação e que revelam o uso cotidiano de outros grupos sociais, sendo formas
genuínas de manifestação da língua materna adequadas ao seu uso.
Logo, deve-se apresentar também outras variantes, como a variante de prestígio, na escrita e na fala, que
precisa ser trabalhada no ambiente escolar, dado o seu papel político e ideológico de ascensão social.
Afinal, para muitos alunos, o aprendizado da língua culta só é possível no contexto da educação formal, já
que esses alunos vêm de famílias e contextos sociais em que há baixo nível de escolaridade e quase
nenhum domínio da língua culta.
A abordagem da pragmática
Um outro olhar, entre tantos, que pode ser utilizado para a linguística de sala de aula, é o da pragmática, que
trata de elementos externos para a produção e para a recepção da linguagem a partir da interação entre os
falantes.
Atenção!
Para a abordagem pragmática, os elementos extralinguísticos, como a forma de falar, a intenção, as
informações implícitas e os atos de fala, são destacados para se atingir o sentido.
Do ponto de vista do ensino, a perspectiva pragmática contribui para:
A descrição sobre os modos de produção de sentido por meio da
língua e sua organização.
A averiguação acerca do comportamento linguístico, de acordo com
a cultura de cada grupo.
A promoção do caráter interacionalda linguagem, seja falada seja
escrita, pois existe a necessidade de um interlocutor.
Estudos linguísticos e prática docente
Implicações dos estudos linguísticos na prática docente
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Implicações dos estudos linguísticos na prática docente
Propostas ou abordagens do tipo que acabamos de comentar brevemente tiraram o professor do papel de
dono exclusivo do saber, sem desmerecer o seu papel, mas enfatizando os elementos envolvidos no
processo interativo.
Hoje, entende-se que o docente tem um papel de mediador nas relações linguísticas e que o saber é
construído de forma conjunta, assim como todas as relações humanas.
Desse modo, surge uma prática pedagógica mais democrática no ensino-aprendizagem de língua, bem mais
próxima dos discentes, que pertencem a diferentes grupos sociais. Essa prática pedagógica, inspirada em
abordagens teóricas mais próximas das situações reais de uso da língua em seus contextos, se afasta de
um modelo que entende a língua de forma homogênea e bastante idealizada a partir do viés normativo.
O professor e linguista brasileiro Luiz Fiorin nos lembra de que um dos desafios da ciência é ser prática, o
que se aplicaria certamente à linguística (FIORIN, 2003).
Fiorin trata dessa questão no contexto da universidade em termos da dicotomia entre criação e divulgação,
dois processos que ele afirma não poderem ser separados.
O compromisso com a educação está na ordem da divulgação. Um fato
evidente é que o avanço da linguística pode ajudar na educação. Divulgar um
avanço da ciência é tão importante como fazer avançar a ciência, porque, na
verdade, a ampliação da linguagem humana, a consciência da linguagem
humana, a compreensão dos seus mecanismos dá ao homem a possibilidade
de ascender à construção cultural que ele fez ao longo da história; é por meio
da linguagem que eu tenho acesso a tudo aquilo que torna o homem
especialmente humano. A linguística não pode em momento nenhum se alhear
dessa preocupação de que ela tem que, digamos, socializar as descobertas,
para que cada vez mais os homens ascendam a esses benefícios, ampliem a
sua capacidade de linguagem, ampliem seus horizontes linguísticos com
conhecimento de outras normas, de outros registros, de outras variantes... no
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sentido de que eles possam se tornar mais plenamente humanos. Esse é o
papel da linguagem.
(FIORIN, 2003, p. 74-75)
De acordo com Fiorin (2003), ao pensarmos sobre a relação da linguística com a escola, podemos verificar
como a compreensão do fenômeno da linguagem pode ser importante para todos, inclusive os estudantes,
desmistificando conceitos tão estratificados na sociedade, como a homogeneidade da linguagem e suas
transformações.
Os estudos linguísticos têm dado importante contribuição ao desfazerem o mito da homogeneidade da
língua. Compreender “o fenômeno linguístico como um fenômeno intrinsecamente heterogêneo e dinâmico”
vai contra a concepção tradicional da linguagem como algo homogêneo e estático, ao mesmo tempo em
que contribui para construir uma educação democrática, já que a linguagem passa a ser concebida como
alteridade, algo heterogêneo, assim como os demais aspectos da realidade humana (FIORIN, 2003, p. 74).
Se não há homogeneidade na linguagem, cabe à linguística e ao professor de língua
atuar em favor da educação para a democracia, da educação para a cidadania.
Nesse sentido, a democracia não é entendida como o governo da maioria, mas
como “um sistema político em que existe um respeito à diferença, um respeito à
diversidade” (FIORIN, 2003, p. 75).
Quando a linguística evidencia a heterogeneidade da língua, a sua diversidade e pluralidade, está
contribuindo para uma educação democrática, uma educação para a tolerância (FIORIN, 2003).
A dicotomia certo/errado em língua
É comum muitos professores de língua portuguesa valorizarem questões como certo e errado no uso da
língua, mas os linguistas passam a relativizar os critérios que são empregados com mais frequência.
O desafio dos profissionais da língua portuguesa é ensinar o modo culto,
prestigiado, de falar e escrever em nossa língua, mas sem reduzir o ensino apenas
a isso, o que seria um empobrecimento enorme do ato de lecionar, porque a norma
culta não vem de um valor intrínseco da língua. Ou seja, não existem formas que
sejam intrinsecamente erradas ou certas, com exceção da ortografia, que passa por
uma legislação bastante específica.
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O conceito de certo e errado passa por uma série de necessidades e convenções assumidas pela sociedade,
resultando em normas de comportamento, de estilo musical e até do uso da língua. Quando uma dessas
variedades é escolhida, as outras manifestações são condenadas.
Por exemplo, uma frase como “Os carioca ama praia e carnaval”, geralmente, não é utilizada pelos usuários
que pertencem à elite socioeconômica, pois isso geraria algum desconforto. Esse incômodo, entretanto,
desaparece ao falar em uma língua cuja concordância verbal é inexistente ou está limitada ao uso do artigo,
como no caso do inglês: “Cariocas love the beach and football”.
Assim, a norma culta é uma variedade que foi escolhida como padrão, enquanto as outras são rejeitadas no
ensino tradicional.
O senso comum gerou a noção de que o papel do professor de língua materna é ser um juiz togado que bate
o martelo para definir o que é certo ou errado na língua. Mas de uma perspectiva linguística, apenas depois
que o profissional das letras passar a conhecer com profundidade a língua, suas variações e modalidades,
ele poderá ter ideias mais claras sobre o ensino de língua e repensar suas práticas.
Assim, o ensino de língua deveria se voltar para a sua origem, como os gramáticos faziam na Grécia e em
Roma, cuja preocupação era com a eficiência do uso da língua, e não com a prescrição, ou seja, a intenção
era que o falante estivesse preparado para exercer seus direitos por meio da língua.
Quando a gramática passou a ter um fim em si mesma, o ensino passou a sofrer com isso, perdendo a
reflexão sobre seu uso. Devemos nos lembrar de que trazemos a gramática internalizada em nossa mente,
logo o desafio é refletir sobre ela, explicitando-a, em vez de apresentar exercícios que se encaixem naquilo
que foi decorado e posteriormente cobrado em avaliações escolares.
A descrição linguística e suas contribuições
As aplicações da descrição linguística
A língua pode ser estudada a partir de diferentes perspectivas, seja descritiva, social, cognitiva ou outra
perspectiva, e como um sistema fechado.
Geralmente, quando se fala sobre o estudo descritivo da língua, ele pode ser dividido no nível fonético-
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fonológico, morfológico e sintático, constituindo a gramática.
Vamos tratar do nível fonético-fonológico, que é o primeiro nível, para demonstrarmos um pouco a
contribuição da descrição linguística.
Exemplo
O nível fonético-fonológico pode ser usado para análises da língua portuguesa, como nos sons [t] e [tς].
Encontramos [t] como som inicial na palavra “tatu”.
Temos [tς] como som inicial da palavra “tia”, no dialeto do Rio de Janeiro.
Em português, o [tς] não distingue palavras. A mesma palavra é pronunciada como [‘tia] em algumas regiões
do Brasil e como [‘tςia] em outras, mas não geram significados diferentes, ou seja, a representação mental
de [t] e [tς] é a mesma.
Do ponto de vista do som, percebemos a diferença entre eles, mas é uma diferença que não muda o
significado.
Algo contrário acontece entre [p] e [b], tanto que “pato” e “bato” são palavras diferentes pela simplesmudança de um som.
Assim, na língua portuguesa, os sons [t] e [tς] são duas realizações possíveis do mesmo fonema. Já em
algumas línguas, como o italiano, esses dois sons aparecem como dois fonemas diferentes.
Se no Rio de Janeiro se pronuncia [tςia], em outros lugares do Brasil se pronuncia [tia]. Essa é uma diferença
diatópica, em outras palavras, uma diferença geográfica. O [tς], utilizado no dialeto carioca, é um alofone de
/t/.
Assim, a Linguística Aplicada pode informar e formar profissionais capazes de detectar problemas e buscar
soluções práticas que serão investigadas na tentativa de solucioná-los, gerando novas hipóteses e novas
investigações, contribuindo com novos conhecimentos para o ensino.
A partir disso, pode-se gerar uma consciência de que o docente tem valor real e potencial para fazer um
trabalho diferenciado no ensino.
Como afirma Castilho:
Temos de lembrar que nosso ofício maior não é ensinar a crase, é formar o
cidadão de um estado democrático. Na democracia, exige-se do cidadão senso
crítico, capacidade de julgar entre alternativas e escolher a que lhe pareça
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melhor. Dele se exige ampla exposição à variedade de possibilidades, à
variedade de entendimentos e também à variedade linguística. Se lhe
prescrevermos sem mais debates o que é considerado certo e condenarmos o
que os manuais afirmam ser errado, estaremos matando na fonte a formação
do cidadão. Isso é mais grave no caso dos alunos de classes subalternas hoje
a maioria. Estaremos destruindo seu apego à variedade linguística aprendida
em família, um dos fundamentos de sua identidade psicossocial. Chegar à
escola e só ouvir que você e sua família falam errado é receber uma sentença
de exclusão.
(CASTILHO, 2002, p. 12)
Na visão de Castilho (2002), a tarefa do professor é levar o aluno a discernir qual é a variedade linguística
adequada a cada contexto de comunicação e interação. Essa tarefa é coerente com a perspectiva de uma
escola e sociedade democráticas, em que os contrários convivem.
Assim, não seria democrático a escola e o professor estarem limitados ou reduzidos “a um único recorte de
língua, mesmo que seja aquele prestigiado pela sociedade, condenando o resto” (CASTILHO, 2002, p. 12).
Podemos entender, então, que o objetivo do ensino da língua materna é preparar os cidadãos para o
exercício dos seus direitos e deveres, capacitando-os para a integração ao mercado de trabalho com
possibilidade de ascensão.
Descrição Linguística e Ensino de Língua
Assista agora a um vídeo em que são comentadas as abordagens da Linguística em relação à língua e ao
ensino de língua, destacando a importância de descrição linguística na formação e prática do professor de
língua portuguesa.

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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Heterogeneidade da língua e o respeito à diferença no ensino
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
A dicotomia certo X errado no ensino de língua
Todos
Módulo 1 - Video
Descrição Linguística e Ensino de Língua
Módulo 2 - Video
Diversidade linguística na sala de aula
Módulo 3 - Video
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?

 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 
Questão 1
Na relação entre o trabalho de descrição linguística e o ensino de língua, é possível identificar como
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contribuição da Linguística Aplicada
A
a promoção de abordagens teóricas que reconheçam e promovam a homogeneidade da
língua.
B a dissociação entre os estudos teóricos e as práticas relacionadas com o uso da língua.
C
o reconhecimento da heterogeneidade da língua e a superação da dicotomia entre teoria e
prática.
D
o reconhecimento da dicotomia entre teoria e prática, e o entendimento da língua como
fenômeno estático.
E
a separação entre a pesquisa linguística e a divulgação dos resultados dessa pesquisa no
contexto escolar.
Parabéns! A alternativa C está correta.
Os estudos linguísticos, particularmente aqueles do campo da Linguística Aplicada, podem ajudar
os professores de língua a reconhecerem o fenômeno linguístico como algo heterogêneo e
dinâmico. Tal reconhecimento tem implicações no ensino de língua, pois evita posturas
meramente prescritivas e dogmáticas em relação à língua. Assim, a pesquisa e os aportes
teóricos se aproximam da prática, contribuindo para mudanças no ensino-aprendizado de língua.
Questão 2
O fato de a palavra “tia” ser pronunciada como [‘tia] em determinadas regiões geográficas e como [‘tςia] em
outros lugares aponta para uma variação no nível fonético-fonológico que não implica mudança de
significado da palavra. Ao se dar conta de tal descrição linguística, o professor de língua portuguesa deve
concluir que
A a língua apresenta variações que demandam um ensino centrado na norma culta.
a língua apresenta variações que demandam um ensino centrado nas variedades
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B
a língua apresenta variações que demandam um ensino centrado nas variedades
populares.
C a língua se reduz a variações nos falares, mas sem implicações no aprendizado escolar.
D a língua é heterogênea e, por isso, a tarefa principal do professor é definir o que é certo.
E
a variação linguística aponta para a necessidade de adequação das variedades a cada
contexto de comunicação.
Parabéns! A alternativa E está correta.
Na abordagem fonético-fonológica da língua, uma possibilidade é perceber as variantes
linguísticas em termos de pronúncia, o que destaca a necessidade de o professor ajudar o aluno a
compreender esses fenômenos a partir da descrição linguística e perceber quando e onde cada
variante é adequada.

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2 - O Professor e a Diversidade Linguística
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as implicações da diversidade linguística
em sala de aula.
Diversidade linguística
A Diversidade no fenômeno social da linguagem
Nosso país possui uma enorme diversidade linguística. Tal diversidade reflete a pluralidade cultural de
nosso território, que se manifesta em costumes, tradições, crenças e outros aspectos. No entanto, as
variações da língua, apesar do enriquecimento cultural, linguístico e de repertório, ainda são alvo de
preconceito.
Vale destacar que, além da língua portuguesa, convivem em nosso país quase 200 línguas indígenas – no
período do descobrimento eram mais de 1.200 – sem contar comunidades de falantes do alemão, do
italiano, do japonês, do espanhol, entre outras.
Saiba mais
No mundo, são mais de 6.000 línguas faladas, sem contar os dialetos e algumas divisões altamente
questionáveis, e as línguas impostas que levaram à extinção de inúmeras outras.
Em nosso caso, a diversidade linguística está relacionada à existência e à convivência de diversas línguas
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diferentes, além dos dialetos do próprio português espalhados por toda a nação. O conceito da diversidade
implica a defesa de que haja respeito por todas as línguas e variantes, promovendo a preservação das
línguas que estão em extinção.
A proposta de estudar a diversidade linguística busca promover o ensino e o respeito às diferenças de cada
língua, de cada falar, de cada região.
Ao nos referirmos à língua, precisamos ter em mente que a sua função é a comunicaçãoe a interação entre
os indivíduos. É por intermédio do uso da língua que podemos questionar, entender, argumentar e transmitir
informações.
As diferenças existentes nas línguas têm origem, em parte, no contato com outros idiomas, nas mudanças
ocorridas com o passar do tempo.
Em relação aos regionalismos ou falares regionais, notamos que cada estado da federação possui
características próprias, que o distingue dos outros, o que também se manifesta no aspecto linguístico, no
jeito de falar, o chamado sotaque, por exemplo, e nas palavras típicas daquela localidade.
As variações linguísticas também ocorrem graças a fatores ligados à faixa etária dos falantes, à classe
social, à profissão, entre outros.
A lição mais importante que qualquer ciência apresenta, incluindo a linguística, é
que não existe um fenômeno bom ou ruim, mas que todas as manifestações são
igualmente legítimas.
O que temos, em termos linguísticos, é uma variação determinada por fatores vários, que, normalmente, não
afetam a comunicação da língua. É impossível que um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados,
com um alto índice populacional de mais de 200 milhões de habitantes, pudesse manter a língua como um
todo uniforme, sem variações.
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Se, por um lado, há em nosso território uma unidade linguística, que é a língua portuguesa, ela passa por
diversidade de falares, o que não dificulta que um falante do Norte do país interaja com um falante do
Sudeste, mesmo com variações na fonética, na estrutura sintática ou no léxico, sem comprometer a unidade
do português.
Por isso, se aplica a máxima "unidade na diversidade e diversidade na unidade" como questão central sobre
a língua portuguesa.
Como a língua é uma entidade social, ela está em constante modificação, assim como qualquer sociedade.
Por isso, estigmatizar ou rejeitar qualquer modo de falar é um grande equívoco, porque, no final das contas,
é rejeitar aquela comunidade da qual o falante faz parte.
Afinal, não existe variante intrinsecamente superior a outra, mas um prestígio de algumas formas graças ao
impacto econômico, por exemplo, que lhe dão maior destaque. Um exemplo é a norma culta, que está ligada
ao poder que aquela camada tem sobre a sociedade.
A escola frente à diversidade linguística
Diversidade linguística e o desa�o da escola
A escola precisa estar atenta a essas questões porque o contexto escolar reúne diversas realidades
culturais, sociais e econômicas no mesmo espaço. Ao se abrir espaço para o preconceito linguístico,
contribui-se para uma queda na qualidade educacional de nossos alunos. Fazer comentários jocosos ou
desprezar certos modos de falar é danoso para a educação.
As variações linguísticas são divisões que surgem naturalmente nas línguas, que são distintas da norma
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padrão, porque têm a ver com as convenções da sociedade, com o momento histórico, o contexto ou a
região em que o falante está inserido, sendo um tema amplamente estudado pela linguística.
Uma língua só vai deixar de mudar quando morrer. Conforme diz o gramático e professor Evanildo Bechara,
“uma língua que só apresenta um só estilo já não é uma língua viva” (BECHARA, 2009, p. 25).
Nesse sentido, fica claro que muitas palavras utilizadas hoje na região em que você vive, provavelmente, não
existiam no passado, assim como formas de falar que os jovens utilizam diferem bastante da de seus pais e
avós. Tudo isso contribui para a pluralidade linguística de nosso idioma.
Assim surgem diferentes variantes da língua que apresentam características próprias. Podemos dividir as
variações linguísticas em quatro grupos:
Diastráticas
Têm origem nas diferenças entre os diversos grupos e classes sociais.
Diatópicas
Têm origem nas diferentes regiões geográficas.
Diacrônicas
São características de certas épocas históricas e variam conforme o tempo.
Diafásicas
São características de certos contextos comunicativos, em situações de maior ou menor formalidade.
Infelizmente, as variações linguísticas quase sempre são vistas como formas utilizadas pelas pessoas que
não têm um bom nível de escolaridade, ou seja, é uma forma de ver a questão bastante preconceituosa e
errada, porque tal manifestação linguística é extremamente rica e demonstra a complexidade e beleza da
relação entre língua e sociedade.
Assim, o ensino da língua materna precisa levar em conta as variações linguísticas e a heterogeneidade da
língua. Com isso, o professor será capaz de desmitificar a noção amplamente desenvolvida de que são
erros.
Um trabalho assim é capaz de investigar sobre as variações, diminuir o preconceito
linguístico, a partir da observação de elementos que interferem na fala. Com isso, a
sociedade e a escola podem interagir para um melhor desenvolvimento das aulas
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de língua materna.
O estudo da língua materna não pode ficar restrito apenas à escrita, mas precisa analisar a forma falada, já
que é por meio da espontaneidade da manifestação oral que se observam elementos que não ficam
restritos à norma culta e apresentam características regionais. Entender tudo isso pode contribuir para um
melhor desempenho como professor de língua portuguesa.
A origem histórica da norma padrão
A concepção de língua que a maioria das pessoas traz vem da Grécia antiga, no século III AEC, em que a
disciplina gramatical era voltada para a elite, ou seja, voltada para os que eram considerados intelectuais
naquele momento histórico.
AEC
Antes da Era Comum
Essa elite era formada por aqueles que recebiam a cidadania a partir de certos requisitos, excluindo-se os
escravos e as mulheres, formando um grupo muito pequeno que teria condições de se alçar à aristocracia.
Nesse sentido, o modelo utilizado por essa parcela da população passou a ser considerado padrão e deveria
ser seguido por toda a população.
Conforme nos lembra o linguista brasileiro Marcos Bagno, a noção de erro em relação à língua nasce, no
mundo ocidental, juntamente com “as primeiras descrições sistemáticas de uma língua específica, a língua
grega” (BAGNO, 2007, p. 62).
No Brasil, a realidade não foi muito diferente. A norma utilizada pelo português padrão foi inspirada em um
modelo único e de prescrição da língua, a partir de um olhar estético, baseado em escritores renomados.
Esse modelo acabou sendo considerado o correto, devendo ser utilizado na oralidade e na escrita por todos,
já que seria esteticamente melhor, segundo seus defensores, desconsiderando que toda manifestação
linguística ou dialetos têm a sua importância em seu contexto.
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A inclinação a essa abordagem de superioridade de uma variedade do uso
linguístico prejudica o aluno no acesso a outras manifestações, em um país que
apresenta diversos dialetos, além dos usos familiares.
Ao considerar apenas o modelo padrão, falado por uma parcela muito pequena da população, a língua perde
o seu sentido de instrumento de comunicação entre os seres humanos.
Diversidade linguística e atuação docente
O Papel do Professor diante da Diversidade Linguística
No início do século XX, Ferdinand de Saussure (1996), considerado o pai da Linguística, já dizia que a
linguagem possui dois aspectos:
Um lado individual
Um lado social
Para Saussure (1996), seria impossível conceber um aspecto sem o outro. Assim, a todo momento, a
linguagem implica, simultaneamente, dois aspectos:
Um sistema estabelecido
A cada instante, a linguagem se constitui como uma instituição atual.
Uma evolução
A cada instante, a linguagem é um produto do passado.A concepção de Saussure já apresentava a língua possuindo uma manifestação coletiva e uma individual,
com a língua em constante transformação.
Diante dessa constatação, entendemos, portanto, que o professor precisa estar atualizado com relação às
mudanças pelas quais a língua vem passando, aprimorando o seu conhecimento, interagindo com a
realidade.
A abordagem linguística precisa levar em conta a atividade social, as questões cotidianas, explorando a
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diversidade existente, enfatizando o uso e rejeitando um modelo que trata o padrão como certo e o coloquial
como errado.
Se, por um lado, o modelo padrão segue o que está preconizado nas gramáticas escolares, outros modelos
são mais informais. Isso pode interferir na escrita.
O professor com boa formação na área de Linguística ou Linguística Aplicada pode intervir nesse momento,
mostrando que tais modelos fazem parte do uso cotidiano da língua na nossa sociedade e servem para
muitas formas e usos, demonstrando que cada uma delas tem o seu momento e lugar de uso, tornando o
falante um poliglota em seu próprio idioma, transitando de acordo com a necessidade (BECHARA, 2006).
De modo algum queremos afirmar que devemos abandonar o ensino da gramática normativa. O que não
podemos é restringir o ensino da língua portuguesa apenas à prescrição gramatical. Conforme nos adverte
Bechara (2006, p. 48), “igual atenção deverá merecer da escola o ensino da leitura, da redação e da aula de
gramática”.
Atenção!
O uso coloquial da língua deve ser realizado sem que gere qualquer tipo de preconceito ou discriminação.
Sendo adotada como objeto de análise em sala de aula, essa variante ganhará importância e deixará de ser
rejeitada.
Afinal, não existem sociedades em que todos os seus membros falem da mesma forma, e tais variações
refletem o papel que essas pessoas exercem naquele grupo. É por meio dessas variações que a língua
adquire uma maior expressividade para dar conta de todas as suas necessidades, seja a conversa na feira
livre ou o texto esteticamente criativo da literatura, passando pelo humor e pela música.
Conforme comentamos, a questão não é deixar de ensinar a gramática normativa, já que ela, por si, não
consegue dar conta de todas as necessidades do falante, mas, sim, entender que a pluralidade linguística
deve estar presente na escola.
Para Bechara (2006), o ensino gramatical tradicional é antieconômico, banal e inatural, porque ensina o que
a maioria dos alunos já sabe, devendo ser substituído por estudo de uso. Nesse sentido:
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a educação linguística põe em relevo a necessidade de que deve ser respeitado
o saber linguístico prévio de cada um, garantindo-lhe o curso na
intercomunicação social, mas também não lhe furta o direito de ampliar,
enriquecer e variar esse patrimônio inicial.
(BECHARA, 2006, p. 11)
A defesa de um modelo em detrimento do outro acaba apresentando um resultado danoso porque se
privilegia o ensino de uma variedade em detrimento de outra. Por isso, a proposta mais sensata é estudar as
variedades linguísticas, entendendo como cada uma tem o seu lugar e a sua importância.
Uma das tarefas do ensino de língua na escola seria, então, discutir os valores
sociais atribuídos a cada variante linguística, enfatizando a carga de
discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de modo a
conscientizar o aluno de que sua produção, oral ou escrita, estará sempre
sujeita a uma avaliação social, positiva ou negativa.
(BAGNO, 2002, p. 75)
Perceba que o estudante precisa saber que será avaliado pelo uso que fizer da língua, seja na oralidade seja
na escrita.
O professor entra nesse contexto dando suporte aos alunos para que usem a língua de acordo com os
contextos adequados.
Diversidade linguística e aprendizado do aluno
O estudante e a diversidade de falares
Todos os falares têm igual valor, e quando o estudante usa a modalidade formal, ele o faz para aumentar a
sua bagagem cultural e transitar nos diversos espaços da sociedade em que a língua culta é privilegiada,
não para substituir sua maneira de falar.
Na simples troca de ambientes, o falante vai mudar a maneira de se expressar, já
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que a sociedade não é uniforme e a escola tem um potencial enorme de inovar a
partir dessa informação, mostrando que podem ocorrer trocas incríveis e que cada
grupo tem sua maneira de falar.
Como nos lembra Antunes (2009, p. 35), “as línguas estão a serviço das pessoas, de seus propósitos
interativos reais, os mais diversificados”, e isso ocorre de acordo com as formas que os contextos
assumem, com as situações e os estados nos quais que os interlocutores se encontram.
Para a Linguística, com sua abordagem científica sobre a linguagem, a língua serve para aproximar as
pessoas, já que considera todas as manifestações como igualmente válidas, enquanto a abordagem
tradicional considera as variações como erros.
Em alguns casos, é comum que o estudante use na escrita uma transcrição da forma como fala, elaborando
um texto com estilo e redação não considerados válidos para uma gramática padrão, mas perfeitamente
eficaz na oralidade.
Ao aprender as características das diferentes modalidade e registros da língua, com as peculiaridades de
escrita e da fala, o estudante se conscientizará de que a oralidade nem sempre segue as regras da
gramática padrão e que a norma padrão não é necessariamente aplicável a toda e qualquer situação, mas
apenas uma variedade que ganhou prestígio por outras questões, não pela linguagem.
Ao promover esse tipo de ensino, o professor é capaz de acolher as variações que convivem naquele
contexto, reconhecer e respeitar a identidade dos alunos, focando a construção do conhecimento.
Tudo isso serve para reforçar que o modelo culto não é absoluto e que os estudantes são diferentes, o que
demanda um ensino de língua que lide com as mudanças e a pluralidade, já que a língua é heterógena e
dinâmica.
Castilho (2002) nos lembra de que a criança, ao chegar à escola, já conhece as complexidades da língua que
fala, ou seja, já tem certo domínio sobre uma língua natural. A criança vem de uma fase de aprendizagem da
língua falada, no contexto da família, e passa para a aprendizagem da língua escrita, no ensino básico.
Ainda de acordo com Castilho (2002, p. 10), na aprendizagem no seio da família e no contexto escolar, a
criança teve de dominar pelo menos quatro sistemas:
Léxico
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Léxico
Semântica
Discurso
Gramática
O professor no ensino médio e, depois, no ensino superior, deverá suscitar no aluno esse conhecimento,
levando o estudante a rememorar essa aprendizagem e nela avançar. Para Castilho (2002, p. 10), o
professor deve promover experiências pedagógicas que levem “o aluno a exteriorizar as regularidades
discursivas, semânticas e sintáticas que ele internalizou quando aprendeu a falar e a escrever em sua
língua”.
Apesar do enorme preconceito do uso da variante não padrão escrita ou falada, dentro e fora da escola, há a
necessidade de se desenvolver uma abordagem pautada na variedade linguística existente em nosso país e
na importância da heterogeneidade para o crescimento dos estudantes. A forma que a escola ainda lida
com isso acaba afastando o estudante do verdadeiro objetivo do ensino de língua, que é a habilidade
comunicativa, seja escrita ou falada.
Diversidade linguística na sala de aula
Assista agora a um vídeo em que são comentadas as implicações da diversidade linguística no trabalho do
professor de língua portuguesa na educação básica.Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
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Como se estabeleceu a norma padrão da língua
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Adequação no uso da língua e contextos sociais
Todos
Módulo 1 - Video
Descrição Linguística e Ensino de Língua
Módulo 2 - Video
Diversidade linguística na sala de aula
Módulo 3 - Video
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 
Questão 1
A importância dada à normatividade gramatical remonta à Grécia Antiga, quando os estudiosos tinham a
preocupação de evitar as “deformações” do uso da língua grega. Nesse sentido, a concepção de língua da
maioria das pessoas está sob essa influência. Sobre essa temática, é correto afirmar que
A
a língua escrita era pouco valorizada, já que limitava as transformações naturais que se
processavam no falar da elite, as quais davam grande dinâmica e riqueza à língua.
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B
a normatividade gramatical atendia aos interesses de uma elite intelectual que excluía
pessoas comuns, mulheres e escravos, estabelecendo as regras quanto ao certo e errado.
C
como entidade imutável e homogênea, a língua escrita e falada era valorizada pela
importância que tinha nas relações comerciais e nas trocas culturais características da
época.
D
o falar característico da elite intelectual grega priorizava, assim como hoje, a comédia
como fonte de produção da norma culta, promovendo a disseminação do falar correto
para a população.
E
as regras e os padrões linguísticos estabelecidos pela elite intelectual grega eram
adotados nos documentos oficiais, nas relações comerciais e nas atividades de rua com
vistas à oficialização de um falar padrão.
Parabéns! A alternativa B está correta.
O conceito de uso normativo da língua, privilegiando um determinado modelo em detrimento de
outros, começa na Grécia Antiga e mostra que a distorção sobre o sentido do uso da língua vem
de muito tempo. A língua era vista como um elemento para as elites exercerem seu poder sobre
os outros grupos. Tal conceito permanece até hoje e se manifesta em situações que não
consideram as variantes como formas linguísticas válidas, sendo tratadas como erros. A escola
tradicional passou a considerar apenas um modelo que não existe na prática, exceto na literatura
clássica, o que acaba distanciando os falantes do prazer de estudar a gramática e da descoberta
do texto.
Questão 2
“A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro.”
(SAUSSURE, 1996, p. 15)
Sobre a afirmação e sua implicação para a atividade do professor de língua portuguesa, é correto afirmar
que
A
a linguagem possui uma dimensão individual ligada à fala e uma dimensão coletiva
relacionada com a escrita, por isso, o professor precisa separar as atividades de produção
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escrita e oral.
B
a linguagem como instrumento de interação promove a dimensão individual e coletiva por
meio da escrita, o que deve levar o professor a privilegiar a escrita em detrimento da
oralidade.
C
a linguagem não está desvinculada de um contexto social, sua produção é individual e
coletiva, podendo ser articulada pelo professor independentemente do contexto social e
das variações.
D
a linguagem do cotidiano está estreitamente articulada a um contexto social e coletivo,
por isso, a dimensão individual deve ser deixada de lado pelo professor nas aulas de
língua portuguesa.
E
a língua, em suas dimensões coletiva e individual, está intrinsecamente ligada às
transformações sociais, assim, o professor pode trabalhar a partir de uma análise
linguística criteriosa, levando em conta essas transformações, as questões cotidianas e a
diversidade.
Parabéns! A alternativa E está correta.
Saussure, o pai da Linguística, entre o final do século XIX e o início do século XX, ao ministrar o
Curso de Linguística Geral, afirmava que a linguagem tem uma abordagem social e uma
individual. O seu lado social está ligado ao aspecto coletivo e às transformações sociais. Nesse
sentido, a Linguística Aplicada também se volta para as demandas sociais que surgem no dia a
dia, bem como para a diversidade linguística. Assim, evita-se a separação entre teoria e prática,
tornando a abordagem da linguagem mais acessível e prática para todos os interessados no
tema.

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3 - Linguística Aplicada ao Ensino de Leitura e Escrita
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as contribuições da Linguística Aplicada
para o ensino de leitura e escrita.
A escola e o ensino da leitura e da escrita
O Papel da Escola no Ensino da Leitura e da Escrita
O ensino da língua portuguesa na escola tem o objetivo de preparar o estudante para lidar com as diversas
manifestações da linguagem, seus variados usos e expressões, o que inclui a gramática normativa e a
língua culta, a fim de que ele tenha acesso a outras áreas de conhecimento e desenvolva as competências
leitora e escritora indispensáveis para a vida em sociedade.
Assim, o desenvolvimento de tal saber vai implicar a leitura e o olhar crítico sobre o texto, ou seja, a
produção escrita seguindo o padrão normativo, a análise da linguagem em manifestações literárias, visuais
e outras, para que ele possa compreender o mundo melhor.
Pensando como a Linguística Aplicada pode contribuir de forma específica para o ensino de leitura e escrita
nas aulas de língua portuguesa, podemos propor que o professor deva provocar os alunos a formular
perguntas que os próprios estudantes junto com o professor poderão responder. O que, tradicionalmente,
tem acontecido é que o docente responde a perguntas que os estudantes não fizeram, o que é pouco
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produtivo.
O papel da escola deve ser levar o aluno a atingir o seu desenvolvimento linguístico,
mas a escola ainda precisa lidar com uma fragmentação bastante comum no
ensino da língua materna: leitura e compreensão, literatura, gramática e produção
de textos.
Tais divisões muito rígidas impossibilitam uma reflexão e uma ação sobre as questões linguísticas, fazendo
com que o estudante apenas decodifique e analise a língua, em momentos separados, sem que esse aluno
tenha noção do todo da linguagem.
O papel desempenhado pelo professor vai além de ensinar a gramática normativa, que é uma variante da
língua cobrada pela sociedade, pois o docente deve levar o aluno a ampliar seus conhecimentos com outras
manifestações e outros níveis de uso da língua. Assim, o aluno terá oportunidade de desenvolver sua
capacidade comunicativa.
A Linguística Aplicada nos ajuda a compreender que o ensino da língua materna deve ser amplo, valorizando
a fala, que é a modalidade aprendida naturalmente e que está em constante transformação, e apresentando
características que precisam ser analisadas em sala de aula.
Atenção!
Os documentos oficiais que norteiam o ensino enfatizam a articulação entre a leitura e a escrita, já que
formam um todo sobre a língua. Ao se fazer um recorte com a intenção de facilitar o estudo, é necessário
que as unidades ou os segmentos estejam relacionados com outros elementos do processo de construção
do texto oral e/ou escrito, ou seja, devem estar articulados sempre.
Ainda são poucos os trabalhos que investigam o atual documento que serve para nortear os currículosescolares no Brasil. Estamos nos referindo à Base Nacional Comum Curricular – a BNCC. Esse documento,
assim como qualquer diretriz curricular, deve ser trabalhado sem se perder de vista o objetivo de direcionar a
educação para uma formação humana integral e para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e
participativa.
O texto da BNCC nos informa que tal documento possui um “caráter normativo que define o conjunto
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orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das
etapas e modalidades da Educação Básica” (BRASIL, 2017, p. 7).
No caso da língua portuguesa, entendemos que todas as modalidades da língua são essenciais. Tanto a
escrita quanto a fala, em suas diversas manifestações e registros, devem ser trabalhadas nas aulas e
atividades de língua portuguesa.
Integração da oralidade e da escrita
Atividades integrando oralidade e escrita
Quem está no espaço de sala de aula ministrando a língua materna sabe que os alunos apresentam muita
dificuldade para escrever e mesmo reproduzir a oralidade em atividades de produção textual.
É bastante comum que os estudantes escrevam da maneira como se fala, por isso é tão importante que a
escola trabalhe a oralidade, mostrando que existem semelhanças e diferenças entre as modalidades da
língua.
O aluno precisa aprender que não existe uma gramática finalizada e pronta para a
fala, mas há diferenças entre os textos produzidos pela fala e pela escrita, afinal, a
escrita tem a necessidade de usar uma seleção vocabular mais ampla, uma sintaxe
específica, diferente da oralidade, entre outras características que a distinguem.
Por isso, o professor precisa reforçar que a interação na oralidade se dá de forma
pessoal, de modo geral, olho no olho, enquanto na escrita isso não acontece.
A escrita pode ser planejada, revista e reelaborada, a fala, por sua vez, não admite essa possibilidade.
Ao escrever, podemos consultar outras fontes; na oralidade, isso não é possível. Pode-se afirmar que a fala
apresenta todo seu processo de criação enquanto se dá a própria comunicação entre os interlocutores. A
escrita, por sua vez, mostra o produto ou resultado desse processo separado do momento em que o texto
será recepcionado pelo seu destinatário ou leitor.
Considerando as articulações entre oralidade e escrita, ao mesmo tempo em que se reconhece também
suas distinções, é preciso trabalhar ambas as modalidades em sala de aula.
Cada item apresentado para o estudo da língua precisa estar ligado a um projeto, com dados selecionados,
sobre os quais os alunos podem pensar perguntas específicas. Os dados são a fala e a escrita dos próprios
alunos, que servirão para os alunos analisarem a fala e a escrita que lhes são familiares e compará-las com
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trechos do modelo culto da língua.
Pode-se propor que os alunos, orientados pelo docente, gravem as próprias conversas e façam as
transcrições, permitindo que o professor e outros estudantes entendam e explicitem como funcionam os
mecanismos da oralidade.
A partir dessa atividade, alguns trechos podem ser escritos, permitindo que os estudantes façam
observações sobre a fala e a escrita.
Atividades como essas podem ser mais interessantes do que formatos de aulas meramente expositivas em
que a língua portuguesa é ensinada em um contexto de passividade dos alunos e desconectada do mundo
real do uso da oralidade e da escrita.
Recomendação
Desenvolver atividades que integrem oralidade e escrita, aproximando o aprendizado da língua dos usos que
são familiares ao aluno, pode levar o estudante a analisar e questionar os dados que ele mesmo coletou,
ainda mais agora que o acesso à informação e a seu processamento digital é cada vez maior.
Usando aparelhos de celular que gravam facilmente a fala dos alunos e, ao mesmo tempo, permitem acesso
a uma infinidade de textos, as aulas e atividades de língua portuguesa podem explorar a riqueza da
diversidade linguística.
O ensino da língua precisa valorizar os saberes não valorizados, que agregam às experiências dos discentes
saberes que devem ser aplicados para além da escola, unindo as demandas curriculares às necessidades
de aprendizagem. Essas necessidades podem ser identificadas pelo trabalho cuidadoso da escola e dos
docentes.
Algumas questões podem ser respondidas para se desenvolver esse trabalho que articula os saberes
valorizados pela escola e os saberes que extrapolam o mundo da escola:
Como a fala é organizada?
De que modo ocorre a passagem entre as falas dos interlocutores em uma conversação?
Como o ouvinte toma a vez para falar?
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Quais as marcas linguísticas encontradas na oralidade?
Com essas questões em mão, o professor pode partir para as observações de como o texto é organizado,
considerando outro tipo de perguntas:
Como os argumentos são desenvolvidos no texto escrito?
Quais mecanismos linguísticos são utilizados para apresentar a informação na escrita e na oralidade?
Quais os conectivos são utilizados na fala e quais são mais recorrentes na escrita?
Depois de passar por essas etapas, pode-se entrar na análise gramatical propriamente dita do texto com
perguntas que podem tratar de alguns pontos, tais como:
a função das palavras encontradas no texto;
o modo como as palavras se agrupam; e
as correspondências ou não entre os marcadores conversacionais da oralidade e da escrita.
É claro que esses são apenas alguns pontos, pois o professor poderá explorar outras questões gramaticais
e linguísticas.
Assim, as aulas ganham um ar de descoberta científica, como deveriam ser desde o início.
Integração da gramática e os usos da língua
Atividades integrando gramática e usos da língua
Tudo isso serve para descrever uma língua viva no espaço da sala de aula, a partir de dados coletados pelos
próprios alunos, de perguntas feitas a partir da atividade e da elaboração de sua resposta.
A partir dessas atividades de coleta e trabalho com a língua nos seus contextos de uso, deve ser feita a
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orientação para que os alunos verifiquem o que já foi escrito sobre aquilo que eles pesquisaram, usando,
para isso, as gramáticas e os livros didáticos.
Para que esse processo seja bem-sucedido, é necessário que o professor seja capacitado a fim de encontrar
alternativas metodológicas para o ensino da língua materna.
Atenção!
A missão do professor de português vai muito além de ensinar acentuação gráfica ou regras gramaticais, o
docente de língua deve formar cidadãos para viverem em um ambiente de diversidade, ou seja, democrático,
sendo crítico, julgando e escolhendo aquilo que lhe parece melhor.
O famoso jingle da Caixa Econômica Federal – que já tem mais de três décadas e se tornou a mensagem
publicitária mais antiga ainda em uso no Brasil – dizia: “Vem para a Caixa você também. Vem!”.
Essa mensagem ou texto é um exemplo de propaganda marcada pela oralidade.
Na frase, haveria um erro, de acordo com a gramática normativa. O verbo “vir” é usado no imperativo, na
segunda pessoa do singular (vem), embora o pronome utilizado seja o “você”, que deveria levar o verbo a ser
empregado na terceira pessoa (venha).
Um emprego assim é bastante recorrente na oralidade, mas condenado pela gramática normativa, que
apresentaria a frase como “Vem para Caixa tu também” ou “Venha para a Caixa você também”. Logo, a
propaganda fez um uso coloquial da linguagem.
Ao explicar o caso, o professor pode lembrar que o pronome “você” tem origem em “vossa mercê”, sendo
uma forma de tratamentoque deve fazer concordância com a terceira pessoa, embora se refira à segunda
pessoa, tu. No jingle do banco federal, foi feita a mistura no uso do verbo no imperativo.
Faz tempo que a recomendação das gramáticas em relação ao imperativo deixou de ser usada na oralidade
de vários lugares do país, ficando restrita à escrita formal.
No exemplo, conforme foi dito, temos uma forma que mescla a segunda e a terceira pessoa para se dirigir
ao interlocutor. A intenção é ser mais próximo da língua falada, já que o modelo formal não atingiria as
necessidades comunicacionais e levaria à perda da rima. O uso da norma gramatical, nesse caso, seria bem
aceita apenas por uma parcela pequena da população. Fazendo uma combinação entre o “tu” e o “você”,
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prática bastante atual na fala da maioria das pessoas, a frase ganha mais apelo popular.
O chamado duplo tratamento, que confunde e mistura o uso da segunda e pessoa
de tratamento, é tratado como vício de linguagem na gramática normativa, mas é
bastante comum no português falado, resultando em frases como a do nosso
exemplo: “Vem [tu] pra Caixa você também. Vem!”.
Outra peça publicitária que também fez isso foi um anúncio da Embratel, que dizia o seguinte: “Você quer
um desconto? Faz um 21!”. Note que o uso do “você” deveria levar o verbo “fazer” a seguinte forma no
imperativo: faça. Assim, conforme a gramática normativa, para adequar a frase à norma padrão, deveríamos
reescrevê-la da seguinte maneira: “Você quer um desconto? Faça um 21!”.
Outro exemplo vem da peça publicitária para a campanha de prevenção à AIDS, que diz: “Se você não se
cuidar, a AIDS vai te pegar”, objetivando alcançar a maior parte da população. Essa campanha também
segue o português coloquial atual para o tratamento da segunda pessoa, usando o verbo na terceira pessoa
do singular, seguido do pronome oblíquo de segunda pessoa. A sugestão normativa seria: “Se você não se
cuida, a AIDS vai pegá-lo.”, mas perderia a rima.
Outro caso é o da propaganda do refrigerante Sprite que alardeava: “Obedeça sua sede”. A frase contém um
problema de regência, já que o verbo “obedecer” é transitivo indireto, tendo como obrigatório o uso da
preposição “a”, pois quem obedece, obedece a alguma coisa ou a alguém. Logo, a forma correta de acordo
com a gramática normativa é: “Obedeça a sua sede”. Perceba que o uso da crase na frase é facultativo, pois
antes de pronomes possessivos, tais como “sua”, “tua”, “minha”, “nossa” e “vossa”, podemos optar por usá-la
ou não.
Como temos visto, há frases utilizadas em propagandas famosas que não são aceitáveis no português
escrito formal porque apresentam incorreções, como a flexão equivocada do verbo no imperativo e o uso
embaralhado das formas de tratamento.
Como fica, então, a questão do ensino a partir desses dois exemplos?
Diríamos para os alunos que eles poderiam escrever assim em situações formais?
Não! As campanhas, no contexto da linguagem publicitária, tinham um objetivo de alcançar o maior número
de pessoas possível, logo, eram adequadas para aquele fim. Assim, conhecer a norma significa escrever de
acordo com a demanda comunicacional a ser atendida.
Ensino de leitura
A importância do ensino de leitura
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A importância do ensino de leitura
Outra preocupação do profissional que ministra as aulas de língua portuguesa é com a leitura, que não é
uma atividade muito simples e fácil.
A prática de leitura pode ser considerada uma experiência exclusiva, um exercício dialógico, que envolve a
decifração, a interpretação e a compreensão, como formas de interação com o texto.
Assim, todos nós estamos em constante interação com o texto. Como afirma Garcez, “nenhuma atividade
humana permite, até hoje, a espécie de diálogo atemporal que a leitura proporciona” (GARCEZ, 2000, p. 5).
Re�exão
A leitura é algo bastante complexo e envolve diversos aspectos, que vão da decodificação de letras até a
compreensão do texto por meio de certas estratégias. Por isso, existem inúmeras abordagens sobre a
leitura.
A leitura como decodi�cação
Uma abordagem entende a leitura como a decodificação, a partir de um olhar mais estruturalista. Nessa
concepção, o texto é entendido como um código a ser decifrado e a leitura concebida como um tipo de
extração do significado.
Nessa perspectiva, as letras devem ser entendidas de modo individual pelo leitor,
formando palavras até chegar ao significado. Logo, o leitor faz uma leitura indutiva,
capturando as informações de maneira linear e construindo o seu significado por
meio das partes, sem um conhecimento anterior.
Tal abordagem tem um foco na interpretação mecânica do texto, por meio da decodificação da escrita, ao
recuperar elementos que aparecem explicitamente no texto.
Uma palavra que pode resumir tal abordagem é “extração”, caracterizando um processo inicial da leitura.
Assim, quando as atividades didáticas solicitam que os alunos “extraiam” determinadas informações de um
texto, elas estão limitando a abordagem, deixando de lado ou para outro momento as relações do texto ou
daquela informação solicitada com outros conhecimentos.
A leitura como atividade cognitiva
Outra abordagem entende a leitura como uma atividade cognitiva que busca a compreensão. Essa
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perspectiva da leitura aborda uma mudança bastante significativa que aponta para conhecimentos prévios
trazidos pelo leitor.
Os conhecimentos prévios correspondem ao repertório do aluno, ao conhecimento de mundo, de práticas da
sociedade, de textos, da linguagem, entre outros saberes.
Atenção!
Esses conhecimentos são essenciais para identificar o texto como um todo orgânico e relacionar suas
partes como uma peça coerente, além de contribuir para a atribuição de sentidos a partir da leitura de
outros textos.
Uma das características dessa abordagem é que o leitor constrói hipóteses e, para isso, utiliza seus
conhecimentos prévios na leitura. O leitor é capaz de absorver as ideias do texto a partir de conhecimentos
diversos, em vez de compreender apenas as palavras.
Desse modo, a leitura começa na decodificação, mas não se limita a essa fase inicial.
Na compreensão, o leitor passa pela decodificação (quando reúne informações
fonológicas, fonéticas, morfológicas, sintáticas) e pela construção da
coerência (quando integra essas informações a seus conhecimentos). O leitor
também mobiliza diversos tipos de conhecimentos prévios e utiliza estratégias
antes, durante e depois do processamento de informações.
(CAFIERO, 2005, p. 38)
A leitura como prática social
Uma terceira forma de abordar a leitura é compreendê-la como prática social. Tal proposta afirma que há
uma interação entre texto e leitor.
É preciso entender que a complexidade do processo da leitura nos leva a ir além dessas duas primeiras
abordagens que apresentamos, mas sem eliminá-las ou optar por uma ou outra.
Devemos, também, ir além da decodificação ou da abordagem cognitiva do texto. De acordo com Leffa
(1996, p. 17), precisamos considerar um terceiro aspecto: “o que acontece quando leitor e texto se
encontram”.
Assim, na abordagem da leitura como prática social, conforme Leffa (1996), teremos de considerar três
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elementos:
O papel do leitor
O papel do texto
A interação entre o leitor e o texto
De acordo com essa proposta, a compreensão de um texto só será possível se houver afinidade entre o
leitor e o texto, o que se dá por meio de conhecimentos prévios, que vão interagir com as informações
textuais e resultarão na compreensão do texto.
Talabordagem promove a interação entre leitor e texto, estimulando um diálogo entre eles e uma resposta,
considerando o leitor, o texto e o autor, ou seja, a interação entre sujeitos que trazem conhecimentos
específicos.
A leitura é uma prática social discursiva que envolve diversas capacidades, tais como:
Identi�cação de informações
Ativação de conhecimentos anteriores
Inferências e recuperação dos contextos de produção
Desse modo, a atividade de leitura envolve dimensões inter-relacionadas a procedimentos de decodificação
e à reflexão. A prática da leitura também é guiada por certas condições de produção, permitindo que os
gêneros textuais possam ser reelaborados, valorizando aspectos estéticos, culturais, políticos e ideológicos,
capazes de estabelecer relações intertextuais e interdiscursivas.
Linguística Aplicada e ensino de leitura e escrita
Assista agora a um vídeo em que se comenta o papel da escola no ensino da leitura e da escrita a partir da
Linguística Aplicada, enfatizando a formação e atuação do professor de língua portuguesa.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
O papel da escola no ensino de língua portuguesa
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Ensino de gramática e diferentes usos da língua
Todos
Módulo 1 - Video
Descrição Linguística e Ensino de Língua
Módulo 2 - Video
Diversidade linguística na sala de aula
Módulo 3 - Video
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 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Analise as afirmativas acerca da contribuição da Linguística Aplicada ao ensino da leitura.
I – A relação entre o leitor e o texto contribui para o estabelecimento de uma prática de leitura adequada e a
produção de sentido.
II – A leitura como processo de decodificação e como atividade cognitiva são conceitos necessários e
suficientes que abarcam todas as dimensões e aspectos necessários para o trabalho com o texto.
III – Para além da decodificação e da atividade cognitiva, a leitura também implica uma prática social.
Está correto apenas o que se afirma em:
A I.
B II.
C III.
D I e II.
E I e III.
Parabéns! A alternativa E está correta.
As afirmativas I e III estão corretas porque a leitura envolve processos de decodificação, atividade
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cognitiva e, também, prática social, caracterizando uma interrelação entre leitor e texto. A
afirmativa II está incorreta porque as dimensões da decodificação e da atividade cognitiva são
necessárias, mas não suficientes, havendo a necessidade da cooperação entre leitor e texto.
Questão 2
A Linguística Aplicada tem muito a contribuir para o ensino da língua materna, ao oferecer o saber sobre a
constituição da língua e seu funcionamento como instrumento de comunicação inserido em um contexto
social e histórico. Nesse sentido, é correto afirmar que no ensino da língua materna
A
deve-se promover o desenvolvimento linguístico com ênfase na leitura, gramática e
produção textual, trabalhando atividades de análise da língua materna.
B
é preciso valorizar a fala, aprendida na escola, associada à leitura e à escrita, em
contextos escolares, eliminando as falas trazidas pelos alunos.
C
deve-se valorizar a escrita, já que a fala é aprendida naturalmente pelo aluno e o contexto
social em que ele vive, por si, promove o desenvolvimento da oralidade.
D
deve-se promover a integração entre fala, leitura e escrita, aproximando o aluno da norma
culta, que é suficiente para a sua integração em diferentes contextos sociais.
E
é necessário promover de maneira dinâmica a leitura e a escrita em momentos distintos,
pois são práticas independentes e não articuladas.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A Linguística, de modo geral, não considerava o contexto sócio-histórico em que ocorriam as
interações da comunicação. Com a Linguística Aplicada, esse quadro mudou. No ensino da língua
portuguesa, enquanto língua materna, a Linguística Aplicada enfatiza a valorização da fala, que o
estudante já traz em uma experiência anterior à escola, que deve ser associada à leitura e à
escrita, sem que haja a supervalorização das normas prestigiadas socialmente em detrimento do
acolhimento ao aluno com suas variações linguísticas. Obviamente, a norma padrão não deve ser
abandonada, mas colocada em perspectiva na sala de aula.
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Considerações �nais
Podemos concluir que a Linguística Aplicada busca acompanhar as necessidades da sociedade para
contribuir com as demandas do professor no seu ofício, ajudando o docente por meio da consciência
reflexivo-crítica.
A formação docente tem como pressuposição uma formação teórica e interdisciplinar sólida acerca das
questões educacionais, dando condições para que o profissional possa exercer uma análise da sociedade,
da escola, da teoria e da prática, na busca por melhores resultados para seus alunos.
Tudo isso pode tornar o professor um agente de transformação na sociedade, por meio de vivências e
relações entre teoria e prática que respondam aos problemas de ensino de forma relevante e continuada por
meio de uma contínua interlocução com o aluno.
Linguística Aplicada no ensino
Ouça agora o podcast a seguir, no qual se comentam a contribuição da descrição linguística na prática
docente; a diversidade linguística e a atuação do professor de língua; e o ensino de leitura e escrita a partir
das contribuições da Linguística Aplicada.
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Referências
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ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
BAGNO, M. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola
Editorial, 2007.
BECHARA, E. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? 12. ed. São Paulo: Ática, 2006
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017
CASTILHO, A. de. Entrevista. In: Ciência Hoje, v. 31, n. 182, maio 2002.
FIORIN, J. L. Fiorin entrevista. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (orgs.). Conversas com linguistas: virtudes e
controvérsias da Linguística. São Paulo: Parábola, 2003. p. 71-76.
RAJAGOPALAN, K. Relevância social da linguística. In: XAVIER, Antonio C.; CORTEZ, S. (orgs.). Conversas
com linguistas: virtudes e controvérsias da Linguística. São Paulo: Parábola, 2003.
SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. 20. ed. São Paulo: Cultrix, 1996.
Explore +
Assista aos seguintes vídeos:
Diálogos: A linguística e o ensino da língua portuguesa, com Eloísa Pilati (UnB) e Sírio Possenti (UNICAMP),
conversando sobre análise do discurso, linguística e o ensino da língua portuguesa. Disponível no canal da
UnBTV no YouTube. Atenção especial para a parte em que Possenti enfatiza as questões sobre o ensino de
língua materna, em parte por causa de sua experiência enquanto aluno, e o papel da escola na ascensão
social.
Fragmento do programa Sem Censura, no qual Eliana Yunes fala sobre leitura, o ensino da língua e a
formação do leitor.
Entrevista com João Wanderley Geraldi, no qual ele fala sobre o ensino da língua, leitura e produção textual.
Preconceito Linguístico ‒ 20 anos depois, com Marcos Bagno (UnB) falandosobre a importância do seu
livro Preconceito Linguístico, como instrumento de popularização da linguística e do seu impacto na
formação de professores de língua portuguesa, como língua materna. Disponível no canal da editora
Parábola Editorial, no YouTube.
Leia o artigo Linguística Aplicada ao ensino de Língua Portuguesa: a oralidade em sala de aula, de Juliana
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Carvalho, disponível no portal Educação Pública.
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