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AS IMPLICAÇÕES DA DECISÃO DE SER PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL: A COMPREENSÃO DOS ACADÊMICOS DA LICENCIATURA DO CEFD/UFSM Clairton Balbueno Contreira Patric Paludett Flores Leonardo Germano Krüger Hugo Norberto Krug RESUMO Esta investigação teve como objetivo geral analisar as implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A metodologia caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. Os participantes foram trinta e dois (32) acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo de 2005) do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Didática da Educação Física.O instrumento utilizado para a coleta de informações foi uma entrevista semi-estruturada. A interpretação das informações foi feita através da análise de conteúdo. Constatamos nos resultados uma ‘enorme quantidade e diversidade’ (treze) de implicações caracterizadoras da decisão de ser professor de Educação Física na compreensão dos acadêmicos. Elas foram as seguintes: 1- Sentir-se satisfeito fazendo o que gosta; 2- Perceber e se contentar com um salário baixo; 3 Ter que estudar muito; 4- Assumir responsabilidades na formação do aluno; 5- Ter muita dedicação profissional; 6- Ser visto como bom exemplo/ser espelho; 7- Passar a vida fazendo o que decidiu fazer; 8- Enfrentar dificuldades/desafios; 9- Ter de ser bom na profissão para ter espaço e vencer; 10- Ter de lidar com seres humanos tão diferentes; 11- Ter a certeza de um futuro incerto; 12- Ter realização profissional; 13- Nenhuma, pois se ganhar mal troca de profissão. Entretanto, o que mais chamou à atenção nos resultados desta investigação, foi o fato de que, no rol das diversas implicações da decisão de ser professor TODAS são relacionadas com a vida profissional, não havendo nenhuma implicação relacionada com a vida pessoal. Assim, podemos destacar que o curso de formação inicial em Educação Física, particularmente a Licenciatura da UFSM, precisa trabalhar mais a respeito do que é ser professor... de Educação Física... em suas diversas dimensões. Palavras-chave: Educação Física; Formação de professores; Formação inicial; Ser professor. Implicações. INTRODUÇÃO À INVESTIGAÇÃO Segundo Krüger, Cristino e Krug (2007) são diversos os desafios postos para o processo de formação de professores, como por exemplo, as invasões e barbáries multiculturais que tem provocado transformações no campo educacional, exigindo, assim, posturas e atitudes dos professores frente a essas diversidades do mundo moderno. E, os autores ressaltam que, diante disso, é importante considerar o tempo e o espaço de aprendizagem do professor em sua trajetória de vida e o seu compromisso com a autoformação, ou seja, a autopercepção do seu processo de aprender a ser professor. Nesta perspectiva, também podemos destacar que é importante trabalharmos com o acadêmico, futuro-professor, sobre as implicações para a vida pessoal e profissional da sua decisão de ser professor. 2 Assim, considerando esta afirmativa, deslocamos o nosso interesse investigativo do professorado em geral, especificamente para a formação inicial de professores de Educação Física, com o intuito de estudar em particular os acadêmicos em formação. Portanto, a partir dessas premissas originou-se a seguinte questão problemática, norteadora desta investigação: Quais são as implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo de 2005) do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)? Desta forma, esta investigação teve como objetivo geral analisar as implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo de 2005) do CEFD/UFSM. Justificou-se esta investigação, acreditando-se que a mesma pudesse oferecer subsídios para modificações no contexto da formação de professores de Educação Física, particularmente na compreensão do fenômeno do SER PROFESSOR e as implicações desta decisão para a vida pessoal e profissional A METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO A investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. Os participantes foram trinta e dois (32) acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo de 2005) do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, matriculados na disciplina de Didática da Educação Física. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi uma entrevista semi-estruturada. A interpretação das informações seguiu a metodologia da análise de conteúdo (BARDIN, 1977), que prevê três etapas: 1a) Pré análise – envolve a preparação formal dos documentos de análise; 2a) Exploração do material – envolve a leitura dos documentos de análise e a categorização das informações; e, 3a) Tratamento dos resultados – envolve a interpretação das informações, a qual deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por detrás do imediatamente aprendido. OS RESULTADOS DA INVESTIGAÇÃO Identificamos e analisamos as seguintes “implicações para a vida pessoal e profissional” caracterizadoras da decisão de ser professor de Educação Física na compreensão dos acadêmicos da Licenciatura (Currículo de 2005) do CEFD/UFSM: 1- Sentir-se satisfeito fazendo o que gosta. Mais de um sexto dos acadêmicos (seis) manifestaram que “sentir-se satisfeito fazendo o que gosta” (Acadêmicos 5; 9; 11; 22; 25 e 26) é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. Em relação a esta implicação podemos citar Feil (1995) que diz que gostar do que se faz é um fator determinante para que o professor faça bem o seu trabalho. Já Cunha (1992) salienta que é comum professores afirmarem que gostam muito do que fazem e que certamente repetiriam a opção profissional se lhes fosse dado um novo optar. Os fatores de influência sobre a origem desta opção são variadas. Entretanto, parece ser possível inferir que a experiência positiva com a docência realimenta o gosto pelo ensino. 2- Perceber e se contentar com um salário baixo. Mais de um sétimo dos acadêmicos (cinco) informaram que “perceber e se contentar com um salário baixo” (Acadêmicos 4; 14; 20; 30 e 31) é uma das implicações da decisão de 3 ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. A respeito desta implicação podemos inferir que ela é um problema grave, pois, segundo Farias, Shigunov e Nascimento (2001), o salário baixo é um dos aspectos causadores da insatisfação docente. Já Ramos e Spgolon (2005) fazem o seguinte questionamento: Como o professor com um salário baixo irá proporcionar ao seu aluno um ensino atualizado, diversificado e de qualidade, se com o salário que ganha, mal consegue sobreviver? Salientam que alguns têm vontade de fazer cursos de especialização, de pós-graduação, enfim progredir profissionalmente, mas não possuem condições financeiras. Isto de certa forma faz com que o professor se sinta minimizado em relação às demais profissões. Para Feil (1995) a manifestação de descontentamento salarial do professor provoca um sentimento de mal-estar profissional determinando um fechamento à mudança e às possibilidades de inovações, gerando a alienação e frustração, o que logicamente interfere na qualidade do ensino. 3- Ter que estudar muito. Uma pequena parcela de acadêmicos (três) declararam que “ter que estudar muito” (Acadêmicos 2;7 e 32) é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. Cunha (1992) diz que para se trabalhar bem a matéria de ensino, o professor tem que ter profundo conhecimento do que se propõe a ensinar. Isto não significa uma postura prepotente que pressupõe uma forma estanque de conhecer. Ao contrário, o professor que tem domínio do conteúdo é aquele que trabalha com a dúvida, que analisa a estrutura de sua matéria de ensino e é profundamente estudioso naquilo que lhe diz respeito. Já segundo Cristino e Krug (2005, p.62): “A busca de formação continuada necessita ser fundamental para os professores acompanharem as necessidades dos alunos e do mundo pós-moderno”. Também citamos Barros (1993) que coloca que a sociedade exige serviços específicos e de alto nível na área de Educação Física com acesso a conhecimentos recentes, pois esta desperta para novas necessidades e exige serviços de qualidade na área, sendo necessário que os profissionais de Educação Física dominem esses conhecimentos, portanto há uma necessidade permanente de atualização. 4- Assumir responsabilidades na formação do aluno. Uma outra pequena parcela de acadêmicos (três) disseram que “assumir responsabilidades na formação do aluno” (Acadêmicos 3; 28 e 29) é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. Segundo Bolzan (2002) a tomada de consciência do papel do professor, entendida aqui, como elemento dinamizador do processo de escolarização e, portanto, organizador da intervenção pedagógica a ser implementada, é fundamental, considerando a importância da redimensão das práticas escolares vigentes. Já Batista e Codo (1999) destacam que o papel do professor hoje em dia não é apenas informar ou transmitir o saber, mas também formar e educar. 5- Ter muita dedicação profissional. Mais outra pequena parcela de acadêmicos (três) salientaram que “ter muita dedicação profissional” (Acadêmicos 8; 19 e 21) é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. Segundo Ferreira e Krug (2001) a dedicação é das características dos bons professores de Educação Física. 6- Ser visto como bom exemplo/ser espelho. Também mais uma outra pequena parcela de acadêmicos (três) declararam que “ser visto como bom exemplo/ser espelho” (Acadêmicos 12; 24 e 27) é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. De acordo com Torres et al. (2007) a postura do professor perante uma turma serve de “espelho” para a 4 formação do caráter dos alunos, pois estes tentam se espelhar nas pessoas que estão a sua volta, e principalmente nas pessoas com quem eles se sintam bem. E, por isso o exemplo tem que ser “bom”. 7- Passar a vida fazendo o que decidiu fazer. Poucos acadêmicos (dois) disseram que “passar a vida fazendo o que decidiu fazer” (Acadêmicos 1 e 23) é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. Em relação ao fato de uma decisão tornar-se para o resto da vida Teixeira e Silva (2009) destacam que escolher uma profissão é esboçar um projeto de vida. Mesmo quando há identificação com a profissão, pode haver ajustes ou mudança de rumo. Isso porque a cada ano aprende-se coisas novas. Uma mudança não significa fracasso nem frustração, mas aceitar novas propostas. 8- Enfrentar dificuldades/desafios. Ainda outros poucos acadêmicos (dois) declararam que “enfrentar dificuldades/desafios” (Acadêmicos 15 e 16) é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. Para Perrenoud (1997) ser professor hoje em dia significa, simultaneamente, saber exercer a profissão em condições muito adversas. 9- Ter de ser bom na profissão para ter espaço e vencer. Um raro acadêmico (6) declarou que “ter de ser bom na profissão para ter espaço e vencer” é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. Para Tardif (2002, p.39): “o professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às Ciências da Educação e à Pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos”. Entretanto, concordamos com Krug (2005) e Krug e Krug (2008) que dizem que ser bom professor não é um ESTADO DE SER. É um permanente VIR A SER. Também relembramos Cunha (1992) que coloca que os papéis exercidos pelo bom professor não é fixo, se modifica conforme as necessidades dos seres humanos situados no tempo e no espaço. 10- Ter de lidar com seres humanos tão diferentes. “Ter de lidar com seres humanos tão diferentes” é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional citada por um raro acadêmico (10).Para Perrenoud (1997) ser professor hoje em dia significa, também, se deparar-se com públicos muito heterogêneos. 11- Ter a certeza de um futuro incerto. Outro raro acadêmico (13) manifestou que “ter a certeza de um futuro incerto” é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional. De acordo com Teixeira e Silva (2009) o mercado de trabalho é um terreno de incertezas. Para Nóvoa (1995) o futuro tem muitos cenários, mas só um cenário será realizado. Destaca que houve um tempo sem escola, e não sabemos se este tempo regressará. Entretanto, uma coisa é certa: tempos virão em que a sociedade necessitará de outras escolas, se articulando com outros espaços sociais, políticos e econômicos. 12- Ter realização profissional. “Ter realização profissional” é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional citada por um único acadêmico (17). 5 Xavier (1995) diz que é preciso que o professor, para dar uma boa aula, sinta-se motivado e motive seus alunos para a prática, pois precisam, ambos, sentir uma auto-realização, e uma perspectiva de proveito atual e futura. 13- Nenhuma, pois se ganhar mal troca de profissão. Finalmente, mais um raro acadêmico (18) manifestou que não existe “nenhuma” implicação para a vida pessoal e profissional a decisão de ser professor de Educação Física, “pois se ganhar mal troca de profissão”. Segundo Teixeira e Silva (2009) não há profissão que dê dinheiro, mas existem profissionais que ganham bem em todas as profissões. Não há garantia de que alguém vai se dar bem. A possibilidade de dar certo na carreira aumenta quando há clareza da escolha, identificação com o curso e conhecimento das diversas possibilidades de ingressar na profissão. A CONCLUSÃO: POSSÍVEIS SÍNTESES SOBRE A INVESTIGAÇÃO Pela análise das informações obtidas nas entrevistas com os acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo de 2005) do CEFD/UFSM participantes deste estudo podemos constatar que estudar as implicações da decisão de ser professor para a vida pessoal e profissional é uma tarefa complexa pelos seus inúmeros desdobramentos. Falamos em desdobramentos porque um fato importante que nos chamou à atenção nos resultados que foi a ‘enorme quantidade e diversidade’ (treze) de implicações caracterizadoras da decisão de ser professor de Educação Física na compreensão dos acadêmicos. Elas foram às seguintes: 1- Sentir-se satisfeito fazendo o que gosta; 2- Perceber e se contentar com um salário baixo; 3- Ter que estudar muito; 4- Assumir responsabilidades na formação do aluno; 5- Ter muita dedicação profissional; 6- Ser visto como bom exemplo/ser espelho; 7- Passar a vida fazendo o que decidiu fazer; 8- Enfrentar dificuldades/desafios; 9- Ter de ser bom na profissão para ter espaço e vencer; 10- Ter de lidar com seres humanos tão diferentes; 11-Ter a certeza de um futuro incerto; 12- Ter realização profissional; 13- Nenhuma, pois se ganhar mal troca de profissão. Entretanto, o que mais chamou à atenção nos resultados desta investigação, foi o fato de que, no rol das diversas implicações da decisão de ser professor TODAS estão relacionadas com a vida profissional, não havendo nenhuma implicação relacionada com a vida pessoal. Esta situação contraria o que destaca Tardif (2002) de que o professor (no caso desta pesquisa, o futuro professor) é um ser existencial, e isto indica que é impossível separar a vida pessoal da vida profissional. Salienta que o professor (ou futuro professor) está sujeito a inúmeras questões que podem interferir na sua atuação profissional e, portanto na construção de sua prática educativa, dentre estas se destaca a família, os grupos de participação, o trabalho. Enfim, ações do eu pessoal e do eu profissional. Com base nisso foi possível concluir que a formação inicial precisa orientar os acadêmicos no sentido de perceberem que existe um entrelaçamento entre si mesmo e a sua profissão. É uma interrelação pessoal-profissional, em que as fases da vida pessoal e profissional se entrelaçam caracterizando-se, segundo Nóvoa (1992), como um processo complexo multimediado, pois envolvem momentos de crises, recuos, avanços, descontinuidades e contradições, que, entendidas de forma construtiva e formativa passam a serem motivos de mudanças e transformações na carreira. Para Krüger e Krug (2008) isto deixa claro que os sujeitos em formação, os futuros professores de Educação Física e o meio social, influenciam-se mutuamente. Portanto, nesta perspectiva, os momentos e as marcas da vida pessoal e profissional estão intrinsicamente relacionadas e determinam o modo como cada indivíduo percebe a si e seu entorno vivencial, acadêmico, profissional e pessoal. 6 Desta forma, podemos destacar que os acadêmicos ‘precisam aprender mais sobre o humano da pessoa e suas interações com os outros’. Segundo Abraham (2000) o professor é também uma pessoa. E, logicamente, a vida profissional se entrelaça com a pessoal. E, isto também pode ser observado nas palavras de Nóvoa (1995, p.29): “Diz-me como ensinas, dir te-ei quem és e vice-versa”. Assim, podemos destacar que o curso de formação inicial em Educação Física, particularmente a Licenciatura da UFSM, precisa trabalhar mais a respeito do que é ser professor... de Educação Física... em suas diversas dimensões. REFERÊNCIAS ABRAHAM, A. El enseñante es también una persona: conflitos y tenciones en el trabajo docente. Barcelona: Gedisa, 2000. BARDIN, L. Tradução de Luis Antero Neto e Augusto Pinheiro. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BARROS, J.M.C. Educação e esporte: profissões? Revista Kinesis, Santa Maria, n.11, p.5 16, jan./jun., 1993. BATISTA, A.S.; CODO, W. Crise de identidade e sofrimento. In: CODO, W. (Coord.). Educação, carinho e trabalho – Bournout, a síndrome da desistência do educador, que pode levar à falência da educação. 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