Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Projetos educacionais: Reconstruindo a aprendizagem sob a perspectiva da pedagogia de projetos Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Curso de Projetos educacionais: Reconstruindo a aprendizagem sob a perspectiva da pedagogia de projetos MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores SUMÁRIO MÓDULO I 1 A PEDAGOGIA DE PROJETO E SUA PROGRESSÃO HISTÓRICO-TEÓRICA 1.1 PRINCÍPIOS TEÓRICOS DO PROJETO DE TRABALHO 1.1.1 Quem Abriu Caminhos? 1.2 PEDAGOGIA OU MÉTODO DE PROJETOS? 1.2.1 Relação Teoria e Método 1.2.2 Mas, o que é Pedagogia de Projetos? 1.2.3 Objetivos 1.2.4 Principais Características 2 OS PROJETOS E SEUS SIGNIFICADOS NA HISTÓRIA DA ESCOLARIDADE 2.1 OS ANOS 20: O MÉTODO DE PROJETOS PARA APROXIMAR A ESCOLA DA VIDA DIÁRIA 2.2 OS ANOS 70: O TRABALHO POR TEMAS E A IMPORTÂNCIA DAS IDEIAS- CHAVE 2.3 OS ANOS 80: O AUGE DO CONSTRUTIVISMO E OS PROJETOS DE TRABALHO 3 CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DO TRABALHO COM PROJETOS (SEGUNDO ABRANTES, 1995) MÓDULO II 4 O CONHECIMENTO E A APRENDIZAGEM SOB A INFLUÊNCIA DA PEDAGOGIA DE PROJETOS 5 O CURRÍCULO E A INTERDISCIPLINARIDADE 6 A APRENDIZAGEM E OS CONTEÚDOS 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO III 7 A IMPORTÂNCIA DO PROJETO NA FORMAÇÃO DO SUJEITO 8 A ESCOLA COMO GERADORA DE CULTURA 9 EDUCAR PELA PESQUISA MÓDULO IV 10 ENSINAR MEDIANTE PROJETOS 11 PLANEJAR, EXECUTAR E APRESENTAR 11.1 A PROBLEMATIZAÇÃO 11.2 O DESENVOLVIMENTO 11.3 A SISTEMATIZAÇÃO OU SÍNTESE 11.4 A AVALIAÇÃO 12 CARACTERÍSTICAS DOS PROJETOS EDUCACIONAIS 12.1 A QUESTÃO DA AVALIAÇÃO 12.2 A PERSPECTIVA DE MUDANÇA E A AVALIAÇÃO NOS PROJETOS DE TRABALHO 12.3 EXEMPLIFICANDO E DEMONSTRANDO ALGUNS PROJETOS 12.3.1 Projeto Manguesais 12.3.2 Comentários e conclusão final sobre o projeto 13 PROJETO PIPAS 14 PROJETO CENTRO MÉDICO 14.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELAS TURMAS BRONZE 14.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELAS TURMAS OURO 14.3 EXPOSIÇÃO DO PROJETO CENTRO MÉDICO 15 CONCLUINDO OS CONCEITOS DE PROJETOS 16 PROPONDO E COMENTANDO ALGUNS TEMAS E IDÉIAS PARA PROJETOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO I 1 A PEDAGOGIA DE PROJETO E SUA PROGRESSÃO HISTÓRICO-TEÓRICA 1.1 PRINCÍPIOS TEÓRICOS DO PROJETO DE TRABALHO Nos últimos anos, sob a influência dos avanços da ciência, da biologia e da psicologia no início do século, e das mudanças sociais causadas pela industrialização, urbanização acelerada e pelas duas grandes guerras, a organização do ensino passou por um movimento educacional renovador conhecido como Escola Nova (ARANHA, 1989). Este movimento (final do século XIX na Europa e mais fortemente na década de 30 no Brasil) foi uma reação à educação tradicional alicerçada no silêncio e no imobilismo, no estudo de conteúdos descontextualizados e no descompasso entre a escola e a vida. Serviu como base para propostas de ensino integrado, entre elas a Pedagogia de Projetos (SANTOMÉ, 1998). 1.1.1 Quem Abriu Caminhos? Pestalozzi e Fröebel (século XVIII) apontam a necessidade de uma educação voltada para os interesses e necessidades infantis. Ferrière e Krupskaia – e depois Makarenko – realizam experiências com projetos integrados no início do século XX. Montessori e Decroly, a partir de 1907, defendem os temas lúdicos e o ensino ativo. Maria Montessori aponta a necessidade da atividade livre e da estimulação sensoriomotora e 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Ovide Decroly sugere a aprendizagem globalizadora em torno de centros de interesse. Dewey e Kilpatrick (década de 20) acentuam a preocupação de tornar o espaço escolar vivo e aberto ao real. John Dewey, que esteve no Brasil, valoriza a experiência e considera que a educação tem função social e deve promover o sujeito de forma integrada, principalmente valendo-se da arte. Freinet (década de 30) propôs a valorização do trabalho e da atividade em grupo para estimular a cooperação, a iniciativa e a participação. Paulo Freire (década de 60) é destaque na educação brasileira com a introdução do debate político e da realidade sociocultural no processo escolar, com a educação libertadora e os chamados temas geradores. Suas ideias são mundialmente divulgadas através de seus vários livros, tais como “Pedagogia do Oprimido”, “Pedagogia da Autonomia”, entre outros. Jurjo Santomé e Fernando Hernández (década de 90 em diante) propõem o currículo integrado e os projetos de trabalho (na Espanha), com repercussões no Brasil. Antoni Zabala (década de 90 e século XXI, na Espanha), entende que a complexidade do projeto educativo deve ser abordada por um enfoque globalizador, no qual a interdisciplinaridade está presente. Jolibert, na França, Adelia Lerner e Ana Maria Kaufman, ambas na Argentina, também divulgam estudos sobre propostas educativas globalizadoras. Miguel Arroyo, entre outros educadores brasileiros, defende a presença na escola dos temas emergentes, de um currículo plural e aponta que: [...] se temos como objetivo o desenvolvimento integral dos alunos em uma realidade plural, é necessário que passemos a considerar as questões e problemas enfrentados pelos homens e mulheres de nosso tempo como objeto de conhecimento. O aprendizado e vivência das diversidades de raça, gênero, classe, a relação com o meio ambiente, a vivência equilibrada da afetividade e sexualidade, o respeito à diversidade cultural, entre outros, são temas cruciais que, hoje, todos nós nos deparamos e, como tal, não podem ser desconsiderados pela escola. (ARROYO, 1994, p. 31). Projetar é planejar intencionalmente um conjunto de ações com vistas à obtenção de um ou mais fins. No campo da educação, clássicos como Dewey e Freinet já apontavam, há cerca de 100 anos, para o valor educativo de atividades de caráter 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores globalizante por sua vinculação com o mundo real. O campo da educação vem reconstruindo e ressignificando as diferentes concepções acerca do Método de Projetos. Passamos a seguir a apresentar, em linhas gerais, o que vem a ser, no cotidiano dos processos educativos, o tal método, suas virtualidades e alguns de seus prováveis limites. Podemos pensar em termos de Método ou de Pedagogia de Projetos. O que muda, entre um e outro, é a abrangência da implantação da metodologia, podendo chegar a uma mudança total na orientação filosófico-pedagógica da escola. O Método de Projetos pode ser implementado em uma escola tradicional ou inovadora, como mais uma técnica de ensino utilizada periodicamente,conjugado com outros procedimentos, ou pode ser o procedimento principal e definidor do método da pedagogia da escola. No final das contas, o que definirá a pedagogia da escola será o conjunto de seus objetivos e propostas que orientarão, na prática, o tipo de educação que estará sendo oferecida aos alunos. Dessa forma, quando falamos em Pedagogia de Projetos, estamos nos referindo a uma lógica educativa bastante diferenciada do que se vem fazendo na maioria dos processos educacionais. Mudar a lógica educativa significa romper com tradições e a Pedagogia de Projetos apresenta diversas propostas de ruptura: romper com a desarticulação entre os conhecimentos escolares e a vida real, com a fragmentação dos conteúdos em disciplinas, em séries e em períodos letivos predeterminados, como horários semanais fixos e bimestres, romper com o protagonismo do professor nas atividades educativas, com o ensino individualizado e com a avaliação exclusivamente final, centrada nos conteúdos assimilados e voltada exclusivamente para selecionar os alunos dignos de certificação. A discussão sobre Pedagogia de Projeto não é nova. Ela surgiu no início do século, com John Dewey e outros representantes da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão estava embasada em uma concepção de que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida presente – tão real e vital para o aluno como aquele que vive em casa, no bairro, ou no pátio” (DEWEY, 1859). A expressão Pedagogia de Projetos pertence ao conjunto de elaborações teóricas difundidas, principalmente, pela francesa Josette Jolibert e seus colaboradores, 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores engajados ao Instituto Nacional de Pesquisas Pedagógicas da França (INRP), e por Fernando Hernández, pesquisador espanhol da Universidade de Barcelona, ambos referenciados constantemente pelos pesquisadores da área da prática de ensino do Ensino Fundamental. Na virada do século 19 para 20, encontramos um movimento educacional muito importante, que foi denominado Escola Nova. Esse movimento uniu educadores de vários pontos da Europa e da América do Norte e, aos poucos, foi estendendo-se por vários continentes. Os fundadores da Escola Nova, como Ovide Decroly (1871-1932), Maria Montessori (1870-1952) e John Dewey (1859-1932), fizeram a crítica à Escola Tradicional, problematizando a função social da escola, o papel do educador, do educando e a organização do trabalho pedagógico. Apesar de os educadores contemporâneos terem sido agrupados a esse movimento como uma totalidade, é evidente que existem muitas diferenças entre as alternativas pedagógicas. Os escolanovistas procuraram novas formas de organização do ensino que tivessem características como: a globalização, o atendimento ao interesse do aluno, a participação dos alunos, uma nova organização didática e a reestruturação da sala de aula. Nessas experiências vamos encontrar vários tipos de formas de organização do ensino, como os centros de interesses, os projetos e as unidades didáticas. Ovide Decroly criou os Centros de Interesse, em que os conteúdos são organizados de forma globalizada, as matérias de ensino estão unificadas e todas as atividades escolares são formadas em torno de um único tema, preestabelecido pelo autor a partir daquilo que ele considerava as necessidades básicas das crianças. O filósofo pragmático e educador John Dewey e seu seguidor Kilpatrick tinham como proposta educacional a vida em comunidade e a resolução dos problemas emergentes nas mesmas. A sala de aula funcionaria como uma comunidade em miniatura. Para eles, deveria haver uma constante inter-relação entre as atividades escolares e as necessidades e os interesses das crianças e das comunidades. A escola deveria auxiliar as crianças a compreenderem o mundo de forma rigorosa através da pesquisa, do debate e da solução de problemas. Desde o início, a tentativa de implementar uma Pedagogia de Projetos encontrou pelo menos dois grandes entraves nas escolas. Em primeiro lugar, o fato de a concepção 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores tradicional do programa escolar ser uma lista interminável de conteúdos fragmentados, obrigatórios, uniformes, previamente definidos e autoritariamente cobrados; em segundo lugar, a necessidade de prever o período de duração dos projetos antes mesmo de sua implementação. A tentativa de superar tais dificuldades acabou gerando um novo modo de organizar o ensino – as unidades de ensino, tão divulgadas na educação brasileira. Mas esse processo de adequação fez com que elementos importantes da Pedagogia de Projetos fossem esquecidos e interpretados equivocadamente. É importante lembrar que, historicamente, os projetos foram construídos com o objetivo de inovar, de quebrar o marasmo da escola tradicional e que seus criadores tinham as convicções dos pioneiros, isto é, o compromisso com a transformação da realidade, o desejo e a coragem de assumir o risco de adotar uma inovação e a convicção de que era preciso criar uma nova postura profissional. Hoje voltamos a falar de projetos, mas isso não significa retomá-los do mesmo modo como a Escola Nova propunha, mas ressignificá-los, dando-lhes uma nova face, que inclua o contexto sócio-histórico e não apenas o ambiente imediato, o conhecimento das características dos grupos de alunos envolvidos e a atenção às temáticas contemporâneas e pertinentes à vida das crianças. Segundo Hernández: Nessa concepção considera-se que, na cultura contemporânea, uma questão fundamental para que o indivíduo possa compreender o mundo no qual vive é que saiba como acessar, analisar e interpretar a informação. Na educação escolar (desde a escola infantil até a universidade), supõe-se que se deva facilitar esse processo (que começa e nunca termina), pois sempre podemos ter acesso a formas mais complexas de dar significado à informação. E isso nos leva a formas mais elaboradas e relacionais de conhecimento da realidade e de nós mesmos. (HERNÁNDEZ, 1998 p. 31). Reorganizar o currículo por projetos, em vez das tradicionais disciplinas. Essa é a principal proposta do educador espanhol Fernando Hernández. Ele se baseia nas ideias de John Dewey (1859-1952), filósofo e pedagogo norte-americano que defendia a relação da vida com a sociedade, dos meios com os fins e da teoria com a prática. Hernández põe em xeque a forma atual de ensinar: 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Comecei a me questionar em 1982, quando uma colega me apresentou a um grupo de docentes. Eles não sabiam se os alunos estavam de fato aprendendo. Trabalhei durante cinco anos com os colegas e, para responder a essa inquietação, descobrimos que o melhor jeito é organizar o currículo por projetos de trabalho. (HERNÁNDEZ). O modelo propõe que o docente abandone o papel de “transmissor de conteúdos” para se transformar em um pesquisador. O aluno, por sua vez, passa de receptor passivo a sujeito do processo. É importante entender que não há um método a seguir, mas uma série de condições a respeitar. O primeiro passo é determinar um assunto – a escolha pode ser feita partindo de uma sugestão do mestre ou da garotada. “Todas as coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que se comece a pesquisar e buscar evidências sobre o assunto”, diz Hernández (ano). A Pedagogia de Projetos pode ser uma possibilidade interessante em termos de organização pedagógicaque contemple essa visão multifacetada. Todo projeto é um processo criativo para alunos e professores, o qual permite ricas relações entre ensino e aprendizagem e, sobretudo, pressupõe uma concepção de aprendizagens globalizadoras, que certamente não passa por superposição de atividades. Sobre isso, Fréber (in HERNÁNDEZ, 1998), nos diz: Às vezes, uma boa vontade globalizadora nos faz pensar que temos que encontrar um tema que nos permita relacionar os conteúdos de todas as matérias. Força-se, então, que todas as áreas do programa sejam privilegiadas. Aí o docente se transforma em alquimista da realidade: transforma a paixão por descobrir, aprender e seguir um fio trançado de surpresas e passa a reduzir sua atividade de exploração e criação num marco de conteúdos prefixados (HERNÁNDEZ, 1998, p. 11). A pedagogia de Projetos é um dos modos de organizar o ato educativo que indica uma ação concreta, voluntária e consciente que é decidida tendo-se em vista a obtenção de alvo formativo determinado e preciso. É saber parar, na prática escolar, de uma situação-problema global dos fenômenos, da realidade fatual e não da interpretação 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores técnica já sistematizada nas disciplinas. Importante que o grupo possa divulgar o que está fazendo e tenha a oportunidade de comunicá-lo. Os dossiês são estratégias importantes para a organização final dos projetos. É importante lembrar que cada finalização de projeto propõe novas perguntas e elas podem ser utilizadas para encaminhar novos projetos. Cabe ao educador saber aonde quer chegar. “Estabelecer um objetivo e exigir que as metas sejam cumpridas, esse é o nosso papel”, afirma Josca Ailine Baroukh, assistente de coordenação da assessoria pedagógica da Escola Vera Cruz, em São Paulo. Por isso, Hernández alerta que não basta o tema ser “do gosto” dos alunos. Se não despertar a curiosidade por novos conhecimentos, nada feito. “Se fosse esse o caso, ligaríamos a televisão num canal de desenhos animados”, explica. Por isso, uma etapa importante é a de levantamento de dúvidas e definição de objetivos de aprendizagem. O projeto avança à medida que as perguntas são respondidas e o ideal é fazer anotações para comparar erros e acertos – isso vale para alunos e professores porque facilita a tomada de decisões. Todo o trabalho deve estar alicerçado nos conteúdos predefinidos pela escola e pode (ou não) ser interdisciplinar. Antes, defina os problemas a resolver. Depois, escolha a(s) disciplina(s). Nunca o inverso. A conclusão pode ser uma exposição, um relatório ou qualquer outra forma de expressão. Para Cristina Cabral, supervisora escolar da rede pública, a proposta é excelente, mas é preciso tomar cuidado porque nada acontece por acaso. “O tratamento didático é essencial ao longo do processo”, destaca. É importante ainda frisar que há muitas maneiras de garantir a aprendizagem. Os projetos são apenas uma delas. “É bom e necessário que os estudantes tenham aulas expositivas, participem de seminários, trabalhem em grupos e individualmente, ou seja, estudem em diferentes situações”, explica Hernández. Vera Grellet, psicóloga e coordenadora de projetos da Rede Ensinar, concorda: “O currículo tradicional afasta as crianças do mundo real. A proposta dele promove essa aproximação, com excelentes resultados”. Os tempos mudaram, um século se passou e essa afirmação continua atual. A discussão da função da escola, do significado das experiências escolares para os que dela participam foi e continua a ser um dos assuntos mais polêmicos entre nós, 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores educadores. As recentes mudanças na conjuntura mundial, com a globalização da economia e a informatização dos meios de comunicação, têm trazido uma série de reflexões sobre o papel da escola dentro do novo modelo de sociedade, desenhado neste início de século. É nesse contexto e dentro dessa polêmica que a discussão sobre a Pedagogia de Projetos, hoje, se coloca. Isso significa que é uma discussão sobre uma postura pedagógica e não sobre uma técnica de ensino mais atrativa para os alunos. Se perguntarmos a um grupo de professores qual o seu objetivo de ensino, qual o tipo de aluno que gostariam de ajudar a formar, não haverá uma discordância nas respostas. Faz parte de praticamente todo discurso pedagógico citar, como objetivos do ensino, a formação de alunos, autônomos, conscientes, reflexivos, participativos, cidadãos atuantes, felizes, entre outras características similares. Não aparecem, nesse discurso, características como passividade, submissão ou alienação. No entanto, se olharmos através das “lentes” do cotidiano escolar, esse tipo de discurso não se legítima em uma prática. Sabemos que há um grande distanciamento entre o discurso dos professores, sobre o perfil dos alunos que desejam formar, e o perfil que está sendo realmente formado, a partir das experiências vividas no cotidiano escolar, principalmente em classes de alfabetização. Jean-Jacques Rosseau (apud ALMEIDA, 1998, p. 22) demonstrou que a criança tem maneiras de pensar e de sentir que lhe são próprias; demonstrou que não se aprende nada senão por meio de uma conquista ativa: “Não deis a vosso aluno nenhuma espécie de lição verbal: só da experiência ele deve receber”. O que vemos são crianças que se colocam como sujeitos passivos, sempre à mercê das ordens do professor, lidando com um conteúdo completamente alienado de sua realidade, e em situações artificiais de ensino/aprendizagem. A prática pedagógica por meio do desenvolvimento de projetos é uma forma de conceber educação que envolve o aluno, o professor, os recursos disponíveis, inclusive as novas tecnologias, e todas as interações que se estabelecem nesse ambiente, denominado ambiente de aprendizagem. Este ambiente é criado para promover a interação entre todos os seus elementos, propiciar o desenvolvimento da autonomia do aluno e a construção de conhecimentos de 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores distintas áreas do saber, por meio da busca de informações significativas para a compreensão, representação e resolução de uma situação-problema. Fundamenta-se nas ideias piagetianas sobre desenvolvimento e aprendizagem, inter-relacionadas com outros pensadores como Dewey (já mencionado), Freire e Vygotsky. Trata-se de uma nova cultura do aprendizado que não se fará por reformas ou novos métodos e conteúdos definidos por especialistas que pretendam impor melhorias ao sistema educacional vigente. É uma mudança radical, que deve tornar a escola capaz de: • atender às demandas da sociedade; • considerar as expectativas, potencialidades e necessidades dos alunos; • criar espaço para que professores e alunos tenham autonomia para desenvolver o processo de aprendizagem de forma cooperativa, com trocas recíprocas, solidariedade e liberdade responsável; • desenvolver as capacidades de trabalhar em equipe, tomar decisões, comunicar-se com desenvoltura, formular e resolver problemas relacionados com situações contextuais; • desenvolver a habilidade de aprender a aprender, de forma que cada um possa reconstruir o conhecimento, integrando conteúdos e habilidades segundo o seu universo de conceitos, estratégias, crenças e valores; • incorporar as novas tecnologias não apenas para expandir o acesso à informação atualizada, mas principalmente para promover uma nova cultura do aprendizado por meio da criação de ambientes que privilegiem a construção do conhecimento e acomunicação. Surge, assim, uma necessidade urgente de ressignificar o espaço escolar – com seus tempos, rituais, rotinas e processos – de modo que ele possa efetivamente estar voltado para a formação de sujeitos ativos, reflexivos, cidadãos atuantes e participativos, como desejam os profissionais da educação. Nasce então uma pedagogia que oferece a vantagem de atuar concomitantemente sobre o processo de desenvolvimento profissional do professor e sobre o processo de aprendizagem dos alunos. Essa proposta implica aprender na prática (aprender a fazer fazendo), ousar trabalhar de uma nova maneira, o que certamente abrirá novas perspectivas de ensino. Os projetos, quando bem escolhidos, favorecem a configuração de situações de 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores aprendizagem significativas e a abordagem de diversos conteúdos. Por meio dos projetos que serão realizados em sala de aula os alunos estão sendo impulsionados a construir significados e atribuir sentido aos conteúdos escolares. 1.2 PEDAGOGIA OU MÉTODO DE PROJETOS? Com a difusão da transdisciplinaridade na educação, o Método de Projetos vem se destacando como o que melhor responde aos requerimentos dessa visão. No entanto, o seu uso adequado requer um marco conceitual ressignificado pelo professor que adota tal método. Divulgado no Brasil pela Escola Nova, tem sido reinterpretado e também utilizado por docentes que se pautam por outros referenciais, como, por exemplo, os da Pedagogia Crítica. Nesse ressurgimento do interesse por esse método também se percebe a abordagem simplista que omite a teoria pedagógica que o acompanha, passando-se a direcioná-lo pelo senso-comum, o que leva à reprodução do sistema social. 1.2.1 Relação Teoria e Método Teorias pedagógicas são construções determinadas pelas circunstâncias históricas. Elas relacionam-se aos ideais defendidos pelos teóricos em função dos problemas vividos em cada etapa de desenvolvimento da sociedade. Por uma questão didática fazem-se classificações, porém, na dinâmica histórica, tais teorias se enredam, se misturam, se transformam, se configuram e se historicizam, conformando as mentes dos docentes que, por sua vez, influenciadas pelas múltiplas dimensões da vida, resguardam a sua autorreferencialidade, articulando a multiplicidade de referências conceituais e práticas na vivência do mundo da vida. 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Nessa dinâmica histórica há princípios inconscientes que governam o MODO DE PENSAR dos indivíduos. A lógica que governa o inconsciente, privilegiando algumas relações e outras não, são incutidas historicamente, culturalmente. Na era moderna, essa lógica é comandada, principalmente, pelos princípios da ciência moderna. As teorias em geral se transformam ao longo da história. São produtos dos seres humanos e estes, ao serem sempre dinâmicos, devido a interações com as condições e circunstâncias cotidianas, também históricas, têm suas lógicas (culturalmente internalizadas) enredadas com lógicas da sobrevivência. As teorias transformam-se e, muitas vezes, diferenciam-se e se configuram em outras teorias. As teorias têm na sua essência a completude e também o seu contrário: a incompletude. A completude se defasa na dinâmica da história (ou se reconstitui) e, por meio da sua outra essência, a incompletude, cria a possibilidade de renovação. Devido à lógica de recursividade entre a individualidade e a cultura (lógica circular), uma vez que o sujeito é produto e produtor da cultura, as teorias conformam uma estrutura aberta que se desdobra sempre em outra estrutura “em decorrência dos incessantes pares de binários que se contrapõem, o que impossibilita a elaboração de uma teoria completa e fechada em si mesma, senão temporariamente” (NICOLESCU, 1999) As teorias pedagógicas trazem em si essa dinâmica das teorias em geral. Elas, inicialmente, conforme a definição de Libâneo (1991), constituem um campo de conhecimento que indica o tipo de homem a formar para um ideal de sociedade, mantendo uma unidade coerente, incluindo teoria e prática, passando pela metodologia. Devido àquela lógica, internalizada inconscientemente, manifestada no princípio de descontextualização da ciência moderna, de simplificação e de redução, revela-se a aparente dicotomia, ou ambiguidade, entre teoria e prática. Daí, o provérbio popular de que na prática, muitas vezes, a teoria é outra, a do senso-comum que é um amálgama de lógicas implícitas que solucionam mais comodamente os desafios do cotidiano. E assim se estabelece a confusão entre “Método” e “Pedagogia”. Não obstante a existência de muitas pesquisas no campo da Didática e sabermos que conceitualmente método “é um conjunto de procedimentos que conduz a prática e que depende da teoria” (LIBÂNEO, 1991, p. 149), na prática prevalece a lógica reducionista e temos, por exemplo, o “método Paulo Freire”, o “método construtivista” e o “método de projetos” 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores reduzidos a receituários preenchidos com o senso-comum, ou seja, crenças que vigoram porque são mais adaptados ao modo de vida difundido e organizado pelo sistema, como se o método, pelo título, equivalesse à teoria pedagógica correspondente e substitui-se o termo método por pedagogia sem maiores preocupações com a teoria que envolve tais métodos. O reducionismo é um recurso incorporado ao nosso modo de pensar, introduzido pelo princípio cartesiano de descontextualizar, simplificar, reduzir cada vez mais quando um fenômeno é complexo (DESCARTES, 1973). Uma pedagogia resulta da relação entre Filosofia, História, Psicologia, Sociologia, Antropologia, Política, Economia, ciências em geral, enfim, todo o conhecimento humano acumulado tornando-se um campo realmente complexo. O modo de pensar cartesiano leva à crença de que basta os professores aprenderem o “método” para poderem modernizar a educação. E assim, por exemplo, o Método de Projetos se transforma em Pedagogia de Projetos. Pela substituição do todo pela parte o método ganha autonomia, descontextualizado de um referencial teórico inicial. Os métodos se orientam pela teoria pedagógica. Ao serem dela desvinculados tem-se a crença de que os métodos são neutros, assim como também toda a tecnologia educacional. Técnicas em geral só adquirem sentido na relação que se estabelece por meio delas e elas não podem ser consideradas neutras, uma vez que sempre são usadas por alguém possuído de uma ou outra intenção, ou seja, mesmo que este indivíduo não tenha consciência de seu referencial teórico, ele estará repassando um modelo de sociedade, isto é, reproduzindo o que existe, criticamente, por meio de senso-comum. É a consciência ingênua referida por Paulo Freire (2003). Ao omitir a teoria, está-se retirando a capacidade crítica, passando a se pautar pelo senso-comum. E o senso-comum geralmente se identifica com a Pedagogia tradicional tecnicista. Passa então a orientar e direcionar os métodos supostamente revolucionários pelo seu título, permanecendo implícito o conceito de neutralidade dos métodos e das técnicas aplicados segundo circunstâncias e objetivos instrucionais. Assim, reproduz-se o sistema social organizado segundo princípios da Ciência Moderna. 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os professores tornam-se professores, alimentando-se das teorias tradicional etecnicista, reforçadas pelas estruturas físicas, normas legais e burocráticas, critérios utilizados pelas autoridades administrativas e por atitudes e modo de pensar tácitos na sociedade, na vida individual e em todo o sistema educacional. É claro que há exceções, principalmente entre os docentes mais reflexivos e entre pesquisadores que seguem a orientação conceitual das teorias críticas. Mesmo que esses mantenham uma postura coerente com a teoria assumida, ainda restam certas ambiguidades a serem esclarecidas porquanto lhes faltam construções conceituais mais elaboradas. Ou seja, os conceitos que vêm sendo construídos, nas últimas décadas, pelas pesquisas emergentes, não só na área educacional, mas também provenientes de diversas áreas do conhecimento. É o caso das pesquisas desenvolvidas na área da neurobiologia e que têm repercussões imediatas na educação, como por exemplo o conceito de aprendizagem, visto agora como um ato autopoiético (MATURANA & VARELA, 1995), e o conceito de percepção, considerado fenômeno de duas vias, de fora para dentro e de dentro para fora, caracterizando a dualidade transmissor/receptor (ASSMANN, 1997). A conceituação lançada por esses pesquisadores, segundo a qual aprender é um ato autopoiético, resgata a pedagogia do diálogo do educador Paulo Freire (1997), que a seu tempo já insistia em que “conhecimento não se transmite, se constrói!”. Aqueles dois novos conceitos de aprendizagem e de percepção repercutem e produzem uma reformulação na ideia que se tem de homem, de ser humano, de aluno. Ao integrar tais conceitos na concepção de homem, temos que o homem passa a ser visto como um sistema autopoiético, um ser paradoxal do uno/múltiplo, da construção da autorreferencialidade através da multirreferencialidade (princípio da complementaridade). Com isso resgatam-se todas as outras dimensões desconsideradas e denegridas pelo cartesianismo ao priorizar a razão. Há que assumir os sentimentos, as sensações, as paixões. Paixões construtivas que reencantam a vida e a educação (ASSMANN, 1998), no entanto, há que se reconhecer o lado demente do Homem, as paixões destrutivas como as do episódio de 11 de Setembro. As racionalidades e irracionalidades fazem parte de uma mesma pessoa, por isso Morin (2002) define o ser humano como homo sapiens/demens. 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Essa análise do homem e do seu conhecimento tem como subsídio teórico alguns princípios como o de complementaridade elaborado por Niels Bohr (1998); Holográfico de David Bohm (1998); da Incerteza de Werner Heisenberg (1993); da Transdisciplinaridade (Nicolescu, 1999) e Princípio da Autopoiése de Maturana e Varela (1995). O Princípio de Complementaridade contrapõe-se à visão dual cartesiana, colocando as consagradas dualidades como complementares: bem/mal; ser/saber; razão/emoção; saúde/doença; autorreferencialidade/multirreferencialidade; parte/todo; certeza/incerteza; ordem/desordem; uno/múltiplo. O princípio holográfico reforça a necessidade de uma visão global como complemento da visão descontextualizada do cartesianismo e da íntima relação existente entre as partes e o todo. Nesse sentido, o conhecimento é uno, porém fragmentado e consolidado durante o modernismo, levando à hiperespecialização, assegurada e alienada pelas fronteiras epistemológicas de cada ciência. O Princípio da Transdisciplinaridade propõe transgredir essas fronteiras e construir um saber articulado, mais significativo para a humanidade, dentro de uma visão unitária, resgatando o sentido do conhecimento. O Princípio da Incerteza resgata a dinâmica da Vida, da Natureza e do Cosmos para além da certeza construída pela Ciência Moderna, enfocando a ambiguidade da vida e do conhecimento (DEMO, 2000), da indeterminação, do caos e da desordem integrados nos fenômenos. O Princípio da Autopoiése, de suma importância para os fazeres docentes, destaca o equívoco da ideia de “transmissão” do conhecimento. Enfoca o crescimento do ser humano como uma dinâmica interior, alimentada pelos estímulos exteriores, daí a conclusão de Maturana e Varela (1995) de que os seres vivos se levantam por si mesmos pelo acoplamento estrutural. O conceito autopoiético de aprendizagem remete também à reformulação dos princípios que fundamentam o sistema educacional e o modo tradicional de ensinar. Esses cinco princípios e seus desdobramentos, se trabalhados na educação, provocam uma mudança de paradigma, transformando o modo de pensar e de olhar o mundo. A transformação começa na consciência (BOFF, 1997), nas referências conceituais internalizadas que se confundem com o modo de ser da pessoa. Então é preciso um exorcismo porque os homens em geral, e os professores em particular, estão 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores dominados pelos princípios conceituais das duas Pedagogias (Tradicional e Tecnicista) que se interpenetraram para atender as necessidades do Sistema e do Mercado de Trabalho. Ao fazer uso do título “Pedagogia de Projetos” que, na verdade, na maioria das propostas, trata-se de “Método de Projetos”, reduz-se a teoria que o acompanha à análise e construção de objetivos circunstanciais e instrumentais, reproduzindo, em última instância, o modus vivendi do sistema hegemônico, ou seja, substitui o referencial teórico original pelas referências das pedagogias tradicional e tecnicista. Com o termo “objetivos específicos” terminam por justificar a delimitação das aulas aos conteúdos específicos. Uma metodologia somente é revolucionária com a respectiva filosofia. No entanto, aplica-se o reducionismo cartesiano e o que constitui uma teoria pedagógica converte-se em “método”, omitindo a fundamentação teórica para ser preenchida com o senso- comum. Como exemplo, cita-se o “Método Paulo Freire” utilizado pelo MOBRAL nos anos da ditadura. Expulsou do país o mentor da Pedagogia Libertadora e omitiu sua orientação filosófica (dado como subversivo). A Pedagogia Libertadora transformou-se em “Método Paulo Freire”. E utilizou-se do “Método Paulo Freire” para alfabetizar e melhorar a estatística brasileira no cenário mundial. Uma pedagogia que tinha como intenção a libertação dos participantes transformou-se em adaptação ao sistema. Isso só acontece com a fragmentação da teoria e método. Método Paulo Freire sem o Paulo Freire, porém o seu nome permanece para dar a entender que se trata de um método revolucionário, utilizando-se da ambiguidade e do sequestro semântico. Ao desvincular-se da teoria, o método perde o seu potencial transformador. Ao se aplicar novas metodologias, novas tecnologias, sem a mudança conceitual, aperfeiçoa-se a educação para a reprodução social. Mudar somente a metodologia não significa fazer mudança de paradigma, uma mudança epistemológica. Por isso, a mudança inicial deve ser feita no instrumental teórico dos docentes. E, assim, o “método de projetos” tanto pode ser aplicado desde a Pedagogia Renovada, Tradicional tecnicista ou Progressista. O que vai dar a coloração no seu uso é a teoria latente na mente daquele que o aplica. 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.2.2 Mas, o que é Pedagogia de Projetos? Pedagogia de Projetos pode ser definida como um método no qual a classe se ocupa em atividades proveitosas e com propósitos definidos. Em outras palavras, é o ensino através da experiência. Este método coloca o aluno em contato com algum projeto concreto em que esteja interessado e em que planeje o empreendimento, colha as informaçõese, finalmente, leve a efeito os seus planos. No trabalho com projetos o próprio aluno constrói o conhecimento. O professor apenas propõe situações de ensino baseadas nas descobertas espontâneas e significativas dos alunos. A Pedagogia de Projetos visa à ressignificação desse espaço escolar, transformando-o em um espaço vivo de interações, aberto ao real e às suas múltiplas dimensões. O trabalho com projetos traz uma nova perspectiva para entendermos o processo de ensino/aprendizagem. Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos. Nessa postura, todo conhecimento é construído em estreita relação com o contexto em que é utilizado, sendo, por isso mesmo, impossível separar os aspectos cognitivos, emocionais e sociais presentes nesse processo. A formação dos alunos não pode ser pensada apenas como uma atividade intelectual. É um processo global e complexo, em que conhecer e intervir no real não se encontram dissociados. Aprende-se participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos. Ensina-se não só pelas respostas dadas, mas, principalmente, pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada. 1.2.3 Objetivos Em virtude de as atividades educativas serem elaboradas por alunos e 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores professores, um dos principais objetivos da Pedagogia de Projetos é promover a integração e a cooperação entre docentes e discentes em sala de aula. Os projetos devem visar também a resolução de algum problema ou algum empreendimento que esteja em harmonia com os interesses dos alunos e relacionados às suas próprias experiências. 1.2.4 Principais Características Uma das principais características de um trabalho educativo realizado por projetos é a intencionalidade. Todo projeto deve ser orientado por objetivos claros e bem definidos. O que pretendo com a realização deste trabalho? Quais resultados posso esperar? Em que sentido meus alunos serão modificados? A flexibilidade é outra característica importante. O planejamento de trabalho deve ser flexível, de modo que o tempo e as condições para desenvolvê-lo sejam sempre reavaliados em função dos objetivos inicialmente propostos, dos recursos à disposição do grupo e das circunstâncias que envolvem o projeto. A originalidade do projeto demonstra que cada grupo é único, isto é, possui características próprias. Seus participantes têm ritmos e estilos diferentes. Portanto, o trabalho de um grupo não deve ser comparado com o de outro ou contestado. A resolução do problema proposto pelo projeto de trabalho se dará em função das experiências e expectativas dos componentes de cada grupo. O projeto de trabalho deve se desenvolver apoiado na realidade de cada grupo. 2 OS PROJETOS E SEUS SIGNIFICADOS NA HISTÓRIA DA ESCOLARIDADE A Escola e as práticas educativas fazem parte de um sistema de concepções e valores culturais que faz com que determinadas propostas tenham êxito quando “se 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores conectam” com algumas das necessidades sociais educativas. Os projetos podem ser considerados como uma prática educativa que teve reconhecimento em diferentes períodos deste século, desde que Kilpatrick, em 1919, levou à sala de aula algumas das contribuições de Dewey. De maneira especial, aquela em que afirma que “o pensamento tem sua origem em uma situação problemática” que se deve resolver mediante uma série de atos voluntários. Essa ideia de solucionar um problema pode servir de fio condutor entre as diferentes concepções sobre os projetos. Método de projetos, centros de interesse, trabalho por temas, pesquisa do meio, projetos de trabalho são denominações que se utilizam de maneira indistinta, mas que respondem a visões com importantes variações de contexto e de conteúdo. No entanto, não deve surpreender essa diversidade quando se fala de uma nova prática educativa. Já em 1934, um autor americano registrava ao menos 17 interpretações diferentes do método de projetos (MARTÍ, 1934). Isso acontece porque o conhecimento e a experiência escolar não são interpretados pelos agentes educativos, ao contrário do que desejariam alguns reformadores e especialistas, de maneira unívoca. 2.1 OS ANOS 20: O MÉTODO DE PROJETOS PARA APROXIMAR A ESCOLA DA VIDA DIÁRIA Em 1931, Fernando Sáinz, um professor dos movimentos renovadores espanhóis, enunciava, em forma de perguntas, um componente central do Método de Projetos: “por que não aplicar à escola fundamental o que se faz na esfera dos negócios ou no ensino superior especializado? Por que não organizar a escola seguindo um plano de tarefas análogo ao que se desenvolve fora, na casa, na rua, na sociedade?”. O que se pretende é que o aluno não sinta diferença entre a vida exterior e a vida escolar, por isso, os projetos devem estar próximos à vida. Esse propósito se tomará viável a partir da noção de atividade (oposta à ideia de recepção passiva) como princípio que rege uma nova escola (ativa), na qual as crianças “entram em contato, de uma forma mais organizada, com a herança da sociedade na qual 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores vivem, e aprendem da participação em experiências de trabalho e da vida cotidiana” (TORRES, 1994, p. 20 e seguintes). Esse enfoque se opunha ao de uma Escola compartimentada que, em 1910, Dewey descreve oprimida “pela multiplicação de matérias, cada uma das quais se apresenta por sua vez sobrecarregada de fragmentos desconexos, só aceitos baseando-se na repetição ou na autoridade”. Temos, assim, um esboço de algumas das ideias que sustentam essa primeira versão dos projetos: - partir de uma situação problemática, - levar adiante um processo de aprendizagem vinculado ao mundo exterior à Escola, e - oferecer uma alternativa à fragmentação das matérias. Ao que se deve unir as quatro condições que Dewey (1989) atribui ao que denomina “ocupações construtivas” que, assinala, “foram ganhando espaço na sala de aula da Escola e são conhecidas como projetos”: a) o interesse do aluno, ainda que seja fundamental, não basta, se define que tipo de objetivo e atividade contém; b) atividade que deve ter algum valor intrínseco. O que quer dizer que devem ser excluídas as atividades meramente triviais, as que não têm outra consequência do que o prazer imediato que produz sua execução. c) a terceira condição é que, no curso de seu desenvolvimento, o projeto, apresenta problemas que despertem nova curiosidade, criem uma demanda de informação e a necessidade de continuar aprendendo; d) por último, deve-se levar em conta que, para a execução de um projeto, deve- se contar com uma considerável margem de tempo. A partir desses princípios, e seguindo Dewey, o Método de Projetos não é uma sucessão de atos desconexos e, sim, uma atividade coerentemente ordenada, na qual um passo prepara a necessidade do seguinte, e na qual cada um deles se acrescenta ao que já se fez e o transcende de um modo cumulativo. Desde seu início, considera-se que não há uma única maneira de realizar o Método de Projetos. Sáinz distingue quatro possibilidades: 24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores a) globais: nas quais se fundem todas as matérias desenvolvendo projetos complexosem torno de núcleos temáticos como a família, as lojas, as cidades; b) por atividades: de jogo, para adquirir experiência social e na natureza e com finalidade ética; c) por matérias vinculadas às disciplinas escolares e d) de caráter sintético: fala-se também de projetos simples e complexos, relacionados com as matérias ou com a experiência próxima, breves ou extensos. Já então não eram estranhas as críticas ao Método de Projetos. As mais relevantes foram apresentadas pelos defensores de uma exposição lógica e “sistemática das matérias frente aos enumerados pela redação de projetos desconexos e heterodoxos (SÁINZ, 1931, p. 78-79). Esses detratores fixavam sua crítica em que, com os projetos, deixavam de ser solicitados conteúdos, não se realizava um trabalho sistemático e se perdia o “rigor lógico” das matérias disciplinares. Outra crítica é relacionada com a intenção dos projetos de superar os limites das disciplinas e chamava a atenção sobre a misturança caótica que tal ação podia produzir. Também se lhes acusava de influir na organização da escola, fazendo com que deixe de existir uma ordenação geral que presidia toda a vida institucional. A essas críticas, algumas delas ainda vigentes, e que aparecem quando nos referimos aos projetos de trabalho, responde Sáinz, dizendo: O projeto é, sobretudo, uma reforma de ordem metodológica que não se impõe ao professor nem à escola, mas sim, ao contrário, quando o professor deduz a maneira de conseguir a instrução de seus alunos, é uma questão dada, inventa livremente um projeto (SÁINZ, p. 80). A partir da Guerra Mundial, a racionalidade tecnológica segundo a qual tudo tem uma sequência e uma resposta lógica, motivo pelo qual faz falta planejar os recursos necessários para o fim que se perseguir, configurou-se como ideologia dominante no ocidente. Esse movimento favoreceu o êxito do condutismo e da psicometria como práticas científicas que dava sentido a essa forma de racionalidade. Ambas, e a nova 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores situação socioeconômica, influiu poderosamente na educação durante mais de 30 anos. Essa situação fez com que muitas das ideias e iniciativas apontadas ficassem congeladas no imaginário educativo. No entanto, voltarão a emergir na etapa seguinte, quando as promessas oferecidas por essa visão tecnológica não se cumpram e as mudanças dos anos 60 exijam novas alternativas sociais e educativas. 2.2 OS ANOS 70: O TRABALHO POR TEMAS E A IMPORTÂNCIA DAS IDEIAS- CHAVE Considero-me mais um vagabundo intelectual do que um acadêmico especialista e disciplinado. Em alguns momentos, pensei que teria vivido melhor no século XVII, quando o normal era seguir a própria curiosidade e não a linha reta do estudo especializado. (JEROME BRUNER, Cuadernos de Pedagogía, 1985, p. 12). A partir da metade dos anos 60 produz-se um segundo fluxo de interesse pelos projetos. Nesse caso, com o nome de trabalho por temas. A bonança e a expansão econômica, a Guerra Fria e uma série de conflitos sociais coincidem com o êxito, nos Estados Unidos, das ideias de Piaget sobre o desenvolvimento da inteligência e o papel que, nesse processo, ocupa a aprendizagem de conceitos. A pergunta que surgiu uma vez reconhecida a importância do desenvolvimento conceitual, foi que conceitos ensinamos e com que critérios os selecionamos? Nesse contexto, Bruner (1960) estabeleceu que o ensino deveria centrar-se em facilitar o desenvolvimento de conceitos-chave a partir das estruturas das disciplinas. Os projetos ou o trabalho por temas constituíram uma alternativa para abordar essa proposta na sala de aula. A noção de conceito-chave era uma metáfora que abria o caminho para delimitar uma série de eixos conceituais a partir dos quais se poderia facilitar a compreensão e a aprendizagem das disciplinas e dar pautas para escolher os materiais que podiam contribuir para melhorar o ensino. Esse interesse levou à outra noção, a de “estrutura das disciplinas”. Cada matéria tem uma série de conceitos característicos que os especialistas se apressam a definir, por 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores exemplo, continuidade e mudança em história, a vida na biologia, etc, que permite organizar os conteúdos do ensino. O passo seguinte será explicitar os procedimentos de pesquisas das disciplinas, para que o aluno, ao conhecê-los, possa aplicá-los e transferi- los, continuando assim, a aprender em outras situações. Essa visão dos projetos dá ênfase ao que ensinar e os situa em um currículo interdisciplinar, dado que é possível verificar que várias disciplinas têm conceitos comuns. Esses conceitos, vinculados a um tema, começaram a articular-se e a sequenciar-se como forma de levar à classe o planejamento apontado por Bruner. O projeto sobre o homem, um curso de estudo, o trabalho de Hilda Taba, denominado “Currículo de Ciências Sociais” ou “Currículo de Humanidades”, de Stenhouse, ainda que com intenções diferentes, serviram de exemplos para um movimento que se estendeu, sobretudo, por países que não estavam determinados por um Currículo Nacional. O leitor interessado pode encontrar em Bonafé (1991) e Torres (1994) um resumo desses projetos. Bruner desenvolveu também outra ideia influente nesse contexto, a do “Currículo em Espiral”. Isso quer dizer que o primeiro encontro dos alunos com as ideias- chave se realiza de uma maneira primitiva. Depois, durante a escolaridade, irá abordá-Ias de maneira cada vez mais complexa. Se o professor lhe facilita os materiais e as atividades adequadas, o aluno, em cada nova aproximação, pode desenvolver um nível mais elaborado de compreensão. O que o docente deve ensinar será, sobretudo, conceitos e estratégias, sem perder de vista que as estruturas das disciplinas podem ser ensinadas a qualquer idade. O ensino através de temas servirá como mediador para ir além das disciplinas, facilitando aos alunos a aprendizagem de conceitos e estratégias vinculadas a experiências próximas e interessantes para eles. Os professores, sobretudo do Ensino Fundamental, vão encontrar, nesse enfoque, eixos para ordenar as matérias que tinha que ensinar sem ser especialista (GUNNING et al., 1990, p. 19). Em seu início, o currículo por temas se referia às áreas de história, geografia e ciências sociais e ocupava entre três e 10 horas semanais. Essa impressão permanece na cultura escolar de muitos docentes e se manifesta quando propõem que os projetos de trabalho só servem para ensinar temas relacionados com a área de conhecimento do meio social e natural. 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Desde a distância cabe perguntar-se por que essa proposta atraiu o interesse dos educadores. Efland (1997) assinala uma série de razões que podem facilitar a compreensão dessa influência. Em primeiro lugar, esse enfoque manifestava que a aprendizagem nas primeiras idades preparava para a aprendizagem posterior, o que significava uma mudança importante na consideração acumulativa do currículo e no que se podia ensinar no Ensino Fundamental. Em segundo lugar, propugnava que qualquer matéria podia ser ensinada de maneira efetiva em qualquer etapa de desenvolvimento. Isso implicava uma revolução nas concepções tanto do aluno como aprendiz como dos conteúdos de ensino. Por último, da ênfase à organização do currículo a partir de ideias-chave e estruturas das disciplinas, levando em conta a maneira de representar essas ideias partindo de uma perspectiva de desenvolvimento.Mas a porta que abria as propostas de Bruner e de outros autores deixava entrar uma série de interrogações que, com o tempo, questionariam alguns aspectos desse enfoque do currículo. Por exemplo, que muitas ideias-chave não podem ser representadas mediante formas simples, para que os alunos as aprendam, nem este pode compreendê-Ias se não tiver uma base organizada de conhecimentos. Além disso, não se levou em conta as diferenças entre as disciplinas e se tomou como único guia a estrutura das ciências. A visão de Bruner não explicava por que, muitas vezes, não se aprende ou se produzem interpretações inadequadas, ou custa tanto transferir de uma situação a outra um conhecimento que parece aprendido. Mas, sobretudo, essa visão confundia aprendizagem com desenvolvimento e os conteúdos disciplinares com a escolaridade. Quando essas ideias e projetos foram levados à prática, sobretudo nos países de língua inglesa, alguns países da América Latina continuavam influenciados pela corrente tecnológica ou tratavam, como no caso da Espanha, de impulsionar iniciativas que tentavam mudar a escola a instaurar a democracia. O ensino por Centros de Interesse, a pesquisa do meio, as ideias de Freinet e a aproximação das distintas matérias à experiência dos alunos marcavam a tônica de algumas práticas educativas próximas aos Movimentos de Renovação Pedagógica. Com 28 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores essa lembrança, as interrogações propostas e o saber que de tudo isso deriva, passamos à etapa seguinte. 2.3 OS ANOS 80: O AUGE DO CONSTRUTIVISMO E OS PROJETOS DE TRABALHO Nos anos 80, dois fenômenos se destacam por sua influência na educação escolar. O impacto da denominada revolução cognitiva na forma de entender o ensino e a aprendizagem e as mudanças nas concepções sobre o conhecimento e o saber derivado das novas tecnologias de armazenamento, tratamento e distribuição da informação. Esses dois fatos, além do controle da economia por parte dos mercados financeiros, as mudanças nas relações sociolaborais e a revisão do papel do Estado na provisão das necessidades dos cidadãos, vão estabelecer uma série de mudanças na educação escolar e explicam, em parte, por que os projetos voltam a ser objeto de interesse. Às mudanças sociais anteriores deveria ser acrescentada uma série de perspectivas que restabelecem alguns aspectos em relação a como se pode ensinar e como se aprende na escola. Dessas perspectivas, talvez a que tenha tido maior eco tenha sido a marcada pela relevância da visão construtivista sobre a aprendizagem e, em particular, a ideia de que o conhecimento existente na aprendizagem exerce uma poderosa influência em como se adquire novo conhecimento. Um segundo aspecto tem a ver com a importância que se dá ao contexto de aprendizagem e a situar os conteúdos em relação à cultura na qual se deverá utilizar. O que levou também a estabelecer a importância de “situar” o que se ensina para facilitar sua aprendizagem. Um terceiro indicador é resultado da pesquisa sociocultural que manifestou o valor que, para favorecer a aprendizagem, tem a criação de um marco de participação e interação, não só entre os alunos, mas também com a comunidade. Por último, e essa lista não pretende ser exaustiva, pois poderia incluir a influência das mudanças na noção de inteligência (em particular a noção de Gardner de “inteligências múltiplas”), destaca o papel que hoje têm as denominadas estratégias metacognitivas, como forma de pensar sobre o processo de planejamento, organização e 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores pesquisa sobre a informação, e como reelaboração das decisões e das ações consideradas como importantes no processo de aprendizagem dos alunos. Tudo dito anteriormente faz com que o conteúdo das disciplinas necessite ser configurado e apresentado por meio de uma variedade de linguagens (verbal, escrita, gráfica e audiovisual) para abrir aos estudantes os processos necessários de pensamento de ordem superior para que compreendam e apliquem o conhecimento a outras realidades. Mediante essa conexão, podem vislumbrar relações conceituais entre as matérias curriculares e ter a oportunidade de transferir a outros contextos. Dessa maneira, a aprendizagem não se contempla como uma sequência de passos para alcançar uma meta na qual se acumula informação, mas sim como um processo complexo mediante o qual o conhecimento se rodeia e situa para aprendê-Io. Essa visão, aponta Bruner (1919), contempla os projetos como uma peça central do que constituiria a filosofia construtivista na sala de aula. Aprender a pensar criticamente requer dar significado à informação, analisá-Ia, sintetizá-Ia, planejar ações, resolver problemas, criar novos materiais ou ideias e envolver-se mais na tarefa de aprendizagem. Talvez seja por tudo dito anteriormente que, em nosso entorno, os projetos tenham tido certo êxito, já que é fácil conectá-Ios com os fundamentos psicopedagógicos das propostas curriculares das atuais reformas e a visão globalizadora dos conteúdos que diz possibilitar. No entanto, existem outras versões menos cognitivas e psicologistas da aprendizagem, da escolaridade e dos projetos de trabalho. 3 CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DO TRABALHO COM PROJETOS (SEGUNDO ABRANTES, 1995) Um projeto é uma atividade intencional, portanto, o envolvimento dos alunos é uma característica-chave do trabalho de projetos, o que pressupõe um objetivo que dá unidade e sentido às várias atividades, bem como um produto final que pode assumir formas muito variadas, mas procura responder ao objetivo inicial e reflete o trabalho 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores realizado. Em um projeto, a responsabilidade e a autonomia dos alunos são essenciais, pois os alunos são corresponsáveis pelo trabalho e pelas escolhas ao longo do desenvolvimento do projeto. Em geral, fazem-no em equipe, motivo pelo qual a cooperação está também quase sempre associada ao trabalho. O problema a resolver é relevante e tem um caráter real para os alunos. Não se trata de mera reprodução de conteúdos prontos. Além disso, o problema não é independente do contexto sociocultural e os alunos procuram construir respostas pessoais e originais. Sendo assim, uma característica primordial do projeto constitui em fazer do problema ou uma fonte geradora de problemas, que exige uma atividade para sua resolução. A Pedagogia de Projetos traduz uma determinada concepção de conhecimento escolar, trazendo à tona uma reflexão sobre a aprendizagem dos alunos e os conteúdos das diferentes disciplinas. Há uma tendência, bastante generalizada no pensamento pedagógico, em colocar – como questões opostas – a participação dos alunos e a apropriação de conteúdos das disciplinas. Nessa polêmica, podemos identificar um grupo de profissionais da educação que enxerga o conhecimento escolar como a transmissão de um conhecimento já pronto e acabado a alunos que não o detêm. Esse grupo traz uma estreita concepção científica do conhecimento escolar, assim representa Concepção científica conservadora Conhecimento da disciplina Conhecimento escolar Concepções dos alunos Professores com essa concepção, por estarem preocupados com a transmissão de conteúdos disciplinares, acham que não podem abrir uma discussão com os alunos, pois isso significaria perda de tempo e o não “vencimento” dos conteúdos ao final do ano. Por outro lado, ao tentar romper com essa concepção, muitos profissionaisacabam negando e desvalorizando os conteúdos disciplinares, entendendo a escola apenas como 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores espaço de conhecimento da realidade dos alunos e de seus interesses imediatos. Essa tendência revela uma concepção espontaneísta do conhecimento escolar, que pode ser assim representada Concepção espontaneísta Problemas contemporâneos Conhecimento escolar Interesse dos alunos Apesar de aparentemente tão diferentes, essas duas tendências têm em comum uma visão dicotômica do que seja conhecimento escolar, acabando por fragmentar um processo que não pode ser fragmentado. Não se pode separar, por exemplo, o processo de aprendizagem dos conteúdos disciplinares do processo de participação dos alunos, nem desvincular as disciplinas da realidade atual. Os conteúdos disciplinares não surgem do acaso. Deveriam ser fruto da interação dos grupos sociais com sua realidade cultural. Por outro lado, as novas gerações não podem prescindir do conhecimento acumulado socialmente e organizado nas disciplinas, sob pena de estarmos sempre “redescobrindo a roda”. Também não é possível descartar a presença dos alunos com seus interesses, suas concepções, sua cultura, principal motivo da existência da escola. Na verdade, o que muitos professores têm visto como dois processos constitui um único processo, global e complexo, com várias dimensões que se inter-relacionam Concepção Integradora Conhecimento da disciplina Problemas contemporâneos Conhecimento escolar Concepções dos alunos Interesses dos alunos 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A Pedagogia de Projetos se coloca como uma das expressões dessa concepção globalizante que permite aos alunos analisar os problemas, as situações e os acontecimentos dentro de um contexto e em sua globalidade utilizando, para isso, os conhecimentos presentes nas disciplinas e sua experiência sociocultural. Pensar uma prática pedagógica a partir dos projetos traz mudanças significativas para o processo de ensino/aprendizagem. O que se coloca, portanto, não é a organização de projetos em detrimento dos conteúdos das disciplinas e, sim, a construção de uma prática pedagógica centrada na formação global dos alunos. O desenvolvimento de projetos, com o objetivo de resolver questões relevantes para o grupo, vai gerar necessidade de aprendizagem e, nesse processo, os alunos irão se defrontar com os conteúdos das diversas disciplinas, entendidos como “instrumentos culturais” valiosos para a compreensão da realidade e intervenção em sua dinâmica. Com os projetos de trabalho os alunos não entram em contato com os conteúdos disciplinares a partir de conceitos abstratos e de modo teórico, como, muitas vezes, tem acontecido nas práticas escolares. Nessa mudança de perspectiva os conteúdos deixam de ser um fim em si mesmos e passam a ser meios para ampliar a formação dos alunos e sua interação com a realidade, de forma crítica e dinâmica. Há, também, o rompimento com a concepção de “neutralidade” dos conteúdos disciplinares, que passam a ganhar significados diversos, a partir das experiências sociais dos alunos, envolvidos nos projetos. 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Perspectiva Compartimentada Perspectiva Globalizante Enfoque fragmentado, centrado na transmissão de conteúdos prontos. Enfoque globalizador, centrado na resolução de problemas significativos. Conhecimento como acúmulo de fatos e informações isoladas. Conhecimento como instrumento para compreensão e possível intervenção na realidade. O professor é tido como único informante, tendo o papel de dar as respostas certas e cobrar sua memorização. O professor intervém no processo de aprendizagem dos alunos, criando situações problematizadoras, introduzindo novas informações, dando condições para que eles avancem em seus esquemas de compreensão da realidade. O aluno é visto como sujeito dependente, que recebe passivamente o conteúdo transmitido pelo professor. O aluno é visto como sujeito ativo que usa sua experiência e conhecimento para resolver problemas. O conteúdo a ser estudado determina o problema. O problema determina o conteúdo a ser estudado. Há uma segmentação rígida dos conteúdos das disciplinas, com pouca flexibilidade no processo de aprendizagem. A segmentação é vista em termos de níveis de abordagem e aprofundamento em relação às possibilidades dos alunos (contato, uso e análise). 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Outro aspecto importante na atuação do professor é o de propiciar o estabelecimento de relações interpessoais entre os alunos e respectivas dinâmicas sociais, valores e crenças próprios do contexto em que vivem. Portanto, existem três aspectos fundamentais que o professor precisa considerar para trabalhar com projetos: as possibilidades de desenvolvimento de seus alunos; as dinâmicas sociais do contexto em que atua e as possibilidades de sua mediação pedagógica. O trabalho por projetos requer MUDANÇAS NA CONCEPÇÃO de ensino e aprendizagem e, consequentemente, na postura do professor. Hernández (1988) enfatiza que o trabalho por projeto “não deve ser visto como uma opção puramente metodológica, mas como uma maneira de repensar a função da escola”. Essa compreensão é fundamental, porque aqueles que buscam apenas conhecer os procedimentos, os métodos para desenvolver projetos, acabam se frustrando, pois não existe um modelo ideal pronto e acabado que dê conta da complexidade que envolve a realidade de sala de aula, do contexto escolar. Mas que realidade? Claro que existem diferenças e que todas precisam ser tratadas com seriedade para que a comunidade escolar possa constituir-se em um espaço de aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo, afetivo, cultural e social dos alunos. Uma realidade em que o professor se depara atualmente é caracterizada pela chegada de novas tecnologias (computador, Internet, vídeo, televisão) na escola, que apontam novos desafios para a comunidade escolar. O que fazer diante desse novo cenário? De repente o professor que, confortavelmente, desenvolvia sua ação pedagógica – tal como havia sido preparado durante a sua vida acadêmica e pela sua experiência em sala de aula – se vê diante de uma situação que implica novas aprendizagens e mudanças na prática pedagógica. A pedagogia de projetos, embora constitua um novo desafio para o professor, pode viabilizar ao aluno um modo de aprender baseado na INTEGRAÇÃO entre conteúdos das várias áreas do conhecimento, bem como entre diversas mídias (computador, televisão, livros), disponíveis no contexto da escola. Por outro lado, esses novos desafios educacionais ainda não se encaixam na estrutura do sistema de ensino, que mantém uma organização funcional e operacional – como, por exemplo, horário de aula de 50 minutos e uma grade curricular sequencial – 35 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores que dificulta o desenvolvimento de projetos que envolvam ações interdisciplinares, que contemplem o uso de diferentes mídias disponíveis na realidade da escola e impliquem aprendizagens que extrapolam o tempo da aula e o espaço físico da sala de aula e da escola.Daí a importância do desenvolvimento de PROJETOS ARTICULADOS envolvendo a coautoria dos vários PROTAGONISTAS do processo educacional. O fato de um projeto de gestão escolar estar articulado com o projeto de sala de aula do professor, que por sua vez visa propiciar o desenvolvimento de projetos em torno de uma problemática de interesse de um grupo de alunos, integrando o computador, materiais da biblioteca e a televisão, torna-se fundamental para o processo de reconstrução de uma nova escola. Isto porque a parceria que se estabelece entre os protagonistas (gestores, professores, alunos) da comunidade escolar pode facilitar a busca de soluções que permitem viabilizar a realização de novas práticas pedagógicas, tendo em vista a aprendizagem para a vida. A pedagogia de projetos, na perspectiva da integração entre diferentes mídias e conteúdos, envolve a inter-relação de conceitos e de princípios, os quais sem a devida compreensão podem fragilizar qualquer iniciativa de melhoria de qualidade na aprendizagem dos alunos e de mudança da prática do professor. Por essa razão, os tópicos a seguir abordam e discutem alguns conceitos, bem como possíveis implicações envolvidas na perspectiva da pedagogia de projetos, que se viabiliza pela articulação entre mídias, saberes e protagonistas. -------------------FIM DO MÓDULO I--------------------
Compartilhar